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“O meu território de militância sempre foi a periferia”: o legado de Anabela Gonçalves

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Na segunda entrevista da série trajetória política, Anabela Gonçalves conta sua história dentro dos movimentos sociais do Jardim São Luís, zona sul de São Paulo, e como essa vivência contribuiu para a sua primeira participação em uma eleição municipal, por meio de uma candidatura coletiva. 

Em 2020, a socióloga Anabela Gonçalves, moradora do Jardim Ibirapuera, zona sul de São Paulo Paulo, participou da candidatura coletiva ‘Mais Direito à Cidade’, chapa formada por Nabil Bonduki, Beto Custódio, Evaniza Rodrigues, Gil Marçal, Iracema Araújo e Rayssa Cortez, pessoas que atravessam de forma direta ou indireta a sua atuação política nos territórios periféricos da cidade.

Em busca de ocupar um gabinete na Câmara Municipal de São Paulo, o grupo chegou a atingir mais 16 mil votos, mas não conseguiu se eleger para o legislativo municipal.

Com base no atual momento de crise econômica, social e política no qual os moradores das periferias vivem em seu cotidiano, Anabela enfatiza que essa condição impulsiona a presença e faz uma pressão para que lideranças comunitárias ocupem espaços de decisão dentro da câmara dos deputados e vereadores, como uma forma de garantia de direitos da população. 

“Eu nunca pensei em me candidatar, na verdade isso foi uma pressão comunitária”

Anabela Gonçalves

“Eu nunca pensei em me candidatar antes, isso nunca passou pela minha cabeça, na verdade isso foi uma pressão comunitária, uma coisa super nova. Eu recebi o convite do Nabil Bonduki para compor a chapa coletiva como representação feminista e periférica, e a ideia amadurece como uma possibilidade de construir uma ponte entre a política e a casa das pessoas, aí eu aceitei porque a gente vive em um momento político muito complicado e o atual presidente pressionou as lideranças das periferias a se candidatar politicamente na ideia de garantir alguns direitos, dentro da câmera dos vereadores e da câmera dos deputados, tentando de alguma forma ter alguma garantia de direitos”, afirma.

Anabela entende que há duas formas de vivenciar e fazer política em nossas vidas. Nessa linha de compreensão, ela define o voto como uma escolha ideológica e cultural sobre a organização política que queremos para a sociedade.

“Existe duas formas de política para mim: a política que move a sociedade que é como a gente dorme, como a gente come, como a gente lê, o que a gente lê, como a gente transa, como a gente casa, tudo isso é política né, é uma forma política de atuação, como é a nossa vida econômica; e existe quem organiza para que isso funcione, que supostamente seriam os órgãos públicos e a política brasileira. Votar significa escolher uma linha ideológica de como eu quero que essa cultura funcione dentro do país, e eu quero que a cultura que existe hoje permaneça ou se eu quero uma mudança cultural, uma transformação cultural do meu país”, explica.

Para a socióloga, uma das questões que mais a incomoda na política institucional é a pouca participação de mulheres negras, indígenas e periféricas dentro da política institucional, e como isso é uma potência para o vício político. “É assim que funciona a estrutura que está aí, seja ruim, seja boa, ela tá contaminada porque também existe uma baixa participação popular, ter mulheres negras, mulheres indígenas, a população que mais sofre com o desgoverno, com a falta da ação política institucional, é uma tentativa de fazer com que esse sistema funcione de uma forma melhor”.

Ela cita a importância de lutar por uma reforma política que represente as demandas e os interesses do povo. “Hoje temos um poder judiciário corrupto que estremece qualquer estrutura política porque sã eles quem de verdade deveria regulamentar e olhar o quanto isso está sendo feito e realizado conforme a lei ou não”, aponta ela.

Outro problema pontuado por Anabela é o cenário do vício político, da não rotatividade democrática, problemas que poderiam ser solucionados com mais participação popular e a mudança de perspectiva da população. “Cada vez mais o sistema brasileiro é mais viciado, os políticos ficam e se aposentam na política e isso promove um atraso no desenvolvimento brasileiro, no que diz respeito ao sistema cultural, do que a gente quer que transforme, é importante que candidatos mais jovens ou com outras ideias, outros sistemas circulem dentro do sistema administrativo político”, diz.

“Colocar mulheres na política é importante, se isso não acontece o sistema democrático é falho”

Anabela Gonçalves

Anabela faz uma análise da quantidade de mulheres, negras, indígenas e periféricas no Brasil em relação à quantidade que estão dentro da política institucional, e fala sobre a importância de ocupar esse espaço como uma forma de garantia de direitos que atendam toda a população. “Olha eu costumo dizer que no Brasil a maioria das mulheres são indígenas e negras, o número de mulheres brancas é muito reduzido em relação à população negra na cidade, então na verdade quando a gente elege mulheres negras e indígenas a gente consegue com que esses grupos sociais garantam seus direitos dentro da cidade, sendo maioria, porque não somos minoria, sendo maioria a gente consegue direitos para todos e todas”, analisa.

Anabela acredita que a inserção de mulheres negras e indígenas na política é uma maneira de combater o racismo e o machismo na democracia. “Colocar mulheres na legislatura política é importante por que é um direito da mulher ter participação política, e se isso não acontece significa que o sistema democrático é falho, não está funcionando, ele continua sendo racista, machista, preconceituoso, então pra dizer que o Brasil avança no que diz respeito a igualdade racial, igualdade de gênero, o primeiro lugar que tem que dar exemplo são os órgãos políticos e os setores públicos né, enquanto a gente não conseguir olhar para o setor público e ver um maior número de mulheres dentro da política significa que nosso país está muito distante de ser um país que alcançou a igualdade racial ou a de gênero”.

Movimento social orgânico 

Atuando como presidenta da organização social Bloco do Beco, a socióloga Anabela Gonçalves, 39, moradora do Jardim Ibirapuera, um dos bairros que formam o distrito do Jardim São Luís, zona sul de São Paulo, acumula um histórico de vida dedicado ao desenvolvimento e execução de projetos e programas sociais que possam melhorar a qualidade de vida e o acesso à cultura dos moradores das periferias.

O Bloco do Beco é uma Associação Cultural que atua desde 2002 no Jardim Ibirapuera. A relação de Anabela com a organização na qual ela é presidenta começou dentro da folia dos blocos de rua, e se prolongou para formações socioculturais.

“Minha relação com o Bloco do Beco começou pelo carnaval né, eu vinha nos blocos de carnaval e participava das ações sociais que eles promoviam aqui no Jardim Ibirapuera, e aí com o tempo nós fomos se aproximando e eu recebi o convite da organização para fazer formações dentro de um projeto que estava iniciando, que era o Bloquinho de Brincar, um espaço de infância dentro da favela da Erundina, depois o bloco me convidou para acompanhar um projeto de formação para jovens do Maracatu, com formação política, cultural, social e musical na área do Maracatu que foi uma forma de instrumentalizar o grupo de Maracatu que já tinha no bloco”, relembra a socióloga, afirmando que no final de 2019 foi convidada para ser presidenta do Bloco do Beco.

A educadora popular faz questão de registrar a importância histórica do Bloco do Beco e sua admiração pela organização que já tem quase 20 anos de atuação na zona sul de São Paulo. “O Bloco do Beco é uma organização que eu admiro muito, porque ela tem sua essência ainda no que a gente chama e reconhece como movimento social orgânico né, que está dentro da comunidade, é feito por quem está dentro da comunidade e é feito pra ela né, e a gente chama isso de movimento social orgânico. Ela nasce dos próprios moradores da comunidade”, avalia.

As raízes culturais de Anabela foram construídas em boa parte pelos vínculos sociais construídos pela sua trajetória de vida nos bairros do Jardim Ibirapuera e Jardim Monte Azul, territórios onde ela cresceu e continua morando até hoje. Antes de se candidatar pela primeira vez para ocupar um espaço de atuação na política institucional, sua trajetória política revela uma série de encontros com o fazer cultural e social nos movimentos sociais orgânicos das periferias.

Desde os 13 anos de idade, Gonçalves afirma que já se envolvia com iniciativas no meio político e cultural. “Com 13 anos eu tinha um grupo de teatro que se chamava Submundo de Teatro e um dos integrantes era o Gil Marçal, ele começou a fazer aula de piano com o professor Ralf Rickli, que tinha ideias de transformação social muito forte e eu comecei a fazer aula de voz com ele, e ele era uma pessoa muito engajada na formação política, social e cultural. A gente fez dessa convivência uma organização social que se chamava ‘Organização Sociocultural Tropis’, tropis é a quilha do barco, a madeira que dá a direção ao barco, com essa ideia de poder orientar e poder dar direção às ações e projetos dos jovens, mas possibilitando para eles a autonomia de navegar”, relembra.

Segundo a socióloga, a Associação Tropis foi formando-a politicamente e a tornou uma educadora, debatedora da política e ativista social. Em 1999, ano no qual ela estava chegando ao final do ensino médio, esta vivência colaborou para atuar profissionalmente em outras organizações.

Além do Bloco do Beco, a socióloga atuou no Instituto Sou da Paz, Projeto Guri, Fundação Julita, Ação Comunitária, Casa de Cultura do Campo Limpo e na Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo com a análise de programação cultural.

A identidade como formação política 

8mAnabela faz uma análise da sua identidade e expressão étnica, pontuando a miscigenação no Brasil e as dificuldades de se fazer um debate das etnias brasileiras. “eu sou uma mulher afro-índigena, é uma identidade, eu falo negraindigena, eu sou uma mulher de traços indígenas e negros, miscigenada da periferia, que reconhece nas duas etnias referências políticas e sociais que foram fundamentais para o fortalecimento da minha identidade, claro que eu vou falar que lá por 95, isso não era tão claro como bandeira como se tornou em 2000, isso se tornou mais forte principalmente por minha atuação ser muito forte como mulheres feministas”, conta ela.

Outro componente importante para a construção da identidade da socióloga foi a vivência com o feminismo nas periferias. “Pensar a atuação das mulheres e o feminismo na periferia me trouxe esse lugar, mas essa é uma discussão muito profunda, porque discutir o lugar da miscigenação é muito difícil no Brasil, ou você é negro, ou você é indígena, essa composição de uma mulher negra e indígena, é a ideia de que a minha miscigenação, o meu lugar de parda, é um lugar que recorre a duas grandes etnias brasileiras que formaram essa população, esse povo, e que tem raízes culturais muito fortes, de luta e que isso me inspirou para as lutas, para militância, para pro ativismo social”, explica.

Em sua trajetória Anabela sempre teve sua atuação e estudo de campo voltado ao território periférico dentro das organizações e movimentos sociais por onde atuou e se formou. “Eu nasci na periferia, sempre morei na favela, antes da favela, quando era muito pequena morava em cortiço, fui para favela Monte Azul, vivi minha vida lá, desde os meus dois anos de idade, morei a minha vida na beira do córrego, até ele ser canalizado, minha casa continua no mesmo lugar, então minhas referências sociais são as periferias”, destaca.

Ela conta que só saiu do território para estudar no centro da cidade. “Eu saí da periferia e fui para o centro para estudar durante um período da minha vida, para fazer a faculdade de sociologia na FESP, nesse período trabalhava na Secretaria de Cultura do Estado como analista de programação, mas para sustentar também esse processo de estudo. Quando terminei a faculdade, voltei para periferia, morando no Jardim São Luís, onde estão minhas referências, e é minha área de atuação propriamente dita que é a lutar né pela melhoria de condições aqui na periferia.”

A socióloga finaliza trazendo a importância de se lembrar das mulheres que vieram antes dela, de se tomar como referências essas vivências e heranças para sua trajetória política. “Uma das questões étnicas que eu carrego comigo nessa trajetória é que eu valorizo muito a trajetória das da minha mãe, da minha vó, que são lá de Vitória da Conquista, na Bahia, que é de onde vem minha herança materna né, matriarcal. Eu valorizo muito essas questões que estruturam a minha vida né, para pensar ações importantes e a cultura é uma das coisas que sempre foi o fio de costura, foi assim que eu parei no Bloco do Beco né, eu nasci da cultura, eu vim do teatro, era uma adolescente que fazia teatro no Centro da Juventude, me envolvi no movimento social e foi me levando para outras ações, para outros estudos, para aperfeiçoar essa atuação dentro da periferia, sempre com uma ideia de que a cultura é sim um fio provedor de transformação, e que nós atores, pessoas periféricas somos as principais ferramentas de transformação de tudo isso,” conclui.

Preço de combustíveis e internet ruim afeta entregadores de delivery na quebrada

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Entregadores afirmam que aplicativos de entrega não levam em consideração a qualidade da internet nas periferias. Além disso, eles contam que a alta demanda de entregadores e o crescente preço dos combustíveis tem precarizado ainda mais a remuneração e a qualidade de vida de quem trabalha com delivery na quebrada.

Brasilândia, zona norte de São Paulo (Foto: Dicampana Foto Coletivo)

Através de um anúncio nas redes sociais, Christopher Augusto, 22, morador do bairro Parque Santo Amaro, zona sul de São Paulo, conheceu as possibilidades de gerar renda se cadastrando nos aplicativos de delivery Lalamove, iFood e Uber Eats. O entregador descreve a ocasião do contato com o anúncio como “um anúncio chamativo e que nos oferece uma boa renda”.

Ele avalia essa descoberta não como uma escolha e sim como o único meio encontrado para não passar dificuldades diante de uma alta taxa de desemprego no país. “Em meio à pandemia, uma das soluções encontradas para não passar dificuldade, e sim à falta de emprego de carteira assinada, é uma das causas”, afirma o entregador.

Além de fazer entregas nos aplicativos durante o dia, Augusto trabalha em uma pizzaria a noite, pois ele acredita que a dependência do aplicativo afeta diretamente na sua qualidade de vida “Se formos depender só do aplicativo para sobreviver, nós vamos ter que trabalhar como um serviço de escravo, tá ligado”, define o entregador.

O argumento de Augusto se baseia na quantidade de horas necessárias para se ter uma renda média mensal que possa apoiar no pagamento dos boletos e gastos fixos com a família. “É preciso trabalhar de 12 a 14 horas por dia para poder manter um salário que possa nos ajudar a pagar nossas dívidas, entendeu?”.

Augusto explica que a concorrência por realização de entregas é outro fator que tem intensificado a precarização dos trabalhadores de aplicativos de delivery. “A demanda de motoboy está muito alta, querendo ou não se tornou uma concorrência tá ligado”.

Segundo Augusto, as despesas com gasolina e internet por mês giram em torno de 700 a 800 reais, sendo que seu salário no mês fora as despesas ficam em torno de 1.500 reais. O entregador ressalta que mesmo tendo um plano de internet para trabalhar, muitas vezes o serviço deixa a desejar, causando interrupção da sua rotina de trabalho.

O entregador faz questão de descrever como a internet ruim dificulta o seu trabalho. “Você chega à casa do cliente, no endereço determinado, quando você vai finalizar a entrega muitas vezes não tem internet não dá pra finalizar a corrida, muitas vezes a casa do cliente é em tal lugar e a localização dele é mais pra frente, aí você vai finalizar é não consegue também, então são algumas coisas que dificulta tá ligado, até mesmo da parte da plataforma dos aplicativos”, conta Augusto.

Outra dura realidade apontada por Augusto é o tratamento diferenciado vivenciado pelos entregadores com usuários de apps que vivem na região central de São Paulo e nas periferias. Ele relata que sua entrega nas periferias e no centro da cidade tem recepções totalmente diferentes, sendo que na quebrada o seu trabalho é mais valorizado.

“Nós sentimos que ao chegar à periferia você dá uma boa noite, bom dia ou boa tarde pro cliente, e já é automático que ele vai te responder, vai perguntar se você tá bem, não é criar uma amizade entre o cliente e um motoboy, é respeito é humildade”, conta Augusto, destacando que dá ponte pra lá o desprezo é uma constante na rotina dos entregadores.

“Eles enxergam a gente como escravos do sistema né, tipo eu to te pagando e você é obrigado a fazer isso, eu sou obrigado a falar com você e já era, até a forma de expressão da pessoa, o olhar da pessoa, entendeu pow, a cara de nojo, já na periferia não é assim, querendo ou não somos de dentro, então um tem que respeitar o outro”, descreve.

O preço dos combustíveis 

O entregador traz um questionamento importante, fazendo uma comparação com a alta dos preços de combustíveis e a estagnação do valor das taxas de entrega que não são corrigidas pelas empresas de delivery, fator que amplia a visão de Augusto sobre a exploração do seu trabalho. “Eu espero que eles percebam que todos nós tenhamos o serviço reconhecido, da mesma forma que teve aumento no combustível tenha um aumento nas nossas taxas de entrega. Sinceramente somos explorados”, avalia.

Mesmo os aplicativos não trazendo benefícios que garantam a segurança dos entregadores, Augusto conta que a própria comunidade se organiza em busca de auxiliar os entregadores a se manter em busca de seus direitos trabalhistas. “Temos uma comunicação um com os outros, agimos como uma família a fim de ajudar um ao outro, no entanto se nós nos deparamos com motoqueiro acidentado paramos para dar uma assistência”, revela.

Ao lembrar a importância dos direitos trabalhistas que ainda precisam ser conquistados, o entregador deixa um recado para os aplicativos de entrega: “gostaria que nossos serviços fossem reconhecidos, e que seja proporcionada mais segurança com uma demanda de tempo correta e uma assistência a todos para que possamos ir adiante sem tanta exploração”.

Jornada de trabalho 

Atuando como entregador nos aplicativos iFood e Uber Eats, Paulo Henrique, 25, morador do Parque Pinheiros, município de Taboão da serra, afirma que uns dos principais motivos para sair de um emprego com registro em carteira e se tornar entregador de aplicativos foi a possibilidade da autonomia na jornada de trabalho.

“Eu saí de um trabalho com carteira assinada só para fazer entregas pelo app. Posso não ter um salário e benefícios garantidos, mas a liberdade de autonomia é maravilhosa, trabalhar na hora e no dia que quero”, conta o entregador.

Durante o seu tempo livre, o morador de Taboão da Serra se dedica a desenvolver seu conhecimento com o audiovisual e a música. “Quero ser artista rico e famoso, mas até lá, preciso desenvolver muito minha arte, então por enquanto vou focar nas entregas”, comenta o motoboy, enfatizando não enxerga alternativa de geração de renda no momento até conseguir aperfeiçoar sua arte com horas de estudos.

Porém, Henrique sente as consequências da escolha pela autonomia de fazer o seu horário de trabalho. Sem uma segurança sobre o que será o presente e futuro, ele lista algumas dificuldades que ficam cada vez mais evidentes e caminham lado a lado com sua rotina de entregador. “Estar à mercê de vários fatores externos que podem me prejudicar, como chuva, enchentes, entregas em lugares perigosos e a falta de pedido que está acontecendo com freqüência”.

Em meio a essas adversidades, o entregador conta que foi se adaptando com os desafios impostos também pela tecnologia de geolocalização dos aplicativos, que em muitos casos é imprecisa. “Muitos estabelecimentos têm uma localização diferente da que mostra no app, daí até eu me acostumar com certos restaurantes eu passei alguns perrengues”.

Diferente da história do entregador Augusto, Paulo conta que utiliza um plano de internet bom, pois nunca teve problemas durante a entrega. “A internet está sempre disponível em todos os lugares”, afirma, mas quando se trata da recepção dos clientes em territórios da periferia e centro, as vivências dos entregadores não são muito diferentes.

“Bairro rico mal olha na minha cara, enquanto na periferia sou bem acolhido pelos clientes, aliás, o rango chegou não é mesmo? Aí eles ficam felizes e são bem legais comigo, dão boa noite, boa tarde”, descreve.

No final da entrevista Henrique nos conta uma dinâmica que normalmente acontece na rotina do motoboy e que representa mais um desafio imposto pelos aplicativos. “Às vezes quase não tem pedido em alguns aplicativos, e é comum o motoboy trabalhar para mais de uma plataforma. Eu mesmo faço entregas para o iFood, Uber e às vezes pra Rappi. Isso é bom porque assim são três vezes mais chances de eu ter entrega para fazer. Mas o ruim, é que alguns aplicativos não autorizam o mesmo motoboy trabalhar para o concorrente, então já até ouvi casos de motoboys serem bloqueados em certas plataformas por terem mais de um aplicativo de entrega”, diz o entregador.

Ela finaliza a entrevista fazendo um apelo para as empresas de aplicativo: “aumenta nosso salário poxa, vocês tiraram uma taxa que já era nossa, daí tá tudo mais difícil”.

Em 2020, a comunicação periférica fez registro histórico da pandemia

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Três iniciativas de comunicação realizaram documentários e webséries com depoimentos de moradores que expõem diversas reflexões políticas e históricas sobre os impactos do coronavírus na população periférica.  

Documentário da Periferia Em Movimento entrevistou diversos atores sociais das periferias durante a pandemia. (Foto: Aline Rodrigues)

Você já pensou em como as produções audiovisuais das quebradas tem registrado os atravessamentos das desigualdades sociais dentro das periferias em São Paulo? Em 2020, esses registros históricos foram produzidos pela produtora de jornalismo de quebrada Periferia Em Movimento, pela cineasta Nana Prudêncio e pela produtora audiovisual Fluxo Imagens.

À sua maneira, essas iniciativas estão produzindo e registrando os impactos do coronavírus nos territórios, corpos e mentes dos moradores das periferias e favelas de São Paulo. Entrevistamos três iniciativas de comunicação que produziram documentários e web-séries sobre o passado, presente,e o futuro da pandemia nas quebradas.

Com direção da cineasta Nana Prudêncio, a produtora independente Zalika Produções lançou o documentário “Pandemia do Sistema: O retrato da desigualdade na capital mais rica do Brasil”. O média metragem narra como as pessoas têm enfrentado a pandemia de coronavírus em diferentes regiões periféricas, retratando os efeitos da crise econômica e de saúde pública, que mostra uma clara diferença social e racial no Brasil.

A Periferia Em Movimento, produtora de jornalismo de quebrada, produziu o minidocumentário “Interrompemos a Programação?”, composto por uma série de entrevistas com personagens da quebrada que tiveram seus fazeres sociais impactados pela pandemia de coronavírus.

Já a produtora audiovisual Fluxo Imagens, apostou numa reflexão sobre o futuro da quebrada, após pandemia, para produzir a série “Cartas Para o futuro”, composta por uma série de entrevistas que relatam o olhar e a vivência dos moradores das periferias da zona sul e como eles imaginam o futuro de seus territórios após a pandemia.

“Eu sabia do coronavírus e que o bicho tava pegando, mas aí eu vi que a fome tava matando mais, a polícia estava matando mais e resolvi fazer o documentário” 

Naná Prudêncio

Naná Prudêncio é fotógrafa, videomaker e moradora do Parque Pinheiros, bairro do município de Taboão da Serra. Ela criou a Zalika Produções e em agosto de 2020, a cineasta lançou o média metragem “Pandemia do Sistema: O retrato da desigualdade na capital mais rica do Brasil” e comenta sobre suas motivações nesta produção.

“O média metragem surgiu quando eu comecei a acompanhar os meus companheiros, lideranças na quebrada e fui pessoalmente nas quebradas e vi que a situação era muito crítica, era mais do que coronavírus, eu não tava saindo de casa, então eu sabia que o coronavírus e que o bicho tava pegando, mas aí eu vi que a fome tava matando mais, a polícia estava matando mais, e resolvi fazer o documentário, em uma das voltas nessas ações que eu fui acompanhar aqui no Taboão”, lembra a cineasta.

Prudêncio comenta sobre a importância de fazer registros na quebrada e principalmente deste momento, criar evidências e narrativas sobre nós e nossos territórios. “A importância de registrar a pandemia dos sistema, de ter isso documentado, de agora, é mais um documento, mais uma ação que a gente tem para comprovar o quanto a desigualdade neste país é estancada, e que as pessoas da periferia elas sabiam, sabem em 2020 no meio de uma pandemia tudo o que tá acontecendo, é muito além do coronavírus, tem o lance da desigualdade, da fome, da miséria mesmo e quantas pessoas ganham grana com essa miséria”, argumenta ela.

Para a moradora de Taboão da Serra, a pandemia ajudou pessoas que ganham grana com essa miséria, mas deixou os pobres cada vez mais pobres. “Os miseráveis cada vez mais miseráveis, mais favelas nascendo, significa que a desigualdade é maior, mostrar esse histórico agora e tentar dialogar com mais pessoas sobre”..

A cineasta enfatiza a importância de escutar os moradores para garantir o protagonismo das vozes e das ideias dentro do média metragem. “Pensando nas vozes, eu quis protagonizar pessoas como mulheres da periferia que estão ali teoricamente anônimas, vivendo suas vidas, umas sustentando suas famílias sozinhas, outras não, mas sempre se virando, e eu queria mostrar para a própria periferia o quanto nós sabemos o que está acontecendo e o quanto nós naturalizamos tudo isso, naturalizou o racismo, naturalizou tudo isso, e a importância também de colocar essas mulheres em primeira pessoa e essas lideranças também em primeira pessoa, elas protagonizarem mesmo, eles falarem o que eles estão pensando, o que eles estão sentindo, o que estão vivendo, nada maquiado”, descreve.

Para Prudêncio, o poder público está ausente nas periferias, pelo fato de não ter visto nenhuma liderança comunitária sendo ajudada pelo governo. “Eu acho que o Governo né, o próprio sistema sabe que a pandemia é geral, que a pandemia não tá só no corona, há um plano de extermínio né, que eu acredito muito nesse plano, principalmente aqui na periferia, eu nasci na periferia, cresci na periferia, vivo na periferia, trabalho na periferia, eu sei que tem um plano perfeito, e esse plano dá certo, tem dado certo, as vezes dá uma escapada desse plano, ele é mundial, então o retrato, como o governo vai enxergar o documentário eu não sei, mas que ele sabe que essa pandemia é o sistema, ele sabe, ele planeja isso, ele articula e prática isso. E essa foi a treta mesmo”, opina a cineasta.

Segundo a videomaker é denunciar esse estado de abandono das periferias e favelas. “A ideia do filme é denunciar isso, mesmo que de diversas formas esse país é genocida, não precisa dar um tiro no peito do meu filho ou no meu peito para eles serem genocidas, ele pode me deixar sem emprego, me deixar sem moradia, na questão habitacional muita gente sem água que a gente fala no filme sobre a questão da água na periferia, que é bem difícil, muitas coisas que quando você tem, é vista até como privilegiadas, esse país é assim, se você tem água boa, você é privilegiado, mas não é seu direito sabe, e eu acho que vem nessa denúncia mesmo, para gente refletir e buscar alternativas sobre todas essas situações que é colocada a população preta e periférica”, finaliza.

“Nós, que lidamos como tecelões da memória coletiva, estamos construindo não só o futuro mas também o passado no presente”

Thiago Borges

A Periferia em Movimento completou 10 anos de existência atuando nas periferias de São Paulo em 2020, uma marca histórica tocada por pessoas que estão produzindo o jornalismo de quebrada, que busca a valorização e protagonismo de quem está nas frentes de luta pela garantia de direitos nas periferias.

Segundo Thiago Borges, 33, morador do Jardim dos Manacás no Grajaú e gestor de conteúdos da Periferia Em Movimento, o minidocumentário “Interrompemos a Programação?” surge com a proposta de refletir sobre esse momento, provocando um debate sobre a influência da mídia na formação da identidade de moradores e moradoras das periferias, e por outro lado, como o território e as relações sociais constituídas nele também influenciam nessa identidade.

Borges comenta que o caminho traçado pela Periferia Em Movimento foi entrevistar pessoas que estão em diferentes frentes de luta nas periferias paulistanas: contra o genocídio negro, o machismo e o racismo; que estão na resistência indígena; nas lutas LGBT, especialmente da população trans; dos direitos de pessoas vivendo com HIV; e pela ocupação da cidade em geral.

“A gente fez entrevistas com moradoras e moradores das periferias que têm uma atuação transformadora em seus territórios, e os relatos estavam confluindo para o ponto em que as narrativas periféricas geram algumas rachaduras no sistema, como se fosse um curso natural das coisas. Porém, a investigação foi interrompida em março de 2020 com a pandemia de coronavírus e necessidade de distanciamento social. A situação, que paralisou algumas ações e acelerou outras em toda a sociedade, refaz as nossas perguntas iniciais: qual é o papel da comunicação nesse momento?”, aponta o jornalista.

Em meio a esse trabalho investigativo, o jornalista ressalta como a pandemia atravessou a produção e o impacto deste momento nas mídias periféricas. “Os relatos estavam confluindo para chegarmos ao ponto de que a mídia em geral sempre teve impacto na nossa forma de ver o mundo, mas as manifestações periféricas desconstroem isso no cotidiano. O fortalecimento de mídias nas periferias ampliam as rachaduras nesse sistema imposto, como resultado de um processo que é antigo. Não é suficiente, mas tem um efeito”, avalia Borges.

Esse impacto da pandemia e do isolamento social foi sentido também na rotina de trabalho da Periferia Em Movimento. “Com a pandemia, tivemos que parar tudo como todo mundo. No início, percebemos um isolamento de fato dos sujeitos periféricos, refletindo sobre o que fazer nesse momento. No nosso caso, não foi diferente. Por outro lado, o momento se mostrou como ainda mais crucial o papel da mídia nas quebradas, da nossa dependência de acessar e distribuir informação útil e confiável para enfrentar esse momento. Então, entrevistamos novas pessoas e voltamos a entrevistar outras que já tinham falado pra colocar mais essa camada em discussão. Nós interrompemos de fato uma programação? Existe essa programação?”, questiona o comunicador.

Borges enfatiza outro ponto importante que foi abordado por Will Ferreira, ex-colaborador da Periferia Em Movimento. “O Will Ferreira apontou: ‘Não é simplesmente pegar o celular e fazer uma live. É pensar também como manter a comunicação com quem a internet não chega, não tem computador, e a gente precisa construir’. Nesse sentido, nós interrompemos de fato uma programação? Existia uma programação? Tudo isso mostra que não há uma linearidade, certo. Nós, que lidamos como tecelões da memória coletiva, estamos construindo não só o futuro mas também o passado no presente. São múltiplas camadas, algumas paralisadas aqui mas outras fluindo de forma completamente acelerada.

Outro integrante da Periferia Em Movimento, o produtor audiovisual Pedro Ariel Salvador, 19, morador do Parque São José, no Grajaú, comenta sobre a importância de registrar esse momento, para criar memória e mostrar o descaso do governo. “Desde o começo da quarentena, nós que somos da periferia pudemos ter mais certeza ainda do descaso do governo, paralelo a isso, também pudemos enxergar a importância da educação e da saúde e o quanto isso chega de maneira precária com quem vive nas margens. As quebradas estão sendo as mais afetadas durante esse período justamente pela falta de estrutura que nos é dada. São trabalhadores e trabalhadoras que precisam sair de casa para garantir o pão de cada dia, mães que precisam trabalhar e não podem deixar os filhos na escola, crianças e adolescentes que não conseguem estudar pela internet. Pessoas que tiveram o “privilégio” de trabalhar em casa, mas ao mesmo tempo não conseguem dar conta da demanda de trampo por simplesmente não ter um local adequado para se dedicar”, analisa.

Ariel faz um importante questionamento sobre a rotina do morador do quebrada que precisa ir trabalhar em meio à pandemia. “Quando saímos, corremos risco de ferir nossa saúde física, quando estamos em casa, corremos risco de ferir nossa saúde mental. Isso só mostra, mais uma vez, que no final de tudo, para quem tá no topo da pirâmide o que mais importa é o dinheiro, o capitalismo. Acho que de maneira geral, os impactos foram bem negativos, mas também consigo enxergar a potência da periferia quando a gente se junta para fazer algo, seja distribuindo cesta básica, marmita, máscaras ou álcool em gel. Isso me faz ter um fundinho de esperança e perceber que a gente tem que lutar sim, mas pra gente lutar, precisamos nos fortalecer antes”. 

“Precisamos tomar a frente das falas que se referem a nós”

Maxuel Mello

“A série, Cartas Para o Futuro, produzida pela Fluxo Imagens surge de uma inquietação do Nenê e minha, quanto às dúvidas sobre o futuro da quebrada e do nosso povo né, a galera que vemos todos os dias e que tanto nós nos identificamos né”, explica Maxuel Mello, 24, morador do Jardim Piracuama, zona sul da cidade. Ele atua como diretor de fotografia e editor na produtora audiovisual criada junto com seu irmão Marcelino Mello.

Juntamente com as inquietações e questionamentos que levaram a criação da série Cartas para o Futuro, Maxuel conta que outro fato muito triste contribuiu para a concepção do projeto: que é não existir registros de como as periferias passaram por outros momentos históricos, ou até mesmo o fato de esse registro ser muitas vezes feito a partir de um olhar branco, de um olhar de quem não vive na periferia, que coloca todo mundo que é de periferia em uma caixinha só.

“Até pouco tempo atrás pensando em tempos históricos, já se viveu outras pandemia, surtos virais e o Brasil também viveu estes surtos, e nesses tempos já existia periferia, já se existia favela, e não se tem registro disso, muito pouco se tem e quando tem é apenas estatístico, viramos números. Ter este registro hoje é garantir que não fique só nos números, que a periferia também tenha sua opinião registrada, no caso da série pensamos em trazer uma reflexão sobre o que será o pós pandemia, como estaremos né”, relata o cineasta da quebrada.

“Foi a partir disso que o Nenê e eu sentimos essa necessidade né, este incômodo, a série também surgiu em um momento de mais dúvidas, em que sabíamos menos ainda sobre o vírus, e o que ele viria a causar e tem causado. Nossa ideia não é responder como será o futuro, nem nada disso, a ideia é questionar o que cada pessoa pensa sobre o seu próprio futuro, desprendido de julgamentos”, conta o diretor de fotografia.

Maxuel enfatiza a importância de produzir a websérie e escutar dos moradores da quebrada como eles estão enxergando e pensando o futuro. “Precisamos tomar frente das falas que se referem a nós. Devemos ser protagonistas da nossa própria história e caminhada, nós que somos os especialistas em vida né, estamos vivos a quanto tempo! A gente gosta de estar vivo. Não é de hoje que se pensa o futuro, na periferia o futuro sempre foi pensado, desde o kit que o menor vai usar no baile, até a feira que a dona de casa e mãe solo planeja minuciosamente para que sobre ainda dinheiro pro gás, luz, água e as demais coisas tão necessárias para se viver. Não só como um registro ali do momento, mas também para que se possa olhar pra trás e ter algum panorama né”, explica ele.

O produtor audiovisual destaca a importância de retratar os corpos de quem vive nas quebradas, para que outros moradores se reconheçam nas histórias que eles contam. “Não se vê rostos pretos e periféricos, nem tão pouco a fala destas pessoas em posição de protagonismo, eu diria que isso vale para todos os meios de comunicação, a Internet nos dá esta possibilidade de mostrar pra mais gente a vastidão que é cada uma destas pessoas. Se ver é muito importante também, olhar alguém parecido contigo e poder ser espelho pra que outros também sejam, isso é lindo, e de novo, muito necessário, para que cada vez mais vejamos nós nos lugares inspirando outros”.

Para dar um tom realista e honesto às gravações da websérie Cartaz para o Futuro, Maxuel destaca que os personagens retratados são moradores da quebrada e foram entrevistados em sua rotina cotidiana. “Retratamos as pessoas do nosso dia a dia, amigos ou não, que topem conversar conosco, e é muito isso, é uma troca de idéia, às vezes chega a ser terapêutico, já ouvimos de algumas pessoas que conversar com a gente a fez bem, tirou a cabeça de um monte de notícia que acaba bombardeando todo dia, que já não se tem uma conversa daquelas de sentar na calçada com os amigos e nem ver o tempo passar. Quase que um suspiro, pra subir na arena de novo e voltar pra batalhar. Nós não direcionamos a fala, o que importa é o que aquela pessoa pensa da forma mais honesta, acho que está honestidade enriquece ainda mais cada um dos episódios”, finaliza. 

Uma carta para Emicida

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E para todas aquelas pessoas que são de quebrada e “ousam” sonhar.

Foto: Luiz Lucas

Peço licença que, na minha condição de jornalista, eu não esteja sendo nem um pouco profissional para usar minha coluna deste mês para escrever uma carta como fã. É que sei lá, eu acho que eu vindo aqui conversar com quem me lê faz mais sentido do que se eu tentar falar isso para o Leandro pessoalmente.

Racionais que me perdoem, mas a minha maior referência de rap nacional, internacional e intergaláctico é o Emicida. Óbvio, a primeira vez que eu escutei rap foi na voz do Mano Brown. O problema é que eu não sabia o que era aquilo e nem quem era aquele. Eu só sabia que estava numa rodinha de amigos com cinco, seis anos de idade escutando sobre a minha realidade.

De antemão eu já digo que não, meu sonho não é conhecer o Emicida. Por mais que eu admire seu trabalho desde 2010, que eu tenha várias tatuagens em referência às suas músicas e já gastei vários dins na Laboratório Fantasma, meu maior sonho é… continuar sonhando. Ter a capacidade de pensar para frente e vislumbrar um futuro é algo que, infelizmente, quem vem de onde a gente vem, às vezes não consegue.

Estamos muito ocupados sobrevivendo. A nossa mente até esquece de um cantinho que tem na nossa caixola chamado SONHOS. É tão complexo que, já que não dá para sonhar acordado, a gente tenta sonhar dormindo, mas nem tempo para dormir a gente tem. Então como faz? Eu me permito sonhar através da música. Pensando nisso, muitas canções do titio Emicida são engrenagens para os sonhos. “É o que eu digo e faço, não suponho, sou milionário do sonho”.

Crisântemo e Ooorra são as músicas que mais fazem sentido na minha vida. Sem pai, elas são trilhas sonoras de vários momentos que me sinto sozinho, perdido. E quem é de periferia sabe que esses momentos costumam ser mais longos do que gostaríamos. Para os momentos de revolta e reflexão temos Eminência Parda, Boa Esperança e Mandume. Para as glórias alcançadas temos Triunfo e Gueto. Para se conectar com nossa ancestralidade não pode faltar Ubuntu Fristaili. Tá, mas aonde entram os sonhos aí? Através das letras, existe uma identificação, onde quem canta, utiliza das suas vivências para girar a chave e zerar o game.

Vocês já tiveram sonhos? Vocês ainda têm sonhos? Se sim, Mas e aí, quebrada, vocês se permitem sonhar? Pode ser um sonho pequenininho ou grandão mesmo, não tem problema. Pode ser desde uma motoca para a criança até uma mansão para a sua véia. Uma viagem para Tóquio ou para a Praia Grande. Já que a gasolina tá cara, deixe que o sonho seja o nosso combustível.

Obrigado ao Emicida e obrigado a todas as pessoas que estão ao meu redor e me dão o alicerce para que eu possa sonhar. “Faz essa por nós, te vejo no pódio”.

Ano passado eu não morri e espero que esse ano eu não morra de novo. 

“O movimento mudou a minha vida”: conheça a trajetória política de Débora Pereira

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Na primeira entrevista da série trajetória política, Débora Pereira conta como o MTST mudou sua vida e a relação com a política institucional. Ao longo do mês de março, o Desenrola vai contar histórias de mulheres indígenas, negras e periféricas que se dedicaram a atuar na política, a partir das vivências em seus territórios. 

Enraizada nas lutas pelo direito à moradia junto a moradores da Ocupação Novo Pinheiro, localizada no município de Embu das Artes, Débora Pereira de Lima, 34, é uma mulher preta licenciada em Matemática pela Universidade Ibirapuera e integrante do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). Ela é moradora da Vila Aurora, bairro da região noroeste da cidade de São Paulo.

“Eu ajudo no levantamento das demandas em cada região e também na orientação de como pode se obter êxito nas suas reivindicações, cumprindo o papel de mediadora das demandas da comunidade em relação ao poder público”, explica Débora sobre a sua atuação no MTST.

Filha de mãe baiana e pai mineiro, Débora conta que o seu envolvimento com a participação política surgiu na juventude, quando era estudante de escola pública. “Lembro que na minha adolescência eu participei do grêmio estudantil na minha escola, também participei do núcleo da Educafro, coisas que eu só comecei a entender como política recentemente” relembra ela, enfatizando que hoje ela enxerga que a juventude vem cumprindo um papel importante de transformação da política.

Para ela, a política está presente no cotidiano das pessoas, seja nos meios de comunicação, na escola, quando um grupo resolve se organizar para reivindicar algo ou uma bandeira, está presente nos movimentos e nos coletivos. 

“O movimento mudou a minha vida”

Débora Pereira de Lima

A integrante do MTST conta como o movimento social foi importante na vida dela, para que ela começasse a entender e olhar a política com outro olhar. “Eu comecei a entender a política quando entrei para o MTST, antes disso eu não falava em espaços públicos, achava que mulheres não podiam estar nesses espaços. O movimento mudou a minha vida”, afirma.

Após esse processo de descoberta, Débora conta como a sua rotina se transformou. “Minha rotina se baseou em contribuir para luta por moradia nas ocupações, e ajudar na mobilização do nosso povo para as mais diversas atividades e ações e ainda tive a possibilidade de me candidatar como vereadora em uma chapa coletiva. Começar a entender de política me fez entender o meu lugar no mundo, o lugar que podemos ter no mundo e como podemos lutar para alcançá-lo”, descreve.

Em 2020, a trajetória de Débora foi marcada pela disputa das eleições municipais com a candidatura coletiva Juntas, composta por três mulheres que integram o MTST, que se dedicaram a concorrer a uma cadeira de vereador na Câmara Municipal de São Paulo.

Débora conta que a JUNTAS nasceu em 2019 com três objetivos principais: ter representatividade de mulheres negras da periferia; transformar a política atual; e aproximar a população das decisões das políticas institucionais. “Em 2019 realizamos o primeiro encontro de mulheres sem teto, e nesse encontro chegamos ao consenso de que o MTST precisava entrar na institucionalidade para que suas pautas fossem levadas diretamente. E nossa chapa teria que ser como a maioria do movimento é: mulher, preta e periférica”.

“A ideia de ser vereadora surgiu com debates dentro do MTST e dentro de uma reunião com mais de 600 mulheres do MTST. Nesta reunião debatemos a falta de representatividade nos espaços institucionais e a representatividade de mulheres negras da periferia”, relembra.

O ambiente de trocas de conhecimento do bate papo com mais de 600 mulheres foi fundamental para Débora se convencer da importância de ser co-vereadora de uma chapa coletiva. “O mandato nasce na ideia de como o MTST se organiza e como todas as decisões são tomadas de formas coletivas, então decidimos pegar nossa experiência para formar um mandato, e tivemos a referência de uma militante nossa que foi eleita em Pernambuco dentro de um mandato coletivo”, conta Débora, resgatando o nascimento do mandato coletivo e também sua participação.

(Foto: Tom Lopes)

“Queremos nosso mandato aproximando a população do debate político e institucional”

Débora Pereira de Lima

Ela ressalta a importância do mandato coletivo para o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto. “Para nós, um mandato coletivo vai além da quantidade de pessoas que estão na disputa como co-vereadoras. Para nós, um mandato é coletivo a partir do momento que as decisões que são tomadas estão abertas para o debate, para a população discutir, para que a maioria construa as suas pautas, é assim que queremos nosso mandato, aproximando a população do debate político e institucional”, define.

Débora traz o sentimento de formar uma chapa coletiva e também as ideias sobre não ganhar nessa eleição, mas continuar dentro das lutas e mobilizações pelo direito a moradia. “Ser vereadora nessa cidade é legislar para o interesse da maioria, principalmente para os mais vulneráveis. Ser vereadora representaria um desafio para nós, pois são espaços historicamente negados. Portanto, representar nosso povo na maior casa legislativa do Brasil seria uma responsabilidade imensa”, avalia.

Atualmente, Débora continua com a fiscalização das políticas públicas destinadas à população mais vulnerável da cidade, acompanhando o trabalho do Gabinete Paralelo, uma iniciativa articulada por Guilherme Boulos, candidato a prefeito pelo PSOL nas eleições municipais de 2020, que faz balanços periódicos e proposições para a cidade, em oposição à gestão do atual prefeito Bruno Covas.

O mandado coletivo Juntas é composto por Débora, Jussara E Valdirene, mulheres que são lideranças do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto. 

 Transformação da política institucional

Débora considera que a ocupação dos espaços políticos e de decisão dos rumos da sociedade por minorias sociais indicam um caminho de atuação, no qual, certos debates serão aprofundados socialmente via ação institucional.

“É difícil mudar algo estruturalmente seguindo a institucionalidade, mas entendemos que aumentar nossos números de representantes nesses espaços significa resistir e pautar um debate amplo, que nos faça crescer enquanto oposição e viabilize nossas ações transformadoras”, opina.

Ela finaliza a entrevista enfatizando a importância do voto no Brasil. “O voto significa exercer o seu direito como cidadão. Não é um direito simples, porque sabemos dos problemas da nossa democracia e do nosso processo eleitoral. Mas a conquista foi obtida pelo sangue e suor de muita gente, e devemos valorizá-lo. Não votar hoje, a depender do cenário, pode significar se omitir diante de um momento tão trágico no Brasil”, conclui. 

“Os conteúdos se recuperam, mas as vidas não”, diz professora em greve

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O Desenrola entrevistou uma integrante do movimento de greve de educadores, que é formado por professores da rede estadual e municipal de ensino de São Paulo. 

Projeção realizada paraa sensibilizar a população sobre a importância da greve de professores. (Imagem: Projetemos)

O governo de São Paulo anunciou nesta quarta-feira (03), que a partir deste sábado (06) de março, o estado entra na fase vermelha, onde o protocolo de isolamento social para contenção da covid-19 exige que bares, restaurantes e comércios não essenciais permaneçam fechados durante 14 dias. A medida aponta também que na fase vermelha, aonde a pandemia alcança os maiores indicadores de mortalidade, a escolas públicas estaduais continuem com suas atividades e seguindo os protocolos sanitários para atendimento dos alunos.

Na contramão dessa medida que autoriza o funcionamento das escolas, um movimento de professores em greve segue engajado em orientar pais, alunos e a comunidade escolar sobre o impacto das informações que o poder público não divulga sobre os malefícios do retorno às aulas presenciais em suas campanhas de conscientização sobre a covid-19.

A iniciativa conta com a participação ativa de professores da rede estadual e municipal de educação pública de São Paulo, que estão unidos para defender o direito à vida das famílias que tem seus filhos matriculados em escolas localizadas em territórios periféricos da cidade.

O Desenrola conversou com Lúcia Guimarães, professora da rede pública municipal de educação. Ela descreve com detalhes como as condições estruturais das escolas públicas estão contribuindo para que esse movimento de greve se junte para difundir informações, que podem evitar um colapso ainda maior da pandemia nos territórios periféricos.

“Os conteúdos se recuperam, mas as vidas não”

A educadora inicia a entrevista enfatizando que os conteúdos se recuperam, mas as vidas não voltam mais e demonstra conhecimento sobre a condição socioeconômica das famílias que precisam enviar os filhos à escola, mesmo diante da pandemia. “Sabemos e entendemos os problemas das famílias, que é muito delicado o aluno não estar indo a escola, inclusive em relação à segurança alimentar, mas a gente entende que os conteúdos se recuperam, mas as vidas não”.

Guimarães lembra que a questão da segurança alimentar poderia ter sido resolvida pela administração municipal em 2020 se eles assim quisessem. “Nós não vimos durante 2020 uma política séria tanto para a questão da segurança alimentar, quanto para garantir que as crianças tivessem acesso ao ensino remoto, que seriam as duas questões que poderia amenizar os problemas da escola fechada”, explica.

O movimento de greve dos professores entende que devido ao aumento no número de mortes e com o surgimento de novas variantes da covid-19, esse é um momento inadequado para a volta às aulas.

“A nossa greve não é baseada na ideia de que não queremos trabalhar, como algumas pessoas dizem. A gente quer sim fazer o ensino remoto e que todas as crianças tenham acesso a esse ensino, que são as condições que nós temos nesse momento”, afirma a educadora.

Descaso do poder público 

Uma das indignações do movimento de greve dos professores é com o descaso que o governo prolifera ao não levar em consideração o diálogo com a comunidade escolar para tomar decisões mais assertivas, que não ofereçam um risco direto à vida das famílias de alunos e dos educadores. “Eu penso que o governo ignora o diálogo com a comunidade escolar como um todo, tanto os representantes professores, como representantes da comunidade local. Eles tomam medidas sem conhecer a realidade específica de cada unidade”, conta.

Ela denuncia que em meio à pandemia, o quadro de funcionários de limpeza de diversas escolas foi reduzido. “As unidades escolares tiveram redução de funcionários da limpeza, num momento que a limpeza é um dos itens primordiais para a questão da segurança, enfim, a gente não entende bem qual é a motivação”.

Ao descrever a infraestrutura das escolas públicas, tanto do ensino fundamental, quanto no estadual, a professora faz uma alerta para as famílias. “A grande maioria das escolas são gradeadas, estão com janelas emperradas e não há circulação de ar adequado, são ambientes fechados, nós entendemos que esse ambiente não é seguro para uma volta às aulas, além disso, nós estamos com uma vacinação indo a passos lentos, porque nós só iremos conter a pandemia quanto tivermos vacinado um número muito grande de pessoas”.

Ao avaliar qual o papel dos professores nesse momento da história da humanidade, a professora enfatiza que os professores deveriam estar inseridos no grupo prioritário para vacinação. “Nós sabemos que grande parte das escolas que reabriram estão fechando, porque as pessoas estão se contaminando, é uma situação bastante delicada”, descreve.

Qualidade do ensino 

Outro fator que tem motivado a greve de professores é a qualidade do ensino oferecido pelas escolas nesse processo de reabertura com distanciamento social. “Essa é uma escola emergencial. Ela coletiviza o ensino e não permite o cuidado individual com os alunos. Nós não podemos considerar que essa aprendizagem com distanciamento social seja a escola que a gente vislumbra e precisa. Então é difícil para os profissionais, crianças e adolescentes essa nova escola”.

O processo pedagógico, responsável por transmitir o conhecimento aos alunos também foi criticado, pelo fato dele se basear apenas em passar conteúdos na lousa e não permitir um contato mais humano com os alunos. “Há uma visão da educação que é conteudista, que eu posso passar mais e mais conteúdos, mas nós não entendemos assim. Nós entendemos que a educação é uma coisa pra vida, que tem relações, que a gente precisa estar em grupo, nós precisamos fazer junto, e é isso que a escola nesses moldes não vai nos oferecer”, analisa.

Saúde mental 

Para o movimento de greve dos professores, o assunto volta às aulas não faz sentido, pois segundo Guimarães, com a vida não se faz teste. “Se a gente não sabe, se a gente está em dúvida, é melhor não reabrir, já que a gente não tem certeza de tudo que está ocorrendo nesse espaço”.

Preocupada com a saúde mental dos professores, alunos e familiares e toda comunidade escolar, a professora se questiona se o Estado está levando em consideração que a escola pode gerar novas doenças para além da covid-19. “A gente vê que virou uma queda de braço. O governo acha que temos que abrir, mas a qual custo? Será que a criança que vai pra escola e que pode levar o vírus pra casa e tem um ente querido que possa adoecer e até morrer, isso não vai causar problemas psíquicos para essas crianças?”

Ela complementa afirmando que a maioria das famílias que têm filhos em escolas públicas nas periferias já perdeu um ente querido nessa pandemia e que o poder público parece não levar isso em consideração. “Eu acho que nós não precisamos ajudar a aumentar esse número de mortes. Eu volto a dizer que é papel do governo dar a garantia ao ensino remeto e dar a garantia de segurança alimentar para essas crianças. É isso que o Estado brasileiro não está conseguindo, mesmo na cidade de São Paulo, que tem o maior orçamento público entre as cidades brasileiras”.

Dinheiro público 

O Desenrola apurou que em 2019, ano que antecedeu o início da pandemia, a cidade de São Paulo arrecadou 60,1 bilhões nos cofres públicos, se tornando o quinta maior município em arrecadação pública do Brasil. Esse valor poderia ser utilizado para investir em diversas políticas públicas em 2020, no entanto, com o advento da pandemia, muitas prioridades do governo foram invertidas, como vem afirmando o movimento de greve dos professores.

Vale ressaltar que os dados apurados mostram que a cidade de São Paulo teve a quinta maior arrecadação pública em 2019, ficando atrás somente da União, Estado de São Paulo, Estado de Minas Gerais e Estado do Rio de Janeiro, ou seja, é a única cidade a ter um orçamento aproximado dos estados.

A professora finaliza a entrevista, enfatizando que o diálogo com as famílias e com a comunidade está muito difícil nesse momento. Ela acredita que a escola tem muito a conversar com o país.

“Nós estamos passando por um momento de negacionista e de descrédito do conhecimento. E eu acho que a escola tem um lugar importante de diálogo, porque a escola é o lugar de desenvolvimento de conhecimento, do diálogo, para discutir e falar sobre as várias possibilidades e pontos de vistas, então eu penso que nós precisamos sim, enquanto educadores, pensarmos como nós vamos reativar esse diálogo com as famílias e a comunidade escolar no território, porque sem diálogo, nós não iremos ver esse país da forma que a gente gostaria que garantisse justiça, que tenha as mínimas condições de vida para todos”, conclui.

Você escuta músicas em outros idiomas?

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Gostaríamos muito de compreender esta dinâmica, porque somos de fato um grupo de hip hop multilíngue e multinacional, visto que falo inglês como primeira língua e espanhol, e a Lena fala português e italiano.

Foto: Jordan Fields e Lena Silva. Arquivo pessoal.

Sinto que faço parte de um grupo muito pequeno e fechado de pessoas nos Estados Unidos que ouvem com frequência música em outros idiomas. Eu escuto música principalmente em espanhol, português e francês ocasional, gosto também de ouvir música em dialetos africanos. Isso não é muito comum nos EUA, já que apenas 4% dos americanos ouvem música em outras línguas sempre, 8% ouvem frequentemente, 25% dizem às vezes, 27% raramente e 34% nunca, segundo pesquisa feita com 5.778 entrevistados. E eu já fiz parte desses 34%.

Os quatro por cento que mencionei são quase inteiramente compostos de imigrantes latinos e seus descendentes que vivem nos Estados Unidos. De todas as pessoas que frequentemente ouvem música em outros idiomas, 52% são espanhóis.

As pessoas nos Estados Unidos vêem o mundo de uma lente extremamente limitada, a maioria de nós não sabemos nada sobre o mundo e, pelo pouco que sabemos, sempre nos colocamos no meio. Esse é um fenômeno maior que a raça, mas com o péssimo sistema de ensino que temos nas áreas negras daquele país, dá para imaginar o quão limitado é o acesso.

Hoje em dia falo português fluente, mas nem eu sabia que o Brasil tinha negros até assistir o filme Cidade de Deus, também achava que se falava espanhol aqui, o Rio de Janeiro era a capital e tudo era uma imensa floresta. Às vezes eu culpo o esporte nos Estados Unidos também, porque vejo que aqui no Brasil, mesmo quem é muito pobre e sem acesso à educação sabe que lugares como Barcelona, Madrid, Manchester e Portugal existem por causa dos times de futebol. Mas você pode acreditar que existem muitos pobres afro-americanos que nunca ouviram falar de nenhum desses lugares? Nossos esportes jogam apenas em outras cidades e estados dos EUA.

Minha jornada começou em 2010, então tenho cerca de 11 anos de imigração, hoje eu sei que outros lugares e línguas existem fora dos Estados Unidos. Primeiro foi com o espanhol, tive que aprender a língua por motivos sociais por causa dos problemas e da violência na minha comunidade. Você acredita que quando eu dirigia pela minha comunidade tocando música em espanhol, recebia muito julgamento do meu povo? Pessoas gritavam comigo quando eu estava com o som alto no meu carro. “Yo! Você é negro!! Ouça música negra, pare de tentar ser espanhol!”

Só para você nos entender um pouco mais, em muitas comunidades negras onde há imigrantes latinos, a maioria dos negros não os chama de latinos, a maioria os chama de “espanhóis”, o que pra mim era normal até eu começar a entender o mundo, e vi que espanhol é espanhol. Os ditos latinos foram colonizados por espanhóis e só falam a língua do colonizador, mas a maioria das pessoas não sabe disso. É como chamar os brasileiros de portugueses ou chamar os americanos de ingleses. Então, realmente, eu estava sendo julgado e discriminado pelo meu próprio povo com base em sua ignorância.

Em contraste os brasileiros são muito diferentes, a maioria das pessoas que vejo toca música em outros idiomas o tempo todo e é normal, ninguém grita, “ei, desligue essa merda de inglês!”. No Brasil, 62% da população acredita que é possível aprender línguas ouvindo música e muitas pessoas aqui pensam nisso porque estão usando as plataformas de streaming de música. Porém, existe outra realidade de muitas pessoas no Brasil que amam ouvir música em inglês ou em espanhol, mas nunca tentam entender as letras. Isso é muito difícil de compreender do ponto de vista dos Estados Unidos, acho que não conheço ninguém que faria algo assim. Lá se ouve música em outro idioma se você já tem conhecimento ou apenas ouve música em inglês.

É injusto quando você pensa sobre isso, para um artista nos Estados Unidos quando ele se torna popular, a arte dele pode se espalhar pelo mundo, oportunidades de shows e tudo, sem nunca ter que aprender nenhuma outra língua. Um exemplo disso foi em 2019, quando Cormega, um dos meus rappers favoritos, veio ao Brasil se apresentar na Zona Leste. Além de cantar todas as suas músicas em inglês, ele realmente tentava falar com o público apenas em inglês, fazendo perguntas e até esperando uma resposta, ou dando comandos como “levanta as mãos pra cima!”. Achei ridículo e disse a mim mesmo que se eu ficasse famoso um dia, nunca faria algo assim, pelo menos tentaria aprender algumas palavras do país em que estou atuando. Um artista brasileiro nunca faria isso, você não pode ir para os EUA e só fazer rap em português, ou só falar em português com o público, isso nunca daria certo e ninguém prestaria atenção em você. Poderia funcionar se fizessem um show para a comunidade brasileira, mas os números de possíveis fãs não ficariam muito altos nesse caso.

Eu tive a oportunidade de sair do país ainda muito jovem. Quando concluí o ensino médio fui para a Europa morar com tias e primas que se estabeleceram no norte da Itália, na cidade de Gênova. Até então eu fui sem muitos propósitos. Eu queria mesmo era sair do bairro onde eu morava aqui em São Paulo, trabalhar e ajudar a minha mãe. Passei 10 anos da minha vida lá, onde eu pude assistir a muitos shows internacionais e viajar por alguns países da Europa. Com o forte fluxo de imigração de povos de alguns países europeus, África e América do Sul, é muito comum entre os italianos ouvir música em outros idiomas, mesmo que não saibam falar esses idiomas e muitos artistas italianos cantam em inglês, espanhol, francês e até mesmo português como é o caso das cantoras Gaia Gozzi e Charlotte de Melo.

Segundo a pesquisa Music Listening 2019 da IFPI (International Forum for Postgraduate Studies Information) – organização que representa a indústria discográfica no mundo inteiro, na Itália a música pop ainda predomina. A Itália segue a tendência geral com algumas peculiaridades. O repertório local continua a dar voz, mas isso também pode ser constatado nos rankings e certificações semanais e anuais que, durante anos, viram principalmente os artistas italianos no topo, com um aumento também no mercado de singles: 61% ouvem ao pop italiano, seguido pelo rock e composição, enquanto trap e hip hop explodem entre os jovens, pontuando 53% na faixa dos 16-24 anos, e latim em alta (37,6%).

E as músicas que têm diversos idiomas em um? Bom, esse é um estudo que não consigo encontrar ou talvez ainda não tenha sido realizado, mas poderia haver um grupo de pessoas que gosta especificamente de ouvir música que tenha mais de um idioma? Gostaríamos muito de compreender esta dinâmica, porque somos de fato um grupo de hip hop multilíngue e multinacional, visto que falo inglês como primeira língua e espanhol, e a Lena fala português e italiano.

Compartilhe conosco qual é o seu pensamento e vamos iniciar essa pesquisa aqui.

Estética e imagens periféricas são temas de festival de fotografias online

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Cerca de 35 profissionais, entre fotógrafos, agentes culturais e produtores, estão envolvidos na realização do FIP – Festival de Imagens Periféricas, que acontece entre os dias 01 de março a 06 de abril. 

Foto: Gsé Silva

Com a temática “Imagens Periféricas”, o festival propõe diálogos e trocas entre fotógrafos de regiões periféricas e da região central da cidade de São Paulo, abordando cinco temas principais: cultura, memória, gente, morada e sobrevivência. A programação estará acessível nos perfis oficiais do YouTube e Facebook do evento. Com programação online e gratuita, o festival conta com bate-papos temáticos, oficinas e uma exposição de lambe-lambes.

Segundo Eliária Andrade, jornalista, repórter fotográfica e uma das organizadoras do festival, a ideia da ação surgiu em 2019, e inicialmente seria de forma presencial nas Casas de Cultura da cidade de São Paulo. Com a pandemia, o festival passou por alterações e hoje conta com a participação de uma rede de fotógrafos e coletivos que somam nessa construção.

Eliária conta também como o festival fortalece o trabalho de fotógrafos independentes e que tem as periferias como principal espaço de construção e produção. “Ele surge como uma exibição dos trabalhos dos fotógrafos, com a sua participação ativa na construção deste festival e um retorno financeiro, até porque o setor fotográfico foi um dos mais atingidos pela pandemia, com cancelamento de shows, eventos, futebol, festas e casamentos”.

Os bate-papos temáticos fazem parte da semana de abertura do festival e acontecem entre os dias 01 a 05 de março, com a participação de profissionais como, Deh Coutinho, Gsé Silva, Nego Júnior, Sheila Signário, Léu Britto, Marcia Zoet, Rodrigo Zaim, Anna Carolina, Carmen Negrão, Preta Pretinha, Sylvia Masini, Evelyn Ruman, Mariana Raphael, Raphael Poesia, Silvia Zamboni, Fernando Solidade, Jardiel Carvalho, Mônica Zarattini, Paulo Tertuliano e Sheyla Melo. As transmissões dos diálogos acontecem através do canal do youtube e facebook do festival, a partir das 19h.

Além dos diálogos temáticos sobre o fazer fotográfico, o festival está com inscrições abertas para as oficinas de: Fotografia e autoria para iniciantes, com Allan Cunha; Fotografia de Moda profissional e de baixo custo, com Túlio Vidal; Retratos e processos criativos, com Tina Gomes; Fotografando seus produtos com o celular, com Júlio César, e O que é Antropologia da Imagem?, com Yara Dines. As oficinas acontecem de 09 a 19 de março e podem participar jovens a partir dos 16 anos.

Ainda como parte da programação do FIP, o público pode participar até 22 de março do Desafio para a exposição de lambe-lambe e projeções dentro do festival. Serão selecionados em torno de 145 fotografias para compor um mural artístico espalhado pela cidade de São Paulo ou para serem exibidas em uma projeção que acontecerá no dia 06 de abril.

Para participar é preciso publicar uma ou mais fotos em seu perfil pessoal do instagram com a hashtag geral #fip_desafios e com a hashtag do tema que melhor definir a sua imagem. Para saber mais sobre a inscrição no desafio, acesse o formulário disponível aqui.

O festival foi contemplado pelo Proac Lei Aldir Blanc, e Eliaria comenta a importância de acessar esse recurso para a realização de um festival que reúne diversas coletividades e segmentos falando sobre imagens periféricas. “Agora o que nos resta fazer é mostrar o que há de melhor na fotografia periférica, pois não é só a que vem da periferia, mas também nas imagens marginalizadas, excluídas que não são mostradas no cotidiano. A realização da exposição dos lambes também só está sendo possível devido a verba da Lei Aldir Blanc”. 

Confira a programação:

FIP – Festival de Imagens Periféricas – 01 de março à 06 de abril

Diálogos 

Culturas Resistentes – Segunda, 01/03 às 19h
Participação: Gsé Silva, Deh Coutinho, João Kulcsár, Nego Júnior e Sheila Signário

Memórias de um tempo de luta – Terça, 02/03 às 19h

Participação: Allan Cunha, Léu Britto, Márcia Zoet, Jardiel Carvalho e Rodrigo Zaim e Yara Dines.

Delicadeza dos seres – Quarta, 03/03 às 19h
Participação: Preta Pretinha, Anna Carolina, Carmen Negrão, Eliária Andrade, Sylvia Masini e Júlio César.

Território do eu – Quinta, 04/03 às 19h
Participação: Evelyn Ruman, Mariana Raphael, Raphael Poesia, Silvia Zamboni e Tina Gomes.

Sobrevivendo, por enquanto – Sexta, 05/03 às 19h
Participação: Fernando Solidade, Jardiel Carvalho, Mônica Zarattini, Noite, Paulo Tertuliano e Sheyla Melo.

Oficinas 

Fotografia e autoria para iniciantes, com Allan Cunha
Dias 09 e 16 de março, das 9h às 12h.
Requisitos: A partir dos 16 anos
Clique aqui e se inscreva.

Fotografia de Moda profissional e de baixo custo, com Túlio Vidal
Dias 11 e 15 de março, das 19h às 22h
Requisitos: Conhecimento básico de fotografia. Equipamento de fotografia semiprofissional ou celular.
Clique aqui e se inscreva.

Retratos e Processos criativos,
com Tina Gomes
Dia 11 de março, das 11h às 13h
Requisitos: A partir dos 16 anos
Clique aqui e se inscreva.

Fotografando seus produtos com o celular, com Júlio César
Dia 20 de março, das 16 às 20h15 com intervalo de 1h
Requisitos: Preferência para empreendedores e empreendedoras pretas e pretos
Clique aqui e se inscreva.

O que é Antropologia da Imagem? com Yara Schreiber Dines
Dias 10, 12, 18 e 19 de março , das 19h às 21h
Requisitos: a partir dos 16 anos
Clique aqui e se inscreva.

Desafios e Exposição

De 23 de fevereiro a 22 de março. Para participar é necessário a publicação de uma ou mais fotos em seu perfil pessoal do instagram com a hashtag geral #fip_desafios e com a hashtag do tema que melhor definir cada imagem. As opções são: #fip_cultura; #fip_gente; #fip_memoria; #fip_morada; #fip_sobrevivencia. Clique aqui e se inscreva.

Projeções 

No dia 06 de abril, às 19h30, o festival realiza a projeção na Avenida Consolação com a rua Caio Prado. A ação encerra a primeira edição do FIP e terá duas horas de projeções com transmissão online.

O CARNAVAL, SEM CARNAVAL

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Os biomas brasileiros se misturam com a musicalidade tornando o carnaval uma miscelânea da história brasileira. Os blocos de carnaval de rua, hoje representam a difusão ou um lembrete da importância dessa cultura, sem ingresso, para todos, com ou sem fantasia, com ou sem bebedeira. Eu acompanho nas ruas a maior manifestação cultural brasileira.

Foto: Arquivo pessoal Anabela Gonçalves – Bloquinho favela Monte Azul em 1994.

O carnaval é uma festa muito antiga, que sempre correspondeu às religiões não cristãs, mas que foi absorvida pelo cristianismo se tornando o período que antecede a quaresma. A palavra carnaval vem do Latim carnem levare, que significa “abster-se, afastar-se da carne”, véspera da quarta-feira de cinzas, tempo onde se inicia a abstinência da carne.

Mas em contraponto, o carnaval é a festa da carne, onde excessos são aceitos e fazem parte dessa tradição.

O carnaval veio nas naus portuguesas e foi envolvida pelos nossos ancestrais africanos em tambores e danças, o misto musical deu origem às marchinhas e logo mais ao samba. No começo feito com farinha e ovos, depois foi civilizado a moda europeia. Com toda sua importância Chiquinha Gonzaga, em 1899, compôs “Ó abre alas” a primeira marchinha feita com o tom mais próximo do que aconchegamos do carnaval.

Foi difícil escrever, pois entre tantos problemas importantes que estamos vivendo em nosso país, pouco mudou do cenário inicial dessa coluna, COVID-19, desgoverno Bolsonaro, crise econômica, mortes, muitas mortes e nosso coração querendo muito extravasar na avenida tanta dor, mas não houve carnaval e não sabemos quando poderemos abraçar as ruas da quebrada com nossos blocos.

Mas resolvi escrever sobre o carnaval, festa que já foi muito discriminada pela sua forma de promover na gente a vontade de romper as barreiras morais para trazer à tona nosso espírito livre.

Ainda nova, a Associação Comunitária Monte Azul fazia pequenos cortejos da favela até o Centro Cultural Monte Azul. Ainda no CJ – Centro para Juventude, meus educadores Cido Cândido e Rogério Modesto que além de educadores, eram atores das artes cênicas, faziam cantigas e sambinhas com a gente.

Dentro do dia a dia do CJ, entre as leituras, a hora do esporte e almoço, havia o tempo das cantigas e sambinhas tradicionais. Era assim como quem não quer nada o samba, o carnaval e a folia em nossas vidas.

Eu cresci em uma viela onde o samba não era a principal cantiga, em minha casa só se tocava Amado Batista e Bartô Galeno, mas o pagode e o samba faziam parte de um cenário maior na favela e na vida.

No natal na periferia a gente ia de casa em casa dos amigos e cada petisco de ceia trazia um pouco de música, muitas músicas e o samba em algumas casas traziam notas diferentes de ser e estar periféricos.

O Bloco do Vagaranha na Monte Azul e depois o Bloco do Beco, já mais velha me trouxe de volta aquela paixão dos 13 anos no cortejo da favela.

O samba dos trabalhadores que uniam culturas em um samba que tinha um tom de caxambu e jongo, na criação dos mestres do samba paulistano. Essas são referências que construí com tempo, com estudo, com as conversas do bar do Prudente, do Matias, do Ceará, tantos malandros reformados pela retórica da vida urbana que trazem em sua narrativa alguma ideia do samba. Chamamos essa sabedoria de Velha Guarda, aqueles que o tempo guarda a história oral de trabalhadores na construção do samba nas ruas e nas escolas de samba tradicionais.

Por isso o Bloco do Beco se tornou minha escola e minha militância, por me mostrar a face política do samba, suas linhas de resistência cultural e como se configura como narrativa e pertencimento do povo periférico.

O samba foi parte da ferramenta educadora que fez minha vida, lá no CJ. Eu entendo a importância da formação musical, mesmo que poética na construção da minha trajetória. Os blocos de carnaval periféricos trazem de volta ao braço dos trabalhadores a experiência subjetiva da produção cultural e artística.

Eu quero aqui homenagear os Blocos que vem fazendo nossos carnavais felizes na quebrada, bonitos em sorrisos, educativos no convívio comunitário, na cultura que enfeita a vida tão dura do nosso povo. Bloco do Vagaranha, Bloco do Beco, Bloco do Hercu, Bloco Afro ÉdiSanto, do Litraço, Fígado de Ferro, Eco Campos, entre outros que surgem entre as ruas da quebrada.

O carnaval é uma manifestação cultural legítima que precisa de tempo, ensaios, recursos para sair na avenida. O carnaval também é um direito cultural conquistado nos últimos anos e com isso fomentado pelo poder público, mesmo que ainda de forma tímida.

Lutamos pela festa do povo, pela vacina, pelas vielas e ruas cheias de alegria, pelo brilho do olho e das purpurinas, lutamos por política pública de auxílio ao povo pobre periférico nesse momento de crise. A cultura tem é luta!

Ascendência

Se eu soubesse naquela avenida,
carnaval que me embalava,
Mesmo que a repressão,
ali tardia
estivessem agourando nosso futuro,
o coração virava a cara,
da agonia de viver fraco.
Hoje olhar triste
sobre a avenida vazia,
Bandeira parada.
Nesta triste alvorada
me resta olhar no retrato dessa vida
A alegria é uma estação sem trilhos,
de milhões de incapazes,
No meu samba metáfora
da aurora que virá.

Anabela Gonçalves

Um ano sem samba é um ano sem reverência aos nossos ancestrais que lutaram para que traços musicais culturais juntos, preservassem também nossa cultura negra em diversas vertentes, seja litorânea, sertaneja ou urbana.

Os biomas brasileiros se misturam com a musicalidade tornando o carnaval uma miscelânea da história brasileira. Os blocos de carnaval de rua, hoje representam a difusão ou um lembrete da importância dessa cultura, sem ingresso, para todos, com ou sem fantasia, com ou sem bebedeira. Eu acompanho nas ruas a maior manifestação cultural brasileira. 

União Akasha realiza a IV Feira Afetiva com programação online

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Com sede no Campo Limpo, zona sul de São Paulo, a União Akasha traz para o ambiente virtual a programação de seu tradicional evento de troca de saberes

 Com a realização de transmissões ao vivo pelo Facebook, Instagram e Youtube, a União Akasha, espaço cultural de cura e artes, localizado no Campo Limpo, zona sul de São Paulo, promove a IV Feira Afetiva entre os dias 28 de fevereiro a 07 de março. O tema deste ano é “Nutrindo o novo mundo”.

A União Akasha é um centro de desenvolvimento humano, focado no autoconhecimento, artes, cultura e cura que oferece atividades em sua sede. Por conta do distanciamento social exigido pela pandemia, a Feira Afetiva é realizada pela segunda vez consecutiva no formato virtual.

A programação é gratuita e variada, trazendo atividades para crianças e adultos, como performances poéticas, teatrais e shows. A abertura do evento conta com a apresentação musical de Marlon Cruz, às 18h, e de Déa Trancoso, às 19h no domingo, dia 28.

Entre as atividades disponíveis, está a oficina de “Escrita Quântica” com o poeta Michel Yakini. Por meio de estudos e práticas que relacionam a escrita criativa e o autoconhecimento, o poeta de Pirituba, território da zona noroeste de São Paulo, propõe um exercício baseado em quatro estágios deste processo, são eles: dedicação, relaxamento, intuição e criação.

Para participar desta oficina, é necessário fazer a inscrição previamente por este link porque as vagas são limitadas e o encontro será realizado em um ambiente virtual restrito.

Programação completa 

28 de Fevereiro
18h – Aquecimento – Marlon Luz
19h – Show de Abertura – Déa Trancoso

01 de Março
12h – Vídeo performance Marco Miranda
14h – Poesias para o Novo Mundo
16h – Doação mudas e sabão no Terminal Campo Limpo
19h – Curso Escrita Quântica – Michel Yakini ( Sala Fechada, vagas limitadas)

02 de Março
12h – Performance Vitória Benevides
14h – Poesias para o Novo Mundo
16h – Doação de mudas na Praça do Campo Limpo
19h – LaLoba Um Rito de Ressurreição – Natalie Revorêdo (Curso fechado Vagas Limitadas)

03 de Março
12h – Performance Deco (Teatro de Bonecos)
14h – Poesias para o Novo Mundo
16h – Doação de mudas Metro Campo Limpo
19h – A periferia como produtora de Cultura de Cura” -Elania Francisca
21h – Cânticos as 12 Deusas – Raíssa Padial Corso

04 de Março
12h – Doação de mudas Feira de Quinta14:00 Performance Dança Cigana – Grupo Luares
15h – Da Compostagem ao Suco – Gaya e Salomão
16h – Poesias para o Novo Mundo
16h – Hortas Urbanas – Clodoaldo Cajado
19h – Mesa Masculinidades Luan Luando e Marlon Luz
19h – Oficina Cosméticos Naturais – Jesuana Sampaio (Curso Fechado 15 vagas)

05 de Março
11h30 às 14h30 – Cozinhando com Tia Lola
14h – Poesias para o Novo Mundo
14h30 – Performance La Loba – Lua Rodrigues
15h – Uso Terapêutico dos Cristais – Lua Sato
16h – O Que é Isso Doutora? Ayô Oliveira Entrevista Alana Benevides
18h – Mesa Habitação, Permacultura e Moradia – Sirlene Araújo, Irene Maestro e Santiago Quill
20h30 – Show Uma Luiza Pessoa

06 de Março
11h-  Vegetarirango – Flávio Giusti
13h30 – Mulheres na Ciência – Alana Benevides
15h – Poesias para o Novo Mundo
16h – Intervenção Palhaço – Deco
16h20 – O Palhaço, a Poesia e as Sete Leis Herméticas e os 7 Pecados Capitais- Luan Luando
19h – Documentário “Carolina” (Pilar) Camilla Lima + Pedro Lucas e Dandara Pilar
21h – Tocando Memórias – Adriani Diniz

07 de Março
14h – Show Cantigas de Lá-Calé Alencar e Marlon Luz
16h – Sarau Diálogos de um novo Mundo – União Akasha
18h – Show ” Acreditar” – Mari Ananias
19h –  Show de Encerramento

#SeLiga 

IV Feira Afetiva da União Akasha
28 de fevereiro a 07 de março
Pelas redes sociais da União Akasha: Facebook, Instagram e Youtube.