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Casa de Marias arrecada doações para manter projetos de saúde mental para mulheres

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O principal objetivo da campanha é garantir atendimento psicológico gratuito para mulheres negras, indígenas e periféricas durante o primeiro semestre de 2023.  

Foto Divulgação: Casa de Marias

 As doações para a campanha “Saúde Mental não tem preço, tem valor!“, organizada pela Casa de Marias, clínica de atendimento psicoterapêutico e social, localizada na Vila Esperança, bairro da zona leste de São Paulo, poderão ser realizadas até 21 de dezembro de 2022, na plataforma benfeitoria.

A campanha de financiamento coletivo reforça a importância de oferecer de maneira gratuita acesso a serviços de saúde mental para mulheres negras, indígenas e periféricas, público mais afetado pelas desigualdades sociais, que causam uma série de problemas emocionais.

“Estamos trabalhando muito para trazer horizontes de esperança em tempos tão difíceis. Vai ser muito potente, emocionante e pelos melhores motivos: continuar crescendo para continuar cuidando”, diz a Dra. Ana Carolina Barros Silva, psicanalista e pesquisadora em saúde mental da população negra que idealizou a Casa de Marias.

Foto Divulgação: Casa de Marias

Mulheres negras 

A Casa de Marias é um espaço de escuta e acolhimento. Lugar pensado em cada detalhe, por uma equipe qualificada de psicoterapeutas, para receber pessoas que precisam de cuidado. Nasce para ser casa, para criar raízes, para ser oásis em tempos difíceis.

Coordenada por um grupo de mulheres negras, se propõe uma prática clínica não dissociada do campo social e, por isso, se debruça com especial cuidado as questões que envolvem classe, gênero, raça e território. 

Confira o vídeo oficial da campanha.

Saúde mental acessível 

A campanha tem como objetivo angariar fundos para garantir a sustentabilidade dos atendimentos gratuitos durante o primeiro semestre de 2023, isso inclui a estrutura administrativa, continuidade de três colaboradores e expansão de dois projetos que já estão em andamento, além da criação de outros três.

Caso a meta de arrecadação de pouco mais de 13 mil reais seja alcançada, a Casa de Marias viabilizará mais de mil atendimentos, além de trabalho e renda para mais de 30 mulheres em diversas profissões, como psicoterapeutas, nutricionistas, assistentes sociais, advogadas, gestoras, comunicadoras, entre outras.

“Além do objetivo quantitativo, referente ao valor financeiro e o total de pessoas alcançadas, é importante chamar a atenção para a potência da campanha enquanto amplificadora de consciência de saúde mental enquanto um direito humano”, aponta Barbara Heliodora, coordenadora da campanha e captadora de recursos da Casa de Marias.

Websérie “Resistência Samba Rock” traz a oralidade e legado da arte e cultura pretas para o meio digital

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O projeto resgata e registra histórias dessa manifestação negra e periférica da cidade de São Paulo, de modo a manter o gênero musical vivo para as próximas gerações

Zona Sul de São Paulo, ano de 2011. Esse é o pano de fundo para o nascimento do coletivo “Bons Tempos Nostalgia Black”, que foi criado com o intuito de disseminar a cultura do Samba Rock nas periferias da cidade, realizando bailes nostalgia, aulas de dança gratuitas de Samba Rock e de Danças Urbanas, além de outras atividades ligadas ao movimento do Samba Rock, compreendendo-o como arte e expressão negras.

O mais recente projeto do coletivo é a obra audiovisual “Resistência Samba Rock”, uma websérie de cinco episódios, com o primeiro a ser lançado na quinta-feira, 10, no canal do Youtube “Bons Tempos Nostalgia Black”. Cada episódio aborda temas diferentes, desde a história do Samba Rock, contexto político do seu surgimento e a consolidação do gênero musical; passando pela estética, autoestima e a importância da cultura dos bailes para a construção da identidade do povo negro; até chegar ao papel dos coletivos culturais e dos artistas para a difusão da cultura preta e periférica.

 A ideia para a produção da série surgiu em meados de 2020, momento em que o coletivo viu-se na obrigação de repensar estratégias para continuar de pé em meio ao contexto pandêmico, ao mesmo tempo em que colaborava para o registro e legado no meio digital do movimento cultural preto e periférico e para a sobrevivência dos artistas independentes, que, de um dia para o outro, tinham perdido seu principal meio de subsistência.

“A série tem o objetivo de documentar, por meio da produção audiovisual, a história vivida dos bailes black na cidade de São Paulo, buscando recortar sua permanência e importância política na formação do pensamento e posicionamento de negras e negros, principalmente vindos das periferias. Para além de “contar histórias” do quão bons foram aqueles tempos, pretendemos mostrar o quanto a cultura permanece viva em bailes tradicionais pela região da Zona Sul, inclusive em formatos digitais, tocados e voltados para jovens”

Camila Odara, produtora do coletivo Bons Tempos Nostalgia Black

Vale destacar que cada episódio conta com convidados que protagonizaram a cena dos bailes black, desde seu surgimento até a atualidade, tais como: Leonardo Cordeiro (presidente e professor do coletivo Samba Rock Cultural), Mariana dos Santos (historiadora, diretora, produtora cultural e professora de samba rock no coletivo Eu Soul Samba Rock), Levi Souza – o “Poeta Fuzzil” (autor do livro Samba Rock Diverso, da Academia Periférica de Letras), Bete Aduke (líder comunitária, diretora social e professora de Samba Rock na empresa Samba Rock Nato), Osvaldo Pereira – o “Primeiro Dj do Brasil” (criador da orquestra invisível e pioneiro da discotecagem brasileira), Dinho Pereira (DJ e filho do Osvaldo Pereira), Tadeu Pereira (DJ e filho do Osvaldo Pereira), Rodrigo dos Santos – “Rodstyle” (multiartista, arte educador, DJ e fomentador da cultura Hip-Hop nas periferias da Zona Sul) e Donizeth Carneiro – DJ Caio (fundador do Bons Tempos Nostalgia Black, percussionista e discotecário).

O projeto conta com a produção de Camila Odara (membro do coletivo Bons Tempos Nostalgia Black, assistente de direção e edição), ao lado de Bárbara Alves (assistente de produção), Larissa Estevam (assistente de edição) e do Coletivo Olhares de Guiné (captação de imagem, som e edição). A websérie possui, ainda, o patrocínio da Secretaria Municipal de Cultura, por meio do programa para a Valorização de Iniciativas Culturais (VAI II), com o intuito de incentivar financeiramente coletivos periféricos da cidade de São Paulo.

Para quem quiser vivenciar e sentir na pele toda a nostalgia e ancestralidade de um baile repleto de trocas entre gerações, mantendo a cultura do Samba Rock viva, o próximo evento do coletivo será no dia 13 de novembro, entre 14h e 18h, no Bloco do Beco, localizado na altura do número 2, da Rua Bento Barroso Pereira, no Jardim Ibirapuera.

Além do baile com discotecagem, também terão aulas de samba rock e show ao vivo com a Banda Poesia Samba Soul – formada por Claudinho Miranda (vocais e violão), Fabio Bass (baixo elétrico), Pikeno (percussão), Paulinho Torres (bateria), Luiz Henrique (percussão) e Elem Fernandes (backing vocal) – que possui 32 anos de carreira, 6 CDs e 3 DVDs lançados, e trazem a mistura do groove, soul, samba rock e outras influências como jazz e black music. O melhor de tudo: totalmente gratuito! Saiba mais nas informações de serviço. 

Serviço 

Lançamento Websérie “Resistência Samba Rock”

Quando: 10 de novembro – quinta-feira (lançamento do primeiro episódio – ative o sininho do canal do Youtube para não perder os demais)
Onde: Canal do Youtube “Bons Tempos Nostalgia Black”
Quantidade de episódios: 5
Equipe: Camila Odara (@camila_odara), Barbara Alves (@barbaraslvs), Larissa Estevam (@estevxm), Coletivo Olhares de Guiné (@olharesdeguine) e Instituto Favela da Paz (@institutofaveladapaz).
Entrevistados: Leonardo Cordeiro (@oleocordeirosrc), Mariana dos Santos (@_maridossantos), Poeta Fuzzil (@poetafuzzil), Bete Aduke (@beteaduke), Osvaldo Pereira (@osvaldopereiradj), Dinho Pereira (@djdinhoppereira), Tadeu Pereira (não possui conta), Rodrigo Santos (@dancerodstyle) e Donizeth Carneiro – DJ Caio (@donizete.carneiro.10).

“Meu fazer artístico é sobre mim e não sobre as violências”, afirma a artista Micaela Cyrino

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Através de diversas linguagens artísticas, Micaela Cyrino comunica sobre si e sobre os estigmas e preconceitos em torno da aids e do HIV, com foco na população negra.

Pinturas, performances e intervenções na rua são algumas das manifestações artísticas utilizadas por Micaela Cyrino, que em sua arte aborda sobre o corpo negro soropositivo e seus atravessamentos. Nascida em 1988, na Subprefeitura da Capela do Socorro, zona sul de São Paulo, a artista também é produtora cultural e integrante do Coletivo Nacional Trovoa, levante de mulheres radicalizadas nas artes.

Formada em artes visuais, a artista é soropositiva desde criança, contraída através de transmissão vertical – que ocorre na gestação, no parto ou na amamentação. O contato com a arte não é algo novo para ela, que desde a adolescência já fazia aulas de escultura, cerâmica e pintura.

Micaela conta que sempre separou seu fazer artístico da sua militância no contexto do HIV por achar que as duas coisas não se misturavam, mas ao ingressar na universidade sentiu a necessidade de realizar essa junção.

“Meus primeiros trabalhos diretamente sobre HIV foram performances. Eu faço meus figurinos e em um determinado momento eu comecei a colocar palavras no figurino”, recorda a artista, que ressalta sua conexão com a pintura, costura e o bordado.

Após uma residência artística no Equador, onde a temática era HIV, a artista fez algumas performances por lá e deu início a sua pesquisa chamada “CURA”, uma série de performances, textos e obras que falam sobre seu viver com HIV e suas soluções.”Foi um caminho que eu junto até hoje: comunicação com trabalhos de lambe”, conta Micaela. 

Ferramenta política

Para a artista, “ser um corpo negro, feminino automaticamente já te torna um ser político”, pois reflete a persistência de validar e se validada a todo momento. “No contexto do racismo, machismo dessa sociedade, sou um corpo que atravesso isso diariamente, um corpo assim não tem nem opção de não ser político”, afirma.

Micaela acredita que existe uma ilusão sobre o quanto a população preta ressignifica processos de dor associados ao fazer artístico. 

“Como eu traduzo a arte é sobre mim e não é sobre as violências. Eu vivo a violência, sou atropelada por isso a todo momento, então eu não vivo uma ressignificação, eu comunico porque eu vivo, porque eu sou, porque eu não deixo barato, porque eu sou artista, mas sem essa responsabilidade de ressignificar.”

Micaela Cyrino

Micaela aponta que sua arte não é para o outro, mas para si mesma. “A minha produção artística não tem haver com consertar o mundo, tem haver com me consertar, me encontrar. Não existe esse lugar de ressignificar, tem um negócio mais de digerir, traduzir pra mim e me comunicar a partir disso”, compartilha.  

Acesso à informação através da arte

A artista ressalta que a arte segue uma construção social, e que uma série de artistas que já morreram possibilitaram esse diálogo, “e eu acho que a arte tem esse papel de dialogar no indivíduo”, afirma. 

“Não é uma coisa de hoje pensar na epidemia de aids, é pensar 40 anos atrás, e os artistas também viviam com HIV, também morriam em decorrência da aids. Da mesma maneira que o assunto se renova clinicamente, socialmente ele também se renova com a arte”

Micaela Cyrino

Cyrino reforça que socialmente ainda existe um caminho longo para percorrer, pois considera que as informações sobre o tema não são amplamente disseminadas, e ainda existe o fator da sociedade ter um histórico de homofobia.

“Ainda se reproduz os padrões que foram construídos no início da epidemia [de aids], que é sobre culpabilização, discursos que não falam sobre responsabilidade, construção coletiva, entendendo como uma questão social. É colocado como algo que Deus enviou para castigar alguém que merece ser castigado”, pontua.

Além de ser um espaço de encontro consigo mesmo, o trabalho da educadora conversa com um público que ao se identificar com sua abordagem, encontra também um espaço de reflexão.

“A periferia não teria informação se não fosse criada por ela mesma. A gente tem hoje site do governo que tem informação, mas como que acessa isso? Como que chega na quebrada? Como que chega na mãe solo periférica? Como que chega na travesti adolescente? As ongs tomam muito mais conta disso que o governo”, reflete Micaela Cyrino. 

Além de produtora cultural, Cyrino também é educadora do núcleo de arte do Instituto Criar de TV, Cinema e Novas Mídias, e também vem atuando em espaços de debate para pautar sua trajetória e soropositividade.

Ela aponta a importância de falar sobre HIV fora do lugar de culpabilização, mas na perspectiva da construção de informação. “Um lugar de entendimento onde a gente possa falar sobre o HIV livremente sem ser atravessada, sem ser prejulgada, ou sem ter que ser a professora do HIV”.

“Falar sobre HIV e falar sobre direito, acesso à saúde integral, sobre prazer, amor, como a gente constrói outras narrativas. E somos nós mesmas pessoas soropositivas que vão estar na base dessa construção”, finaliza a artista.

Mulheres periféricas na literatura é tema da 3ª Festa Literária Noroeste

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Pela primeira vez sendo realizada de forma presencial nas bibliotecas públicas e em espaços culturais da região noroeste de São Paulo, a edição de 2022 tem início nesta segunda (07), e homenageia a escritora Esmeralda Ribeiro.

Atividade realizada na programação da Flino em 2021.

Coletivos e bibliotecas da região noroeste de São Paulo realizam, de 7 a 13 de novembro, a 3ª edição da FLINO – Festa Literária Noroeste. A edição deste ano busca reconhecer e potencializar o trabalho das mulheres periféricas na literatura, com o tema “Mulheres: palavras periferias”. A homenageada da edição é a escritora Esmeralda Ribeiro, editora dos Cadernos Negros, cofundadora do coletivo de mulheres Flores de Baobá e uma das coordenadoras do Quilombhoje Literatura.

“Vamos refletir sobre as mulheres que constroem as periferias e como seu lugar de protagonismo é potencializado nesse território, repercutindo por meio da palavra, de oralituras e escrevivências, principalmente de mulheres negras, indígenas e periféricas”.

pontuam as organizadoras da FLINO.

A abertura acontece segunda (07), no Fofão Rock Bar, na Parada de Taipas, a partir das 20h, com uma roda de conversa junta da homenageada da Festa, a escritora Esmeralda Ribeiro. A programação multicultural contará com cerca de 40 atrações, incluindo oficinas, rodas de conversa, saraus, contação de histórias, batalha de rimas, espetáculos teatrais e shows musicais.

“Além da promoção do livro e da leitura, o objetivo da festa é fortalecer a cena cultural e literária da região. Além de reforçar a importância dos movimentos negro, indígena, feminino, LGBTQIA+ e PCD, por meio de uma programação que reflita as potências desses grupos, historicamente excluídos da cena literária brasileira”

afirmam os organizadores da festa.

A Flino se inspira em festas literárias que acontecem em outros territórios periféricos, como a Festa Literária do Grajaú, Festa Literária da Penha e a Festa Literária da Zona Sul.

Serviço 

3ª FLINO – Festa Literária Noroeste | “MULHER: palavras periferias” 
Data: de 07/11 a 13/11
Programação e formulário de Inscrições das oficinas: clique aqui
Facebook | Instagram
Contato: festaliterarianoroeste@gmail.com

Confira a programação 

1º DIA | 07/11

19h30 – Intervenção Flores do Baobá | Local: Fofão Rock Bar
20h – ABERTURA: Roda de conversa com a Homenageada da Festa Esmeralda Ribeiro | Local: Fofão Rock Bar
21h – Sarau Segunda Negra | Local: Fofão Rock Bar

2º DIA | 08/11 

 09h – Jogos e Brincadeiras Africanas | Local: CEU Vila Atlântica
10h – Contação de História: A Descoberta de Jurema | Local: Biblioteca Pública Municipal Pe. José de Anchieta
10h – Oficina de Macramêxias | Biblioteca Pública Municipal. Brito Broca
14h – Contação de História: A Descoberta de Jurema | Local: Biblioteca Pública Municipal Pe. José de Anchieta
14h – Espetáculo Nina e a cidade que perdeu o vento | Local: CEU Pêra Marmelo
14h – Oficina de Escrita Criativa em Cenopoesia / Spoken Word | Local: Biblioteca Pública Municipal. Érico Veríssimo
19h30 – 1ª Roda de Conversa “Palavras Construídas” | Local: IFSP – Pirituba

3º DIA | 09/11 

10h – Contação de Histórias: Encontro às escuras – contos e cantos ancestrais | Local: Biblioteca Pública Municipal Pe. José de Anchieta
14h – Contação de Histórias: Meu Quilombo Vivo! | Local: Biblioteca Pública Municipal. Brito Broca
19h30 – 2ª Roda de conversa “Letras Futuras” | Local: CIEJA Perus
20h – Batalha da 16 | Local: Rua 16 – Morro Doce

4º DIA | 10/11 

10h e 14h – Contação de história “O Boldo que Queria ser melancia” | Local: Biblioteca Pública Municipal Pe. José de Anchieta
14h – Oficina Mulher Negra em três perspectivas: discutindo as obras de bell hooks, Walter Firmo e Monteiro Lobato | Local: Biblioteca Municipal Brito Broca
20h – Sarau Elo da Corrente | Local: Bar do Santista

5º DIA | 11/11 

10h – Contação de história “Mamãe tem uma Drag Queen contando histórias” | Local: Biblioteca Pública Municipal Brito Broca
10h – Oficina Cola com elas | Local: CEU Vila Atlântica
10h – Oficina Cultura Hip Hop – Resistência e História no Brasil | Local: Biblioteca Pública Municipal Pe. José de Anchieta
14h – Contação de história “Mamãe tem uma Drag Queen contando histórias” | Local:Biblioteca Pública Municipal Brito Broca
14h – Performance 7 voltas pra lembrar | Biblioteca Pública Municipal Pe. José de Anchieta
16h – Palestra Mulheres Negras Compartilhando Saberes | Local: Biblioteca Pública Municipal Brito Broca
19h30 – 3ª Roda de conversa “Mulher de Palavra” | Local: Comunidade Cultural Quilombaque
20h – Sarau D’Quilo | Local: Comunidade Cultural Quilombaque
21h – Performance “Não Dorme Maria Acorda!” | Local: Comunidade Cultural Quilombaque

6º DIA | 12/11 

10h – Oficina Poesia na lata | Local: Biblioteca Pública Municipal Brito Broca
10h – Contação de histórias A vida de Esmeralda Ribeiro e a Esmeralda que habita em cada um de nós | Local: Biblioteca Pública Municipal Érico Veríssimo
10h – Oficina Baque das Manas pras Minas, Manas e Monas | Local: Espaço Cultural Morro Doce
14h – Lançamento de Livro Erineide Oliveira e Sonia Bischain | Local: Biblioteca Pública Municipal Brito Broca
14h – Oficina Cadernos para Esmeralda | Local: Espaço Cultural Morro Doce
20h – Sarau da Brasa | Local: Samba do Congo
21h – Luiza Akimoto | Samba do Congo
Noite toda | Feira de Livros | Local: Samba do Congo

7º DIA | 13/11 

Dia todo | Feira de Livros | Local: Ocupação Artística Canhoba
15h – Lançamento do Livro “Dramaturgias I” – Grupo Pandora de Teatro
16h – Teatro e Dança em A Dita Consequência a Duras Penas de Ontem e Hoje | Local: Ocupação Artística Canhoba
17h – Lançamento do Livro “Vão” de Jessica Moreira | Local: Ocupação Artística Canhoba
18h – Show Ladies Sing The Blues | Local: Ocupação Artística Canhoba
20h – Show Indaíz | Local: Ocupação Artística Canhoba

Conheça iniciativas da quebrada que atuam com o bem estar e cuidado feminino

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Do yoga à autonomia financeira, confira seis iniciativas periféricas que atendem mulheres, principalmente em situação de vulnerabilidade social, em diferentes regiões de São Paulo. 

Encontro de mulheres promovido pela iniciativa Ilera. Foto: Sheyla Melo

Quando se trata de autocuidado,  a quebrada reinventa espaços e iniciativas que buscam atuar com o bem estar e a saúde dos moradores das periferias. Selecionamos seis iniciativas periféricas que atendem mulheres, principalmente em situação de vulnerabilidade social, em diferentes regiões de São Paulo.

“Estar no projeto, não só como paciente, é muito interessante porque não era isso que a gente entendia como psicologia, como o atendimento a população negra, A gente achava que era algo distante e hoje fazemos terapia em grupo, ao lado de mulheres incríveis”

 Ana Sanches, colaboradora da Casa de Marias, zona leste.

 As atividades fornecidas envolvem desde atendimento com profissionais de psicologia, nutricionistas, yoga, roda de escuta e acolhimento, curso de línguas e até aulas de barco a vela. Os encontros listados podem ser online, presencial ou híbrido. Confira:

Roda de Afeto e Rede de Proteção

O projeto é uma iniciativa do movimento das mulheres ativistas da Rede do Fundão do Grajaú, que existe desde 2018, e oferece atividades de autocuidado, além de cursos de espanhol e aulas de barco a vela. A iniciativa surgiu a partir de necessidades identificadas através do trabalho de agentes de saúde. Os encontros acontecem todas as quintas-feiras, às 8h, em formato online, com encontros presenciais periódicos.

Formato: híbrido
Encontros: Link do zoom
Redes sociais: Lais Guimarães e Roda de Afeto e Rede de Proteção

Ciranda de Mulheres – Biblioteca Djeanne Firmino 

A Biblioteca Djeanne Firmino, que está localizada no Jardim Olinda, bairro do Campo Limpo, zona sul de São Paulo, oferece encontros semanais do Ciranda de Mulheres, com atividades de yoga, conversas e roda de autocuidado.

Formato: online
Encontros: Google Meet
Para saber mais: Biblioteca Djeanne Firmino

Amor e Cura – Instituto Favela da Paz

A iniciativa existe há cerca de cinco anos, mas os encontros acontecem há dois. As atividades são terapia em grupo, vivências com mulheres, além de retiro do Sagrado Feminino, com a proposta de criar espaços de autoconhecimento feminino, identidade e reconexão.

Formato: híbrido
Para participar:  WhatsApp
Para saber mais: Instagram 

Cooperativa Libertas

A Cooperativa Libertas trabalha com desenvolvimento social, visando a autonomia financeira de mulheres que passaram pelo sistema prisional. Nesse espaço as mulheres aprendem a desenvolver produtos e artes têxteis.

Para saber mais: site e Instagram

Manifesto Crespo

É uma iniciativa de arte-educação formada por mulheres negras que dialogam sobre identidades, gênero e práticas antirracistas. Entre as diversas ações do grupo, o Ateliê Casa Crespa, é um espaço dedicado ao cuidado holístico e espiritual através de práticas ancestrais como benzimento, utilização de ervas, rituais de acolhimento e cura. Além disso, a iniciativa atua com atividades de estamparia, trancistas, entre outros.

Formato: híbrido.
Local: Jabaquara, zona sul, SP.
Para saber mais: Site e Instagram

Ilera 

A Ilera é uma iniciativa voltada para o uso dos saberes de raízes negras e indígenas, com intuito de reforçar e atuar na promoção da saúde. O objetivo é mostrar que é possível cuidar da saúde como nossas mães, avós, ancestrais e mestras cuidavam. A partir da união de mulheres que atuam através de seus saberes com ervas, ensinam a fazer pomadas, lambedores, sabonetes, escalda pés, entre outras formas de autocuidado.

Local: Parque Guaianazes, zona leste, SP.
Para saber mais: Instagram

“Portando os docs”: projeto fortalece articuladores periféricos com apoio de políticas públicas

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Criado pela produtora Wiki Cultural, o projeto busca compartilhar ferramentas para que artistas e agentes culturais possam aprimorar seus trabalhos e acessar políticas públicas.

Oficina Criação Audiovisual Pela Lente da Favela, com Rafaela Araujo e  Julia Araújo (Foto: Gael DK)

Portando os Docs, é um projeto da produtora cultural Wiki Cultural, criada por Natália Freires, Rafaela Leão e Rafaela Alves. A produtora nasceu e foi colocada no mundo por meio da política pública Jovem Monitor Cultural, e teve continuidade nos projetos através do Programa Criatividades, gerido pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.

Tendo como principal público artistas e agentes culturais das periferias, o projeto realiza encontros formativos com foco em produção, administração e demandas burocráticas, pontos fundamentais nas contratações de agentes culturais, principalmente através de editais. A Casa de Cultura São Rafael, localizada na região leste de São Paulo, é o espaço que abriga os encontros do projeto.

“Fizemos a primeira semana do Democratizando a Cultura para tratar de produção artística. Teve encontro para falar sobre identidade visual, documentação de pessoa jurídica e física. Isso tudo no meio da pandemia, pessoas pedindo documentação no zap, material de apoio, e foi aí que entendemos a grandiosidade do que estávamos fazendo”, conta Natália, e complementa contando que no meio desse processo foi aprovada no Programa Criatividades para continuidade do projeto.

“O Portando os Docs também vem em um lugar de trabalhar a autoestima, de conseguir ver outra pessoa que veio do mesmo lugar que você, da periferia, conseguindo se sustentar da arte. O segundo [ponto] é mostrar caminhos para isso de uma forma até prática mesmo”

Natália Freires

Encontro produção teatral por trás das cortinas (Foto: Vitorr Barbosa)
Encontro audiovisual pela lente da favela (Foto: Gael DK)
Feira de livros e Slam da Ponta (Foto: Naomi Brian)
Encontro a encruzilhada do circo de rua (Foto: Naomi Brian)
Encontro produção na dança
Encontro a escrita como profissão (Foto: Naomi Brian)

A produtora e articuladora cultural, Natália Freires, uma das criadoras da produtora Wiki Cultural, explica que o nome da produtora é em referência ao Wikipedia, como uma possibilidade de um registro digital dos fazeres periféricos. Ela conta que além do Portando os Docs, já realizaram outros projetos também com foco em documentação e demandas jurídicas dos artistas da quebrada.

“O nome [do Portando os Docs] vem desse lugar dos malotes, porque primeiro para portar o dinheiro, precisamos portar a informação, a documentação para ele chegar. Vem nesse espaço de ‘vamos conseguir o dinheiro'”, conta Freires. Ela afirma que mesmo tendo sido idealizado por ela, a realização é feita com muitas outras mãos, além da articulação com os jovens do Programa Criatividades. 

Território: aprendizado e movimento

Natália relata que percebe uma mudança no público desde a primeira atividade. “No primeiro, a maioria que veio não era exatamente do território de São Rafael, e no último a maior parte era da região. Esse pertencimento tem crescido, e elas têm se apropriado mais dessa temática”, aponta. 

“Cada encontro é muito diferente um do outro, até pela temática. O público que aparece é muito diferente, do teatro eram pessoas que conversavam sobre si. Foi incrível ver que todo mundo colocou a própria vivência e saiu sabendo como escrever um projeto para Secretaria Municipal de Cultura”

Natália Freires

A produtora cultural ressalta a importância de políticas públicas para apoiar esse conhecimento e arte produzida por quem vive nos territórios. “O tempo todo eu pauto a importância de ser remunerado pelo nosso trabalho, então o programa Jovem Monitor Cultural e Criatividades vem nesse lugar”, afirma.

Natália reforça também a necessidade de potencializar a quebrada para produzir. “Ninguém melhor do que a gente que vive no nosso território, vivendo nossas ausências e potencialidades, conhece nossas ruas para falar sobre elas, para tentar suprir e modificar as estruturas”.

A produtora coloca que os programas têm impactos que vão além do mensurável, reforçando a busca pela continuidade dos apoios para atender mais jovens e moradores das quebradas.

“O meu projeto foi 1 de 98 que estão acontecendo. Existem outros 97 projetos que mudaram e impactaram seus territórios. 98 jovens que tiveram a oportunidade de se aprofundar em produção cultural e não passar por uma situação de desamparo financeiro”, aponta. 

Autoafirmação 

Oficina Portando os Docs – Foto: Gael DK

“A cultura, a arte, é uma promoção de cidadania, dignidade, educação, então levantar esses artistas para enfrentar a trajetória artística é potente, ainda mais porque consumir arte é muito bom, mas consumir arte de alguém que é semelhante a você é uma outra coisa”

Leandro Reinaldo

Leandro Reinaldo, 19 anos, é integrante do grupo de teatro Ponto de Ser e morador do Parque São Rafael, nas redondezas da Casa de Cultura. O artista esteve presente em quase todas as formações do projeto. “Como artista independente e de periferia, é muito difícil a gente ter acesso a pessoas que ensinam, que estão dispostas a te incluir nesse meio, traçar essas rotas para além de ter uma referência de alguém de quebrada que conseguiu chegar em tal lugar e monetizar aquilo que ela faz”, compartilha.

Era possibilidade distante de Leandro se enxergar ganhando dinheiro no seu trabalho artístico. “Impactou no sentido de ver aquilo como possível, de ver que eu estou próximo de conseguir monetização com meu trabalho, de me ajudar a encontrar essas rotas, que editais existem, que documentos são importantes ter, que não necessariamente eu preciso ter uma faculdade para ser valorizado”, pontua o artista. 

“Quando você é de periferia tem muitos dialetos e formas que não são próximas, e ao mesmo tempo que se usa um dialeto simples nas formações, também oferece as armas da oralitura, para que você converse com os editais e contratantes”

A produtora cultural Natalia Freires aponta que o projeto também dialoga muito sobre a autoestima, tanto em se enxergar como artista, quanto em ser contratado para falar sobre um corre artístico.

“Algumas pessoas que eu contratei, quando liguei e falei ‘oi, tenho um projeto, estou com a tal ideia, você quer dar uma palestra?’, a pessoa leva um choque”, relata Natália sobre fortalecer a visão do artista da quebrada também o remunerando para falar sobre sua vivência e trajetória.

Algo muito parecido aconteceu com Leandro, enquanto artista que estava participando das formações. “Foi a primeira vez que alguém do meu território me enxergou como artistas também e está disposto a sentar comigo e trocar sobre caminhos e vivências. Consegui falar e me ver como artista de verdade”, afirma Leandro.

A produtora aponta que o projeto continua sendo realizado na Casa de Cultural São Rafael e que segue estudando formas de chegar em outros espaços. “Esse trabalho de não produzir pra favela, mas chamar a favela para produzir, é um movimento que dá certo”, finaliza Natália. 

Espetáculo infantil “Quizumba” retrata artistas negros que abriram os caminhos do circo

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 Destacando a presença da negritude na arte circense brasileira, o espetáculo tem apresentações gratuitas em São Paulo e São José do Rio Pardo.

Em nova temporada, agora com a Indômita Cia de Circo e Teatro, o espetáculo circense Quizumba será apresentado em novembro no Sesc Bom Retiro e na Fábrica de Expressão, na cidade de São José do Rio Pardo, interior de São Paulo. De forma lúdica e poética, o espetáculo dialoga com crianças e adultos, onde apresenta um caminho em encontro à ancestralidade e aos que vieram antes.

Ursa Maior arma uma Quizumba junto com Solange, sua capivara de estimação, trazendo para a cena números de palhaçaria, manipulação de bonecos e músicas, com magia, mistério e eventos sobrenaturais que falam sobre a importância da memória e da ancestralidade na formação de referencial, pertencimento e autoestima do indivíduo em sua infância.

“Quando eu era criança, eu gostava muito de ir ao circo, mas eu tinha muito medo da exposição que o palhaço me podia causar. Lembro que as crianças negras, como eu, eram alvos dos palhaços, dos circos pequenos de bairro. Ser uma palhaça negra, estar em cena, conversando com crianças negras, dialogando com a infância negra, me trás essa possibilidade de usar o humor não de forma opressora, mas de maneira libertadora”

Loi Lima, palhaça

Loi Lima, pesquisa e desenvolve esse espetáculo desde 2017, em busca do fortalecimento de uma infância preta emancipadora e de uma infância branca antirracista.

O convite é também um mergulho nos números autorais da artista Loi Lima, que protagoniza a palhaça Ursa Maior, que ainda relembra a trajetória de quatro artistas negros do riso importantes para a história do circo brasileiro, mas que sofrem com o apagamento no Brasil: Benjamin de Oliveira, Maria Eliza Alves, João Alves e Marina de Oliveira.

Serviço 

Apresentações Quizumba
Entrada gratuita
Classificação: Livre
Duração: 50 minutos

Sesc Bom Retiro: 02/11 – 16h30
Endereço: Alameda Nothmann, 185 – Campos Elíseos, São Paulo – SP, 01216-000

Fábrica de Expressão: 11/11 – 19h30
Endereço: Rua Pedro Natálio Lorenzetti, 286 – São José do Rio Pardo (SP)

Monteiro Lopes e a tradição democrática do voto negro

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“Vai ficar tudo preto”, pouco mais de 100 anos, isso soa como uma profecia a ser cumprida.

Se há um aspecto radical a ser destacado do processo da disputa de eleições democráticas, é o multi-pluralismo partidário. Entretanto, esse aspecto não torna em si o processo livre da presença de mecanismos discriminatórios.

É ao olhar esse percurso da consolidação da democracia brasileira que nos deparamos com conflitos intensos pela criação de formas violentas e elitistas da direção do futuro de organização política do Estado e do governo brasileiro.

É justamente essa trajetória do significado da participação democrática da disputa pelo poder que aproxima o passado autoritário com a banalidade do mal do presente.

A nossa história republicana é marcada por um violento percurso de golpes e fraudes na participação integral da sociedade civil no processo eleitoral, seja no acesso ao sufrágio universal (o voto) ou no acesso à disputa de cargos políticos.

Monteiro Lopes foi o primeiro Deputado Federal negro eleito na história republicana do Brasil, em 1909. Não apenas negro, mas que tinha a questão racial e trabalhista como parte prioritaria de sua campanha e de sua trajetória de luta política.

O que o torna tão especial não é apenas o fato de ser o primeiro negro eleito neste cargo, mas o conjunto de sua trajetória. Também não é apenas a exceção que confirma a regra.

Nascido em 11 de janeiro de 1867, em Pernambuco, Monteiro Lopes era filho de pai e mãe negros ex-escravizados e operários, Jeronymo da Motta Monteiro Lopes e de Maria Egiphicíaca de Paula Lopes.

No ano de 1885, apenas 3 anos antes da abolição, teve, felizmente, a oportunidade de ingressar no curso de Ciências Jurídicas e Sociais na Faculdade de Direito de Recife. A luta abolicionista marcou sua trajetória em defesa dos direitos e justiça para “pessoas de cor” e oprimidos na sociedade brasileira.

Tornou-se bacharel em 1889, 1 ano após a abolição e apenas 14 dias depois da proclamação da república, que viria a ser parte importante de sua vida.

Sua trajetória é tão significativa que poderia ilustrar qualquer obra ficcional de modo brilhante. Superando expectativas e obstáculos da sociedade de sua época, Lopes teve um currículo invejável e alcançou notoriedade por onde passou.

Ao sair de Pernambuco se estabelece na cidade de Manaus (AM), e foi cogitado para tornar-se chefe de polícia, mas não assume o cargo, o que não se sabe ao certo o motivo, mas se havia divergências de natureza política.

Assumiu o cago de Promotor Público e logo depois de Juiz de Direito. De pele escura, sua presença era motivo de incômodo, buscando novos rumos, vai para cidade do Rio de Janeiro (RJ), em 1894.

Lopes, abre um escritório na cidade, atua como advogado para “pessoas de cor” e trabalhadores. Passou a ser chamado de “Advogado do povo”, “Paladino dos operários”, entre outras alcunhas, é reconhecido como liderança por organizações operárias e grupos de organizações negras.

A política institucional parece um atrativo natural da luta por justiça social. Se isso é de certa forma verdade, não seria diferente para este homem. Antes de tornar-se deputado, ele havia sido eleito para um cargo equivalente a vereador na cidade do Rio de Janeiro.

É justamente nesse momento em que ele decide partir para a vida pública e acontecem movimentações racistas para degradar a sua imagem simplesmente pelo fato dele ser negro, mas principalmente por ser “muito negro”, “negro demais para vida pública”.

Há certo paralelismo conceitual do problema da primeira república e o voto com a eleição deste ano. No caso, na tentativa da campanha bolsonarista “provar um processo justo” de contagem de votos, buscaram fraudar o processo eleitoral.

Mas é claro que aquele período é marcado por outras formas de fraude – e aqui chegamos a grande façanha de Lopes.

Haviam diversas restrições ao voto, que era direito apenas a homens a partir dos 21 anos, pessoas analfabetas também estavam excluídas e o voto não era secreto, o que abria margem para coação e violência política na auditoria dos votos.

Os votos eram barganhados entre as elites que participavam da disputa eleitoral e os coronéis regionais coagiam eleitores através de violência e troca de favores (o voto de cabresto), e mesmo no preenchimento de cédulas com nomes de pessoas mortas, anafabetos, crianças, etc., pelos “mesários” das seções eleitorais.

Havia também uma instância intermediária, caso o plano de eleger os candidatos da elite não funcionasse. A Comissão Verificadora de Poderes, que tinha o poder de fazer recontagem dos votos e impugnar candidaturas, num cenário em que o voto não é secreto e em cédulas que precisavam ser preenchidas por cada eleitor.

As fraudes formavam um “kit eleitoral” de sucesso infalível para a elite. Mas naquele ano de 1909, Monteiro Lopes despontava como um grande mobilizador e liderança política rumo ao congresso.

A capital da república do início do século XX estava marcada por um crescimento demográfico gigante nos últimos 40 anos daquele período (1870-1910).

A formação de favelas, a falta de absorção do mercado de trabalho para negros (migrantes) e imigrantes, problemas de saneamento básico, crises de saúde pública com epidemias e, sobretudo, das movimentações de classe, nascem a ânsia por representação e mudanças políticas que são identificadas no “Advogado do povo”.

O “Advogado do povo”, o “Paladino dos operários”, provoca o medo das elites e logo recebe diversos ataques racistas da imprensa.

“Vai ficar tudo preto”, pouco mais de 100 anos, isso soa como uma profecia a ser cumprida. 

Houve tentativas de fechar zonas eleitorais, roubo de urnas e segundo Domingues, nem Monteiro Lopes esperava o resultado que teve na eleição. Teve 2.337 votos, sendo o quinto candidato mais votado do Rio de Janeiro, ainda assim, restava passar pela “comissão de fraude”.

Sua candidatura foi impugnada, entretanto, como era de se esperar. Mas ele teve o apoio de jornais da época, organizações civis de classe e de “homens de cor”, e figuras como Rui Barbosa e Pinheiro Machado. Não só assumiu seu mandato, mas reafirmou na câmara que ele era a afirmação do povo negro e celebrou sua vitória no dia 13 de maio.

Não é o objetivo deste texto discutir cronologicamente a história do voto negro e trazer dados estátiscos, mas apontar rumos a partir da lição histórica de personagens resilientes como Monteiro Lopes.

A maioria expressiva de votos de negros, dos mais pobres e da periferia em geral, em Lula no cenário nacional e em Haddad no estado de São Paulo, apontam que há um compromisso do perfil desses eleitores com pautas sociais e democráticas, não apenas com “programas assistencialistas”, mas com a busca de dignidade sem a violência como a própria história revela.

Entretanto, o Brasil precisa de protagonistas na política como Monteiro Lopes, Antonieta de Barros, Carlos Marighella, Minervino de Oliveira, Benedito Cintra, Abdias do Nascimento, Lélia Gonzales, Luiza Helena de Barros, entre tantas outras para assumir o direito também de disputar o futuro do país na disputa para presidência nos grandes partidos e quebrar o ciclo com a tradição de homens e mulheres brancas para o cargo.

Precisamos de mais Léo Péricles, Vera Lúcia, Douglas Belchior, de mulheres negras como na Bancada Femista eleita para Alesp, de Erika Hilton, Taliria Petrone, eleitas para o congresso. Precisamos de lutadores como Renato Freitas eleito deputado para Alep.

O projeto de Bolsonaro não representa apenas um projeto neo-fascista com apelo de intensificação do escárnio e da glamourização da violência, mas, sim, a continuidade do projeto fundamentalista religioso, militar e elitista nascido da escravidão e que fundou a república.

A mentalidade escravagista não é apenas o cerceamento da liberdade e o trabalho forçado, mas ela se realiza no consentimento da violência, do ódio e da destruição do outro como método. 

Machado de Assis, ao ironizar as movimentações pelo sufrágio universal que proibia analfabetos de votar e culminou na Lei Saraiva (1881), diz:

“70% dos cidadãos votam do mesmo modo que respiram: sem saber porquê nem o quê. Votam como vão à festa da Penha – por divertimento. A Constituição é para eles uma coisa inteiramente desconhecida. Estão prontos para tudo: uma revolução ou um golpe de Estado”.

Machado de Assis.

Não é o futuro que está em jogo nesses últimos anos, é um passado vivo e pujante. A democracia é um refugiu utópico que ainda não vive plena e é surrada e sabotada pela república oligárquica, elitista e militarizada brasileira.

Contudo, a história de Monteiro Lopes, como de tantos personagens da luta democrática por justiça social e econômica, nos colocam de frente para a questão de Machado. Devemos estar sempre prontos para tudo.

Vai ter milícia 011?

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Tarcísio vai trazer a milícia para São Paulo? Se isso acontecer, o que muda na nossa vida? Como é que vai ser quando a milícia encontrar o PCC?

Se você quiser uma resposta do tamanho de um tuíte, já pode parar por aqui. Esse buraco é fundo. Precisa de reflexão. Principalmente de história.

A história da milícia fluminense numa casca de noz

Não é por acaso que respeitados estudiosos da ditadura a chamam de ditadura empresarial-militar.

Os militares diretamente responsáveis pelas torturas e perseguições às organizações de esquerda eram elite da tropa. E recebiam mais. Não só do exército como do empresariado que queria os comunistas e seus familiares mortos e torturados.

Cada militante preso valia um prêmio aos agentes. Eles reprimiam e enricavam. Mas a ditadura foi acabando e os direitos políticos voltando… Onde os torturadores foram investir seu dinheiro sujo?

Comandando o jogo do bicho no Errejota

Paulo Malhães, Coronel Guimarães e outros vermes de triste fim dividiram o Rio de Janeiro no melhor estilo Tratado de Tordesilhas: daqui pra cá é meu, daqui pra lá é seu. Da zona sul ao fundão da Baixada Fluminense foi tudo mapeado. Cada região tinha seu barão do jogo do bicho.

O dinheiro jorrava. Os milicos, mal vistos àquela época de redemocratização, tinham achado seu novo lugar na selva. Lavavam dinheiro em postos de gasolina, no carnaval, em tudo que tivesse a ver com sua região.

Mas era muito dinheiro. Muito crime. Com seus reinos alocados nas quebradas do Rio de Janeiro, nossos vermes de triste fim encontraram novos inimigos. Cometeram novos assassinatos e torturas. E como era caro manter seu próprio grupo de extermínio.

Surgiu uma solução! Uma solução econômica. Em vez de manter cada um seu grupo de extermínio, por que não contratar um Escritório do Crime com PMs fora de serviço?

É a startup mais maldita do RJ. O Escritório do Crime se tornou escola de miliciano, “gerindo” territórios com experiência em tortura e assassinato, amizade com a PM e simpatia dos barões da contravenção.

Em nome da segurança, a milícia escraviza comunidades financeiramente e sequestra a máquina pública. Não é fácil ser oposição na Baixada Fluminense ou na zona norte carioca.

Vai ter milícia 011?

Sempre teve, ainda que em escala bem menor. Mas com outra história: os “pés-de-pato” (assassinos de aluguel) dos anos 80, o malufismo…

A verdade é que o crime de SP é muito mais profissional que o fluminense. Gere territórios com grandes acordos com o Estado, possui tribunais próprios que trabalham a todo vapor, coordena uma das maiores rotas do tráfico do planeta.

Mas a forma de agir das milícias parece já ter chegado com Tarcísio: o assassinato em Paraisópolis, seguido de queima de arquivo confessada pelo candidato bolsonarista, é prova disso.

O governador de SP tem 19 mil cargos de confiança. É fato que o forasteiro Tarcísio não possui equipe paulista para isso. Ele importará funcionários. Qual setor do Estado as milícias cariocas, ligadas a sangue com Bolsonaro, irão querer ocupar num eventual governo Tarcísio?

A ver.

(Este texto foi inspirado e consultou a obra “Dos Porões da Repressão para os Subterrâneos da Contravenção”, com autoria de Aloy Jupiara e Chico Otávio. Mas possíveis erros historiográficos ficam por conta do autor do texto).

“Neste poema eu trago a realidade”, diz metalúrgico autor de poesias que criticam o capitalismo

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Inspirado no rapper Tupac Shakur e na série ‘Um Maluco no Pedaço’, o metalúrgico Anderson Lemes usou o pseudônimo de um personagem para começar a assinar as primeiras poesias na época do Orkut.

Anderson Lemes dos Santos, é morador da Vila Nogueira, bairro de Diadema, região do grande ABC. Ele conta que começou a ter consciência sobre como a sua poesia tocava as pessoas em meados dos anos 2000, durante o tempo que passava nas redes sociais daquela época. 

“Colava com os camaradas na lan house do bairro, eles queriam mandar um scrap pras minas e me pediam pra escrever umas paradas da hora. Nunca mandava os poemas em meu nome, tinha um pouco de vergonha, então usava um pseudônimo: Rafael do gueto”, relembra o escritor.

O personagem faz parte da série americana Um Maluco no Pedaço, que fazia muito sucesso naquela época e conta a história de um jovem, morador de um bairro periférico da Filadélfia que se muda para a casa dos tios ricos, no bairro nobre de Bel Air. Com a mudança, o garoto precisa se adaptar ao novo estilo de vida.

“O Will (personagem de Will Smith no série) queria conquistar uma gatinha e meteu essa história de poeta, dizendo que conhecia o tal ” Rafael do gueto, mas o cara não foi ao encontro, era uma mera invenção pra impressionar a menina, então o mordomo Jeffrey se passou pelo dito cujo – acabei usando o Rafael do Gueto com o mesmo propósito”, conta o poeta, enquanto sorri desta lembrança.

Quem não viveu o auge do Orkut, a rede social mais popular dos anos 2000, não se lembra, mas o Scrap era um mural de recados dedicados a textos mais curtos. O espaço também era utilizado com o propósito de flertar com o envio de recados apaixonados entre os jovens.Diferentemente dos primeiros versos, os textos de Anderson são inspirados em questões sociais e com reflexões sobre o cotidiano. Segundo ele, a mudança de perspectiva aconteceu a partir do contato com o RAP, com destaque para o rapper americano Tupac.

O metalúrgico Anderson Lemes é morador da Vila Nogueira, bairro de Diadema, região do grande ABC. (Arquivo Pessoal)

“Esse cara me fez enxergar a poesia por outro ângulo. Me deu um teor mais crítico, mais Thug Life (vida loca). Mesmo não entendendo muito bem o idioma, sua maneira de mesclar as palavras, a melodia e também seu ativismo me incentivou a escrever sobre a realidade”

Anderson é escritor e metalúrgico.

Este é um trecho do poema “Voz do Brasil”, que faz alusão ao jornal de mesmo nome veiculado em emissoras de rádio com notícias sobre o cenário político e econômico do país.

“Neste poema eu inverto os valores nacionalistas e trago a realidade que vivemos. O mais recente publicado foi Corações de Gaiolas, uma crítica ao evento do 7 de setembro, que trouxe o coração de Dom Pedro para o Brasil”, conta.

Anderson publica os poemas no seu perfil de Instagram Rythmandpoesia.

Sobre o processo de escrita, Anderson afirma que é algo bem simples. Algumas poesias, segundo ele, nascem em forma de música e com o celular na mão anota tudo no bloco de notas.

“Gosto de usar a fonte Osvald itálico, de cor branca e fundo preto. Faço a correção ortográfica através de um app e tá pronto”, revela com ar de satisfação.

Trabalhando no turno da noite, ele conta que o silêncio da fábrica e da cidade favorecem o trabalho da mente: “Fiz muitos versos nessa época, no meu horário de janta e até mesmo no horário de trampo. Colocava a máquina pra rodar e marcha”, diz.

Para ele, viver da arte e de escrever poesias é algo ainda distante. A função que exerce como metalúrgico garante o sustento da casa, da esposa e dos três filhos, mas diante disso alega que está feliz com as experiências que a escrita tem proporcionado. 

“Não vou deixar uma fortuna após a morte, então queria deixar algo mais valioso: meus pensamentos para a posteridade. Se futuramente meu trabalho resultar em alguma renda será muito bem vinda, com certeza!”, afirma.

Anderson sempre acompanha as notícias distribuídas pelo sindicato dos metalúrgicos do ABC, para estar inteirado dos seus direitos como trabalhador. Em novembro de 2021, a Tribuna Metalúrgica criou a seção poemas do ABC – sabendo disso, Anderson entrou em contato com a Redação e enviou o primeiro texto intitulado “A cor da minha cor”, que posteriormente, foi publicado no site.

“Recebo muito apoio dos caras do trabalho, eles também me chamam de Mandela – por que passei um bom tempo lá lendo a autobiografia do ex-presidente da África do Sul. Isso me motiva bastante! Espero ser essa referência dentro e fora do chão de fábrica”, diz.

A atitude de Anderson se tornou um fato marcante que impactou o ambiente de trabalho e despertou a admiração dos colegas e de líderes sindicais.

“Quando publiquei meu primeiro poema na Tribuna Metalúrgica, um dos representantes da Comissão Sindical da empresa saiu pelos corredores divulgando meu trabalho. Achei legal pra caramba! No outro dia os caras estavam me chamando de poeta”, finaliza.