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“Um novo mundo é possível”, morre Soró, líder da Comunidade Quilombaque de Perus

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Educador, ativista cultural e figura importante da zona noroeste de São Paulo, Soró morreu nesta quarta-feira (30), quando organizava atividades coletivas.

Soró foi cofundador do Movimento pela Reapropriação da Fábrica de Perus (Foto: Léu Britto)

“Quando alguém vai deste mundo a gente chora, chora, chora, chora. Quando alguém vem pra esse mundo a gente canta eu vou cantar eu vou, ooooooo irê irê irê, ooooooo irê irê irê…”.

O ponto de jongo, sempre entoado no quintal da Comunidade Cultural Quilombaque, hoje é cantado a tons tristes, abraçando as saudades daqueles que ficam, diante da partida de José Soró, 55, um dos pilares da organização, que morreu na tarde desta quarta-feira (30), após uma parada cardíaca.

“É com muita dor que nós informamos aos amigos e parceiros que nosso mestre José Soró fez sua passagem”, disse a Quilombaque em texto divulgado pelas redes sociais. O ativista cultural morreu ali mesmo, em seu terreiro, quando o grupo se preparava para ir a um sarau sobre saúde da população negra.

“O mais sábio de todos. O que sabia nos dizer aquilo que precisávamos ouvir. Que nos ensinou a lutar pelos nossos sonhos e ideais”, fala ainda a nota de pesar.

Casado com Valéria Pássaro, pai de Ana, Matheus e Pedro, Soró foi vítima de uma parada cardíaca aos 55 anos. Para além da família, Soró deixa uma legião de jovens e adultos órfãos de seus ensinamentos pelos territórios periféricos, principalmente na região noroeste, onde o educador paulo-freireano sempre enxergou as pessoas além e sonhou “que um novo mundo era possível” e as periferias o estavam construindo.

O velório será às 21h desta quinta (31)e o sepultamento às 9h da sexta (1º/11), no Cemitério Dom Bosco, na Estrada do Pinheirinho, em Perus.

Créditos da Foto: Lucas Veloso/Soró em ruas da zona norte

FERVE TERRITÓRIO

Soró foi um dos principais sujeitos na construção de um território de cultura na região noroeste. Sempre mirando o futuro e autosustentabilidade do povo pobre e negro, ele realizava cursos voltados aos Direitos Humanos. A atividade inspirou o nascimento de muitos coletivos e organizações em Perus.

Além da Comunidade Cultural Quilombaque, onde atuava de forma mais constante, o articulador foi um dos idealizadores da Ocupação Artística Canhoba e da Ocupação Casa Hip Hop Perus, pois dizia que cada canto do bairro peruense deveria estar banhado de arte e cultura à população.

Desde 2014, é um dos principais expoentes a colocar em prática a tecnologia social do Território da Cultura e da Paisagem, contida no Plano Diretor da cidade paulistana. Idealizou junto à Quilombaque, as trilhas da memória, um projeto de ecoturismo social com os principais pontos de resistência e luta da região.

Ele juntava os bairros, colocava as aldeias indígenas do Jaraguá para conversar com o terreiro da Quilombaque, e fazia os movimentos conhecerem a luta pela terra do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, no acampamento Irmã Alberta.

Soró também levava os ensinamentos da região para outros cantos da cidade. De norte a sul da capital, dizia como os peruenses estavam fazendo o bairro se movimentar e gerar renda internamente. A “sevirologia”, que é a arte de se virar, estava sempre presente nas falas de José, inclusive horas antes de sua morte. “Ele chegou dizendo: hoje a gente vai fazer a sevirologia na prática”, contam os integrantes da Quilombaque.

Créditos da Foto: Leú Britto/Soró durante a formação da Rede Jornalistas das periferias na Casa Ecoativa

TRAJETÓRIA

Soró chegou em São Paulo, como migrante, vindo do Mato Grosso do Sul, Centro-Oeste, na década de 1970, com mais cinco irmãos menores e a mãe, após a morte do pai. Na capital, foram ajudados por um tio, chamado Gervázio.

Além da ajuda do tio, Soró contou com o auxílio de uma família na região e de seu Joaquim, um pai de santo de um terreiro de umbanda. Mesmo pequeno, o menino percebeu que havia uma solidariedade de conterrâneos, e de modo geral dos migrantes, que eram absoluta maioria em Perus e em toda a periferia da cidade.

Atualmente, trabalhava como educador, consultor em desenvolvimento humano e mediador de conflitos relacionais.

Soró passou muitas dificuldades financeiras com a família, quando chegou em São Paulo. As CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), as pastorais da Igreja Católica, além de movimentos culturais e militância partidária foram alguns dos caminhos adotados para buscar uma vida melhor para si e à comunidade.

“Eu vejo que por mais que erros tenham sido cometidos por essa geração, que as mudanças e os avanços não tenham sido suficientes, estes golpes que atualmente sofremos é uma reação da elite colonialista às conquistas e avanços que fizemos. E é de extrema importância considerarmos isso para não sucumbirmos ao desespero”, avaliou Soró, em entrevista concedida ao portal Alma Preta, em outubro deste ano.

Durante a trajetória profissional, desistiu de empregos, pois buscava aliar o trabalho em atividades que acreditava. Teve diversas experiências, sendo a defesa e a garantia dos direitos de crianças e adolescentes a mais relevante para ele. Por alguns anos foi Conselheiro Tutelar, trabalhou com população nas ruas.

HOMENAGENS

Entre os membros do movimento social e cultural das quebradas, a notícia chegou com tristeza, traduzidas nas palavras escritas pelos amigos.

O educador Sócrates Magno afirmou que acordou com a notícia de que ‘um grande amigo, educador, defensor incondicional dos direitos humanos, deixou esse plano’.

“Muita gente se afetou com seus aprendizados sempre carregados de muita humildade, mas cheios de fundamentação e ‘firmeza permanente'”, relembra.

“Soró era um ajuntador de pessoas, lutava por causa (im) possíveis”, definiu Thalita Duarte, do Grupo Pandora.

“Fará falta demais compadre. Grande parceiro na Ocupação Artística Canhoba. Sonhou junto com a gente cada pedacinho desse sonho”.

Soró nunca foi linear. Quem já o ouviu falando em mesas e rodas de conversa, sabe que não economiza no encontro de palavras e, por isso, nunca se deu muito com o tempo cronológico, contado, das normalidades.

E, por isso, sua memória e história ficam agora nas periferias de São Paulo, inspirando que é possível um novo mundo. “A única alternativa é se agrupar, criar mecanismos de sobrevivência e resistência, vivos, tanto quanto nosso ideário”, dizia.

Organizações, coletivos e moradores discutem direitos humanos no Fórum Social Sul

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O encerramento previsto para, 02 de novembro, será marcado com a 24ª Caminhada pela Vida e pela Paz.

Caminhada pela Paz (Foto: Carlos Junior Churra´s)

Com uma trajetória de 15 anos de existência, o Fórum Social Sul promove a Semana Santo Dias da Silva e reúne, movimentos sociais, culturais, religiosos, ativistas e moradores dos territórios do Jardim Ângela, Jardim São Luis e Capão Redondo, com intuito de possibilitar uma reflexão, troca de saberes e experiência para o fortalecimento das lutas populares e ampliação dos espaços de participação democráticos. As datas escolhidas coincidem com a Semana Santo Dias da Silva.

O encerramento previsto para, 02 de novembro, será marcado com a 24ª Caminhada pela Vida e pela Paz. Durante o fórum serão realizadas mais de 60 atividades entre debates, oficinas, apresentações culturais, exposições e feira solidária.

O Fórum Social Sul é uma construção coletiva. A programação reúne atividades propostas por diversas organizações sociais e coletivos dos territórios periféricos da zona Sul que acontecerão em diversos espaços da região.

Confira a programação completa no evento facebook:

http://bit.ly/forumsocialsul2019

Algumas atividades de destaque:

A resistência e a luta pelas vidas nas periferias

Mesa de debate com Padre Jaime (Fórum em Defesa pela Vida), Marcelo Freixo (PSOL), Tabata Alves (CTA Santo Amaro), Anna Bonamino (Anistia Internacional) e Ruivo Lopes (Tortura Nunca Mais). Abertura teatral com Grupo Identidade Oculta.

01.11.2019 – 9h-12h
Sociedade Santos Mártires/ Auditório Santo Dias
Rua Luís Baldinato, 9 – Jd. Ângela

Feminismos, Resistências e Lutas das Mulheres

Mesa de debate com:
AnaBela Gonçalves (Fundação Julita), Sônia Coelho (Marcha Mundial das Mulheres), Rosilene Pimentel (1a. Casa de Passagem de São Paulo) e Celina Simões (CDCM Mulheres Vivas). Abertura teatral com o Grupo Identidade Oculta.

31.11.2019 – 18h30-21h
Sociedade Santos Mártires/ Auditório Santo Dias
Rua Luís Baldinato, 9 – Jd. Ângela

Seminário de Inclusão
Discussão sobre os avanços e desafios para as pessoas com deficiência em M’ Boi Mirim
31.10.2019 – 14h-17h30
Sociedade Santos Mártires/ Auditório Santo Dias
Rua Luís Baldinato, 9 – Jd. Ângela

Fórum dos Fóruns: Uma outra periferia é possível, necessária e urgente
Encontro de articulação dos fóruns dos territórios
do Jd. Ângela, Jd. São Luís e Capão Redondo
30.10.2019 – 9h-12h
Sociedade Santos Mártires/ Auditório Santo Dias
Rua Luís Baldinato, 9 – Jd. Ângela

24a. Caminhada pela Vida e pela Paz
Realizada desde 1996, é uma das maiores manifestações populares da zona sul de São Paulo. A partir dela, se mobilizam milhares de moradores, coletivos independentes, movimentos e instituições sociais e comunidades religiosas. Tradicionalmente, a caminhada é feita até o Cemitério São Luís, onde muitas vítimas da violência do Estado, em sua maioria jovens negros, são enterrados.

02.11.2019


Pontos de Saída (8h)
Largo do Jardim Ângela, Largo Nossa Senhora do Carmo e CEU Casa Blanca

Destino Final
Cemitério São Luís (10h)

Feira Solidária

Venha admirar e comprar os produtos artesanais feitos pelos participantes da
AMESOL, MMM, Ninho da Esperança, Arco Associação Beneficente, CEJAM entre outras organizações sociais.

31.11 e 01.12 – 9h-17h
Sociedade Santos Mártires/ Espaço Externo
Rua Luís Baldinato, 9 – Jd. Ângela

Documentário retrata história do Pagode Na Disciplina no Jardim Miriam

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Abordando questões de gênero, direito à cidade e a tradição das rodas de samba, o filme ‘Na Disciplina: Samba e Cidadania’ retrata a comunidade de samba como um instrumento de articulação política e cultural nas periferias. 

Aniversário de 4 anos do Pagode Na Disciplina. (Foto: João Victor Oliveira)

Neste domingo (27), estréia o documentário “Na Disciplina: Samba e Cidadania”, que conta a história de uma comunidade de samba que nasceu há quatro anos no Jardim Miriam, bairro da zona sul de São Paulo, localizado no distrito de Cidade Ademar. O média-metragem evidencia a função ancestral do samba como reivindicação de direitos políticos e sociais para a população negra e periférica.

Mantendo a tradição do Pagode da Disciplina, a primeira exibição acontecerá no último domingo do mês, no mesmo dia em que a roda acontece, a partir das 15h. Todas as pessoas presentes terão a possibilidade de assistir ao filme. A classificação é livre.

O grupo musical ‘Pagode Na Disciplina’ nasceu do desejo de músicos do bairro em proporcionar um momento de lazer e convivência para seus vizinhos e familiares. Por meio deste personagem principal, que é o samba, as entrevistadas e entrevistados são sambistas e pessoas dos arredores com trajetórias que possibilitaram o surgimento da iniciativa nos dias atuais.

A construção do roteiro ressalta a importância da produção cultural nas periferias e favelas como contraponto ao racismo e ao sistêmico empobrecimento destes territórios. Além disso, aborda a questão de gênero, colocando luz no papel das mulheres como sambistas ou como estrategistas e articuladoras do bairro.

Conduzido por um coletivo autônomo de audiovisual, formado a partir do chamado de Luana Vieira, produtora do Na Disciplina, quatro profissionais se uniram para contar essa história. Com uma equipe integralmente negra, a produção do filme é também um manifesto sobre a importância de registrar, ouvir e contar as histórias a partir das margens da cidade, como a da produtora da comunidade de samba, que articula importantes construções políticas e culturais para manter o pagode na ativa e conectado com os moradores do território.

A ideia do documentário foi contemplada por um edital de fomento à produção audiovisual na região liderado pelo Coletivo Mascate Cineclube, iniciativa local que luta pela democratização do cinema e cultura no bairro, contemplada pelo VAI – Programa para a Valorização de Iniciativas Culturais, da Prefeitura de São Paulo.

Sinopse

Na ausência de equipamentos públicos de cultura, a rua se torna o espaço de convivência e lazer possível. E o samba, música-tecnologia que nasceu como ferramenta de resistência e existência da população negra no Brasil, é uma das trilhas sonoras que embalam as periferias de São Paulo. ‘Na Disciplina: Samba e Cidadania’ é um documentário gravado no Jardim Miriam, bairro localizado no distrito de Cidade Ademar, lado sul do mapa. O média-metragem mergulha na história do grupo musical ‘Pagode Na Disciplina’, que mensalmente ocupa a rua para a tradicional roda de samba e fala sobre a expressão cultural, política e de cidadania do samba, além de abordar a liderança das mulheres para que tudo aconteça. A definição da ‘disciplina’ aparece em aspectos familiares e de uma vida em comunidade.

Equipe: Produção executiva – Luana Vieira / Direção – Semayat Oliveira / Direção de produção – Carol Moreno / Direção de fotografia – João Victor de Oliveira / Desenho de som – Sabrina Teixeira.

Agenda
Lançamento do documentário “Na Disciplina: Samba e Cidadania”
Data: 27 de outubro (domingo)
Horário: *Samba a partir das 15h | *Exibição do filme às 18h
Local: Pagode Na Disciplina
Endereço: Rua Oldegard Olsen Sapucaia, 168 – Cidade Ademar, São Paulo

Exposição Encruza provoca reflexões sobre o caos político das periferias em Taboão da Serra

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A exposição de artes plásticas reúne obras inéditas produzida nos últimos meses pelos artistas Carolina Itzá, Uberê Guelé e Paulo Ñamake Zaire, moradores do Campo Limpo, zona sul da capital. 

Foto: Divulgação

Durante os dias 25, 26 e 27 de outubro, o Espaço Clariô, localizado em Taboão da Serra, recebe a exposição coletiva “Encruza: Itzá + Ñamake + Uberê”. Durante a abertura, no dia 25, os participantes terão a oportunidade de realizar uma visita guiada monitorada pelo arte-educador e poeta Fabio Santos. Na sequência, para refletir sobre o arte e política, será realizada roda de conversa “Arte: entre treta e conciliação – mirabolando estratégias coletivas de resistência e abertura de caminhos”, com artistas convidados.

Proposta por Carolina Itzá, Uberê Guelé e Paulo Ñamake Zaire, a exposição reúne obras inéditas produzida nos últimos meses pelos artistas que são moradores do Campo Limpo, zona sul da capital. “A expô nasceu da vontade de fazer acontecer uma exposição aqui para esses lados, coisa que não acontece muito. Tem o Ateliê Capão Nu e o Ateliê Daki no Grajaú, mas de qualquer forma a gente sente uma carência de eventos voltados para as artes visuais”, conta o artista plástico e poeta de 27 anos, Uberê, que também confecciona bonecos e máscaras para os espetáculos do Grupo Clariô de Teatro.

De acordo com a avaliação do artista plástico, os trabalhos enraizados nas artes plásticas e visuais ainda não são amplamente divulgados no território, apesar do Campo Limpo abrigar uma efervecência artística, protagonizada por artistas independentes, coletivos e espaços culturais. Para ele, a exposição também vai construir um espaço de diálogo: “para promover um encontro entre esses artistas, ouvir quem veio antes e olhar pra quem tá chegando, como eu mesmo.”

É a partir deste propósito que Uberê reforça a importância da exposição para promover e fortalecer o vínculo entre as pessoas, que diante do contexto social das periferias se apresenta como uma demanda cada vez mais urgente. “A gente quer se encontrar. Nós estamos num momento em que a gente sente uma necessidade maior de se encontrar, de conversar. Pelo bem da nossa saúde mental e pelo bem da luta por liberdade.”

Visão política da Arte

O olhar crítico dos artistas frente às questões sociais que afetam o país e que se intensificam nas periferias é o que “cruza” os caminhos da produção apresentada na exposição. Além desta inquetação, os artistas acreditam que o papel da arte está ligado a tencionar o que está preestabelecido e buscar novas abordagens dos problemas atuais.

Nesse contexto político do fazer artístico, Uberê relata: “a gente tava pensando nessa esquizofrenia apática que é nossa situação política atual. Nesse desgoverno fascista. E pensando sobre como os debates de gênero, sexualidade, raça e classe tem sido feitos hoje em dia. Sentimos que estamos numa encruzilhada nessas várias questões. Nós não nos propomos a dar solução, mas sim fazer provocações mesmo, cada um do seu jeito.”

Conheça os artistas

ITZÁ – Carolina Itzá, 36, é artista plástica, grafiteira, arte educadora, militante da Fala Guerreira
ÑAMAKE – Paulo Ñamake Zaire, 29, é professor de Artes em escola pública e artista plástico
UBERÊ – Uberê Guelé, 27, é ator e artista plástico

Programação

Exposição “Encruza: Itzá + Ñamake + Uberê” | Dias 25, 26 e 27 de outubro.

Dia 25, sexta:
18h – Abertura
19h – Visita guiada com Fabio Santos, arte educador e ator
20h30 – Roda de conversa “Arte: entre treta e conciliação – mirabolando estratégias coletivas de resistência e abertura de caminhos”, com participação dos convidados: Aline Binns, Amanda Daphe, Catarina, Chellmí, Crica, Fernando Solidade, JC Sena, Mariana Salomão, Nave Mãe, Nenê Surreal, Perê, Peu Pereira, Rodrigo Bueno, Rogerio Pixote, Sheila Signário, Silsil do Brasil, Ziza.

Dia 26, sábado:
16h – Mostra de audiovisual e fotografia com artistas convidados.

Dia 27, domingo:
16h – Fechamento e confraternização.

Local: Espaço Clariô de Teatro
Rua Santa Luzia 96, Taboão da Serra -SP, a 15 minutos da estação de metrô São Paulo-Morumbi.

Praça de wi-fi vira espaço para produção artística de jovens no Grajaú

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Enquanto o app Wordpad está aberto em uma aba do celular para escrever letras de rap, em outras duas abas um grupo de jovens estão conectados com o Google Música, para ouvir instrumentais de Hip Hop. A essa altura, os olhares já estão atentos no WhatsAap para alastrar a informação para o restante dos amigos que as produções já começaram no Calçadão Cultural do Grajaú, uma praça de wi-fi que conecta as juventudes de todo o bairro, por ser um ponto de encontro central do território.

Jovens acessam internet para produzir música no Grajaú. (Foto: Tamires Rodrigues)

A cada 30 minutos o sinal de wi-fi é reiniciado pelo serviço gratuito WI-FI LIVRE SP, estações de acesso a internet grátis que estão sendo implementadas pela Prefeitura de São Paulo em parceria com empresas de serviços de informação e tecnologia, como o Google. Durante esse período, um grupo de jovens que ocupam o Calçadão Cultural do Grajaú, na zona sul de São Paulo desfruta do uso de aplicativos de streaming de música, mensagens instantâneas e de produção de texto para dar vida a uma paixão que os une: letras e batidas de rap.

O wi-fi livre está disponível em mais de 140 praças e parques da cidade. No Calçadão Cultural do Grajaú, o acesso a internet grátis se torna mais um elemento de conexão da juventude local com a efervescência cultural que existe no distrito. Ali rolam shows, intervenções poéticas, batalhas de rima, peças de teatro e muito mais, devido à existência de uma série de artistas que movimentam o calçadão e o Centro Cultural do Grajaú, um espaço público de cultura que está integrado à praça.

“Aqui na praça é o point”, afirma Matheus Silva de 18 anos, um jovem freqüentador da praça e morador da região. Uma das coisas que ele mais gosta de fazer na praça é encontrar a galera e mandar suas rimas, pra isso ele da uma salve nos amigos pelo whatsapp logo quando o wifi conecta no seu celular. “Às vezes a gente chega sozinho e usa internet pra chamar os parceiros”, descreve Silva sobre sua rotina no local.

Contrariando o interesse de muitos jovens que estão espalhados pelo Calçadão Cultural com olhares fixados no smartphone, Silva enfatiza que não curte tanto as redes sociais e sim gastar suas atenções na sua maior paixão: o rap.

Ele conta que um dos aplicativos que mais usa são o Google Música e o WordPad para escrever todos seus pensamentos naquele exato momento e que podem ser transformados em letras de rap. “A bateria do celular vai toda com um beat, a gente esquece do whatsapp”, explica o jovem, sobre o impacto da concentração na produção musical para enviar e responder mensagens dos amigos que estão a caminho do seu encontro.

Juntos com seus amigos ele produz músicas de rap e faz apresentações ali mesmo no Calçadão Cultural, enquanto estão elaborando novas letras. Um dos parceiros de Matheus nesse processo é o jovem Davi Ferreira, mas conhecido como Kovu, com 17 anos.

Kovu é integrante de um grupo de Trap da região: o Graja Atlanta. O Trap, estilo musical que mescla música eletrônica e hip hop tem ganhando a juventude com suas batidas e letras. Ele conta que escreve desde 12 anos de idade só por diversão e essa brincadeira acabou virando profissão. Há dois anos, o jovem está rimando e produzindo músicas.

Davi relembra que um dos shows que ele fez e que mais o impactou foi realizado no Centro Cultural do Grajaú, aonde tudo começou. “A primeira vez que toquei aqui foi muito mágico, foi outras ideias sabe.”

A partir destas experiências culturais, o ponto de acesso ao wi-fi vai além do papel de viabilizar o acesso a internet, fazendo com que a juventude local tenha um ponto de referência para se conectar e produzir arte.

“Você vem aqui pra dar uma desbaratinada e usar o wifi, mas sempre ta tendo alguma coisinha aqui, sempre tem alguma atividade: um sarau ou um pessoal vendendo uma arte. Aqui é o ponto de referência do role todo sabe”, descreve Davi ao lado de um grupo de jovens entusiasmados com as produções que eles estão elaborando na praça de wi-fi.

Em 2019, o Centro cultural do Grajaú completa cinco anos desde a inauguração do espaço que tem mais de três mil metros quadrados e uma grande diversidade de atividades artísticas.

O jovem Matheus resume o seu apreço pelo local ressaltando a importância que a Praça possui para viabilizar momentos únicos para exercício de diferentes formas de enxergar a vida. “A gente adora aquele momento que a gente pode ter liberdade de expressão, ser quem a gente é sabe? Expressar o que a gente quer expressar, falar tudo que a gente pode, sem diferenças e aberto pra todo mundo.”

Esse grupo de amigos, que também são artistas, jovens e moradores do Grajaú estão subvertendo a lógica de individualização das relações oriunda do consumo da internet, utilizando o Wi-Fi como meio para construir pontes e se conectar fisicamente com outras pessoas para fazer sua arte.

Para a juventude que frequenta o Calçadão Cultura do Grajaú, a internet está a serviço da preservação das suas relações humanas, criando vínculos e laços afetivos, por meio da cultura Hip Hop. Com uma expressão alegre e de consciência coletiva sobre o que aquela Praça de Wi-Fi representa para eles, o grupo de amigos entoa: “aqui é a concentração da nossa quebrada, todo mundo que faz rap cola aqui, todo mundo.”

Assistência Social: o direito à acolhida

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Anos 1990: quantos amigos você perdeu para a violência nessa época? Infelizmente, as coisas eram mais difíceis nas periferias de São Paulo e crianças e jovens tinham menos oportunidade do que hoje.

Foto: Pablo Pereira

Do jornal Embarque no Direito.
Reportagem de Ana Luíza Araújo, Rebeca Motta e Riviane Lucena. Fotos por Pablo Pereira. Ilustração por Gustavo Domingues. Edição de texto por Thiago Borges
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Anos 1990: quantos amigos você perdeu para a violência nessa época? Infelizmente, as coisas eram mais difíceis nas periferias de São Paulo e crianças e jovens tinham menos oportunidade do que hoje. A vida ainda não tá fácil, mas algumas coisas começaram a mudar. E muito disso tem a ver com o fortalecimento das políticas de Assistência Social.

No lugar do assistencialismo historicamente praticado em regiões pobres, em que grupos poderosos controlam a população com a manutenção da miséria, a Constituição Federal de 1988 assegura a Assistência Social como um direito “a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social”. O objetivo é combater a pobreza e as desigualdades, e garantir as condições mínimas para que qualquer pessoa possa exercer outros direitos. Muita gente não sabe, mas esse direito se faz presente em nosso dia a dia de diferentes formas, como: Conselho tutelar; o acolhimento a moradores em situação de rua; ou a proteção a vítimas de violência, especialmente crianças, adolescentes e mulheres.

Assim como a gente busca o posto de saúde quando está doente ou vai para a escola para ter aulas, a Assistência Social acolhe e trabalha a relação entre as pessoas. “E a relação precisa de investimento, para que a gente não fique só na distribuição de cesta básica ou como lugar em que as pessoas vão fazer o Bolsa Família, pois não é só a condição financeira que vai superar a exploração que as pessoas vivem”, explica a assistente social Kelly Melatti. “Eu não posso achar que vou acolher uma pessoa e outra não. Meu trabalho tem que ser de acolhida porque isso é um direito, não é uma deliberação minha enquanto indivíduo”, completa.

No Brasil, esse direito ainda é visto como um favor, uma obra de caridade de alguém iluminado. “Ela é muito vista como ‘coisa pra pobre’. Por onde tenho andado gosto de desmistificar que não é uma política pra pobre, mas pra quem precisa, pois a violência atravessa toda a sociedade”, diz Regina Paixão, que compõe o Fórum de Assistência Social de São Paulo.

Depois de avançar nas últimas décadas com a criação da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) e o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), as políticas da área correm risco por conta do congelamento dos investimentos sociais por 20 anos decretado pelo governo do ex-presidente Michel Temer em 2016 e os cortes na área promovidos pelo prefeito Bruno Covas. Para Kelly, o fortalecimento de espaços de convivência têm relação direta com a violência pois o convívio entre diferentes promove a possibilidade de proteção social. E se há uma diminuição nos investimentos em Assistência Social, o risco de violência aumenta.

Da violência para a acolhida

Regina testemunhou a época em que a região entre Jardim Ângela, Jardim São Luís e Capão Redondo ocupou o primeiro lugar no pódio da violência mundial e era chamada de “triângulo da morte. “Estava se tornando comum passar em cima de corpos na periferia”, lembra.

Cansado de ser chamado quase todos os dias para enterrar jovens no Cemitério São Luís, o Padre Jaime Crowe (do Jardim Ângela) se articulou com o Padre Nicolau (do Capão) e com a população local para criar o Fórum em Defesa da Vida. A partir do diálogo com moradoras e moradores, o grupo entendeu que a violência estava relacionada a vários fatores que afetavam quem vivia na região: desde a fome até o uso abusivo de álcool e drogas, do desemprego à falta de creches e postos de saúde.

Para mudar essa realidade, o Fórum em Defesa da Vida concluiu que era necessário cobrar medidas do governo para garantir os direitos do povo. Para chamar a atenção pra isso, desde então todo dia 02 de novembro (Dia de Finados), acontece a Caminhada pela Vida e pela Paz, que reivindica a presença do estado na periferia com políticas públicas.

E com essa mobilização e todo destaque na mídia para os problemas da região, a população conseguiu atrair o poder público. Com muita luta, os moradores conquistaram creches, escolas, CEUs como o Guarapiranga e Valo Velho, terminais de ônibus, postos de saúde e até o Hospital M’Boi Mirim. Mais do que isso, a Assistência Social ganhou um grande reforço na região. Se antes muitas das ações eram feitas por igrejas, associações de moradores e organizações não-governamentais (ONGs), a partir da mobilização a Prefeitura de São Paulo implementou serviços como os centros de convivência de crianças, adolescentes, jovens e idosos (os CCAs, CJs e NCIs), Centros de Defesa e Convivência da Mulher (CDCM), entre outros.

A cidadania transforma vidas

Quando garantido, o acesso às políticas públicas de Assistência Social transforma vidas nas periferias. É o caso de Cleuza Maria de Almeida, que há 13 anos perdeu o marido e , no final de 2017, sua mãe morreu. Morando sozinha, Cleuza caiu em depressão. Graças a algumas vizinhas, ela conheceu o Núcleo de Convivência para Idosos (NCI), que é um serviço de proteção social de convivência para os idosos com idade igual ou superior a 60 anos em situação de vulnerabilidade e risco pessoal e social.

Diferentemente das casas de repouso e asilos, o NCI abre as portas durante o dia para o convívio da terceira idade e conta com uma série de atividades. Cleuza faz bordados, pinturas, ginástica, aula de dança com o grupo AfroMix e, aos sábados, tem reuniões muito fortalecedoras com psicólogo e psiquiatra. “O convívio é muito bom, porque todos os idosos se ajudam, estão sempre lá um pelo outro. E isso me faz muito bem, falo de todo meu coração”, diz ela.

Com 63 anos atualmente, ela vive há 50 no Capão Redondo e agora desempenha um papel importante na região: recentemente, foi eleita por suas colegas como uma das delegadas dos NCIs das proximidades, e com esse título ela tem a possibilidade de buscar melhorias para os espaços, como mais atividades e oficinas. No NCI, Cleuza saiu da depressão e encontrou felicidade, tranquilidade e paz consigo mesma.

Outros serviços de convivência muito utilizados e presentes nas quebradas são os Centros para Juventude (CJ) e para Crianças e Adolescentes (CCA). Morador do Riviera, de família nordestina como muitos que vivem na região, quando tinha 14 anos Carlos Alberto de Souza Almeida ouviu falar no CJ pela primeira vez. Alguns amigos da rua onde ele morava faziam um curso de panificação por lá, onde também podiam comer e ganhavam uma bolsa-auxílio de R$ 60 por mês. “E ainda podiam jogar futebol”, lembra Carlos, que também se matriculou para participar das atividades do CJ.

Esse espaço abriu a cabeça de Carlos – principalmente com a oficina de cidadania que, segundo ele, mudou completamente sua vida e a forma de pensar o mundo e o futuro. “Eu entendi que dava para transformar o mundo de alguma forma”, ressalta Carlos, que aos 15 anos já estava participando ativamente dos fóruns que reivindicam direitos para crianças e adolescentes. Não era fácil: para participar das reuniões, ele pegava o ônibus sozinho, passava por baixo da catraca dividia um cachorro quente de R$ 1,50 com 3 amigos.

Aos 17 anos, Carlos entrou na faculdade de Propaganda e Marketing por meio do ProUni, programa do governo federal que concede bolsas em universidades particulares. E aos 18, ele deixou de ser um frequentador para se tornar um trabalhador da Assistência Social. Foi quando começou a atuar como educador em um Centro de Convivência para Crianças e Adolescentes (CCA), por onde ficou por dois anos.

Atualmente, aos 25 anos, ele trabalha na Sociedade Santos Mártires, uma organização que administra vários outros serviços da Assistência Social na Zona Sul de São Paulo. Também é presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), conselheiro estadual de direitos humanos, conselheiro construtivo da Associação Brasileira dos Magistrados, Promotores de Justiça e Defensores Públicos da Infância e da Juventude; e está no Comitê Nacional do Combate aos Abusos de Crianças e Adolescentes. “A história de vida se mistura e se confunde com o trabalho”, diz ele.

Toda essa construção que teve início em um simples curso no CJ levou Carlos a lugares que ele nunca pode imaginar, ao mesmo tempo em que não se esquece de onde veio e as necessidades que esse lugar ainda tem. E para ele, com o congelamento do teto de gastos tem se tornado mais difícil atender essas demandas. Por isso, a participação pública é importante. Mas antes as pessoas precisam conhecer seus direitos.

Pra conviver e crescer

Muitos serviços da Assistência Social promovem a convivência entre crianças, adolescentes, jovens e idosos. O CCA, por exemplo, oferece atividades para crianças e adolescentes de 6 a 14 anos e 11 meses que estão em alguma situação de “risco” físico ou psicológico. O público pode contar com atividades recreativas, culturais e esportivas para gerar aprendizagens com a interação entre elas.

Já o CJ é voltado a adolescentes de 15 a 17 anos e 11 meses, e também oferece atividades recreativas culturais e esportivas com a intenção de gerar interação e aprendizagens. Com público ampliado, o Centro de Desenvolvimento Social e Produtivo (CEDESP) atende jovens e adultos a partir de 15 anos com programas que melhoram a formação profissional, ajudando em diferentes habilidades e preparando para conquistar e manter o emprego e a independência.

O NCI recebe quem tem mais de 60 anos com atividades socioeducativas, levando à construção e à reconstrução de um novo olhar para suas histórias e experiências individuais e coletivas, na família e no lugar onde vivem. E o Centro de Convivência Intergeracional (CCINTER) mistura públicos de diferentes idades a partir dos 06 anos com o intuito de promover troca de experiências e maior envolvimento social, cidadania e igualdade.

Para conhecer e obter mais informações sobre esses e outros serviços, basta entrando em contato com Centro de Referência de Assistência Social (CRAS). Encontre o mais próximo de você. No mapa abaixo, indicamos o endereço de cada um desses espaços. Confira:

Esta reportagem faz parte do projeto #NoCentroDaPauta, uma realização dos coletivos Alma Preta, Casa no Meio do Mundo, Desenrola e Não me Enrola, Imargem, Historiorama, Periferia em Movimento, TV Grajaú, Dicampana e Nós, Mulheres da Periferia, com patrocínio da Fundação Tide Setúbal.

O Menino do Drone: robô muda forma de jovem viver e enxergar as quebradas

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Inspirado pela composição “Levanta e Anda” do rapper Emicida, o Menino do Drone faz da trilha sonora de sua vida uma constante vivência com o som dos ventos e pássaros que ocupam os céus das periferias de São Paulo. 

Crianças participaram de oficina de Drone ministrada pelo jovem Marcelino. (Foto: Léu Brito)

Em 2015, Marcelino Melo, mais conhecido como Menino do Drone, morador do Jardim Piracuama, bairro do distrito do Campo Limpo, zonal sul de São Paulo, recebeu um seguro de vida pelo falecimento do seu pai e partir deste momento ele ficou imaginando como iria gastar esse dinheiro.

A primeira coisa que veio em sua mente foi comprar uma moto, sonho de consumo de muitos jovens da quebrada. Porém, ele percebeu que essa opção só iria trazer mais gasto. Engajado em fazer um uso consciente dos recursos obtidos nos seguro de vida de seu pai, o Menino do Drone passou a pesquisar equipamentos conectados com o seu apreço pela fotografia.

Nesse processo, ele chegou até o anúncio de um Drone em uma plataforma digital especializada na venda deste tipo de produto. Mesmo sem saber mexer no robô que produz imagens aéreas e dispõem de uma série de tecnologias de georreferenciamento de dados, o interesse pela arte de fotografar falou mais alto na hora de decidir a compra do equipamento.

“Eu passei um tempo pesquisando o que eu ia fazer, e cheguei a um cara vendendo um drone em um desses sites aí, e era muito mais caro que o dinheiro que eu tinha na verdade. Aí eu chamei o cara, negociei um monte, até que ele aceitou o dinheiro que eu tinha e enfim, comprei”, relembra Marcelino sobre o processo de aquisição do seu primeiro Drone.

Após a compra, o jovem ficou alguns meses sem mexer no robô de imagens aéreas, porque não dominava os processos de pilotagem. Ele relata que antes de comprar o equipamento ele só tinha visto algo igual apenas uma vez na sua vida. Mesmo assim, ele resolveu se aventurar mexendo nas funcionalidades do Drone até encontrar o simulador de vôo.

A partir deste momento, o jovem começou a perder o medo e foi tentar pequenos vôos na quebrada. “Eu comecei a voar nesse simuladorzinho e pensei se eu bater aqui ta de boa, porque não é de verdade… até eu tomar coragem”, conta Melo detalhando o processo de aprendizagem.

Quanto mais o Menino do Drone aprendia a voar, mais ele ia atrás de informação, como entender as leis de regulamentação do Drone e produção de imagens aéreas, por exemplo, que estava sendo implementada no Brasil à época.

Em 2017, a ANAC (Agência Nacional de Aviação) aprovou um regulamento especial para utilização de aeronaves não tripuladas, popularmente chamadas de Drone, com o objetivo de tornar viável a segurança desses equipamentos e preservando a segurança das pessoas.

Depois de aprender um pouco de tudo, Marcelino entendeu que apenas voar não era mais o seu objetivo. Ele queria agora tentar traduzir toda a grandiosidade que a periferia tem e fazer com que a pessoas se enxerguem grandes também.

“O Drone é mais que uma tecnologia né. É mais que uma visão de cima. Eu posso tá em uma quebrada deserta, se eu subir um Drone já percebo ao redor que fica um monte de curiosos querendo ver e dá pra enxergar esse sorriso nas pessoas de se entender e se ver grande”, afirma o Menino do Drone.

Por enquanto, seu maior meio de divulgação de suas fotografias é pelo Instagram, mas conta que já pretende expor suas fotos em outros lugares, para que também consiga chegar a espaços físicos. E diz que ainda está elaborando esse projeto, mas em breve terá novidades.

“A primeira foto de drone que postei no Instagram me chamou a atenção um monte de caixa d’agua azul. Na foto tinha umas 200 caixas. Eu gosto muito dela porque foi ali que entendi como fotografia sabe”, relembra.

Melo não recorda com exatidão a época que ganhou esse apelido, mas lembra da ocasião, na qual um amigo o chamou pela primeira vez do vulgo Menino do Drone. “Chegou um cara e falou: ‘e aí Menino do Drone’ e pensei que de repente isso é uma coisa boa né.”

Hoje em dia, além de atuar com produção audiovisual de filmes, clipes de música, principalmente de rappers, o jovem desenvolve um trabalho de educador na Fábricas de Cultura do Jardim São Luís, onde ministra oficinas para jovens e crianças.

Direito à moradia: Um cantinho pra chamar de seu

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Todo mundo tem direito a um lar. Entenda o que o poder público tem feito para garantir moradia – e como a mobilização de moradores nas periferias da Zona Sul de São Paulo resultou em conquistas para todos

Foto: Pablo Pereira

Reportagem de Ana Luíza Araújo, Rebeca Motta e Riviane Lucena. Fotos por Pablo Pereira. Edição de texto por Thiago Borges. Design por Camila Ribeiro.

A vida de Altamiro é feita de mudanças. Em 50 anos de vida, já morou em diferentes casas e bairros. Mas há quase 06 anos ele firmou sua esperança com lona de plástico e estacas de madeira no fundão do Jardim Ângela: na expectativa de parar de sofrer com o preço alto do aluguel e conseguir uma casa própria, Altamiro cercou um lote na ocupação Vila Nova Palestina. “Tudo a gente consegue com luta, né? Nada é fácil hoje em dia”, diz.

A situação de Altamiro é parecida com a de muitos brasileiros: com salários baixos ou desempregados, ter um teto pra dormir embaixo e um pedaço de chão pra chamar de seu é uma realidade distante e que atravessa o tempo. Desde a chegada dos portugueses ao Brasil, a terra é alvo de disputas e os mais pobres sofrem por falta dela. Depois do fim da escravidão, os negros conseguiram a liberdade mas não tinham posse da terra. E muitos nordestinos migraram para o sudeste por não conseguirem se sustentar na terra natal.

O Artigo 6ª da Constituição Federal de 1988 tenta resolver o problema ao garantir a moradia como um direito social, como é o caso da educação, saúde ou alimentação. É básico: uma casa dá segurança física, emocional e afetiva para as pessoas. Permite fazer planos e sonhar. Mas esse direito ainda não está assegurado pelo poder público. “Muitas pessoas moram na periferia, mas ainda assim não têm suas casas próprias”, afirma Jussara Basso, líder da ocupação Vila Nova Palestina.

Uma vida por um teto


“O sonho de qualquer cidadão é ter uma moradia. Poder deitar a cabeça no travesseiro e falar: ‘é meu!'”, resume dona Ana Maria Gomes Santos. A auxiliar de serviços gerais busca essa realização para seus 05 filhos: um canto para ficar. E essa história atravessa sua vida inteira. Nascida em Caraí (norte de Minas Gerais), ela começou a trabalhar aos 06 anos na lavoura e logo depois de atingir a maioridade migrou para São Paulo com dois filhos pequenos. Foi para o Rio de Janeiro, voltou para São Paulo e morou por 05 anos em uma casa alugada no Jardim Maria Sampaio (Campo Limpo).

Com o dinheiro curto e o desejo de ter uma moradia própria, em 2006 ela comprou por R$ 2.000 um lote irregular no Jardim Gaivotas (bairro no Grajaú, às margens da represa Billings). Pela primeira vez, dona Ana e outras 103 famílias vizinhas dormiram com a sensação de ter realizado o sonho da casa própria. Mas a alegria durou pouco. Sem a posse da terra, um ano após a construção a Subprefeitura da Capela do Socorro determinou a remoção das casas e todas as famílias foram despejadas.

Enquanto alguns se abrigaram com parentes, 11 famílias ficaram na rua – incluindo dona Ana e seus filhos. A Subprefeitura improvisou um abrigo com barracas de lona em um campo de futebol até encaminhá-los a um hotel em Interlagos, onde ficaram por 03 meses. “Durante esse tempo, a gente ia a pé pra dormir na porta da Subprefeitura cobrando uma solução, até que eles resolveram pagar a parceria social”, lembra Dona Ana.

Essa parceria social é uma espécie de auxílio-aluguel com um contrato de 30 meses de duração. Com manifestações, a Prefeitura renovou o benefício por mais 30 meses. As famílias atendidas recebiam R$ 300 por mês, insuficiente para pagar o aluguel. Depois desse período, a Secretaria Municipal de Habitação (Sehab) transferiria os beneficiários para o auxílio-aluguel, mas isso não aconteceu.

Dona Ana morava com a família em uma casa alugada no Cantinho do Céu, também no Grajaú. Mas há 03 anos, com o desemprego e sem receber o auxílio-aluguel que a Prefeitura prometeu, ela teve que voltar para a ocupação no Jardim Gaivotas. Dessa vez, construiu a casa com madeirite. Enquanto o direito à moradia não é garantido, ela segue denunciando a situação de mais de 200 famílias. Seus relatos escritos à mão chegaram até a Universidade Federal do ABC (UFABC) e na Universidade de Michigan (nos Estados Unidos). Os universitários ajudam a comunidade com palestras, mutirões e melhorias como um campo de futebol e parquinho para as crianças. A casa ainda é uma incerteza.

Quando a comunidade se junta, a conquista acontece
Enquanto a luta segue no Jardim Gaivotas, do outro lado da Zona Sul o momento é manter as conquistas. Há 52 anos, Maria Cecília de Luna chegou no Jardim Casablanca. Era puro mato, não tinha asfalto, luz elétrica, nem água ou esgoto encanados. Conhecida como Dona Lurdes, ela contava 03 nascentes no quintal de casa.

A paraibana estabeleceu raízes na Zona Sul de São Paulo com o marido e 02 filhas. Longe de tudo, foi nas missas de domingo e nas novenas com a vizinhança que ela passou a atuar politicamente na região onde hoje é uma referência. Na época da ditadura militar, a igreja era o único lugar seguro para reunir grandes grupos de pessoas sem sofrer repressão. Mais do que a oração, o espaço serviu para que as mulheres falassem dos problemas do dia a dia e dos direitos que eram negados.

Muitos objetivos foram alcançados, como creches e linhas de ônibus, e o Clube de Mães ampliou a luta. Mesmo com uma casa própria, Dona Lurdes se solidarizou com as pessoas que moravam na favela do Puma, na beira do córrego do S. Quando chovia muito, o córrego inundava e a enchente atingia as casas dessas famílias, que precisavam se abrigar em escolas e igrejas. Então, as mulheres passaram a cobrar a Prefeitura para conseguir um terreno e ouvir as necessidades dos moradores. Assim, foi criada a Associação Amigos do Bairro, que ajudou ocupações irregulares a conquistar o Conjunto Habitacional Manet, que fica no Jardim Macedônia.

Hoje, Dona Lurdes tem 85 anos mas não para de atuar: ela é responsável por 04 hortas comunitárias que cultiva no CEU Casablanca, com o objetivo de conscientizar as pessoas da região sobre a alimentação saudável. Além disso, faz encontros semanais sobre costura e geração de renda com mulheres em sua própria casa. Ela continua acreditando no poder da comunidade.

Em busca da casa própria
A luta de Dona Lurdes no passado se repete no presente. Com a alta dos aluguéis e a omissão do poder público, em novembro de 2013 o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) ocupou um terreno na Estrada do M’Boi Mirim (Zona Sul de São Paulo) para reivindicar moradia. Domésticas, seguranças, motoristas de ônibus, assalariados ou gente que recebe Bolsa Família: a ocupação Vila Nova Palestina virou alternativa para mais de 8.000 famílias – atualmente, 2.000 famílias continuam cadastradas pelo movimento e também estão nas listas de programas habitacionais da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano) e COHAB (Companhia Metropolitana de Habitação). Algumas há 50 anos na fila da moradia.

O terreno foi escolhido também com base na Constituição, que estabelece que a propriedade deve cumprir uma função social. Ou seja, a terra estava sem uso. Mas para ser habitada, ela precisaria se transformar em uma ZEIS (Zona Especial de Interesse Social)

Em 2014, moradores da ocupação acamparam por 07 dias em frente à Câmara Municipal para conseguir liberação da área da ocupação Vila Nova Palestina. Depois, apresentaram um projeto na Caixa Econômica Federal e no antigo Ministério das Cidades para financiar a construção das casas e transformar a ocupação em um bairro planejado. Mas desde 2016, o programa Minha Casa Minha Vida do governo federal não financia entidades e o projeto não saiu do papel.

Enquanto a casa própria não se concretiza, as famílias da ocupação seguem regras básicas de convivência baseadas no respeito mútuo. Mais do que moradia, o movimento discute a preservação ambiental; a ocupação tem aulas de reforço para crianças, alfabetização e pré-vestibular para jovens e adultos; oficinas de comunicação, artesanato e geração de renda; e as hortas e cozinhas atendem tanto ao uso pessoal quanto coletivo.

Do lado de fora, as famílias participam da mobilização de vizinhos contra o fechamento de AMAs (Assistências Médicas Ambulatoriais); reivindicam saneamento básico e melhorias no Hospital M’Boi Mirim; e luta contra as mudanças e cortes de linhas de ônibus da região.
A luta continua a mesma: é pelo direito de morar.

Esta reportagem faz parte do projeto #NoCentroDaPauta, uma realização dos coletivos Alma Preta, Casa no Meio do Mundo, Desenrola e Não me Enrola, Imargem, Historiorama, Periferia em Movimento, TV Grajaú, Dicampana e Nós, Mulheres da Periferia, com patrocínio da Fundação Tide Setúbal.

Dos anos 90 ao século XXI: o acesso da juventude periférica ao mercado de trabalho

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Das agências de emprego aos portais de recrutamento e seleção. O que mudou, melhorou e regrediu no cotidiano do jovem periférico que está em busca da primeira oportunidade no mercado de trabalho? A reportagem do Desenrola apresenta olhares de personagens que viveram esse processo em épocas diferentes, mas enfrentaram desafios semelhantes. 

Vila das Belezas – zona sul, São Paulo 2019 (Foto: Dicampana FotoColetivo)

Na década de 90, a taxa de desemprego na grande São Paulo chegou a 19,3%, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), acarretando numa crise que afetou milhões de trabalhadores na época.

Essa instabilidade econômica impactou principalmente a população que procurava a primeira oportunidade de atuação profissional entre os anos de 94 a 99. Neste contexto, os jovens moradores das periferias vivenciaram uma série de situações constrangedoras para entrar no mercado de trabalho.

Assista a vídeo-reportagem.

Casos de racismo e discriminações devido ao tipo de vestimenta, porte físico e estético, além do rótulo negativo pela região de moradia representam histórias de moradores que participaram de processos seletivos numa época, na qual a agência de emprego era o principal elo entre candidato e empresa. Além disso, nos anos 90 os jovens das periferias conviviam com a inexistência de políticas públicas de acesso as universidades, o que dificultava ainda mais a conquista do primeiro emprego.

Quanto tinha 20 anos, Fabiana Alves, pedagoga e moradora do Grajaú, zona sul de São Paulo, sonhava com o primeiro emprego, mas as exigências e a forma como as agências procediam em relação ao atendimento dos jovens na época, era segundo ela um completo desrespeito e muito preconceito. Hoje, com 44 anos e mãe de dois filhos, a pedagoga se emociona ao recordar as situações de conflito racial que a sua geração enfrentou na década de 90.

“Naquela época você tinha que ser impecável, porque se você não fosse uma pessoa impecável, você não tinha valor, você não conseguia entrar no mercado de trabalho. Pelo fato de você ser negra, tudo se tornava mais difícil, então assim, você tinha que sair de social, tinha que estar com o cabelo impecável e arrumado”, descreve ela, detalhando as exigências e critérios estéticos que ficavam expostas na porta das agências de recrutamento.

“Tinha uma placa gigante ensinando como o homem deveria se vestir para procurar emprego e como a mulher deveria se vestir. O preconceito por causa da sua cor era muito grande. Eu derramei muitas lágrimas principalmente por causa de preconceito, porque assim, você acha que isso ainda não acontece, mas isso acontece hoje, e os jovens não percebem isso às vezes, mas hoje está diferente: você pode falar da sua cor, do seu cabelo, pode usar o que você quer, mas naquela época não”.

lembra Fabiana Alves.

Fabiana ainda ressalta que a geração de jovens de hoje possui acesso a informação com a era da internet, bem como às políticas públicas que auxiliam os jovens a ingressar na universidade e o jovem aprendiz, que é um grande passo para colocar a juventude em contato com o primeiro trabalho, coisa que não existia em sua época.

“Você não tinha as informações que você tem hoje, antigamente você tinha que sair de agência em agência e de porta em porta, hoje não. Hoje os jovens têm a internet pra você procurar emprego, você tem o programa de jovem aprendiz, coisa que não existia naquela época. Não existia o PROUNE, FIES e ENEM. Minha meta era entrar na faculdade para conseguir emprego, essa era a meta de muitas pessoas naquela época. Você entrava na universidade e ficava no mínimo seis meses pra conseguir emprego. Você passou na experiência dos 90 dias? Pronto. Pode sair da faculdade agora, e seja o que Deus quiser”, explica.

19 anos após o final da década de 90, a juventude periférica ainda continua enfrentando grandes desafios para acessar o mercado de trabalho. Entre 2013 e 2018, a taxa de desemprego se manteve acima de 10% no estado de São Paulo. Em 2017, o Dieese registrou uma alta de 18%, um cenário de crise bem próximo do que foi vivenciado pela moradora do Grajaú, nos anos 90.

Segundo o economista e também morador da periferia Alex Barcellos, a era da tecnologia possibilitou aos jovens terem um maior acesso ao primeiro emprego. Ele também ressalta a importância de fazer a distinção entre trabalho e emprego. “O trabalho é uma profissão em si, o jovem tem uma perspectiva em cima de uma profissão, já o emprego é emergencial, estamos numa conjuntura que não favorece.”

Barcellos também compara os dias atuais com anos 90, enfatizando que à época não existia essa facilidade do acesso tecnológico. “Hoje existem avanços em acessos, mas ainda existem muitas dificuldades e desafios para esse jovem que está na periferia. Você consegue hoje ter condições mínimas de possibilidades e perspectivas para a juventude, mas pela conjuntura atual elas podem ser desconstruídas, talvez a gente regresse em um passado, que não foi trabalhado na perspectiva de juventude.”

Já para a jovem Vitória Guilhermina, 19 anos, moradora do Rio Pequeno, território periférico da zona oeste de São Paulo, a tecnologia possibilita o acesso da sua geração a se conectar com diversas vagas de emprego, porém, as exigências de experiência e formação profissional em diversos aspectos para a mesma vaga não favorece ao jovem disputar esses espaços.

“Esse fácil acesso facilita e desmotiva o jovem. Facilita porque você envia seu currículo online, mas desmotiva porque você não vai conseguir aquele emprego. Você faz inscrição para 30 sites e nenhum te chama pra fazer uma entrevista se quer e isso é deprimente”.

reconhece Vitória Guilhermina.

Vitória conseguiu seu primeiro emprego como Jovem Aprendiz no banco Itaú e atualmente trabalha como jovem monitora cultural, por meio do programa Jovem Monitor Cultural (PJMC), programa de formação e experimentação profissional em gestão cultural para as juventudes, realizado pela Secretaria Municipal de Cultura (SMC) da Prefeitura de São Paulo.

“Acho muito importante você dar essa oportunidade para um jovem que nunca entrou no mercado de trabalho, acho que a gente precisa ter essa oportunidade para poder ter essa experiência que eles exigem. E o jovem monitor é isso. O jovem monitor eu acho que é mais importante, por essa questão de envolver a cultura, a gente fica ligado à cultura do nosso bairro, a espaços culturais, você dá o espaço desse jovem produzir dentro do espaço dele, dentro de onde ele mora, do bairro dele”, argumenta Vitória.

Desafios que persistem

Mais de 20 anos após o final da década de 90, a juventude periférica ainda continua enfrentando grandes desafios para acessar o mercado de trabalho. Entre 2013 e 2018, a taxa de desemprego se manteve acima de 10% no estado de São Paulo. Em 2017, o Dieese registrou uma alta de 18%, um cenário de crise bem próximo do que foi vivenciado pela moradora do Grajaú, nos anos 90.

Segundo o economista e também morador da periferia Alex Barcellos, a era da tecnologia possibilitou aos jovens terem um maior acesso ao primeiro emprego. Ele também ressalta a importância de fazer a distinção entre trabalho e emprego. “O trabalho é uma profissão em si, o jovem tem uma perspectiva em cima de uma profissão, já o emprego é emergencial, estamos numa conjuntura que não favorece.”

Barcellos também compara os dias atuais com anos 90, enfatizando que à época não existia essa facilidade do acesso tecnológico. “Hoje existem avanços em acessos, mas ainda existem muitas dificuldades e desafios para esse jovem que está na periferia. Você consegue hoje ter condições mínimas de possibilidades e perspectivas para a juventude, mas pela conjuntura atual elas podem ser desconstruídas, talvez a gente regresse em um passado, que não foi trabalhado na perspectiva de juventude.”

Já para a jovem Vitória Guilhermina, 19 anos, moradora do Rio Pequeno, território periférico da zona oeste de São Paulo, a tecnologia possibilita o acesso da sua geração a se conectar com diversas vagas de emprego, porém, as exigências de experiência e formação profissional em diversos aspectos para a mesma vaga não favorece ao jovem disputar esses espaços.

“Esse fácil acesso facilita e desmotiva o jovem. Facilita porque você envia seu currículo online, mas desmotiva porque você não vai conseguir aquele emprego. Você faz inscrição para 30 sites e nenhum te chama pra fazer uma entrevista se quer e isso é deprimente”, reconhece Guilhermina.

Vitória conseguiu seu primeiro emprego como Jovem Aprendiz no banco Itaú e atualmente trabalha como jovem monitora cultural, por meio do programa Jovem Monitor Cultural (PJMC), programa de formação e experimentação profissional em gestão cultural para as juventudes, realizado pela Secretaria Municipal de Cultura (SMC) da Prefeitura de São Paulo.

“Acho muito importante você dar essa oportunidade para um jovem que nunca entrou no mercado de trabalho, acho que a gente precisa ter essa oportunidade para poder ter essa experiência que eles exigem. E o jovem monitor é isso. O jovem monitor eu acho que é mais importante, por essa questão de envolver a cultura, a gente fica ligado à cultura do nosso bairro, a espaços culturais, você dá o espaço desse jovem produzir dentro do espaço dele, dentro de onde ele mora, do bairro dele”, argumenta Vitória.

Esta reportagem faz parte do projeto #NoCentroDaPauta, uma realização dos coletivos Alma Preta, Casa no Meio do Mundo, Desenrola E Não Me Enrola, Imargem, Historiorama, Periferia em Movimento, TV Grajaú – SP, DiCampana Foto Coletivo e Nós, mulheres da periferia, com patrocínio da Fundação Tide Setubal.

Financiamento coletivo pode levar escritor de Pirituba para viagem ao Egito

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As doações podem ser realizadas até o dia 07 de outubro, ás 23h59. Através da campanha, o autor terá a oportunidade de palestrar no Depto. de Língua Portuguesa da Aswan University, a convite do professor Maged ElGebaly.

Escritor Michel Yakini (Foto: Divulgação)

Os interessados em colaborar com a campanha serão responsáveis por apoiar diretamente o trabalho do escritor, educador e poeta Michel Yakini, um agente da literatura periférica que propaga saberes literários em diversos países da América Latina.

Autor de três livros e com participação em uma série de antologias, Michel Yakini lançou recentemente uma campanha de financiamento coletivo na plataforma do Cartase para viajar ao Egito e participar da 5ª edição do Tanta International Festival of Poetry, um festival de literatura realizado anualmente em outubro e que reúne escritores de diversas partes do mundo.

As doações podem ser realizadas até o dia 07 de outubro, ás 23h59. Através da campanha, o autor terá a oportunidade de palestrar no Depto. de Língua Portuguesa da Aswan University, a convite do professor Maged ElGebaly.

Além da oportunidade da apresentação profissional e intercâmbio cultural, o escritor pretende se aprofundar em suas pesquisas sobre Filosofia Hermética do Antigo Egito, que é base de um livro que ele está escrevendo e que em breve será lançado.

Clique aqui para realizar o seu apoio.

https://www.michelyakini.com/publicaes