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Juventude trans e periférica busca representação no Congresso Nacional

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Recorde de candidaturas trans nas eleições de 2022, reacende a esperança da comunidade após quatro anos marcados por retrocessos e violências.

Grupo protesta por direitos da população trans. Imagem: AFP

Segundo um levantamento feito pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), as candidaturas trans e travestis bateram recorde nestas eleições, com um aumento de 47% em relação a 2018. Ao todo, foram registradas pelo menos 78 candidaturas trans pelo Brasil, das quais 69 são de mulheres trans e travestis – em 2018 foram 52; homens trans representam 5 candidaturas – em 2018 foi 1 candidatura; e 4  são de pessoas não-binárias. 

Embora os números sejam pequenos, sobretudo quando comparado às mais de 28 mil candidaturas registradas na disputa eleitoral deste ano, eles correspondem a uma grande expectativa: fazer com que o Congresso Nacional – mais especificamente a Câmara dos Deputados – seja ocupado por pessoas trans e travestis.

Para a juventude trans e periférica da capital paulista, superar essa ausência de representatividade significa a possibilidade de construir instituições políticas que dialoguem com todas as camadas da sociedade e que realmente reflitam a pluralidade observada nas ruas e avenidas do país. 

“Eu quero ver na política pessoas iguais a mim, pessoas que a gente pode encontrar na rua de casa ou no mercadinho da esquina, sabe? Porque só quem conhece as nossas necessidades vai ser capaz de mudar um pouco as coisas”

compartilha Vênuz Capel, 23, ao mencionar que está priorizando candidaturas de pessoas trans, negras e de quebrada nas eleições deste ano.

Venuz morava em Santos, no maior aglomerado de palafitas da América Latina, e mudou-se recentemente para São Paulo. Imagem: Leasi Gomes

Vênuz é social media, mora em Ermelino Matarazzo, zona leste da capital paulista, se identifica como uma pessoa não-binária e explica que ver uma mulher trans ou travesti eleita é uma oportunidade de mudar a visão da sociedade e ressignificar os estigmas que atravessam a população trans e contribuem para que 90% tenha a prostituição como única fonte de renda e de subsistência.

“Seria muito importante implementar uma educação sobre diversidade nas escolas e nos serviços de saúde, porque, muitas vezes, a pessoa não é nem transfóbica, mas não tem acesso à informação, né?”, explica Vênuz ao falar sobre quais deveriam ser as prioridades do legislativo durante os próximos anos.

Em Itapevi, município da região metropolitana de São Paulo, o estudante de Gestão e Produção Cultural, Acân Odara, 21, diz que depois de dois anos caóticos de pandemia, ele finalmente está se sentindo otimista.

“A gente não tem o mínimo, mas se a gente tivesse, já mudaria muita coisa. Então é preciso ter esperança, porque se não a gente acaba vivendo num limbo, né?”

comenta Acân.

Nascido e crescido em Itaquera, zona leste de SP, atualmente Acân mora no município de Itapevi. Imagem: Acervo Pessoal

Essa é a primeira eleição da qual Acân participa, ele explica que ainda está indeciso sobre em quem votar, mas espera que as pessoas eleitas tenham sensibilidade para enfrentar as injustiças sociais que atravessam a população negra, trans e periférica.

“Porque a gente que movimenta esse sistema, mas viver no capitalismo é não ser valorizados da forma que deveríamos, né?”, reflete o estudante de Produção Cultural.

Do outro lado da cidade, há quase 60 quilômetros de Itapevi, Sanara Santos, jornalista, moradora do distrito de São Lucas, zona leste de São Paulo, diz que também está se sentindo confiante.

“Eu acredito que a gente tem a oportunidade de voltar a debater política de forma democrática, sabe? A gente passou os últimos quatro anos somente gritando: parem de nos matar”

comenta a jornalista.

Nascida e criada na Favela da Ilha, atualmente Sanara mora no distrito de São Lucas. Imagem: Reprodução Énois Conteúdo

Neste ano, os votos de Sanara já estão decididos. Ela explica que, desde as últimas eleições, tem priorizado candidaturas de mulheres negras e trans.

“Elas não pensam exclusivamente nelas e isso é algo que a gente não enxerga em nenhum candidato homem e branco. São lutas que fazem muito mais sentido no debate político do que as de um playboy que só entrou na política porque está preocupado com o comunismo”, pontua a comunicadora.

Com a possibilidade da eleição de uma mulher trans ou travesti para a Câmara dos Deputados, cresce também a expectativa de leis voltadas à comunidade, principalmente porque, até hoje, nenhum projeto de lei em benefício da comunidade LGBTQIA+ foi aprovado pelo Congresso Nacional – todos os direitos até então conquistados vieram por meio de decisões do judiciário.

“Tem muitos acessos que são negados para a gente por causa de onde a gente mora. Então acho que uma pessoa trans que venha de quebrada, entende isso, sabe? Nestas eleições, as minhas prioridades estão relacionadas à saúde trans, porque ultimamente é uma das coisas que mais me atravessam e que eu vejo pessoas passando também”, finaliza Vênuz. 

Este conteúdo foi produzido no âmbito do projeto Planeta Território, uma iniciativa da Território da Notícia com apoio do Instituto Clima e Sociedade para fomentar e distribuir informação de qualidade sobre a emergência climática, o contexto eleitoral e o impacto na população periférica por meio de totens digitais em estabelecimentos comerciais das periferias de São Paulo

Propostas de candidatos ao governo de SP associam combate à violência às mulheres

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Socióloga aponta que não ter nenhuma candidata para os cargos em destaque no pleito é um diagnóstico das relações de gênero presente na política e na sociedade.

A partir de análises nos planos de governo dos três principais candidatos ao Governo do Estado de São Paulo, Fernando Haddad (PT), Rodrigo Garcia (PSDB) e Tarcísio Freitas (Republicanos), a socióloga Anabela Gonçalves traz um panorama sobre as propostas dos candidatos com foco nas mulheres.

A socióloga Anabela Gonçalves aponta que muitas vezes um plano de governo não consegue dar conta de todas as necessidades de um público, mas constatou que em nenhum dos planos tem uma proposta chamada “demandas das mulheres”, o que considera um destaque importante.

“Ainda com alguns avanços, não se vê presente a população carcerária feminina nessas propostas, ou um diálogo direto com a pobreza menstrual, tema que esse ano foi tão abordado”, aponta.

Anabela afirma que os planos de governo dão destaque para a economia, parceria público-privada, como o de Rodrigo Garcia (PSDB), que eleva a participação do setor privado em decisões públicas, “prometendo criar canais de participação para esse setor, quando não aponta medidas de participação do povo”, afirma.

“Tanto no que se refere ao plano do candidato Rodrigo Garcia e de Tarcísio Freitas, as mulheres aparecem de forma genérica, mesmo reconhecendo suas necessidades quando diz respeito à segurança pública no combate à violência contra a mulher ou quando salienta a ampliação dos serviços de saúde”

avalia a socióloga.

Segundo ela, apesar de apontarem a necessidade de atenção às mulheres nas políticas públicas, não apontam como vão realizar e como darão conta de políticas que não levam em consideração raça e classe. “Já vimos isso nos planos da presidência e eles se repetem no Estado de São Paulo quase como um alinhamento político”, constata a socióloga. 



“O candidato Fernando Haddad apresenta em seu plano políticas que levam em consideração mulheres negras, a população LGBTQIA+, quilombolas, pessoas com deficiência, migrantes e refugiados”, afirma.

Anabela reforça que nas propostas do candidato Fernando Haddad se destaca a necessidade de olhar para população de mulheres negras de São Paulo, “lembrando que toda precarização, seja na moradia, empregabilidade, cultura ou saneamento básico, a população pobre é mais afetada e em destaque as mulheres negras, trabalhando com a interseccionalidade em relação aos fatores de desenvolvimento”.

Em seu plano de governo, o candidato Tarcísio Freitas fala sobre a ampliação da educação integral em parceria com o Programa Forças no Esporte (PROFESP) e com as Forças Armadas para atividades de ensino em tempo integral em escolas municipais e estaduais.

A intelectual avalia como grave a proposta, principalmente quando o candidato cita educação cívica: “Sem dúvida coloca nós mulheres periféricas que enfrentam o genocídio do Estado em alerta”.

“O mesmo candidato [Tarcísio Freitas] apresenta a proposta de transformar o estado em um polo de referência na utilização de saúde digital e telemedicina, levando o sistema a um novo patamar de gestão, sustentabilidade e satisfação do usuário, mas não achei nada sobre wi-fi gratuito ou a democratização da internet para população de baixa renda, muito menos para as mulheres que na maioria das vezes gerenciam a saúde de suas famílias”

aponta a socióloga Anabela.

Falta de representatividade que reflete nas propostas

A especialista analisa que não adianta propor mais frentes de trabalho para as mulheres sem apoio à educação das trabalhadoras, sem ampliação da licença maternidade e sua remuneração, sem bolsa para mãe estudante e sem construção de creches nas universidades públicas.

“Todo mundo entendeu que é importante falar da participação, do combate à violência, mas ainda existem poucas propostas de apoio à produção intelectual, cotas em cargos públicos de alto escalão, regulamentação em comissões, editais entre outras políticas que garantam a equidade de gênero e inclusão das mulheres trans nessas propostas”

analisa.

A socióloga aponta que chama sua atenção o candidato Fernando Haddad referenciar o combate à criminalidade em sua proposta 67, sobre segurança pública, mas o combate ao genocídio da população preta não está de forma objetiva nessa proposta.

“O genocídio é um assunto das mulheres periféricas, que estão cansadas de verem seus filhos assassinados”, pontua Anabela, fazendo referência a proposta do candidato. 

“Não encontrei nada de novo sobre políticas para as mulheres, o que temos de mais positivo é o aperfeiçoamento e continuidade de políticas públicas com atenção às mulheres negras, indígenas, quilombolas e LGBTQIA+ e suas interseccionalidades propostas pelo candidato Fernando Haddad”

afirma a socióloga.

Anabela Gonçalves lembra que, de acordo com os dados da Fundação Seade, a faixa etária da maioria da população feminina entre os anos 2040 e 2050 será de mulheres entre 45 e 74 anos, o que reflete as mudanças na diminuição de nascimentos e aumento da expectativa de vida da população em geral.

Para ela, esses dados devem pautar políticas de saúde, emprego e previdência para as mulheres e nenhum plano apresentado reflete diretamente essas questões.

“Isso porque não estamos falando sobre as meninas e as idosas diretamente, as políticas para as mulheres devem envolver idade, gênero, fecundidade, maternidade, emprego, previdência e educação, para além de violência”, afirma.

A socióloga destaca também a necessidade de planos políticos que de fato falem das cidadãs: “se estamos querendo fazer uma política includente, no mínimo seu plano de governo deve falar de todes“, afirma.

“Não ter nenhuma candidata para os altos cargos em destaque no pleito, para mim é um diagnóstico das relações de gênero presentes na política. Quando se fala em governo de São Paulo esse dado se torna agravante pela não existência de mulheres há anos nesse pleito”, conclui a especialista. 

Cientista social analisa propostas de Lula e Bolsonaro sobre questões raciais

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O cientista social Wellington Lopes do Instituto de Referência Negra Peregum analisa como os presidenciáveis Bolsonaro e Lula abordam o racismo estrutural em seus planos de governo.  

Em entrevista para o Desenrola e Não Me Enrola, o cientista social Wellington Lopes, pesquisador e articulador político no Instituto de Referência Negra Peregum, analisa as propostas dos planos de governo dos presidenciáveis Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL), focando especificamente nas demandas da população negra, que representa 56% da população brasileira, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).  

 

Planos de governo sem dados racializados

O cientista social chama atenção para a necessidade de compreensão sobre a população negra e suas questões, que são fundamentais para superar os próprios desafios de desenvolvimento econômico, social e político que o Brasil enfrenta.  

“Nas duas propostas dos programas dos candidatos à presidência, questões como geração de emprego e renda e trabalho informal, por exemplo, aparecem sem dados racializados”,  argumenta o cientista social.

“Se de um lado o programa petista tenta compor um aspecto de diversidade e composição democrática através da participação dos povos no poder, no programa de Bolsonaro é marcante o ponto de vista de unidade sem diversidade, em nenhum momento de seu plano as palavras raça, negro, negra, negros, negras são citadas”. 

Aponta Wellington Lopes, pesquisador e articulador político no Instituto de Referência Negra Peregum. 

Segundo  o especialista, na política raça é inserido como um debate ‘identitário’, mesmo que ela apareça como uma discussão essencial na formação da economia política dos estados modernos, ela continua sendo tratada de forma setorizada.

Também  cita que a pauta mais relevante para o movimento negro há décadas é a mudança da política sobre guerra as drogas. Em 2020, o 14º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, apontou que de 657,8 mil presos, 438,7 mil (66,7%) eram negros. O estudo revela como houve um crescimento de prisões de pessoas negras e que o perfil da maioria dos presos é também o mesmo da maioria das vítimas por homicídio, jovens negros e homens.

“Quando falamos em revisão da política de guerra às drogas é preciso discutir formas de combater milícias, desmilitarizar as polícias (desmilitarizar a polícia não significa extingui-la) e cercear sua participação na política, regulamentação e descriminalização de drogas e ampliação das políticas de atendimentos assistenciais e políticas de tratamento de saúde para dependentes químicos. As possibilidades são imensas de poder produzir no Brasil uma mudança de valores humanos e civilizatórios”, ressalta. 

 Guerra às drogas

Além do forte índice do aumento do encarceramento no Brasil, também é importante destacar os dados em relação às vítimas fatais em decorrência de intervenções policiais no país. Segundo o 5º Anuário de Segurança Pública divulgado em 2022, 99,2% das vítimas fatais, são homens pretos, desse percentual, 74%  jovens pretos de até 29 anos. Com isso, é possível observar o racismo estrutural e genocídio da população preta, por meio de dados que a cada ano aumentam. Para o especialista, existe uma discrepância entre os dois planos de governo dos candidatos, Lula (PT) e Bolsonaro (PL).

O programa do candidato Lula (PT) ressalta a revisão da política de guerra às drogas como abertura para reflexão e decisão junto à sociedade, focada na redução de riscos, na prevenção, tratamento e assistência ao usuário de entorpecentes. Essa intencionalidade não aparece na proposta de Bolsonaro (PL), que sequer cita a questão racial como um campo do plano de governo.

“Existe uma aposta no aumento da brutalidade para reduzir a violência. Na proposta, dados do aumento de operações policiais e apreensão de drogas são apontados como responsáveis pela redução da violência e como incentivo à política de combate ao crime organizado e ao tráfico, que desconsideram as milhares de vítimas jovens e negras”.

Analisa o cientista social, criticando o plano de governo de Bolsonaro.

Ele chama a atenção para um fato importante que é o avanço da cultura do comércio de armas com apoio do governo Bolsonaro, em caso de uma possível reeleição. “Em seu programa, a ideia de busca por expansão da ‘liberdade’ ao indivíduo na sociedade civil e a redução da presença do estado como “árbitro” dos conflitos, serve como justificativa para dizer que o acesso ao porte de armas civil fortalecem medidas de segurança pública”, avalia.

Tais medidas podem ampliar os indicadores de letalidade que mostram como a população negra tem sido alvo de armas de fogo. “Abre prerrogativa para permitir a livre associação de grupos da sociedade civil armados sem controle e regulamentação, o que pode acarretar no aumento da violência contra negros, grupos racializados e mulheres. Sobretudo, Bolsonaro visa ampliar a capacidade do uso da violência como instrumento político de popularidade e figura de ‘pureza moral’ ao combater ‘o mal’, dando continuidade à atual política de drogas e de segurança pública”, contextualiza o sociólogo.

De outro lado, no plano petista, a proposta busca assumir um compromisso de revisão da atual política de guerras às drogas, para construir uma visão ampla de como ela instrumentaliza o racismo estrutural.  Os itens 31 e 34 do plano de governo de Lula indicam primeiro que deverá ser criado um sistema integrado de gestão entre as esferas federativas e os setores da segurança pública, somando esforços para valorização da vida e diminuição de crimes contra juventude negra, mulheres e LGBTQIA+. O segundo trecho do plano, ressalta a construção de uma nova política de drogas e propõe que ela seja desenvolvida entre os setores, focada no tratamento e assistência ao usuário, substituindo o modelo de guerra.

Para Wellington os movimentos devem estar atentos desde agora para  que participem dessa mudança no provável novo governo. 

“Cabe aqui aos movimentos negros, sociais, institutos de monitoramento da violência, de assistências sociais e de saúde questionar e participar de quais serão às condições de mudança da política.”

Ressalta Wellington sobre a necessidade da participação política,  referente a revisão da  política de guerras às drogas no Brasil. 

Direitos sociais

O plano de governo do atual presidente busca uma mediação da promessa de ampliação de programas sociais, mas não apresenta detalhes sobre como irá fazer tais mudanças. A proposta também sugere a realização de privatização de empresas públicas ou estatais. No âmbito do trabalho e renda, Bolsonaro sugere diminuir o desemprego promovendo contratos específicos por categorias e enfraquecendo sindicatos.

“Das propostas de maior expressividade no campo social, Bolsonaro sinaliza a continuidade do ‘Auxílio Brasil’. Mas não se fala em pessoas negras, se fala em liberdade para prosperidade individual em empreender para reduzir a desigualdade. Não se fala em fome, mas se fala em reduzir o tamanho da intervenção do Estado no consumo e que ‘o cidadão pleno não deve ser dependente do Estado’. Apesar de assumir compromissos com a constituição e a defesa dos direitos humanos, o plano demonstra contradições entre a realidade do país e do próprio governo. Sobretudo, seu plano de governo ignora a existência de negros no Brasil e aposta em privatizações, individualizando a pobreza e às desigualdades”, diz o cientista social.

Na avaliação do sociólogo, o candidato Lula apresenta medidas concretas e direcionadas a promover políticas públicas que ajudem a reduzir as desigualdades sociais que afetam a população negra e periférica.

“De modo objetivo, num possível governo Lula, suas proposições de fortalecimento da CLT; às medidas de ações afirmativas na educação, eleições e funcionalismo público; a ampliação de políticas de transferência de renda e taxação de grandes fortunas; regulamentação de políticas de reforma agrária e titulação de terras para quilombos; por último, a revisão da política de segurança pública e de guerra às drogas para a redução da violência se destaca, dentre outros compromissos, como fonte de redução de desigualdades racial”, finaliza.

Clube de leitura apoia jovens do Campo Limpo com bolsa e acesso à internet

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A iniciativa é da Biblioteca Comunitária Djeanne Firmino. Uma das participantes é a jovem Micaele Cauane que já leu 15 livros em uma ano, três vezes mais que a média nacional. 

A biblioteca Djeanne Firmino, localizada no jardim Olinda, zona sul, conta com cerca de 4 mil livros em seu acervo. Foto: arquivo pessoal.

A estudante Micaele Cauane Carvalho dos Santos, 16, moradora do Jardim Umarizal, zona sul de São Paulo, leu 15 livros num período de um ano, uma quantidade três maior que a média nacional de leitura de livros do brasileiro, que é 4,96 livros por ano, segundo a pesquisa feita pelo Instituto Pró-Livro em 2021.

O incentivo para Micaele estreitar o contato com o livro e a leitura é promovido pela Biblioteca Comunitária Djeanne Firmino, que realiza projetos como o Clube de Leitura e o Ligue e Leia. Essas iniciativas foram criadas por mulheres arte-educadoras e pedagogas que fazem parte da Coletiva Achadouras de Histórias, que atua no Jardim Olinda, zona sul de São Paulo.

Com a intenção de democratizar o acesso aos livros e a leitura, além de se tornar um lugar de acolhida e convivência comunitária para jovens e adultos nos arredores, a biblioteca comunitária conta com cerca de 4 mil livros para empréstimos.

Além disso, a iniciativa de incentivo à leitura nas periferias fornece uma bolsa de R$ 150, além de R$ 25 para custear o auxílio internet para 15 alunos de escolas públicas que fazem parte dos encontros mensais para debater o conteúdo dos livros. O projeto ainda garante que os participantes recebam em casa os livros que serão lidos no mês. 

Os encontros do clube de leitura acontecem mensamente de maneira remota, onde os alunos contam suas experiências a partir da leitura dos livros. Foto: divulgação.

“O clube de leitura acontece uma vez por mês, onde a gente distribui livros para esses jovens e depois que eles fazem essa leitura, a gente faz uma troca das experiências, de como foi ler esse livro, pensando na perspectiva de cada um dos jovens.”

Alessandra Leite Nunes, coordenadora do clube de leitura da Biblioteca Comunitária Djeane Firmino.

Por ter sido o primeiro ano de atividades do clube de leitura, estava previsto um ciclo de leitura de três livros, mas foi preciso dobrar esse período, pois durante os encontros com os jovens, as mediadoras de leitura perceberam que eles já tinham o hábito de ler, e que poderiam ler ainda mais se o contato aos livros fosse facilitado.

“Os encontros com os alunos da Escola Estadual Professor Flávio José Osório Negrini vão até novembro de 2022. Foram 28 inscrições, mas só poderíamos ter 15. Com isso a gente percebeu que os jovens leem sim, mas os livros são caros, muitas vezes falta recurso como o celular para ler online, e até a internet para esse acesso”, avalia Michele Andrade, mediadora do clube de leitura.

Micaele teve sua vida transformada através da leitura desde que aprendeu a ler e hoje deixa troca a tela do celular pelas páginas dos livros. Foto: arquivo pessoal.

Transformação da juventude 

Para Micaele, aluna do primeiro ano do ensino médio, a leitura passou a ser um hábito ainda criança, quando ela tinha um constante contato com gibis por meio da biblioteca comunitária. Nessa época, o espaço comunitário de incentivo ao contato com o livro e a leitura precisou mudar, com isso, a estudante relata que acabou perdendo a rotina de ler, por não ter uma referência de um lugar onde poderia pegar livros emprestado.

“Quando eu aprendi a ler, eu ia todos os dias pegar livros e gibis na biblioteca e lá elas me ensinaram a ler melhor, interpretar texto e fiquei triste quando elas mudaram, perdi toda a ‘vibe’ de ler e não queria mais, mas na escola a gente se reencontrou”

Micaele Cauane Carvalho , estudante e moradora do Jardim Umarizal, zona sul de São Paulo. 

Sem nunca ter pisado em uma biblioteca pública e sem acesso aos livros da escola onde estuda, Micaele sabe da importância da leitura na sua vida e futura carreira como advogada, por isso ela leu cerca 15 livros em um ano, superando a média de leitura dos brasileiros que é de 4,96 ao ano.

“Os livros trazem uma realidade que eu posso viver, entrar na vida do personagem do livro. Cada livro e história tem um significado e você pode viver isso sem nem sair de casa, sem viajar, sem se mover e me comovem de uma forma diferente a cada vez que eu leio”, conta a estudante.

Segundo dados do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP), entre 2015 e 2020, cerca de 800 bibliotecas foram fechadas no Brasil, sendo que 91% das unidades que encerraram as atividades, ou seja, 764 estavam localizadas nos estados de São Paulo e Minas Gerais.

Cristiane Lima, membro da Coletiva, entrega os livros escolhidos pela leitura Emmely Barbosa. Foto: Edvânia Rodrigues.

Ligue e Leia 

O projeto Ligue e Leia da Biblioteca Djeanne Firmino existe desde julho de 2021, e já emprestou 344 livros para 44 moradores dos bairros próximos ao Jardim Olinda. Cada morador tem direito a um mês de empréstimo para cada livro e as entregas são feitas pelas próprias mediadoras de leitura do projeto.

“O Ligue e Leia é um projeto que veio com a pandemia para que os livros pudessem continuar circulando, por isso as entregas à domicílio são totalmente gratuitas.”, explica Edvania Duarte Rodrigues, mediadora de leitura da biblioteca.

Ainda segundo Alessandra, a intenção do delivery de livros é atingir todos os públicos, principalmente aqueles que não têm tempo de acessar os espaços públicos de leitura nos horários de funcionamento, além de atender as necessidades de acessibilidade de possíveis leitores, sem precisarem sair de casa.

“Foi o jeito que encontramos também de atingir aquele aluno trabalhador, ou que é adolescente e não tem permissão de sair, ou que até são mais caseiros. A nossa missão é trabalhar pela democracia do acesso e dos bens culturais”, finaliza Alessandra Leite.

Ancestralidade: as águas que limparam o sangue também regaram a terra

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 Do costume de cantar e comer ao modo de lavar as roupas. A ancestralidade mora no dia a dia, naquilo que nos toca porque é real.

Praça do Campo Limpo, zona sul, SP/2017 – Foto: DiCampana Foto Coletivo

Muito se fala em como a ancestralidade seria importante, mas as narrativas nos fazem pensar que a mesma mora distante do nosso olhar, quando na realidade nossa ancestralidade se faz presente no dia a dia e nos hábitos que nem sabemos de quem herdamos, mas estão vigentes.

Esta ancestralidade que faz parte de nós pode sim ser redescoberta, ser estudada e por vezes ser reconhecida nas falas de outras pessoas, mas mora em nós. Do lavar as mãos ao hábito do uso de ervas na comida. Do costume de cantar e comer ao modo de lavar as roupas. Da estética vinda do samba de roda ao rock. A ancestralidade mora no dia a dia, naquilo que nos toca porque é real.

A ancestralidade não foi encontrada em livro, nem em blog, a ancestralidade não foi embora de nós, ela foi saqueada sem permissão, foi apagada para que nossos ancestrais perdessem as forças pois tirar o dia a dia, a família e a língua de alguém é a maior violência que se pode aplicar, não à toa Portugal foi bem sucedido em seu colonialismo mesmo sendo um país falido.

Todavia, mesmo com essa trajetória as construções ocorreram e as trocas de afeto foram se constituindo, o Brasil tem mais de África do que de Estados Unidos e não precisa ser um grande estudioso para saber disso, as águas que limparam o sangue também regaram a terra, os morros que foram isolamento também constituíram novas formas de se relacionar.

Não existe romance nessa história, isso é nítido, mas existe vida, pulsante, existe afeto, existem saberes que foram passados durante séculos em comunidade, existem saberes que nunca nos disseram o que são, mas temos. Afetos que sabemos trocar e que sabemos construir.

A periferia vive e bebe o tempo inteiro dessa história, nossas vivências são parte disso, não aprendemos somente olhando para fora, também nos reconhecemos olhando para nós, para nosso redor, compreendendo nossas próprias formas de viver, de se comunicar e de sobreviver.

Foto: Pedro Oliveira

Esse texto é uma forma de me comunicar com uma parte de mim que ainda conflita muito em falar sobre o que me cerca intimamente, talvez começar a me reconciliar com aquilo que sempre senti, talvez abrir alas para contar o que sei de África até agora, que é pouco, mas que já transformou muito do meu dia a dia. O texto mais breve de todos os que já escrevi nesta coluna e talvez o mais introspectivo.

Mas sobretudo, feito com o foco em destacar que é preciso valorizar nossos saberes, nossos modos de viver, é necessário entender a ancestralidade como parte de nós, não como um organismo distante.

“Nludi nzo ka u natanga muntu mosi ko”

O teto da casa nunca é levantado por uma pessoa só

“Que mulheres são essas?”: socióloga analisa propostas de Lula e Bolsonaro para questões de gênero

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A socióloga Anabela Gonçalves traz um panorama sobre as propostas dos candidatos à presidência com relação às demandas sociais das mulheres negras, indígenas e quilombolas.

Durante o mês de setembro, o Desenrola irá realizar entrevistas com especialistas que irão analisar os planos de governo de candidatos à Presidência e ao Governo do estado de São Paulo. O ponto de partida para produção das análises são os marcadores sociais que atravessam a vida das mulheres, povos indígenas, população negra, periférica e LGBTQIA.

Na primeira entrevista para analisar o plano de governo dos dois principais candidatos à presidência, Lula (PT) e Bolsonaro (PL), a socióloga Anabela Gonçalves traz um panorama sobre as propostas destinadas às mulheres. Para ela, em geral, os planos de governo apresentam um aspecto genérico e são norteadores das visões ideológicas de cada candidato.

“Temos dois candidatos que apresentam planos de governo distintos. Bolsonaro apresenta um plano liberal de políticas focadas no crescimento econômico. O outro candidato, Lula, apresenta propostas mais humanitárias levando em consideração os diversos grupos sociais que compõem nossa nação”

aponta Anabela Gonçalves, que também atua nas áreas de gênero, políticas públicas e cultura nas periferias.

A socióloga aponta que sente falta de coerência do atual presidente, pois em suas propostas cita o direito à liberdade religiosa “quando ele mesmo não criou nenhuma medida para proteção das religiões de matrizes africanas, que foram muito atacadas durante seu governo”, aponta.

Outro ponto observado pela especialista, é que no plano de governo do candidato Lula, ela nota coerência, mas não identifica como tudo que o candidato propõem será garantido: “para mim parece uma incógnita”, avalia.

“Mulheres aparecem de forma mais ampla nos planos de trabalho, relacionadas ao empreendedorismo, participação no parlamento, inclusão produtiva e combate às violências, mas a pergunta é: que mulheres são essas?”

questiona Anabela sobre marcadores sociais ao pensar nas demandas das mulheres.

Segundo a socióloga, no plano do candidato à reeleição, Jair Bolsonaro, não é possível visualizar em poucas linhas quais mulheres estão sendo tratadas. “Não são identificadas se fala de mulheres pobres, desfavorecidas ou mães, se são negras, indígenas, quilombolas, ribeirinhas ou camponesas. Não aparecem de fato nomeadas e suas necessidades específicas”, afirma.

Em sua análise, a socióloga aponta que o candidato à reeleição, Bolsonaro, não muda sua atuação política que atrela mulheres à família e à maternidade.

Ela observa que o candidato à eleição Lula, apresenta quem são as mulheres e a necessidade de políticas públicas para essa população atrelada a gênero, raça e classe. “Tanto no que diz respeito a políticas que foram interrompidas no atual mandato, como a intensificação de lutas históricas”, coloca Anabela.

“Na proposta de Bolsonaro, mulheres são um termo genérico e muitas vezes o documento fala sobre os cidadãos e esquece das cidadãs, que nunca se apresenta envolto de conceitos importantes como raça, gênero e classe”, pontua a socióloga.

Anabela acrescenta que oque o candidato a reeleição Bolsonaro, chama de valores e princípios centrais do seu plano de governo está atrelado a ser contrário ao aborto, apresentando o termo nascituro na mesma linha que aborda o direito à propriedade. “Para mim não dá para um candidato escrever em suas propostas ‘liberdade é tão importante quanto a própria vida’ e ignorar o direto ao aborto”, argumenta. 

“Especificar políticas e seus participantes é mais que necessário e combate um plano genérico de trabalho, como se a desigualdade pudesse ser combatida de forma igual”

afirma Anabela sobre a necessidade de se considerar raça, gênero e classe nas tomadas de decisões e criações de políticas públicas para a população.

A intelectual aponta que nas propostas do candidato Lula, se considera o genocídio como algo existente. “Dar rosto às mulheres, principalmente negras, em um plano de governo, é mais que necessário nos tempos atuais”.

Anabela reforça que é preocupante a relação genérica ao se tratar das mulheres, que ignora o racismo e as violências que alguns grupos sofrem.

“Para mim aí está o grande perigo, todos falam de trabalho e renda, educação, infraestrutura, mas só em um plano se percebe esses projetos envolto das relações de desigualdade e que leva em consideração a diversidade social”, finaliza.

Machismo e política nas redes sociais

Analisamos 40 publicações com o maior número de engajamento e compartilhamentos no twitter nesse período envolvendo menções às palavras “mulheres, família e Bolsonaro”, uma referência direta ao plano de governo do candidato à reeleição.

Em 27 publicações, que renderam mais de 6 mil compartilhamentos no twitter, Bolsonaro conta com uma base de aliados que transformam o debate sobre machismo e misoginia, em uma tentativa de mostrar um presidente preocupado em convocar as mulheres para pensar estratégias de fortalecimento dos laços da família, criando assim uma semelhança com a análise da socióloga sobre o plano de governo de Bolsonaro.

Do outro lado, figuras públicas e políticos opositores da esquerda protagonizam 13 publicações com mais de 35 mil compartilhamentos no twitter, onde reforçam mensagens de apoio às mulheres que atuam como jornalistas, artistas e apresentadoras de programas, que foram alvo de discursos de ódio do Bolsonaro. 

“Homens não gemem”: Lena Silva e BiXop enfrentam a caretice com novo videoclipe

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Chega de gemido entalado na garganta! Esse é o chamado do casal Umsoh neste novo lançamento.

É preciso coragem – e muita disposição – para enfrentar alguns temas que ainda são tabu em uma sociedade machista, conservadora e racista. Mas o casal rapper Lena Silva e BiXop decidiram enfrentar a caretice e provocar neste novo single, com um videoclipe que esbanja beleza e bom gosto, em seu canal deYouTube, o Umsoh. 
Em “Homens não gemem”, Lena Silva e BiXop mostram que bom é quando homens e mulheres sentem prazer juntos e demonstram isso com afeto e muita gemeção: “Homem que sabe gemer é luxo/ Compomos uma sinfonia juntos”.

Porque a gente sabe como a coisa funciona no dia a dia, né? Em relações sexuais heteronormativas, é fácil identificar os papéis a serem cumprimidos: mulher se entrega, homem penetra, mulher dá, homem põe e tira. Mulher geme, homem jamais! E assim nos arrastamos, feito robôs, cheios de condicionamentos obsoletos, limitando e despotencializando o que temos de mais sagrado: a nossa sexualidade.

Muitos homens cisgêneros heterossexuais não gemem, pois temem revelar fragilidades que não ornam com o espectro machão que lhes é esperado. Tais regulações permeiam nossa subjetividade, e se manifestam de forma negativa nos relacionamentos.

Se esses homens soubessem que a virilidade ganha um charme todo especial quando abarcada pela vulnerabilidade, as relações ganhariam outra intensidade. Gemer parece um ato simples, mas não é. Requer entrega e autoconfiança. E uma boa trepada precisa disso. Gemer é a poesia do c*, da x0t@, da cabeça da p!r0c@. Emerge das entranhas, das sutilezas, do desejo latente.

Deixo aqui minha provocação pros macho cis de plantão: gemam aos quatro ventos, até ensurdecer as paredes. Chega de gemido entalado na garganta! Deixem o bagulho entornar, a volúpia dar as cara – e o s&x0 cumprir sua função: nos arrebatar, para enfim, nos libertar.
Essa música, comandada pela voz potente e sensualíssima de Lena Silva, além de dar um put@ t3sã0 na x0t@ e no coração, conta ainda com a participação de Deborah Crespo, que chega somando pesado, cheia de presença e personalidade, diretamente da zona sul de São Paulo. E BiXop mil grau colando pra fazer a parada estremecer, como deve ser!

Que o casal Umsoh siga provocando e abrindo caminhos para novas reflexões e formas de nos relacionarmos.

Muito amor e muita luz,

Abhiyana

*Esse texto conta com a colaboração de Tainã Bispo, da editora Claraboia.

Assista ao videoclipe: 

Hamburgueria surpreende clientes com sorteio de leite e óleo de cozinha no Capão Redondo

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Apesar de cômica, a ação faz parte de um movimento contra a carestia e chama a atenção para a insegurança alimentar enfrentada por 33,1 milhões de brasileiros.  

Durante transmissão ao vivo no Instagram, Carlos Rogério, proprietário da hamburgueria Fogo de Rua, anuncia a ganhadora do litro de leite. (Foto: Arquivo Pessoal)

Desde julho deste ano, a Hamburgueria Fogo de Rua, localizada no Jardim São José, no Capão Redondo, na zona sul de São Paulo, tem realizado sorteios de alguns itens da cesta básica entre os clientes do estabelecimento como forma de fazer uma crítica social e satirizar o alto preço dos alimentos encontrados no mercado.

O proprietário da Fogo de Rua, Carlos Rogério Souza, 39, morador do Capão Redondo, conta que a ideia de realizar os sorteios surgiu após uma ida rápida ao supermercado da região para comprar pão para o café da tarde da família. O valor da compra de um litro de leite, dez unidades de pão francês, e duzentos gramas de mortadela foi de R$16 reais.

“Hoje um pai de família que é assalariado tem que fazer uma escolha: ou ele compra o pão, ele almoça ou ele janta. Com esses dezesseis reais eu poderia ter comprado 1kg de frango à passarinho ou filé de frango. Infelizmente é um problema econômico que a região está enfrentando e foi dessa indignação que veio a ideia de fazer, com sarcasmo, essa crítica ao que vem ocorrendo”

Carlos Rogério, empreendedor e idealizador do sorteio. 

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Encarecimento do custo de vida impulsiona novos movimentos contra a carestia nas periferias

O desmonte de políticas públicas aliado a pandemia da covid-19, aumentaram o cenário de carestia – encarecimento do custo de vida – nas periferias, impulsionando a luta contra a inflação, historicamente liderada por movimentos populares e de mulheres.


https://desenrolaenaomenrola.com.br/contextos-perifericos/encarecimento-do-custo-de-vida-impulsiona-novos-movimentos-contra-a-carestia-nas-periferias

Foto: Rebeca Motta

Uma das ganhadoras do sorteio foi a Cristiane Lauton, 38, moradora do Jardim Copacabana. Premiada com um litro de leite, a administradora de empresas afirma que ficou surpresa com a ação da hamburgueria. “Achei o máximo a ideia da Fogo de Rua em sortear alguns alimentos como prêmio ironizando os preços do mercado. Recebi meu litro de leite, mandei um boomerang (vídeo curto do instagram) agradecendo e ainda dou risada do fato”, conta.

Carlos Rogério conta que a ideia foi bem absorvida pelos clientes e amigos. O empreendedor diz que a brincadeira é levada a sério com direito a fogos de artifício, carro de som e transmissão ao vivo pelas redes sociais da Fogo de Rua, além da entrega do prêmio em domicílio.

Ao todo ,72 clientes participaram dos dois sorteios realizados até o momento que premiou um litro de leite e um litro de óleo de soja.  “A reação dos clientes era cômica. Até quem não consumia na loja virou cliente para participar da ação porque a galera sabe que tá tudo caro”, diz o empreendedor.

Foto: Rebeca Motta

Gastronomia na periferia 

A Hamburgueria Fogo de Rua começou com um trailer que era 90% reciclado e com o sonho do Carlos, que sempre morou nos entornos do Capão. Com muita luta ele conseguiu comprar o terreno que abriga o espaço físico da loja.

A decoração segue a tradição antiga feita em 70% de material reciclado. O negócio expandiu nos últimos anos e além da hamburgueria é também um bistrô, que oferece ao público comida de qualidade, como risotos, moquecas, bacalhau, entre outros pratos servidos no local.

“Se você for nos restaurantes chiques, nomeados, quem vai estar cozinhando são os filhos de baianos, nordestinos, é o cara que mora na quebrada, então porque não trazer essa gastronomia pra periferia? Essa é a ideia do Fogo de Rua”, afirma o empreendedor.

Ações contra a carestia 

Em uma pesquisa realizada pela nossa equipe de reportagem, verificamos que o preço do óleo de cozinha e o litro do leite, produtos sorteados pela hamburgueria, variavam de R$ 10 a R$ 15 nos meses de junho e julho, em comércios das periferias da zona sul de São Paulo, Taboão da Serra e Embu das Artes.

No primeiro trimestre de 2022, a Rede PENSSAN, divulgou os dados da nova edição da pesquisa Olhe para a fome, que aponta para o aumento da insegurança alimentar na casa dos brasileiros.

Segundo o relatório, o número de famílias sem ter o que comer todos os dias saltou de 19,1 milhões de pessoas em 2021 para 33,1 milhões de pessoas em 2022. São 14 milhões de novos brasileiros sem o direito à alimentação garantido em pouco mais de um ano.

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“Substituo por salsicha”: moradores relatam insegurança alimentar em crianças nas favelas da zona oeste de SP

Carestia, desemprego e ausência de políticas públicas aumentaram a insegurança alimentar de famílias, moradores de favelas da zona oeste de São Paulo. Ações solidárias minimizam os impactos da fome, mas não resolveram o problema que permanece afetando crianças e adultos da região.  


https://desenrolaenaomenrola.com.br/series-e-especiais/substituo-por-salsicha-moradores-relatam-inseguranca-alimentar-em-criancas-nas-favelas-da-zona-oeste-de-sp

Em meados da década de 70, o Brasil também passava por um momento de alta da inflação impulsionada pela Ditadura Militar. Nas periferias da Zona Sul de São Paulo, um grupo de mulheres se organizou para criar o Movimento Contra a Carestia, a ação ficou conhecida como um dos maiores movimentos populares do país e coletou, de porta em porta, mais de 1 milhão e 300 mil assinaturas num abaixo-assinado contra o alto custo de vida na época.

O economista e pesquisador do Centro de Estudos Periféricos[2] [3] , da Unifesp, Cleberson da Silva Pereira, explica que o aumento no preço do óleo de cozinha está ligado à diminuição da oferta do petróleo, isso porque o óleo de soja também pode ser utilizado para produzir biocombustíveis, uma opção mais barata em relação a gasolina e ao diesel.

No caso do leite, o professor explica que o aumento desse item se dá porque o preço da ração das vacas também aumentou e consequentemente ficou mais caro para o produtor manter os animais, e o custo dessa demanda foi, inevitavelmente, repassado para o consumidor final.

De um modo geral, mudanças climáticas, alto custo de produção, diminuição da oferta de matéria prima por causa da guerra entre Rússia e Ucrânia têm impactado o preço desses produtos.

“Além das causas já citadas para o leite e óleo de soja, a cesta básica aumentou porque o preço dos combustíveis estava muito alto, especialmente o óleo diesel. Esse item impacta toda a cadeia logística e o preço final dos produtos. Quem acaba sofrendo com o aumento do preço dos itens da cesta básica é a população que ganha até 3 salários mínimos preferencialmente”, finaliza o economista.

4° Festival de Teatro Adolescente abre inscrições para jovens de 13 a 20 anos

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 O evento convida artistas adolescentes, atuando de forma solo ou em coletivos de todo o Brasil, para integrar a programação.

Coletivo Zefiro Norte. Foto de Sueli Almeida

De 02 a 06 de novembro de 2022, acontece o 4º Festival de Teatro Adolescente “Vamos que Venimos Brasil”, versão brasileira do festival criado na Argentina, com sede em Santo André (SP), que nesta edição adotará ações formativas em formato virtual e apresentações presenciais.

Até o dia 12 de setembro de 2022, estão abertas as inscrições para artistas de todo o Brasil, com idade entre 13 e 20 anos (completos até o momento da realização do festival), solo ou em coletivos, que queiram fazer parte da programação presencial do festival, que será realizada em Santo André (SP).

Podem participar artistas e grupos teatrais com no mínimo 70% de integrantes com essa faixa etária, e que estejam vinculados a escolas regulares, oficinas, pequenos cursos ou até provenientes de grupos e processos independentes de teatro jovem. As inscrições são gratuitas e o formulário está disponível no site do evento.

Além da modalidade “obra completa”, é possível inscrever trabalhos artísticos que ainda estão em processo. Essa foi uma forma encontrada pela organização do festival de valorizar cada etapa da formação artística e da criação como um todo.

Na edição passada, realizada em 2021, o festival reuniu 111 adolescentes com idade entre 13 e 20 anos, e 16 produtores com idade entre 16 e 24 anos, das cidades de Guareí, Mauá, Santo André, São Paulo, Salvador e Osasco, participando da “Produção Jovem” da execução do festival.

A iniciativa atua como uma espécie de estágio de produção cultural com adolescentes selecionados através de um chamamento público, que receberam uma bolsa auxílio para participar das etapas de realização do evento.

Serviço 

Convocatória para o 4º Festival de Teatro Adolescente Vamos que Venimos Brasil

Inscrições: até 12 de setembro de 2022 – Valor: grátis

Quem pode participar: grupos, coletivos e solos de artistas adolescentes, de qualquer cidade brasileira.

Faixa etária: de 13 a 20 anos 

Informações da Convocatória e ficha de inscrição, clique aqui.

Mais informações: Instagram e Facebook

Simbologias da orixá Nanã são tema de espetáculo de teatro em Taboão da Serra

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Espaço Clariô de Teatro recebe o espetáculo “Lama” do grupo Ajeum neste sábado. Há também apresentações no interior e centro de São Paulo.

Cena do espetáculo “Lama” do Núcleo Ajeum. (Foto: Verônica Pereira)

O Núcleo Ajeum apresenta o espetáculo “Lama”, inspirado nas simbologias de Nanã, Orixá que detém os poderes e mistérios da vida, morte e seu ciclo de existência. O espetáculo será apresentado neste final de semana, nos dias 03 e 04 de setembro em Taboão da Serra e Pindamonhangaba com entrada gratuita.

O espetáculo é apresentado pelo Núcleo Ajeum, um grupo de artistas negros, periféricos e LGBTs, sob direção de Djalma Moura. Com sede localizada entre as regiões do Jardim São Luis, Campo Limpo e Capão Redondo, o grupo pratica dança contemporânea e investiga a sua relação com as narrativas africanas e afro-brasileiras.

“O espetáculo ‘Lama’ traz como proposta de investigação as possibilidades de reinvenção do corpo e seu retorno para uma reelaboração de comunidade matrigestora que compreende o gestar e a pulsão feminina de existência enquanto estratégia de renascimento”

Djalma Mour é responsável pela direção do Núcleo Ajeum. 

As obras coreográficas do grupo têm sido criadas a partir da conexão entre fisicalidade e emoção, onde o corpo das danças negras dos terreiros de candomblé são ressignificados em suas múltiplas possibilidades de descoberta pela dança contemporânea.

O Núcleo Ajeum, que tem como foco a pesquisa o corpo negro e sua cosmovisão de mundo, investiga o universo pluridimensional dos terreiros de candomblé, as liturgias africanas e afrobrasileiras e os seus orixás. Neste processo, tem se interessado nas transformações corporais e emocionais que estes espaços de celebração e resistência negra dão às incorporações, aos transes e ao corpo que se manifesta no coletivo.

Agenda

Espetáculo “Lama” – Núcleo Ajeum

Quanto: entrada franca

Classificação etária: 12 anos

02 de setembro, às 20h

Grupo Caixa Preta de Teatro – Previdência, 531, R Rua Meraldo Previdi, 531 – Centro Registro SP.

03 de setembro às 20h

Grupo Clariô de Teatro – R. Santa Luzia, 96 – Vila Santa Luzia, Taboão da Serra.

04 de setembro às 18h

Espaço Cultural Teatro Galpão – R. Jadir Figueira, 2750 – Jardim das Nações, Pindamonhangaba.

14 e 15 de setembro

Centro de Referência da Dança da Cidade de São Paulo – Galeria Formosa Baixos do Viaduto do Chá s/n, Praça Ramos de Azevedo – Centro Histórico de São Paulo, São Paulo.

27 e 28 de setembro às 19h

Sesc Pinheiros – R. Pais Leme, 195 – Pinheiros, São Paulo.