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Democracia e LGBTfobia foram destaques da primeira Parada LGBTQIA+ do Capão Redondo

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No último domingo (24), pessoas de diferentes idades e gêneros se reuniram na primeira parada LGBTQIA+ do Capão Redondo, na zona sul da capital paulista, cujo tema foi “Salve a democracia: vote contra LGBTQIfobia”.

A Parada foi organizada por integrantes da Rede Periférica Família Stronger e da Família Rodrigues. Foto: Guilherme Dias

Por volta das 12h, do último domingo (24), bandeiras da comunidade LGBTQIA+ começaram a colorir a Avenida Carlos Caldeira Filho, nas proximidades da estação Campo Limpo, linha lilás do metrô de São Paulo.

Pouco tempo depois, várias pessoas – de todas as idades e gêneros – começaram a se reunir no local onde aconteceria a primeira Parada LGBTQIA+ do Capão Redondo e redondezas, na região sul da capital paulista. O evento foi organizado pela Rede Periférica Família Stronger e Família Rodrigues. 

“Muitas pessoas transexuais não conseguem sair de casa durante o dia, e quando você leva a Parada LGBTQIA+ para estes locais, você consegue fazer com que elas saíam sem que se tornem motivo de chacotas ou piadinhas, sem que atirem pedras nelas, sem que nada disso aconteça”

comenta Elvis Justino, organizador do evento, em entrevista ao Desenrola sobre a importância da primeira Parada LGBTQIA+ no Capão Redondo.

A passeata foi sonhada muito antes do trio elétrico sair às ruas. Pelo menos três anos separaram o momento no qual os organizadores começaram a planejar o evento do momento no qual conseguiram reunir os diversos corpos políticos para dançar, se divertir, cantar, amar e reivindicar os seus direitos numa das avenidas mais movimentadas do distrito.

 “As bi, as gay, as trans e as sapatão tão tudo organizada pra fazer revolução”

Durante o evento, cujo tema foi “Salve a democracia, vote contra a LGBTIfobia”, as palavras “Fora” e “Bolsonaro”, foram ditas repetidas vezes em uma única frase. Segundo a organização, a escolha do tema foi motivada pela importância de conscientizar a população sobre os riscos que correm caso ocorra uma reeleição este ano.

Por volta das 16h, poucos minutos antes do trio elétrico dar partida e sair em direção à casa de shows Avalon Lounge, na Estrada de Itapecerica, local marcado para encerramento do evento, diversos convidados se revezaram diante do microfone. 

Felipe Alencar subiu ao trio elétrico gritando, junto ao público, a frase “as bi, as gay, as trans e as sapatão tão tudo organizada pra fazer revolução”. Foto: Danillo Santana

O pedagogo e coordenador geral do Sindicato dos Trabalhadores da UFABC, Felipe Alencar, é o primeiro homem gay a ocupar o cargo e comentou, em pronunciamento, sobre a importância de fortalecer as periferias.

“A gente precisa fortalecer muito mais o trabalho da periferia (…) É aqui que a gente sabe o quanto tá impossível comprar um pedaço de carne, aqui que a gente sabe que a polícia é muito mais violenta e é aqui que a gente sabe qual é a precariedade do transporte”

falou ao público do evento.

Ele completou ressaltando sobre a circulação de todos os corpos pela cidade. “Chega final de semana, a gente é forçado a ficar trancado em casa, porque não tem busão para levar a gente pro rolê, para curtir o centro, para curtir os espaços de cultura”, disse o pedagogo.

Carolina Iara em entrevista para o Desenrola, durante a primeira Parada LGBTQIA+ do Capão Redondo. Foto: Guilherme Dias

A co-vereadora da Bancada Feminista do PSOL, Carolina Iara, única parlamentar intersexo eleita no país, comenta sobre a importância de entender as Paradas LGBTQIA+ como espaços politizados e não como carnavais fora de época. 

“Temos esse desafio de povoar esses espaços de poder com pessoas negras, indígenas, pessoas LGBTQIAP+, e que não só sejam essas pessoas, essas identidades, mas que também estejam comprometidas com as agendas históricas desses movimentos sociais”

declara Carolina.

A parlamentar ressalta que para salvar a democracia é preciso, primeiro, povoar os espaços de poder com pessoas comprometidas com o enfrentamento das desigualdades de raça, gênero, classe e orientação sexual.

Em sua fala, Carolina também relembrou o caso da transexual Verônica Bolina, que foi brutalmente agredida, teve o cabelo raspado e o rosto desfigurado após ser espancada, despida e fotografada numa carceragem masculina, pouco antes de ser diagnosticada com transtorno esquizoafetivo, se tornando símbolo da violência estatal e policial contra a população transexual.

“O movimento nasceu nas periferias e precisa voltar às periferias” 

Cerca de 20 quilômetros separam a Avenida Carlos Caldeira Filho – onde aconteceu a primeira Parada LGBTQIA+ do Capão Redondo – da Avenida Paulista, local no qual milhões de pessoas se reúnem anualmente para participar da Parada do Orgulho LGBTQIA+, reconhecida mundialmente como o maior evento destinado à comunidade.

Embora esta seja o mais famoso, militantes periféricos apontam que ele não foi o primeiro e o movimento precisa resgatar as suas origens.

“O movimento nasceu nas periferias e precisa voltar às periferias. Hoje em dia nós temos a Parada LGBT mais popular do mundo, mas é importante entender que muitas pessoas não conseguem ir à Paulista por falta de dinheiro, por falta de oportunidade, falta de acesso a esses locais”

aponta Rô Vicentte, integrante e fundadore do Coletivo Artístico Queer, que estava participando e também cobrindo do evento.

Rô Vicentte, ao lado da também integrante do Coletivo Artístico Queer, Thais Carvalho. Foto: Guilherme Dias

Ocupação do território 

Segundo a organização, cerca de 1.200 pessoas participaram da Parada, desde moradores do território, a pessoas que moram nas regiões centrais de São Paulo. 

O evento contou com diversas apresentações, artistas locais, e teve como padrinho o DJ Crys Rodrigues e como madrinhas as drag queens Fayla Maison e Kênia Halk’s. 

Embora no fim do trajeto tenha ficado a sensação de missão cumprida ao ver centenas de pessoas vivenciando plenamente sua identidade e sexualidade, nem tudo ocorreu como os organizadores sonhavam desde o princípio.

Um dos organizadores do evento, Elvis Justino, comenta que a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), não autorizou o trajeto que havia sido escolhido pela Subprefeitura do Campo Limpo, alegando que a Parada LGBTQIA+ era um bloco de carnaval. Segundo ele, a Subprefeitura retirou o apoio à passeata após os organizadores não cumprirem a exigência de adiar a data. 

Elvis Justino durante pronunciamento na Parada LGBTQIA+ no Capão Redondo. Foto: Danillo Santana

Apreensivos com o trajeto, que atravessaria dois grandes cruzamentos, os organizadores pediram a presença da CET que, embora não tenha autorizado o percurso, chegou com quatro viaturas no local marcado para a concentração do público.

No dia seguinte, Elvis comentou que os objetivos da Parada LGBTQIA+ foram atingidos: ao todo, 1200 pessoas, de diferentes lugares da cidade, se reuniram para participar do evento.

“Foi muito bom, os comércios do outro lado da estrada, onde tinham bastante adegas, venderam muito, as pessoas encheram estes locais. A imprensa também comprou nossa ideia, mandou pessoas, saiu em vários sites”, finaliza o gestor público.


Poesia nas escolas: 8° edição do Slam Interescolar de SP está com inscrições abertas

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Organizado pelo Slam da Guilhermina, o Slam Interescolar é uma competição de poesia falada entre alunos de escolas públicas e privadas que acontece desde 2014. As inscrições para a edição de 2022 estão abertas até o dia 13 de maio.

Apresentação do Slam da Guilhermina. Foto: Renata Armelin

Desde 2012, o Slam da Guilhermina promove a arte e cultura através da poesia nas periferias de São Paulo. É o segundo slam criado no Brasil, e o primeiro slam de rua. As batalhas de poesia falada acontecem toda última sexta-feira do mês, em uma praça localizada na saída do metrô Guilhermina Esperança, na zona leste de São Paulo.

“A gente fez uma história a partir do momento que fomos para rua, e eu acredito que isso também mudou as poesias que eram feitas na Pompéia. Elas eram diferentes das que eram feitas na zona leste e nas periferias. Foram essas poesias que viralizaram na internet que fizeram com que o Slam se tornasse o que é hoje”, analisa Cristina Assunção, Slam Master do Slam da Guilhermina, professora de história e uma das fundadoras do projeto Interescolar.

Durante a Copa do Mundo de Slam de 2014, que rolou na França, Emerson Alcalde, poeta, um dos criadores do Slam da Guilhermina e vice campeão da disputa na França, decidiu que traria a modalidade interescolar do slam para o Brasil.

“Eu fui para França com o Emerson e com os amigos organizadores para participarmos da Copa do Mundo de Slam. No dia que eu cheguei, o Emerson me parou e disse que eu precisava ver aquilo. Eram crianças do fundamental I, de até 10 anos, recitando poemas, tinham cartazes, torcida, e aí a gente resolveu trazer isso para São Paulo”

explica Cristina Assunção.

Cristina Assunção e Emerson Alcalde exibem a bandeira do Slam da Guilhermina durante o campeonato de Slam na França em 2014. Foto: Iara Adelina Assunção da Matta

Após retornarem da competição na França, Emerson e Cristina começaram a organizar o Slam Interescolar, que acontece desde 2014, nas escolas públicas, privadas e de ensino técnico do estado de São Paulo, sendo que a primeira edição foi na escola em que Cristina lecionava.

Em sua primeira edição, a modalidade Interescolar contou com quatro escolas e oito alunos selecionados a partir do campeonato escolar, onde os dois melhores colocados representaram suas respectivas unidades. A final aconteceu no Teatro Flávio Império, no distrito de Cangaíba, zona leste da capital paulista.

“Fizemos uma batalha na escola onde eu dava aula, lá os alunos batalharam com poesias de outras pessoas só para testar, e depois teve uma feira do livro, que teve uma batalha já com poesias autorais. Em 2015, a gente resolveu fazer entre escolas”, conta Cristina sobre o desenvolvimento da modalidade.

Participação em massa 

Já no terceiro ano do Slam Interescolar, em 2016, a partir da divulgação do início das inscrições, o número de escolas inscritas subiu para 20 unidades. Em 2017, foram 33 escolas inscritas, e em 2018, o número de escolas chegou a 52. De lá para cá, os números só crescem. Durante a pandemia de covid-19, foram 131 inscrições, mas apenas 62 participaram em um formato online.

Desde o início do Slam Interescolar, houveram diversos desdobramentos. Cristina conta que muitos dos ex-alunos começaram novos projetos de slam de rua, levando a cultura da poesia falada para além das escolas.

Segundo ela, diversos professores da rede pública também se mobilizaram para incluir a competição de poesia na grade curricular, e em 2021, alunos do 9° ano de escolas municipais, receberam livros de língua portuguesa, como material paradidático, que abordam a temática da poesia, do slam, e como criar a sua própria poesia.

Para Nicole do Amaral Serra, 18, moradora da Vila Dalila, zona leste de São Paulo, o slam salvou sua vida e contribuiu para a realização de um sonho inconsciente. “O slam estava incluso na minha escola por causa de uma professora de geografia, uma das pioneiras nisso. Consegui chegar em muitos lugares por causa do Slam”, afirma Nicole.

“Sem o Slam eu não seria a mesma pessoa, ele me tirou a timidez e eu consegui me apresentar para pessoas que eu nunca vi. E por conta disso consegui publicar meu primeiro livro no ano passado [2021], e é uma realização incrível”

conta Nicole, uma das jovens que já participou do slam interescolar.

Nicole Amaral, aluna da rede pública de ensino e que teve o slam como ponto de partida para a criação de seu livro. Foto: Fernando Martins

Representando sua escola, Nicole participou do Slam Interescolar estadual em 2019, e em 2020 da competição interescolar nacional, também organizada pelo Slam da Guilhermina.

Construção conjunta e reconhecimento nacional 

O projeto também foi indicado e vencedor do prêmio Jabuti 2021 na categoria Fomento à Leitura. “O prêmio foi uma quebra de paradigmas muito grande, pois foi a primeira vez que a gente disputou e com tantos outros projetos do Brasil”, conta Uilian da Silva Santos, mais conhecido como Chapéu, metalúrgico, matemático das competições do Slam da Guilhermina e morador de Ermelino Matarazzo, zona leste de São Paulo.

“Sabemos que o projeto é grande, mas nem sempre ele tem essa visibilidade, né? A gente chorou muito de emoção”, comenta Chapéu sobre ganhar o prêmio Jabuti com o projeto de poesia falada.

Além de levar a cultura da poesia falada para as escolas, o Slam da Guilhermina criou um projeto chamado Poetas-Formadores, onde artistas, poetas e agentes que já estão na cena literária, se apresentam nas escolas e podem ensinar jovens que estão começando e incentivar aqueles que ainda não conhece.

“Convidamos poetas para acompanhar o trabalho e depois eles iam à escola em duas visitas: uma para dar uma oficina, explicando o que é o slam, o histórico, as regras, como funciona e tudo mais, e depois o artista volta para acompanhar esses slams, fazer as orientações necessárias e pode ser um dos jurados”

explica Chapéu.

Nesse formato, cada aluno é direcionado para um monitor, que pode ensinar as técnicas de criação da poesia em si, performance para apresentação, e até como expressar seus sentimentos de forma escrita.

Como participar

As escolas que quiserem participar do Slam Interescolar de 2022, devem fazer as inscrições online pelo formulário do google. O cadastro deve ser feito por um professor ou funcionário da escola, seguindo as orientações disponíveis no próprio formulário.

Além disso, as escolas selecionadas devem realizar um slam escolar entre os alunos, e selecionar o mais bem colocado para participar do Interescolar. Os poetas formadores do Slam da Guilhermina, auxiliam a escola nesse processo.

É necessário apresentar fotos do slam escolar realizado, posts, cartazes de divulgação e convidar o Slam da Guilhermina para participar das apresentações. 


Escritor cria clube de leitura afrofuturista em escolas públicas da Brasilândia

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O projeto já atende duas salas de aula, alcançando uma média de 60 adolescentes, que estão tendo a oportunidade de conhecer a representatividade da literatura negra e afro-futurista, protagonizada por autores negros das periferias.

Foto por: Akanni Rás

 Organizado pela editora Kitembo, selo editorial que fomenta a publicação, comercialização e distribuição de obras de ficção e afrofuturistas, o projeto Clube do Livro tem a proposta de atua em escolas públicas das periferias. Essa trajetória começou estimulando o contato de estudantes com livros e autores da Brasilândia, distrito da zona norte de São Paulo.

O escritor Israel Neto, 34, morador nascido e criado na Brasilândia, é um dos autores que têm livros afrofuturistas publicados pela editora Kitembo e que faz parte da criação do selo editorial. Ele é o primeiro autor negro e periférico a participar das atividades do clube de leitura.

“A ideia é que eles concretizem a leitura em casa, que eles tenham esse momento de ler o livro. E talvez nesse contato com o autor, ganhar um livro novo, estimule dentro deles esse novo leitor, nova leitora”, explica o escritor.

O projeto já realizou encontros do clube de leitura com estudantes das escolas: Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor José Alfredo Apolinário, localizada no Jardim Guarani; e na Escola Estadual Professor Renato de Arruda Penteado, localizada no Jardim Carombe, ambas situadas no distrito da Brasilândia.

“A gente tá captando apoiadores para que possam adotar mais salas de aula”

Israel Neto é escritor e produtor musical enraizado nos movimentos culturais da Brasilândia, zona norte de São Paulo.

Foto por: Akanni Rás

Desde os 17 anos, Israel trabalha com a arte, sempre atuando com discussões sobre educação, literatura e música, a partir da sua íntima ligação com os gêneros literários de afrofuturismo e contos antirracistas.

Para viabilizar as atividades do clube de leitura afrofuturista, o projeto conta com o apoio de pessoas que possam adotar as salas de aula, auxiliando nos valores de produção do livro, sem ser cobrado o preço cheio, tornando o acesso a publicação ainda mais possível ao público, de maneira gratuita, que no caso, sãos os estudantes de escolas públicas das periferias.

“A gente tá captando apoiadores para que possam adotar salas de aula, para que a gente consiga rodar mais salas com o Clube do Livro”, afirma Israel. Ele complementa, ressaltando que as duas primeiras salas que são a base para o início do projeto foram adotadas pela Câmera Periférica do Livro, iniciativa da Ação Educativa, que promoveu o “Verão do Livro Periférico’, edital de incentivo à leitura que possibilitou angariar fundos para financiar a realização do projeto nas duas salas, impactando mais de 60 estudantes.

“A ideia é que o projeto também consiga trazer esses livros do catálogo”

O escritor Israel Neto é um dos criadores da editora Kitembo, selo editorial parceiro na realização do clube de leitura.

Foto por: Akanni Rás

Durante esse processo, o autor conta que o pontapé inicial para realizar o projeto partiu do uso dos livros publicados pela Editora Kitembo, para compor o Clube do Livro. “A ideia é que o projeto também consiga trazer esses livros do catálogo. Às vezes um apoiador fala que quer apoiar com duas salas, mas quer que essas escolas sejam da zona leste, então fechou!”, pontua.

É desta forma que o escritor e os demais sócios da editora Kitembo pretendem continuar com o clube de leitura, levando essa iniciativa de incentivo a literatura negra e afrofuturista, para escolas, bibliotecas públicas e comércios menores das periferias, para chegar ao máximo de leitores possível de outras regiões de São Paulo, sempre garantindo um impacto positivo sobre o entendimento e as impressões das pessoas, enquanto a ação estiver em vigor.

Hoje, o contato com as escolas é bem dinâmico, pois o objetivo maior é entender se o projeto está gerando um impacto positivo nas redes de ensino e também nos próprios jovens que participam dos clubes.

Ao fazer uma balanço geral da primeira edição do clube de leitura, Israel enfatiza que deu tudo certo. “Supriu nossas expectativas, deu tudo certo. Então agora a gente quer montar uma campanha mensal, acessar os equipamentos públicos da cidade, como Fábricas de Cultura, que conseguem fazer a ponte entre as escolas do seu entorno”, finaliza. 

“A juventude tem que estar afim, tem que se unir”

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A juventude brasileira está insatisfeita com a política institucional, não está empolgada em participar desse jogo real e não se sente atraída pela velha política e pelos seus líderes. São várias as motivações pra esse mal estar.

Jovens do cursinho da Rede Ubuntu – Foto: Divulgação

Os jovens não se veem representados nos políticos atuais nas diferentes esferas e as pautas discutidas nas câmaras quase sempre não contemplam as juventudes e seus anseios. Além disso, pouco são os políticos jovens, ao contrário, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a média de idade dos candidatos que solicitaram registro para o as eleições municipais de 2020 é de 45,6 anos.

Alguns desses sintomas podem ser vistos pelo baixíssimo número de jovens filiados a partidos políticos, bem como por uma das menores adesões de jovens de 16 e 17 anos em tirarem o título de eleitor no ano de 2022.

Segundo dados do TSE, o Brasil tem atualmente mais de 16 milhões de pessoas filiadas a partidos políticos, sendo que desse total, menos de 2% estão na faixa etária de 16 a 24 anos, mesmo constituindo mais 13% do total de eleitores do país. Os dados da TSE também apontam que o número de jovens de 16 e 17 anos, inscritos para votar este ano, é o mais baixo desde 1992.

“A juventude tem que estar afim, tem que se unir”

Charlie Brown Jr.

Contudo, é verdade também que a Juventude está insatisfeita com o governo atual do presidente Bolsonaro. Segundo pesquisa Poder Data, realizada de 27 a 29 de março de 2022, apenas 29% dos jovens de 16 a 24 anos tem intenção de votar em Bolsonaro, ante 51% que preferem Lula. Pode-se dizer que a juventude será uma pedra no sapato para a reeleição do presente atual.

Essa insatisfação da juventude pode se tornar uma chama de esperança pra mudar esse país. O voto da juventude nunca teve tanto valor, se tornou uma questão estratégica para barrar o avanço desse governo impopular que flerta com o fascismo no nosso país.

Assim, uma das tarefas que urge é convencer o maior número de jovens de 15, 16, 17 e 18 anos habilitados para votarem, mas que ainda não solicitaram seus títulos de eleitor.

Muitos não estão dispostos a requerer o título, de modo que o trabalho de convencimento que é fundamental, se torna ainda mais importante. Muito além de campanhas nas redes, é preciso arregaçar as mangas e ir às ruas, às escolas, igrejas, aos shoppings, nos lugares frequentados pelos jovens. 

Aqui, nas nossas quebradas, alguns coletivos e movimentos estão trabalhando nessa empreitada. Um dos exemplos é o trabalho da ativista social Martha Gaudêncio, junto aos Cursinhos Populares da Rede Ubuntu e em algumas paróquias.

Com 22 anos, estudante de Políticas Públicas na Universidade Federal do ABC, essa jovem vem promovendo encontros de formação e ajudando dezenas de jovens a tirarem seu título de eleitor.

Ela, de maneira voluntária, faz plantões em sua paróquia conduzindo o Movimento Fé e Cidadania e vai aos cursinhos discutir com jovens a importância de sua participação na política, como funcionam os poderes no Brasil e incentivando-os a participarem do pleito político-eleitoral e mudar os rumos desse país.

Este trabalho tem um grande potencial e mostra a importância desses trabalhos de base. Ademais, essa ousadia da Martha mostra força da juventude. Se de um lado temos muitos jovens descrentes da política, por outro é importante colocar em relevo que temos outros tantos jovens fazendo política em nossas quebradas.

Trabalhos como esse precisam ser ampliados, temos até o dia 4 de maio para convencer o maior número de jovens a pegar o título de eleitor em mãos, e junto à classe trabalhadora periférica, mudar os destinos deste país e de nossas quebradas! 

“Salve a democracia, vote contra a LGBTIfobia” é tema da primeira Parada LGBTQIA+ do Capão Redondo

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O evento, que acontece neste domingo (24), contará com a apresentação de 30 artistas e fará um trajeto entre a estação Campo Limpo e Capão Redondo, na zona sul de São Paulo.

Integrantes da Família Stronger no último encontro anual organizado pela rede. Foto: Nicoly Almeida

Neste domingo (24), a partir das 12h, acontece a primeira Parada LGBTQIA+ do Capão Redondo. Organizada pela Rede Periférica Família Stronger, a passeata começará nos arredores da Estação Campo Limpo, linha lilás do metrô, e contará com a participação de 30 artistas, entre drag queens, DJs, músicos e dançarinos, que se apresentarão de forma voluntária. Ao final do percurso, o show de encerramento acontecerá em frente a casa de show Avalon Lounge.  

O tema escolhido para inaugurar o evento nas ruas e avenidas da região sul da capital paulista é “Salve a democracia, vote contra a LGBTIfobia”. Em entrevista para o Desenrola, um dos organizadores, o gestor público Elvis Justino de Souza, comenta que a Parada é, sobretudo, uma manifestação política para alertar a população sobre os riscos que correm em virtude da tentativa, por parte do presidente e seus aliados, de enfraquecer a democracia.

Integrante da Família Stronger há cerca de dez anos, o gestor público comenta também sobre a importância de conscientizar – especialmente os mais jovens – em relação à história do distrito e das pessoas que derramaram o próprio sangue para que existisse hoje um estado democrático de direitos.

“O Capão Redondo é um território de luta. Aqui, tivemos Santos Dias, um operário que foi assassinado durante uma manifestação por democracia e por direitos. Então, fazer a Parada LGBTQIA+ com esse tema é honrar e respeitar aquelas pessoas que tiveram seu sangue derramado por policiais militares, pelo exército, pelo DOI-CODI (…). É importante falarmos isso para as pessoas LGBTQIA+, porque elas precisam conhecer a própria história”

 pontua o gestor.

A Família Stronger conta com 250 membros e também organiza eventos do tipo em outras regiões do município. Na Cidade Tiradentes, por exemplo, a primeira edição da Parada aconteceu em 2017. De acordo com a organização, é importante levar esses eventos para as margens da cidade, porque a população periférica precisa se deslocar por muitos quilômetros para chegar à Paulista, além de, muitas vezes, não ter dinheiro suficiente para pagar os custos do trajeto.

“Muitas pessoas transexuais não conseguem sair de casa durante o dia e quando você leva a Parada LGBTQIA+ para estes locais, você consegue fazer com que elas saíam sem que se tornem motivo de chacotas ou piadinhas, sem que atirem pedras nelas, sem que nada disso aconteça”, comenta Elvis, quando perguntado sobre a importância do evento.

O gestor público relata que quando levaram a Parada para a Cidade Tiradentes, por exemplo, não haviam pessoas transexuais circulando na rua durante o dia.

“Você não via pessoas LGBTQIA+, era tudo às escondidas, tudo no sigilo, somente de madrugada. Hoje em dia não, se você for na Cidade Tiradentes, você vai ver gays montados, meninas se beijando, andando de mão dadas. Muitas ONGs querem, inclusive, trabalhar com LGBTs, direcionando projetos para essa população”, completa.

Marco político no território  

A drag queen e apresentadora, Kênia Halk’s, será a madrinha do evento que acontece pela primeira vez nas redondezas do Campo Limpo e Capão Redondo. Em entrevista ao Desenrola, ela comenta estar ansiosa por ser uma grande responsabilidade, que segundo ela, “é uma oportunidade de mostrar que as travestis não são apenas aquelas mulheres que fazem programa na avenida, e que ‘as gays’ não são aquelas pessoas que não querem nada com a vida”.

“A parada está aí pra mostrar que não somos apenas homens que ficam com homens ou mulheres que ficam com mulheres. A gente também é luta, é perseverança, é militância, é resistência e é respeito, e não é porque somos pessoas gays, lésbicas, não bináries, travestis e transexuais que não merecemos ser respeitadas. E não é porque você é uma pessoa heterossexual que você não pode estar frequentando, lá no meio, apoiando e militando com a gente”

declara a apresentadora.

Kênia comenta também sobre o tema escolhido pela organização, tendo em vista que as eleições para o legislativo e o executivo se aproximam, e considera importante que a população tenha consciência no momento de ir às urnas votar, pois, de acordo com ela, muitas mãos acabaram sendo soltas nas últimas eleições, especialmente a de pessoas negras, periféricas e LGBTQIA+ que, por sua vez, foram as principais vítimas da intolerância política.

“A Parada é importante para mostrar que a imagem do Capão Redondo não é a de um lugar perigoso, o lugar que se você for gay ou travesti, você apanha. Não, pelo contrário, é para mostrar que mesmo na periferia você pode encontrar um lugar seguro para viver, morando, convivendo, existindo e resistindo”, comenta sobre a importância de fazer a Parada LGBTQIA+ no território que muitas vezes permanece no imaginário popular apenas como um espaço de privação e violência. 

“As Paradas nas periferias vêm para mostrar que o preconceito, a homofobia, que a intolerância não vem só da periferia, porque a população geral julga e fala que a homofobia existe somente nas periferias. Não, não e não! Às vezes, rola até na família tradicional classe média alta brasileira”

finaliza Kênia, madrinha da Parada LGBTQIA+ do Capão Redondo.

O evento é uma iniciativa independente que também não conta com o apoio de nenhum órgão do poder público. Embora tenha enfrentado problemas com a CET e com a Subprefeitura do Campo Limpo para a sua realização, por conta do trajeto, cujo trecho havia sido escolhido pela própria Subprefeitura – e acabou não sendo autorizado nem por ela, nem pela Companhia de Engenharia de Tráfego – a organização afirma que não serão impedidos de ir às ruas.

“Nós somos pessoas de luta, pessoas de resistência. Somos corpos com cicatrizes, mas não são elas que estarão falando no dia 24, serão as nossas vozes. São os corpos trans que foram humilhados, pisados, apedrejados que vão estar na linha de frente. (…) E no único dia que temos para ser LGBTs, não serão grupos políticos, a CET ou a polícia que vão nos impedir, porque vamos mostrar que a resistência se faz na rua, que a democracia se vence na rua, e é sobre isso que vamos estar falando: resistência na periferia”, finaliza Elvis Justino.

Mais informações 

Quando: 24 de abril, domingo, às 12h
Onde: O trajeto inicia na Av. Carlos Caldeira Filho, próximo à estação Campo Limpo, linha lilás do metrô, e termina na mesma avenida, próximo à estação Capão Redondo. Ao final do percurso, o show de encerramento acontecerá em frente a casa de show Avalon Lounge.

Para saber mais, acesse @paradalgbt.capaoredondo ou @redefamiliastronger no Instagram. Também é possível entrar em contato pelo número (11) 95813-8088 ou no e-mail familiastronger@gmail.com.

Encarecimento do custo de vida impulsiona novos movimentos contra a carestia nas periferias

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O desmonte de políticas públicas aliado a pandemia da covid-19, aumentaram o cenário de carestia – encarecimento do custo de vida – nas periferias, impulsionando a luta contra a inflação, historicamente liderada por movimentos populares e de mulheres.

Ato público organizado pelo Comitê Contra a Fome e o Desemprego da Zona Sul, realizado em dezembro de 2021 no Capão Redondo. Foto: divulgação

Na década de 70, o Brasil ainda passava por uma intensa ditadura que afetou os preços dos alimentos básicos nas periferias e favelas, de forma inigualável. Simultaneamente, os Clubes de Mães, criados em 1972, fizeram surgir militantes e ativistas que, anos depois, se engajaram no Movimento Custo de Vida, buscando diminuir a alta dos preços.

Ana Dias, foi uma dessas mulheres que ajudou na fundação do movimento, a fim de desenvolver ações para combater a carestia na época. Quase 50 anos depois, o encarecimento do custo de vida não deixou de existir e se intensificou com a pandemia e o desmonte de políticas públicas que o país vive. Assim como Ana Dias naquela época, Joelma Costa dos Passos, 25 anos, sente na pele o desafio de ir ao supermercado e perceber que os preços dos itens essenciais à vida mudaram drasticamente. 

“Antes eu ia no mercado e com R$600 eu fazia a compra do mês inteiro, de limpeza, comida, verdura, carne… tudo isso eu conseguia. Hoje eu já não consigo mais”

relata Joelma, que trabalha no setor de limpeza.

Joelma é mãe solo e mora com o filho José Mateus, de 10 anos, no Parque Arariba, zona sul de São Paulo. Ela trabalha realizando limpezas em casas de família, e conta que além dos preços subirem, o valor que ganha mensalmente não subiu junto, já que recebe por dia, e na pandemia, muitas famílias pararam de contratar os seus serviços.

Joelma sentiu a inflação dos produtos essenciais à vida afetar a rotina alimentar dela e do filho. Foto: arquivo pessoal

“Antes, além de eu trabalhar a semana inteira, o preço das coisas não estava tão absurdo assim, né? Agora muitas coisas eu tive que substituir. Antes eu comprava carne, agora eu estou substituindo mais por frango, linguiça, nuggets, quibe… qualquer outra coisa que dê pra dar uma auxiliada”, diz, sobre ter o poder de compra ceifado pela inflação, o que impactou a rotina alimentar dela e do filho.

Atuação do conselho de segurança alimentar 

Para Maria Angélica, que atua no Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional (COMUSAN), o preço dos produtos essenciais à vida sempre foi um fator para a desigualdade social, já que a aquisição do alimento não é para todos, principalmente para as famílias que estão nas periferias.

Conselheira desde 2018, mas envolvida com demandas territoriais de segurança alimentar desde 2012, Maria Angélica entende que a luta dos conselhos é a mesma que a dos movimentos contra a carestia: fazer com que a segurança alimentar nas periferias faça parte de um plano de governo; fazer o estado olhar para as necessidades da população periférica.

“Segurança alimentar não está no plano do governo […] Então quando chega a pandemia, a gente viu explodir de tal maneira [a insegurança alimentar], e o preço naquele momento não era a principal preocupação, e sim a ausência de conseguir aqueles alimentos, e também do poder público mandando qualquer coisa em um tamanho pequeno, pra nossa cidade que é gigante”

aponta Maria Angélica.

 “Mandar qualquer coisa” é o mais preocupante para Maria Angélica, pois reforça o pensamento de que qualquer alimento serve para matar a fome, e segundo ela, a batalha do Conselho é oposta: é garantir que os alimentos que chegam na população periférica tenham todos os nutrientes necessários para a saúde.

“Quando veio a pandemia, o poder público que já não fazia nada, aí que não fez mesmo, durante meses, e a sociedade civil vai sozinha, sem nenhum aparato do governo, fazer conferências nos territórios. Aí nasce a esperança das pessoas pelos alimentos saudáveis que são: frutas, legumes e verduras, que tem que tá na mesa do pobre, porque é direito”, expõe a profissional sobre a ausência do poder público para dar o respaldo a população, fazendo com que a responsabilidade de se articular e criar soluções para o combate à carestia fiquem totalmente centradas nos coletivos, movimentos e conselhos.

” ‘Olha.. mas é muito caro comprar alimentos agroecológicos, é muito caro pra quem não tem nada e tá precisando’ [ouvia ela]. Ou seja, a alimentação saudável e equilibrada é só pra rico?”

questiona a conselheira.

A luta dos movimentos contra a carestia

A realidade que Maria Angélica lida dentro do Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional e que Joelma vive diariamente, é próxima à que Ana Dias enfrentava. As coisas começaram a seguir caminhos diferentes quando ela e outras mulheres começaram a organizar atos para reivindicar qualidade de vida mais justa para as famílias periféricas.

Comissão do Movimento Custo de Vida durante a entrega do abaixo-assinado em Brasília, em 1978. Uma das ações que Ana Dias também esteve presente – Foto: Movimento

“45 anos atrás era um mundo totalmente diferente. A situação da consciência e do despertar nasceu dos grupos e dos movimentos das mulheres, da preocupação de fazer com que a mulher fizesse algo”, relembra Ana Dias, 79 anos, uma das atuantes do clube de mães, e que junto a outras mulheres, lutaram contra a carestia.

Foi em 1978, que aconteceu uma grande Assembleia no colégio Santa Maria, e depois um ato na Praça da Sé, em São Paulo, organizado pelo Movimento Custo de Vida. As autodenominadas “mães da periferia” levaram milhares de pessoas às ruas e colheram mais de um milhão e trezentas mil assinaturas que reivindicavam direitos humanos básicos, que foram levadas até as autoridades.

“Tudo isso não aconteceu assim no susto, teve embate, teve discussão, teve encontros, teve enfrentamento, e no meio disso a gente conseguiu creches, escolas, postos de saúde… tudo isso a gente não tinha na periferia, a gente conseguiu através dessa luta e dessa união”

enfatiza Ana Dias.

Ato público que reuniu mais de 20 mil pessoas na Praça da Sé, no dia 27 de agosto de 1978. Foto: reprodução

Mais de 4 décadas depois, a luta e busca por direitos não cessou, e outros movimentos começaram a surgir para combater a carestia e dar seguimento à luta dos Clubes das Mães e do Movimento Custo de Vida. Em dezembro de 2021, durante a pandemia da covid-19, nasceu o “Comitê Contra a Fome e o Desemprego da Zona Sul”, que refez o ato proposto em 1978, e levou as pessoas para um ato público contra a fome e o desemprego no metrô Capão Redondo, no dia 21 de dezembro de 2021.

A motivação para o surgimento do Comitê foi a percepção de que as doações de cestas básicas e marmitas que haviam iniciado no começo da pandemia, já haviam chegado ao fim em muitas comunidades. Um acontecimento impulsionado principalmente pela falta de políticas públicas. Com isso, militantes partidários, Movimento Pelo Direito à Moradia (MDM) e cursinhos pré- vestibulares do território chegaram a uma conclusão:

” ‘Acho que vamos ter que fazer o segundo movimento contra a carestia’. E não é que pegou? Infelizmente pegou. A gente pensou que nunca mais ia ter que fazer isso… mas a gente entendia que precisava dizer pra população que ‘ó, estamos atentos’ ”

conta Regina Paixão, membra do Comitê.

43 anos depois do ato na Praça da Sé, movimentos que lutam contra o encarecimento do custo de vida voltaram as ruas para protestar. Foto: divulgação

Desde então, o Comitê tem se organizado para pautar uma vida mais justa para os moradores periféricos da zona sul. 

“Os planos do Comitê têm sido se organizar para ocupar vários espaços da cidade que têm condições de construir ações que favoreçam a chegada de cestas para a comunidade como triagem de vagas. Conscientizar de volta a população sobre a agricultura urbana e também queremos responsabilizar os vereadores para se envolverem na pauta e nos apoiarem na pressão e na elaboração de leis que beneficiem a população”, exprime Regina.

Para Regina Paixão, assim como Ana Dias, continuar essa luta é dar voz ao sujeito periférico. 

“Na verdade, todos precisam voltar a debater a questão política e a da representação popular. Voltar a ocupar espaços de comissões, plenárias, fóruns e movimentos para poder influenciar na economia e produção, e voltar também às ações contra a miséria e pobreza que incluem o investimento em ações sociais de renda”

ressalta Regina.

“Eu acredito muito na mulher. A mulher tem uma força, uma fé e uma crença. Na periferia é onde o povo sofre mais, sofre violência, fome, desemprego… então esse povo quando ele consegue despertar para fazer alguma coisa, ele nunca mais sai da luta”, conclui Ana dias, que há mais de quatro décadas luta no movimento contra o encarecimento do custo de vida e hoje reforça a importância de novas movimentações frente a desassistência aos territórios periféricos.

“Me trate como homem”: machismo afeta entregadoras de delivery

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Respeito é o que elas querem, enquanto trabalham tanto quanto os homens pelas ruas da cidade de São Paulo, movimentando a economia dos aplicativos de delivery.
Paloma Barbosa é moradora do Parque Santo Antônio, bairro da zona sul da cidade. (Foto: Patricia Santos)

Aos 28 anos, Paloma Barbosa Félix, foi diretamente atingida com as mudanças sociais e econômicas causadas pela pandemia de covid-19. Ela se tornou entregadora de aplicativos, após o buffet onde trabalhava pelo menos quatro vezes na semana fechar. 

“Antes da pandemia eu trabalhava com eventos numa empresa de festas em geral e aí em março de 2020 eles cancelaram todos os eventos por causa da pandemia”, conta Paloma, complementando que todos os dias começa a rotina no aplicativo de entrega por volta das 11 horas e 30 minutos.

Já Bianca Camila dos Santos, 23, liga o aplicativo por volta das 10 da manhã, para garantir que estará nas ruas entregando pedidos no horário de almoço, que segundo ela, é o melhor horário do dia para alcançar a meta diária de entregas e chegar em casa com segurança.

Assim foi a rotina do ano de 2021 para essas mulheres moradoras de periferias, que percorrem as ruas da cidade entregando comida aos usuários de aplicativos de delivery.

Para Bianca, fazer entregas pela cidade já faz parte da sua rotina, mas a pandemia transformou esse cotidiano, após ela sofrer um acidente de bicicleta e quebrar o braço. 

“Eu andava de bicicleta elétrica fazendo as entregas quando caí, fiquei uns dois meses mais ou menos parada com gesso no braço e quando eu voltei estava tudo fechado, não tinha gente na rua”, 

Bianca é entregadora e mora no Jardim Iporanga, zona sul de São Paulo.

Trabalhando com delivery há quase três anos, Bianca viu a pandemia dificultar o retorno a rotina como entregadora de delivery. Além desse fator, o sistema dos aplicativos de entrega que ela trabalha também colaboraram para esse retorno ser ainda mais problemático.

Ela conta que os chamados em seu cadastro no aplicativo, reduziram bastante pois quando a conta fica inativa por algum tempo, o sistema de entregas prioriza quem está ativo, uma situação agravada também pelo número de novos cadastros realizados por pessoas que perderam o emprego durante a pandemia, e que foram em busca de gerar alguma renda durante esse período.

O horário de trabalho é um grande desafio para mulheres que estão nas ruas, além do risco de assalto, assédio e violência, existem também questões fisiológicas que implicam ainda mais na rotina delas.

Bianca Camila dos Santos é moradora do Jardim Iporanga, no distrito do Grajau, zona sul de SP. (Foto: Arquivo Pessoal)

Paloma conta que sair à noite para realizar entregas não é uma opção para ela. “O horário que eu prefiro trabalhar seria à noite, mas eu também não tenho coragem, às vezes eu fico até às 20h, 21h, depois começa a ficar mais sinistro”, diz.

Não há números exatos sobre a quantidade de pessoas que fazem a função de entregadores no Brasil. Em São Paulo, são aproximadamente 200 mil motoboys que geram cerca de R$ 423 milhões, segundo o Sindicato dos Mensageiros, Motociclistas e Ciclistas de São Paulo (SindimotoSP). Porém não existe uma margem que mostre a presença de mulheres nesse cenário. 

Preconceito 

Além de ser moradora da quebrada, Bianca é lésbica e na tentativa de conseguir algum respeito dos colegas de profissão, pede que seja tratada como um deles. “Eu sou lésbica né, então eu sempre falei para eles me tratarem como um homem e é nesse ‘tratar-me como um homem’ que eu peço respeito. Homem só respeita homem.”

“Eu acho que tem que ter mais inclusão com os gordinhos e gordinhas, é ruim para os dois”

Paloma Barbosa é entregadora e moradora do Parque Santo Antônio, bairro da zona sul de São Paulo.

No caso da Paloma, o maior preconceito é por parte dos aplicativos em relação à bolsa que usam nas entregas, as conhecidas bags. Para ela, o uso da bag é dificultado por ser uma mulher gorda, já que as alças não fecham em seu corpo por conta do tamanho dos seios.

“A bag não fecha em mim porque a alça é muito curta, e fica bem na parte do peito, prefiro não fechar, deixo bem folgadinha principalmente quando eu estou com coisa pesada e ela fica apoiada na moto. Eu acho que tem que ter mais inclusão com os gordinhos e gordinhas, é ruim para os dois”, conta Paloma.

Conquistas e futuro 

Antes de vivenciar o sonhado momento de adquirir uma moto, as entregadoras passaram pelas experiências do longo trajeto de ônibus, utilização de bicicleta elétrica e até mesmo um patinete, além de encarar o medo de ser assaltada na rotina do trabalho.

Mesmo com esse caminho árduo para ambas as entregadoras de delivery, Bianca celebra o fato de estar prestes a quitar a sonhada moto. Depois de passar meses fazendo entregas com uma bike elétrica e até mesmo um patinete, enfim ela se aproxima o pagamento dos últimos boletos da queridinha. Ela pretende em 2022 terminar o ensino médio e correr atrás de novas oportunidades de trabalho.

Enquanto isso, Paloma, que começou recentemente a trabalhar com delivery, sabe o quão importante é a conquista de ter a própria moto. Depois de um ano de muitas crises de ansiedade, dias e noites em claro e em prantos, ela se vê melhor agora que tem como meta pagar as 20 prestações que ainda faltam de sua “menina”, como chama a moto adquirida recentemente.

Lendo, escrevendo…

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 Minha chegada nesse terreiro sagrado de escritas periféricas. Licença povaria!

Foto: Arquivo pessoal

Oprê! Olá, você que está aqui pra desenrolar o papo no Desenrola e Não Me Enrola… Já peço desculpas se o texto tá muito longo, tá? A intenção não é enrolar… Conto com tua paciência e peço licença pra chegar.

Meu nome é Aloysio Letra e eu recentemente (na verdade, já há algum tempo) fui convidado pra escrever por aqui. Talvez eu escreva crônicas, textos de opinião, textos sobre cultura, política ou use este espaço apenas pra me expressar como um articulador cultural de periferia que se permite ter uma “visão sobre o mundo”. Afinal, é bom ter um espaço coletivo pra poder escrevinhar…

Eu sou filho de Roberta, mineirinha de Muriaé, filho de Aloisio, baiano de Nova Lage. Sou preto de gradação clara, hetero cis, me reivindico afro-indígena, tenho uns quarenta e poucos anos, tenho o pé chato, sou de capricórnio (não me culpe), sou anti-racista, anti-sexista, anti-homotransfobia, anti-capacitista e sou morador de Éssepê no extremo Leste, lá nas distintas e distantes terras dos Guaianás (Pra quem usa trens da CPTM: Guaianases).

Esse é tipo um texto de apresentação, um flerte, para a gente se conhecer melhor e por isso resolvi escrever, porque ler e escrever foram se tornando importantes pra mim ao longo da minha vida.

Eu comecei a ler muito cedo. Minha mãe me alfabetizou lá pelos 4 anos de idade porque na época tinha muito medo do analfabetismo (que nessa época era bem comum). Como meus pais sempre foram pobres e trabalhavam muito fora de casa, isso foi muito bom, porque eu tinha poucos brinquedos e o maior lance então era usar a criatividade e a imaginação pra passar o tempo em casa. Lembro que li vários dos livros dos meus pais, mesmo sem entender muito, até depois ter acesso a livros de fato infantis. Parecia que aquelas vozes, as palavras novas e as figuras imaginárias ficavam perambulando minha mente durante os dias. Eu lia rótulo de embalagens, capas de discos de vinil, me imaginava outra pessoa, noutro lugar distante que não numa casa trancada ou num quarto pequeno e apertado.

Na escola, dos primeiros anos eu era bem tímido, por vários motivos, dentre eles por mudar de escola muitas vezes por conta das diversas mudanças de casa. A cada escola nova eu queria saber se tinha biblioteca ou um lugar pra pegar livros emprestados. Gostava muito de ler os livrinhos da série Vaga-lume, muito comuns nessa época e que podiam ser achados da biblioteca até a banca de livros usados da feirinha de domingo. Eram livros muito legais, bem ilustrados e nesse tempo eu fiquei fã de todos livros do Marcos Rey, com sua escrita cinematográfica e também era apaixonado pelo mundo imagético de “O Escaravelho do Diabo” (1974) e do maravilhoso “O caso da Borboleta Atíria” (1975), da mineira e premiadíssima Lúcia Machado de Almeida. 

Eu sou filho de Roberta, mineirinha de Muriaé, filho de Aloisio, baiano de Nova Lage. Foto: Arquivo pessoal.

Minha família não tinha grana, então eu não tinha acesso a muitos gibis (histórias em quadrinhos). A maioria dos gibis que li na infância era quando ia ao dentista, e daí por causa dos gibis eu adorava ir no consultório da dentista no Jabaquara. Lá eu lia histórias da Disney, da Marvel e da DC Comics e só ficava meio cabreiro porque nas revistas de heróis tinha muita estória incompleta, histórias que precisavam de mais gibis pra saber o fim. Era a época do auge da editora Abril, que editava muito do que se lia de história em quadrinhos no Brasil.

Da saudade que nascia entre cada visita ao dentista, nasceu a vontade de escrever e desenhar, e daí passei a criar minhas próprias estórinhas, tirinhas, heróis próprios, personagens diversos. Era bem legal ter vários papéis dobrados e colados, com estórias próprias que ficavam cheirando a naftalina quando guardadas na gaveta das meias.

Eu passava muito tempo sozinho em casa e a minha mãe lia e tinha algumas revistas, edições da revista Cláudia, revistas com guia de nomes pra se dar a bebês, revistas de receita, revista Veja, Veja São Paulo. Ficava muito curioso pra ler sobre as pessoas que via na TV: cantoras famosas, atrizes de novela e gostava de ler os textos de abertura das revistas, aquele texto que falava sobre o que cada matéria trazia pra aquela edição que tinha o tema tal e que tinha como destaque a Fulana ou a Beltrana.

Através dessas revistas eu conhecia melhor a minha mãe, que muito trabalhava, em casa e fora dela, e que por isso tinha pouco tempo pra prosear, amar, se amar. Nossas conversas indiretas muitas vezes foram através da leitura das suas revistas. O que ela lia me falava muito sobre ela e as pressões que ela sofreu no século 20.

Vez em quando eu também emprestava as revistas da minha mãe ou os poucos gibis que tinha, para amigas da escola, em troca das revistas que elas liam, assim também lia de quando em quando as revistas Capricho, revistas sobre comportamento e algumas revistinhas de horóscopo mesmo sem entender muita coisa.

Meu pai e minha mãe liam jornais quando tinham grana. Quando cheguei a pré-adolescência me interessei em ler de uma forma mais completa aqueles jornais. Antes eu só lia o caderno infantil que saía periodicamente. Meu pai lia mais a Folha de São Paulo e aos finais de semana o Estadão, vez em quando lia o Jornal da Tarde. Papai sempre comentava sobre o que lia e falava que a gente precisava se informar pra não ser alienado, com ele me habituei a acompanhar o jornalismo. Levava muita bronca por bagunçar a ordem dos cadernos do jornal do meu pai. Pra mim era difícil a organização daquele calhamaço de papel.

Nessa época, de tanto ler o que os “adultos sérios” liam, eu peguei gosto por crônicas. Aquela escrita meio que conversava comigo, criava amigos imaginários, mas eu ainda não sentia como poderia algum dia escrever algo do tipo e em espaços de destaque. Curtia muito o Bussunda, Mário Prata e mais um bocado de coisa que eu não recordo muito bem. Sei que o gosto por crônica depois me levou a buscar livros de crônicas, coletâneas como a “Comédias da Vida Privada” do Luís Fernando Veríssimo, que mais tarde na escola chegamos a montar numa peça teatral.

Do período da infância à adolescência lembro de escrever muitas cartas. Cartas para amigos, garotas da escola, para irmãos que moravam distante (tenho 8 irmãos, 4 homens e 3 mulheres) e cartas pra minha mãe ou meu pai após terem se separado, tempo em que eu vivia alternando minha morada, vezes morando com uma(um) ou com outra(o), de lá pra cá.

Eu lembro ainda da sensação de passar horas escrevendo e reescrevendo as emoções e os sentimentos, as saudades e as vontades que me atravessavam nos dias, semanas e meses de distância entre uma carta e outra. Ainda tenho numa velha lata de panetone algumas dessas cartas, algumas que guardam ainda os cheiros das tintas de caneta colorida ou mesmo cheiro de perfumes que vez em quando colocávamos para transportar a pessoa para as nossas sensações durante a escrita. Li e escrevi cartas com desenhos, com ingressos de shows colados com durex, cartas com ou como presentes, com fitas coloridas, com verdades e mentiras inofensivas, com indignações de vez em quando. 

Foto: Felipe Ribeiro

Com vinte e poucos anos, na época casado com minha melhor amiga da escola, eu trabalhava numa fábrica de vidro em Itaquera e revezava meu tempo de folga e os horários de almoço lendo livros e gibis usados que eu comprava quando sobrava um troco. Ensaiava ter uma coleção de gibis do Wolverine. Não sobrou uma só revista desse tempo.

Anos depois, durante a faculdade de Rádio e TV, me apaixonei por roteiros e por artistas que tinham o dom de criar imagens, paisagens e rimas visuais com as letras no papel. Adorava também os livros da Linda Seger, do Robert Mckee e os cursos de diálogo da ótima dialoguista Adriana Falcão. Amei a escrita pra cinema!

Durante muitos anos, apesar de imaginar, escrever, ler e sonhar, a verdade é que fora das trocas de cartas do círculo mais íntimo, eu não tinha muito acesso a escritas de outras pessoas que como eu, pretas e de periferia, escreviam, liam, sonhavam. Isso mudou em 2007, quando fui no primeiro sarau, a convite de uma amiga, Mayara Penina (hoje jornalista no Nós, mulheres da periferia).

Nessa época eu trabalhava num banco e a Mayara me convidou pro Politeama, um sarau numa região central da cidade de São Paulo. Eu fiquei fascinado com aquela troca de material autoral, com as provocações e incentivos para criações coletivas, frescas ali na hora, mas também meio intrigado pra saber como isso se dava nas periferias. A partir daí comecei a procurar saraus de periferia na minha região.

Em 2008, conheci o Sarau do Marginaliaria em São Miguel e através deles o pessoal do Sarau “O que dizem os umbigos?” no Itaim Paulista. Amor à primeira vista! Samara Oliveira, Daniel Marques, Queila Rodrigues e muitas poetas me fizeram apaixonar pelas possibilidades coletivas dos saraus de periferia, e os saraus passaram então a constituir também a minha formação cultural e política.

Nas escutas e leituras dos saraus comecei a ter acesso a outras “linhas editoriais”, outros sensos e olhares, agora mais livres do binarismo das editoras e redes de comunicação hegemônica. Foi um respiro e nesse ponto em diante me permitiria me reconhecer ainda mais nas escritas das mulheres, homens e bixas de periferia, pessoas que queriam pra si, mais do que a sociedade as destinava.

Bem, esse texto é um pouco sobre como a leitura e escrita perpassou a minha vida e estar aqui escrevendo num espaço de periferia, num portal de jornalismo atuante nas quebradas de Éssepê, é um alento num tempo tão violento, tão indelicado, tão cheio de guerras velhas e novas.

Vez em quando escreverei por aqui sobre o que der na telha, às vezes sobre indignações, às vezes sobre utopias vindas de quem sonha um mundo plural, poético e melhor pra todes. 

Agradeço se você quiser comentar aqui, me escreve aí como a leitura e a escrita te tocou na sua vida, o que achou desse texto e por favor, se possível, visite os textos de mais colunistas daqui do Desenrola e Não Me Enrola. Até mês que vem! Saravá as mudanças!

Confira 4 espetáculos de teatro gratuitos nas periferias de São Paulo

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Promovidos pelas companhias Encena, Palombar, Coletivo Noroest e Exército Contra Nada, as intervenções de dança, teatro e circo acontecem no mês de abril nos distritos de Anhanguera, Perus, Vila Sônia, Vila Guilherme, Itaquera e Cidade Tiradentes.

Cena do espetáculo “Jussara City – O Paraíso das Enchentes” da Cia de Teatro Encena. (Foto: T3 Produções)

Ao longo do mês de abril, uma série de espetáculos de teatro, dança e circo, que acontecem nas periferias e favelas de São Paulo, ocupando equipamentos públicos e independentes de cultura e educação. Bibliotecas, Casas de Cultura, e CEU´s abrem as portas das suas dependências para receber a população em seu entorno.

O Desenrola selecionou cinco companhias, enraizadas no cotidiano dos moradores das periferias, na qual, os artistas que protagonizam as intervenções e apresentações, tem como principal objetivo promover reflexões no público sobre questões climáticas e desigualdades sociais presentes em seu cotidiano. Confira:

Cia. de Teatro Encena 

O espetáculo “Jussara City – O Paraíso das Enchentes” foi criado a partir de pesquisas sobres enchentes nas periferias de São Paulo, e retrata a trajetória de vida de uma renomada ambientalista brasileira, que após muitos anos vivendo no exterior, volta ao país percorrendo as ruas do bairro onde nasceu, na periferia de São Paulo. Em uma viagem lúdica através das memórias de sua infância, ela resgata a história do bairro e a luta dos moradores, sempre às voltas com a tragédia das enchentes que anualmente os atormenta.

Agenda

Em cartaz: de 16/04 a 25/06/2022 – Sábados às 20h30

Local: Espaço Cultural Encena – Rua Sargento Estanislau Custódio, 130, Jd. Jussara-Vila Sônia, Butantã, CEP 05534-030.

Contato: encena@encena.art.br e pelo telefone 96460-5903 (WhatsApp)

Entrada: Gratuita mediante a apresentação de comprovante de vacinação e uso de máscaras.

Cena do espetáculo “Vértebras Quebradas” do Coletivo Noroest. (Foto: Lusca)

Coletivo Noroest 

O coletivo estreia espetáculo “Vértebras Quebradas”, que surgiu com base nas vivências do projeto “Coletivo Noroest – quebrada viva” que, a partir de uma perspectiva cultural periférica sobre o Hip Hop, movimento que vem transformando diversas ‘quebradas’ Brasil afora.

Agenda

Em cartaz: de 19/04 a 28/04/2022

Local: CCA Anhanguera – Rua Amadeu Caego Monteiro 209, Bairro Santa Fé – São Paulo – SP

Data e Horário: 19 de abril de 2022, às10h e 14h

Local: Biblioteca Padre José de Anchieta – Rua Antônio Maia 651, Perus – São Paulo – SP

Data e Horário: 20 de abril de 2022 , das 10h e 15h

Local: Ocupação Artística Canhoba – Rua Canhoba, 299 – Vila Fanton, Perus – São Paulo – SP

Data e Horário: 23 de abril de 2022, às 17h

Local: CCA Fanton – Rua Gofredo, Nº 141 – Vila Fanton , Perus – São Paulo – SP

Data e Horário: 26 de abril de 2022 (terça-feira), às 10h e 14h

Local: Casa do Hip-Hop Perus Rua Júlio Maciel, s/n – Vila Perus – São Paulo – SP

Data e Horário: 28 de abril de 2022, às 18h

Contato: www.facebook.com/Projetoquebradavivabattle e www.instagram.com/coletivonoroest

Entrada: Gratuita mediante a apresentação de comprovante de vacinação e uso de máscaras.

Cena do espetáculo “Mundano”, criado pelo grupo circense Exército Contra Nada. (Foto: Ricardo Avellar)

Exército Contra Nada

O grupo circense Exército Contra Nada está realizando uma temporada de apresentações gratuitas de “Mundano”, espetáculo que apresenta dois soldados a caminho de sua cidade natal após uma experiência bélica. Perdidos, eles têm como única referência o lugar onde as ruas “Esperança” e “Alegria” se encontram. Nesta caça às esquinas, eles necessitam pedir ajuda de quem está pelas ruas, mas não sabem como agir. Ao se questionarem se conseguem fazer outra coisa além de lutar e resistir, eles encontram no riso o sentido para seguir.

Em cartaz: de 16/04 a 27/04/2022

Local: Centro Cultural Arte em Construção – Av. dos Metalúrgicos, 2100 – Cidade Tiradentes, São Paulo – SP –

Data e Horário: 16 de abril de 2022 (sábado), às 16h

Local: CEU Água Azul – Av. dos Metalúrgicos, 1300 – Cidade Tiradentes, São Paulo – SP, 08471-000

Data e Horário: 20 de abril de 2022 (quarta-feira), às 11h

Local: Teatro Flávio Império – R. Prof. Alves Pedroso, 600 – Cangaíba, São Paulo – SP, 03721-010

Data e Horário: 23 de abril de 2022 (sexta-feira), às 16h

Local: Casa de Cultura Raul Seixas – R. Murmúrios da Tarde, 211 – Jose Bonifácio, São Paulo – SP, 08253-580

Data e Horário: 24 de abril de 2022 (sábado), às 16h

Local: CCJ – Centro Cultural da Juventude – Av. Dep. Emílio Carlos, 3641 – Vila dos Andrades, São Paulo – SP

Data e Horário: 27 de abril de 2022 (domingo), às 11h

Contato: www.facebook.com/exercitocontranada e www.instagram.com/exercitocontranada

Entrada: Gratuita mediante a apresentação de comprovante de vacinação e uso de máscaras

Cena do espetáculo “Circomuns”, criado há 10 anos pelo grupo Palombar de circo e teatro. (Foto: Carlos Goff)

Circo Teatro Palombar 

Comemorando dez anos com a temporada de “Circomuns” na Cidade Tiradentes, o Circo Teatro Palombar promove apresentações deste espetáculo que resgata pequenas fagulhas de Cidade Tiradentes, bairro em que vivem seus integrantes, enxergando as poéticas deste território e a potência de vida de seus moradores, traduzindo-as para o universo circense.

Em cartaz: de 22/04 a 30/04/2022

Local: Centro Cultural Arte em Construção – Av. dos Metalúrgicos, 2100 – Cidade Tiradentes, São Paulo – SP –

Data e Horário: 22, 23, 29 e 30 de abril de 2022, às 10h30 6 de abril de 2022 (sábado), às 19h30

Contato: www.facebook.com/Circo.Palombar e www.instagram.com/circopalombar

Entrada: Gratuita mediante a apresentação de comprovante de vacinação e uso de máscaras.

Diarista usa cartão com QR Code para divulgar canal de receitas na rua

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Inicialmente, o canal foi criado para distrair a diarista que estava desempregada, mas com o passar do tempo, a iniciativa ganhou função terapêutica de tratar a depressão e se tornar uma fonte de renda

Com o objetivo de aumentar o número de inscritos, Neide divulga o canal para aas pessoas pessoalmente. Foto: Estela Sousa

Após dois meses da criação do Canal Cozinha Sem Pressão, a diarista Ivoneide Nascimento, 52, moradora do Jardim Analândia, em Itapecerica da Serra, conhecida pelos vizinhos como Neide, utilizou uma estratégia inusitada para divulgar o projeto: mandou imprimir cartões com QR Code em uma gráfica perto da casa dela, para distribuir aos moradores que passavam pelas ruas do bairro, por meio do popular boca a boca.

Na época, o canal estava com 40 visualizações e 15 inscritos. Após o processo semanal de entrega de cartões com QR Code, ele foi para 326 inscritos e alcançou mais de 23 mil visualizações.

“Com os cartõezinhos foi aumentando, né? Até porque eu saía entregando. Eu ia na lotérica pagar alguma coisa, eu já entrava na fila, também ia nos pontos de ônibus, terminais, metrôs e eu entregava assim para as pessoas. E aí foi multiplicando. Eu acredito que os cartõezinhos adiantaram bastante”

avalia a diarista Youtuber.

De acordo com Neide, utilizar o cartão como estratégia ajudou no crescimento do canal. Foto: Estela Sousa

A ideia surgiu para alcançar o público mais jovem que acessam os vídeos com maior facilidade, em uma linguagem conhecida. Para as pessoas que não sabem utilizar o QR Code ou não tem o aplicativo para fazer a leitura do código, Neide deixava o endereço online para ser acessado de forma manual.

A pretensão de Neide é atingir a marca de 1 mil inscritos no canal, e conseguir monetizá-lo. Ela também sonha em futuramente abrir um restaurante com atendimento online para trabalhar com entregas por delivery, já que os inscritos gostam das receitas e pedem para ela fazer e entregar.

Surgimento do canal 

Desempregada desde novembro de 2021, Neide tinha uma rotina profissional corrida. Ela trabalhava como diarista na região central de São Paulo, realizando serviços de limpeza em duas casas de segunda a sexta-feira e um escritório de advocacia que ela atendia sempre no domingo.

Com pouco tempo para descansar, tudo mudou na vida da Neide, após ela passar mal durante o trabalho e descobrir que estava tendo uma arritmia cardíaca.

“Eu estava finalizando a limpeza e de repente eu comecei a me sentir tonta, sem força na perna e nos braços. Eu cheguei a terminar o serviço segurando nas paredes”

conta.

A diarista precisou ficar internada, usar aparelhos e começar um tratamento com medicações fortes e realizar eletrocardiogramas periódicos durante três meses, por isso não conseguiu mais trabalhar, já que não era registrada e ganhava por dia de serviço prestado.

Pensativa sobre a oportunidade de trabalho e renda que poderia não voltar mais, Neide conta que até hoje mantém contato com os antigos empregadores, e relata que eles se preocupam com o seu estado de saúde.

“Elas ficaram com medo da responsabilidade. Mas aí elas me pagaram direitinho, fiz o acordo e aí deu tudo certo graças a Deus, né? Até hoje elas me ligam pra saber se estou bem, mas já colocaram pessoas ocupando o lugar que eu estava e eu fiquei muito triste porque quando me ligaram falando que já tinha uma outra pessoa, eu tinha a esperança de ficar boa e retornar, mas não foi bem assim”, relata.

Após perder a fonte de renda em plena pandemia de covid-19, a diarista relata que iniciou um processo de desenvolvimento de depressão. Triste por ver a mãe desanimada, o filho mais velho, Bruno Rolim, 29, junto com a ajuda da filha Estela Sousa, incentivaram Neide a criar o canal “Cozinha Sem pressão”.

A filha Estela é quem ajuda Neide na gravação, edição e postagem dos vídeos. Foto: Estela Sousa

“Mãe, vamos criar esse canal, como eu já havia dito. Você gosta de cozinhar, o seu tempero é muito bom, vamos criar esse canal, você vai se distraindo”, relembra Bruno, sobre um dos diálogos de incentivo para sua mãe criar alguma alternativa para ocupar a mente, que estava sendo tomada por um processo de depressão.

Aos 52 anos, após relutar bastante, Neide topou a ideia e com a ajuda de Estela, que fazia a gravação, edição e postagem no Youtube, elas lançaram o canal. No começo, a diarista não tinha um celular para gravar os vídeos e pegava emprestado do filho Bruno, de Estela ou o da nora Gabrielly, 23, que ia trabalhar e deixava o aparelho para a sogra poder usar.

“Era bem difícil, né? Quando a minha nora ia sair, a gente ficava sem saber o que fazer pra gravar. Pra você ter uma ideia foi tão difícil [o começo] que eu não tinha um rolo pra abrir o pão, aí eu abria com o copo. E às vezes não tinha panela o suficiente pra gravar, não tinha as coisas e eu improvisava. Eu ficava achando que não ia dar. Depois eu acordei. Eu falei: quer saber de uma coisa? Vou fazer e vai dar certo, isso vai bombar”

relata emocionada.

A parte favorita de Neide é escolher qual comida irá preparar, nos livros e revistas de receita que ela coleciona desde 1988, e guarda embalados com muito carinho. Depois, ela faz a lista de ingredientes, compra no mercado e separa na bancada para começar a gravação.

Tradição para Neide, as ideias dos vídeos saem dos livros de receita que ela guarda em casa. Foto: Estela Sousa

“Eu adoro gravar, eu separo as coisinhas de gravar, né? Os alimentos bonitinhos. Eu sempre gostei de cozinhar. Então é coisa que eu faço porque eu gosto muito”, finaliza.