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Coletivo Calcâneos apresenta espetáculo “Desde que o Mundo é Mundo” no Jardim Helena

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As apresentações acontecem nos dias 14 e 15 de julho, e refletem sobre o tempo a partir da perspectiva de corpos que falam das margens da cidade.

Foto: Thamara Lage

Partindo de olhares e perspectivas de corpos à margem da cidade, o espetáculo “Desde que o Mundo é Mundo” é uma obra que nasce do desejo de artistas do Coletivo Calcâneos em recontar a própria história, a fim de criar uma outra memória sobre suas existências. As apresentações serão no campinho de futebol ao lado da estação de trem Jardim Helena, na zona leste de São Paulo, nos dias 14 e 15/07, a partir das 17h30.

O projeto é concebido pelo Coletivo Calcâneos, formado por jovens artistas periféricos da zona leste de São Paulo, que buscam por meio da performance criar uma discussão sobre o tempo, propondo uma experiência narrativa que perpassa alteridade, coletividade, desejos de futuro, exaustão emocional e imposições, equilibrando vivência e sobrevivência. 

“Quando vamos parar de ter medo de morrer? O tempo foi tirado de nós e quando percebemos é outono novamente e outros nasceram… E muitos já morreram”

pontua o coletivo sobre uma das reflexões centrais do espetáculo.

A direção da performance “Desde que o Mundo é Mundo” é de Victor Almeida e conta com a criação colaborativa de todos os artistas envolvides no grupo. A peça também faz parte do projeto contemplado pela 30ª Edição do Programa Municipal de Fomento à Dança para a cidade de São Paulo, da Secretaria Municipal de Cultura.

Serviço

Data: 14 e 15 de julho – Horário: 17h30

Local: Campinho de futebol ao lado da estação de trem Jardim Helena. Rua São Gonçalo do Rio das Pedras – Vila Mara, São Paulo.

Entrada Gratuita

Acessível em libras

Saiba mais: https://www.coletivocalcaneos.com

Samba no Asfalto comemora 15 anos de roda de samba gratuita em Ermelino Matarazzo

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Além de aula e baile de samba rock, a festa contará com a participação de músicos consagrados no samba e a gravação do primeiro material audiovisual do projeto.

Foto de: Lucimauro Silva

Em comemoração aos seus 15 anos, o projeto Samba no Asfalto realizará evento gratuito no dia 17 de julho, próximo domingo, das 10h às 22h, na Praça Benedicto Ramos Rodrigues, localizada no bairro de Ermelino Matarazzo, zona leste de São Paulo. A programação também terá um aulão e baile de samba rock com os professores do projeto Samba no Asfalto.

Neste dia, o grupo gravará seu primeiro trabalho audiovisual com a participação de músicos como Carica (ex- grupo Sensação), Wladmir Rosa (ex- grupo Redenção), Fabiano Sorriso, Beto Guilherme, Grupo Marka Original, Grupo D.V.C; Alldry Eloise, Luizinho Sorriso, além do DJ Magu, Tereza Gama e Marco Mattoli, com apresentação de Brão Lopes. 

“Nós sabemos o quanto é importante ter um material de qualidade para divulgação do nosso trabalho, e um registro audiovisual há tempos estava entre as nossas metas. A comemoração de 15 anos é um marco para nós e conseguimos conquistar mais este sonho”

Lucimauro Silva, produtor cultural do Samba no Asfalto

Foto de Lucimauro Silva

Inspirado em outros grupos e projetos da zona leste, o Samba no Asfalto foi idealizado por Diego de Oliveira, Lucimauro Silva, Afrânio Juventino e outros amigos, intérpretes e compositores moradores do bairro de Ermelino Matarazzo.

“Nosso objetivo é manter viva a história deste estilo musical considerado Patrimônio Cultural do Brasil, o Samba. Além de mostrar a todos os espectadores a qualidade musical e cultural que o nosso bairro tem”

Diego Oliveira, coordenador musical e Lucimauro Silva, produtor cultural do projeto.

Fundado em 2007, o Projeto Samba no Asfalto desenvolve um trabalho cultural e social em Ermelino Matarazzo, zona leste de São Paulo, por meio de rodas de samba mensais e oficinas de dança. O nome do grupo surgiu a partir da sua própria história, que a princípio realizavam as rodas em via pública, por não terem um local ou estrutura para as apresentações, daí o nome samba no asfalto.

Serviço

Projeto Samba no Asfalto – Gratuito
Data: 17/07/2022 – Horário: das 10h às 21h
Local: Praça Benedito Ramos Rodrigues – Ermelino Matarazzo, zona leste de São Paulo.
Redes Sociais: Facebook | Instagram
Whatsapp: (11) 99154-2808

Internet precária nas periferias impede moradores de pesquisar candidatos às eleições

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 Com acesso limitado à internet, moradores não conseguem pesquisar sobre candidatos, propostas de governo e checar a veracidade de notícias sobre eventuais atos de corrupção.

Os preços dos planos de internet móvel levam o baiano Auderlei Teixeira a consumir notícias sobre candidaturas somente pela televisão. (Foto: Flávia Santos)

Como os moradores das periferias que não têm acesso pleno à internet irão decidir em quem votar nas eleições de 2022? Essa é a questão que vem atormentando o baiano Auderlei Teixeira, 45, homem negro, migrante nordestino, e morador da Cidade Ipava, Zona Sul de São Paulo, que votou pela primeira e última vez em 1993.

De lá pra cá, Teixeira conta que se sente arrependido de não ter votado nas eleições seguintes, mas que fará diferente esse ano. “Transferi meu título da Bahia pra cá, quero muito votar esse ano”, afirma.

“O governo poderia criar um projeto para facilitar a internet para todos”

Auderlei Teixeira, 45, é pai de família, migrante nordestino e morador da Cidade Ipava, bairro da Zona Sul de São Paulo. 

Mesmo se sentindo novamente motivado em votar nestas eleições, Auderlei diz que encontra muitas dificuldades para ter acesso às informações sobre propostas dos novos candidatos, entender o por que muitas obras começam nesta época do ano, e revela o medo de não conhecer de fato os candidatos antes de votar, e acabar escolhendo qualquer um deles.

“O governo poderia criar um projeto para facilitar a internet para todos, e quando chegar nessa hora, as pessoas terem condições de acessar e acompanhar a política”, conta o pai de família, que só consegue acessar a internet pelo celular quando está a caminho do trabalho. 

Com pouca vivência em consumir notícias usando o celular, Auderlei não acha seguro se informar por meio de plataformas digitais. (Fotos: Flávia Santos)

A Cidade Ipava, bairro onde Auderlei mora, é um território que pertence ao distrito do Jardim Ângela, localizado na zona sul de São Paulo, onde 60% da população se autodeclara preta ou parda. Neste território, segundo levantamento do Mapa das Desigualdades da Rede Nossa São Paulo, há apenas 1,4 antenas de internet móvel para cada 10 mil habitantes, enquanto no Itaim Bibi, região nobre da cidade, existem 49,8 antes de telefonia móvel para o mesmo montante de moradores.

A Associação Brasileira de Infraestrutura para Telecomunicações (ABRINTEL) recomenda que as operadoras disponibilizem uma antena de telefonia móvel para acesso à internet para cada 2.200 pessoas.

Outro aspecto cruel citado por Auderlei é o preço dos serviços da internet móvel, que em meio a inflação nas alturas compromete o poder de compra do morador da quebrada. “Eu acho que isso tudo vai impactar sim, os planos de internet são caros pra gente conseguir pagar”, diz o morador.

Como resultado deste processo de não ter acesso à internet garantido no bairro onde mora, o morador recorre a televisão, para assistir telejornais em canais de televisão como Globo e Record. Auderlei diz acreditar mais nas notícias veiculadas nos programas que assiste do que nos conteúdos disponíveis na internet, onde, segundo ele, é mais fácil de encontrar fake news.

Sem esperanças 

Em janeiro de 2022, a cidade de Franco da Rocha ficou conhecida nacionalmente por conta dos temporais que atingiram o município causando enchentes, deslizamentos de terras, mortes de moradores e destruição de casas. Um dos bairros mais atingidos pelas chuvas foi o Lago Azul, onde mora Emilly Cavalcante, 20, jovem que vem enfrentando uma série de barreiras digitais para acessar a internet e realizar pesquisas sobre os candidatos para as eleições deste ano.

Emilly considera que o acesso à internet de qualidade presente em todas as casas das periferias ajudaria a melhorar na tomada de decisão para escolha dos candidatos, pois para ela, essa é a eleição que representa a única esperança para mudanças positivas no país.

“Acredito que deveria ser um requisito básico ter uma internet de qualidade em todas as casas, pois com a mesma poderia crescer um interesse mais intuitivo de pesquisar partidos, candidatos e situações dos mesmos”, afirma.

“O sentimento que cabe a mim é de desesperança”

Emilly Cavalcante, 20, é moradora do bairro Lago Azul, um dos mais afetados pelos temporais que atingiram a cidade de Franco da Rocha em janeiro detse ano.

Segundo o Mapa de Antes de Internet Móvel da Conexis Brasil, entidade setorial que reúne as principais empresas de telecomunicações no Brasil, para promover estudos e debates sobre melhorias na infraestrutura de conexão e comunicações no Brasil, a cidade de Franco da Rocha possui apenas 48 antenas de internet móvel, para atender uma população de mais de 130 mil pessoas.

A operadora Vivo conta com 12 antenas de distribuição de sinal de internet móvel. Esse é o mesmo número de estações de distribuição de internet móvel da Claro. Já a TIM conta com 24 antenas, representando 50% dos serviços de internet móvel no município. Diante destes dados, o bairro Lagoa Azul, onde Emilly mora não possui antes de celular, um fato que vem comprometendo a qualidade do sinal e o interesse da moradora pela política.

Ela votou pela primeira vez em 2020, nas eleições municipais, mas hoje em dia, o sentimento de Emilly em relação à política é bem diferente em relação à época do primeiro voto. “O sentimento que cabe a mim é de desesperança”, desabafa.

Para a jovem, debater política com amigos e família não faz mais parte do seu repertório de assuntos cotidianos, que ela gosta de abordar. “Não é o meu assunto preferido, pois cada um tem seu ponto de vista, vivências e nada está ao nosso favor”, argumenta.

A credibilidade da televisão 

A partir de um levantamento de dados que entrevistou 50 moradores de periferias e favelas da Região Metropolitana de São Paulo, o Desenrola apurou como as populações que convivem com um precário acesso à internet estão desmotivadas a se engajarem no debate político para escolher novos representantes nas eleições de 2022.

Uma das pessoas respondentes deste levantamento de dados é a jovem Emilly Cavalcante, que reside com a família no bairro Lagoa Azul. Mesmo com a qualidade da internet deixando a desejar, Emilly tenta acessar algumas plataformas digitais para pesquisar o que está acontecendo com a política no país, porque ela não acredita muito no que os telejornais noticiam.

“O conteúdo que passa na televisão não é auto explicativo, então não auxilia em muita coisa”

Emilly Cavalcante tem 20 anos e mesmo desmotivada com a crise política no país, ela vai votar nas eleições de 2022.

Segundo a pesquisa publicada pelo Poder Data em outubro de 2021, a televisão é o meio de comunicação mais utilizado por 40% dos brasileiros, já a internet é a referência para acessar informação para 43% da população.

“O conteúdo que passa na televisão não é muito auto explicativo, então não auxilia em muita coisa, então eu acompanho canais no YouTube”, conta a moradora, complementando que esses canais são fontes confiáveis de informações e abordam notícias sobre os candidatos.

Vivendo em outro contexto de periferias urbanas na cidade de São Paulo, a mãe e dona de casa, Daniela dos Santos, 37, moradora do Jardim Aracati, zona sul de São Paulo, têm bastante semelhanças com os pontos de vista da jovem Emilly de apenas 20 anos.

“A televisão passa apenas os candidatos de maior partido”

 Daniela dos Santos, 37, é eleitora há 20 anos e moradora do Jardim Aracati, Zona Sul de São Paulo.

Para ela, a televisão também é um meio de informação com pouca credibilidade, que dá destaque somente aos partidos de maior expressão. “Muitas vezes a televisão passa apenas os candidatos de maior partido”, diz.

A alternativa segundo Santos é pesquisar na internet não de forma aleatória, mas quando já possui um candidato em mente. “Procuro bem pouco informações sobre política na internet, só procuro saber quando escolho um candidato e vou pesquisar sobre ele”, conta.

Mesmo com essa escolha de pesquisar candidatos na web, Daniela explica que a o serviço de internet que possui instalada em sua casa é bem ruim, e diante desta situação, as informações acabam não chegando facilmente até ela, fato que tem se tornado um dos maiores motivos para ela não ter interesse em discutir política com familiares e vizinhos.

De acordo com o estudo intitulado como Panorama Político 2022: opiniões sobre a sociedade e democracia, elaborado pelo Instituto DataSenado, com apoio da Universidade de Brasília (UnB), pelo menos 72% dos brasileiros já viram, leram ou ouviram notícias de origens políticas e que desconfiaram serem de fato verdadeiras.

“O sentimento que tenho sobre a política é de frustração e raiva”

 Daniela dos Santos está desmotiva a discutir os rumos da política no Brasil com parentes e amigos.

Após 20 anos de ter a primeira experiência de votar, Santos relata que não sente muito apego para discutir política com amigos e parentes. “As pessoas às vezes só querem atacar e não veem que os maiores partidos têm os piores políticos, e para mim muitos deles são manipulados”, relata a dona de casa.

“O sentimento que tenho sobre a política é de frustração e raiva, a sensação que tenho muitas vezes é de caos”, revela a dona de casa.

De olho no futuro dos filhos, que garanta o acesso à educação e saúde de qualidade, ela espera conseguir ter acesso à internet de qualidade para tentar encontrar bons candidatos que de fato a representem.

“O acesso à internet nos dias de hoje é essencial para tudo, principalmente no momento em que vivemos, quanto mais informações de qualidade e de boa procedência, melhor as pessoas podem tomar suas decisões”, conclui a moradora do Jardim Aracati.

Periferia sustentável: alternativas ambientais e econômicas em tempos de aumento do custo de vida

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Algumas experiências ambientais emergem na periferia e estão se tornando alternativas para cuidar do meio ambiente, além de impactar no bolso em tempos de custo de vida alta e de energia tão cara.

Micro geradora de energia solar instalada no Instituto Favela da Paz (Foto Raphael Poesia)

A depender do Estado podemos dizer que a questão ambiental na periferia parece não ter muita importância. É possível tropeçar em lixo jogado nas ruas ou em lixeiras escassas e mal geridas pelos órgãos públicos; rios e córregos em vez de levar água, carregam esgoto de resíduos domésticos ou industriais; as moradias avançam sobre as matas e sobre o manancial com aval do poder público; coleta seletiva é luxo e ecopontos inexistem por aqui, hortas são raras e pouco incentivadas.

Mas aqui na zona sul, algumas experiências ambientais emergem na periferia e estão se tornando alternativas para cuidar do meio ambiente, além de impactar no bolso em tempos de custo de vida alta e de energia tão cara.

Uma dessas experiências é o Periferia Sustentável, desenvolvido na Favela da Paz, no Jardim Nakamura. Essa quebrada sedia o Instituto Favela da Paz, que entre tantos trabalhos, desenvolve o Periferia Sustentável, projeto que tem muito a ensinar a todos nós sobre tecnologias ambientais funcionais e sustentáveis.

Sob a coordenação de Fábio Miranda, um grande ambientalista da quebrada, o espaço funciona como uma espécie de universidade popular do meio ambiente, com consultorias, cursos e oficinas ambientais e de culinária, articulando parcerias com escolas e faculdades.

Esse espaço também é a casa da família Miranda, onde quatro famílias convivem de maneira sustentável, reaproveitando água da chuva, cultivando hortaliças e temperos em hortas verticais feitas em canos de PVC, aproveitando os alimentos em sua totalidade, produzindo gás de cozinha por meio de um biodigestor, reciclando e reaproveitando o lixo, aproveitando a ventilação natural cruzada nos ambientes e móveis com paletes e outros materiais.

O Periferia Sustentável tornou-se a primeira Micro Geradora de Energia Solar em região de favela no estado de São Paulo, a segunda Micro Geradora em favela do Brasil. Com 22 módulos ligados à rede elétrica pública, é capaz de produzir a energia total do prédio do Instituto Favela da Paz, uma energia limpa e totalmente sustentável.

Se levarmos em conta que atualmente no Brasil temos milhões de pessoas passando fome e vivendo uma insegurança alimentar, enquanto milhões de toneladas de frutas, legumes e verduras são jogados fora todos os anos, colocando o Brasil entre os países que mais desperdiçam alimentos no mundo. 

De acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), se evitasse o desperdício, o Brasil poderia reduzir a fome em até 30%.  

Justamente isso que é feito no Periferia Sustentável, seja na Cozinha Vegearte, incentivando uma alimentação saudável e nutritiva, baseada em legumes, frutas e vegetais, quanto no reaproveitamento dos restos orgânicos para produzir gás em um biodigestor. Essas experiências podem ajudar as famílias mais carentes da quebrada tanto na alimentação quanto no acesso ao gás, que nunca foi tão caro.

Na verdade, gás, combustíveis e energia estão tirando o sono da classe trabalhadora. Subindo mais que os salários e a inflação, a energia elétrica acumulou alta de 114% nos últimos em sete anos, segundo os dados da Abraceel (Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia).

Muitos brasileiros não estão conseguindo pagar a conta de energia, só no ano de 2021, 39.43% das famílias de baixa renda atrasaram a fatura por pelo menos um mês, aponta os dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). O aumento dos valores na conta de energia elétrica está ligado com a crise hídrica permanente no Brasil, fruto da má gestão política.

Precisamos repensar as fontes de energia, em especial na Periferia. E esse debate o Periferia Sustentável está enfrentando com tecnologias funcionais e recentemente com a Micro Geradora de Energia Solar.

Hoje a energia solar ainda é cara, mas o debate e os ganhos econômicos e ambientais estão comprovados, cabe lutarmos para redução dos custos de instalação.

O Periferia Sustentável também vem construindo com a Educação Ambiental na quebrada. Fábio Miranda é parceiro de muitas escolas públicas, do SESC, de ONG’s Ambientais, das UBSs. Pensar em um futuro sustentável passa por educar toda a sociedade, mas, sobretudo, as crianças.

Desta forma olhar para as experiências ambientais gestadas no Periferia Sustentável devem ser vistas como luz para pensarmos em alternativas para superar essa crise ambiental, econômica e social. É uma oportunidade para pensarmos as questões ambientais para além da questão estética. É uma forma de aproximarmos mais pessoas para valorizar o meio ambiente.

Ademais, o trabalho do Fábio Miranda e do Periferia Sustentável se soma aos esforços de tantas pessoas do Brasil, do Mundo e da nossa região que estão lutando em favor do meio ambiente!

Aproveitamos aqui para lembrar Bruno Araújo Pereira e Dom Phillips, que trabalhavam e lutavam em favor dos povos indígenas e da floresta amazônica e foram assassinados no início de junho deste ano.


Poeta Márcio Ricardo comemora 10 anos de atuação na literatura periférica

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Em 2022, o poeta celebra dez anos de incidência em saraus, slams, escolas públicas e privadas das periferias, apresentando possibilidades e perspectivas para crianças e adolescentes.

Com bom humor evidente, o escritor logo brinca ao chegar no local que marcamos para a entrevista: “achou que eu não ia vir né!?”. O poeta, escritor, rapper, palestrante e torcedor apaixonado pelo Boca Juniors, Marcio Ricardo da Silva, 31, é morador do bairro Jardim Lucélia, no Grajaú, zona sul da capital, e desde criança já tinha a arte e a escrita também como sua morada.

Riquelme, como é conhecido pelos amigos da várzea; Rica, para os familiares mais próximos e Poeta Márcio Ricardo para os que conhecem e admiram seu trabalho e sua arte. Esses são alguns dos nomes que identificam um dos artistas mais conhecidos da cena do slam e da educação da cidade de São Paulo. 

“Um dia um menino perguntou para mim se eu sabia a importância que eu tinha. Respondi que eu nem tenho tempo de pensar nisso, já que tudo é tão rápido e consome tanto a gente. É ir nas escolas, chegar em casa, tomar banho, comer e dormir. Acordar e fazer o mesmo tour”, conta Márcio sobre uma de suas idas às escolas em 2015. Em uma dessas atividades, um aluno percebeu que através das sua palavras existiam mais coisas a se fazer, e naquele dia tinha ido a escola com a intenção de se matar.

Poeta formador do Slam interescolar, Marcio abraça seu aluno em forma de apoio após a apresentação. Foto Sérgio Silva.

Através do seu trabalho e escritos, Márcio criou uma ligação forte com as escolas, mas nem sempre esse foi um ambiente acolhedor para ele, que era um bom aluno, mas tímido e sem muitos amigos. Parou de estudar aos 14 anos e aos 21 voltou e concluiu o ensino médio pelo EJA (Educação para Jovens e Adultos), na escola Escola Estadual Adelaide Rosa Fernandes Machado de Souza, no Grajaú.

“Ela [professora] disse que eu tinha copiado de algum lugar, porque de onde eu tinha vindo, não tinha capacidade de fazer aquilo, e isso gerou um gatilho forte em mim, hoje as coisas que eu considero geniais, eu faço duplicado”, conta Márcio sobre a situação que vivenciou ainda na 4° série, ao escrever uma poesia e um colega ter mostrado para a professora que questionou a autoria do poema.

Esse foi um momento que se tornou gatilho em todo seu processo criativo. Frustrado, decidiu que não escreveria mais, mas por gostar do que fazia e tendo a certeza de que era ele quem criava as poesias, decidiu duplicar os textos de maneira parecida, mas que desafiasse a sua própria capacidade.

“Hoje, por exemplo, eu tenho uma poesia, Conjunto de Ideias, que é do A ao Z, e tenho uma do Z ao A. Outro exemplo é a Felicidade Brasileira, a partir dela escrevi: A Mãe da Felicidade Brasileira e a Tristeza Brasileira, três poesias feitas de formas diferentes para provar pra mim mesmo que eu consigo fazer”, afirma.

Conquistas através da poesia 

Lançar um livro de poesia na quebrada foi um dos feitos e marcos importantes na vida de Márcio. Algo que se deu a partir de uma conversa com uma colega de curso, que o questionou porque não escrevia um livro, e após esse papo o poeta começou a escrever, mas ao terminar não sabia como seguir.

“Fui para uma roda de poesia do Centro de Arte e Promoção Social, em 2012, e lá conheci o Cesar Mendes da Costa, da editora Filoczar, e ele disse que eu precisava ter um livro. Depois de ter conversado com a esposa, eles custearam o meu livro. Selecionei 101 poesias e enviei”, conta o poeta sobre como foi o processo de seu primeiro livro junto a uma editora independente da quebrada, lançado em 2013, quando tinha 21 anos.

Com o apoio da Editora Filoczar, seu primeiro livro foi lançado: Felicidade Brasileira – Os Versos de um Semblantes. E foi em um dos encontros de lançamento e venda do livro que passou por espaços como o Centro Cultural do Grajaú, que Márcio se aproximou dos slams – competição de poesia falada.

Marcio exibe com orgulho a capa de seu primeiro livro Felicidade Brasileira, cuja as cores remetem ao Boca Juniors, seu time do coração. Foto: Isabella Anália.

 “Em 2013, eu não gostava de slam, achava que poesia e nota não tinham nada a ver. Mas precisava vender o meu livro e aceitei participar. Logo na primeira vez que batalhei, fui até a final contra o Emerson Alcalde, uma referência, e mandei a poesia Conjunto de Ideias, ele mandou Somos Todos Daleste e venceu. Depois nos tornamos grandes amigos”, conta sobre sua primeira batalha em uma edição do Slam do 13, evento realizado toda última segunda-feira do mês, ao lado do terminal Santo Amaro.

Através do seu primeiro livro o poeta deu início a sua jornada no slam e a partir daí foram diversas conquistas: em 2014 venceu seu primeiro slam, justamente o Slam do 13; assim como em 2015 e 2016. Em 2017, foram cinco conquistas. Em 2018, foram mais sete títulos e em 2019, ganhou 20 competições. 

A poesia como forma de expressão

Suas poesias são conhecidas pelas rimas, histórias de infância, memórias, protestos, e também em homenagem ao falecido pai, Manoel Pedro, que deu origem a uma de suas obras mais conhecidas: Fanta.

Obra que para muitos da cena do slam, saraus e literatura, deixou de ser apenas um refrigerante, ‘sério, se tiver gastrite e tomar muito pode dar até uma úlcera’, como recita em seu poema. Ou ‘A Rádio’, que hoje, quando é recitada nos slams, como o da Guilhermina, é acompanhada por boa parte da galera que está presente.

“A poesia Fanta não trata só do meu pai, da saúde mental também, mas eu não tive a oportunidade de mostrar para ele, ele morreu sem ter me visto fazer uma poesia. Ou seja, eu trocaria muito público que já me apresentei para apresentar uma poesia para o meu pai. Eu mostraria alguma poesia de amor, sem palavrão, tipo a Resumo”, reflete o poeta.

Marcio recita a poesia Fanta no Slam da Guilhermina, edição especial em 2022 e vence a batalha. Foto: Renata Amelim.

Seu talento atravessou fronteiras e chegou até a Argentina, país que ganhou seu coração quando tinha apenas 6 anos de idade. Em 2021, durante a pandemia de covid-19, de maneira remota ensinou artistas do país um pouco do seu conhecimento sobre performance corporal, apresentando suas poesias em portugues e em espanhol, e ainda venceu o Slam Quilmes na Argentina.

Quando perguntado sobre suas referências no movimento de literatura periférica, Márcio não exita: Maria Vilani, Cesar Mendes da Costa e Emerson Alcalde.

“Se a poesia tem um o corpo, para mim, a Maria Vilani é o coração. Ela que me faz acreditar demais em mim, é minha madrinha. Consigo ter uma liberdade muito grande, alguém que nunca me esqueceu. E ela ser mãe do Criolo é um detalhe”, compartilha Márcio.

Ele ainda frisa a importância do editor que acreditou e apoiou seu primeiro livro, e do poeta que batalhou na sua primeira vez no slam, hoje também sua referência.

“O Cesar é quase um pai. Quem ia apostar num rapaz de 21 anos para lançar um livro e bancar isso? É alguém que eu amo. E o Emersinho eu sou suspeito, é um dos melhores poetas que já conheci na vida, conversamos sobre tudo, e qualquer elogio vindo dele me dá um frio na barriga até hoje”, diz o artista.

As rimas que prendem a atenção de quem escuta, seja em suas músicas, que são mais de 70, ou em suas 1.287 poesias, tem ligação com suas vivências, história e também referências de outras pessoas importantes na sua trajetória. Parte de seus escritos ainda não são conhecidas ou foram publicadas.

Marcio já tem caminhos para o seu segundo livro, que terá poesias clássicas da sua carreira, poesias novas e de amor. “O próximo livro, Só Para Loucos, é um livro incrível, um dos seis livros que tenho prontos, ele traz um amadurecimento de dor, e é nele que tem Fanta, A Rádio, além de um QRcode para as pessoas ouvirem, é diferente de ler e ouvir uma poesia como essa”, finaliza.

“A arte é um conjunto, onde tudo se completa, é algo que se não existisse na minha vida, não sei como seria, ela está presente em tudo, nos meus sonhos, nas minhas vontade e tudo contempla pra que eu seja parte dessa arte”, finaliza o poeta. 

Um por todos e todos por um: time de futsal vira rede de apoio para homens trans

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Criado em 2019, o Sport Clube T Mosqueteiros reúne pessoas transmasculinas de diversas quebradas da capital e região metropolitana do estado de São Paulo.

Frequentadores do treino jogam em times opostos. Imagem: Inara Novaes

Enquanto policiais circulavam pelo centro da capital paulista na manhã de domingo, em 15 de maio, dispersando a população em situação de rua aos berros e gritos. Na mesma região, a poucos metros de distância da Estação da Luz, há uma porta preta que dá acesso a um corredor estreito, seguido por um lance de escadas, do qual é possível escutar o bate-bola que vem  do primeiro andar do prédio.

Ali, um grupo de jogadores se reúne semanalmente, para participar dos treinos de futsal organizados pelo Sport Clube T Mosqueteiros, um time amador formado apenas por pessoas transmasculinas. Naquela manhã de domingo, cerca de 25 pessoas compareceram à quadra para jogar futsal das 10h até às 13h.

Enquanto os integrantes do time treinavam, Juliano Rafael, 27, morador do Parque do Carmo, em Itaquera, zona leste de SP, observava de longe os movimentos dos jogadores em quadra, ainda sem coragem para participar de uma partida. Envergonhado, ele diz que leva um tempo para se soltar. “É a primeira vez que eu venho aqui, eu sou muito tímido, por conta de tudo que eu passei na minha infância”, explica o cuidador de idosos.

Juliano é natural de São Luís (MA), ele veio pela primeira vez para São Paulo com 20 anos, se apaixonou pela cidade, retornou aos 24 e, desde então, não foi mais embora. Ele relembra que começou a questionar a sua identidade de gênero quando ainda era pré-adolescente e se sentiu envergonhado ao ser maquiado e presenteado pela mãe, com uma saia, durante as celebrações de Natal.

“Desde então, eu comecei a pesquisar, porque eu tinha essa repudia com o meu corpo, porque toda vez que a minha mãe comprava uma roupa feminina para mim eu não gostava, eu me sentia diferente. Eu fui pesquisando, até que encontrei a palavra transgênero e comecei a me identificar”, relata o cuidador de idosos.

“É a primeira vez que eu venho aqui, eu sou muito tímido, por conta de tudo que eu passei na minha infância”

Juliano Rafael, 27, é cuidador de idosos e morador do Parque do Carmo, em Itaquera, zona leste de SP. 

Apesar de sempre ter gostado de jogar bola, Juliano explica que a timidez é consequência de ter sido alvo de muito bullying durante a adolescência. “Eu só gostava de jogar com homens, de sair com homens, praticamente todos os meus amigos eram homens. Eu era chamado de Maria Macho, Maria João, Robinho, um monte de apelidos feios, eu me sentia tristão”, comenta.

Histórias como a de Juliano se repetem entre os jogadores que frequentam os treinos. Embora tenham descoberto a paixão pelo futebol ainda pequenos, muitos acabaram se afastando das quadras por causa da intolerância e do preconceito. O psicólogo Max Gabriel, 32, por exemplo, relembra que ficou sem jogar bola por quase uma década. 

Max Gabriel, 32, é psicólogo e pivô do time. Imagem: Inara Novaes

Ele relata que sempre gostou de futebol e costumava jogar com meninas até conhecer um time de rapazes quando tinha entre doze e catorze anos. Para participar das partidas, ele saia escondido de casa, porque o pai o proibia de jogar bola. “Ele não deixava, porque, teoricamente, eu era uma menina e, lá, menina não podia jogar bola”, conta o psicólogo que é natural de Maceió (AL) e hoje mora na Cidade Patriarca, zona leste de SP.

“Eu tinha uma carga psicológica negativa muito grande pra poder jogar e isso foi minando a minha saúde mental, porque eu só me sentia bem naqueles 60 minutos em que eu estava jogando e nem isso me deixavam fazer”, explica Max ― que hoje é pivô do time ― ao lembrar ter deixado as quadras após quase ter apanhado do pai no meio de uma partida de futebol.

Embora tenha começado a se identificar como homem trans entre os seis e os sete anos de idade, o psicólogo conta que o primeiro passo da transição de gênero ocorreu somente dia 23 de agosto de 2014, quando tomou a primeira dose de testosterona. Desde então, ele se sentiu mais confiante para trabalhar, estudar e retornar às quadras.

“Estar aqui é a realização de um sonho (…) Eu sinto como se fosse devolvido algo que me foi tirado”

Max Gabriel, 32, é psicólogo e pivô do time de futsal.

Assim como Max, o co-fundador do time, Tatto Oliveira, 42, explica que também começou a se identificar como uma pessoa trans na infância, quando tinha apenas 8 anos. A transição de gênero, no entanto, ocorreu somente 28 anos depois. “Eu comecei a ter acesso a informação, conhecimento, e vi que não era uma pessoa doida quando criança e queria usar gravata ou pintar a barba”, relembra, aos risos, o produtor cultural.

Tatto Oliveira, 42, é produtor cultural e co-fundador do SCT Mosqueteiros. Imagem: Inara Novaes

Apaixonado por futebol desde pequeno, Tatto conta que cresceu assistindo outros homens treinando e sonhando em, um dia, fazer igual. Na escola, sofria muito preconceito porque, na época, ainda era visto pela sociedade como uma mulher lésbica e acabava sendo vítima de muita agressividade o que, aos poucos, foi o afastando das quadras.

“[O futebol] é um lugar no qual, muitas vezes, as pessoas vão para descontar raiva e acabam descontando nas outras pessoas. Para mim, era um lugar onde eu ia para descontar, sei lá, às vezes, uma solidão que eu tinha dentro de casa, de não poder falar para a minha mãe que eu era uma pessoa trans”, comenta o produtor cultural que mora na Vila Fundão, Capão Redondo, e deu origem ao Sport Clube T Mosqueteiros em 2019.

Longe das quadras, o biólogo Eli Campos de Oliveira, 33, faz parte da equipe de comunicação do time e confirma: ali ele realmente se sente em família. “Aqui você se reconhece em cada um deles, passa a ser um pedacinho, uma família mesmo. A gente se preocupa um com o outro, pode ser muito simples e pequeno, mas o fato de você chegar aqui e abraçar cada um já faz diferença”, comenta.

Todo domingo de manhã ele faz o mesmo trajeto do Jardim Santo Antônio, em Osasco, até o centro de São Paulo. O biólogo diz que não perde um treino do time e explica que estar cercado de pessoas que entendem como ele se sente não tem preço. “Antigamente era totalmente introvertido, muito tímido quanto à comunicação. Hoje não. Hoje eu consigo falar, eu faço parte de alguma coisa, eu me sinto pertencente”, prossegue.

De acordo com o capitão do time, o marido de aluguel Matheus Oliveira, 34, criar uma rede de apoio que supere os limites da quadra é muito importante, especialmente para quem não possui isso em outros lugares. “Tem meninos que moram em abrigos, tem outros que não têm emprego, a família não aceita, têm diversas questões”, explica. 

Matheus Oliveira, 34, trabalha como marido de aluguel e é capitão do time. Imagem: Inara Novaes

Matheus é natural do Guarujá e atualmente vive em Carmo Messias, na cidade de Ibiúna, a 70 quilômetros de distância da quadra onde os treinos de futsal são realizados todos os domingos. Ele entrou para o T Mosqueteiros em agosto de 2021 como treinador e, pouco depois, se tornou capitão do time.

Durante a entrevista, ele celebrou a vitória do time na modalidade de futsal da 1ª edição dos Jogos LGBTQIAP+, realizada em novembro do ano passado. Recentemente, no dia 18 de junho, o T Mosqueteiros também foi campeão da Taça da Diversidade, campeonato de futebol voltado apenas a times LGBTQIAP+.

O campeonato pela Taça da Diversidade aconteceu no dia 18 de junho, o time foi campeão. Imagem: Comunicação Sport Club T Mosqueteiros

Segundo os jogadores, o SCT Mosqueteiros faz parte de um movimento que busca transformar o esporte mais popular do país num espaço que acolha os corpos e as identidades de todas e quaisquer pessoas, especialmente daquelas que não se identificam com a binariedade de gênero imposta pela sociedade, que determina, desde o ventre, o futuro de uma pessoa de acordo com os órgãos genitais.

O professor e analista de diversidade e inclusão, Bernardo Gonzales, 33, joga em times transmasculinos desde 2017, mas permaneceu dez anos afastado das quadras por não se sentir acolhido dentro do esporte. Hoje, ele defende que construir espaços como o T Mosqueteiros é criar uma narrativa de sucesso para as pessoas trans, porque o desfecho mais comum, no mundo, é o do suicídio e do fracasso.

Bernardo Gonzales, 33, é analista de diversidade e inclusão. Imagem: Inara Novaes

“Não acredito em herói, não acredito em salvacionismo, acredito que as pessoas salvam a si mesmas, mas o que a gente pode produzir, enquanto coletivo, são histórias de sucesso, de alegria e de coletividade para que outras pessoas sintam a possibilidade de também compartilharem e se somarem a este processo”, comenta o analista que mora na Vila Guilhermina, zona leste de SP.

Atualmente o time busca parcerias de iniciativas, públicas ou privadas, que possam ajudar na manutenção do espaço e dos gastos que são custeados pelos próprios membros. “A gente pede que as pessoas não apenas olhem e batam palma, mas apoiem, porque é um projeto que precisa de financiamento ou até mesmo de profissionais, como psicólogos e nutricionistas”, comenta o co-fundador Tatto Oliveira.

Confira algumas imagens do time em campo.

“Apenas para alugar a quadra são 760 reais todos os meses, o que, às vezes, são 35 reais para uma pessoa que não pode pagar, porque faria falta em casa. Além da própria condução ou da condição que ela vai chegar aqui: se tomou um café, se vai conseguir treinar ou vai acabar passando mal”, finaliza.

Embora o time seja formado exclusivamente por pessoas transmasculinas, qualquer pessoa interessada ― independente da orientação sexual ou da identidade de gênero ― pode frequentar os treinos que acontecem, todo domingo, entre as 10h e às 13h, na região da Luz, no centro da capital paulista.

Para participar, o time pede apenas uma contribuição destinada à arrecadação do valor cobrado pela mensalidade da quadra. Para saber mais, acesse o perfil @sctmosqueteirosoficial no Instagram ou entre em contato através do e-mail ncresistencia@gmail.com.

Peça de teatro discute trabalho e isolamento social na pandemia no Parque Anhanguera

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Com apresentações que se iniciam neste sábado, o espetáculo é aberto a participação de famílias, crianças, adolescentes e jovens, para refletir sobre o impacto da pandemia no cotidiano de trabalhadores que não tiveram direito ao isolamento social.  

Cena do espetáculo ‘Nina e a cidade que perdeu o vento’. (Foto: Luh Silva Maio)

Criado pelo Grupo Pandora, o espetáculo “Nina e a cidade que perdeu o vento” começa uma curta temporada de apresentações nos dias 02, 03, 09 e 10 de julho de 2022, sábados e domingos, às 15h, com entrada gratuita no Parque Anhanguera, localizado em Perus, zona noroeste de São Paulo.

“Fomos para a rua em busca do encontro a céu aberto, nos parques, praças e escolas, e da alegria de voltar a apresentar teatro”, conta afirma Lucas Vitorino, diretor do espetáculo, explicando a importância de voltar encontrar o público de maneira presencial, mas seguindo cuidados importantes, como por exemplo, realizar a peça em um lugar como o parque com grande circulação de ar.

O espetáculo retrata com sensibilidade e poesia os desafios e a realidade de pessoas que, em razão do trabalho, não puderam ficar em isolamento social durante a pandemia da Covid-19, como é o caso de entregadores de delivery, médicos, catadores de recicláveis, entre outros.

Personagens da peça ‘Nina e a cidade que perdeu o vento’ retratam trabalhadores que não tiveram direito ao isolamento social. (Luh Silva Maio)

Entre os principais assuntos abordados na peça “Nina e a cidade que perdeu o vento”, o diretor do espetáculo ressalta a importância de discutir com a crianças os impactos da pandemia nas periferias. “O público alvo surge de uma vontade de falar sobre esse período com as crianças após o isolamento social, a distância das amizades, da escola, as mudanças na rotina e até a perda de entes queridos”, ressalta.

Com intensa produção artística, o Grupo Pandora aborda em suas criações temáticas pertinentes à história do Bairro de Perus e do Brasil, suas injustiças sociais e suas problemáticas, através de uma invenção poética que exalta a força da teatralidade.

As apresentações do espetáculo fazem parte do projeto “Estatísticas dos Pássaros”, realizado com apoio da 36° Edição do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo – Secretaria Municipal de Cultura.

Espetáculo “Nina e a cidade que perdeu o vento”

Local: Parque Anhanguera

Endereço: Av. Fortunata Tadiello Natucci, 1000 (alt. km 25 da Rod. Anhanguera – Perus – São Paulo – SP

Data: 02, 03, 09 e 10 de julho de 2022 (sábados e domingos)

Horário: 15h00Digite seu texto aqui…

Mudanças à vista: fechamento do Centro de Mídia M’Boi Mirim

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É com sentimento de dever cumprido e alegria pela jornada que se abre, que comunicamos o fechamento do Centro de Mídia M’Boi Mirim. 

Frente do Centro de Mídia M´Boi Mirim com arte do grafite do grupo Opni. Arquivo/Maio de 2019.

Para nós do Desenrola e Não Me Enrola, nunca fez sentido pensar no progresso individual, que impacta somente as nossas iniciativas e projetos. Acreditamos que o progresso precisa ser compartilhado, pois não existe mudança real se chegarmos sozinhos. Sem coletividade não há transformação, nem ampliação de impactos positivos nos territórios.

Foi a partir dessa linha de pensamento que criamos o Centro de Mídia M’ Boi Mirim. O espaço foi idealizado para acolher e potencializar iniciativas com ações transformadoras por meio da comunicação e que impactam a vida dos moradores e moradoras das periferias, além de ser nossa redação e abrigar demais projetos que executamos.

O que já rolou por aqui 

Com esse olhar genuíno, durante cinco anos, desde sua inauguração em 2017, o Centro de Mídia se manteve de portas abertas promovendo formações, encontros e troca de saberes. Recebemos coletivos, artistas, empreendedores, professores, alunos de escolas públicas, fundações, jornalistas e comunicadores, de alguma forma interessados ou envolvidos com o campo da comunicação periférica.

Bate papo no Centro de Mídia M´Boi Mirim com as Fundações Tide Setúbal e Instituto Alana sobre a Comunicação e Jornalismo produzido nas periferias, a troca antecedeu a Virada da Comunicação realizada pela Rede Jornalistas das Periferias. Arquivo/Agosto de 2017.

Fomos inspiração para muitos coletivos e iniciativas que sonhavam com um espaço de comunicação periférico e independente. A partir do que construímos, viram que era possível e passaram a abrir seus próprios espaços e redações, aumentando as possibilidades de crescimento da comunicação nas periferias como um campo de trabalho.

O Centro de Mídia M’Boi Mirim também foi espaço de nascimento e abrigo para novas iniciativas de comunicação que surgiram entre 2017 e 2018. Exemplo disso é o Jornal Embarque no Direito, que fomentou um lab de produção sobre direitos sociais para 170 jovens e impactou indiretamente 170 mil pessoas, por meio das 17 edições do seu jornal impresso distribuído para os moradores das periferias.

O jornal Embarque no Direito discute direitos da mulher em encontro com jovens comunicadores no Centro de Mídia M´Boi Mirim. Arquivo/Fevereiro de 2019.

Outro projeto que nasceu nesse período no Centro de Mídia foi o Inglês na Quebrada. A partir das aulas de inglês, o rapper afro americano Jordan Fields dialogava sobre questões políticas, sociais e culturais das periferias norte americanas e brasileiras.

Produzido pelo Desenrola, o vídeo de abertura do Inglês na Quebrada viralizou, chegando até as redes sociais e redações da mídia tradicional. Com isso, o Centro de Mídia passou a receber repórteres de diversas mídias que tinham interesse em entrevistar o professor de inglês, como também mostrar o espaço onde ocorriam as aulas do curso que tiveram cerca de 70 alunos impactados. 

Inglês na Quebrada ministrada pelo rapper afro americano Jordan Fields. Arquivo/Setembro de 2017.

Foi também em 2017, no primeiro ano de atividades do espaço, que passamos a ter um local próprio para realizar as atividades do Você Repórter da Periferia, nosso programa de formação de jovens repórteres.

De 2017 a 2019, o espaço abrigou três edições do programa de formação, que através do jornalismo e da comunicação periférica, cria espaços para o exercício das identidades culturais de jovens periféricos e fomenta a produção de conhecimento sobre políticas públicas e direito à cidade. Cerca de 70 jovens foram impactados por essas formações do projeto no Centro de Mídia. 

Nosso trabalho não pode parar!

Em 2018, muita gente colaborou com a campanha de financiamento coletivo para manter o Centro de Mídia no ano seguinte, em 2019. Nosso objetivo sempre foi mantê-lo ativo. Porém, o imóvel onde estamos localizados será vendido e ainda não temos recursos para comprá-lo, nem conseguimos arrecadá-lo, por ser um valor muito alto, alto mesmo.

Com isso, compreendemos que a missão do Centro de Mídia M´Boi Mirim foi comprida e que sua jornada chegou ao fim. Esse é um ciclo que se fecha para que um novo ciclo de sonhos e possibilidades floresça!

Mesmo com essa mudança de rota, nossos caminhos e projetos seguem entrelaçados com o campo da comunicação e do jornalismo periférico.

O Centro de Mídia M’Boi Mirim é parte da história que estamos escrevendo há muitos anos, parte de conquistas ancestrais! Muitas coisas foram realizadas, potencializadas por esse espaço. Muitas delas também continuarão existindo, impactando e transformando os cenários nas quebradas.

É com esse sentimento de dever cumprido e alegria pela jornada que se abre, que comunicamos o fechamento do Centro de Mídia M’Boi Mirim.

Em julho, nós do Desenrola e Não Me Enrola iniciamos uma campanha de financiamento coletivo para arrecadar recursos que irão viabilizar a nossa Casa e Redação de Jornalismo Periférico. E esse novo espaço também irá abrigar nosso programa de formação para jovens periféricos, o Você Repórter da Periferia.

Sua ajuda é fundamental para que nós possamos continuar impactando os territórios por meio dos nossos projetos e do jornalismo de quebrada. Juntos, seguimos!

Violência e combo eleitoral: as promessas que jamais poderão ser cumpridas

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A ideia de que a violência ensinaria essas pessoas percorre os anos mais do que a ideia de que palmada resolve “birra” de criança, assim perpetuamos uma linguagem: violência. 

Ato de 2019, em homenagem à Evaldo Rosa, executado com oitenta tiros de fuzil disparados por militares do Exército em Guadalupe na zona Oeste do Rio de Janeiro – Foto: João Victor,

Ao longo dos anos é evidente que a sociedade brasileira vem vivenciando uma série de violências, até por questões estruturais, como já disse em outro texto: ainda carregamos o peso de termos sido uma colônia no passado. Mas para além disso possuímos um sistema político fadado a se alimentar da violência que produz, algo que vem aumentando e se intensificando nos últimos 4 anos principalmente e é sobre isso que iremos refletir neste texto.

É comum assistir propaganda onde os candidatos a futuros parlamentares prometem acabar com a violência, sempre carregados por ideias extremas e que vem junto a uma justiça única: a morte. Não permitindo nenhuma brecha para debate e acusando qualquer um que queira se aprofundar no tema de “defensor de bandido”, será que é tão simples? Será que o produto da violência é o indivíduo? E será que seu pagamento é a morte? Ou a contra violência? 

Aqui não estou relativizando o que é crime, mas procurando entender como uma sociedade punitivista ainda produz tanta criminalidade. 

Além das ruas estarem vivenciando um aumento de roubos e furtos, bem como uma problemática específica ligada a população em situação de rua (que aumentou 31% até 2021 de acordo com dados da SMADS) que vem vivenciando ataques policiais entre outras políticas violentas do Estado (que não promove nenhuma política pública voltada ao acolhimento), São Paulo também vivenciou o aumento da violência policial como um todo, em 2020 vivemos um recorde de violência que decaiu segundo aos dados desde 2021, contudo os relatos sobre tratamentos abusivos, racistas e violentos não são novidades para a população principalmente preta, pobre e moradora da periferia.

Tudo isso por si só constrói a narrativa eleitoral necessária para a apelação emotiva, a violência é o maior problema do Brasil e as soluções vão ser muitas, mas em sua maioria estarão alinhadas com mais violência ou com perspectivas de países que nunca foram colonizados, será que se houver pena de morte em um mês a violência diminui? Quem “está” no “crime” teme a morte?

Assim o Estado mostra seu poder de decidir quem vive ou morre, escancarando isso por meio do discurso dos representantes do povo que constroem mais cadeias que escolas e que se preocupam em dizer sobre os benefícios de algumas cadeias onde a situação fere os direitos humanos, uma lição: tomar banho frio, viver com ratos, baratas, comer comida podre, ver sua família ser humilhada ao te visitar. 

Primeiro ato organizado pelo Passe Livre contra o aumento na tarifa dos transportes de São Paulo, Republica, SP, 10/01/2019. Foto: João Victor Santos

A ideia de que a violência ensinaria essas pessoas percorre os anos mais do que a ideia de que palmada resolve “birra” de criança, assim perpetuamos uma linguagem: violência. Que se resolve com violência, mas nunca violência a quem nos “ordena”, uma violência com hierarquia e direcionamento. 

Assim seguimos por eleições em que parte dos candidatos (incluindo alguns que já foram militares) se ocupam de discorrer sobre a violência no país e na cidade, mas jamais resolvem o problema. Se é dada uma solução que não seja violenta, logo é defesa de bandido, mas parte deles não seriam eleitos sem a participação da violência no marketing político.

Todo esse contexto gera: desespero, insatisfação, antipolítica e reatividade. O que auxilia no processo de emoção na hora de “vender o peixe”, atualmente a antipolítica tem beneficiado toda a sorte de candidatos que ao verem Bolsonaro ganhar por excesso de pessoas escolhendo não votar, perceberam que nem tudo é sobre conseguir votos e gastar tanto dinheiro na tv.

O uso de ferramentas digitais nas redes é cada vez mais comum e isso facilita o processo de interação com a população que já está insatisfeita ao ver Siqueira Júnior falar sobre como bandido se dá bem no Brasil e ainda assiste uma live dos nossos vereadores contando sobre como impostos prejudicam nosso cotidiano, eles só esqueceram de dizer quanto ganham, como ganham, como funciona o sistema econômico do país e o tempo de trabalho deles diariamente.

Assim estamos alimentados com um combo de estímulos sobre violência, mas ninguém ousa falar que parte da população carcerária nem passou por julgamento, em sua maioria é composta por pessoas pretas e que cometeram crimes relacionados a tráfico de drogas, furto e roubo (deixando ainda margem para o debate de pessoas que estão encarceradas sem julgamento), e sim, por incrível que pareça a dimensão dos dados não é tão parecida com a de Siqueira Júnior dançando forró enquanto reforça na mente do telespectador uma mensagem: você não está seguro. 

Foto tirada por mim mesma na Rua Augusta, uma criança que estava vendendo balas recebe um lanche de um homem que estava bebendo neste bar

Assim ninguém pode falar de um Estado que quis dar ração as crianças, que mata e que deixa pessoas morrerem nas ruas, que não pensa em novas políticas de educação mas constrói um sistema educacional que incentiva a exclusão escolar do jovem que trabalha, assim muito antes de se tornarem adultos entendem que o dinheiro vale mais que o saber e que a escola não é lugar para quem não tem o que comer.

Mas o Estado pode dizer que na periferia mora a violência e que a solução para isso é mais violência e que mesmo que de 4 em 4 anos o debate seja o mesmo, dessa vez eles irão erradicar a violência, uma violência que faz parte desse solo antes das políticas republicanas, antes dos acordos entre famílias, antes do latifúndio ser beneficiado, antes da ditadura arrastar indígenas como um caçador arrasta uma caça, antes do Agro TEC, Agro POP e Agro TUDO destruir nossa alimentação.

E se você disser tudo isso a eles, dirão que você não está contando a verdadeira história do Brasil… um país que recebeu o nome daquilo que foi saqueado e que até hoje se aluga para quem insiste em nos colonizar.

As eleições são só uma forma de escancarar que a história que contam sobre nós está recortada nos moldes para negar que esse sistema sustenta famílias que nunca foram e nem serão pobres, famílias de “renome” e que recebem até nome das ruas, hospitais, famílias que sempre foram políticas, mas até hoje não resolveram a violência que contam que é o mal do país. Será que não temos solução?

Um país de muito trabalho que não tem como trabalhar, um país de muita beleza que teme o futuro. Um país e um choro: Brasil.

“Mas branco morre todo dia também.”
Oh parça, nós somos a maioria da população
Se cada negro matasse um
Ceis entraria em extinção”

Fragmento de poesia de Celinda

Racismo ambiental: ação humana e ecocídio

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O pilar de todo esse debate é: as alterações do clima, o ecocídio, a degradação ambiental e o racismo são operados por poucos grupos, pela elite econômica e frequentemente por pessoas brancas. Cabe a quem luta pela vida adiar o fim do mundo.

Encontro realizado pela UNEafro Brasil, no Quilombo de Ivapurunduva, no Vale do Paranaíba (SP), 29 de fevereiro de 2020. Foto: Tiago Fernandes.

Nas periferias urbanas e nas terras de povos indígenas e quilombolas, habitação, segregação e racismo ambiental ensaiam juntas formas que disciplinam o comportamento e as relações humanas, para, assim, absorver às violações de direitos humanos como expressões “naturais” da experiência de viver nas periferias urbanas e rurais, da vida favelada e em áreas de conflito – ou em estado de “saque” de recursos naturais.

A linha imaginária que cria uma separação entre natureza e progresso impõe uma perspectiva de dualidade como se de um lado estivesse a defesa de uma “vida selvagem” e do outro o desenvolvimento econômico e “civilizatório”. De um lado um “passado primitivo” e do outro a obsessão por uma “liberdade” que atua como rolo compressor de qualquer forma de solidariedade popular, coletiva e de bem viver.

Nos termos do significado das mudanças climáticas, elas apontam que o que está ocorrendo é que o aumento da temperatura global apresenta efeitos nocivos para todo tipo de ecossistema, para toda a vida humana e organismos vivos do planeta.

Na prática, as alterações do clima acontecem por uma bateria de problemas. O mais conhecido deles é a emissão de gases do efeito estufa, que concentram em um nível acelerado, gases na atmosfera (CO², CH², N²O, etc.), impedindo que o calor recebido pelo sol seja expelido e isso aumenta a temperatura do planeta.

Mas a essência do problema está nas dinâmicas de relações humanas baseadas no lucro, no poder e no extermínio. Há um debate sobre justiça climática que propõe uma reflexão que nos provoca a medir o papel dos responsáveis pelos impactos ambientais.

Isso nos implica pensar que os conflitos humanos são capazes de produzir alterações significativas de degradação ambiental. Neste caso, há uma série de prerrogativas de “regulação” internacional de operações militares em conflitos que vão do uso de armas químicas a testes de ogivas nucleares.

Entretanto, por mais que existam prerrogativas ratificadas em pactos internacionais, de naturezas distintas em certo grau, a questão fundamental que pesa sobre as medidas de mitigação dos crimes ambientais, é a responsabilidade dos Estados na participação, conivência e promoção das práticas de degradação ambiental.

Na discussão sobre justiça climática, o entrecruzamento de conflitos e a busca pelo controle territorial para o controle da exploração, extração e distribuição dos recursos naturais é um componente do que podemos chamar de ecocídio ou racismo ambiental.

Se há um consenso nos organismos internacionais é o de que cada Estado tem sua autonomia para criar jurisdições próprias na penalização de crimes ambientais. Todavia, isso acontece porque na prática não há nenhum mecanismo internacional capaz de penalizar Estados (o que acarretaria em sanções contra a sua sociedade civil como um todo), sendo assim, a questão se volta para a responsabilidade dos indivíduos.

“É a porta de entrada para várias formas de ações e organizações criminosas: da milícia ao narcotráfico; da grilagem ao desmatamento; do uso de agrotóxicos ao trabalho escravo.”

É aqui que nosso problema ganha cor, rosto e identidades próprias.

Mas antes de se voltar especificamente para o caso brasileiro, vale elencar algumas formas de degradação ambiental causadas pelo conflito, que podem mudar todo um ecossistema ou destruir biomas.

Na guerra do Iraque durante os anos 90, as tropas de Saddam Hussein acabaram com os pântanos da Mesopotâmia, como retaliação há uma revolta xiita. Com isso, destruíram todo um ecossistema, e neste caso, o maior de terras úmidas do Oriente Médio.

Na República Democrática do Congo, em que a guerra civil, na década de 90, trouxe dramaticamente conflitos sangrentos, fez com que a busca por alimento se voltasse a espécies de animais selvagens e silvestres e, como efeito, reduzisse drasticamente sua população.

O ataque norte-americano na Guerra do Vietnã (1961-1971), com o uso da arma química conhecida como Agente Laranja. Espalharam milhões de litros de herbicida que causaram a perda da biodiversidade do ecossistema da floresta, além de causar graves doenças na população local como câncer, danos neurológicos, úlcera e outras.

Então, agora que compreendemos que degradação ambiental é algo mais amplo do que apenas às emissões de gases causados pelo setor energético e de transporte, vamos considerar o caso brasileiro. 

Segundo dados do Climate Watch, considerando os principais países que produzem gases do efeito estufa entre 1990 e 2019, o Brasil marca seu lugar na 6° posição.

Diferente de China e EUA que figuram na liderança do ranking, a principal fonte de emissão de gases no nosso país não está na manufatura e transporte, mas, sim, no modelo econômico baseado no agronegócio.

Para além do modelo econômico, o agronegócio impõe um modelo de necro-sociabilidade, aceitando todo tipo de forma de violência e/ou política. É a porta de entrada para várias formas de ações e organizações criminosas: da milícia ao narcotráfico; da grilagem ao desmatamento; do uso de agrotóxicos ao trabalho escravo.

Só no período entre 2016 e 2017 cresceu 350% os assassinatos contra quilombolas, demonstram os dados do relatório “Racismo e violência contra quilombos no Brasil”. Impulsionados por ondas de grilagem de terras ou extrativistas ilegais em áreas de preservação.

O mesmo problema se reflete com os povos indígenas. O caso mais recente do desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Philips, no Vale do Javarí, região de terras indígenas, expuseram a brutalidade da violência com base na defesa dos territórios.

São os casos da morte do líder quilombola Edvaldo Pereira, na comunidade do Jacarezinho, Maranhão, que lutava contra as invasões do plantio de soja em seu território e da menina Yanomami morta e estuprada por garimpeiros, na comunidade de Araçá, região de Uraricoera, em Roraima.

Voltamos na questão básica, como responsabilizar quem comete crimes ambientais? 

Temos um desafio, principalmente, quando são os principais interessados na promoção do racismo ambiental, do ecocídio e na degradação que legislam ou são frente de definição dos temas relacionados ao meio ambiente.

É o caso do Deputado Federal Ricardo Barros, líder do governo na Câmara, que segundo o Brasil de Fato, é sócio de uma empresa de mineração no Pará, e aprovou com urgência o PL 191, que libera mineração em terras indígenas.

Por último, o Ministério Público do Rio de Janeiro apontou em investigações que o gabinete de Flávio Bolsonaro, na Assembléia Legislativa, teria financiado através de rachadinhas construções de edifícios irregulares junto com a milícia. Construções irregulares que oferecem risco aos moradores e criam uma diversidade de lixo ambiental.

Esse texto não oferece respostas objetivas para o problema da Crise Climática e os seus impactos ambientais, também há muitos aspectos dos seus efeitos não descritos.

Sobretudo, o pilar de todo esse debate é: as alterações do clima, o ecocídio, a degradação ambiental e o racismo são operados por poucos grupos, pela elite econômica e frequentemente por pessoas brancas, cabe a quem luta pela vida adiar o fim do mundo.