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Nós por nós

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Com meu trabalho no futebol de várzea eu costumo olhar para além das quatros linhas do campo, por isso o nome da coluna “Além do jogo”. O sentimento que carrega uma quebrada que pode ser representada por um time é muito intenso e significante. 

Envolve afeto, família, emoções, liberdade de expressão, dentre tantas coisas. União que move toda uma comunidade. Engloba, abraça. 

Nas fotos, registros da ação do time A Cúpula, da zona norte de São Paulo. A ação foi realizada em julho de 2023, a partir da união de times para um jogo beneficente, e após o jogo realizaram a entrega das cestas para alguns moradores do território.

Um time de quebrada faz mais que muitos políticos. Ele olha para a carência dos seus, da comunidade, fazendo, assim, muitas vezes ações beneficentes, se juntando e movendo ações para conseguir trazer uma cesta básica para aquela galera da comunidade onde o time foi criado. 

Não é só futebol, isso é uma visão dos nossos, que sabem da necessidade de unir e fortalecer.

Sabemos da carência da nossa comunidade, sabemos da correria do povo que nela vivem, do dia-a-dia. Em diversas quebradas os times também se unem para realizar ações no dia das crianças, natal, etc. 

O futebol de várzea vai muito além daquilo que vemos só em campo. E o dahora é que a galera da quebrada tenta se ajudar da melhor forma possível.

Espaço cultural de combate ao encarceramento da população LGBTQIA+ pede ajuda para não fechar

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Desde 2020, o espaço cultural independente Casa F.Ú.R.I.A (Frente Unificada de Resistência Interseccional Abolicionista), localizada na Vila Guilherme, zona norte de São Paulo, combate o encarceramento da população LGBTQIA+, aproximando estas pessoas de projetos de arte e cultura, para geração de trabalho, renda e promoção da liberdade de expressão.

A iniciativa é da Cia. dxs Terroristas, coletivo de terrorismo poético, que assume esse nome a partir do momento que são chamados de ‘Terroristas’ por um pastor evangélico que gerenciava um Centro de Educação Unificado (CEU) na região da zona norte de São Paulo.

“A zona norte é o território mais conservador da cidade de São Paulo. Aqui, a gente morre ou a gente apanha. Então, a gente começou a pensar formas de criar outras possibilidades de se expressar e a arte é um lugar comum para todas nós”

Murilo Gaulês, 36, morador da Vila Guilherme e fundador da Casa F.Ú.R.I.A.

Uma das pessoas que atuam no projeto e reforça a importância da permanência do espaço cultural independente é Carla Mendes, mulher trans, de 33 anos, nascida no Estado do Amapá, mas que desde os 17 anos mora em São Paulo. Ela frequenta a Casa F.U.R.I.A há dois anos.

“Desde que eu conheci esse projeto, há dois ano, estou trabalhando com eles, e isso me tirou da prostituição, e hoje pago meu aluguel com isso, foi uma luz no final do túnel”

Carla Mendes conquistou autonomia financeira com o apoio da Casa Furia.(Foto: Diego Nascimento)

Política pública de cultura

Em 2020, o espaço cultural conquistou o edital da Lei de Fomento à Cultura das Periferia, política publicada de apoio financeiro a grupos culturais gerida pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, que possibilita a manutenção e criação de espaços culturais independentes, localizados em territórios periféricos.

O projeto consiste no desenvolvimento de uma série de produções culturais feitas por mulheres trans, como livros, podcasts e curtas-metragens, pautando denúncias sobre o descaso do sistema penal com a população LGBTQIA+.

“A Casa me ajudou a atuar. A minha presença de palco hoje eu vejo que é bem melhor. Eu precisava do trabalho e isso me sustentou. Aqui aprendi coisas que vou levar pro resto da vida”

Ema Alves, 26, artista, moradora do bairro Jardim Hebrom

Encerramento de atividades

Antes da Casa da F.Ú.R.I.A existir com um espaço físico, as atividades da Cia dxs Terroristas eram realizadas na casa do Murilo, mas após ganharem o edital da Prefeitura de São Paulo, o coletivo conseguiu construir uma estrutura melhor, que resultou na construção de um espaço cultural independente. Mas o local está com sérios riscos de ser fechado, devido à falta de recursos financeiros e renda do próprio coletivo, para manter o espaço e o emprego de quem atua no projeto.

“A gente não tem mais condições, só temos dinheiro pra pagar o aluguel dos próximos dois meses e não tem como resolver. Esse trabalho que fazemos de retomada de consciência, construção de comunidade, produção em rede, não precisa da casa para existir, a gente depois arranja outro lugar. Isso me mantém de pé”, argumenta o fundador do projeto.

No primeiro semestre de 2023, a Cia. dxs Terroristas lançou no espaço cultural a peça teatral “Anjos de Cara Suja: o sol é, ou deveria, ser para todas”, intervenção artística que visa refletir como seria o mundo sem prisões.

O espetáculo ganhou reconhecimento internacional e a equipe recebeu um convite para fazer um intercâmbio cultural nos Estados Unidos, mas como algumas pessoas que atuam no coletivo estão respondendo por processos criminais na justiça brasileira, essa oportunidade corre o risco de não se concretizar para o grupo, fato que representa o impacto negativo do sistema prisional na vida da população LGBTQIA+, mesmo quando estas pessoas estão reconstruindo suas vidas.

“Eu tô sempre olhando pra esse lado de dizer: sim, é uma pena que a casa vai fechar, mas o trabalho vai continuar, a gente vai manter a esperança no peito. Pra mim o que mata o sonho não é a casa fechar, o problema é a estrutura do Estado que vai fazendo a gente fracassar”, conclui o criador do projeto. 

 

Enfermeira narra a luta de mulheres pelo direito ao saneamento básico na zona sul de SP

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Vinda de uma família de imigrantes portugueses, a enfermeira e líder comunitária Neide de Fátima Martins Abati, 84, mais conhecida como Neide Abadi, cresceu na periferia de São Paulo, num contexto de racismo escancarado na sociedade, e aprendeu com seu pai, João Martins, um líder comunitário, a ser uma pessoa antirracista, valorizando a diversidade de raças, etnias e religiões.

Com mais de 50 anos dedicados a participar ativamente de espaços de participação social nas periferias. Abadi é co-fundadora da União Popular de Mulheres do Campo Limpo, movimento social liderado por moradoras da zona sul que desde a década de 1960 se organizam para combater desigualdades sociais, fortalecer a organização popular e o desenvolvimento local. A iniciativa se mantém atuante até hoje.

A luta contra o racismo ambiental

Durante a década de 1970, a luta pela água, saneamento básico e educação sanitária fizeram parte da trajetória de vida da enfermeira e líder comunitária. Não existia água potável encanada e saneamento básico para tratamento de esgoto nas periferias da zona sul de São Paulo. A ausência deste direito fundamental afetava as famílias da região, devido ao processo de contaminação dos poços artesianos e lençóis freáticos, pelo fato dos moradores utilizarem fossas que não eram sépticas.

Este problema fez com que moradores desenvolvessem uma série de problemas de saúde, causados pela contaminação da água e do solo. Dona Neide relembra que nesta época, as casas eram construídas próximas a córregos, devido ao fato de não existirem terras com preços acessíveis, essas construções se tornaram o meio de moradia mais acessível e se multiplicaram, gerando inúmeros problemas de saúde e discriminação geográfica.

“O governo não tinha interesse em cuidar da saúde do povo e pelo fato de muitas famílias morarem em um lugar sem saneamento básico, muitos foram afetados, principalmente as crianças que foram contaminadas com verminose”

relata Neide, apontando para um período histórico das periferias, onde a sua atuação junto a outras mulheres da União Popular de Mulheres do Campo Limpo, foi fundamental para cobrar políticas públicas dos governantes.
Dona Neide Abadi com as mulheres da União Popular de Mulheres do Campo Limpo. Foto: Pedro Oliveira/Julho 2023.

Naquela época, dona Neide já realizava um trabalho de educação sanitária com as famílias do Campo Limpo, formando grupos nos bairros para orientar as mães sobre higiene e os riscos de ingerir água contaminada, executando o papel de uma política pública que ainda não existia, os Agentes Comunitários de Saúde, instituída e regulamentada anos depois.

“Nós passávamos de casa em casa, mas era muito difícil. Como essas mães poderiam ferver a água se não tinham dinheiro para comprar o gás? Como iriam colocar cloro na água, se não tinham dinheiro pra comprar? Saúde, de que jeito? Sem higiene, sem banheiro e sem água”

desabafa Dona Neide que atuava como uma agente comunitária de saúde antes mesmo da profissão existir.

A atuação de dona Neide não foi isolada, ela participou ativamente da juventude da Igreja Católica e se envolveu em movimentos que reivindicavam direitos básicos para os territórios periféricos. Com a união de outras lideranças comunitárias, como Aurélio Peres, líder operário e deputado federal, e outros movimentos de moradores e juventude, em 1982, com cerca de 17 ônibus, com mais de 500 moradores, seguiram rumo a Sabesp, em Pinheiros, para exigir o direito a redes de esgoto nos distritos do Campo Limpo, Capão Redondo e M’Boi Mirim, com objetivo de garantir água potável e colocar fim às mortes de crianças por hepatite, verminose e desidratação. 

Mata Atlântica no Capão Redondo

Parque Santo Dias no Capão Redondo. Arquivo prefeitura de São Paulo.

Entre direitos violados, lutas e conquistas, Dona Neide também esteve junto aos movimentos em prol da criação de um espaço verde no território do Capão Redondo, com a desapropriação da fazenda adventista em 1990, para manter preservado uma área de mata atlântica rica em biodiversidade e recursos hídricos.

Dois anos depois, em 1992, essa conquista se materializou com a inauguração do Parque Santo Dias, uma homenagem, segundo ela, merecida a Santo Dias, um operário e líder comunitário, morto pela polícia na porta de uma fábrica no período da ditadura militar, em 1979.

“Ali é nosso pulmão. Essa luta foi uma luta que não teve dono, era uma reivindicação nossa. A conquista do parque também foi em homenagem ao Santo Dias. Quanta gente melhorou de saúde por causa de fazer exercício e estar no ambiente limpo. E lá dentro é bonito, né?”

diz a líder comunitária.
Neide Abadi. Foto: Pedro Oliveira/Julho 2023.

A história de Dona Neide junto aos movimentos de luta por direitos humanos nas periferias da zona sul de São Paulo representa uma inspiração para quem continua lutando por um mundo mais justo e sustentável para todos. “Hoje eu sou brava. Eu tenho indignação de não ver as coisas resolvidas.

 “Eu choro às vezes de ver isso. Muita coisa podia ter nesse Brasil que tem tudo”

Finaliza, Neide Abadi.

Uma longa história: A luta pela duplicação da Estrada do M’Boi Mirim e pelo metrô Jardim Ângela

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Cansados de promessas, do trânsito, do descaso, moradores da região do Jardim Ângela, zona sul de São Paulo, promoveram mais uma manifestação pela duplicação da Estrada do M’Boi Mirim e pela expansão do metrô Capão Redondo até o distrito de Jardim Ângela. Há mais de uma década, os movimentos sociais da região reivindicam essas obras, infelizmente sem sucesso. 

Todo mundo que mora na zona sul da cidade de São Paulo já ouviu alguma história sobre a estrada do M’Boi Mirim. Quem mora no fundão da zona sul, desde Jardim Ângela até o Horizonte Azul ou Vila Calu, já viveu algum momento desagradável no trajeto, como horas no trânsito, acidentes e assaltos. 

Moradores de Itapecerica da Serra ou de Embu-Guaçu também conhecem bem os perrengues dessa estrada. Na verdade, muito mais pessoas acompanham os problemas enfrentados pelos moradores dessa região, pois constantemente são noticiadas nas mídias.

A estrada do M’Boi Mirim é uma das principais e mais extensa via da zona sul de São Paulo, com cerca de 16 km de extensão, ligando os moradores dos distritos de Jardim Ângela e do São Luís, de Itapecerica da Serra e de Embu Guaçu ao centro e a outras partes da cidade de São Paulo.

Diariamente passam por essa estrada dezenas de milhares de trabalhadores e trabalhadoras com destino ao trabalho, às compras, ou às tantas outras demandas da vida, que não podem ser resolvidas nesta região, dado a escassez de equipamentos públicos, de cultura, lazer, saúde ou financeiro.

Esse percurso não seria tão ruim, se esses cidadãos e cidadãs não tivessem que enfrentar horas de trânsito, incertezas constantes do tempo de duração da viagem, seja em seu veículo particular ou no precário transporte público. 

As pessoas já saem de casa esperando que alguma questão possa travar a circulação da estrada do M’Boi. 

Muitas são as vezes que as pessoas que moram no “fundão da M’Boi” são obrigadas a caminhar por quilômetros para irem ao trabalho ou voltarem para casa por não suportarem o trânsito e o ônibus lotado. 

Todas essas experiências negativas eu vivi na pele, nasci em Itapecerica da Serra e diariamente percorri até a região de Santo Amaro, por anos, para trabalhar e estudar. 

Em 2010 comecei a trabalhar no Jardim Ângela, na EMEF Prof. Mário Marques de Oliveira e inúmeras vezes caminhei do “Menininha” até o “Jardim Capela” ou até o “Vila Calu”, cerca de 5 km, para pegar outro ônibus até em casa. 

Nos últimos anos, trabalhando a noite em uma EMEF no fundão da M’Boi, no bairro Vera Cruz, presenciei muitos estudantes trabalhadores chegando atrasados devido ao trânsito da M’Boi. 

A situação só não é pior porque há décadas moradores da região, organizados em movimentos e coletivos, vem se mobilizando e lutando por melhorias nessa via. 

Muitas dessas lutas foram incentivadas pelo nosso querido padre Jaime, que nos deixou em fevereiro de 2023. No dia 11 de agosto de 2023, promoveram mais uma mobilização. Centenas de trabalhadores da região caminharam do Jardim Capela até o Jardim Ângela com carro de som, faixas e cartazes cobrando dos governantes o início das obras.

As obras de duplicação da estrada do M’Boi Mirim e a extensão da linha de metrô do Capão Redondo até o Jardim Ângela foram prometidas em 2012 e 2011, respectivamente, mas uma década depois ainda não se concretizaram. 

Em vários momentos nesse período governadores e prefeitos divulgaram que as obras seriam realizadas, mas ficaram apenas na promessa.

Ano passado, poucos meses antes das eleições, o governador de São Paulo e o prefeito Ricardo Nunes fizeram o lançamento do início das obras de duplicação, mas assim que terminaram as eleições as obras foram paralisadas e não há nem sinal de ser retomada. Isso é um absurdo!

Transporte coletivo de qualidade e mobilidade urbana são direitos de todo cidadão. 

Já passou da hora do governador do estado e o prefeito da cidade de São Paulo ouvirem as manifestações da população da região do M’Boi que há décadas vem clamando por seus direitos. 

Palhaçaria negra: o humor como tecnologia de combate e celebração #14

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Quando você pensa na imagem de um palhaço, como ele é? Nesse episódio, falamos sobre o riso como instrumento para a reprodução de estereótipos, e também para a criação de novas formas de se fazer humor que contemplem as várias possibilidades de ser e existir.

O papo da vez foi com Valmir Sant’anna, ator, palhaço e integrante da Cia Trupe Liuds, e com Vanessa Rosa, artista do riso, educadora e criadora do Terreiros do Riso.

O Cena Rápida tem episódios novos quinzenalmente, sempre às quartas, disponivel gratuitamente no Google Podcasts, Spotify e Youtube.

Ficha técnica:
Roteiro, apresentação e entrevistas – Evelyn Vilhena
Distribuição – Samara da Silva e Thais Siqueira
Produção audiovisual – Pedro Oliveira
Identidade visual – Flávia Lopes
Vinheta e edição – Jonnas Rosa

População do M’Boi Mirim se mobiliza em ato pela duplicação da Estrada e extensão do metrô

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Estrada M'Boi Mirim - Foto: Imagens aéreas Drone@eng_etc_e_tal
Estrada M’Boi Mirim – Foto: Imagens aéreas Drone@eng_etc_e_tal

No próximo dia 11 de agosto, a população do M’Boi Mirim e territórios vizinhos se unirá em um ato histórico em defesa de duas importantes melhorias de transporte há muito prometidas, mas que ainda não se concretizaram: a duplicação da Estrada do M’Boi Mirim e a extensão da Linha 5 Lilás do Metrô até o Jardim Ângela.

Há mais de uma década, os moradores da região lutam pela duplicação da Estrada do M’Boi Mirim, uma promessa feita em 2011, pela gestão Kassab (PSD), que já se estendeu por anos sem qualquer avanço significativo. 

A licitação para a obra foi realizada pelo Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de São Paulo (DER/SP) em 08 de junho de 2022, mas desde então, poucos progressos foram notados, deixando os cidadãos frustrados com a demora e a falta de ação concreta. 

O que os munícipes viram até o momento foi somente faixas de agradecimento para coisa nenhuma.

Outro ponto crucial é a extensão da Linha 5 Lilás do metrô, que deveria ter chegado ao Jardim Ângela após seis anos de promessa feita em 2011, na então gestão José Serra (PSDB). No entanto, o tempo passou e já se completaram 12 anos sem que a tão esperada expansão se materializasse. 

A população local, cansada da falta de investimentos e melhorias no transporte público, está se organizando por meio do movimento SOS Transportes, em conjunto com outros movimentos sociais da região para cobrar o poder público pela falta de comprometimento com a pauta da mobilidade urbana no território.

O movimento está convocando todos os moradores do M’Boi Mirim e, especialmente, os moradores do chamado FUNDÃO, abrangendo bairros como Parque do Lago, Jardim Aracati, Vila Gilda, Jardim Capela, Jardim Vera Cruz, Jardim Jacira, entre outros, a participarem do ato em defesa destas obras, que afetam a qualidade de vida da população local.

A concentração está marcada para às 6 horas da manhã, em frente à Igreja Nossa Senhora do Guadalupe, localizada na Estrada do M’Boi Mirim, n° 10.080, ao lado da garagem do Ônibus Metrópole Paulista.

Além de cobrar ações imediatas das autoridades competentes, o movimento visa sensibilizar a opinião pública e destacar a importância da duplicação da Estrada do M’Boi Mirim e da extensão do Metrô para aliviar o congestionamento nas vias, melhorar a mobilidade e o acesso a locais essenciais, bem como promover um transporte público mais eficiente e sustentável para todos.

A população está determinada a fazer sua voz ser ouvida e garantir que essas demandas fundamentais finalmente se tornem realidade. 

Com a união dos cidadãos em prol dessas importantes melhorias de infraestrutura, a expectativa é de que as autoridades ajam de forma efetiva e ágil para atender às necessidades da comunidade local.

Morador cuida de horta comunitária que alimenta 200 famílias na zona leste de SP

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“Nunca faltou alimento por conta da terra”. É assim que João Tavares Maciel, conhecido no território como Seu João, 62, responsável pela horta orgânica do Cine Quebrada na Cohab Juscelino, na zona leste de São Paulo, lembra da infância em Pernambuco, estado onde nasceu.

Todos os dias, Seu João cuida da horta orgânica que fica na ocupação cultural Cine Quebrada. O plantio começou em 2020, para diminuir os impactos alimentares da pandemia de covid-19 na região. Atualmente, o corre do Cine Quebrada e do Seu João contribui na alimentação de 200 famílias da região.

Esse cuidado com a terra não é algo novo para Seu João. Ele recorda que, aos 10 anos, começou a ajudar o pai com o trabalho na roça, em Caruaru. “Ele dizia que não tinha nada para dar que iria agradar a não ser serviço e fartura de alimento”, relembra.

“Tinha tudo que você pode imaginar. Mandioca, batata, feijão, café, banana. Tudo isso a gente tirava da própria terra. Além de comer, também fazíamos doaçãoes”. Começava ali sua relação com a terra, enquanto ainda morava na região nordeste do país.

Vindo para São Paulo, na década de 1980, Seu João sentiu o impacto da diferença socioambiental entre as regiões. “Quando cheguei na capital foi um pouco difícil porque sempre trabalhei na roça, aqui [em São Paulo] fui trabalhar numa fábrica. Até para respirar o ar é diferente”, conta.

Após alguns anos de trabalho, Seu João conseguiu comprar uma casa no extremo leste da capital paulista, local onde buscou criar caminhos para se reaproximar da terra. Para isso, recebeu ajuda de um antigo chefe que pagou o terreno à vista, para que pudesse pagar parcelado.

“Planejei meu terreno para conseguir plantar. Tenho seriguela hoje de uma muda que plantei lá naquela época, por volta dos anos 1990. [Tem] 30 anos que tenho ela.”

Seu João, aposentado e cuidador da horta orgânica do Cine Quebrada

Quando chegou na Cohab Juscelino, em 1988, estava em curso a expansão habitacional na periferia da zona leste. As primeiras quebradas tomavam forma ali no território. Pai de três filhos, Seu João viu de perto as mudanças estruturais no bairro. 

“Antigamente a gente podia plantar bem em frente à nossa casa. Hoje em dia não tem tanto espaço, porém, muitas pessoas conseguiram moradia, isso é muito bom por um lado”

Seu João, aposentado e cuidador da horta orgânica do Cine Quebrada

Relação com a terra

Já em São Paulo, Seu João começou a cuidar das praças que haviam próximas da sua casa. Cuidados que mantém até hoje em dia. Varre, recolhe entulho e coloca placas para alertar sobre o despejo ilegal de lixos. Desde que chegou na capital paulista, a preservação do ambiente no entorno é algo comum para Seu João.

“Quando cuidamos dessas praças melhoramos o oxigênio. Isso é bom para o próprio morador. Pode estar 30 graus, perto de árvore você não sente calor. Isso é bom para o meio ambiente. Em Pernambuco, isso era 10 vezes melhor.”

Seu João, aposentado e cuidador da horta orgânica do Cine Quebrada

Os alimentos da horta do Cine Quebrada compõem diversas cestas básicas que o coletivo entrega para famílias do bairro. Doações financeiras e outros alimentos ajudam no complemento da cesta. Mutirões e trabalhos voluntários são feitos para organização e distribuição dos alimentos.

O espaço é administrado por moradores de forma coletiva, com algumas pessoas à frente das articulações. Além dos alimentos, o Cine Quebrada também promove diversas atividades culturais, como grupo de dança, disponibilização de biblioteca e exibição de filmes para crianças.

O acesso à alimentação a partir da horta, que fornece alimentos para a população no território, é um dos exemplos de mobilizações coletivas que atuam diretamente em demandas ligadas aos direitos humanos. Ações que também lidam com as mudanças climáticas, que, entre outros impactos, refletem no acesso e produção dos alimentos em territórios vulnerabilizados.

Uma das principais referências culturais na quebrada, o movimento tomou forma quando passou a ocupar uma escola estadual que foi abandonada pelo governo do estado. O local é tido como símbolo de resistência e luta na região.

Incomodado com o descaso do poder público com as demandas da região, seu João abraçou a ideia da ocupação. Ele é conhecido no Cine Quebrada pelo seu conhecimento com o plantio e a vontade de fazer diferença no território, onde se dispôs a cultivar no espaço.

Desde então eu cuido, varro, coloco placa avisando que não pode jogar lixo. Me sinto muito orgulhoso por cuidar da terra. Sinto felicidade por acordar cedo e ter disposição pra [cuidar da] natureza”, conta Seu João.

De segunda à sexta-feira a horta é cuidada por seu João. Pontualmente, às 7 horas da manhã começa o trabalho. Colhe os frutos maduros, planta outras mudas e limpa a horta. Ao longo da semana ele recebe ajuda de diversas pessoas que também se articulam para a continuidade das ações.

Racismo ambiental e mobilização territorial

Seu João destaca que ainda há problemas ambientais na quebrada, como uma pedreira ativa que fica no mesmo bairro e causa tremores nas casas. Além de enchentes na região.

“Quando alagou encheu a padaria, os apartamentos do térreo dos prédios, casas desabaram. Ali é terra, quando chove essa terra cai no rio. Se a terra cai para o rio, o que acontece? Impede o curso da água”, ele completa: “Isso por conta da prefeitura, eles nunca limparam. Vieram cuidar agora [depois das enchentes]. Quando cheguei na quebrada esse rio já existia”, aponta.

Seu João conta que, se pudesse, mandaria um recado sobre a questão ambiental no território. “Sr. Prefeito, precisamos melhorar o ar, o tempo, as praças públicas, precisamos cuidar das terras peladas que não tem um pé de árvore”, alerta.

Essa reportagem foi contemplada pelo edital Bolsas de Reportagem Justiça Climática – AJOR e iCS: Justiça Climática e o Enfrentamento ao Racismo Ambiental no Brasil”, promovido pela Ajor, Associação de Jornalismo Digital e o iCS, Instituto Clima e Sociedade, no âmbito do The Climate Justice Pilot Project.

Imagens destacam os impactos das violações de direitos humanos na Palestina

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Em julho de 2023, a jornalista Thais Siqueira representou a Coalizão de Mídias Periféricas, Faveladas, Quilombolas e Indígenas em uma importante missão internacional de direitos humanos na Palestina. Foram sete dias de intercâmbio com representantes de movimentos favelados, periféricos, negros e indígenas do Brasil, Colômbia e Equador, que participaram ativamente de encontros com coletivos e organizações sociais locais, visitas a lugares históricos e rodas de conversa em território palestino.

Durante a vigem, Thais Siqueira produziu imagens com o objetivo de retratar os efeitos do apartheid e do extermínio étnico e racial promovidos por Israel contra o povo palestino. Através das suas lentes, a jornalista mostra os destroços de conflitos políticos, econômicos e bélicos, bem como a presença do racismo ambiental no território Palestino, que perdura há cerca de 75 anos, impondo uma série de retirada de direitos sociais do povo palestino.

Bicicleta e casa incendiadas pelo exército israelense, na cidade de Turmus Ayya, em junho de 2023.

Foto: Thais Siqueira /Julho 2023.

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Muro do apartheid que separa Jerusalém do campo de refugiados de Aida.

Foto: Thais Siqueira /Julho 2023.

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Visita da delegação na casa incendiada pelo exercito israelense , em junho de 2023, na cidade de Turmus Ayya.

Foto: Thais Siqueira/Julho 2023.

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Casa incendiada pelo exercito israelense em junho de 2023, na cidade de Turmus Ayya.

Foto: Thais Siqueira/Julho 2023.

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Família do jovem, Omar Hisham Abu Kuten Al-Jibara, morto pelo exercito de Israel, ao tentar socorrer uma senhora ferida por ataques de colonos na cidade de Turmus Ayya, em junho de 2023.

Foto: Thais Siqueira /Julho 2023.

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Caveirão israelense no território palestino.

Foto: Thais Siqueira /Julho 2023.

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Cidade de Sinjil ao nortedeste de Ramallah, fechada pelo exercito israelense em 05 de julho, 2023.

Foto: Thais Siqueira /Julho 2023.

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Homenagem a Aboud Shadi, criança palestina de 13 anos, assassinada pelo exercito Israelense no Campo de refugiados de Aida.

Foto: Thais Siqueira /Julho 2023.

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Criança palestina em frente a caverna histórica restaurada de Masafer Yatta, que será seu novo lar, devido as demolições das casas ordenadas pelo governo de Israel.

Foto: Thais Siqueira /Julho 2023.

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Crianças beduínas ameaçadas de despejo no Vale do Jordão.

Foto: Thais Siqueira /Julho 2023.

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Crianças palestinas na porta de uma das cavernas histórica de Masafer Yatta.

Foto: Thais Siqueira /Julho 2023.

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Criança palestina correndo pelas ruas da cidade de Hebrom.

Foto: Thais Siqueira /Julho 2023.

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Criança palestina avistando o horizonte, em cima de sua bicicleta, pensativa sobre o futuro em Masafer Yatta, sul da Cisjordânia.

Foto: Thais Siqueira /Julho 2023.

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Crianças palestinas sentadas na porta de uma das cavernas históricas restauradas em Masafer Yatta, Cisjordânia.

Foto: Thais Siqueira /Julho 2023.

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Criança palestina da janela de uma das casas condenadas a destruição pelo governo de Israel em Masafer Yatta.

Foto: Thais Siqueira /Julho 2023.

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Criança palestina em Masafer Yatta observando a situação onde mora.

Foto: Thais Siqueira /Julho 2023.

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Grupo Sumoud na caverna histórica restaurada em Masafer Yatta.

Foto: Thais Siqueira /Julho 2023.

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Estrada de fora do muro que liga cidades de Ramallah, Jerusalém, Belém e Hebrom, fechada pelo exercito israelense.

Foto: Thais Siqueira /Julho 2023.

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Exército israelense armado em estradas palestinas.

Foto: Thais Siqueira/Julho 2023.

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Cidade de Sinjil ao nortedeste de Ramallah, fechada pelo exército israelense em 05 de julho, 2023.

Foto: Thais Siqueira /Julho 2023.

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Uma das entradas para a rua Al Shuhada (mártires em árabe), fechada na cidade de Hebrom, Cisjordânia.

Foto: Thais Siqueira/Julho 2023.

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Na cidade de Hebrom, território palestino, soldados israelenses seguem e passam a considerar a delegação como ameaça, ao avistarem dois colonos descendo pela mesma rua que a delegação.

Foto: Thais Siqueira/Julho 2023.

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Rua Al Shuhada (mártires em árabe), na cidade histórica de Hebrom, na qual, os palestinos são proibidos pelos colonos de caminhar.

Foto: Thais Siqueira/Julho 2023.

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Uma das dezenas de postos de controle israelenses em território palestino.

Foto: Thais Siqueira/Julho 2023.

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Ponto de controle do exército israelense na cidade de Hebrom, próximo a rua Al Shuhada (mártires em árabe), onde os palestinos são proibidos pelos colonos de transitar.

Foto: Thais Siqueira /Julho 2023.

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Local de confronto entre jovens palestinos e exército israelense em Hebrom.

Foto: Thais Siqueira /Julho 2023.

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No campo de refugiados de Aida, delegação visita o muro com nome dos mártires (palestinos mortos), por ataques israelenses contra Gaza em 2014.

Foto: Thais Siqueira /Julho 2023.

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Encontro com a comunidade negra palestina na cidade histórica de Jerusalém.

Foto: Thais Siqueira /Julho 2023.

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Encontro da delegação com Grupo Sumoud na caverna histórica restaurada em Masafer Yatta.

Foto: Thais Siqueira /Julho 2023.

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Encontro da delegação com beduíno no Vale do Jordão.

Foto: Thais Siqueira /Julho 2023.

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Ao visitar locais que transcendem as crenças religiosas, é possível compreender de perto as desigualdades sociais que atravessam o cotidiano do povo palestino. Criado em 1950 na Cisjordânia, na cidade de Belém, o campo de refugiados de Aida, é um exemplo representativo deste contexto. São mais de 5.500 palestinos vivendo neste território, considerado um gueto, isolado da área de Jerusalém por um muro e dois grandes assentamentos restritos para israelenses. 

A falta de água também é um problema estrutural, estando disponível apenas uma vez por semana. Em alguns territórios, há semelhanças de situações do cotidiano das periferias e favelas no Brasil. 

As mortes da juventude palestina também chama atenção, devido ao extermínio que a juventude preta e periférica enfrenta no Brasil. De acordo com os dados fornecidos pela organização Defense for Children International – Palestina (DCI), entre os anos de 2000 e 2023, foram registradas 2.280 mortes de jovens palestinos menores de idade em decorrência da ocupação e presença de militares israelenses. Vale ressaltar que esses dados estão em constante mudança, sendo atualizados mensalmente.

Neste cenário, os registros fotográficos buscam promover uma reflexão sobre o impacto do sionismo, movimento político que defende a construção de um país dedicado a acolher a população judaica, por meio da ocupação do território palestino. Tais ações vem sendo colocadas em prática pelo governo de Israel, gerando uma série de  violações de direitos humanos contra o povo palestino.

“A gente conseguiu as obras”: Líder comunitária relata como enfrentou deslizamentos de terras nas favelas do Butantã 

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Imagine São Paulo como um lugar cercado por rios e árvores frutíferas, onde você poderia nadar em riachos próximos da sua casa, pegar água em minas e ver o céu estrelado ao anoitecer. Foi nessa paisagem afetada por deslizamentos de terras que a líder comunitária Claudete Cordeiro dos Santos desembarcou aos 8 anos, em 1979, com familiares no Jardim D’abril II, bairro localizado no distrito do Rio Pequeno, zona oeste de São Paulo. 

A viagem não foi curta: nascida em Pernambuco, em 1971, a pequena Claudete ainda morou na cidade de Presidente Prudente, até migrar definitivamente para o Jardim D’abril II, de onde nunca saiu. “A favela onde a gente mora tinha poucas casas, era bem mais organizada. Fui criada comendo fruta no pé, tivemos esse privilégio, essa infância boa”, relembra.

Segundo Claudete, o solo do Jardim D’abril II é fértil permite o plantio de vários tipos de frutas e legumes. “Aqui tudo que você plantar dá. Dentro da comunidade a gente tinha abóbora, chuchu, manga, amora, ameixa, tinha todo tipo de fruta. A gente tinha uma relação muito boa com a natureza”, relata.

A favela Jardim D’abril II cresceu mesmo sob o risco dos deslizamentos nos anos 1990. Foto: Pedro Oliveira/Junho 2023

Enfrentando os deslizamentos de terras

O convívio com eventos climáticos extremos, como os deslizamentos de terras causados por fortes chuvas, faz parte da trajetória de vida da líder comunitária do Jardim D´abril II. Desde cedo, ela teve que lidar com os riscos de deslizamentos em seu território, medo que aumentava constantemente ao cair das primeiras gotas de chuva. 

Durante os anos de 1990, foram retiradas inúmeras famílias do Jardim D´Abril II, algumas levadas para ocupar a COHAB Raposo Tavares, mas outras, receberam apenas o provisório auxílio aluguel, para conseguir outro imóvel para morar.

No mês de fevereiro de 1995, a cidade de São Paulo registrou o segundo maior volume de chuvas da história, alcançando 445,5 milímetros no mês, segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia. Nesta época, a líder comunitária estava se organizando para cobrar prefeitos e vereadores de São Paulo, para urbanizar o bairro e reduzir os riscos de deslizamentos de terras.

Claudete conta que o momento em que a situação chegou ao seu estado mais grave foi durante a gestão do ex-prefeito Celso Pitta (1997-2001), na qual houve uma ordem de despejo para famílias que habitavam mais de 10 comunidades do distrito do Rio Pequeno, zona oeste da cidade, devido ao aumento de deslizamentos de terras no território.

“Juntou eu mais um grupo de mulheres e começamos a fazer um movimento questionando: se vai tirar a gente, vai colocar onde? Como você despeja uma comunidade com mais de 50 anos sem dizer para onde as pessoas vão? Eram as grandes favelas do Butantã”

Claudete Cordeiro, moradora do Jardim D´Abril, zona oeste de São Paulo

Além dos deslizamentos de terras e fortes chuvas, durante a gestão do prefeito Celso Pitta, a cidade de São Paulo registrou a quinta maior temperatura da história. Os termômetros marcaram 37º C em 1999.

No início da gestão da ex-prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, em 2002, Claudete conta que o trabalho de diálogo com vereadores e prefeitos deu resultado. “A gente conseguiu a concessão do uso do solo e com isso foi possível fazer grandes obras no território. Foi nesse momento que criamos a Associação de Moradores da Comunidade Jardim D’abril II”, explica a líder comunitária.

A criação da organização foi a primeira vitória de um trabalho que, a partir de então, conseguiu não só as obras necessárias para evitar novos deslizamentos na favela do Jardim D’abril II, mas também a construção de uma praça no território. Apesar disso, Claudete vê que ainda faltam muitas coisas para melhorar a vida dos moradores.

“O legado que eu vou deixar aqui é das pessoas morarem aqui e não caírem, porque a gente conseguiu todas as obras nesse terreno”

Claudete Cordeiro, líder comunitária do Jardim D´Abril II

Articulação política

Claudete foi responsável pela construção da Praça Tomas Coelho de Almeida. Foto: Pedro Oliveira/Junho 2023

Os anos de experiência enquanto líder comunitária deram à Claudete a possibilidade de transitar com facilidade pelos gabinetes dos vereadores, dialogando com líderes de várias vertentes políticas, desde que interessados em contribuir com a comunidade.

“Eles não estão fazendo nada que não seja o dever deles. Se eu não conseguir a emenda que eu preciso para a comunidade com um, eu tento com o outro. Nós estamos aqui em prol de uma causa só”, afirma Claudete, defendendo uma posição política de não se fechar para o diálogo, quando o assunto é melhorias para as condições de vida para os moradores do Jardim D´Abril II.

Entre as vitórias e derrotas dessa luta de 3 décadas, ao menos um dos sonhos de Claudete está mais próximo: a construção da sede da sua associação, que tem previsão para ser entregue até o início de 2024. O espaço será comunitário e ao lado da praça, ampliando as possibilidades de lazer e cultura no bairro.

Para a líder comunitária do Jardim D’abril II, o segredo do trabalho está enraizado no processo de aprender com as pessoas que vieram antes dela e lhe ensinaram a construir o futuro para o território.

“Para ser liderança, eu aprendi com outras lideranças, que faziam o mesmo trabalho que eu, só que de forma diferente na época. É isso que eu quero passar para os mais novos. Vocês podem ver o que eu faço, mas tem que olhar mais adiante”, finaliza.

Essa reportagem foi contemplada pelo edital Bolsas de Reportagem Justiça Climática – AJOR e iCS: Justiça Climática e o Enfrentamento ao Racismo Ambiental no Brasil”, promovido pela Ajor, Associação de Jornalismo Digital e o iCS, Instituto Clima e Sociedade, no âmbito do The Climate Justice Pilot Project. 

Empreendedorismo ancestral: Mulheres negras resgatam ancestralidade através da música 

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Cantoras como Elza Soares, Dona Ivone Lara, Margareth Menezes, Sandra de Sá, Leci Brandão, entre outras, se destacaram e resistiram aos desafios através da arte, numa época onde o racismo trazia maior invisibilidade e preconceito aos corpos e talentos de mulheres negras. Por meio da música e suas trajetórias de vida, essas artistas têm sido uma inspiração para que outras mulheres negras possam compreender e reconhecer sua negritude, ancestralidade e liberdade.

Inspiradas por essas cantoras, Luana Bayô e Susi Nascimento, duas mulheres negras da periferia de São Paulo, encontraram na música uma maneira de descobrir sua potência e quebrar barreiras para conquistar o sonho de viver da arte. Luana Bayô, 35 anos, moradora do Campo Limpo, possui uma carreira de 20 anos como cantora e enfatiza a importância de destacar mais mulheres negras no cenário musical, trazendo suas vozes e experiências para o centro.

Foto de Luana Bayo
Cantora, Luana Bayô. Foto: Pedro Oliveira/Junho 2023

“Tem um monte de cantora preta maravilhosa, mas o sistema quer que só suba uma para representar todo mundo, e não dá para representar todo mundo […] a gente quer que uma suba, mas a gente quer trazer outras também, precisa que tenham outras. E cada uma vai ter o seu o seu jeito de ser, mesmo todas sendo do samba, porque nesse universo branco isso acontece, tem várias, por que em relação às pessoas pretas não podem ter várias?”

Luana Bayô, cantora e compositora

Com 54 anos, Susi Nascimento é uma compositora talentosa, suas  melodias refletem suas vivências e perspectivas únicas. Ela ressalta a relevância de espaços como a Casa Delas, localizada na periferia da Cidade Ademar, zona sul de São Paulo, que, em 2022, auxiliou no seu processo de se reconhecer como artista. Para Suzi, projetos como esse, valorizam a produção musical das mulheres negras, proporcionando um ambiente acolhedor e propício ao crescimento artístico.

Cantora, Susi Nascimento. Foto: Pedro Oliveira/Junho 2023

“Espaços como esse, é muito importante para mulher preta e periférica, para quem quer realmente encontrar o seu caminho e colocar para fora a sua arte, seja ela qual for, principalmente a arte de cantar, porque foi através desse espaço que eu consegui gravar duas músicas autorais”

Susi Nascimento, cantora e compositora

Gabriela Francisco, produtora cultural do espaço Casa Delas, chama a atenção para a urgência de quebrar o ciclo de invisibilidade enfrentado pelas artistas negras. Muitas vezes, essas mulheres precisam se dedicar a outras ocupações para se manterem, ao mesmo tempo em que buscam o sonho de viver da música. Para ela, o caminho trilhado por mulheres como Luana Bayô e Susi Nascimento, assim como o legado deixado por cantoras negras icônicas, evidencia a importância da música como um instrumento poderoso de resistência, empoderamento e transformação social.

Gabriela Francisco, produtora cultural. Foto: Pedro Oliveira/Junho 2023

“Quando pensamos nessas mulheres artistas, mulheres produtoras, a gente tem que pensar primeiro no cenário social, investimento na arte periférica, nas produções periféricas, que vai ressurgir e repercutir diretamente nessas mulheres e esse protagonismo”

Gabriela Francisco, produtora cultural