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Iniciativas que atuam com basquete fomentam o esporte nas periferias de São Paulo

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Laboratório Hooper. Foto: Divulgação.
Laboratório Hooper. Foto: Divulgação.

Em um cenário de ausências sociais programadas nos territórios periféricos, projetos desenvolvidos a partir da articulação de movimentos territoriais jogam luz para as potencialidades apagadas nesses territórios. É nesse contexto que nasce o Laboratório Hooper, no distrito do Grajaú, zona sul de São Paulo, e o Jóias do Futuro, em Guaianases, zona leste da cidade.

Foi a partir do contato com o basquete dentro da escola que Jhonathan Crist, 28, morador do bairro Jardim Varginha, no Grajaú, zona sul de São Paulo, criou o Laboratório Hooper. “A ideia surgiu para mostrar nosso basquete dentro da região. A falta de espaços públicos para as pessoas praticarem dificultava muito, já que no bairro onde moramos não existem praças públicas ou quadras”, conta Jhonathan, criador do projeto que teve início em 2022. 

Jhonathan Cris, fundador do projeto. Foto: Arquivo pessoal.
Jhonathan Cris, fundador do projeto. Foto: Arquivo pessoal.

Atualmente o projeto conta com 25 participantes, onde Jhonatan além de fundador também é professor. No momento, todos os participantes são moradores da região do Grajaú, mas o idealizador tem como objetivo ampliar o projeto para outras regiões. Os treinos acontecem aos domingos de manhã na praça do bairro Sete de Setembro, no Grajaú. 

Carlos Wendel de Sousa, participante do projeto. Foto: Arquivo pessoal
Carlos Wendel de Sousa, participante do projeto. Foto: Arquivo pessoal

Um dos jovens do Laboratório Hooper é Carlos Wendel de Sousa, 16, morador do Jardim Varginha, no Grajaú, que participa do projeto há 11 meses. Carlos já participou de algumas peneiras que conseguiu através do projeto e sonha entrar para algum time de basquete profissional. Ele conta que além de se tornar um atleta, o esporte já tem feito melhorias significativas em sua vida.

“O projeto me trouxe uma outra perspectiva sobre o mundo dos esportes. Assim que eu soube do Laboratório já comecei a participar, pois vi uma oportunidade de agregar minha vida, não só como atleta, mas também como indivíduo.”

Carlos Wendel de Sousa

Jhonatan, criador do projeto, aponta que a maior dificuldade no momento é a falta de um lugar específico para os treinos, pois dependem de escolas para que liberem algum dia e horário. “Não temos uma quadra própria, então nos deslocamos até um bairro próximo, [no] sete de setembro, ali conseguimos treinar na quadra que tem na pracinha do bairro e marcar nossos amistosos”.

O projeto não conta com nenhum auxílio ou doação, sendo tudo feito com recurso próprio. Além das aulas na quadra, as redes sociais são aliadas do projeto, sendo um espaço onde Jhonatan busca oportunidades por meio das páginas dos clubes ou faculdades, repassando para os participantes do Laboratório. Com as divulgações da rotina dos treinos através do instagram do projeto, é possível as federações ou faculdades, conhecerem um pouco mais sobre aquele atleta. 

Treino do Laboratório Hooper. Foto: Arquivo pessoal
Treino do Laboratório Hooper. Foto: Arquivo pessoal

O Laboratório Hooper é um projeto voltado sem restrições de idade ou gênero. Para participar basta chegar na quadra localizada na praça do bairro Sete de Setembro no Grajaú e procurar a equipe sempre aos domingos, às 08h da manhã.

Esporte presente também na zona leste  

Localizado em Guaianases, zona leste de São Paulo, o Joias do Futuro, se propõe a ser um espaço de trocas e aprendizagem através do esporte. A iniciativa foi criada em setembro de 2020, por um grupo de quatro amigos apaixonados por basquete: Leonardo Souza, Gabriel Vicente, Allan Oliveira e Luandre Thurã, ambos com 22 anos e moradores da Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo.

“Assim como todo jovem de periferia, o futebol já era algo presente na minha vida. Mas meu pai jogava basquete em quadras ali mesmo da nossa comunidade. Aos 12 anos comecei a treinar basquete no Juventus da Mooca e no Instituto Drible Certo, que fica na Cohab 2. A partir desse momento, eu comecei a amar o basquete”, relembra Leonardo, um dos fundadores do Joias do Futuro.

A iniciativa surgiu durante a pandemia da covid-19, período em que muitos lugares ficaram fechados e impossibilitou a prática do esporte. Nesse momento, os jovens encontraram uma quadra abandonada, na Cohab Juscelino, em Guaianases, que comportava a prática do basquete ali no território. 

Quadra Bilysta. Foto: Divulgação
Quadra Bilysta. Foto: Divulgação

A partir daí, os amigos se mobilizaram para conseguir reformar o espaço e assim foi nomeada como quadra Billysta, em homenagem a um rapaz chamado Billy, que durante muito tempo cuidou da quadra.

“A partir do momento que encontramos a quadra e os moradores se mobilizaram junto com a gente, começaram a surgir outros jovens que também praticam basquete para auxiliar na reforma. Nisso, a subprefeitura de Guaianases também deu uma força e conseguimos finalizar a reforma, dando início às atividades do projeto.”

Leonardo Souza, um dos fundadores do Joias do Futuro.
Leonardo de Souza, um dos fundadores do projeto, em pé, com camisa branca, ao lado dos participantes do Joias do Futuro. Foto: reprodução
Leonardo de Souza, um dos fundadores do projeto, em pé, com camisa branca, ao lado dos participantes do Joias do Futuro. Foto: reprodução

Leonardo conta que a subprefeitura ajudou somente na reforma da quadra. “Boa parte do investimento é feito do nosso próprio bolso, o que nos ajuda atualmente, é o auxílio de alguns comércios da região, que fornecem materiais para os treinos ou mantimentos quando realizamos alguns eventos”, afirma.

Atualmente o projeto conta com a participação de 50 crianças e adolescentes, com faixa etária de 6 a 18 anos. Leonardo e Gabriel Vicente são instrutores, Allan fica responsável pela administração e redes sociais, e Luandre pelos eventos que organizam.

Daniel Santana, 19, morador da Cidade Tiradentes, zona leste da cidade, é um dos jovens que participa do projeto desde sua fundação em 2020. O jovem afirma que o Jóias do Futuro é mais que uma busca por campeonatos, mas um auxílio na formação e descobertas para crianças e adolescentes na quebrada.

“O projeto abrange toda a nossa comunidade. É muito além do esporte. Temos diversos eventos beneficentes, como por exemplo o que rolou na páscoa, dia das crianças e por ai vai”, conta Daniel. 

Daniel Santana. Foto: Divulgação.
Daniel Santana. Foto: Divulgação.

Leonardo aponta que o esporte pode ser a porta de entrada para novas possibilidades, mas que para manter isso como um objetivo ou até mesmo um sonho, é necessário uma estrutura maior que passa pela garantia de alimentação, moradia, saúde, entre outros direitos básicos.

“Estamos aqui para ajudar e melhorar a realidade da nossa comunidade. E como falamos, não adianta ajudarmos nas ruas, se dentro de casa tem problemas maiores. Com as arrecadações de alimentos conseguimos ajudar não somente as crianças, como também suas famílias.”

Coloca Leonardo

As aulas são divididas em dois lugares: de terça-feira a quinta-feira os treinos são feitos no CEU Inácio Monteiro, na Cidade Tiradentes, das 13h às 15h. De quinta a sábado os treinos acontecem na quadra Billysta, em Guaianases, a partir das 10h. Todos os treinos são abertos ao público e as inscrições são feitas no próprio local, durante todo o ano.

“Tem festivais que 80% são homens”, denuncia a rapper Sharylaine, apontando o impacto do machismo no Rap

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Sharylaine é uma rapper e produtora cultural com mais de 30 anos de carreira artística. (Foto: Acervo Pessoal)
Sharylaine é uma rapper e produtora cultural com mais de 30 anos de carreira artística. (Foto: Acervo Pessoal)

As rappers Brrioni, Preta Ary e Sharylaine, enfrentam cotidianamente o machismo no universo da indústria cultural do rap, estilo musical que consagra e valoriza o trabalho de homens negros no Brasil, mas que impõe uma série de barreira éticas e profissionais para permitir o fortalecimento de mulheres negras que atuam como mc´s na cultura hip hop.

“A dificuldade de ser mulher, preta, de quebrada e ainda escolher ser rapper é demais. Sou tirada pela sociedade por cada um desses motivos, seja tudo junto ou separado”, conta Alice Brioni, mais conhecida como Brrioni, rapper de 21 anos, moradora do Campo Limpo, zona sul de São Paulo, que tem conexão com o rap desde 2017.

A primeira música gravada por Brrioni foi lançada em 2018 e se chama “Dissonaro”, na qual a rapper contou com o apoio de dois amigos que são homens cis e rappers, para produção musical do trabalho. A letra faz uma reflexão sobre como a sociedade seria se Jair Bolsonaro, até então candidato à presidente na época, fosse eleito, uma especulação eleitoral que se tornou realidade e mexeu com a vida das mulheres no Brasil. 

“Eu acho muito importante estar sempre retratando a política em forma de arte, seja como for, falo isso porque a política controla tudo a nossa volta né, literalmente comanda nossa vida. Se nós debatermos entre nós, tentar entender nem que seja pouco, não importa a idade, nós nunca vamos sair perdendo, pelo contrário mais um pra nós, menos um pra eles”

Brrioni, rapper e moradora do Campo Limpo, zona sul de São Paulo.
Brrioni é uma rapper da zona sul de São Paulo que teve o contato com a música iniciado a partir das Batalha do Vicente, na qual, ela é organizadora. (Foto: Mikael Silva)
Brrioni é uma rapper da zona sul de São Paulo que teve o contato com a música iniciado a partir das Batalha do Vicente, na qual, ela é organizadora. (Foto: Mikael Silva)

Além de rapper, Brrioni é modelo, poeta e cria da Batalha do Vicente, uma batalha de rima que acontece no bairro da Guarapiranga, zona sul de São Paulo. Foi neste movimento cultural protagonizado pela juventude negra e periférica que ela iniciou sua trajetória dentro do rap, através da criação de poesias, que ela apresentava nas edições da batalha. No momento, a rapper se prepara para lançar o segundo disco da carreira.

Para a rapper Sharylaine, 53, criadora do “Rap Girl’s”, em 1986, primeiro grupo de rap formado somente por mulheres no Brasil, a atitude de trazer o machismo para o centro do debate das letras de rap revela que as mulheres estão investindo em formação política e produção de conhecimento de gênero, em relação aos homens.

Com mais de 30 anos de trajetória na cultura hip hop, a rapper Sharylaine afirma que as mulheres enfrentam outro desafio: são minoria em contratações de shows, porque os contratantes em sua maioria são homens. 

“As mulheres ocupam vários papéis, estudam mais que os homens, vão além, se preparam, se produzem, enquanto o homem bota o tênis, a bermuda e o boné e vai cantar”

Sharylaine, criadora do primeiro grupo de rap feminino no Brasil
Sharylaine é criadora do "Rap Girl's", em 1986, primeiro grupo de rap formado somente por mulheres no Brasil. (Foto: Diogo de La Vega)
Sharylaine é criadora do “Rap Girl’s”, em 1986, primeiro grupo de rap formado somente por mulheres no Brasil. (Foto: Diogo de La Vega)

“Só consegue expressar como ídolo e referência um outro homem, uma coisa do macho para o macho. A gente ainda tem eventos e festivais que 80% são homens. Ainda há muita coisa a ser mudada”, argumenta a precursora do movimento hip hop no Brasil.

A presença do machismo na industrial cultural do rap impacta a vida de outras jovens artistas, como a Brrioni, que está começando na carreira, mas que assim como Sharylaine, é uma mulher negra e moradora da periferia.

“No rap, sinto o mundo botando dificuldade pra nós do começo ao fim, desde quando tu é chamada pra fazer um som e ficam te tirando de burra, mostrando como faz, até a hora que a gente mais espera, que é o momento de pisar num palco de show ou festival”, compartilha a artista, reforçando o cenário apontando por Sharylaine.

Backing vocal: o machismo velado no rap

Nascida e criada em Araraquara, município localizado no interior de São Paulo, a cantora Ariadna da Mata, conhecida no cenário do rap como Preta Ary, 36, é mãe e rapper desde 2004. Assim como Brrioni, ela é atravessada pela difícil realidade que é trabalhar com música, ao relatar que no início da carreira só fazia trabalhos como backing vocal ,abrindo shows, por ser mulher.

Vivendo no universo do rap há 19 anos, Preta Ary só conseguiu fazer carreira solo e produzir de forma independente no ano de 2018, pois até então, ela estava sempre inserida em grupos e trabalhos feitos por homens. E mesmo com uma carreira já construída e consolidada, ela se sentia insegura quando precisou tomar essa decisão, e até hoje sente essa insegurança quando precisar fazer algum novo trabalho. 

A rapper Preta Ary tem quase 20 anos de atuação na música, e ainda lida com barreiras profissionais impostas pelo machismo. (Foto: Analí Rená)
A rapper Preta Ary tem quase 20 anos de atuação na música, e ainda lida com barreiras profissionais impostas pelo machismo. (Foto: Analí Rená)

“Essas manifestações machistas eu tenho plena certeza que influenciaram muitas coisas na minha caminhada, foram sempre veladas. Eu não sou a melhor rapper do Brasil, mas eu sou boa no que eu faço”

Preta Ary, rapper no município de Araraquara

O investimento de dedicação e empenho para estudar e aprimorar a qualidade da produção dos seus trabalhos musicais fazem parte da trajetória profissional da artistas, mas segundo ela, todo esse movimento não foi o bastante para impulsionar a carreira.

“Eu poderia ter conquistado coisas, das quais pessoas que não são tão boas, ou não se dedicam tanto quanto eu, conquistaram e estão num patamar elevado justamente por que elas são homens”, afirma a rapper, enfatizando a sensação de ter que sempre disputar espaços dentro da indústria musical com homens e muitas vezes perder apenas por ser mulher.

Um dos impactos do machismo que torna a presença da mulher na indústria cultural do rap ainda mais nocivo é o fato das artistas serem gestoras da sua própria carreira, colocando em prática o empreendedorismo cultural como estratégia de sobrevivência e geração de renda.

“As mulheres precisam pensar muito todas vez que vão empreender, independente da área. Quando a gente está num lugar, a gente precisa provar o quanto a gente é boa o tempo todo. Ser mulher nesse mundo é preciso não só se preocupar com sua segurança, mas também que a gente é melhor”, finaliza a cantora.

7° edição do Você Repórter da Periferia oferece 20 vagas para jovens das periferias de SP

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Após três anos sem abertura de inscrições devido a pandemia da covid-19, em 2023 o Você Repórter da Periferia retoma as atividades e segue com inscrições abertas até o dia 30 de abril, para sua 7° edição. Com oficinas teóricas e práticas realizadas entre os meses de maio a dezembro, a formação é gratuita e voltada para jovens de 16 a 25 anos, de regiões periféricas da cidade de São Paulo. 

Para participar, os jovens podem ou não estar estudando – concluintes ou estudantes do ensino médio e também podem ser universitários que estejam cursando o 1º ano do ensino superior de qualquer curso na área da comunicação.

A inscrição pode ser realizada até o dia 30 de abril, clicando aqui. 

A formação é dividida em duas fases: teórica, período em que os jovens participam de oficinas como videorreportagem e técnicas de entrevista, com aulas aos sábados na redação do Desenrola e Não Me Enrola, localizada no Jardim Ângela, zona sul de São Paulo; e a fase prática, momento no qual passam a produzir conteúdos sobre ações e movimentos culturais de diferentes territórios periféricos.

Realizado desde 2013 pelo veículo de jornalismo periférico Desenrola e Não Me Enrola, essa edição irá contemplar 20 jovens periféricos que além da alimentação durante todos os encontros, também irão receber um auxílio transporte para o deslocamento nas oficinas teóricas e práticas.

“A volta das formações é um marco importante nesse ano em que o Desenrola completa 10 anos. A pandemia da covid-19 impediu a realização de três edições do programa e atravessou diretamente a população preta e periférica, que é o público central da nossa atuação. Por isso, jovens negros, perifericos, lgbtqia+ são o foco do Você Repórter da Periferia e também o motivo da mobilização para conseguirmos oferecer auxílio transporte nesse período”.

Thais Siqueira, articuladora institucional do Desenrola e Não Me Enrola.

Além de aprender sobre ferramentas e técnicas da comunicação, como redação jornalística, fotografia, videorreportagem, técnicas de entrevista, técnicas de captação de áudio e produção de conteúdo para redes sociais, o programa busca evidenciar as produções de conhecimentos enraizadas nas periferias, e como esses territórios são espaços de potência cultural e econômica.

“A formação apresenta a mídia como uma poderosa ferramenta de transformação dos territórios, através de um jornalismo que dê visibilidade para as vivências e vozes das margens. Isso envolve não apenas o conteúdo, mas a forma de fazer jornalismo da periferia para periferia”

Laura da Silva, que é moradora de Parelheiros, zona sul de São Paulo, e participou da 5º edição do VCRP, em 2018.

A formação terá início no dia 13 de maio, com aulas teóricas aos sábados, das 10h às 14h30, na redação do Desenrola e Não Me Enrola, localizada na Rua Ernesto Pasqualucci, 134, Jardim Dionísio, São Paulo. Já as aulas práticas, que eventualmente podem acontecer aos domingos, são realizadas em diferentes territórios de São Paulo.

Os interessados em participar do programa de formação devem realizar sua inscrição até o dia 30/04/23 e aguardar a divulgação dos selecionados até o dia 03/05/23.

Desenrola e Não Me Enrola é um veículo de jornalismo periférico criado em 2013, com objetivo de criar e ressignificar a produção de Conteúdo e Formação sobre sujeitos e territórios periféricos.

“As maiores vítimas têm a mesma cor e mesmo endereço da bala perdida”, afirma Elaine Mineiro sobre danos das enchentes

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Perder móveis e objetos pessoais em uma enchente não é algo novo para Mayara Carla de Lima, 31, auxiliar de limpeza e moradora da Vila Minerva, no distrito de Guaianases, zona leste de São Paulo. Lidar com as consequências das enchentes no território é uma situação que se repete na vida da morada de Guaianases, como ocorrido em fevereiro deste ano.

“Moro aqui a minha vida toda, nesta casa há exatamente 12 anos. A frequência de enchentes aqui é de 3 ou 4 vezes ao ano, principalmente se abrirem as comportas de Ferraz de Vasconcelos [que] alaga tudo por aqui. Pode estar caindo uma garoa, se abrir a comporta lá, aqui enche”, afirma a moradora de Guaianases.

“Já perdi tudo tantas vezes que eu nem sei falar direito. E aqui é nós por nós, ninguém mais ajuda se não for a própria comunidade. Porque na nossa subprefeitura não existe nenhum apoio, e quando vem, é depois que a enchente já passou duas semanas”

Mayara Carla de Lima, 31, moradora da Vila Minerva, no distrito de Guaianases, zona leste de São Paulo.

Mayara conta que mora perto da subprefeitura da sua região, mas quando vai procurar alguém para receber alguma orientação, o processo se torna difícil.

“Você demora três horas esperando a boa vontade de alguém de procurar um assessor, um responsável para te dar uma resposta. Quando vem, a resposta é ligar no 156 e esperar, mas esperar o quê? Morrer alguém? A casa cair? Outra enchente? Nossos governantes de município não ouvem a comunidade”, afirma Mayara.

“Eu estou falando porque eu vivi isso, eu vivo isso. Eu pedi socorro, suporte para o estado e não tive. Eu saí com meu bebe de colo sendo carregada pelo pai dele, porque eu não sei nadar. Eu liguei para os bombeiros, mas ninguém apareceu. Estou até hoje esperando o resgate deles. Se não fosse a população, a comunidade nem estaria aqui hoje”, aponta Mayara ao relembrar a situação que viveu no começo deste ano.

O cenário relatado por Mayara, não é diferente para Tania Aparecida, 52, cozinheira, moradora do bairro Jardim Lourdes, no distrito de Lajeado, na zona leste de São Paulo. Tania é uma das moradoras que sofre todo ano com o impacto das enchentes no seu território e analisa que a primeira ação do poder público deveria ser mapear quem precisa de apoio.

“Dinheiro, aparatos para ajudar a gente o poder público tem, só não existe um interesse mesmo. Todo ano é a mesma coisa, todo ano isso acontece e eles sabem disso, sabem que vai acontecer, mas ninguém faz absolutamente nada”

Tania Aparecida, 52, moradora do bairro Jardim Lourdes, no distrito de Lajeado, na zona leste de São Paulo.

A moradora do distrito de Lajeado, reflete sobre a necessidade de ações para evitar as ocorrências que seguem acontecendo no território.

“Olhar para os territórios e enxergar quem está precisando de um respaldo e depois ter divulgação de uma própria educação para que as pessoas saibam o que fazer com o próprio lixo, incentivar as pessoas a discutirem sobre o que estão vivenciando”, reflete Tania.

“Todo ano isso acontece e eles sabem disso, sabem que vai acontecer, mas ninguém faz absolutamente nada”

Tania Aparecida, 52, moradora do bairro Jardim Lourdes, no distrito de Lajeado, na zona leste de São Paulo.

Dados insuficientes sobre as periferias

Diante das situações de perdas que afetam os territórios periféricos como resultado das enchentes, a mandata coletiva de vereadores de São Paulo, Quilombo Periférico, lançou um mapeamento para registrar enchentes e alagamentos nas periferias da cidade com o intuito de comparar com os dados oficiais e catalogar essas ocorrências para acompanhar como a Prefeitura de São Paulo está se preparando para prevenir e criar planos de contingenciamento em relação às catástrofes.

A iniciativa surgiu após a mandata constatar divergência entre os relatos e imagens de enchentes dos moradores de territórios periféricos em São Paulo e os registros do CGE (Centro de Gerenciamento em Emergências Climáticas da Prefeitura de São Paulo).

“Desde a segunda quinzena de janeiro recebemos de munícipes de diversas partes da cidade pedidos de ajuda, muitas vezes desesperados por conta de enchentes e alagamentos que atingiram suas residências. Colocamos nossas equipes. para atuar no atendimento emergencial, acionando os bombeiros, a Defesa Civil, Assistência Social e oferecendo suporte jurídico”, relata a vereadora Elaine Mineiro, da mandata coletiva Quilombo Periférico, sobre as primeiras ações executadas pela mandata.

Clique aqui e confira a plataforma

Elaine pontua a necessidade de investigar como essa subnotificação de casos impacta a ausência de políticas públicas efetivas de combate às enchentes, uma vez que o CGE é também o órgão responsável pelo planejamento técnico de ações de combate à essas situações.

“Consultamos registros de enchentes e alagamentos registrados pelo CGE nos últimos três anos. Nesse levantamento descobrimos que o CGE mapeou 500 pontos de alagamentos na região central e no mesmo período nenhum na Cidade Tiradentes. Quando olhamos para outras áreas da cidade como Guaianases, Sapopemba, Jabaquara e M’Boi Mirim, os dados eram muito parecidos e totalmente distantes da realidade dessas regiões”, aponta a vereadora com base nas análises realizadas pela mandata.

A iniciativa também identificou que as subprefeituras de Cidade Tiradentes, Guaianases, Sapopemba e Ermelino Matarazzo não possuem estações meteorológicas em seus territórios. Esses equipamentos são usados para medir, computar e fazer um registro histórico da frequência, intensidade e densidade das chuvas em diferentes pontos da cidade.

“Essas informações são muito importantes para o trabalho de prevenção e contingenciamento de enchentes e alagamentos na cidade e mais uma vez são [em] áreas periféricas, onde vivem a população preta e pobre da cidade, que essa política não é aplicada”, aponta a vereadora que reforça a necessidade de ações contínuas do poder público.

Elaine ressalta que se o órgão responsável por esse acompanhamento não tem em seus registros os casos de alagamentos e enchentes que ocorrem nas periferias, automaticamente essas regiões ficam fora do fluxo de planejamento das políticas públicas.

“Estamos falando aqui de racismo ambiental, quando os maiores prejudicados pelas catástrofes ambientais, pela falta de planejamento e contingenciamento de emergências são a população preta e periférica”

Elaine Mineiro, vereadora na mandata coletiva Quilombo Periférico.

Para registrar ocorrências de enchentes e alagamentos em territórios periféricos, a mandara coletiva Quilombo Periférico orienta o preenchimento do formulário online disponível aqui.

Desigualdade planejada

Para a pesquisadora de Direito a Cidade e espaço público LabCidade FAU USP e Coordenadora de Direito a Cidades Antirracistas do Instituto Peregum, Gisele Brito, as desigualdades vivenciadas pela população, o racismo ambiental e a segregação urbana, são frutos de um planejamento. Um planejamento que sempre buscou manter a população negra e pobre longe da população rica e branca.

“Se a gente não tivesse bem organizado onde mora cada um na cidade, onde moram os pretos, os brancos, os pobres, os ricos, a polícia não poderia sair por aí atirando nas pessoas. Atirar balas que vão achar sem erro nenhum corpos negros e corpos pobres”, aponta a pesquisadora sobre a dinâmica da ocupação dos territórios que define quem sofre mais ou não em um cenário onde a terra é mercadoria.

A coordenadora da área de Direito à Cidades Antirracistas do Instituto Peregum, aponta que existem uma série de políticas públicas pensando a cidade e moradia que foram conquistadas pelos movimentos da reforma urbana nos anos de 1960 e 1970. Segundo ela, esses movimentos conseguiram com que muitos mecanismos de proteção e justiça social fossem colocados nas leis, mas falta racializar os mecanismos para políticas públicas que de fato sejam antirracistas.

“É preciso que a gente pense a produção de uma cidade antirracista e não pode ser só da boca para fora. Precisamos começar a produzir política pública, instrumentos que façam isso, assim como foi quando pensamos na lei de cotas raciais.”

Gisele Brito, pesquisadora do LabCidade FAU USP e Coordenadora de Direito a Cidades Antirracistas do Instituto Peregum.

A pesquisadora ressalta que o racismo ambiental está sendo discutido há muito tempo, desde antes dos anos 1960, quando as quebradas já se organizam em busca de acesso a água, luz e saneamento básico para seus territórios, e mesmo que as pessoas não utilizassem o termo, isso já era um entendimento e uma luta contra a opressão.

“As cidades no Brasil são como são [e] as tragédias acontecem do jeito que acontecem por conta do racismo. As cidades no Brasil foram pensadas para serem um dispositivo de manutenção de uma sociedade racista que queria afastar e matar a população negra e usar a população pobre, então é importante que a gente continue expondo isso e se articulando para ficar mais forte e entender que o problema não é só nosso”, ressalta Gisele Brito.

Poeta Michel Yakini-Iman pede apoio para lançar livro sobre futebol de várzea

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“Futebol não é coisa de menino” vem a campo sem patrocínios ou apoios prévios, por isso, a Editora Campo ou Bola, em parceria com a plataforma Catarse, promove esse financiamento coletivo que fica no ar até 10 de abril. Além disso, a campanha funciona também como pré-venda da obra. Com os recursos provenientes dessa campanha, o livro será editado e impresso.

Se o futebol, dominado pelo universo masculino, não é coisa de menino, de quem é, então? Sem a pretensão de uma resposta simples, o autor Michel Yakini-Iman apresenta textos que contribuem com o imaginário desse jogo de contradições, a partir de uma proposta literária e reflexiva, somando no acervo de literatura de futebol publicado no país, que ainda ocupa o banco de reservas nas pelejas críticas e leitoras da literatura brasileira contemporânea.

“Futebol não é coisa de menino” reúne um time de 22 (vinte e duas) prosas que estão divididas entre 1º Tempo e 2º Tempo. Na primeira parte, o autor narra histórias controversas de meninos que sonham em se tornar profissionais da bola, com enredos nutridos nas beiras de campo da várzea, nas arquibancadas, quadras de futsal e brincadeiras de rua. O 2º Tempo é composto por textos escritos durante a Copa do Mundo de 2022, no Qatar. Essas prosas apresentam a relação entre o futebol e os tabus masculinos, a arte, a política, o racismo, o humor e a mercantilização do jogo, batizada por Yakini-Iman de “Futebol com código de barras”.

Este é o segundo livro do autor dedicado exclusivamente ao futebol. O primeiro a privilegiar o tema foi “Crônicas de um Peladeiro”, publicado em 2014, pelo selo Elo da Corrente Edições. O livro que pensa o futebol de forma provocativa e urgente, tem prefácio do escritor, poeta e cineasta de futebol de várzea Akins Kintê, que assina a direção do filme “Várzea, a bola rolada na beira do coração” (2010).

“O livro vasculha lembranças das épocas de ouro do futebol varzeano, mas também nos alerta sobre o tempo de agora, desse sistema capitalista que cada vez mais torna jogadores robotizados. Vale notar também que Yakini-Iman nos traz temas relevantes sobre a sensibilidade desses jogadores: o choro, a paternidade, a presença das mulheres no futebol varzeano, a relação do escritor com sua filha Yakini, as várias vezes na arquibancadas, tirando onda, se divertindo, os apelidos quase raros hoje em dia, um livro de uma leitura suave, mesmo nos temas desconfortáveis que o escritor toca”, comenta Akins Kintê.

Ao contribuir com a campanha, que oferece várias modalidades de apoio, você garante seu exemplar e apoia os jovens escritores do Brasil, as pequenas editoras e a literatura sobre futebol.

Sobre o escritor

Autor de Pirituba que já teve obras traduzidas para o espanhol, inglês e árabe, Michel Yakini-Iman faz parte do movimento de literatura das periferias de São Paulo. É co-idealizador do Sarau Elo da Corrente (Pirituba), colaborou como colunista no portal Na Galera F.C, dedicado ao futebol de várzea (2021), já participou de atividades literárias na Alemanha, Argentina, Chile, Cuba, Espanha, França, México, Egito e Paraguai e é autor de “Na medula do Verbo” (2021), “Amanhã quero ser vento” (2018), “Crônicas de um Peladeiro” (2014) e “Acorde um Verso” (2012).

Serviço: Campanha de Pré-lançamento do livro “Futebol não é coisa de menino” com Michel Yakini-Iman

Sinopse: Dos sonhos de crianças nos campos de várzea até histórias da Copa do Mundo de 2022, o livro transita pela relação entre o futebol e velhos tabus, arte, política, racismo, humor e a mercantilização do jogo, brindando o imaginário dos leitores com uma obra provocativa e urgente.

Período: até 10 de abril de 2023 (segunda-feira)

Apoie o projeto:  Aqui

Valores da Campanha: a partir de R$ 15,00 com recompensas de acordo com a participação

Desenrola participa de Colóquio de Comunicação no Centro de Pesquisa e Formação SESC

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Na próxima sexta-feira (31), a jornalista Thais Siqueira, co-fundadora do Desenrola, marca presença na primeira edição do Colóquio Comunicação e Tecnologias Sociais nas Periferias, organizado pela produtora Caramuja em parceria com o Centro de Pesquisa e Formação SESC, espaço de produção e difusão de conhecimento, localizado na Bela Vista, centro de São Paulo.

Siqueira participará do debate: Jornalismo Periférico: nos becos da comunicação digital, que acontecerá das 14h às 15h30 e conta com participação de André Fernandes, fundador da Agência de Notícias das Favelas e a Mediação de Maycon Motta, repórter cinegrafista e fundador da produtora Dois Neguin Filmes.O colóquio propõe um espaço de trocas e intercâmbio entre iniciativas sociais ligadas à jornalismo social, articulação de mídias e tecnologia em prol do exercício cidadão, da denúncia e da produção cultural em territórios periféricos

Utilizando ferramentas tecnológicas disponíveis, os participantes do evento irão compartilhar como estão subvertendo e recriando meios de circulação de notícias, informações e valorizando os atores sociais das periferias, os convidados e convidadas tecerão articulações entre mídias, tecnologia, comunicação, educação e arte.

O comunicador popular e cineasta Daniel Fagundes, co-fundador da produtora Caramuja, é responsável pela curadoria do evento, que conta com a participação de jornalistas, podcasters, educomunicadores, cineastas e fotógrafos.

Para assistir e interagir com os convidados e palestrantes do evento, o público interessado deve acessar o site do SESC, para realizar as inscrições que seguem abertas até o dia 30 de março, e custam a partir de R$ 15,00. 

Confira a programação completa do Colóquio de Comunicação.

31/03
10h- Colóquio de abertura “Audiovisual popular, entre o anúncio e a denúncia”
Com Harrison Lopes (Coletivo de comunicação popular Tela Firme) e Janaína Reis (Companhia Bueiro Aberto).
Mediação de Daniel Fagundes (Caramuja/Ibiralab).

11h às 12h30 – Mesa de conversa 1: Mídia e ativismo antes e depois da web
Com Flávio Galvão (Agência Pavio de Jornalismo) e Kátia Passos (Jornalistas Livres).
Mediação de Guilhermo Aderaldo (Ufpel).

14h às 15h30 – Mesa de conversa 2: Jornalismo Periférico: nos becos da comunicação digital
Com Thais Siqueira (Desenrola e Não Me Enrola) e André Fernandes (Agência de Notícias das Favelas). Mediação de Maycon Motta (Dois Neguin Filmes).

16h30 às 18h Mesa de conversa 3: Das ondas de rádio à podosfera: construindo notícias no coletivo
Com Gisele Alexandre (Manda Notícias) e Reginaldo José (Rádio Comunitária Heliópolis).
Mediação de Marcos Vellasco (Quebradacast).

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10h às 11h30 – Mesa de conversa 4: Educação entre a lousa e a tela: desafios e avanços
Com Renato Noguera (Afrosin) e Socorro Lacerda de Lacerda (Prove).
Mediação de Daniel Fagundes (Caramuja/Ibiralab).

11:30h às 12:30h – Deslocamento do Sesc para o Jardim Ibirapuera

12:30h – Almoço na sede do Bloco do Beco

13:30h – Rolê no Bairro Educador

16:30h – Encerramento com Maracatu Baque Atitude

“É um movimento de força feminina”: Coletivo fomenta presença de mulheres no grafite

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Palpites, abusos, desrespeito e comparação são algumas das situações que mulheres enfrentam ao grafitar nas ruas. Situações que atrapalham não só as criações expostas nos muros, mas que também as desestimulam a saírem dos seus locais seguros.

Com o objetivo de promover espaços acolhedores de troca e encontros onde mulheres que fazem todo tipo de arte de rua possam se expressar, surge o Grapixurras das Minas. Em 2017, enquanto Iara Lopes, conhecida como Yaya e Paloma, conhecida como Sujeitas, pintavam um muro, também compartilhavam seus sentimentos sobre a falta de mulheres nos eventos de grafite, e desse papo surge a coletiva.

“Não é apenas para mulheres que já possuem técnicas. É as minas que estão começando e querendo conhecer outras minas. É para promover essa troca de conhecimento, amizade e união entre as mulheres no grafite.”

Iara Lopes (YAYA), 29, geógrafa, moradora de Osasco, região metropolitana de São Paulo e organizadora do Grapixurras das Minas.

O nome da coletiva foi sugerido por Paloma (Sujeitas) e faz referência aos eventos de grafite que já aconteciam e eram organizados majoritariamente por homens. A diferença é que buscaram deixar explícito que a iniciativa é voltada apenas para mulheres. “O ‘das Minas’ é para trazer o recorte e deixar claro que era só para mulheres colarem e pintarem”, diz Iara Lopes (YAYA).

Formado de forma espontânea através das mulheres que colavam para grafitar e procuravam no que poderiam contribuir para agregar na construção da coletiva, atualmente o Grapixurras conta com mais três organizadoras oficiais além da Iara e Paloma: Riane (Sister), Cintia (Bonnie) e Niala (Nica), e apoio de Paula (Bruxa) e Mica (Micaguei).

O primeiro evento oficial do Grapixurras das Minas aconteceu em 2018, onde reuniu cerca de 15 mulheres para grafitar um escadão no Jardim Celeste, região do ABC Paulista. “Foi uma sintonia gostosa, as minas já pegaram a maior amizade. Voltamos todas juntas. O primeiro logo deu a entender que ia dar tudo certo”, afirma Iara Lopes (YAYA), uma das organizadoras do evento.

Camila Coelho, conhecida como Nega, é professora, moradora da região oeste de São Paulo, já participou de várias edições dos encontros e afirma que para além de técnica, elas podem trocar entre si sobre suas vivências.

“Rola troca de tinta, de foto, de sticker, rola troca de arte, de ideias. Quando a gente tá num espaço que se sente livre, a gente se sente mais segura de dividir, colaborar e entregar para as pessoas que estão ao redor o que a gente tem de melhor. Tudo feito com amor.”

Nega, professora, já participou de várias edições do Grapixurras das Minas.

Apoio de políticas públicas

Após 5 anos de existência realizando rateios entre as participantes para subsidiar os eventos, em 2023, o coletivo foi aprovado no Programa para a Valorização de Iniciativas Culturais (VAI), lei de incentivo a projetos culturais de São Paulo. A 20ª edição do evento das minas, que aconteceu em janeiro de 2023, foi o primeiro encontro com apoio da política pública e reuniu cerca de 200 grafiteiras, em Ermelino Matarazzo, na zona leste de São Paulo.

Esse foi o primeiro encontro em que o Grapixurras das Minas conseguiu disponibilizar kits com spray para alguns participantes pintarem durante o evento.

“Agora a gente consegue fornecer kits de lata para as primeiras minas [que se inscrevem via formulário] e ver [que] as mina não precisar tirar do próprio bolso para comer um almoço da hora”, aponta Iara Lopes (YAYA), ressaltando que durante o dia também teve a possibilidade de rolar o “churrasco das minas”, que contava com opção vegana e ainda sorteios com artes levadas por algumas participantes.

O pouco apoio e políticas públicas com foco em espaços para essa troca entre as mulheres afeta não apenas a produção dos encontros, mas também inviabiliza a locomoção de muitas mulheres, já que a maioria mora em diferentes territórios periféricos da cidade.

É o caso da rapper e grafiteira Pamela Miranda, 26, conhecida como Miranda, que mora em Embu das Artes, região metropolitana de São Paulo, e geralmente precisa pegar dois ônibus, metrô e trem para chegar aos locais do evento: “Eu estando dentro do metrô vou para qualquer lugar, é grana [a questão]”, afirma.

Miranda ficou sabendo do Grapixurras das Minas através de uma conhecida e já chegou a ir em mais de 10 edições dos encontros. Segundo ela, os eventos contribuíram para aumentar a frequência com que coloca sua arte na rua e ainda a possibilidade de pintar para além da sua quebrada.

“Eu não tinha uma frequência tão alta. Pintava mais os mesmos lugares, mas o Grapixurras das Minas tirou esse limite de espaço. Me fez conhecer outras manas e pintar em outros lugares, isso é dahora”, conta Miranda.

Espaço que acolhe e fortalece

Miranda afirma que uma das diferenças entre eventos organizados por homens e o Grapixurras das Minas, é o acolhimento e a importância da sua presença para outras mulheres, as quais ela considera suas irmãs de rua. Ela conta que já chegou a ir para o encontro sem tinta e foi fortalecida por diversas minas no local.

“Aqui você sabe que sua presença é importante para outras pessoas, elas fazem questão da sua presença. Você tá sem tinta? Cola. Tá sem dinheiro? Vou te mandar a condução. É um movimento de força feminina”

Miranda, rapper, moradora de Embu das Artes, região metropolitana de São Paulo.

Para garantir a presença de grafiteiras que são mães, além da alimentação são realizadas atividades e oficinas com foco nas crianças, para que possam se entreter e dar a possibilidade das mães conseguirem pintar com mais tranquilidade.

Camila Coelho (Nega), 35, é professora, moradora do Butantã, região oeste de São Paulo, e mãe. Ela cola no Grapixurras das Minas desde a 7ª edição e conta que já deixou de participar de eventos por não ter rede de apoio pessoal ou no local.

“Geralmente em rolês organizados por pessoas do sexo masculino eles não pensam na acolhida da criança. Nem sempre os muros são fáceis de administrar, porque é na rua, tem carro passando, a criança quer correr e acaba que você não pinta”, aponta Nega.

“Você fica triste. Ver todo mundo pintando e você limitada de se expressar”, completa, ao citar que levar seu filho junto com ela para grafitar demanda tempo e atenção, assim, não consegue se concentrar para pintar.

Milena, 24, é moradora de Embu das Artes e assina como Ser em seus grafites, conta que conheceu o Grapixurra das Minas através de uma amiga. Ela está participando pela terceira vez do evento e sempre leva sua filha junto, a Gaia. “Trago ela para conhecer a arte de rua e conviver com mulheres. Ela se sente 100% à vontade, pinta e borda”, afirma Ser.

Cintia (Bonnie), 38, é moradora de Mauá, no ABC Paulista, passou a fazer parte do coletivo após participar de algumas edições e afirma que a arte de rua deu a ela e a outras mulheres a chance de expressarem a sua existência.

“Fazemos e vivemos para mostrar que existimos, que estamos aptas desde o ventre para sermos livres, fazer e chegar no lugar que desejamos. Somos resistência e continuaremos resistindo. Os espaços estão sendo retomados por aquelas que um dia foram diminuídas ou mal faladas só porque somos mulheres tomando a frente das nossas próprias vidas”

Cintia (Bonnie), moradora de Mauá, no ABC Paulista e uma das organizadoras do Grapixurras das Minas.

Kinoforum abre inscrições para cinema periférico no 34º Festival de Curtas

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As inscrições para a 34ª edição do Festival Internacional de Curtas de São Paulo – Curta Kinoforum, reconhecido como um dos mais importantes eventos mundiais dedicados ao filme de curta duração, estão abertas até 31 de março. A iniciativa é da Associação Cultural Kinoforum.

Podem participar filmes com até 25 minutos de duração, sem distinção de gênero e que tenham sido finalizados a partir de 1º/01/2022. Visando estimular a maior participação de filmes de realizadores periféricos, negros, indígenas e LGBTQIA+, o evento abriu um canal especifico para as inscrições desta produção pelo e-mail info@kinoforum.org. O festival preza pela diversidade e por isso conta com um comitê de seleção que representa a heterogeneidade da sociedade brasileira.

O festival  também prevê a participação do público na avaliação da produção e abre parcerias que resultam em premiações. Os curtas brasileiros realizados em cursos de graduação do ensino audiovisual são elegíveis ao Prêmio Revelação, que consiste em serviços e equipamentos para a produção de uma nova obra.

Somente serão elegíveis aos prêmios promovidos pelo festival e seus parceiros os títulos brasileiros que possuam Certificado de Produto Brasileiro (CPB) emitido pela Agência Nacional de Cinema (Ancine). O evento aceitará a inscrição de obras que ainda não possuam o CPB; contudo somente poderão concorrer às premiações e destaques as produções que façam prova do processo de registro na Ancine até o dia 20/06.

As produções finalizadas em 2023 têm prazo maior para inscrição: até 28/04. O 34° Festival Internacional de Curtas de São Paulo – Curta Kinoforum tem direção da produtora Zita Carvalhosa e acontece de 29/08 a 3/09.

Para se inscrever: 

As inscrições podem ser acessadas aqui

“Fazemos com que as pessoas entendam a cultura surda”, diz criadora do projeto Libras Na Quebrada

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Com 3 anos de atuação, o Libras Na Quebrada conta com mais de 10 pessoas na equipe, composta por educadores surdos e ouvintes.

Oficina de Libras sendo mediada pela educadora Ananda Castilho, que inclusive foi aluna do projeto. (Foto: Acervo pessoal)

 O projeto Libras na Quebrada iniciou a primeira turma de oficinas gratuitas de língua de sinais de 2023, no primeiro sábado (05) do mês de março. O curso, que tem duração de quatro meses, acontece dentro da Casa de Cultura da Vila Guilherme pelo terceiro ano consecutivo. O espaço cultural, localizado na zona norte de São Paulo, já se tornou a sede fixa do projeto.

“Eu pensei: preciso fazer essa revolução. Porque às vezes na periferia tem o surdo, mas as pessoas chamam de ‘mudinho’, que é errado, ou de ‘doido’. Então a ideia do projeto é essa, a gente ensina libras mas a gente também conscientizar as pessoas, fazemos reflexões e fazemos com que as pessoas entendam a cultura surda”, explica Gyanny Vilanova, criadora do projeto Libras na Quebrada que moradora da Vila Maria, zona norte de São Paulo.

“O surdo é capaz de fazer qualquer coisa, estar em qualquer lugar e entender qualquer coisa”

Gyanny Vilanova, criadora do projeto Libras na Quebrada

O Libras na Quebrada é um projeto que nasceu a partir de um primeiro contato com uma pessoa surda que tinha dificuldades de comunicação, segundo Gyanny , a fundadora. (Foto: Acervo pessoal)

O propósito do Libras na Quebrada ajudou a transformar a vida profissional da enfermeira Fabiana Souza, 46, moradora do Brás, região central de São Paulo. Ela é aluna do projeto desde 2021 e relata como os aprendizados conquistados durante a formação agregaram valor a maneira de atender a população surda nos equipamentos públicos de saúde onde ela trabalha.

“Imagina uma pessoa que está precisando ser socorrida numa unidade de saúde, e a pessoa tenta expressar aquilo que ela está sentindo, uma dor, uma agitação ou qualquer outra coisa que não seja visível e ninguém conseguir entender, se hoje aparecer alguém para fazer os exames, eu consigo aos pouquinhos, conversar e fazer perguntas para uma pessoa surda”, exemplifica Fabiana, citando situações que podem acontecer no dia dia de trabalho.

“Eu consigo aos pouquinhos conversar e fazer perguntas para uma pessoa surda”

Fabiana Souza, enfermeira e aluno do projeto

Para realizar as oficinas e atender os mais de 20 alunos, o projeto conta com o apoio da Ananda Castilho, 2, que também mora na Vila Guilherme, zona norte de São Paulo. Antes de ser integrante da equipe pedagógica do projeto, ela foi aluna do curso, pois nasceu com uma pequena taxa de surdez, e considera o aprendizado de libras como uma necessidade social e fundamental para todas as pessoas.

“Sinto que minha responsabilidade como professora é desconstruir a cabeça dos meus alunos, mostrar que devemos sempre estar atentos ao nosso redor, ter empatia pelo próximo. Eu sempre falo pra eles que quando você entende o propósito da libras, do porquê você está aprendendo, quando você entende a importância da libras e de repassar esse conhecimento a frente, você se interessa e começa a mudar seus pensamentos”, reflete a educadora.

As oficinas do projeto têm a duração de aproximadamente quatro meses, e contam com o apoio de educadores surdos e ouvintes. (Foto: Acervo pessoal)

Gyanny, que é a criadora da iniciativa, conta que tudo começou em 2009, quando tinha 16 anos. Nesta época, ela trabalhava na Galeria do Rock, no centro de São Paulo, como vendedora. Ao sentir dificuldades para usar libras pela primeira vez para atender um jovem surdo, ela se sentiu curiosa para aprender a usar a língua de sinais e estimular outras pessoas a seguir esse caminho.

“Fiquei um tempo pensando em como elaborar o projeto, qual o foco, a missão e valores. Quando a gente começou era um pouco mais difícil achar curso de libras, era só pago, aí eu pensei em fazer um gratuito sem cobrar nada da galera, e na periferia tem muito espaço legal”, relata a criadora do projeto.

Após o período de idealização e estruturação do curso, as oficinas da primeira turma do Libras Na Quebrada começaram em 2020, no mês de fevereiro, mas, com a chegada da pandemia, todo o cronograma de atividades precisou ser pausado por um tempo indeterminado. 

“No centro já tem curso de libras, então eu quis pensar em ir para lugares que não têm”

Gyanny Vilanova, criadora do projeto Libras na Quebrada

O projeto Libras Na Quebrada não parou mesmo com a chegada da pandemia em 2020, as aulas aconteceram no formato online. (Foto/Reprodução: Acervo pessoal)

“A gente fez um mês de aula, veio a pandemia e tudo que eu estruturei pro presencial, como brincadeiras e dinâmicas foi por água abaixo e a gente teve que se reorganizar no online. Ficamos uns meses sem realizarmos as aulas, depois voltamos para o online”, explica Gyanny.

Entretanto, até hoje, a ideia do projeto é chegar em todas as quebradas, ensinar as linguagens de sinais mais usadas no cotidiano das pessoas. As oficinas duram quatro meses, em sua grande maioria são realizadas em encontros aos sábados, com turmas que tem em média 20 alunos.

“Quando eu iniciei o curso foi por curiosidade, quando eu fui começar a fazer e participar das aulas com professor surdo foi por amor, e depois conhecendo os surdos, eu peguei empatia. Então foi um passinho de cada vez. O surdo é capaz de fazer qualquer coisa, estar em qualquer lugar e entender qualquer coisa”, concluiu Gyanny.

“Eu queria me enxergar nos meus alunos”: professora cria curso de inglês para romper barreiras sociais e raciais

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Em janeiro de 2021, a professora de inglês Karina Santana, 28, moradora da zona leste de São Paulo, criou o curso “Karina, Me Ensina”, para romper com a lógica de mercado da educação que torna o inglês um idioma acessível para pessoas brancas e de classe média, e distante de pessoas negras e periféricas.

Um dos diferenciais do curso tem esse propósito de impacto social: facilitar o acesso de inúmeras pessoas periféricas ao ensino de inglês, principalmente de mulheres negras como ela, que correspondem a 80% dos seus alunos.

“O inglês é elitizado no Brasil. E existe a visão de que quem o domina é superior. Nos sentimos inferiorizados porque achamos que deveríamos ter esse conhecimento, quando não é questão de querer, mas de ter condições financeiras para tal.

Karina Santana, professora de inglês e fundadora do “Karina, Me Ensina”.

Batendo de frente com o racismo

Durante a trajetória profissional, Karina conta que, ao longo dos mais de 8 anos em que trabalhou em escolas bilíngues, pôde perceber de perto a diferença brusca entre a sua vida e a daqueles que frequentavam suas aulas, majoritariamente brancos e de classe média, sendo alvo inúmeras vezes de discriminação de raça e classe.

Ela lembra que a postura dos alunos brancos para promoção do racismo deixou marcas na sua trajetória profissional. “Uma vez eu recebi um sabonete de um aluno que, ao entregá-lo, disse que eu devia me lavar, porque eu era suja. Ao levar a questão para a diretoria, eu fui demitida.”

“O choque de realidade que eu vivenciava nas escolas atuando como professora era gritante”

Karina Santana, moradora da Zona Leste de São Paulo.

“Ninguém dizia abertamente que “inglês era coisa de rico e branco”, mas o choque de realidade que eu vivenciava nas escolas atuando como professora era gritante. Eu era sempre a única professora negra e já passei por várias situações de racismo, do velado ao escrachado”, revela Karina.

Além de enfrentar essas situações de racismo no ambiente de trabalho, a professora de inglês vivenciou outra forma de preconceito, desta vez, o alvo foi o seu filho caçula, que ela tinha acabado de dar luz, e nasceu com a Síndrome de Klippel-Trenaunay, uma doença que causa má formação dos ossos, varizes nas veias, manchas no rosto, entre outras complicações que impedem o bom desenvolvimento da criança.

Ao voltar da licença maternidade e informar à empresa sobre a condição de saúde do filho mais novo, que exige tratamento e acompanhamento contínuo, Karina foi demitida duas semanas após voltar ao trabalho, uma atitude antiética da empresa que vai contra a legislação trabalhista. Tais acontecimentos contribuíram para a professora dar novos rumos para sua vida profissional, adotando o empreendedorismo como uma tentativa de gerar renda.

“Eu não sonhava ser empreendedora, eu me tornei empreendedora por necessidade”.

Karina Santana, criadora do curso Karina, Me Ensina.

Ela sempre amou ser professora, mas o fato de encontrar vários desafios para se manter no mercado de trabalho, a levou a oferecer aulas de inglês por conta própria para um novo perfil de estudantes.

“Diferentemente do público que atendia nas escolas bilíngues, eu queria poder me enxergar nos meus alunos e que eles se enxergassem em mim também. Por isso, sempre tive comigo a ideia de ter um curso acessível, de baixo custo e que aproximasse as pessoas periféricas do inglês”, conta a empreendedora.

Inspirada em Paulo Freire

Karina é pedagoga com especialização em pedagogia freiriana, método criado por Paulo Freire que defende uma aprendizagem coletiva, prezando pela troca entre professor e aluno, a partir das realidades sociais e experiências dos estudantes, de modo que eles consigam enxergar sentido e motivação para aprender.

Desta forma, ela não oferece um curso só com valor acessível, mas com ensino humanizado, que busca entender o motivo real pelo qual as pessoas não conseguem aprender inglês, respeitando o tempo de cada um e fazendo com que tenham autoestima e segurança para se familiarizar com o idioma. 

“A Teacher Karina é acolhedora, divertida e gentil com todos, sempre nos incentivando a perder a vergonha de julgamento sobre a nossa pronúncia, nos deixando livres para responder perguntas em português quando temos dúvidas de como falar algo, tornando assim, as aulas em um espaço seguro em que podemos errar, aprender e evoluir”, explica Bianca Rodrigues, aluna do curso “Karina, Me Ensina”.

Bianca Rodrigues, publicitária e aluna do "Karina, Me Ensina". Foto: Arquivo pessoal.
Bianca Rodrigues, publicitária e aluna do “Karina, Me Ensina”. Foto: Arquivo pessoal.

“Antes das aulas da Teacher Karina, eu dependia totalmente do recurso de tradução do Google para compreender textos em inglês, inclusive no meu trabalho.”

Bianca Rodrigues, aluna do  curso Karina, Me Ensina.

Os conteúdos abordados nas aulas também recebem atenção especial, por possuírem um olhar crítico sobre o inglês e sua relação com a cultura norte-americana. Diferentemente das escolas tradicionais que vendem o idioma como sendo parte do “sonho americano”, ela tenta romper com essa ideia imperialista, focando na questão de oportunidades e acesso a lugares, seja para trabalhar, estudar ou viajar. 

Por isso, a proposta pedagógica não se limita à variação estadunidense e traz o sotaque queniano, indiano, além de trabalhar com música, arte e culturas negras, o que gera identificação com os alunos, fazendo com que se sintam mais à vontade para aprenderem e avançarem no idioma.

A aluna Bianca Rodrigues é formada em publicidade e atua como Social Media. Um dos principais impactos de aprendizagem do curso foi o desenvolvimento do gosto pela leitura de textos em inglês, habilidade fundamental na sua área de trabalho.

“Hoje já faço questão de ler cada texto em inglês e interpretar com calma o que li, partindo para tradução somente em caso de dúvidas específicas. O “Karina, Me Ensina” me incentiva a prestar mais atenção no inglês que está presente no meu dia a dia, a exercitar minha mente com frequência e a me desafiar cada vez mais no idioma”, compartilha Bianca.

Retornos positivos de alunas como a Bianca são comuns nas redes sociais da escola de inglês criada por Karina, com destaque para as publicações em seu perfil no Instagram, @teacher.professora, carro-chefe para atrair clientes, por engajar mais de 10 mil seguidores, fato que contribuiu para atingir a marca de 500 alunos.

“Fiz de tudo para formar minha primeira turma com 15 alunos. Postava todo dia sobre meu curso em grupos de Facebook voltados ao afro empreendedorismo. Mandava mensagem sobre as aulas para todos os contatos do meu WhatsApp e pedia para compartilharem com quem pudessem. Falava muito com todas as pessoas que conhecia. Como sou bastante comunicativa, acredito que isso tenha me ajudado no início”, finaliza Karina.