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Sarau pelas vidas das mulheres acontece nesta sexta-feira no Metrô Capão Redondo

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A proposta é mostrar para as mulheres que passam pelo metrô que elas não estam sozinhas na luta contra o feminicídio nas periferias. Além disso, o sarau também visa fazer uma provocação para os homens, para eles refletirem sobre a importância de compreender o efeito do machismo na sociedade. 

Estação do Metrô Capão Redondo (Foto: Divulgação Via Mobilidade)

A partir das 18h desta sexta-feira (06), o calçadão do Metro Capão Redondo será palco de diversas intervenções poéticas, promovidas por mulheres que decidiram utilizar a literatura para denunciar a violência que afeta principalmente mulheres que moram em territórios periféricos da zona sul de São Paulo.

A iniciativa é da Escola Feminista Abya Yala, espaço de estudo coletivo, fortalecimento e cuidado entre mulheres ativistas na periferia. O projeto articulado pela escritora Helena Silvestre tem se dedicado a criar espaços de troca de afetos, como forma de cuidar do esgotamento físico e mental, que afeta a população feminina nas periferias.

Para Silvestre, o sarau é uma forma de sensibilizar as mulheres que moram no Capão Redondo, a fim de mostrar que elas não estão sozinhas na luta com o machismo e o feminicídio. “O sarau pretende mostrar para as mulheres que vão circular pela saída do metrô que é possível que a gente se junte, que a gente se organize, se una, que a gente se fortaleça entre mulheres e que elas não estão sozinhas.”

A escritora enfatiza: “toda vez que uma mulher se junta com a outra é uma força que nos dá caminhos abertos para lutar contra a opressão, para sair de uma condição de violência”. A declaração é feita num momento em que o distrito do Capão Redondo se torna marcado pelo constante aumento de casos de violência contra a mulher, o chamado feminicídio.

Com microfone aberto, o ato cultural abre espaço para inúmeras reflexões sobre o dia 8 de março, data que é celebrado o Dia Internacional da Mulher. “Nós queremos que elas saibam que no território há mulheres que estão organizadas com os braços abertos para acolher qualquer irmã que precisar”, conta a escritora.

Ela finaliza a entrevista para o Desenrola ressaltando que o encontro poético também fará uma provocação aos homens que passarão pelo Metro Capão Redondo durante o ato. “Eles não podem reproduzir com as mulheres as violências que eles sofrem. Porque ao fazerem isso eles estão enfraquecendo a luta por uma periferia melhor, mais justa e menos violenta. Então nós queremos provocar essa reflexão”, conclui Silvestre, afirmando a importância de praticar um feminismo construído na quebrada que entenda todas essas questões sociais que afetam os moradores e principalmente as mulheres.

O que você gostaria que a tecnologia resolvesse na sua quebrada em 2020?

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Na primeira matéria de 2020, a equipe do Quebrada Tech conversou com quatro gestores de projetos de base tecnológica que atuam nas periferias de São Paulo para escutar deles como a tecnologia poderia colaborar para resolver demandas urgentes dos moradores nos territórios onde atuam. 

Foto: Menino do Drone

Não é de hoje que nas periferias de São Paulo acontece um movimento puxado por moradores que resolvem dedicar parte da sua vida profissional a solucionar problemas em seus bairros, por meio da criação de iniciativas que tem a tecnologia como principal plataforma de impacto social.

Criar plataformas de comunicação digital para divulgação de produtos e serviços, criar espaços de produção de conhecimento sobre inovação tecnológica, instalação de praças de wi-fi em locais descentralizados nos bairros, aprimorar a estrutura da educação pública, combater a violência contra a mulher e ampliar a distribuição de serviços de internet são algumas das demandas estruturantes apontadas por gestores de projetos de tecnologia que também são moradores de territórios periféricos.

Essas áreas citadas por esses atores precisam ser alvo de ações do poder público em parceria com os empreendedores de tecnologia que almejam transformar pra melhor o cotidiano do morador da quebrada. É o que conta Carla Prates, co-fundando do e-Bairro, plataforma de negócios locais que conecta empreendedores do Jardim São Luís, zona sul da cidade, ao enfatizar as suas preocupações com a educação pública e a violência contra a mulher.

“Gostaria que a tecnologia pudesse resolver as deficiências de educação no ensino fundamental e médio, tendo como pressuposto a educação popular e humanista. Pra que as pessoas se tornassem protagonistas da própria história. Outra problemática que a Tecnologia poderia se propor a resolver é a da violência, sobretudo contra a mulher”, diz Prates.

A conectividade entre os moradores também é assunto recorrente na preocupação dos gestores. O empreendedor Ascanio Caracciolo, fundador de uma empresa que fornece internet de fibra óptica para moradores do Jardim Ângela, conta que “seria bom para nossa região aumentar o número de praças com wifi, pra quem não tem condição de acessar internet com fornecimento gratuito”

Caracciolo defende a instalação de pontos de acesso de internet nas linhas de ônibus da quebrada. “Nos ônibus também poderia colocar internet, porque os ônibus que têm wi-fi circulam e mais no centro da cidade e são grandes. Os daqui da quebrada tem tamanho normal, e não tem internet nenhuma e se colocasse nas peruas seria bom também, entendeu.”

O músico Fábio Miranda, criador do projeto Periferia Sustentável, um laboratório que difunde tecnologias de sustentabilidade, preservação do meio ambiente e energias renováveis, reconhece que muitos moradores da quebrada, por falta de espaços de produção de conhecimento, ainda possuem dificuldade para a ver a tecnologia como um meio de produção e soluções de problemas e não somente como produto final.

“Vejo ainda a tecnologia como algo que as pessoas não se sintam capazes de ter acesso ou muito menos achar que tem potencial e a capacidade de desenvolver ‘techs’ de baixo custo, onde e possível trazer soluções básicas para potenciar o espaço onde vivem”, acredita Miranda.

Ele sinaliza a importância de impactar a autoestima dos moradores com a criação de espaços de aprendizagem, para difusão da cultura das tecnologias open source. “as tecnologias abertas podem trazer essa segurança, onde teremos espaços como o Periferia Sustentável, que tenho hoje aqui em nossa comunidade, voltado para criação e desenvolvimento de techs funcionais, onde todos são capazes de encontrar seu ‘professor Pardal’ interno e trabalhar numa rede de ideias e soluções.”

Atento aos impactos da crise econômica na vida de quem mora nas periferias, o empreendedor Bruno Nunes, criador da plataforma JOGA, aposta que a geração de renda e trabalho nas periferias poderia ser melhorada se existisse “um canal com maior divulgação de serviços, lojas e produtos que estão dentro das comunidades”.

Nunes relata que além da dificuldade natural de ter um negócio, a falta de de comunicação entre os serviços e os moradores faz com quem eles optem por serviços mais conhecidos não valorizando a mão de obra da própria comunidade. “Um dos pontos mais importantes é que se a grana da comunidade for revertida para as próprias lojas e serviços da comunidade, pode gerar um aumento de renda no próprio local, além de desenvolver financeiramente pequenos negócios”, afirma.

Um ponto em comum chama a atenção nos depoimentos dos empreendedores entrevistados: todos eles deixam de expor um olhar mais centrado para a sua própria iniciativa, para destacar uma preocupação com melhorias que visam um bem comum na vida dos moradores da quebrada. Isso retrata uma característica importante nesses profissionais, que é o olhar para o outro, na hora de pensar qual tipo de impacto a tecnologia precisa gerar na vida das pessoas em 2020.

A influência da literatura periférica na formação de crianças leitoras

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Experiências de pais e filhos que moram nas periferias de São Paulo mostram como a literatura pode ser inserida no cotidiano das crianças, para desenvolver um gosto natural pela leitura.

Dados da última edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró-Livro em 2015, mostram que o hábito da leitura de um terço dos brasileiros teve a influência da mãe ou responsável do sexo feminino, além de professores. A pesquisa também indica que essa influência contribui no fato do indivíduo ser ou não leitor, sendo que 83% dos não leitores não receberam a influência de ninguém.

A criação do hábito da leitura e o acesso ao livro pode ser construída a partir de diferentes conceitos de literatura e é importante ser estimulado desde a infância. Exemplo disso é a literatura oral, que está presente desde os primeiros meses de vida e contribui na inserção das crianças dentro do universo literário, na introdução da linguagem e com o passar dos anos na fabulação, capacidade de fantasiar e criar histórias.

“Quando você tem o contato com a produção de histórias, seja na linguagem oral ou também na escrita através dos livros, amplia-se a sua leitura de mundo por vivenciar outras vidas e outras formas de viver”, compartilha Mara Esteves, mediadora de leitura e co-gestora da Biblioteca Comunitária Djeanne Firmino.

Essa capacidade de criar e imaginar novos universos está presente na vida de Cecília, que com 9 anos, moradora do Campo Limpo, região sul de São Paulo, se identifica com os personagens dos livros que lê, e acaba entrando na história.

“Eu acho que o livro me ajuda em várias coisas. Quando eu vou dormir eu leio um pouco, aí de repente eu tenho um sonho com esse livro onde eu estou dentro dele, e sou amiga dos personagens”, conta a pequena leitora, que tem a influência dos pais nessa aproximação da literatura, desde os livros que lê, até os espaços que circula, como saraus e eventos de literatura na periferia.

O movimento literário das periferias proporciona algo que vai além da criação de novos universos e histórias na infância: possibilita a inserção das crianças em espaços como saraus, slams e feiras literárias, que as enxergam também como consumidoras e produtoras de conhecimento, além de criar referências próximas a essas crianças.

“As vezes pego um livro, acho que é do Sarau do Binho, eu fico só lendo as poesias. Tem poesias da minha mãe, do meu pai, tem dos meus amigos, dos amigos dos meus amigos”, conta Cecília, filha da artista e produtora cultural Dêssa Souza e do fotógrafo Will Cavagnolli.

“Vejo esses movimentos deixando com que as crianças convivam com os adultos no meio da literatura. É um sarau que está acontecendo em uma segunda-feira a noite e as crianças estão lá”

ressalta Mara sobre a importância desses espaços construídos por moradores e articuladores dos territórios periféricos.

A literatura periférica influenciou muitos pais que hoje apresentam para seus filhos autores do próprio território e fazem com que o processo de autodescoberta e desenvolvimento das crianças, seja diferente daquilo que vivenciou. Juliana Santos, arte-educadora e poetisa, é um desses casos: se aproximou do movimento literário da periferia através de pessoas que possuíam ligação com o Sarau da Cooperifa, e então passou a se interessar mais pelo o que chama de literatura viva, que está além dos livros.

“Na verdade, eu acho que a influência está muito vinculada à ideia de literatura que está fora do livro, de ouvir histórias que passam por mim. Minha avó era uma contadora de histórias. Ela era analfabeta, mas eu digo que ela foi a minha primeira incentivadora na literatura, de tanto que eu ouvi ela contar histórias”, relembra Juliana, moradora da zona sul de São Paulo, que hoje além de ler para sua filha Isís, também narra histórias da sua família para a pequena.

Isís Santos, 8 anos, filha da poetisa e pedagoga Juliana Santos e do fotógrafo Fernando Solidade, conta que os personagens dos livros que lê se parecem muito com ela, principalmente os cabelos cacheados, mas ressalta que esses personagens também a remetem ao avô que não conheceu, mas a partir das histórias de sua mãe sobre ele, consegue identificar semelhanças.

“A maioria nesse livro é gente negra, eu gosto bastante. Isso lembra minha mãe, meu avô que eu não conheci, só vi uma foto dele, mas lembra ele também.”

Bibliotecas Comunitárias: a construção coletiva da leitura

Outro importante local de formação de pequenos leitores desde a infância são as bibliotecas comunitárias. Elas se tornaram espaços que apresentam para as crianças o livro não apenas como um objeto, mas como caminho possível para aflorar os diversos mundos presentes nas crianças. Hoje são fundamentais como locais de construção coletiva de conhecimento e acesso a outros universos e imaginários.

Na zona sul de São Paulo, levando em consideração os distritos do Capão Redondo, Campo Limpo e Jardim Ângela, existem menos de 20 bibliotecas e pontos de leitura em locais públicos para atender mais de 700 mil de moradores, conforme dados disponíveis no site da Prefeitura de São Paulo. A Rede LiteraSampa é um dos exemplos de mobilização coletiva que tem contribuído no acesso de crinaças e adultos aos livros.

Sem apoio do poder público, a Rede mantém mais de 10 bibliotecas comunitárias nas periferias de São Paulo, Mauá e Guarulhos a partir da união de esforços de organizações territoriais. Essa construção conjunta também contribui na formação dos moradores com oficinas de mediação de leitura.

“Não temos todas as cidades do Brasil com bibliotecas públicas, então as bibliotecas comunitárias nascem desse vácuo, dessa ausência de políticas públicas, ausência do Estado. O Estado chega por outros meios nas periferias, mas não para validar um direito, que é o direito humano à leitura”, frisa Mara que é co-gestora da Biblioteca Comunitária Djeanne Firmino, importante espaço para os pais e crianças na região do Campo Limpo e que integra a Rede LiteraSampa.

“Eu gosto muito quando eu vou para uma biblioteca, só que às vezes não dá muito tempo, só dá tempo de ler 1 ou 2 livros, aí já tenho que ir embora”, conta Isis. Isis e Cecília frequentam as bibliotecas comunitárias do território que além de atividades de leitura possuem uma programação de atividades e oficinas que são importantes para a formação das crianças do seu entorno.

Assista a reportagem completa do projeto #NoCentrodaPauta produzida pelo Desenrola e Não Me Enrola:

Juventude periférica impacta meio ambiente com brechós

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Os brechós vêm crescendo a cada dia e com preços que chegam a ser 60% mais baratos em relação ás lojas de grandes marcas. Além de impactar positivamente o meio ambiente, essas iniciativas incentivam o consumo consciente de roupas que devido a uma lógica de mercado estão se tornando descartáveis neste cenário. Mas qual é o papel da juventude periférica nesse processo?

Samara santos durante a Feira Brecholetivo (Foto: Bruno Claudino)

Um dos grandes aliados dessa prática dos brechós têm sido as redes sociais, por meio de plataformas como Facebook, Instagram e YouTube, esses jovens empreendedores sociais conseguem expor, negociar preços e agendar as entregas das suas peças, um processo bem diferente se compararmos com as tradicionais lojas virtuais que contratam serviços dos correios.

Outra forma de construir uma relação com o cliente nos brechós é o fato da entrega das peças acontecerem em sua grande maioria em pontos estratégicos de grande circulação de público, como as catracas de trens e metrôs.

A jovem Samara Santos, 21, moradora do município de Embu das Artes atua a cerca de 3 anos nesse cenário organizando feiras como a “Brechóletivos” que concentra 25 brechós das periferias de diferentes regiões da cidade e recebem um público de 150 a 200 pessoas.

“Quando iniciei foi mais por questões de rentabilidade, mais para complementar uma renda e depois virou a minha única renda. Para conseguir conciliar as trocas que eu fazia no Facebook, eu juntei todas elas num só objetivo então eu criei o Instagram”, descreve ela sobre o processo inicial de construção do negócio.

Com o passar do tempo, a feira de brechós ganhou outros contextos e objetivos. “Hoje nós estamos num processo de trazer o brechó para que as pessoas entendam que estamos querendo trazer a conscientização do uso das peças, o quanto que isso é importante para o meio ambiente e o quanto que é importante também a gente pagar barato por elas, porque o brechó é isso, é se vestir bem e pagar barato.”

Os brechós também nascem com o intuito de contrapor a lógica do Fast Fashion, termo utilizado para definir a constante renovação das peças vendidas no varejo da moda, que gera consumo intenso e competitivo entre as grandes redes e grifes de moda.

“Pelas roupas serem antigas e duradouras, contribui muito para que o uso dessas roupas vendidas no varejo diminuísse. Todos os brechós têm essa causa e contribuição com o meio ambiente”, enfatiza a produtora de brechós.

Com toda a sua dedicação para produzir as feiras, articular e mobilizar públicos para os eventos, a jovem faz uma reflexão espontânea sobre o papel do empreendedorismo social na sua atuação. “Eu nunca tinha parado para pensar ‘ahhhhhh o brechó é um empreendedorismo social’. Daqui para frente coisas serão pensadas, mas esse contato com o termo empreendedorismo social veio tipo agora”, confessa.

Para a facilitadora e empreendedora Alânia Cerqueira, criadora da Macambira Sociocultural, uma pequena empresa de educação empresarial atuante nas periferias de São Paulo, o empreendedor social não vê somente a oportunidade, mas sim o propósito do seu negócio.

“Quando esse empreendedor jovem ou mais maduro e principalmente o jovem que tem de a ousar mais, e isso possibilita desses jovens juntar esses códigos, esses signos e qual é o propósito disso? É isso que vai fazer principalmente esse jovem empreendedor se manter e engajar outras pessoas”, explica ela.

Cerqueira enfatiza que para isso acontecer com o jovem outro processo importante precisa acontecer: a compreensão dos códigos de investimento. “Ele compreendendo isso, vai ver um universo de possibilidades e investimentos e de recursos financeiros, materiais e de saberes que estão disponíveis para ele acessar”.

Segundo ela, a presença e a conexão das juventudes com as redes sociais se tornam um fator geracional determinante que pode fazer toda a diferença para o sucesso do negócio. “Os jovens tem um acesso maior as redes sociais, a esse mundo virtual que às vezes o empreendedor mais maduro não tem, então isso ousa, dá uma segurança, um espaço e uma vastidão para esse jovem empreendedor ousar mais”.

Confira a reportagem 

#PenseGrandeSuaQuebrada é um esforço coletivo do Programa Pense Grande, iniciativa da Fundação Telefônica Brasil , em parceria com o Alma Preta Desenrola E Não Me Enrola, Historiorama Periferia em Movimento e a Agência Mural de Jornalismo das Periferias com o objetivo de democratizar a linguagem e o acesso das juventudes periféricas ao ecossistema de #EmpreendedorismoSocial

Editorial: O Baile da Dz7 é um patrimônio cultural da juventude periférica

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Os donos dos ‘olhos que condenam’, sejam eles representantes da sociedade civil ou membros do poder público, precisam urgentemente entender que esse baile funk se tornou um Patrimônio Cultural da juventude periférica, que reside nos territórios periféricos da região metropolitana de São Paulo. Confira o editorial do Desenrola. 

Favela de Paraisópolis. (Foto: Léu Britto, DiCampana Foto Coletivo)

A cada edição do Baile da dz7, as estações de trem, metrô e terminais de ônibus intermunicipais localizados nas cidades de Embu Guaçu, Embu das Artes, Taboão da Serra, Osasco, Itapecerica da Serra, Suzano, Guarulhos, Diadema, São Bernardo, Santo André, entre outras cidades que formam a região metropolitana, registram uma grande circulação de grupos de jovens, que já estavam se planejando há meses ou semanas para frequentar o famoso baile funk.

Diante desse cenário, antes de julgar, avaliar ou crucificar o estilo de vida dos quase cinco mil jovens que estavam no Baile da dz7 na madrugada do último domingo (01), na favela de Paraisópolis, zona sul de São Paulo, os donos dos ‘olhos que condenam’, sejam eles representantes da sociedade civil ou membros do poder público, precisam urgentemente entender que esse baile funk se tornou um Patrimônio Cultural da juventude periférica, que reside nos territórios periféricos da região metropolitana de São Paulo, ou seja, a população jovem das cidades que fazem divisa com a capital estão conectadas diretamente com esse movimento cultural legitimado, produzido e desenvolvido por corpos e mentes que vivem e trabalham dentro das periferias.

O Estado tem acesso a esses dados que revelam um pico de passageiros em horários onde os funcionários do transporte público metroviário e ferroviário já se preparam para encerrar as suas atividades. Geralmente entre 23h e 00h30 de sábado, as catracas dos terminais intermunicipais e estações de Trem e Metrô registram um pico de passageiros formado por um fluxo de jovens, que estão a caminho do Baile da dz7, em Paraisópolis. É possível comprovar esse movimento, por meio do acesso às imagens de câmeras instaladas nas estações.

Agora, imagine esse público se encontrando com as tantas juventudes que re-existem nas periferias da cidade de São Paulo? Com diferentes anseios, sonhos e imaginários sobre o seu estilo de vida nos territórios periféricos, outros grupos de jovens partem dos extremos das regiões norte, leste, oeste e sul da cidade para se encontrar com outras juventudes, que vêm de outras cidades do Estado.

Pense bem nesse cenário. Entenda que o Baile da dz7 se tornou um Centro Cultural de Juventudes à Céu Aberto, que surge no formato de uma resposta ao poder público, que se nega a levar o funk para dentro dos equipamentos públicos de cultura. Perceba que não estamos falando somente do território de Paraisópolis. Essa é uma questão presente em todo o Estado de São Paulo. Entenda que esse caso de genocídio que tirou nove vidas em apenas uma noite, aconteceu em uma centralidade do entretenimento do mundo do Funk na cidade de São Paulo e que a favela de Paraisópolis tem essa representação para os jovens que a freqüentam.

Ir ao Baile da dz7 representa a realização de um sonho para muitos jovens ali presentes. Nas redes sociais que o Baile dz7 administra é possível compreender melhor um pouco do que estamos falando. As avaliações do público que freqüentam o local revelam um estado de contemplação e realização ao ter a oportunidade de passar uma noite na companhia dos amigos e ao som de muito funk.

Neste contexto, é necessário ter consciência que as forças políticas do Estado já sabem disso, no entanto elas não querem reconhecer o Baile da dz7 com tal contribuição para o lazer da juventude periférica. Desta forma, precisamos avaliar bem se existe de fato uma criminalização do Funk em curso no Brasil. Isso é um fato? O funk é protagonizado há mais de três décadas por corpos negros, favelados e periféricos. Assim como o Samba e o Rap também foram perseguidos durante a sua fase de surgimento e ascensão, o Funk também está sendo.

O que precisamos de fato enxergar é que em ambos os momentos da história da cultura brasileira, a criminalização dos ritmos afetou diretamente os corpos e mentes de jovens negros, periféricos e favelados. Não foi o ritmo que foi criminalizado, mas sim o seu protagonista que dança, canta, cria, consome e difunde essa cultura. Afinal, as mesmas músicas de funk, rap e sambas que tocam em locais de entretenimento nas regiões centrais de São Paulo e de outras cidades brasileiras, que são freqüentadas pela classe média ou pela elite econômica, não sofrem tal perseguição. Pelo contrário, lá esses ritmos são ovacionados e símbolos de geração de fluxo financeiro.

Em regiões de São Paulo onde há uma notória concentração de renda dos moradores, o Funk é Ovacionado porque é administrado por empresários da indústria cultural, que inclusive são referências na imprensa brasileira. Ovacionado sim, porque gera receita e oportunidade de negócios para marcas de bebidas alcoólicas e grifes de roupa.

Além do processo de apropriação cultural que o Funk sofre essa estrutura de mercado presente na indústria cultural também atua para impedir um dos principais elementos políticos causados pelo funk: de maneira autônoma, a juventude periférica consegue se organizar e mobilizar multidões para promover bailes com pouca estrutura e produzir suas próprias músicas e narrativas, gerando assim um mercado cultural periférico que tem a sua identidade.

Precisamos entender que isso é um ato político, porque enquanto cinco mil jovens que não precisaram pagar entrada para curtir o Baile da Baile dz7, uma série de casas de shows na região de Pinheiros que também promovem shows de funk não atenderam esse público.

Esse público valoriza o pancadão na quebrada por causa do clima de favela. O formato das ruas. As motos estacionadas na calçada. O movimento dos bares abertos. O fluxo de vida que brota nas vielas com pessoas sentadas ou dançando. A laje que vira camarote. Os moradores mais antigos que aproveitam o baile para vender alimentos e bebidas e que acabam virando personagens desses encontros de celebração à vida.

Esses elementos culturais não são encontrados num baile realizado numa casa de shows na região de Pinheiros, muitos menos nas cervejadas e festas universitárias, freqüentadas por estudantes de classe média alta, que acontecem nas ruas próximas ou nas dependências internas das universidades Mackenzie, PUC e USP de São Paulo.

A Polícia do medo

Não é de hoje que ações policiais vêm tirando a vida de jovens negros nas periferias e favelas de São Paulo e de outros estados do país. Se você perguntar para um jovem negro e morador da periferia qual é o seu maior medo, certamente a resposta será: “ser confundido com bandido e morrer” ou “ser morto pela polícia por ser negro”.

Um momento histórico que exemplifica a forma agressiva de agir da polícia foi em 2017, ano no qual o tenente-coronel da Rota, Ricardo Augusto Nascimento de Mello Araújo, disse que a abordagem no Jardins, bairro de alto padrão socioeconômico na zona oeste de São Paulo, tem de ser diferente da periferia. Na época ele ainda ressaltou que um policial que costuma agir na periferia poderia ser visto como grosseiro ao abordar pessoas no Jardins.

Manifestações e marchas são realizadas a todo o momento, denunciando a morte da juventude negra e periférica. Motivos para sair às ruas não faltam. Nos últimos 20 anos, aumentou mais de 420%, a morte de jovens negros, segundo um levantamento da Fundação Abrinq publicado em 2019.

Diante deste cenário, o que podemos fazer para mudar essa estrutura de mortes que vem crescendo? Quais os caminhos e rumos que precisamos tomar para mudar essa situação? Qual o papel do poder público e da sociedade civil que condena esses jovens pelo seu estilo de vida?

A impunidade dos policiais que cometem crimes contra a vida da população negra e periférica, é por si só, uma questão estrutural que precisa ser mais bem discutida com o poder público. Há décadas a polícia militar tem licença para matar e poucas mudanças ou medidas são tomadas para não só investigar isso, mas sim, instrumentalizar a sociedade civil e liderança políticas para impedir que ações como essa aconteçam e permaneçam impunes.

Quando os Movimentos Sociais que se organizam há décadas para pautar direitos básicos para os moradores das periferias ecoam em uma só voz: “os nossos mortos têm voz”, é um sinal que tanto o poder público, quanto a sociedade civil está cumprindo uma agenda de não reconhecimento de pautas ligadas ao genocídio geolocalizado, que está em curso há mais de quatro décadas nos territórios periféricos.

É importante ter em mente que discutir e debater não significa necessariamente transformar esse cenário. Já que o poder público demonstra não dar conta de barrar a postura genocida da Polícia Militar, e os parlamentares tanto da esfera federal, estadual e municipal só debatem esses temas de maneira distante da realidade, é papel dos Movimentos Sociais criarem formas para que essas mortes não sejam em vão.

É preciso escutar e construir um diálogo com a juventude periférica que frequenta os bailes Funk nas periferias, para entender, a partir das vivências dela quais as mudanças que a polícia militar precisa passar para a sua existência não serem ameaçada mais pelo Estado. Sem escutar o jovem da quebrada, muito será dito e pouco será feito. Afinal de contas, é preciso fazer essa construção de debate político com participação ativa das Juventudes e não para a juventude.

Festival Percurso destaca as raízes da Economia Solidária nas Periferias

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Realizado pela Agência Popular Solano Trindade em parceria com a Associação C de Cultura, a 6º edição do evento promete reunir 10 mil pessoas, que poderão usufruir de mais de 40 atrações gratuitas entre shows, palestras, intervenções culturais, programação infantil e atividades de incentivo ao empreendedorismo. 

Área gastronômica do Festival Percurso, realizado em 2018. (Foto Divulgação: Facebook)

A Praça do Campo Limpo, localizada na zona sul de São Paulo recebe neste domingo (15) a 6° edição do Festival Percurso, que começa a partir das 10h da manhã. Abordando o tema “Raízes”, o evento destaca o cenário da economia criativa e solidária produzida por artistas, coletivos, grupos culturais, artesãos e empreendedores das periferias.

Em sua última edição, o Festival propôs a troca de saberes entre ancestralidade e a nova geração, com o tema #omaiorterreirodomundo, já neste ano a ideia é potencializar empreendedores do Campo Limpo, Capão Redondo e do entorno da região, fortalecendo as suas raízes com o território.

Além da programação cultural, um dos destaques do Festival Percurso é a tradicional feira de artesanato, que chega a segunda edição da Feira Campo e Perifa, com barracas e empreendedores voltados a alimentação, conectando campo e periferia, no espaço “Alimentando Pontes.”

“Nós iremos ter 90 empreendimentos que estarão comercializando na praça. Isso significa que terá desenvolvimento econômico no território mediante ao desenvolvimento que cada um tem do seu empreendimento”, conta Alex Barcellos, um dos produtores do Festival Percurso.

Alex também ressalta que a feira fomenta o trabalho colaborativo e geração de renda: “O diálogo foi construído lá atrás em 2014, através da rede que criamos, dos ciclos formativos em economia solidária. Essas pessoas já têm a ciência que primeiro vamos desenvolver o território, depois vamos ter a afetividade, trabalhar colaborativamente, para depois pensar na geração de renda.”

Um dia antes do Festival Percurso, acontece no sábado (14), o encontro Perifa Talks, um espaço onde artistas, articuladores, produtores e jornalistas irão compartilhar suas histórias com o público. Entre os convidados estarão o produtor Kondzilla, o músico e pesquisador da cultura popular Leo Mello, e Raull Santiago, ativista social e midiativista do Coletivo Papo Reto, que atua nas favela do Rio de Janeiro. O Perifa Talks será na sede da Agência Popular Solano Trindade, das 10h às 17h30.

Praça do Campo Limpo vira complexo cultural

Já no domingo (15), o Festival Percurso terá programação na Praça do Campo Limpo e dentro dos espaços culturais nos arredores da praça. O palco principal receberá o Sarau do Binho, DJ Vivian Marques, Z’África Brasil com participação de Thaíde, Kelly Neriah e Cúpula Negredo, Rael, Maracatu Baque Mulher/SP, entre outros convidados.

A Casa de Cultura do Campo Limpo, equipamento público de cultura localizado ao lado da praça, onde acontece o Festival também terá uma programação dedicada a difundir a cultura do Tai Chi com a União Popular de Mulheres, Dança Leão e Dragão Chinês com ATS Garra de Águia Lily Lau e a XIII Mostra de Teatro de Rua Lina Rojas.

O CITA, Cantinho de Integração de Todas as Artes, espaço ao lado da Casa de Cultura, receberá a “Tenda dos Povos” com Mestre Aderbal Ashogun – Ile Omiojuaro-RJ, Ritual Pataxós Hã Hã Hãe – Aldeia Indígena Pataxó – Paraty/RJ, entre outras atrações, e também contará com uma programação de samba com Ajayô Samba do Monte, Raquel Tobias, Seu Silvio Modesto, Velha Guarda do Bloco do Beco e Acadêmicos do Campo Limpo.

“Através dos arranjos produtivos e redes que já criamos, a rede Solano que tem hoje mais de 120 empreendimentos, tenta construir mais uma coalizão onde as pessoas entendam que o Festival vem primeiro para transformação social do território, para tirar um pouco a gente das páginas e da TV nos programas policiais, e colocar nas páginas culturais e agora nas econômicas”, finaliza Alex.

Clique aqui e confira a programação completa do Festival Percurso

Congresso de Escritores da Periferia encerra suas atividades na quarta edição

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Após impactar mais de 300 moradores das periferias, entre eles jovens, artistas, editoras e escritores independentes, o Congresso Escritores da Periferia encerra sua trajetória com quatro edições realizadas. 

O projeto Congresso de Escritores da Periferia de SP encerrou seu ciclo de atividades na 4ª edição

Durante quatro anos, o Congresso de Escritores da Periferia de São Paulo contribuiu para fortalecer o cenário da literatura periférica com importantes resultados: mais de 300 participantes, em média 70 poetas e escritores convidados em mais de 15 mesas de debates, com apresentação de 11 intervenções artísticas que aconteceram ao longo das quatro edições do evento literário.

Ao longo desses anos de existência, o evento foi produzido pelo coletivo de comunicação Desenrola e Não Me Enrola, com apoio de políticas públicas. Com o encerramento do Congresso de Escritores da Periferia, o Desenrola E Não Me Enrola passa a se dedicar aos seus projetos ligados as áreas de comunicação, formação e pesquisa, que ele já desenvolve há seis anos, como o Portal de Notícias Desenrola E Não Me Enrola, Você Repórter da Periferia, Centro de Mídia M´Boi Mirim e o Info Território.

O Congresso surgiu do desejo coletivo de realizar a troca de saberes e a formação entre jovens e moradores, junto a escritores e editoras que tem as periferias como base para as suas construções. O propósito de fomentar o crescimento de discussões sobre a literatura produzida nas periferias de São Paulo foi alcançado, e em 2018 o 4° Congresso realizou o encerramento dessa trajetória que fomentou importantes construções para a literatura periférica.

Em 2013, quando o Congresso foi criado, eram poucos os eventos e encontros com foco em discutir formação de público, formar leitores e construir novas perspectivas através da literatura. Hoje, diversos movimentos, coletivos e articuladores já pautam importantes discussões neste campo que contribuem também para o desenvolvimento dos territórios.

O Congresso Escritores da Periferia é encerrado deixando marcas importantes a partir das discussões que foram levantadas a cada edição. No primeiro ano do evento, pautas sobre o mercado editorial na periferia e o incentivo a produção literária forneceu base para as construções dos anos seguintes que levantaram temas como: editoras independentes, literatura negra e a expansão dos movimentos literários nas periferias.

Após fomentar o trabalho de editoras e escritores independentes, o Congresso Escritores da Periferia de São Paulo deixa de ser realizado diante de um cenário onde a literatura produzida nas periferias tem alcançado novos públicos com feiras e eventos em todas as regiões da cidade, desde a zona sul com a Felizs – Feira Literária da Zona Sul, Feira Literária do Grajáu, passado pela zona norte com a Feira Literária da Norte (Felina) e chegando até a zona leste com a Feira Literária da Cidade Tiradentes e a Feira Literária de Itaquera, movimentos da literatura periférica que seguem ressignificando e mostrando para o mundo a produção literária potente das periferias.

Confira o resumo das 4 edições do Congresso Escritores da Periferia:

Confeiteira quer criar clube de clientes online no Grajaú

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Quem frequenta a confeitaria da dona Maria José se depara com um quadro em destaque no seu balcão de bolos e doces que exibe um código Qr code. A partir dele, os clientes podem acessar diversas promoções em um aplicativo, ganhando possibilidades de gastar menos e comprar mais. 

Dona Maria José, em sua casa de bolos no Grajaú, zona sul de São Paulo. (Foto: Tamires Rodrigues)

Na confeitaria Armazém do Bolo, iniciativa criada pela dona Maria José, moradora do Grajaú, distrito da zona sul de São Paulo, a experiência de administrar o negócio em épocas do mês com baixo volume de vendas motivaram a criação de uma estratégia para ampliar as vendas: a implantação de um aplicativo para facilitar formas de pagamento, divulgação de promoções e acessibilidade de novos clientes.

Observando que essa seria mais uma oportunidade de negócio para seu comercio, Maria Jose, resolveu adotar essas tecnologias como intuito de trazer novas formas de pagamento e driblar uma crise econômica que estava se estabelecendo em seu estabelecimento.

Qualquer usuário de smartphone que acessa as redes sociais ou vai até o local da casa de bolos só precisa de uma câmera de celular para realizar a leitura do Qr code, um código bidimensional, que fica exposto em um quadro no interior do estabelecimento, responsável pela leitura de uma série de informações digitalizadas que são transferidas imediatamente para a tela do dispositivo mobile.

A confeitaria existe há 16 anos no mesmo local: uma esquina de grande movimento de público no centro comercial do Grajaú. Segundo Maria, no começo do negócio, tudo era tudo feito sem muita pretensão, pois não tinha muitos investimentos e seus clientes estavam se acostumando com as novas propostas de bolos que ela produzia. Na sua percepção, os sabores e formatos fugiam totalmente da cultura de consumo que os moradores do bairro estavam acostumados.

“Eu trabalho com qualidade e tem que ter um bom preço, mas as pessoas achavam que era muito caro e falavam: nossa seu bolo vale ouro”, relembra a confeiteira sobre as primeiras impressões do público sobre o seu negócio.

Ela enfatiza que a sua casa de bolos faz parte de uma mudança de comportamento de consumo dos moradores da região. “Naquela época, o pessoal estava acostumado com bolo tradicional, aqueles de fubá, e tal, então eu fui a primeira que abriu aqui , e aos poucos fui ganhando os clientes. ”

“Foi o boca a boca mesmo que deu certo, um indicando para outro” diz Maria Jose sobre a mudança de estratégia de vendas e marketing do negócio que sofreu uma grande transformação, em relação ao formato que ele é hoje, pois sua maior ação comercial pra conseguir a confiança dos seus clientes era fazer com que eles entendessem o valor do seu produto, por meio do tradicional marketing boca a boca. A partir deste movimento de indicações sobre a qualidade dos seus produtos, sua clientela foi se expandindo pelo bairro.

Ao observar que o movimento do comercio na região estava caindo, e consequentemente as pessoas estavam freqüentando menos o seu espaço, Maria começou as perceber vestígios da crise econômica lhe afetando. É a partir deste momento que a confeiteira mostrou mais uma vez o seu lado empreendedor para pensar novas possibilidades de comunicação, que poderiam trazer novamente seus clientes de volta.

Uma das soluções encontradas por Maria foi uma parceria com o Aplicativo Oferta Club, solução que ela resolveu implementar na loja para oferecer um cartão de fidelidade online aos seus clientes. No app, o cliente pode realizar uma compra e acumular pontos, obtendo a partir daí a possibilidade de trocar a pontuação por outros produtos do estabelecimento.

Maria adotou a solução há duas semanas e percebe que as pessoas estão passando pelo processo de adaptando a nova forma de consumo em seu negócio. “Começou agora e na semana passada veio um rapaz aqui e fez. Até agora só duas pessoas passaram o cartão com esse aplicativo. Elas estão se acostumando né”, afirma ela em tom de entusiasmo com os futuros frutos da nova forma de comercializar seus produtos.

A equipe do Quebrada Tech entrou em contato com os desenvolvedores do App Oferta Club, para saber mais sobre o aplicativo. Um dos marcos para a criação da solução foi construir um aplicativo que substituísse aqueles cartões de fidelidade de papel e colocar tudo dentro de um só banco de dados que cabe na memória do celular, pensando justamente em atender as do cliente.

Histórias com a da dona Maria José mostram que a tecnologia ainda tem muito a contribuir com a atuação de pequenos empreendedores nas periferias. Independente do tipo de solução, o fato apresentado na história da confeiteira é que boa parte da população ainda está desenvolvendo a cultura de consumir produtos, por meio da tecnologia em seu próprio bairro. Esse processo está em fase de aperfeiçoamento e evolução graças à atuação de pessoas como a dona Maria José

Grupo Semente Crioula realiza segunda Noite do Coco no Espaço Cultural Adebanke

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Um dos principais objetivos do projeto, que aborda questões de gênero e ancestralidade é manter viva a tradição negra e indígena nos territórios periféricos da zona leste de São Paulo. 

Primeira Noite do Coco, realizada em 2017, na OKupação Cultural Coragem, em Itaquera. (Foto: Elaine Mineiro)

Neste sábado (16), o Espaço Cultural Adebanke, localizado em Artur Alvim, bairro da zona leste de São Paulo, receberá a partir das 17h a segunda edição da Noite do Coco, um projeto criado pelo Grupo de Coco Semente Crioula, para contribuir na preservação e difusão das raízes e tradições negras e indígenas nas periferias.

A primeira edição da Noite do Coco aconteceu em setembro de 2017. Na ocasião, o foco foi reunir brincantes de cultura popular para realizar sambadas de coco na zona leste. Neste sábado, o público poderá desfrutar de exposições de artesanato e apresentações dos grupos Pretas Bás, Cia. de Cultura Popular Lelê de Oyá, Grupo de Dança Afro Babalotim haverá e o lançamento do CD “Vai chover sementes”, do grupo Grupo de Coco Semente Crioula.

Misturando instrumentos de percussão africanos e estilos de danças indígenas, o Coco é um ritmo musical que nasceu na região nordeste do Brasil na metade do século XVIII. Em estados nordestinos como Pernambuco, Alagoas e Paraíba é possível vivenciar rodas de coco que fazem parte de festas de comunidades tradicionais.

Foto: Elaine Mineiro.

Uma característica marcante da Noite do Coco é o engajamento e a consciência política das mulheres que fazem a festa acontecer e que atuam em diversas vertentes artísticas, como música, dança, poesia, promovendo vivências, oficinas, exposições de artesanatos, roupas, livros, comes e bebes, entre outras. Para o Grupo de Coco Semente Crioula, o recorte de gênero é elemento fundamental na formação do grupo, assim como a referência às Mestras.

Fruto da sua relevância para o território e para a preservação da cultura popular nordestina, o projeto foi contemplado pela 3ª edição da Lei de Fomento à Cultura das Periferias da Secretaria Municipal de Cultura da Cidade de São Paulo. Além da conquista do edital, em 2018 o projeto conquistou o Prêmio Culturas Populares – Selma do Coco, uma iniciativa do Ministério da Cultura e do Governo Federal.

InfoTerritório vence Desafio de Inovação do Google News Initiative na América Latina

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Coletivos irão inovar formato de distribuição de conteúdo jornalístico nas periferias, por meio de plataforma digital. 

Jardim Nakamura, Jardim Ângela, zona sul de São Paulo. (Foto: DiCampana Foto Coletivo |Fotógrafo: Léu Britto)

A partir de 2020, o conteúdo jornalístico produzido por iniciativas de comunicação das periferias de São Paulo poderá ser acessado em pontos de grande circulação das quebradas paulistanas, conectando leitores online e offline por meio de totens digitais. Isso porque a plataforma “InfoTerritório” é uma das 30 propostas selecionadas pelo Desafio de Inovação Google News Initiative na América Latina. O anúncio foi realizado nesta segunda-feira (11 de novembro).

Concebido pelas organizações Alma Preta, Desenrola e Não Me Enrola, Historiorama, Periferia em Movimento e Preto Império, o “InfoTerritório” busca resolver problemas estruturantes de quem produz jornalismo a partir dos territórios periféricos, como a elaboração de narrativas representativas, o alcance e impacto da audiência, além da sustentabilidade financeira dos negócios.

Coma proposta, os coletivos também pretendem desenvolver uma plataforma de coleta georreferenciada de dados públicos para qualificar a produção de conteúdos relevantes que serão distribuídos de forma segmentada em totens espalhados nos quatro cantos da cidade. Com a estruturação de um negócio, futuramente, a proposta é estender a plataforma a outras iniciativas jornalísticas das periferias de São Paulo e de outras localidades brasileiras.

Fortalecimento do jornalismo

Com o objetivo de acelerar a inovação no jornalismo e desenvolver novos produtos e modelos de negócio, a Google News Initiative recebeu mais de 300 inscrições de diversos projetos no Desafio de Inovação na América Latina – desde jornais centenários a nativos digitais recém-criados.

Dos 30 projetos aprovados na região, 12 são do Brasil. Além de “InfoTerritório”, outro projeto colaborativo com dez organizações (Agência Lupa, Agência Pública, Colabora, Congresso em Foco, Énois, Marco Zero Conteúdo, Nova Escola, O Eco, Ponte Jornalismo e Repórter Brasil) foi selecionado para criar um novo produto jornalístico em vídeo para atender às gerações mais jovens.

Já as iniciativas AzMina, Jota, Congresso em Foco e Abraji vão usar dados abertos governamentais na construção de novos produtos, cada um com um enfoque diferente. Aos Fatos e Jornal do Commercio vão explorar, cada um, abordagens distintas para automatizar o processo de verificação de fatos. A Piauí vai desenvolver tecnologia para minerar seu acervo em busca das histórias com melhor chance de virar séries em plataformas digitais de vídeo.

Entre os jornais de circulação nacional, estão os jornais Estadão e O Globo, que vão explorar novas formas de engajamento, na personalização de conteúdo e com a participação de jovens, como forma de aumentar suas bases de assinantes. E o Grupo Bandeirantes vai desenvolver uma ferramenta para acelerar o fluxo de trabalho de vídeo em redações que lidam com esse tipo de conteúdo.