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Liderança indígena reforça necessidade de “estudar a história do Brasil real”

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A não romantização da dor e luta dos povos indígenas junto a disseminação de sua história contada por seus próprios protagonistas, esses são alguns dos caminhos apontados pela líder indígena Jerá Guarani, em entrevista ao Desenrola, sobre o fortalecimento e contribuição na luta dos povos indígenas.

Questões que afetam a população indígena são colocadas em foco principalmente em datas como o dia 19 de abril, data controversa que originalmente propõe celebrar o dia do “índio”, instituído em 1943, e que teve seu nome revogado em 2022, para o Dia dos Povos Indígenas. Sozinhas, datas que lembram a importância dos povos originários não mudam estruturas, por isso precisam ser acompanhadas de leis, políticas públicas e ações práticas para garantir a existência de uma população múltipla e que é parte ancestral do território.

Para Jera Guarani, as datas que celebram os povos indígenas, reconhecendo a pluralidade dessa população, ampliam em partes a visão da sociedade: “traz um pensamento de que não existe só um tipo de indígena”, afirma, reforçando a necessidade de políticas efetivas.

Estima-se que esses números são maiores, pois diante do medo em se autodeclarar, entre outras questões, muitos indígenas podem não ter sido contemplados nos dados. Nesse sentido, surge a importância da autodeclaração para o próximo Censo do IBGE que está sendo realizado em 2022. Esses números podem servir como argumento para construção de políticas públicas pensadas para a população indígena, além de subsidiar discussões e movimentos no campo.

A líder indígena da aldeia Tenonde Porã, da etnia Guarani Mbyá, Jera Guarani contou, entre outras coisas, sobre a necessidade de estudar a história real do Brasil para entender a relevância histórica e ancestral dos povos originários. Confira:

Desenrola – Datas como o Dia Internacional dos Povos Indígenas ou o Dia dos Povos Indígenas representam algum avanço ou mudança (prática ou subjetiva) na vida dos povos originários?

Jera Guarani: Acho que ainda não. O 19 de abril, por exemplo, é uma data em que as escolas acham que tem que trabalhar a questão indígena, mas ainda assim de uma forma superficial e nada real, que só fortalece todos os anos dentro dessa linha de ação pedagógica, o preconceito que às vezes parece que nunca vai diminuir. No dia do “índio”, aí as pessoas falam de indígenas, de uma forma romantizada, que são bonitinhos, que cantam, que dançam, que vivem no mato, que pesca, que caça, e nunca trabalha a questão da diversidade, da luta pela terra, do descaso do governo, das políticas públicas em relação a esses povos que são originários e que tem direitos constitucionais antes mesmo da criação da constituição que temos aqui no Brasil. É como se os povos indígenas só fossem existir naquela data e depois nunca mais ninguém fala sobre isso.

Desenrola – Como a propagação de uma história única contada sobre a pluralidade dos povos reflete hoje na população?

Jera Guarani: Causa uma grande falta de conhecimento sobre os que ainda resistem e re-existem no seu belo, encantador e inspirador modo de ser, na sua maneira de falar, cantar e dançar, se movimentar e de se se elevar espiritualmente.

Desenrola – De que forma o processo educacional pode contribuir com a valorização da cultura e saberes dos povos originários?

Jera Guarani: De forma correta, não dá forma cheia de romantismo barato, preconceito pesado, arrogância de superioridade que são tratados os povos originários.

Desenrola – Existem pessoas que desassociam indígenas que vivem em contextos urbanos às populações indígenas. Como ressaltar essa ligação e ancestralidade?

Jera Guarani: Esse cenário para ser compreendido, se deve estudar a história real do Brasil. O fato é que esse Brasil teve um passado muito sombrio e em muitas regiões hoje ainda se repete a roubalheira dos territórios indígenas, os assassinatos, os conflitos que acabam terminando em mortes, inclusive de crianças, idosos, mulheres, etc. E ainda muitas pessoas que hoje vivem em cidades, ou em comunidades, como a do Pankararu no Real Parque, sofrem muito preconceito e alguns de indígenas que estão em suas terras, porque às vezes pensam que essas pessoas simplesmente escolheram morar em São Paulo em busca de trabalho e pronto.

Não se considera na verdade tudo o que aconteceu ali nas praias da Bahia, nessa parte do norte/nordeste que foi super pesado, a invasão e roubalheira de territórios, como para a grande maioria dos primeiros povos que teve contato com o não indigena invasor. Foram caçados e exterminados, proibidos de pronunciar sua língua materna, usados como mão de obra escrava, perderam completamente seus territórios, estupros aconteceram, que acelerou o processo de miscigenação. Então tem todas as questões e várias outras que fazem com que indígenas saiam da sua terra natal, do seu território de origem, às vezes simplesmente para continuar vivos.

Desenrola – De que maneira o contexto político reflete na garantia e/ou perda dos direitos e acessos dos povos originários?

Jera Guarani: Da maneira como colocamos um Presidente arrogante e preconceituoso como esse que temos que aguentar.

Desenrola – Como a população pode colaborar com a luta dos povos indígenas?

Jera Guarani: Estudar a história do Brasil real, em sua grande maioria contada pelos próprios. A internet já é uma boa ferramenta que possibilita estudar bem, mesmo sem ir para a aldeia. E dessa forma ficar atento para qualquer chamada de apoio, para defender a natureza.

Guilhotina educacional: estuda quem pode, come quem trabalha

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A implantação de uma escola de ensino integral precisa integrar sociedade civil, pesquisas sobre o público e políticas públicas que correlacionam, caso contrário será um desastre.

Um dos primeiros textos desta coluna buscou tratar sobre educação de qualidade, contudo naquela mesma época eu havia começado a escrever um texto acerca do NOVOTEC, texto esse que nunca publiquei. Ao reler meus arquivos antigos e tentar abrir o debate sobre a PEI (Programa de Ensino Integral) decidi que era necessário procurar tratar dos interesses políticos e da ausência do reconhecimento da realidade da maioria dos jovens brasileiros.

A ideia da escola de ensino integral é incrível, não posso aqui negar que é lindo pensar em adolescentes que podem estudar o dia todo, que possuem matérias novas e inovadoras numa grade escolar e muitas atividades extras.

Contudo a PEI aplicada em São Paulo não é nada disso, não inova já que agrega e alinha suas ideias a um modelo de educação para emprego da década de 90 (ensino técnico), não traz atividades extracurriculares pensadas no desenvolvimento do adolescente e nem refaz a estrutura escolar que é por vez extremamente desconfortável para estar durante longos períodos (e não tô falando de dar alguns notebooks e colocar rede wifi viu?).

Mas aqui não quero focar em tratar da mera estrutura física ou dos desdobramentos pedagógicos da PEI, e sim discorrer um pouco sobre como uma escola de ensino integral não cabe na realidade do adolescente brasileiro e implantar isso como política pública única e solitária gerará exclusão escolar (evasão ou abandono como o governo costuma intitular).

Durante meu estágio escolar realizado num período entre fim de fevereiro e maio vivenciei um pouco do desespero dos alunos sobre as mudanças propostas, como fiz estágio numa escola de ensino regular que estava começando a ter algumas coisas relacionadas a PEI, vi a entrada de muitos alunos novos vindos de outras escolas para tentar “fugir” do ensino integral e terminar o ensino médio.

É fato que boa parte dos nossos adolescentes precisam trabalhar e estudar e que parte destes estão em situações de trabalho precarizadas, segundo um estudo publicado na Campanha da Fundação Abrinq com alertas acerca do trabalho infantil.

Só em 2020, cerca de 556 crianças e adolescentes foram vítimas de acidentes de trabalho, que vão desde quedas até amputações. Destas, 46 vieram a falecer. O Trabalho Infantil a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Trimestral realizada pela Fundação Abrinq, com base nos dados do IBGE.

Claro que no mundo ideal ninguém quer imaginar uma adolescência atravessada pelo trabalho, mas se nosso país legislou um dito “jovem aprendiz” é porque muitas vezes esses adolescentes por diversos motivos entram no mercado de trabalho, a questão é qual mercado os aguarda? O Estado está os apoiando nessa entrada? Trabalhar significa perder o direito ao estudo?

Então já que vamos criar o mundo ideal, estes jovens vão ter que largar a escola? Pois não vivem o ideal? A PEI além de negar a dimensão de vida dos nossos jovens brasileiros, ainda é implantada após uma pandemia que deixou várias famílias devastadas em diversas dimensões de suas vidas.

Nisso, adolescentes que trabalham desde dos 14 anos (oficialmente) terão que escolher: trabalho ou estudo? E dentro disso vai pesar aquilo que dará mais fome.

A implantação de uma escola de ensino integral precisa integrar sociedade civil, pesquisas sobre o público e políticas públicas que correlacionam, caso contrário será um desastre.

Será que nossos jovens sempre sonharam com isso? Com educação física às 7h da manhã sendo que suas aulas ocorrem à tarde? A escola antes de ser um lugar de “moldar” trabalhadores (o que foi injetado na escola perante ao modelo social), é um dos lugares onde ocorrem as primeiras interações sociais, as trocas, os desdobramentos de descobertas, é um local rico e amplo, proveitoso em produzir grandes mentes caso as deixe brilhar.

E uma realidade onde os interesses desses indivíduos não são ouvidos é uma demonstração da desimportância do papel do jovem no Brasil dentro do recorte do debate, não existe um acolhimento.

A questão aqui não é o que poderia dar certo, mas sim o que já está dando errado.

O fato da PEI ser em ensino integral não é um mal, como disse inicialmente é incrível pensar sobre e inclusive no nordeste houveram algumas movimentações nesse sentido que foram mais bem pensadas e implantadas, contudo qual a realidade dos nossos jovens? Nossos jovens estão conseguindo ser o que são? É possível estudar sem estabilidade de vida? Uma política pública não pode ser feita sozinha, ainda mais quando se trata de educação.

Políticas públicas de educação devem ser para benefício populacional e não eleitoral, com o passar dos anos a frase de Darcy Ribeiro se torna mais real: “A crise na educação não é uma crise e sim um projeto”.

Pensar em educação é uma urgência comunitária e social, mais do que nunca não é sobre o que eu acredito e penso, é sobre os impactos que as políticas têm na vida das pessoas, é sobre o desenvolvimento de indivíduos com direitos.

A criança tem cem linguagens (e depois, cem, cem, cem), mas roubaram-lhe noventa e nove.
A escola e a cultura separam-lhe a cabeça do corpo.
Dizem-lhe: de pensar sem as mãos, de fazer sem a cabeça, de escutar e de não falar,
De compreender sem alegrias, de amar e maravilhar-se só na Páscoa e no Natal.
Dizem-lhe: de descobrir o mundo que já existe e, de cem, roubaram-lhe noventa e nove.
Dizem-lhe: que o jogo e o trabalho, a realidade e a fantasia, a ciência e a imaginação,
O céu e a terra, a razão e o sonho, são coisas que não estão juntas.
Dizem-lhe: que as cem não existem. A criança diz: ao contrário, as cem existem.

Loris Malaguzzi

Cursos gratuitos: direitos humanos e letramento econômico

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No formato online e presencial, as formações visam fortalecer a atuação de lideranças periféricas e membros de movimentos sociais.

Formação em Direitos Humanos 

Entre agosto e setembro, o CDHEP (Centro de Direitos Humanos e Educação Popular de Campo Limpo), realiza encontros formativos para fortalecer a atuação de ativistas, lideranças, advogados populares, membros de coletivos, de movimentos sociais, de redes e organizações que se dediquem à promoção e defesa dos direitos humanos. Para participar é necessário preencher o formulário neste link.

O ciclo de oficinas acontecerão nos dias 13/08, 20/08 e 03/09, sábados, das 09h às 16h30. Haverá emissão de certificado para os participantes que comparecerem aos três encontros. Além disso, a organização disponibilizará, a quem indicar a necessidade, um apoio financeiro para deslocamento.

O objetivo principal do encontro é colaborar na capilarização da metodologia de proteção popular de defensores de direitos humanos no território no estado de São Paulo. O encontro “Sementes de Proteção de Defensores/as de Direitos Humanos – Proteção Popular, Organização e Atuação em Rede no estado de São Paulo” busca contribuir para o fortalecimento da atuação em rede e aprofundar o engajamento dos agentes que realizam a defesa de Direitos Humanos.

Local: CDHEP – R. Luís da Fonseca Galvão, 180 – Parque Maria Helena, São Paulo – SP, próximo ao metrô Capão Redondo.
Inscrições: por meio do preenchimento do formulário neste link.

Programação: 

13/08

Diálogo 1 – Análise de conjuntura dialogada: Desafios para os tempos atuais
Diálogo 2 – Gerando Proteção Popular: Movimentos Populares em Ação

20/08

Diálogo 3 – Gerando Proteção Popular: Movimentos das Mães em ação
Diálogo 4 – Gerando Proteção Popular: Lutas urbanas e do campesinato

03/09

Diálogo 5 – Gerando Proteção Popular: Ancestralidade e resistência
Diálogo 6 – Gerando proteção popular: Luta contra a invisibilidade

Programa de letramento econômico 

A NoFront – Empoderamento Financeiro está com inscrições abertas para o “Programa de Letramento Econômico para Lideranças Periféricas”. O objetivo é oferecer letramento em tópicos de economia para que lideranças periféricas possam replicar o conhecimento dentro das suas comunidades, com a finalidade de apoiar e incentivar a sustentabilidade financeira das coletividades nos seus territórios. A formação é gratuita, online e as inscrições podem ser realizadas até o dia 05/08, neste link.

Serão oferecidas 10 horas de formação teórico-conceituais em temas de macroeconomia e economia política com ênfase nas desigualdades raciais e de gênero, e 4 horas de mentoria com o time da NoFront para o acompanhamento da replicação do conhecimento em seus territórios. O início dos encontros será em agosto de 2022, e contará com três módulos: As bases da exploração: raça, classe e gênero; Economia, Capitalismo e a Gestão da Pobreza e Educação e Empoderamento Econômico.

A iniciativa conta com 30 vagas destinadas para pessoas negras e indígenas de periferias urbanas ou rurais. Para participar, não é necessário que o candidato tenha formação prévia no tema. As vagas serão distribuídas, preferencialmente, de forma equitativa entre as regiões brasileiras, sendo cinco vagas para cada região do Brasil.

Inscrições: 20/07 a 05/08
Formato: gratuito e online
Formulário de inscrição aqui
Edital aqui 

Programação: 

Módulo 1 – As bases da exploração: raça, classe e gênero

  • Formação do Sistema Mundial Capitalista
  • Raça e Racismo no Brasil
  • Gênero, Trabalho Reprodutivo e Capitalismo

Módulo 2 – Economia, Capitalismo e a Gestão da Pobreza

  • Noções críticas ao neoliberalismo
  • Noções Básicas Economia
  • Breve História da Economia Brasileira I – da redemocratização aos dias de hoje (1994-2022)
  • Gestão da Pobreza no Capitalismo

Módulo 3 – Educação e Empoderamento Econômico

  • Planejamento econômico e noções de educação financeira
  • Introdução aos investimentos

Websérie relata trajetórias de dançarinos do grupo de breaking Unity Warriors

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Em episódios semanais, a produção exalta a importância das narrativas construídas por jovens periféricos que por meio da dança encontram um caminho para sua identidade. 

Foto de Victor Godoi

O grupo Unity Warriors produziu a websérie “Unity Warriors – Estamos Vivos“, que traz as trajetórias de seus participantes. Com transmissão gratuita, a websérie de seis episódios vai ao ar sempre às terças e sextas-feiras, às 12h, no Canal do Youtube da Unity Warriors.

A cada episódio, diferentes narrativas são construídas a partir do olhar de um dos bailarinos do grupo, que dentro e fora da Unity Warriors, lidam com preconceitos e condições impostas a moradores das periferias para construir sua trajetória na dança contemporânea e na arte urbana. 

“Queremos mostrar que através do amor, dedicação e muito treino, podemos conquistar o mundo e seguir transmitindo o conhecimento conquistado no decorrer dos anos, inspirando as novas gerações através da arte do breaking”

Unity Warriors

Foto de Victor Godoi

A Crew, como é chamado o grupo de dança deste estilo, surgiu em 2015, a partir da união de jovens da periferia de Perus e São Miguel Paulista, com a proposta de celebrar a cultura hip-hop através do breaking. Desde então, o grupo participa de eventos importantes da cena e foi vencedor em vários deles, como Arena Caieira 2019, “The king Of The Night” (SP), “Boom Breaking” Festival de dança breaking de Barueri – SP, Fast Battle 2016 (MG), “The Killers Jova Battle” na Fábrica de Cultura Jaçanã; e segundo lugar no “Brasil super Battle”, em Brasília – DF.

Foi também o primeiro grupo brasileiro a chegar na final do Break The Floor, um dos maiores campeonatos de breaking do mundo, realizado em Cannes (França). Em Lyon (França), participou como convidado para uma batalha show no evento “Rotary Breaking Dance“. E em Paris (França), foi o primeiro grupo brasileiro a participar como convidado da competição “Fire Jam” chegando à semifinal. 

Serviço

 “Unity Warriors – Estamos Vivos” – Unity Warriors
Sinopse: Na série documental formada por seis episódios, os integrantes do coletivo Unity Warriors, narram suas histórias e trazem à tona fatos inéditos de suas trajetórias. Driblando preconceitos e as dificuldades de ser periférico, eles relatam como foi se estabelecer no universo da dança, mas acima de tudo, estar vivo.
Duração: 10 minutos, em média, por episódio.
Classificação Livre – Grátis
Quando: episódios liberados de 26 de julho a 12 de agosto de 2022
Horário: terças e sextas-feiras, às 12h
Onde assistir: Canal do youtube do Unity Warriors

E o meu teto?

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Deveria ser um direito nosso o acesso à compra de um lar decente, que conseguíssemos pagar e viver tranquilos.

Foto do dia 20/07/22 da ocupação na Cohab Paulistano em Taipas, zona noroeste de São Paulo. Foto: Juh na Várzea

Se você mora numa periferia deve ter percebido o quanto as ocupações de moradia cresceram na quebrada. Não é pra menos, com a loucura que estamos vivendo, os trabalhadores não conseguem comprar o básico para comer e uma hora de trabalho vale menos que um litro de leite. Já era de se imaginar isso acontecer.

A galera na quebrada tem que optar em pagar aluguel ou comer. 

Se paga, passa fome. Se não paga, é despejado. Tudo pra nós é mais foda, são várias lutas.

Enquanto pessoas criticam tais ocupações, dizendo que são loucos, desocupados, que estão fazendo maluquice e que tem que sair fora, eu costumo olhar de outra forma.

O desespero faz você correr, tentar se virar. Pensa só: a galera que paga um aluguel de 700 reais na quebrada (chutando), aparece uma ocupação, ela cai pra dentro, monta seu barraco pra tentar “livrar” esse dinheiro para poder sobreviver.

Não é o certo, sabemos. Mas na nossa atual situação, que sabemos o quanto está difícil em todos os termos possíveis, o pobre é o que mais sofre e sempre tenta procurar uma alternativa.

Cohab Paulistano – Taipas, zona noroeste de São Paulo – Foto Juh na Várzea
Foto do dia 20/07/22 da ocupação Cohab Paulistano – Taipas, zona noroeste de São Paulo – Foto Juh na Várzea

Deixei duas fotos de como era o morro aqui na quebrada que da laje de casa vejo e uma foto de agora. O tanto de casas que cresceu. Imagino o sacrifício do pessoal, que arriscou o que tinha guardado para poder comprar alguns tijolos e telhas para poder sair do aluguel.

Tinha que ser um direito nosso o acesso à compra de um lar decente, que conseguíssemos pagar e viver tranquilos. Mas se não estamos conseguindo nem comer, quando é que vamos conseguir comprar um teto?

Confira quatro espetáculos gratuitos promovidos por grupos de teatro das periferias de SP

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Com temáticas que envolvem histórias de mulheres migrantes do nordeste à saúde mental, as apresentações acontecem entre o fim de julho e vão até setembro.

Grupo Fanfarrosas – Foto: arquivo pessoal

Entre os meses de julho a setembro, as companhias Cia. de Achadouros, Pia Produções Artísticas, Fanfarrosas e Companhia de Teatro Heliópolis apresentam espetáculos gratuitos em diferentes espaços públicos em São Paulo.

As peças abordam temas como imaginação e memória de infância, saúde mental da população periférica, histórias de mulheres migrantes do nordeste e violência cotidiana. Confira: 

Os Lavadores de Histórias

Inspirado na poesia de Manoel de Barros, o espetáculo infantil “Os Lavadores de Histórias”, da Cia. de Achadouros, terá sessão gratuita no Teatro Municipal de Botucatu Camillo Fernandez Dinucci, no sábado, dia 30 de julho, às 16h.

Por meio de cenas cômicas e circenses, teatro de sombras e objetos, o espetáculo faz uma reflexão sobre a relação da criança com o mundo real e o da imaginação, lançando um olhar lúdico sobre a infância.

Além de espetáculos e pesquisa teatral, a Cia. de Achadouros também desenvolve um trabalho pedagógico na região de São Mateus, zona leste de São Paulo, com ações na Casa de Cultura São Mateus e Casa de Cultura Pq. São Rafael.

Data: Sábado, 30 de julho, às 16h.
Local: Teatro Municipal de Botucatu Camillo Fernandez Dinucci
Endereço: Praça Coronel Rafael de Moura Campos, 27 – Centro, Botucatu/SP.
Grátis / Classificação: Livre (recomendação 4 anos).

Ouvindo Vozes: da marginalização à loucura

O espetáculo Ouvindo Vozes: da Marginalização à Loucura, é uma montagem da Pião Produções Artísticas, inspirada no livro Ouvindo Vozes, de Edmar Oliveira. As apresentações são gratuitas e acontecem nos dias 03 e 04 de agosto, às 20h, na E. E. Prof. Aroldo de Azevedo, e no dia 10 de agosto, às 20h, no SASF Iguatemi II, ambos espaços públicos estão localizados na zona leste de São Paulo.

Através do livro “Ouvindo Vozes” que inspira a peça, o espetáculo explora as vivências dos artistas junto às suas memórias sobre saúde mental em seus territórios: os distritos de Iguatemi e Sapopemba, em São Paulo. A peça revela corpos aprisionados que não cumprem um papel esperado na sociedade, acompanhada por rodas de conversas sobre saúde mental na periferia com participação de psicólogas e arteterapeutas.

A Pia Produções Artísticas é uma produtora cultural periférica formada por artistas e educadores da região leste de São Paulo, e buscam criar peças que dialoguem com suas histórias e também oferecem atendimentos de gestão e produção para artistas, grupos e coletivos periféricos.

Data: Quarta (03/08), às 20h e Quinta (04/08), às 20h.
Local: E. E. Prof. Aroldo de Azevedo
Endereço: Rua Filipa Álvares, s/n – Jardim Planalto, Sapopemba, SP/SP.
Grátis / Classificação: 16 anos / Acessível em libras / Roda de conversa: Saúde Mental na Periferia – com Cristina Melo, Monica Soares, Marta Baião e elenco.

Data: Quarta (10/08), às 20h.
Local: SASF Iguatemi II – Serviço de Assistência Social à Família
Endereço: Rua João Crispiniano Soares, 98 – Parque Boa Esperança – SP
Grátis / Classificação: 16 anos / Acessível em libras / Roda de conversa: Saúde Mental na Periferia – com Cristina Melo e Monica Soares.

As Presepadas de Gitirana no Terreiro de Dona Dindinha

Até o dia 07 de agosto de 2022, o coletivo Fanfarrosas apresenta a temporada de estreia do espetáculo “As Presepadas de Gitirana no Terreiro de Dona Dindinha”, com apresentações em Itaquera e Artur Alvim, zona leste de São Paulo. A ação faz parte do projeto “Mamulengas: memórias de fulô” contemplado no VAI – Programa de Valorização de Iniciativas Culturais do Município de São Paulo.

O espetáculo é inspirado em memórias de mulheres migrantes do nordeste, e também histórias das famílias das atrizes do elenco, que protagonizam brincadeiras para além do gênero.

O grupo Fanfarrosas se desenvolve a partir do encontro de quatro mulheres que partilham da vontade de discutir temas que atravessam suas existências e juntas utilizam a manipulação de bonecos mamulengos, além de instrumentos de materiais recicláveis, para contar e cantar histórias.

Data: 06 de agosto de 2022 (sábado), às 15h.
Local: Oficina Cultural Alfredo Volpi
Endereço: Rua Américo Salvador Novelli, 416 – Itaquera – São Paulo
Grátis / Classificação Livre

Data: 07 de agosto de 2022 (domingo), às 16h.
Local: Espaço Cultural Adebankê
Endereço: Rua Durande, 175 – Artur Alvim – Zona Leste – São Paulo
Grátis / Classificação Livre

Sutil Violento

O espetáculo Sutil Violento, da Companhia de Teatro Heliópolis, reestreia nesta quinta (28), às 20h, na Casa de Teatro Maria José de Carvalho, no Ipiranga, região sul de São Paulo. A temporada fica em cartaz até o dia 4 de setembro, de quinta a domingo, com ingressos gratuitos.

A peça discute sobre sutis violências do cotidiano, que de tão sutis se tornam invisíveis e naturalizadas. Com um olhar para o entorno que revela abusos, agressões, confrontos e opressões diárias em formas de coerção privadas e públicas.

A Companhia de Teatro Heliópolis nasceu em 2000, reunindo jovens da comunidade sob orientação de Miguel Rocha, com apoio da UNAS (União de Núcleos e Associações de Moradores de Heliópolis e Região), e apresenta espetáculos que dialogam com as vivências e aprendizados do coletivo.

Data: 28/07/22 a 04/09/22, de quinta a domingo, sendo quinta, sexta e sábado às 20h e domingo às 19h00.
Local: Casa de Teatro Maria José de Carvalho
Endereço: Rua Silva Bueno 1533, Ipiranga, São Paulo.
Grátis – reserva de ingressos aqui / Classificação: 14 anos

VAI TEC abre inscrições para apoiar iniciativas de criação de jogos nas periferias

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Com inscrições abertas até o dia 31 de julho, o edital irá apoiar 12 coletivos ou empresas que atuam na criação de jogos nas periferias de São Paulo.  

Coletivos ou empreendedores da quebrada podem se increver no edital VAI TEC GAMES. (Foto: Freepik)

Promovido pela ADE SAMPA – Agência São Paulo de Desenvolvimento e a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, o VAI TEC realiza pela primeira vez uma edição do edital de fomento a empreendedores focado em apoiar coletivos e pequenos negócios que atuam na produção de jogos eletrônicos nas periferias de São Paulo.

As 12 iniciativas contempladas pelo VAI TEC Games receberão um recurso financeiro de R$ 39.600,00, além disso, elas terão acesso a formações, mentorias e consultorias individuais, por meio de encontros presenciais ou remotos, para alavancar a infraestrutura de desenvolvimento e gestão dos seus projetos.

O VAI TEC GAMES, nome dado a essa edição especial focada na comunidade de desenvolvedores de jogos nas periferias também irá promover encontros de relacionamento entre as iniciativas apoiadas, visando criar espaço para fomentar redes de contato e possibilidade de novos negócios.

Ao longo do programa, os projetos apoiados irão se preparar para aprimorar ou desenvolver narrativas para conquistar novos apoios, por meio da criação de uma apresentação focada em atrair novos investimentos. O VAI TEC se compromete em conectar as iniciativas com potenciais investidores. 

“Ela inspira nossa luta”: o pensamento de mulheres pretas sobre Tereza de Benguela

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Mulheres pretas e periféricas relatam a importância de preservar a memória e reconhecer o legado de Tereza de Benguela.

Projeção realizada pelo Coletivo Coletores homenageia a líder quilombola Tereza de Benguela. (Foto: Coletivo Coletores)

 Em 25 de julho, é celebrado o Dia da Mulher Negra, Latino Americana e Caribenha. Nesta data, a trajetória da líder quilombola Tereza de Benguela também passou a ser homenageada em âmbito nacional, após a aprovação da Lei 12.987, sancionada em dois de junho de 2014 pela presidenta Dilma Rousseff (PT).

A líder quilombola ficou conhecida por sua trajetória de vida dedicada a lutar pela liberdade das populações pretas e indígenas, que eram escravizadas pelos povos europeus no século 18, no Brasil. Ainda hoje, essa atuação serve de inspiração para mulheres pretas que continuam lutando por igualdade de direitos.

Por suas habilidades de liderança e estratégias de combate militar, ela era chamada de “Rainha Tereza”, a líder do Quilombo do Quariterê, localizado na fronteira do estado de Mato Grosso com a Bolívia.

“Tereza de Benguela é símbolo de representatividade para nós mulheres negras. Ela inspira na continuidade da nossa luta diária por igualdade, autonomia, respeito e dignidade” 

Rita Maria é produtora cultural e co-fundadora da Coletiva Tear & Poesia.

Rita Maria atua nas periferias da zona sul de São Paulo resgatando a cultura ancestral do bordado. (Foto: Reprodução Facebook)

A trajetória de Rita se conecta com o legado de  Tereza de Benguela pelo fato dela atuar na Coletiva Tear&Poesia de Arte Têxtil, uma iniciativa composta por mulheres pretas que atuam e residem há cerca de 20 anos nas periferias da zona sul da cidade de São Paulo,.

As ações da coletiva tem com foco em dialogar com a mulher em diáspora, tanto imigrantes africanas quanto latino-americanas e caribenhas, mostrando também semelhanças entre grafismos nativos brasileiros, indígenas, e africanos e buscando identificar semelhanças pouco estudadas e menos difundidas entre culturas originárias das Américas e da África.

Para Rita, que é engajada em  resgatar a memória e cultura do bordado praticado por mulheres pretas, indígenas e latino americanas, a trajetória de Teresa de Benguela tem uma forte semelhança com as lutas das mulheres pretas que moram nas periferias.

“As lutas da mulheres negras são constantes enquanto sujeitas históricas e de direitos. Lutam cotidianamente no combate ao racismo, à violência doméstica, o genocídio da população negra e LGBTQIA+”, afirma a co-fundadora da Tear & Poesia. 

Legado 

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), 27% da população brasileira é composta por mulheres pretas. Atenta a esse contexto histórico e demográfico,  a socióloga e professora Ale Tavares atua há mais de 15 anos com projetos de impacto educativo, social e político nas periferias da zona sul de São Paulo, que visam promover debates, reflexões e senso crítico sobre a importância dos saberes das mulheres pretas e periféricas para construir sociedades mais justas.

De acordo com as vivências e pesquisas no campo do feminismo periférico, Ale considera o resgate de memória uma estratégia importante para transformar positivamente o imaginário das mulheres pretas.

“Pensar e resgatar a memória de mulheres negras como Tereza de Benguela e tantas outras é construir um imaginário de que mulheres negras foram, são e serão importantes para a construção do nosso país”

Ale Tavares, socióloga e pesquisadora de movimentos feministas nas periferias

A socióloga Ale Tavares atua com a produção de conhecimento enraizado no movimento de mulheres pretas que desenvolvem espaços de reflexão, diálogo e estratégias de combate contra as desigualdades sociais nas periferias da zona sul de São Paulo. (Foto: Reprodução Facebook)

Ela explica que esse resgate de memoraria também mobiliza aspectos positivos em torno da identidade coletiva de mulheres negras, e isso é importante para que meninas e mulheres reconheçam essas virtudes presentes em suas ancestrais.

A partir desta percepção, Ale argumenta que a preservação desta memória também impacta na construção do futuro das mulheres pretas, pois ela considera, que os conhecimento e conquistas registrados pela história ajudam a inspirar outras mulheres a pensar melhor sobre o presente e o que será do seu futuro individual e coletivo.

“Quando a gente tem essas referências, isso ilumina a percepção de atuação de milhares de mulheres negras que estão chefiando e conduzindo famílias, escolas, postos de saúde, territórios e diversos ativismos. Eu vejo essa relação muito forte na ancestralidade de mulheres negras, para projetar outros futuros”, conclui. 

Futebol de várzea: mídias comunitárias investem em transmissões de jogos ao vivo

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 Representatividade de times de futebol de várzea nas periferias é um diferencial que impacta a audiência nas redes sociais durante as transmissões de jogos.

Lives realizadas por mídias comunitárias aumentam a visibilidade do futebol de várzea nas redes sociais. (Foto: Thais Siqueira)

Com campeonatos cada vez mais organizados e bem competitivos, o futebol de várzea é reconhecido historicamente por fomentar a revelação de jogadores para equipes de futebol profissional, além de promover lazer e incentivar o convívio comunitário entre os moradores das periferias e favelas.

No entanto, a presença do esporte em canais de mídias tradicionais ainda é tímido, fato que gera oportunidades para o surgimento de iniciativas de comunicação nas redes sociais que apostam em plataformas digitais para ganhar relevância e virar referência na transmissão de jogos ao vivo de futebol de várzea.

O esporte que é um pilar da cultura das periferias só tinha a beira do campo como arquibancada para torcedores. Agora, as mídias comunitárias nativas digitais enraizadas na cultura do futebol de várzea estão transformando o esporte que faz parte cultura dos moradores das periferias em um novo produto de streaming esportivo.

Neste contexto, essas iniciativas também estão dando um pontapé para formar um público consumidor de conteúdo esportivo ligado ao futebol de várzea nas redes sociais, uma mudança radical da cultura do futebol de várzea, que antes desta era digital, só poderia ser consumida pelos torcedores e torcedoras que fossem para a abeira dos campos aos finais de semana. 

Em 2017, o Desenrola em parceria com a Rede Doladodecá produziu o documentário 39 anos de Tradição do Jardim Elba, tradicional equipe da várzea da zona leste de São Paulo.

A Tvila Sports é um bom exemplo de iniciativa que está protagonizando esse cenário de transmissões ao vivo no futebol de várzea nas periferias de São Paulo, promovendo a produção de conteúdo de streaming sobre a cena do futebol de várzea na região do ABC paulista, onde a iniciativa nasceu.

A mídia possui um Kombi com um estúdio móvel, equipada com roteador wi-fi, switcher para controle de câmeras, monitores para cortes e edição de vídeos e um sistema de captação de áudio para dar suporte para os comentaristas e narradores das partidas interagir com o público que está na beira do campo e quem está acompanhando os jogos pelas redes sociais.

Com mais de 100 mil seguidores no Facebook e 30 mil no YouTube, a Tvila é reconhecida também por promover representatividade entre os jogadores e torcedores do futebol de várzea, que comentam e compartilham os jogos transmitidos pelo canal digital de conteúdo esportivo, pelo fato de se reconhecerem positivamente na cobertura das partidas.

O sucesso da TVila Sports já chama a atenção dos organizadores de campeonatos de futebol de várzea nas periferias, que promovem parcerias para a mídia comunitária produzir a transmissão ao vivo dos jogos.

A partir de programas de entrevistas com jogadores, técnicos de equipes e organizadores de campeonatos, o canal Mundo da Várzea é outra iniciativa que vem fortalecendo a formação de público consumidor de conteúdo digital sobre futebol de várzea nas redes sociais.

A qualidade das transmissões ao vivo e principalmente dos programas produzidos para apresentar o lançamento de novas competições é uma das principais apostas nas transmissões ao vivo da iniciativa.

Com mais de 60 mil seguidores no Facebook e 8 mil no YouTube, o canal Mundo da Várzea é reconhecido no universo do futebol de várzea nas periferias, e esse reconhecimento chama a atenção até de patrocinadores, como fornecedoras de materiais esportivos para times da várzea, que apoiam e incentivam a produção dos programas de entrevista com representantes das equipes.

Atuando na região de Osasco, município da região metropolitana de São Paulo, a TV Fut Várzea vem ganhando a atenção dos torcedores e equipes que fomentam a cultura do futebol de várzea na cidade.

Com narrador e comentarista na beira de campo, o principal foco de trabalho da TV Fut Várzea é promover a transmissão ao vivo de jogos, e para isso, a iniciativa faz parceria com dirigentes de competições para garantir a produção de conteúdo digital de diversas ligas, campeonatos e festivais que ocorrem nas periferias de Osasco.

Atualmente, a TV Fut Várzea conta com 16 mil seguidores e segue crescendo cada dia mais, por manter uma cobertura semanal e contínua de jogos.

Um diferencial é que os seus comentarista e narrador já são inseridos no futebol de várzea e conhecem profundamente as equipes, competições e as periferias da cidade, reforçando a importância da representatividade nesse universo das transmissões ao vivo de conteúdo esportivo.

Sem integração gratuita moradores de Taboão da Serra e região pagam mais caro no transporte

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Dos cinco moradores entrevistados na reportagem, três deles recebem até um salário mínimo, sendo que o valor gasto com passagens compromete mensalmente mais de 10% da renda familiar.

Ônibus da linha 300 Jd. São Judas, Taboão da Serra com destino ao metrô Vila Sônia | Foto: Rebeca Motta

Desde maio de 2022, os moradores que utilizam ônibus intermunicipais que circulam nas cidades de Taboão da Serra, Embu das Artes, Itapecerica, Juquitiba e São Lourenço tiveram seu trajeto alterado. Com a inauguração da estação Vila Sônia da ViaQuatro amarela, os passageiros perderam o direito de desembarcar em Pinheiros e reclamam que o novo terminal não aderiu ao sistema de integração gratuita como acontece em outras linhas da rede metropolitana de São Paulo.

Antes da inauguração os moradores podiam embarcar nessas cidades e ir até Pinheiros pagando uma única passagem, depois da mudança, as linhas passaram a finalizar as viagens na Estação Vila Sônia, não deixando outra opção senão concluir o trajeto de metrô.

Elisabete Barbosa, é moradora do bairro Jd. Saporito, em Taboão da Serra, Região Metropolitana de São Paulo e conta que foi pega de surpresa ao ter que desembolsar mais uma passagem para chegar ao médico, na região da Faria Lima. “Se eu fiquei irritada, imagina a população que passa por isso todo dia. Eu acho que se o trabalhador parar pra analisar o quanto tá saindo do bolso ele vai se manifestar”, afirma a cuidadora de idosos.

Com a alteração na região, o transporte coletivo deixou de atender os quase 4 km que correspondem a oito pontos de ônibus das avenidas Eliseu de Almeida e Professor Francisco Morato. Atualmente quem tem compromisso nesta região vai a pé ou paga mais uma passagem para chegar ao destino final.

Situação parecida com a de Elisabete aconteceu com Wesley Melo, que precisou levar a filha para fazer exames no Hospital Infantil Darcy Vargas, que fica na região do Morumbi. O morador do bairro Barnabé, em Juquitiba, relata que fez o trajeto de 2 km a pé com a filha pequena, pois naquele dia não tinha como desembolsar o valor de mais uma condução.

Para quem mora na Região Metropolitana de Juquitiba e São Lourenço a situação é ainda mais complicada. O valor para acessar a cidade pode chegar a R$ 30 reais por dia. Com a falta de uma linha direta para o centro, os trabalhadores precisam desembarcar no município vizinho, Itapecerica da Serra, e de lá pegar outro ônibus para o metrô. 

“Por isso que estou indo para o Campo Limpo. É horrível pagar duas ou três conduções, sendo que lá só pago uma; o trajeto é bem mais longo, comecei a sair de casa 50 minutos mais cedo, mas é o que consigo fazer no momento”. 

conta Pedro Henrique, morador do bairro Jd. Salete, em Taboão da Serra

Pedro Henrique trabalha na Faria Lima e conta que antes das alterações nas linhas pegava um ônibus só, mas agora precisou mudar toda a rotina para chegar ao trabalho, pois a empresa não arcou com o valor de mais uma condução. O jovem conta que chegou a pedir transferência para Santo Amaro para facilitar o percurso.

A prefeitura de Taboão da Serra em parceria com a ViaQuatro, concessionária que administra o metrô, colocou em circulação nove ônibus do tipo “Vai-Vem” que faz o percurso do Largo do Taboão até o Metrô Vila Sônia gratuitamente. Segundo os próprios passageiros, essa medida só beneficia quem mora no centro, pois quem vive em bairros periféricos ou em cidades vizinhas continua pagando mais caro, porque ainda precisa pegar um ônibus para chegar até o largo do Taboão.

“Eu trabalho mais pro lado de Pinheiros, o único ônibus que está passando por aqui é o 459 – Itaim Bibi. Chego na estação Vila Sônia às 06h30, do ônibus até o metrô são quase 10 minutos andando, acho muito longe. Caso tenha trânsito é impossível não chegar atrasada”.

relata a moradora do Jd. Santa Tereza, em Embu das Artes, Giovanna Ambrosio, que também teve sua rotina alterada

Ônibus vai-vem realiza viagens gratuitas do Largo do Taboão até o metrô Vila Sônia | Imagem: Eduardo Toledo
Muitos moradores desses municípios trabalham em outras regiões de São Paulo, passam o dia fora e só voltam para casa para dormir. Vários destes também procuram atividades culturais e de lazer em outras regiões, mas com o valor da tarifa esse direito também é violado. 


“Esses dias fiquei indignada ao ir no shopping Butantã e descobrir que agora necessito pagar duas conduções para chegar lá. Uma família que tem 4 filhos, por exemplo, chega a pagar quase R$100 só com passagem. É um absurdo”,  reclama Cleia Oliveira, moradora do bairro Jd. Trianon, em Taboão da Serra.

Mobilização popular 

A professora Márcia Regina é ex-vice Prefeita de Taboão da Serra, ativista do movimento pela integração gratuita e conta que a chegada do metrô é uma promessa antiga e muito usada como pano de fundo para campanhas eleitorais na região. Para ela é importante que o metrô chegue nos municípios da Grande São Paulo, mas isso não pode afetar negativamente a vida e a rotina da população.

“Faltou planejamento entre as prefeituras e a EMTU. Tem gente sendo despedida ou com dificuldades de conseguir emprego porque as empresas não querem pagar todo esse valor com passagem. O trabalhador tem pagado de R$90 a R$180 reais a mais por mês. A soma disso é praticamente o valor do décimo terceiro indo pelo ralo”.

afirma Márcia Regina.

Ativistas, moradores e movimentos sociais dos cinco municípios afetados pelas alterações do transporte coletivo, se uniram e criaram o Fórum Regional pelo Transporte Digno, com objetivo de levantar discussões e estratégias de pressão contra o poder público para solucionar essa demanda da população.

Reunião do Fórum Regional pelo Transporte Digno realizada no Jd. Saporito, em Taboão da Serra | Foto: Arquivo

“Não é justo a população sofrer, ainda mais por algo que deveria facilitar e garantir seu direito de ir e vir sem ser penalizado com o custo maior de passagens que temos que tomar. Pedimos a real integração das linhas intermunicipais a estação Vila Sônia, com gratuidade aos seus passageiros ao entrar na estação, em vez de pagar a passagem do metrô”, defende o Fórum em um trecho da carta pública.

O movimento tem realizado ações para conscientizar os trabalhadores e moradores a reivindicar o direito à cidade que tem sido perdido. Até o momento criaram um abaixo-assinado, uma página no facebook e planejam uma manifestação como próximo passo.

Mudanças na bilhetagem 

Também recentemente, os moradores de Taboão da Serra e Região Metropolitana de São Paulo, se depararam com mais uma alteração nas linhas de ônibus, desta vez, no sistema de bilhetagem. Em abril de 2022, os ônibus intermunicipais administrados pela EMTU deixaram de aceitar o cartão BOM.

A confusão se dá porque os ônibus circulares que rodam dentro do município aceitam o BOM, mas os ônibus que vão para o metrô só aceitam o TOP, novo cartão que substitui o seu antecessor. Na cidade de Taboão da Serra não há postos de atendimento para o novo cartão, o que gera reclamação e transtornos, sendo mais uma das dificuldades que os moradores enfrentam para ir e vir todos os dias.

Desde o final de 2020, o Governo de São Paulo vem promovendo a modernização do sistema de bilhetagem em ônibus, trens e metrôs. A mudança, porém, tem deixado os usuários confusos.

Do outro lado 

Em resposta ao contato realizado para a produção desta reportagem, a Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo (EMTU) afirmou que os usuários que se deslocavam de ônibus até a região de Pinheiros, agora devem desembarcar no Terminal Vila Sônia ou Butantã, e passaram a ter desconto de R$ 1,50 na integração ao sistema com o cartão TOP, pagando R$ 2,90 na passagem do metrô. 

A EMTU aponta que os passageiros que utilizam o formato Vale Transporte devem atualizar o percurso diretamente com suas empresas. Além disso, a empresa diz que três linhas que passam em Taboão da Serra com destino à capital seguem com itinerário mantido e são alternativas a depender do trajeto do passageiro.

Das três linhas citadas pela empresa que ainda têm destino à capital, existem diferentes questões sobre seu itinerário e custo, desde não atender a todos os bairros, até o valor da tarifa de uma delas, que chega a custar R$ 10,20.

As Secretarias de Transporte dos cinco municípios envolvidos – Taboão da Serra, Embu das Artes, Itapecerica, Juquitiba e São Lourenço – foram contatadas, mas até a finalização desta reportagem não deram nenhum retorno.