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Marketplace conquista morador e empreendedor da quebrada

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Preços baixos, boa visibilidade e a presença garantida de moradores da quebrada. Esses são os principais atrativos que estão levando empreendedores a criar lojas eletrônicas no Shopee, um shopping digital que vem reunindo uma série de marcas criadas por moradores das periferias.

Gustavo postando seus produto em sua loja virtual (Foto: Fabio Dasmaceno)

Criar uma loja virtual para algumas pessoas pode ser algo comum, que faz parte das estratégias de vendas dentro universo do comércio eletrônico, mas para empreendedores como Gustavo é muito mais que isso. Eles acreditam na criação de uma comunicação estratégica sobre sua identidade e cultura, que busca transferir um valor através de um propósito presente na vida dos moradores das periferias e favelas.

Poderíamos definir essas palavras como construção de marca ou persona, mas para esses empreendedores o real significado vai muito mais além do que um conceito de marketing. E foi assim que Gustavo Damasceno, 19, morador do jardim Guarujá, bairro da zona sul de São Paulo, criou a marca Vestiário da Quebrada.

“Antes do empreendedorismo eu comecei jogando bola, tentando ser jogador, aí veio na minha mente o significado do vestiário né, pois quando os moleques pensam em vestiário eles imaginam o ato de entrar, trocar de roupa e sair pronto para o jogo, entendeu? Aí eu falei: ‘essa vai ser minha fita, essa vai ser minha visão, os moleques e as meninas vão entrar e sair do vestiário prontos para o jogo, vai sair com sua camiseta de time, vai sair com sua lupa, vai fazer aumentar autoestima”, vislumbrou Gustavo, relembrando a inspiração que vem direto do seu cotidiano como morador de quebrada para criar a sua marca de roupas e acessórios.

Segundo o empreendedor, ele migrou sua loja do Mercado Livre paro o Shopee, por apostar nas taxas que são menores e no potencial de venda do novo marketplace que vem chamando a atenção de consumidores e empreendedores das periferias. “No começo desse ano eu usava o Mercado Livre e trabalha só com lupa, como eu disse é enxuto, eu sabia que lupa era uma coisa que tinha mais procura, fiz pesquisa de mercado antes claro, e soube que esse era o melhor produto pra eu vender, então comecei a trabalhar só com óculos, criei um Instagram chamado Lab Lupas, que é o nome que do perfil até hoje, só que eu vi essa oportunidade da Shopee que tem taxas baixas, onde eu poderia estar vendendo mais e atraindo mais o meu público, então eu migrei pra ela”, relata Damasceno..

Após migrar para o marketplace, o criador da Vestiário de Quebrada conta que passou a identificar um potencial de público formado por moradores da quebrada. “A diferença que eu percebo na Shopee é que ela agrega mais o público da periferia, uma coisa que atrai muito são os preços baixos no início desta plataforma entendeu, e assim, quem vem de onde a gente vem não costuma comprar roupa original, costuma comprar réplica certo, comprar no Brás, final de ano é Brás, naquele pique”, afirma o empreendedor, resgatando uma cultura periférica do morador consumir roupas com cara de original, mas que na verdade são réplicas de marcas bem conhecidas.

Ele também conta que já percebeu mudanças significativa em suas vendas dentro da plataforma e principalmente no comportamento do público. “Depois que a Shopee começou a passar na TV está vindo mais pessoas das periferias. Eu já estou vendo o pessoal me chamar por gíria, assim como no Instagram, agora estou sentindo que a periferia está mais presente”, conta Gustavo.

O empreendedor faz questão de enfatizar que não atende somente o morador da quebrada e que adapta o seu estilo de venda a qualquer perfil de cliente. “Independentemente de ser voltado pra quebrada, eu trago adaptabilidade no sentido que por mais que a cultura seja daqui eu também acabo atraindo pessoas que tem um pouco mais de dinheiro, que vem comprar na minha loja e mandam mensagens em uma linguagem diferente, na qual eu como vendedor me adapto ao vocabulário deles”, explica.

Perguntamos para Gustavo se ele sentiu que seus produtos tiveram algum tratamento desigual devido ao fato dele alcançar diferentes perfis de públicos dentro das plataformas digitais, e a resposta do empreendedor foi inspiradora. “Essa parada de discriminação eu não senti, eu não recebi nenhuma mensagem, pelo fato de eu ir diretamente no meu público-alvo né, que é o pessoal daqui”, revela, ressaltando novamente sua estratégia de trabalhar em comunidade para fortalecer sua rede de consumidores.

Do ponto de vista de Gustavo, a internet foi uma ferramenta transgressora que contribuiu para o desenvolvimento de suas habilidades alinhadas com sua identidade como morador da quebrada. “Para negócios online, a internet nos dá a possibilidade de criar e ser quem a gente é, tá ligado”, opina. Ele complementa sua linha de raciocínio enfatizando que sua história pode inspirar o surgimento de outras marcas e empreendedores.

“Eles querem que a gente não tenha conhecimento, querem que a gente não estude, então a gente tem que estudar tio, a gente tem que usar a internet como meio de conhecimento, e através desse conhecimento agregar para a sociedade, independentemente de como for, precisamos nos tornar uma pessoa melhor”, conclui o empreendedor da quebrada.

“Não tenho acompanhamento psicológico”: a saga de Malúe Aba Dias para sobreviver na pandemia

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No retorno da série Relatos LGBTQIA+, a artista Malúe Aba Dias, moradora do Jardim João XXIII reflete sobre o futuro de pessoas não binárias na quebrada e o impacto da pandemia no seu direito de existir.

“Sou uma pessoa não binária e androssexual”, define Malúe Aba Dias, 21, artista que mora no Jardim João XXIII, zona oeste da cidade de São Paulo. Ela atua no movimento cultural do território onde vive, realizando saraus em espaços públicos, peças de teatro e outros eventos de cunho político e artístico.

Malúe vive com a família, na qual, mora com a sua avó, primos e o seu pai. A artista conta que ao todo convive com sete pessoas dentro de casa, e relata como é a convivência diária com os parentes, que pouco compreendem as questões de gênero e sexualidade que impactam a vida de uma pessoa não binária.

“Sempre tive um maior contato com as mulheres de casa, minha vó e minha tia, ao todo sete pessoas divididas em três casas, eu, meu pai na primeira casa, a família do meu tio na segunda, minha vó na terceira, a convivência entre eles, eu acho natural e normal, claro, todos cis, o igual se conhece e se trata muito bem, agora comigo é diferente”, diz a artista.

Segundo a moradora do Jardim João XXIII, o processo de se assumir uma pessoa não binária começou em 2018, e de lá para cá muitas coisas mudaram a sua visão de mundo. “Me assumi em 2018, me entendia como cis, usava o nome de registro, ainda me sentia atraído por mulheres, foi um choque aqui em casa, nunca pensariam que pudesse ter alguém diferente em casa, mas fui me entendendo de outras formas, hoje entendo que sou trans não binaria, atraído por homens, que se chama Malúe, mas aqui em casa não me chamam pelo nome, já tentei explicar, gritar, mas não adianta, sei que não vão evoluir”, descreve.

A maneira como é tratada pela família, por mais normal que pareça para os parentes mais próximos, deixa marcas na trajetória de vida de Malúe, que vive um constante processo de construção de identidade. “Me enxergam com outros olhos, cuidam de mim de outras formas, mas na mente e emoção deixam de lado, às vezes me sinto sozinha, por não poder contar tudo para eles, pois vão me julgar e dizer que não é certo, eu sei que é sim, este sou eu, queira eles ou não, não vou voltar pra um armário que vivi por 19 longos anos, um dia sairei daqui e vou voar que nem uma borboleta”, afirma.

O pronome pessoal em terceira pessoa ‘ele ou ela” não se encaixa de maneira apropriada para se referir a o gênero não binário, pelo fato das pessoas que assumem essa identidade de gênero não se reconhecem como homem ou mulher, portanto, se identificam como um gênero neutro. Essa compreensão abre margem para que a forma de se referir a elas mude por completo.

Malúe faz questão de explicar o que é androssexual e conta como enxerga seu corpo. “É quase homossexual, mas como não me entendo como homem não seria assim, ou seja, androssexual é uma pessoa que sente atração por homens, seja trans ou não. Sou uma pessoa preta, gorda, forte, que sempre está em mudança, ama cantar, canto desde sempre, mas profissionalmente desde 2019.”

Como será o futuro? 

A maior preocupação que atravessa os pensamentos de Malúe é sua condição socioeconômica, que parece não dar sinais de melhora. “Eu acho que a maior dificuldade é não ter um emprego, não poder ter uma estabilidade financeira, ajudar em casa, comprar roupas e makes, porque tendo essa pequena estabilidade, você saindo pra trabalhar, comprar suas coisas, seu equilíbrio emocional, no meu caso, vai se igualando, angústia e medo vão indo embora por alguns momentos”, argumenta.

Mesmo diante desse cenário, a artista não deixa enxergar o futuro. “Eu estou tentando enxergar as coisas daqui para frente de uma forma positiva, que vamos sair dessa, já passamos por outras pandemias, não tirando a importância e letalidade que a covid-19 tem, creio que a sociedade em questão de direitos vai ser muito difícil de mudar, principalmente o patriarcado que está enraizada em nós, mas acho que com luta, com pessoas pretas, mulheres, indígenas, LGBTQIA+ nos altos cargos de governo, com todos unidos vamos alcançar algo muito bom no futuro”, reflete.

Atenta a sua contribuição para o universo artístico, Malúe fala sobre a importância de se preparar para aprimorar seus conhecimentos, visando um futuro coletivo para quem faz cultura na quebrada. “Eu espero me aperfeiçoar mais na arte que eu estou fazendo, tentando passar meu cotidiano e de muitos outres, através da arte, na música e dança, tenho essa esperança, meu futuro é a arte”, enfatiza.

O isolamento social e o corpo LGBTQIA+ 

Em meio a pandemia de coronavírus, muitas famílias estão construindo ou não laços de afeto que não eram exercitados da melhor forma antes do isolamento social. Nesse cenário, a artista destaca como a convivência familiar está afetando a sua saúde emocional. “Eu estou um turbilhão de coisas, são muitas coisas mesmo dentro de mim, é preocupação em arranjar um trampo e fazer as tarefas que já temos que fazer dentro das nossas vidas”, relata.

Aba Dias lembra que outro fator que mexe com sua estrutura emocional é a forma como os familiares demonstram se importar com você. “Dentro de casa se importam comigo, mas de uma forma que impede minha existência, eu tento entendê-los, mas não tenho nenhum acompanhamento psicológico, conheço pouco, mas também nem procurei muito, acho que por falta de tempo e dinheiro para me preocupar sabe.”

A aceitação do gênero e da sexualidade é um dos pontos que mais afetam o bem-estar da artista, que vive em busca de um apoio para lidar com situações adversas do cotidiano. “Para uma pessoa como eu, que se vê sozinha dentro de casa, não tendo a aceitação de quem se convive todos os dias, é complicado demais, porque não vemos ali um apoio, vemos os mesmos olhos julgadores que na rua, e ficar presa dentro de casa vai nos afetar com ansiedade, depressão e muitos outros distúrbios mentais”, avalia.

O dilema da não aceitação dentro de casa causa impactos severos na artista, como por exemplo, a necessidade de sair de casa para conseguir respirar outros ares. “Eu tenho ansiedade e essa falta de aceitação dentro de casa me faz sair, mesmo na pandemia eu sigo tendo todos os cuidados e usando todos os protocolos, máscara, álcool em gel, graças aos deuses não peguei esse maldito vírus, fico triste por ver jovens como eu não ligando realmente pra isso, saindo pra longe sem máscara e sem distanciamento, mas fazer o que, não temos uma mansão, uma piscina dentro de casa pra ficar, não tem nada que nos faça manter-se em casa”, avalia Malúe. 

Malúe Aba Dias mora no distrito do Jardim João XXIII, território onde ela afirma se sente mais segura. 

Me sinto mais segura aqui na minha quebradinha

Malúe Aba Dias, 21, moradora do Jardim João XXIII, zona oeste da cidade de São Paulo

Desde 1999, a artista mora no Jardim João XXIII, território que Malué considera o “fundão da zona oeste”. No seu ponto de vista, um dos diferenciais do bairro onde mora é a união entre os moradores.

“Sinto que o povo aqui de certa forma é unido, quase todo final de semana tendo um baile, um churrasco (infelizmente ainda nesta pandemia), gosto dessa união, aqui não vemos muita cultura, como há em outras regiões, até tem, mas geralmente os artistas ficam dentro de suas casas e vão se apresentar fora daqui”.

É no Jardim João XXIII que Malúe encontra sua rede de apoio, formada pelos próprios moradores do território. “A minha roda de amigos reside aqui, são quase que meus vizinhos, todos LGBT’s, são a minha rede de apoio, querendo ou não, são eles que me aceitam do jeito que sou, e uma parte dessa rede também é a minha família, que me fez ser que eu sou hoje, me deu fundamentos para ser a Malúe, mesmo eles não me aceitando eu os agradeço, sem eles não estaria aqui, mas eu e os amigues sempre estamos em alguma ação cultural aqui, mas é difícil, é um bairro que não teve uma inserção cultural antes, mas seguimos tentando e vamos conseguir”, conta, afirmando que neste momento está preparando uma proposta de projeto para o VAI, programa de valorização de projetos culturais destinado a coletivos artísticos das periferias de São Paulo.

Ao analisar a forma hostil como a cidade de São Paulo trata a população LGBTQI+, Malúe garante que se sente à vontade para circular em sua quebrada, mas que esse sentimento muda quando pensa em outras regiões da cidade. “Pensando na São Paulo toda, querendo ou não me sinto mais segura aqui na minha quebradinha, estou rodeada por pessoas que já me conhecem e de alguma forma vão correr por mim e vice-versa, o centro é mais aleatório, um corpo como o meu, preto, lgbt, ainda é um alvo, pensar como vou me vestir, me portar, não digo que nas margens não é assim também, porque tem seus casos, mas é algo que não acontece todo hora”, acredita. 

Jardim João XXIII – Zona Oeste ( Foto: Malúe Dias)

Canto pra que a pele preta e lgbt sempre estejam em nossos ouvidos

Malúe Aba Dias, 21, moradora do Jardim João XXIII, zona oeste da cidade de São Paulo 

A arte de cantar faz parte do processo de construção social e política de Malúe. A poética do canto a motiva a seguir em frente, para espantar suas frustrações. “A arte me fortalece muito, é nela que despejo minhas frustrações, alegrias, lágrimas, sorrisos, a arte está na minha raiz, nós pretos criamos o pop, jazz, blues e o rock, tornamos possível a ida do homem branco à lua. Eu canto para espantar os maus, canto para que a pele preta e lgbt sempre estejam em nossos ouvidos”.

Mas foi em um espaço de formação audiovisual que aconteceu o processo de percepção e construção de identidade da artista. “Fazer um curso do Instituto Criar, um curso de audiovisual voltado para pessoas pretas e que moram nas margens foi um boom na minha mente e no meu jeito de ser, conheci pessoas trans, lésbicas, gays, e ali fui entendendo que eu não era cis, muito menos bissexual, e que era tudo bem ser assim”, afirma.

Relembra que com cerca de 10 anos já percebia que tinha um comportamento diferente dos outros ditos meninos. Na escola sempre andava com as meninas e já sabia que sentia algo pelos meninos.

“Eu reprimia isso demais porque achava que era algo ruim e que não iriam me amar”, conta o artista, relembrando que antes do ano de 2019 nunca teve contato com pessoas Lgbts., e que a partir do curso, sua vida ganhou outro sentido para construir uma história livre de estereótipos e pressões psicológicas.

Motorista de ônibus do Grajaú usa Tik Tok para mostrar amor pela profissão

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Morador do Grajaú afirma que seu cotidiano mudou há um ano, após a descoberta do aplicativo de vídeos curtos e gostar da experiência de mostrar o seu trabalho nas redes sociais.

Jefferson Oliveira filmando seu onibus de trabalho (Foto Ramildo Francisco)

O Tik Tok tem revelado muitos moradores das periferias que tem a habilidade de contar histórias de vida carregadas de vivências sociais e culturais, por meio de vídeos que duram no máximo 15 segundos. O roteiro e o cenário desses vídeos são baseados no cotidiano do morador da quebrada, característica que vem chamando a atenção e engajando muitos seguidores em pouco tempo.

Esse é um pequeno resumo da história do Tik Toker Jefferson Oliveira, 36, morador do Jardim Reimberg, bairro localizado no distrito do Grajaú, zona sul de São Paulo. Ele conta que tudo começou como uma brincadeira e hoje se tornou um movimento importante para ele revelar o amor pelo seu trabalho. “Uma simples brincadeira se tornou um hobby de quase 4.200 seguidores, e cada dia estou conquistando mais seguidores fazendo o que eu gosto né, que é dirigir, e sou apaixonado pela minha profissão, tudo que você faz com amor é carinho sai bem feito né “, afirma o motorista.

O morador do Grajaú conta que trabalha como motorista de ônibus há 10 anos, mas foi há cerca de um ano que ele criou o perfil no Tik Tok chamado @Robozao920, que hoje possui 4.532 seguidores. Suas postagens têm mais de 30 mil likes. O público do que interage com seus vídeos assiste a rotina de um condutor de transporte público que acima de tudo ama o que faz e se preocupa com o bem-estar dos seus passageiros e com as adversidades no trânsito da cidade.

Confira o perfil do motorista no Tik Tok.

“Baixei o aplicativo por um acaso há mais ou menos um ano, porque eu sempre gosto de conhecer aplicativos novos, e de uma brincadeira se tornou um hobby fazer os vídeos, divulgar meu trabalho, a paixão que sinto por ônibus, não só por ônibus, mas por carro em geral”, relata Oliveira.

Ao falar sobre aa experiência de produzir pequenos vídeos sobre o seu cotidiano, o motorista enfatiza que um dos principais assuntos recorrentes nos vídeos aborda o cuidado em dirigir um veículo motorizado que está presente na vida de diversas pessoas periféricas, que o acompanha durante algumas horas do dia na ida e volta para casa.

“Eu cuido dele como se fosse meu, até minha esposa às vezes tem ciúmes dele de tanto que eu cuido desse carro, cuido até demais”, confessa Oliveira, demonstrando sua paixão pelo ônibus, que ele apelidou com um nome curioso e explica o seu significado. “Chamo de Robozão porque é um ônibus de 23 metros, que na cidade de São Paulo não é tão comum, é um ônibus grande, e 920 , porque é o prefixo dele, é o número de identificação dele e da empresa, então a gente apelidou ele de robozão920”, descreve.

Oliveira relata que não prepara um roteiro ou cronograma de posts para produzir seus conteúdos, pois o objetivo é ser bem natural e rotineiro. “Geralmente é espontâneo. Eu vejo oportunidade de fazer os vídeos, eu viciei em fazer os vídeos, então do nada, quando eu vejo a oportunidade de fazer os vídeos eu já estou fazendo “, conta.

Ele revela que também recebe alguns vídeos de pessoas que transporta no dia a dia e que compartilham do mesmo cotidiano. “Algumas pessoas me enviam os vídeos ou quando eu passo na rua algumas pessoas que me conhecem fazem o vídeo e me enviaram pelo WhatsApp”.

Atento às leis de trânsito e a segurança do público que transporta, Oliveira diz que quando o veículo está em movimento pela cidade recebo apoio do cobrador para realizar as filmagens. “Eu tenho auxílio do cobrador que trabalha comigo, ele me ajuda também nas gravações, que geralmente precisa de uma segunda pessoa gravando, mas é espontâneo”.

Oliveira finaliza a entrevista explicando que não se considera um sujeito criativo, ele nos conta que a sua presença no Tik Tok vem da habilidade que ele desenvolve a cada dia como motorista de ônibus. “Na nossa profissão cada dia é um conhecimento novo que a gente aprende, é uma situação nova, a gente acaba aprendendo a lidar com aquela situação, é com a habilidade no volante que você aprende, você nunca sabe tudo, você sempre vai aprendendo como lidar com situações diferentes, como se comportar, habilidade e conhecimento eu digo que vem do fato de eu trabalhar com um ônibus moderno com a grande tecnologia embarcada “, conclui. 

Motorista de ônibus do Grajaú usa Tik Tok para mostrar amor pela profissão

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Morador do Grajaú afirma que seu cotidiano mudou há um ano, após a descoberta do aplicativo de vídeos curtos e gostar da experiência de mostrar o seu trabalho nas redes sociais.

Jefferson Oliveira filmando seu onibus de trabalho (Foto: Ramildo Francisco)

 O Tik Tok tem revelado muitos moradores das periferias que tem a habilidade de contar histórias de vida carregadas de vivências sociais e culturais, por meio de vídeos que duram no máximo 15 segundos. O roteiro e o cenário desses vídeos são baseados no cotidiano do morador da quebrada, característica que vem chamando a atenção e engajando muitos seguidores em pouco tempo.

Esse é um pequeno resumo da história do Tik Toker Jefferson Oliveira, 36, morador do Jardim Reimberg, bairro localizado no distrito do Grajaú, zona sul de São Paulo. Ele conta que tudo começou como uma brincadeira e hoje se tornou um movimento importante para ele revelar o amor pelo seu trabalho. “Uma simples brincadeira se tornou um hobby de quase 4.200 seguidores, e cada dia estou conquistando mais seguidores fazendo o que eu gosto né, que é dirigir, e sou apaixonado pela minha profissão, tudo que você faz com amor é carinho sai bem feito né “, afirma o motorista.

O morador do Grajaú conta que trabalha como motorista de ônibus há 10 anos, mas foi há cerca de um ano que ele criou o perfil no Tik Tok chamado @Robozao920, que hoje possui 4.532 seguidores. Suas postagens têm mais de 30 mil likes. O público do que interage com seus vídeos assiste a rotina de um condutor de transporte público que acima de tudo ama o que faz e se preocupa com o bem-estar dos seus passageiros e com as adversidades no trânsito da cidade.

“Baixei o aplicativo por um acaso há mais ou menos um ano, porque eu sempre gosto de conhecer aplicativos novos, e de uma brincadeira se tornou um hobby fazer os vídeos, divulgar meu trabalho, a paixão que sinto por ônibus, não só por ônibus, mas por carro em geral”, relata Oliveira.

Ao falar sobre a experiência de produzir pequenos vídeos sobre o seu cotidiano, o motorista enfatiza que um dos principais assuntos recorrentes nos vídeos aborda o cuidado em dirigir um veículo motorizado que está presente na vida de diversas pessoas periféricas, que o acompanha durante algumas horas do dia na ida e volta para casa.

“Eu cuido dele como se fosse meu, até minha esposa às vezes tem ciúmes dele de tanto que eu cuido desse carro, cuido até demais”, confessa Oliveira, demonstrando sua paixão pelo ônibus, que ele apelidou com um nome curioso e explica o seu significado. “Chamo de Robozão porque é um ônibus de 23 metros, que na cidade de São Paulo não é tão comum, é um ônibus grande, e 920 , porque é o prefixo dele, é o número de identificação dele e da empresa, então a gente apelidou ele de robozão920”, descreve.

Oliveira relata que não prepara um roteiro ou cronograma de posts para produzir seus conteúdos, pois o objetivo é ser bem natural e rotineiro. “Geralmente é espontâneo. Eu vejo oportunidade de fazer os vídeos, eu viciei em fazer os vídeos, então do nada, quando eu vejo a oportunidade de fazer os vídeos eu já estou fazendo “, conta.

Ele revela que também recebe alguns vídeos de pessoas que transporta no dia a dia e que compartilham do mesmo cotidiano. “Algumas pessoas me enviam os vídeos ou quando eu passo na rua algumas pessoas que me conhecem fazem o vídeo e me enviaram pelo WhatsApp”.

Atento às leis de trânsito e a segurança do público que transporta, Oliveira diz que quando o veículo está em movimento pela cidade recebo apoio do cobrador para realizar as filmagens. “Eu tenho auxílio do cobrador que trabalha comigo, ele me ajuda também nas gravações, que geralmente precisa de uma segunda pessoa gravando, mas é espontâneo”.

Oliveira finaliza a entrevista explicando que não se considera um sujeito criativo, ele nos conta que a sua presença no Tik Tok vem da habilidade que ele desenvolve a cada dia como motorista de ônibus. “Na nossa profissão cada dia é um conhecimento novo que a gente aprende, é uma situação nova, a gente acaba aprendendo a lidar com aquela situação, é com a habilidade no volante que você aprende, você nunca sabe tudo, você sempre vai aprendendo como lidar com situações diferentes, como se comportar, habilidade e conhecimento eu digo que vem do fato de eu trabalhar com um ônibus moderno com a grande tecnologia embarcada “, conclui. 

Afetos em pandemia

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Pense num texto que já de início, é um desafio escrever. Refletir e mergulhar em meio a sentimentos tão conturbados e atravessados. Vamos, se achegue aqui comigo, vai que temos algo pra trocar!?

Campo Limpo, São Paulo, 2015 – Foto: @DicampanaFotoColetivo

Nesses últimos dias tenho percebido a cria bem mais dengosa, manhosa, birrenta. Às vezes é comum do crescimento, construímos e experimentamos variados dramas de controle (pesquisa sobre, é massa) para atender nossas demandas de fome, afeto, prazer, higiene, dentre outras coisas. Então nesse balaio tem choro, tem birra, tem às vezes até uma febre, que alguns ainda adultos também têm, só para termos aquele colinho bom, aquele cuidado e uma atenção maior dedicadas a nós.

Em meio a isso, essa pandemia nos tira do convívio social, da interação tão básica e estruturante de nos tornar humanos, as crianças brincando na rua, a relação com crianças mais velhas e mais novas, nos instigando, provocando a curiosidade, a ousadia, nos levando a experimentações de nós mesmos e de nós com o outro.

Isso tudo nos dá prazer, alegria, ânimo, disposição e para a cria não é diferente. Estar somente com seus pais, as vezes repetidas vezes com as mesmas brincadeiras, brinquedos, ambientes, gera estresse, desgaste. Num momento tão criativo, tão sensível e desejoso de estímulos para compor e nos estruturar no caminho do crescimento.

Por outro lado, o do pai, fico buscando (já que sou autônomo) trabalhar mais na semana que não estou com ele, para que em nossa semana juntos, possa dedicar maior tempo a ele. Mas esse não é o mundo real, as agendas de trabalho não são construídas com base unicamente em nossas necessidades particulares, então sempre tem um demanda, uma agenda, uma reunião para fazer, um cliente para atender e a necessidade do apoio familiar para ficar com a cria, já que ainda não tem creche com todo mundo vacinado e segurança garantida em meio a variações de cepas e humores governamentais, diga-se de passagem.

Moro ao lado da casa da minha mãe, consigo, as vezes, demandar um dia da semana para focar mais no trabalho, mas é engraçado como as dinâmicas me afetam, por exemplo:

  1. Se minha irmã desce para minha casa e me ajuda cuidando dele aqui, metade da minha atenção está voltada para o trabalho e outra metade, senão 70%, aos sons que a cria ta fazendo, chamando papai, chorando, não querendo comer, não querendo tomar banho ou dormir, coisas que você sabe – se eu fizer assim, assado, talvez dê para dar só um pulinho ali e dar uma atenção para ele.
  2. Já se ele sobe e fica na casa da vó, eu consigo focar mais, mas ao mesmo tempo, trabalhando uma parte com a cabeça na cria e outra parte na agenda depois que pegar a cria.

 

Primeiro que eu só tenho a agradecer, que mesmo em pandemia, tenho uma rede de apoio próxima, a menos de um minuto. Sei que uma par de manas, monas e manos estão com suas famílias longes e é maior corre.

Mas seguindo! Por esses dias tenho pensado: “puxa cara, se está com sua mãe, foca, ou mesmo, se está próximo ouvindo, foca, confia, entrega”.

Uma parte é controle, uma parte é culpa de não estar 100% toda hora, outra parte é dengo mesmo rs. Mas há também o que trouxe nas primeiras linhas, em meio a pandemia a criança está mais constante com os pais, cortar o cordão umbilical fica sendo mais difícil. Ouvi de uma amiga: “Dimas, são as crianças da pandemia”. Nossas crianças em sua maioria estão isoladas e restringidas em sua relação com o mundo, isso torna ainda maior e mais intensa a referência pai/mãe/pãe.

Nesse vuco todo, que até o texto ficou muvucado, não tenho conclusão, só um compartilhar de momento e buscando refletir, me dizer que está tudo bem não estar todas as horas do dia voltado a cria, ou ver ele chorando porque tu foi ali comprar uma fralda, faz parte e é necessário, mesmo neste contexto atual, dialogar e construir com a criança um entendimento desses processos, para que ela possa entender os diferentes momentos e demandas que nos vêm.

Desenrola indica 4 espetáculos de teatro gratuitos para assistir online

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Separamos quatro peças de teatro que estão com exibição gratuita e online durante as próximas semanas e são realizadas por grupos que atuam a partir dos territórios e contextos periféricos.

Espaço Clariô – Foto: Fernando Solidade

Como forma de continuar oferecendo ao público acesso à cultura e lazer de maneira segura durante a pandemia de covid-19, muitos artistas da quebrada adaptaram seus trabalhos para o formato online. O mesmo aconteceu com grupos e coletivos do teatro, que passaram a produzir e distribuir seus espetáculos para o público, por meio de plataformas online.

O Desenrola selecionou quatro espetáculos que estão acontecendo de forma online e que são gratuitos para você acompanhar ao longo dos próximos dias. As apresentações abordam desde temas como relações familiares até a obra de Carolina Maria de Jesus. Além das peças que estão previstas para acontecer nos próximos dias, os grupos possuem outros espetáculos e atividades que desenvolvem ao longo do ano. Confira:

Jardim Vertical – Grupo Pandora 

Segundo o grupo, o espetáculo retrata a realidade de uma família que opta por se isolar do mundo exterior em um seguro apartamento no quadragésimo sétimo andar de um edifício, trazendo à tona aspectos significativos da sociedade. A peça reflete sobre as relações familiares na contemporaneidade e a falsa ideia de segurança.

O espetáculo acontece entre os dias 22 e 27 de abril, com sessões às 17h, 19h e 21h, pela plataforma Zoom. A atividade faz parte do projeto aprovado pelo Edital Proac Expresso Lei Aldir Blanc. Clique aqui e adquira o ingresso gratuito.

Sediado no bairro de Perus, região noroeste de São Paulo, o Grupo Pandora de Teatro possui 17 anos de atuação e tem como uma de suas abordagens artísticas a história do bairro de Perus e do Brasil, suas injustiças sociais e suas problemáticas, através de uma intervenção poética que exalta a força da teatralidade. Há cinco anos, o grupo ocupa o Cine Teatro Pandora – Ocupação Artística Canhoba, espaço público que foi transformado por coletivos culturais de Perus em um polo cultural aberto ao público, fortalecendo o fazer artístico como um ato social e político dentro do bairro.

Serviço: “Jardim Vertical”

Datas:

22 de abril de 2021 (quinta-feira) sessões às 17h e 21h

23 de abril de 2021 (sexta-feira) às 21h

24 de abril de 2021 (sábado) sessões às 17h e 21h

25 de abril de 2021 (domingo) às 19h

26 de abril de 2021 (segunda-feira) às 21h

27 de abril de 2021 (terça-feira) sessões às 17h e 21h

Onde? Link para ingresso online e gratuito

Siga nas redes sociais: Instagram Grupo Pandora

Um canto para Carolina – Cia dOs Inventivos 

A companhia volta a apresentar, agora de forma online, o espetáculo infanto-juvenil “Um canto para Carolina”, inspirado no livro “Quarto de despejo”, uma das principais obras da escritora Carolina Maria de Jesus. As apresentações desta temporada vão até o dia 27 de abril e estão sendo exibidas através do canal do Youtube da companhia.

A peça será apresentada para grupos agendados como Escolas, Fábricas de Cultura e Etecs, mas parte dos ingressos será aberto para o público em geral. Para a realização do espetáculo, o grupo foi contemplado pelo edital Proac Lab Expresso.

A Cia dos Inventivos atua no movimento do teatro de rua desde 2008 e constroem seus repertórios a partir da estética e aprofundamento no movimento.

Serviço: “Um canto para Carolina”

Datas: Temporada abril de 2021, próximas datas.

20/04 – 10h

21/04 – 10h

23/04 – 09h30

27/04 – 9h

Onde? Youtube Cia dos Inventivos.

Siga nas redes sociais: Instagram Cia dOs Inventivos.

Para mais informações enviei e-mail para: espacoculturalinventivo@gmail.com

Memórias da Rabeca – Cia. Mundu Rodá 

A Cia. Mundu Rodá está apresentando o espetáculo “Memórias da Rabeca”. Segundo o grupo, a peça busca exaltar a poética de rabequeiros brasileiros e a luta pela preservação dessa cultura, onde o espetáculo fala sobre memórias guardadas por sete rabecas, falando sobre histórias, personagens e memórias de rabequeiros brasileiros, colocando em foco dinâmicas das relações entre o humano e a rabeca.

Ao final de cada apresentação o grupo realiza um bate-papo com integrantes da equipe de criação do espetáculo e mestres rabequeiros convidados. O espetáculo tem tradução em libras e acontece através do facebook e youtube do grupo, sempre às 19h.

Serviço: Memórias da Rabeca

Datas: 16 a 21 de abril de 2021, às 19h00.

Onde? Facebook e Youtube da Cia Mundu Rodá

9° Mostra Internacional Mario Pazini de Teatro do Gueto – Grupo Clariô de Teatro 

O Grupo Clariô de Teatro deu início no dia 17 de abril a 9° Mostra Internacional Mario Pazini de Teatro do Gueto. A programação vai até dia 29 de abril e conta com espetáculos, shows e debates com a participação de artistas convidados. A mostra será transmitida pelo canal do youtube do Espaço Clariô, sempre às 20h.

Além da participação de companhias de teatro de São Paulo, como a Cia Os Crespos, Coletivo Negro e Cia do Sal, a mostra também terá a participação de companhias de outros estados e países, como o Grupo Formosura do Ceará, e Fundação Olho D’Agua da Colômbia.

Com quase 20 anos de história, o Grupo Clariô de Teatro pensa e produz no cenário artístico a partir de sua ligação e atuação nas periferias. O trabalho do grupo está enraizado no município de Taboão da Serra, região metropolitana de São Paulo, local onde desde 2005 o grupo mantém sua sede, que se tornou um espaço de referência cultural no território, abrigando diversas outras iniciativas.

Serviço: 9° Mostra Internacional Mario Pazini de Teatro do Gueto

Datas:

Dia 19 De Abril – Núcleo Toada – Sp | Pagu, Anjo Incorruptível | Classificação 12 Anos

Dia 20 De Abril – Grupo Caras Pintadas – Mg | Mata Rasteira |Classificação Livre

Dia 21 De Abril – Grupo Formosura – Ce | Duplicité | Classificação Livre

Dia 22 De Abril – Mesa “Teatro De Guetos Em Tempos De Isolamento” | Convidades: Emilce Gonzales / Daniel Veiga / Luiz Carlos Laranjeiras / Interprete Espanhol: Juan Velasquez / Mediação: Naloana Lima | Classificação Livre

Dia 23 De Abril – Coletivo Negro – Sp | Preta Rainha | Classificação 14 Anos

Dia 24 De Abril – Fundação Olho D’água – Colômbia |Wüin, Agua En Wayunaiki | Classificação Livre

Dia 25 De Abril – Grupo Famíla – Sp | Canto De Fraldas | Classificação Livre

Dia 26 De Abril – Barbara Leite Matias – Cariri/Ce | Cardinal | Classificação Livre

Dia 27 De Abril – Cia De Teatro De Bonecos Vira Toco – Ba | Zaiza E A História Do Tear | Classificação Livre

Dia 28 De Abril – Cia Do Sal – Sp | Macacos | Cia Do Sal | Classificação 14 Anos

Dia 29 De Abril – Lenna Bahule – Moçambique | Show: Mcika | Classificação Livre

Onde? Youtube Espaço Clariô. Instagram Grupo Clariô.

Essas são algumas das peças que irão rolar nos próximos dias, mas as companhias continuam criando e estreando espetáculos durante o ano todo.

Coletivo Coletores vira referência de vídeo projeção nas periferias

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Artistas visuais mostram como a técnica do vídeo projeção que se tornou parte da paisagem de prédios no centro de São Paulo durante a pandemia, pode ganhar as quebradas e se transformar em uma linguagem artística e autônoma para informar moradores. 

A criatividade dos artistas visuais Toni Baptiste, 36, e Flávio Camargo, 44, transformou a técnica elitizada de vídeo projeção em linguagem artística voltada para as periferias da cidade de São Paulo. Juntos, eles formam o Coletivo Coletores, um dos principais precursores desta linguagem que foi disseminada ainda mais por conta da pandemia de covid-19.

Com restrições à circulação de pessoas pela cidade, a vídeo projeção conquistou as ruas e foi exibida pelas redes sociais e canais de streaming. A ocupação da cidade com arte e tecnologia foi alcançando as telas dos celulares e é tema de uma formação gratuita e virtual ministrada pelo Coletores e realizada pelo Centro de Mídia M’ Boi Mirim, espaço de trabalho compartilhado e formação para comunicadores das periferias.

Os artistas formaram o coletivo em 2008, durante a graduação em Artes Visuais e ambos eram professores da rede pública. “Quando conhecemos a vídeo projeção, tínhamos menos recursos do que temos hoje. Compramos projetor para dar aula e usamos este mesmo projetor para fazer as nossas ações artísticas”, conta Toni Baptiste, que é morador da Vila Flávia, bairro do distrito de São Mateus, zona leste de São Paulo.

A vídeo projeção na pandemia  

Em março de 2020, momento que marcou a chegada da pandemia nas periferias de São Paulo, todas as atividades que o Coletores tinha programado foram canceladas. Como muitas das famílias das periferias, os artistas tiveram parentes e vizinhos infectados e também vítimas da covid-19.

Com o distanciamento social, foi possível acompanhar pelas redes sociais que muitos grupos que trabalham com vídeo projeção em uso comercial ou de entretenimento, passaram a utilizar a técnica para trazer mensagens de conforto e reivindicações no contexto da pandemia.

“A maioria dessas projeções eram no centro de São Paulo, de pessoas que moravam em apartamentos na região e que tinham uma vista privilegiada, para que elas pudessem da própria janela ter um grande paredão para projetar. Essa informação circulava apenas no circuito da vídeo projeção e quando tinha uma mensagem conveniente, a grande mídia divulgava”, conta Toni sobre como essas ações eram restritas e não dialogavam com as periferias.

Ainda em 2020, surgiu um convite do CPDOC Guaianás (Centro de Pesquisa e Documentação Histórica Guaianás) para fortalecer uma manifestação contra a reabertura de um shopping em Itaquera, zona leste. Além dessa pauta, a manifestação também reivindicava um hospital de campanha na zona leste, que era na época a região do estado de São Paulo onde mais havia vítimas de coronavírus. Com equipamentos simples, o Coletores fez de forma independente nesta manifestação a “projeção de guerrilha”, que também é um dos temas da formação ministrada em parceria com o Centro de Mídia M’Boi Mirim.

Em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura, o coletivo também fez uma outra ação de vídeo projeção em equipamentos de saúde. Com equipamentos dentro de uma kombi, o Coletores saiu pelas ruas da zona leste para homenagear os profissionais de saúde que são linha de frente no combate à pandemia, além de trazer mensagens de conscientização.

Subvertendo o equipamento, criando uma linguagem 

Interessados em pensar a arte urbana para além das linguagens tradicionais como o grafitti e o pixo, o Coletores desde suas primeiras ações se empenhou em utilizar criativamente uma combinação de técnicas para criar experimentações artísticas inovadoras. Passando pela fotografia, instalações, design, grafitti, animações e games, a vídeo projeção se apresentou como um desafio com amplas oportunidades.

A barreira da aquisição de equipamentos caros não intimidou o Coletivo Coletores, como conta Flávio. “A gente pensa a projeção como uma linguagem. A gente não pensa só no que será projetado, o conteúdo em si. Temos um modo de fazer. Muitas vezes, em trabalhos que repercutem até hoje, nós tínhamos equipamentos muito aquém daquilo. Mas por a gente ter conseguido adaptar a precariedade dos nossos equipamentos à nossa linguagem, conseguimos tirar proveito disso”, compartilha o artista, que é morador de Poá, município da Grande São Paulo.

Segundo ele, durante o processo de produção das imagens e textos a serem projetados, há a curadoria e edição que burla características dos equipamentos que seriam desfavoráveis.

Um dos exemplos mais emblemáticos dos trabalhos do Coletores é a série de pesquisa iconográfica “Resistência”, que ainda está em desenvolvimento, é feita a partir de fotografias de momentos históricos da luta da população negra, indígena e periférica no mundo.

A fotografia da caminhada de 1965 liderada por Martin Luther King, militante do movimento negro nos Estados Unidos, em Selma, no estado do Alabama, foi projetada na favela da Vila Flávia, zona leste de São Paulo. Considerando o registro da ação tão relevante quanto a intervenção em si, na fotografia da atividade feita pelo Coletores é possível observar as texturas das paredes das casas, sua iluminação e partes do seu interior. Dessa maneira, a “foto da foto” torna-se uma outra obra em si porque captura as interpretações possíveis entre a vida dos moradores das periferias da cidade de São Paulo no século XXI e a luta por direitos da população negra na década de 60 em uma das regiões mais racistas dos Estados Unidos.

Aprenda a multiplicidade desta linguagem tecnológica 

A vídeo projeção, utilizada como linguagem, pode tornar o conteúdo mais dinâmico e agregar outra camada de experiência visual. Dentre os trabalhos que os Coletores já fizeram em parceria com outras coletividades e artistas, estão shows musicais e peças teatrais.

Desde o ano passado, o coletivo realizou diversas oficinas em espaços culturais, como o equipamento estadual Oficina Alfredo Volpi em Itaquera, quanto em espaços universitários como a UFABC e USP. No final deste mês, entre os dias 26 e 29, eles irão ministrar uma oficina gratuita e virtual em parceria com o Centro de Mídia M’Boi Mirim. “A gente sempre pensa a oficina como um campo aberto. De repente, o interesse da pessoa não é a vídeo projeção em si, mas a produção de conteúdo para esta linguagem, como a animação. Entendemos que esse é um ponto de partida, uma entrada a este mundo de produção. Por isso, partimos de ferramentas que sejam usadas de maneira muito intuitiva, acessível. A gente tenta mostrar que existem vários caminhos, como o da poética, para pensar a estética. E também tem um caminho da operação, que muita gente também se interessa pela matemática da coisa”, conta Flávio.

A partir destes tantos caminhos na linguagem, o Coletores selecionou quatro estilos para serem ministrados na atividade voltada para moradores das periferias, são eles: Vídeo Mapping, Vídeo Guerrilha, Projeção em Shows e Grafitti Digital, que é uma linguagem desenvolvida pelo Coletores. “Ao mapearmos o grafitti e fazermos uma projeção nele, criamos uma outra camada de interpretação dele”, acrescenta Toni sobre as novas abordagens dessa linguagem.

São disponibilizadas 30 vagas e as inscrições para a Oficina de Vídeo Projeção ficam abertas até o dia 22 de abril ou até o número de vagas serem atingidos por ordem de inscrição. Para fazer a inscrição, é necessário acessar este link. As aulas acontecem das 19h às 21h e serão ministradas pelo aplicativo Google Meet, sendo que o contato com os inscritos será feito pelo WhatsApp.

Projeto oferece bolsa para jovens que movimentam a cultura periférica

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A plataforma FIXE oferece seis vagas para a juventude periférica participar de um programa de pesquisa e curadoria artística. Cada jovem curador selecionado receberá uma bolsa no valor R$ 1.000,00 reais. 

Batalha de rima organizada por jovens do Jardim Ângela, território que faz parte do programa. (Foto: Thais Siqueira)

A plataforma FIXE está com inscrições abertas para selecionar seis jovens que atuam com cultura nas periferias de São Paulo, para participar de um programa de bolsas de pesquisa e curadoria artística. As inscrições podem ser realizadas até 18 de abril no site da Fixe (www.festivalfixe.com.br), que também publicará o resultado da seleção no dia 20 de abril.

Jovens que atuam com cultura e residem nos distritos de Bom Retiro, Brás, Brasilândia, Campo Limpo, Capão Redondo, Cidade Ademar, Cidade Tiradentes, Grajaú, Iguatemi, Itaim Paulista, Jaraguá, Jardim Ângela, Lajeado, Marsilac, Parelheiros, Pedreira, Perus, São Mateus, São Rafael, Sapopemba, Tremembé, Vila Andrade, Vila Curuçá, Vila Maria e Vila Medeiros podem se inscrever no programa.

Segundo a organização do programa, esses territórios foram escolhidos por possuírem o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) com os níveis médio ou baixo na dimensão da educação. Para se inscrever, os jovens terão que ter até 25 anos, perfil ativo nas redes sociais (Facebook e Instagram), disponibilidade para participar de reuniões de equipe e mentoria durante o período de participação no projeto.

A iniciativa foi criada pela empreendedora cultural Fabiana Batistela, que também é diretora geral da Semana Internacional de Música de São Paulo (SIM São Paulo). A FIXE (lê-se “fiche”, gíria portuguesa que significa legal, com estilo e boas qualidades), reúne a produção artística e cultural de países e regiões lusófonas, ou seja, que falam a língua portuguesa.

A atuação de cada colaborador abrange as expressões do Festival Fixe: música, cinema (audiovisual), artes visuais, literatura, teatro e gastronomia, revelando outros jovens talentos das periferias da capital paulista para o Portal FIXE que atuam nessas áreas.

Cada pesquisa será desenvolvida por um mês, com mentoria indicada pelo projeto e o resultado será compartilhado em destaque nas redes sociais e no portal da plataforma FIXE.

A partir da pesquisa e curadoria, o projeto busca dar visibilidade à nova produção artística que vai revelar 36 talentos legitimados pelo próprio grupo de jovens curadores.

Saiba mais.

Chamamento Jovens Curadores Bolsistas FIXE
De 06 a 18 de abril

Inscrições no www.festivalfixe.com.br


Internet e remuneração ruim desmotivam entregadores de apps na quebrada

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Entregadores afirmam que aplicativos de entrega não levam em consideração a qualidade da internet nas periferias. Além disso, eles contam que a alta demanda de entregadores tem precarizado ainda mais a remuneração e a qualidade de vida de quem trabalha com delivery na quebrada.

Créditos: DiCampana foto coletivo

 Através de um anúncio nas redes sociais, Christopher Augusto, 22, morador do bairro Parque Santo Amaro, zona sul de São Paulo, conheceu as possibilidades de gerar renda se cadastrando nos aplicativos de delivery Lalamove, iFood e Uber Eats. O entregador descreve a ocasião do contato com o anúncio como “um anúncio chamativo e que nos oferece uma boa renda”.

Ele avalia essa descoberta não como uma escolha e sim como o único meio encontrado para não passar dificuldades diante de uma alta taxa de desemprego no país. “Em meio à pandemia, uma das soluções encontradas para não passar dificuldade, e sim à falta de emprego de carteira assinada é uma das causas”, afirma o entregador.

Além de fazer entregas nos aplicativos durante o dia, Augusto trabalha em uma pizzaria a noite, pois ele acredita que a dependência do aplicativo afeta diretamente na sua qualidade de vida “Se formos depender só do aplicativo para sobreviver, nós vamos ter que trabalhar como um serviço de escravo, tá ligado”, define o entregador.

O argumento de Augusto se baseia na quantidade de horas necessárias para se ter uma renda media mensal que possa apoiar no pagamento dos boletos e gastos fixos com a família. “É preciso trabalhar de 12 a 14 horas por dia pra poder manter um salário que possa nos ajudar a pagar nossas dívidas entendeu”.

Augusto explica que a concorrência por realização de entregas é outro fator que tem intensificado a precarização dos trabalhadores de aplicativos de delivery. “A demanda de motoboy está muito alta, querendo ou não se tornou uma concorrência tá ligado”.

Segundo Augusto, as despesas com gasolina e internet por mês giram em torno 700 a 800 reais, sendo que seu salário no mês fora as despesas fica em torno de 1.500 reais. O entregador ressalta que mesmo tendo um plano de internet para trabalhar, muitas vezes o serviço deixa a desejar, causando interrupção da sua rotina de trabalho.

O entregador faz questão de descrever como a internet ruim dificulta o seu trabalho. “Você chega à casa do cliente, no endereço determinado, quando você vai finalizar a entrega muitas vezes não tem internet não dá pra finalizar a corrida, muitas vezes a casa do cliente é em tal lugar e a localização dele é mais pra frente, aí você vai finalizar é não consegue também, então são algumas coisas que dificulta tá ligado, até mesmo da parte da plataforma dos aplicativos”, conta Augusto.

Outra dura realidade apontada por Augusto é o tratamento diferenciado vivenciado pelos entregadores com usuários de apps que vivem na região central de São Paulo e nas periferias. Ele relata que sua entrega nas periferias e no centro da cidade tem recepções totalmente diferentes, sendo que na quebrada o seu trabalho é mais valorizado.

“Nós sentimos que ao chegar à periferia você dá uma boa noite, bom dia ou boa tarde pro cliente, e já é automático que ele vai te responder, vai perguntar se você tá bem, não é criar uma amizade entre o cliente e um motoboy, é respeito é humildade”, conta Augusto, destacando que dá ponte pra lá o desprezo é uma constante na rotina dos entregadores.

“Eles enxergam a gente como escravos do sistema né, tipo eu to te pagando e você é obrigado a fazer isso, eu sou obrigado a falar com você e já era, até a forma de expressão da pessoa, o olhar da pessoa, entendeu pow, a cara de nojo, já na periferia não é assim, querendo ou não somos de dentro, então um tem que respeitar o outro”, descreve.

 A visão macroeconômica da quebrada

 O entregador traz um questionamento importante, fazendo uma comparação com a alta dos preços de combustíveis e a estagnação do valor das taxas de entrega que não são corrigidas pelas empresas de delivery, fator que amplia a visão de Augusto sobre a exploração do seu trabalho. “Eu espero que eles percebam que todos nós tenhamos o serviço reconhecido, da mesma forma que teve aumento no combustível tenha um aumento nas nossas taxa de entrega. Sinceramente somos explorados”, avalia.

Mesmo os aplicativos não trazendo benefícios que garanta a segurança dos entregadores, Augusto conta que a própria comunidade se organiza em busca de auxiliar os entregadores a se manter em busca de seus direitos trabalhistas. “Temos uma comunicação um com os outros, agimos como uma família a fim de ajudar um ao outro, no entanto se nós nos deparamos com motoqueiro acidentado paramos para dar uma assistência”, revela.

Ao lembrar a importância dos direitos trabalhistas que ainda precisam ser conquistados, o entregador deixa um recado para os aplicativos de entrega: “gostaria que nossos serviços fossem reconhecidos, e que seja proporcionado mais segurança com uma demanda de tempo correta e uma assistência a todos para que possamos ir adiante sem tanta exploração”.

 Autonomia na jornada de trabalho

Atuando como entregador nos aplicativos iFood e Uber Eats, Paulo Henrique, 25, morador do Parque Pinheiros, município de Taboão da serra, afirma que uns dos principais motivos para sair de um emprego com registro em carteira e se tornar entregador de aplicativos foi a possibilidade da autonomia na jornada de trabalho.

“Eu saí de um trabalho com carteira assinada só para fazer entregas pelo app. Posso não ter um salário e benefícios garantidos, mas a liberdade de autonomia é maravilhosa, trabalhar na hora e no dia que quero”, conta o entregador.

Durante o seu tempo livre, o morador de Taboão da Serra se dedica a desenvolver seu conhecimento com o audiovisual e a música. “Quero ser artista rico e famoso, mas até lá, preciso desenvolver muito minha arte, então por enquanto vou focar nas entregas”, comenta o motoboy, enfatizando não enxerga alternativa de geração de renda no momento até conseguir aperfeiçoar sua arte com horas de estudos.

Porém, Henrique sente as consequências da escolha pela autonomia de fazer o seu horário de trabalho. Sem uma segurança sobre o que será o presente e futuro, ele lista algumas dificuldades que ficam cada vez mais evidentes e caminham lado a lado com sua a rotina de entregador. “Estar à mercê de vários fatores externos que podem me prejudicar, como chuva, enchentes, entregas em lugares perigosos e a falta de pedido que está acontecendo com freqüência”.

Em meio a essas adversidades, o entregador conta que foi se adaptando com os desafios impostos também pela tecnologia de geolocalização dos aplicativos, que em muitos casos é imprecisa. “Muitos estabelecimentos tem a localização diferente da que mostra no app, daí até eu me acostumar com certos restaurantes eu passei alguns perrengues”.

Diferente da história do entregador Augusto, Paulo conta que utiliza um plano de internet bom, pois nunca teve problemas durante a entrega. “A internet tá sempre disponível em todos os lugares”, afirma, mas quando se trata da recepção dos clientes em territórios da periferia e centro, as vivências dos entregadores não são muito diferentes.

“Bairro rico mal olha na minha cara, enquanto na periferia sou bem acolhido pelos clientes, aliás, o rango chegou não é mesmo? aí eles ficam felizes e são bem legais comigo, dão boa noite, boa tarde”, descreve.

No final da entrevista Henrique nos conta uma dinâmica que normalmente acontece na rotina do motoboy e que representa mais um desafio imposto pelos aplicativos. “As vezes quase não tem pedido em alguns aplicativos, e é comum o motoboy trabalhar para mais de uma plataforma. Eu mesmo faço entregas para o iFood, Uber e às vezes pra Rappi. Isso é bom porque assim são três vezes mais chances de eu ter entrega para fazer. Mas o ruim, é que alguns aplicativos não autorizam o mesmo motoboy trabalhar para o concorrente, então já até ouvi casos de motoboys serem bloqueados em certas plataformas por terem mais de um aplicativo de entrega”, diz o entregador.

Ela finalizando a entrevista mandando um recado para as empresas de aplicativo: “aumenta nosso salário poxa, vocês tiraram uma taxa que já era nossa, daí tá tudo mais difícil”.

Direitos invisíveis: ações coletivas de prevenção à covid-19 orientam moradores das periferias

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Iniciativas de comunicação nos distritos da Brasilândia, Parelheiros, São Mateus e João XXIII, atuam para garantir que a população das periferias e favelas nesses territórios tenha direito à informação. Por meio de ações de comunicação que traduzem os efeitos da pandemia, esses grupos estão investindo na orientação de famílias no portão das casas, na rua ou enviando áudios pelo WhatsApp com dicas e entrevistas sobre como prevenir o contágio de covid-19.

Sem esperar por uma mudança de narrativa nos canais de comunicação de grandes grupos empresariais e sem depender do apoio do poder público, que deveria seguir a risca o artigo 5º da Constituição Federal, que diz: 

Iniciativas de comunicação nas periferias e favelas de São Paulo estão realizando ações informativas em plataformas online e offline para conscientizar os moradores sobre as formas de proteção e prevenção ao contágio do coronavírus. Será que a frase ‘fique em casa’ contempla moradores dos territórios periféricos que precisam sair para trabalhar e manter sua família? Perfil que em sua maioria são os principais responsáveis pelo funcionamento de diversos serviços essenciais da cidade.

Nos territórios onde as iniciativas de comunicação estão atuando para orientar a população, os dados sobre os números de mortos divulgados pela Secretaria Municipal de Saúde mostram a gravidade dos impactos da pandemia.

No distrito de Brasilândia, na zona norte, há cerca de 270 óbitos. Na zona leste, o distrito de São Mateus tem mais de 100 mortes, e na zona oeste já foram registrados mais de 40 óbitos no distrito de Raposo Tavares. Em Parelheiros, mais de 70 pessoas já morreram da doença causada pelo coronavírus.

Em meio a esse cenário de avanço da pandemia de coronavírus nos territórios periféricos da capital paulista, os noticiários continuam mostrando que nas quebradas a vida segue com a realização de bailes funk, aglomeração de jovens em praças e bares abertos. Mas quem deveria fazer um trabalho de conscientização desse público levando em consideração o seu modo de vida?

Essas iniciativas acreditam na importância de criar um canal de diálogo com os moradores, utilizando a vivência e o olhar de quem faz parte do cotidiano da quebrada como uma aliada para entender as variadas demandas desses locais, transformando esse repertório numa estratégia de comunicação que busca informar a população ao invés de criminalizar moradores e principalmente a juventude desses territórios, que em grande parte sempre enxergaram a rua como um caminho de fuga de diversas situações de conflitos que passam dentro das suas casas.

Em Parelheiros, zona sul, podcast ‘desuniversaliza’ os impactos da pandemia

Dados da Secretaria Municipal de Saúde mostram dos 10 distritos com maior número de mortes em São Paulo, seis deles se encontram na região sul, entre eles estão: Grajaú (267), Capão Redondo (237), Jardim São Luís (195), Jardim Ângela (240), Cidade Ademar (193), e Parelheiros (96).

Como uma alternativa à falta de ações de comunicação voltada aos moradores do território de Parelheiros, o coletivo Arque Perifa, formado por cinco jovens que atuam no distrito, criaram o podcast “Lugar de Quarentena”. A idéia é que as pessoas entendam os seus lugares, ou mesmo escutem outros lugares, sobre os impactos e as vivências no período da pandemia do coronavírus, além de fugir da ideia de que o impacto do vírus se resume apenas a pauta de saúde.

Segundo Laura da Silva, 19, produtora cultural e uma das integrantes do ArquePerifa, nas periferias a pandemia foi apenas uma lupa para várias outras questões e adversidades do cotidiano, e o podcast possibilita novos olhares para esse cenário. 

“A gente chama em cada episódio do podcast um morador para dar um relato, ou justamente nessa parada de lugar de fala, falar sobre a sua vivência de acordo com o recorte que damos para cada episódio, e também em todos os episódios tem um ativista ou especialista da causa. Normalmente a gente valoriza pessoas que sejam da região, e quando não tem essa possibilidade, a gente chama pessoas que estão pensando sobre isso em outras periferias”.

aponta.

A gravação do podcast é feita por uma plataforma de videoconferência, e distribuída através de plataformas de áudio e vídeo, além de utilizarem listas de transmissões com uma versão pocket do material para alcançar pessoas que não tem o hábito de ouvir podcast.

Laura reforça que o conteúdo do podcast não ficará acessível somente aos moradores que utilizam plataformas digitais ou celular. “A gente também quer ampliar o Lugar de Quarenta para carro de som, e panfletagem, porque a gente percebe que na nossa região a questão da internet, ou quando se tem, é muito precarizado, acaba fazendo com que a gente não atinja tantos moradores. Então a gente também vai abrir essa frente de tentar comunicar via carro de som”, compartilha.

A jovem conta que um dos objetivos do podcast é ‘desuniversalizar’ os impactos da pandemia. “Não está todo mundo no mesmo barco. Pessoas passam por determinadas situações, por determinadas questões, em níveis diferentes”. 

Ela também acrescenta: “Quando a gente conversa sobre um assunto que aborda o cotidiano da pessoa, primeiro ela tem uma identificação, tipo ‘eu passo por isso minha vida toda’, ou ‘nossa meu parente passou por isso’, ‘realmente nunca tinha pensado que era um problema’, e partir dessa reflexão a gente começa a engajar”.

Os números de casos confirmados e mortes no distrito de Parelheiros vêm aumentando, mas a capacidade do Hospital Municipal não é o suficiente para atender a quantidade de casos na região. Segundo Laura, o poder público não realiza ações de comunicação na região e isso é uma realidade que antecede o período da pandemia.

Ela afirma que a administração pública local faz publicações nas páginas de redes sociais, mas como prestação de contas sobre o que fizeram. Nunca um diálogo, ou pensando nas demandas da população e demandas da juventude principalmente. “É só uma replicação de uma recomendação geral, e não pensa nas características e necessidades daqui. E acaba que fica para a gente resolver as coisas mesmo”, relata.

A produtora cultural enfatiza que o tom político toma conta dos comunicados oficiais da Subprefeitura local. “Fora os canais oficiais, o que tem de comunicação no bairro é muito não crítico. É sempre realmente divulgando o que os políticos estão fazendo. Acaba que é uma coisa muito política, partidária, do que está sendo feito, muito comprado”, descreve.

Laura acredita que o trabalho do coletivo é inspirado num grupo de jornalistas que atuam no distrito de Grajaú, território que faz divisa com Parelheiros. “A gente tem de ajuda assim territórios próximos, como o Periferia em Movimento do Grajaú, cobrindo coisas que tem haver com nossas demandas, e a gente começou agora. Então realmente não tem muito a comunicação do poder público com a juventude, muito menos com o bairro”, finaliza a produtora.

Na Brasilândia, zona norte, trio elétrico realiza ações em parceria com agentes de saúde 

Na zona norte de São Paulo, muitas iniciativas têm buscado cobrir lacunas na região, e agora com o coronavírus vem propondo soluções para o enfrentamento da pandemia. Uma dessas iniciativas é a Rede Brasilândia Solidária, que vem atuando no enfrentamento da pandemia com mais de 200 voluntários. Formada por lideranças locais, a rede mantém uma constante articulação com agentes de saúde, assistência social, cultura e educação.

Carro de som na Brasilândia orienta moradores sobre uso de mascarás.

A Brasilândia está entre os 10 distritos com maior número de mortes em São Paulo. Segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde, os óbitos por covid-19 confirmados e suspeitos na Brasilândia somam cerca de 270 óbitos, registrados entre 11 de março e 20 de junho. Os dados mostram um aumento superior a 300% em comparação com os números de 21 de abril, que registra 67 mortes.

Consciente da importância de criar estratégias de enfrentamento a pandemia, a Rede Brasilândia Solidária está organizada em nove núcleos de ação: Saúde, Educação, Comunicação, Juventude, Cultura, Assistência Social, Trabalho e Renda, Captação de Recursos e Pessoa com deficiência. Cada Núcleo, dentro de sua especificidade realiza ações e reuniões para encontrar as melhores maneiras de fazer a divulgação de informações para combater o coronavírus no território.

“Temos uma ação que ocorre quase que cotidianamente que são os carros de som e um trio elétrico que a Rede Brasilândia com ajuda de parceiros circula pelo território. Essas ações são articuladas e organizadas em parceria com as UBS’s e Agentes de Saúde que estão distribuídos nos territórios, e consiste em divulgar, por meio de vinheta produzida pela rede, a necessidade do isolamento possível e a importância de se usar a máscara quando for sair de casa e ter contato com outras pessoas”, afirma Jabes Campos, advogado e dirigente do Instituto Saci – Saberes Culturas e Integração, organização que desenvolve projetos focados em jovens e mulheres em situação de vulnerabilidade social.

Com a possibilidade de circular por todo o bairro, o carro de som e o trio elétrico está em funcionamento desde o início da criação da Rede na Brasilândia. “As ações são realizadas sempre com o apoio logístico e estratégico das UBS, por meio de seus agentes e profissionais de saúde, planejando o trajeto e definindo ruas mais prioritárias para atingir a população. Nos locais aonde não chega o carro de som, a Rede Brasilândia Solidária comprou dois megafones que os agentes usam para a melhor divulgação das ações”, diz o voluntário.

Campos conta que a população de modo geral tem atendido aos apelos da Rede. Mas em relação à juventude local, eles ainda estão procurando um melhor meio de comunicação. O dirigente do Instituto Saci relata que ainda encontra muitos jovens em pequenas aglomerações no território, mas de modo geral tem sido positivo. “A receptividade das ações por parte da população é visível. Tem ajudado e muito na conscientização e entendimento da população para que se proteja. Todas as ações que realizamos entregamos máscaras que recebemos de doações e também máscaras que são confeccionadas por 40 costureiras voluntárias que temos no território”.

O advogado relata não ter conhecimento de ações do poder público pensando em atingir os moradores, principalmente os jovens. “A região já tem carências históricas, o poder público não tem uma atuação robusta, só os serviços de saúde e de educação são visíveis, fora isso os outros serviços são esporádicos”, conta.

A Rede Brasilândia Solidária é formada por diversas associações, coletivos e agentes atuantes no distrito, e juntos assinam uma carta com reivindicações para o território. Entre as ações e reivindicações da Rede está um pedido para instalação de espaços públicos para isolamento. Enquanto isso não acontece, eles seguem espalhando mais de 150 faixas de alerta e prevenção nas ruas, além de arrecadação de alimentos, e entrega de máscaras produzidas por costureiras da região.

No João XXIII, zona oeste, cartilha traduz informações sobre a pandemia 

Pensando na ideia de comunicar de morador para morador, um grupo de jovens do João XXIII, um dos bairros do distrito Raposo Tavares, se organizaram coletivamente por meio do cursinho pré-vestibular Cláudia Silva Ferreira, iniciativa de educação popular que oferece aulas para moradores que estão em busca de acessar o ensino superior.

Jovens orientam moradores no Jardim João XXIII, zona oeste da cidade.

As ações iniciais começaram com a distribuição de máscaras e pedras de sabão junto com uma cartilha que traduz informações sobre cuidados contra o coronavírus para uma linguagem não formal e pensada no morador do território. Além desta função, o material também aborda a importância da auto-organização e mostra opções de como se organizar no contexto comunitário neste momento.

Pedro Henrique Fernandes, 23, morador do João XXIII e integrante do cursinho afirma que comunicar de morador para morador é a forma mais potente, e que as pessoas dão mais credibilidade porque sabem quem você é. “Fizemos uma cartilha porque percebemos que as informações que vem do Estado não são muito acessíveis, é algo mais institucional e formal, então fizemos uma direto para o bairro, foi feita de morador para morador e tem um alcance maior e a gente vê que as pessoas acreditam mais quando você é do espaço”.

Fernandes afirma que outra dimensão importante da ação também foi o fato de conversar diretamente com jovens que muitas vezes continuam seguindo suas vidas de maneira normal por acharem que não serão atingidos pelo covid-19. 

“É uma doença que desde o começo vem sendo colocada que mata só idoso, mas na verdade não mata só idosos, aí muitos jovens têm a ideia de que podem continuar suas vidas normais, a cartilha também coloca a responsa nos jovens, de que mano você está levando esse vírus para os espaços. Vem muito na ideia de responsabilização dos jovens que furarem a quarentena, e também mostrar que tem formas de se organizar como bairro. Independente do Estado, a gente precisa se organizar para continuar sobrevivendo”.

Com o aumento das ações de mobilização de cuidado, o grupo de jovens moradores já estuda a possibilidade de transformar a experiência em uma série de vídeos para as redes sociais. 

“A gente percebe que depois da ação que se tem um clima muito mais cuidadoso no bairro, está todo mundo de máscara, até porque é uma lei, mas está todo mundo tentando respeitar uma distância. Mas a gente percebeu que no momento que a gente está ali e conversa, existe um choque das pessoas, e agora estamos nos organizando para postar uma série de vídeos produzida pelos moradores que fala sobre as questões do coronavírus junto com questões sociais, como por exemplo, a desigualdade social e o coronavírus”, conta Fernandes.

“São Mateus é um bairro de luta e iremos vencer mais essa batalha” 

 A ação ‘Graffiti contra a fome’ faz parte da campanha articulada pela rede de coletivos culturais São Mateus em Movimento, que atua na subprefeitura de São Mateus, zona leste de São Paulo. A ação conta com a participação de artistas da região, como Rafael Bone, Cris Rodrigues, Val OPNI e Todd OPNI, para homenagear quem está na linha de frente do combate ao Coronavírus. O coletivo também tem distribuído panfletos informativos com a proposta de conscientizar também aqueles moradores quem não assiste televisão.

“A importância é trazer proximidade do tema, para quem não assiste TV e para quem acha que ainda é um problema distante, mas que na real já está atingindo a quebrada e estamos usando da ideia de panfletos impressos e colocando nas cestas, e estamos estudando a possibilidade de uma agenda de lives e vídeos informativos também para tentar comunicar os moradores principalmente os mais jovens”, relata Rafaela Maiara, 24, moradora de São Mateus e integrante da rede de coletivos.

A moradora conta que as ações realizadas pelo grupo também são um lembrete de resistência e luta no território: “A ação realizada no dia 16/05, Graffiti contra Fome, faz parte da nossa campanha São Mateus Contra a Fome, e foi pensada com os artistas da região para homenagear quem está na linha de frente do combate ao Coronavírus: profissionais da saúde, limpeza e a própria natureza em seus ciclos de cura e resistência imunológica”.

Maiara acredita que a campanha também servirá para mostrar aos moradores a importância de união comunitária. “É um convite para que pensem nisso, no cuidado, em como tratamos o nosso corpo e o mundo em que vivemos. Também é um lembrete de que nós estamos aqui, se ajudando e se cuidando, que São Mateus é um bairro de luta e que iremos vencer mais essa batalha”.

A articuladora comunitária afirma que é de responsabilidade do Estado o fato dela presenciar ainda um grande número de pessoas na rua, e não conseguirem respeitar a quarentena. 

“Maioria do público que está na rua é o público jovem e a ausência do poder público é a causa de tantas pessoas não respeitarem o isolamento social, única medida capaz de conter a disseminação do vírus. A maioria das pessoas não está na rua por querer, mas por necessidade. O Estado precisa garantir as necessidades básicas para garantir que as pessoas fiquem em casa”, finaliza.