“Salve a democracia, vote contra a LGBTIfobia” é tema da primeira Parada LGBTQIA+ do Capão Redondo

Edição:
Evelyn Vilhena

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O evento, que acontece neste domingo (24), contará com a apresentação de 30 artistas e fará um trajeto entre a estação Campo Limpo e Capão Redondo, na zona sul de São Paulo.

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Integrantes da Família Stronger no último encontro anual organizado pela rede. Foto: Nicoly Almeida

Neste domingo (24), a partir das 12h, acontece a primeira Parada LGBTQIA+ do Capão Redondo. Organizada pela Rede Periférica Família Stronger, a passeata começará nos arredores da Estação Campo Limpo, linha lilás do metrô, e contará com a participação de 30 artistas, entre drag queens, DJs, músicos e dançarinos, que se apresentarão de forma voluntária. Ao final do percurso, o show de encerramento acontecerá em frente a casa de show Avalon Lounge.  

O tema escolhido para inaugurar o evento nas ruas e avenidas da região sul da capital paulista é “Salve a democracia, vote contra a LGBTIfobia”. Em entrevista para o Desenrola, um dos organizadores, o gestor público Elvis Justino de Souza, comenta que a Parada é, sobretudo, uma manifestação política para alertar a população sobre os riscos que correm em virtude da tentativa, por parte do presidente e seus aliados, de enfraquecer a democracia.

Integrante da Família Stronger há cerca de dez anos, o gestor público comenta também sobre a importância de conscientizar – especialmente os mais jovens – em relação à história do distrito e das pessoas que derramaram o próprio sangue para que existisse hoje um estado democrático de direitos.

“O Capão Redondo é um território de luta. Aqui, tivemos Santos Dias, um operário que foi assassinado durante uma manifestação por democracia e por direitos. Então, fazer a Parada LGBTQIA+ com esse tema é honrar e respeitar aquelas pessoas que tiveram seu sangue derramado por policiais militares, pelo exército, pelo DOI-CODI (…). É importante falarmos isso para as pessoas LGBTQIA+, porque elas precisam conhecer a própria história”

 pontua o gestor.

A Família Stronger conta com 250 membros e também organiza eventos do tipo em outras regiões do município. Na Cidade Tiradentes, por exemplo, a primeira edição da Parada aconteceu em 2017. De acordo com a organização, é importante levar esses eventos para as margens da cidade, porque a população periférica precisa se deslocar por muitos quilômetros para chegar à Paulista, além de, muitas vezes, não ter dinheiro suficiente para pagar os custos do trajeto.

“Muitas pessoas transexuais não conseguem sair de casa durante o dia e quando você leva a Parada LGBTQIA+ para estes locais, você consegue fazer com que elas saíam sem que se tornem motivo de chacotas ou piadinhas, sem que atirem pedras nelas, sem que nada disso aconteça”, comenta Elvis, quando perguntado sobre a importância do evento.

O gestor público relata que quando levaram a Parada para a Cidade Tiradentes, por exemplo, não haviam pessoas transexuais circulando na rua durante o dia.

“Você não via pessoas LGBTQIA+, era tudo às escondidas, tudo no sigilo, somente de madrugada. Hoje em dia não, se você for na Cidade Tiradentes, você vai ver gays montados, meninas se beijando, andando de mão dadas. Muitas ONGs querem, inclusive, trabalhar com LGBTs, direcionando projetos para essa população”, completa.

Marco político no território  

A drag queen e apresentadora, Kênia Halk’s, será a madrinha do evento que acontece pela primeira vez nas redondezas do Campo Limpo e Capão Redondo. Em entrevista ao Desenrola, ela comenta estar ansiosa por ser uma grande responsabilidade, que segundo ela, “é uma oportunidade de mostrar que as travestis não são apenas aquelas mulheres que fazem programa na avenida, e que ‘as gays’ não são aquelas pessoas que não querem nada com a vida”.

“A parada está aí pra mostrar que não somos apenas homens que ficam com homens ou mulheres que ficam com mulheres. A gente também é luta, é perseverança, é militância, é resistência e é respeito, e não é porque somos pessoas gays, lésbicas, não bináries, travestis e transexuais que não merecemos ser respeitadas. E não é porque você é uma pessoa heterossexual que você não pode estar frequentando, lá no meio, apoiando e militando com a gente”

declara a apresentadora.

Kênia comenta também sobre o tema escolhido pela organização, tendo em vista que as eleições para o legislativo e o executivo se aproximam, e considera importante que a população tenha consciência no momento de ir às urnas votar, pois, de acordo com ela, muitas mãos acabaram sendo soltas nas últimas eleições, especialmente a de pessoas negras, periféricas e LGBTQIA+ que, por sua vez, foram as principais vítimas da intolerância política.

“A Parada é importante para mostrar que a imagem do Capão Redondo não é a de um lugar perigoso, o lugar que se você for gay ou travesti, você apanha. Não, pelo contrário, é para mostrar que mesmo na periferia você pode encontrar um lugar seguro para viver, morando, convivendo, existindo e resistindo”, comenta sobre a importância de fazer a Parada LGBTQIA+ no território que muitas vezes permanece no imaginário popular apenas como um espaço de privação e violência. 

“As Paradas nas periferias vêm para mostrar que o preconceito, a homofobia, que a intolerância não vem só da periferia, porque a população geral julga e fala que a homofobia existe somente nas periferias. Não, não e não! Às vezes, rola até na família tradicional classe média alta brasileira”

finaliza Kênia, madrinha da Parada LGBTQIA+ do Capão Redondo.

O evento é uma iniciativa independente que também não conta com o apoio de nenhum órgão do poder público. Embora tenha enfrentado problemas com a CET e com a Subprefeitura do Campo Limpo para a sua realização, por conta do trajeto, cujo trecho havia sido escolhido pela própria Subprefeitura – e acabou não sendo autorizado nem por ela, nem pela Companhia de Engenharia de Tráfego – a organização afirma que não serão impedidos de ir às ruas.

“Nós somos pessoas de luta, pessoas de resistência. Somos corpos com cicatrizes, mas não são elas que estarão falando no dia 24, serão as nossas vozes. São os corpos trans que foram humilhados, pisados, apedrejados que vão estar na linha de frente. (…) E no único dia que temos para ser LGBTs, não serão grupos políticos, a CET ou a polícia que vão nos impedir, porque vamos mostrar que a resistência se faz na rua, que a democracia se vence na rua, e é sobre isso que vamos estar falando: resistência na periferia”, finaliza Elvis Justino.

Mais informações 

Quando: 24 de abril, domingo, às 12h
Onde: O trajeto inicia na Av. Carlos Caldeira Filho, próximo à estação Campo Limpo, linha lilás do metrô, e termina na mesma avenida, próximo à estação Capão Redondo. Ao final do percurso, o show de encerramento acontecerá em frente a casa de show Avalon Lounge.

Para saber mais, acesse @paradalgbt.capaoredondo ou @redefamiliastronger no Instagram. Também é possível entrar em contato pelo número (11) 95813-8088 ou no e-mail familiastronger@gmail.com.

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