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8° edição do Você Repórter da Periferia oferece vagas para jovens das periferias

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Com duração de sete meses, a formação une técnicas do jornalismo e vivências em campo nas periferias. As inscrições acontecem até 01 de abril.

O Você Repórter da Periferia, programa de formação em jornalismo, está com inscrições abertas até o dia 01 de abril para sua 8° edição. Com oficinas teóricas e práticas realizadas entre os meses de abril a dezembro, a formação é gratuita e voltada para jovens de 16 a 25 anos, de regiões periféricas da cidade e região metropolitana de São Paulo.

Para participar, os jovens podem ou não estar estudando – concluintes ou estudantes do ensino médio e também podem ser universitários que estejam cursando o 1º ano do ensino superior de qualquer curso na área da comunicação.

As inscrições podem ser realizadas até o dia 01 de abril, clicando aqui.

A formação é dividida em duas fases: teórica, período em que os jovens participam de oficinas como videorreportagem e técnicas de entrevista, com aulas aos sábados na redação do Desenrola e Não Me Enrola, localizada no Jardim Ângela, zona sul de São Paulo; e a fase prática, momento no qual passam a produzir conteúdos sobre ações e movimentos culturais de diferentes territórios periféricos.

Realizado desde 2013 pelo veículo de jornalismo periférico Desenrola e Não Me Enrola, essa edição irá contemplar 20 jovens periféricos que além da alimentação durante todos os encontros, também irão receber um auxílio transporte para o deslocamento nas oficinas teóricas e práticas.

Homenageado em cordão carnavalesco, Elisbão do Cavaco relembra trajetória no samba

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Elisbão do Cavaco é o nome artístico pelo qual Elisbão Ruy Alves, 69, ficou conhecido na música. Nascido em fevereiro, mês do carnaval, em 2024, foi o homenageado pelo cordão carnavalesco do Samba do Congo, que atua na região da zona norte de São Paulo. 

“Falaram [Samba do Congo]: ‘podemos homenagear você mestre?’. Aí eu falei: ‘putz eu?’. ‘[Eles disseram] sim, você tem o hino da Vai-Vai, é um cara do nosso pedaço, já está quase 50 anos aqui na Brasilândia, na Freguesia, sempre vem dar um apoio para nós, então vamos te homenagear, vai sair a marchinha do Congo em sua homenagem’. Aí eu falei tudo bem”, conta Elisbão sobre o convite.

Registros de Elisbão no desfile do cordão carnavalesco do Samba do Congo de 2024, em que foi homenageado. (Foto: arquivo pessoal)

Nascido no distrito do Tucuruvi, em São Paulo, o sambista se mudou para a região da Freguesia do Ó, zona norte da cidade, em 1977, onde vive até hoje com a sua esposa, Isabel Alves, no bairro Guaibim. É nesse território que ele se aproxima do Samba do Congo.

O contato com o samba começou cedo, e em 1971, Elisbão passou a fazer parte da ala de compositores da Vai-Vai, logo no período em que agremiação fez a transição do cordão de carnaval para escola de samba. “Eu não fui fundador [da ala de compositores], mas sou um dos primeiros a participar. Naquela época já tinha o Zé Di, Abate, Fernando Penteado, Odair Fala Macio, Osvaldinho da Cuíca”, relembra Elisbão, que cita os compositores que vieram antes e fundaram a ala na escola.

Desde essa época, Elisbão conta que já foram quase 50 músicas feitas, geralmente com parcerias. Além de compositor, ele também toca diversos instrumentos, como cavaquinho, violão, bandolim, sanfona, piano, violino, entre outros, e boa parte deles aprendeu sozinho.

Formado como técnico de contabilidade e graduado em administração, foi como contador que Elisbão passou a atuar profissionalmente e se aposentou em 2019. “É mais pela paixão de você gostar da música. Não pelo dinheiro”, conta o sambista, que ainda toca em alguns barzinhos e rodas de samba da região em que mora na zona norte de São Paulo.

Raízes

Foi no piano do pai, Valdomiro Alves, com 5 anos, que Elisbão começou a tocar as primeiras notas. Aos 6 anos aprendeu a tocar sanfona, e depois, em semanas, já sabia tocar violão também. 

“Meu tio Alípio sempre vinha para as festas de natal e ano novo, [ele] sentava depois do almoço [e tocava]. Ele tinha um cavaquinho de oito cordas, [que] era raro. Eu falava sempre pra ele: ‘oh tio, quando o senhor morrer eu vou querer esse cavaquinho’. Ele veio a falecer [e] passou o cavaquinho para mim, aí eu comecei no cavaquinho”, recorda Elisbão sobre os primeiros contatos com o cavaquinho através do tio, por volta dos 14 anos de idade.

Nessa época, o sambista e compositor conciliava os estudos da música com o encerramento do curso técnico de contabilidade. Ele estava prestes a entrar na faculdade, quando, a convite do irmão, Tadeu da Mazzei, passou a frequentar a Vai-Vai. Impulsionado pelo irmão, Elisbão começou a compor samba-enredo na escola, e a partir daí permaneceu na agremiação até 1984.

“Você tinha que ir se apresentar e fazer a lição de casa, que era fazer dois sambas”, menciona sobre a seleção para fazer parte da ala de compositores da Vai-Vai. Elisbão conta que uma composição tinha que ser sobre a escola e a outra um samba de quadra, um partido alto com temática livre. “Depois de passar nesse vestibular do samba você tinha o direito de começar a compor samba-enredo na escola”, recorda.

Parte da ala de compositores da Vai-Vai, de 1978: Osvaldinho da Cuíca, Galo, Maquito e Elisbão do Cavaco . (Foto: arquivo pessoal)
Elisbão em uma propaganda de loja de departamento na década de 1970 (Foto: arquivo pessoal)

“Eu cheguei várias vezes em segundo lugar, até que um dia em 1984, nós conseguimos o objetivo maior que é a escola sair com seu samba-enredo na avenida”, conta. 

O sambista cita que o maior desafio, mas também a maior conquista de sua carreira como compositor foi ganhar a disputa de samba-enredo da Vai-Vai. Disputa que conquistou com a canção ‘O sol da onça caetana ou Miragens do sertão’. 

A conquista foi no mesmo ano em que se desligou da agremiação para dar conta de outras demandas. “A escola de samba estava ocupando [muito tempo], aí você tem outros afazeres, outro pensamento. Os filhos vão crescendo”, mas ainda assim a Vai-Vai segue como a escola de samba do seu coração.

Autorreconhecimento através do samba

Quando começou a participar de festivais com o grupo Poeira Pura, que fundou junto com seis amigos, em 1974, foi que Elisbão passou a se reconhecer como músico. “O Poeira Pura era como se fosse o Fundo de Quintal aqui de São Paulo, mas só que a gente não queria levar nada sério. Onde a gente ia tinha um monte de pessoas que acompanhavam a gente”, comenta. No entanto, o compositor nunca enxergou a carreira de sambista como possibilidade de profissão. 

Elisbão conta que reconheceu seu próprio valor na música através do retorno das pessoas que consideram e reconhecem os seus feitos como artista. “Olha, nem pensei que eu tinha tanto valor assim”, diz ele enquanto sorri.

A trajetória do sambista foi reverenciada no carnaval de 2024, pelo cordão carnavalesco do Samba do Congo, que escolheu Elisbão como o homenageado do ano.

“Eu chorei tanto, fiquei tão emocionado. Todo mundo na janela olhando, batendo palma, jogando serpentina, confete e o samba exaltando meu nome toda hora, você fica extasiado”

Elisbão do Cavaco
Elisbão do Cavaco é frequentador das rodas de samba do Samba do Congo. (Foto Viviane Lima)

Essa não foi a primeira vez que Elisbão foi homenageado pelo Samba do Congo. Em 2019, o sambista recebeu uma honraria em uma festa de confraternização organizada pelo grupo, “fizeram a camisa com o meu rosto”, ele menciona. Essa festa é realizada todo fim de ano pelo Samba do Congo e mistura o samba e o rap. 

“Agora estou só no projeto, aposentado. De vez em quando, a gente fica aqui, nós temos o clube [de futebol] aqui embaixo. O pessoal joga bola e todo domingo depois do meio-dia até às 2 horas da tarde, eles fazem um churrasquinho e tem samba, o samba do Araras”, conta Elisbão sobre sua atuação atualmente.

O sambista ainda toca, mas já não compõe. Está aproveitando a aposentadoria e a família, que também é envolvida com o samba. Apesar de não participar de nenhum grupo ou projeto oficialmente, hoje incentiva a nova geração que o cerca “para que eles continuem e não deixem o samba morrer”, finaliza.

Rede de apoio

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Mais um ano estamos por aqui. Após as festas de fim de ano e carnaval, voltamos a nossa rotina. E nesse espaço de tempo, nós, mães, sabemos muito bem a loucura que sempre são as férias escolares. 

Mães que precisam trabalhar e mesmo que seja em home office tem que se desdobrar para poder atender a toda demanda que precisa com a criança em casa e todos os outros compromissos.

Como é bom poder ter com quem contar e aquela rede de apoio para nos fortalecer, seja para trabalhar ou para curtir e descansar um pouco. Infelizmente essa não é a realidade de muitas mães (quem dera todas pudessem ter). 

Não ter com quem deixar as crianças, às vezes por questões financeiras, dentre tantas outras questões, é frustrante.

Tantas mães que sigo nas redes sociais e observei o dia a dia delas sendo mostrado e as dificuldades enfrentadas nesse período. Nossa luta em se desdobrar para fazer acontecer mil coisas ao mesmo tempo. 

Quero que a galera pense sobre essa mensagem que deixo aqui hoje. Se você consegue, fortaleça ela nesse corre, se você consegue fortalecer para ela trabalhar, descansar, curtir, porque não fazer?

Seja esse apoio que ela tanto precisa.

Com a volta às aulas, a correria continua tentando intercalar entre horários escolares, horários de trabalho e afazeres. 

Meu máximo respeito a essas mulheres potentes que fazem tantas coisas acontecerem, mesmo diante de tantas lutas.

Lembre-se: mães não precisam de julgamentos, elas precisam é de rede de apoio!

Casas do Norte contribuem no resgate cultural da identidade nordestina nas periferias

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Empório Casa do Norte São Francisco

Entre um cliente e outro, Rita Queiroz, 55, conta como seu comércio, que vende produtos regionais, a aproxima do território que nasceu e viveu parte da infância. “[Ter uma casa do norte] me aproxima [das minhas origens], porque eu vim de lá criança, vivo aqui há muitos anos, mas nunca me esqueci de lá”, comenta. Rita nasceu na cidade de São Miguel, no Rio Grande do Norte, e chegou em São Paulo aos 13 anos, junto com os pais que se mudaram em busca de emprego.

Rita Queiroz é natural do Rio Grande do Norte e dona do Empório Casa do Norte São Francisco. (foto: Viviane Lima)

Atualmente, Rita mora no bairro Jardim Soraia, localizado no distrito do Capão Redondo, zona sul de São Paulo. A comerciante sempre trabalhou com vendas e, em 2020, decidiu abrir uma Casa do Norte, na mesma região onde mora, após seu marido, Luiz Fernandes, 54, que trabalhava em um restaurante, ter ficado desempregado durante a pandemia da covid-19.

“Foi um momento difícil, mas a gente [tem] aquela coisa de nordestino, né, [que] sempre corre atrás e não desiste”, diz Rita. Luiz também é nordestino, natural da cidade de Cariré, no Ceará.

Empório Casa do Norte São Francisco. (foto: Viviane Lima)

Rita afirma que a maior parte de seus clientes são pessoas que também se mudaram de algum estado do nordeste para São Paulo. “A maioria dos nordestinos estão nessa área também”, aponta a comerciante se referindo às periferias.

A carne de jabá é um dos produtos tipicamente nordestinos que faz parte do Empório Casa do Norte São Francisco. (foto: Viviane Lima)

De acordo com o censo de 2010, cerca de 2,3 milhões de pessoas que vivem nas periferias de São Paulo, têm como local de origem a região nordeste do país. Desde então, há um intervalo de 13 anos no levantamento desses dados e, provavelmente, houveram mudanças nesse cenário.

Empório do Nordeste

A Empório do Nordeste existe desde 1991, no bairro Jardim Santa Tereza, em Embu das Artes, região metropolitana de São Paulo. A princípio o comércio era chamado tradicionalmente de Casa do Norte e foi criado por Sebastiana Lopes, 67, e Francisco de Araújo, 72. Os dois mudaram de Natal, capital do Rio Grande do Norte, para São Paulo, em meados de 1975 em busca de oportunidades. 

A loja Empório do Nordeste foi criada e está há duas gerações na família de Fabiana Lopes. (foto: Viviane Lima)

“São pessoas muito honestas e vieram bem de baixo mesmo. O que eles têm foi fruto de muito trabalho”, coloca Fabiana Lopes, 40, filha do casal, que em 2016 passou a administrar a loja. Fabiana nasceu em São Paulo, e conta que cresceu nessa casa do norte junto com os pais. “Desde os 7 anos já estou infiltrada no comércio, cresci aqui”, comenta.

Fabiana Lopes administra a loja desde 2016. (foto: Viviane Lima)

Fabiana relata que, embora não tenha nascido na região nordeste, criou um vínculo com o território através dos pais. “Eles me incentivaram a consumir todos os produtos para experimentar”. Ela menciona que muitos dos saberes que têm sobre os produtos típicos vieram daí, dos ensinamentos através dos seus pais.

Empório do Nordeste existe desde 1991, no bairro Jardim Santa Tereza, em Embu das Artes. (foto: Viviane Lima)

A comerciante mora em Taboão da Serra, na região metropolitana de São Paulo, é formada em gestão comercial e administração de empresas, tem um filho e é casada. 

Ela fala que os pais vieram do nordeste com o conhecimento sobre os produtos típicos da região em mente, mas não foi de imediato que eles montaram um comércio. “Eles vieram e foram trabalhar em empresas. E aí conseguiram juntar um capital para montar essa loja aqui em Embu das Artes”. Atualmente os pais de Fabiana, que vivem em São Paulo, são aposentados e passaram o empreendimento para a filha.

“Quando os meus pais começaram 100% dos clientes eram nordestinos, agora está bem dividido, [pois] a culinária nordestina está sendo consumida por todas as pessoas”, coloca. Fabiana conta que a carne seca e o requeijão são os produtos mais procurados na loja, mas que a campeã de venda é a farinha de mandioca.

A farinha de mandioca é o produto mais vendido no Empório do Nordeste. (foto: Viviane Lima)

Casa do Norte Varejão Nobre

Flaviano Pereira, 32, conhecido como Flávio, é subgerente de um supermercado e morador do distrito da Brasilândia. Na mesma região, no bairro Terezinha, ele, junto com Tamires Moreira, 36, sua esposa, administram a Casa do Norte Varejão Nobre.

A Casa do Norte Varejão Nobre fica no bairro Terezinha, distrito da Brasilândia. (foto: Viviane Lima)

“Na região não tinha e aqui é um bairro criado por nordestinos, eu achei uma oportunidade de ganhar dinheiro e montei a Casa do Norte”, conta Flávio sobre a abertura do comércio em 2021. Flávio é da cidade de Boa Viagem, no Ceará, e Tamires é natural do Rio Grande do Norte, do município de Alexandria.

Casa do Norte Varejão Nobre. (foto: Viviane Lima)

Manteiga de garrafa, bolo de rolo, castanha de caju no tacho, bolacha, charque, carne seca, cuscuz e requeijão são alguns dos produtos que fazem parte da loja. Segundo Flávio, o item mais procurado é a farinha de mandioca.

O comerciante conta que, em média, 80% dos seus clientes são nordestinos. “Porém tem os filhos dos nordestinos que são nossos clientes também”. O comerciante diz que o hábito de consumo de produtos nordestinos é algo que, geralmente, se passa de pais para filhos.

Bolo de rolo típico do estado de Pernambuco. (foto: Viviane Lima)

Flávio menciona que toda a família dele é do nordeste. Ele está em São Paulo desde 2003, mas pretende voltar para o seu lugar de origem. “A vida é assim, tem que trabalhar enquanto é novo, achei uma oportunidade de ganhar dinheiro aqui em São Paulo, por isso que eu estou aqui, mas pretendo um dia morar lá.”

Flávio é da cidade de Boa Viagem, no Ceará, e veio para São Paulo em 2003 para trabalhar. (foto: Viviane Lima)

Flávio conta que tem uma suposição sobre o porquê das Casas do Norte não se chamarem Casas do Nordeste, já que grande parte dos produtos comercializados são dessa região: “Eu acho que [é porque] a sigla é mais fácil de pronunciar do que Nordestino, por isso fica Casa do Norte e aí virou uma marca”, compartilha.

Baiana mais antiga do Carnaval de Porto Alegre, dona Nicolina festeja: “tenho alma de guriazinha”

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Em frente a uma casa verde e cheia de plantas, no bairro Santa Isabel, em Viamão, região metropolitana de Porto Alegre (RS), uma senhora sentada em uma cadeira de balanço nos olha chegar. Vestida com a camiseta do desfile da Portela deste ano escrita Um defeito de Cor, um turbante azul com miçangas e brincos azuis do mesmo tom, ela abre um sorriso imediato. Antes de entrar pela porta, uma placa de madeira no canto direito anuncia: recanto da Nicolina.

A sala de sua casa é um álbum de fotografias em aberto. De um lado, uma parede inteira com registros da família. Entre eles, várias fotografias de Nicolina Franco Gonçalves da Silva, de 93 anos, no complexo do Porto Seco, sambódromo do Carnaval de Porto Alegre, rodando como baiana, em diferentes fantasias. São pelos menos 45 anos assumindo o que é para ela, sua atuação preferida na vida: ser baiana na sua escola de coração, Unidos de Vila Isabel. Hoje, ela não é apenas referência da própria escola, mas de todo o Carnaval da capital gaúcha, pois ocupa o reconhecimento de ser a baiana mais antiga em atividade. Na quadra, ela é considerada rainha.

As escolas de samba como as conhecemos em Porto Alegre surgiram a partir dos anos 1960. Com a crescente adesão do público aos coretos, locais por onde passavam os desfiles, –  e há registro de 10 mil pessoas na década de 1970 -, a relação entre foliões, prefeitura e iniciativa privada se estreitou. Visualizando o potencial lucrativo do evento, a dualidade público-privada passou a ditar as condições para o Carnaval acontecer, em um processo que se inspirou no modelo carioca, tanto na estética dos desfiles  – sob a liderança da Academia de Samba Praiana, que desfilou pela primeira vez em 1961 nos moldes de uma escola de samba – quanto na logística.

Algumas fotos do álbum de arquivo pessoal de Dona Nicolina espalhadas em sua sala. Foto: Isabelle Rieger/Fevereiro 2024.

Quando chegou na Capital, Nicolina já demonstrava o espírito que a acompanha toda vida: festa, para ela, é compromisso sério. “Eu era solteira. Vinha para o carnaval do Bairro Santana, fugindo das minhas irmãs. Que vergonha!”, conta rindo. “Eu gosto de ver o fim das festas. É brabo quando a gente gosta de algo, não é?”. Em 1979, tornou-se uma das primeiras baianas da Vila Isabel. Ela viu a escola nascer, no bairro de Guarapari, em Viamão, quando ainda fazia parte dos chamados “cordões dos interiores”, escolas que não pertenciam ao grupo especial do Carnaval porto-alegrense.

Amor e dedicação

“Eu me realizo vestida de baiana”, conta. Até poucos anos atrás, ela desfilava em quatro escolas na mesma noite. Terminava um desfile, ia para o barracão, mudava de roupa, e entrava de novo na avenida. Isso acontecia, principalmente, nos anos 90, quando conheceu um grupo de baianas independentes, foliãs que não tinham uma escola fixa e supriam as necessidades das agremiações. Já saiu na Embaixadores do Samba, no Bambas da Orgia, na Imperadores do Samba, na Acadêmicos da Orgia, e até mesmo na Praiana, a escola mais antiga do Carnaval de Porto Alegre. E sempre de Baiana – nunca desfilou em outra ala. “Nesses anos que ela desfilava em várias escolas, era meio dia e ela não tinha chegado ainda”, conta a filha Neide da Costa. Já a filha Nara da Costa lembra que nessa época as próprias baianas faziam as fantasias.

Para Iara Cabana, costureira da Vila Isabel, o que emociona na baluarte da escola é a disposição. “Ela é a referência maior dentro da Vila Isabel, do mais velho ao mais novo. Dá uma emoção na gente, porque em 45 anos, ela é sempre a mesma”, conta Iara, uma das pessoas que também presenciou a fundação da escola. “Eu digo que quando crescer eu quero ser como ela.” A empolgação da baiana está em todas as etapas, inclusive na confecção de fantasias. “Quando ela era mais nova, vinha a minha casa ver se os figurinos estavam de acordo. Ela era sempre a primeira a experimentar a roupa. Se olhava no espelho, toda faceira.

O presidente da Vila Isabel, Jorge Corrêa, explica que Dona Nicolina faz parte de uma tradição na comunidade.

“Ela tem uma grande relevância na nossa cultura popular sendo a baiana mais antiga da capital”.

enfatiza, Jorge Corrêa.

As memórias que a envolvem na quadra sempre falam de movimento: a baiana ajudava a confeccionar fantasias, arrecadava pessoas para desfilar, fazia café para toda comunidade nas reuniões. Ela sempre foi da linha de frente.

Rogério Farro, membro do Conselho Deliberativo da Entidade Carnavalesco, conhece Nicolina há mais de 25 anos. Ele atua em diversos setores da escola, e no último ano, auxiliou a baiana a ficar no carro alegórico a mais de 3 metros do chão. Para ele, a trajetória da amiga ensina para todos: “Ela nos ensina um verdadeiro amor e compreensão ao carnaval. Porque além de amar, tem que ter uma dedicação na construção diária do pavilhão – e ela tem.”

Além da própria escola, Nicolina acompanhou mudanças na história do Carnaval de Porto Alegre, como a transferência do local dos desfiles do centro da cidade para a Zona Norte. “Eu preferia onde era antes, no Centro, na Perimetral, porque a gente saía de ônibus daqui e chegava fácil no Carnaval”, avalia.

O pé que é um leque

Dizem os mais antigos que quando a pessoa está sempre pronta para sair, ela tem o pé que é um leque. Para a amiga e baiana da escola, Maria Clara, Nicolina é assim, e está sempre perguntando a ela ‘’não vai sair na escola esse ano?’’. Mesmo não sendo mais diretora das baianas, ela é quem puxa e incentiva as que desfilam no chão. “A gente colocava o pé lá na casa dela, ela já pegava a sacolinha e nos levava para a escola. Ficava o tempo todo com a gente, dançando”, conta.  

Desde 2019, ela se tornou destaque da escola. “Agora faz três anos que eu não desfilo mais, por conta das pernas. Eu fico louca, porque quero desfilar no chão, mas as dobradiças estão ruins já”, conta sempre com bom humor.

Na sala de Dona Nicolina, está o seu retrato, tirado em 2022, ao lado de Xande de Pilares. Foto: Isabelle Rieger/Fevereiro 2024.

E o pé que dança samba, também se alegra com um pagode. Na mesma sala em que a baluarte conversa com o  Nonada Jornalismo, uma foto entre as centenas chama atenção e tem até mesmo um porta-retrato próprio: é ela ao lado de Xande de Pilares.  Fã do cantor, essa é uma parte importante de quem ela é. O ex-integrante do Grupo Revelação é seu ídolo, e trilha sonora dos seus dias em casa. Em 2022, a família preparou uma surpresa para ela: Nicolina foi chamada no palco pelo próprio Xande, realizando o sonho de conhecê-lo.

“Estou realizando meus sonhos, né? Meu sonho maior era conhecer esse menino que é meu. Tem uma música dele que diz ‘esse menino sou eu’, e eu digo ‘esse menino é meu’…Não tenho música favorita. Todas são boas”.

Conta Dona Nicolina

Além do pagode e carisma de Xande, ela também gosta do cantor pela semelhança física com seu neto Éder, falecido em um acidente em 2016. 

Fio da memória

Nicolina é também mãe, avó, e bisavó. Em sua casa, guarda um papel com uma lista do aniversário de cada um dos 9 filhos, 20 netos e 11 bisnetos – assim não se esquece nunca de quando é dia de festa. Embora esses sejam os filhos registrados no papel, o número é muito maior se contar todas as pessoas que a consideram com mãe, como Iara Cabana, e as irmãs e amigas da ala das baianas, Maria Clara Andrades de Oliveira, Selma e Diolina.

Dona Nicolina durante o desfile da escola de samba Unidos de Vila Isabel – Viamão/RS. Foto: André Gomes – Carnaval Enfoco/Fevereiro 2022.

A relação de Vó Nica com o Carnaval é o fio da memória de muitas pessoas da família. Neide, a filha mais nova, lembra de ir criança para o Sambódromo do Porto Seco, e atravessar a noite na folia. Hoje, o maior desafio é convencer a mãe a ser um pouco menos ativa.

“Ela é um pouquinho teimosa, porque ela ainda quer fazer as coisas como antes”, conta. “Só que com 93 anos, a teimosia dela agrada todo mundo.”

enfatiza Neide, filha mais nova de dona Nicolina.

No ano passado, ela desfilou vestida inteiramente no dourado. Brilhante do alto do Porto Seco, ela era Oxum. Este ano, o enredo da Vila Isabel homenageará Neguinho da Beija Flor e ela terá o lugar de maior destaque: ao lado do homenageado. Nicolina estará no mesmo carro que Neguinho, ambos baluartes de suas escolas, celebrando a cultura popular.

Natália Castro, neta, vê o Carnaval como uma história familiar, e considera que foi a avó que abriu a passarela para que novas gerações pudessem desfilar. “Quem nos levou para o Carnaval foi ela. Todo mundo sai na escola, até os bisnetos estão desfilando já”. Para Natália, é difícil escolher um desfile marcante, mas no ano passado, ela e a vó saíram juntas e dividiram o mesmo carro pela primeira vez. “A escola entrou e começou a chover. Fiquei mais preocupada com ela do que comigo, mas quando eu olhei para o lado ela estava cantando o samba e batendo a mão no joelho”, conta.

Tem gente que só gosta de desfilar no dia do Sambódromo, mas a baiana, não. Ela vai, religiosamente todos os domingos, nos ensaios na quadra. “Eu já entro dançando. Gosto de tudo. Eu amo a folia”. Quando não vai, todo mundo fica procurando por ela.  Para Rogério, a importância da baluarte está inscrita na história do Carnaval porto-alegrense.

“Tia Nicolina é um símbolo para todas as escolas. Uma escola que não tem baiana, não existe”.

conta Rogério Farro, membro do Conselho Deliberativo da Entidade Carnavalesco.

O carnavalesco da escola Realeza, Luiz Augusto Lacerda, lembra que as culturas afro-brasileiras têm como prática a valorização dos mais velhos, por serem os detentores dos segredos e sabedorias.

 “A Dona Nicolina é a matriarca de uma família inteira ligada ao carnaval. Ela tem uma importância ímpar para o contexto do carnaval, porque ela nos mostra que não existe limite para dançar, sambar, viver e curtir. Ela é uma figura que devemos referenciar, independente de bandeira, e dizer para o Brasil que temos uma joia valiosa aqui, que continua brilhando.”

 Luiz Augusto Lacerda, carnavalesco da escola Realeza.

Nas palavras de Nicolina, ela é uma baiana com alma de guriazinha. Se tivesse sua história escrita em um livro, conta que o título seria ‘Esse livro é meu’, uma releitura do título do álbum de Xande de Pilares. Assim como o ídolo, a baiana mais antiga do carnaval porto-alegrense nasceu para o samba. E reforça: “A gente está na vida para se divertir”. 

Bloco Maria Fuá fortalece carnaval brincante em São Bernardo do Campo

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Criado em 2011, pela companhia de teatro “As Marias”, o Bloco Maria Fuá desfila pelas ruas do bairro Parque Imigrantes, localizado em São Bernardo do Campo, com o intuito de tornar a festa acessível e próxima para os moradores do território.

“Quando a gente funda As Marias é no intuito de ir para as ruas, e nessa utopia de levar a arte para todo lugar, porque me incomodava fazer espetáculo e não vê a minha vizinhança indo me assistir”, conta Cibele Mateus, 38, atriz e uma das fundadoras do bloco, sobre a motivação de criar o Maria Fuá a partir das experiências na companhia de teatro.

A atriz conta que uma das características do bloco é ser uma brincadeira para a comunidade. “Tem esse lugar lúdico, de trazer esse imaginário fantástico dessas bonecas grandes”. 

Diferente de alguns blocos em São Paulo que convidam o público para pular carnaval, o Maria Fuá convida o público para brincar o carnaval. Esse brincar envolve se divertir, dançar, tocar, se fantasiar, cantar marchinhas, e juntar linguagens como o coco de roda, a capoeira e a apresentação de pife.

O bloco nasceu inspirado no trabalho do grupo Caixeiras das Nascentes, que são criadoras do bloco Caixeirosas, formado por mulheres moradoras de Campinas que tocam caixas, e se referenciam na Festa do Divino Espírito Santo, que acontece no Maranhão.

“A gente resolveu criar um bloco e deu o nome de Maria Fuá por sermos mulheres negras, com todos os nossos cabelos, nossos fuás que já foram tão ditos de uma forma pejorativa, mas que aqui a gente traz uma valorização. E esse Fuá vai desde esse cabelo volumoso, como fuá de bagunça mesmo.”

Cibele Mateus, atriz e fundadora do Bloco Maria Fuá.

A cada ano o bloco segue um trajeto diferente para contemplar cada canto do bairro, e também percorre escadões e vielas. “[A gente] nunca teve a pretensão de ser um bloco profissional aos moldes de São Paulo, a gente sempre quis atuar dentro da periferia e dentro da nossa realidade”, afirma Cibele.

Referências

A figura dos bonecos gigantes que popularmente são conhecidos pelo carnaval de Olinda, também está presente em carnavais de outras regiões. Como é o caso do bloco das Caixeirosas, de Campinas, que usa as bonecas como principal elemento das suas brincadeiras durante o cortejo, e que inspirou a criação da Maria Fuá, em São Bernardo do Campo.

As Caixeirosas, grupo que é madrinha da Maria Fuá, todo ano homenageia uma boneca nova, e em 2013, a homenageada foi a Fuá, desde então o bloco Maria Fuá participa do cortejo das Caixeirosas no fim de semana do Carnaval, e realiza o próprio desfile na semana seguinte. 

Fora a boneca Fuá, o bloco tem mais duas bonecas: a Zabé da Loca, criada em 2019, e a Ginga, de 2023. Todas as bonecas têm o próprio momento na brincadeira durante o cortejo. 

A boneca Zabé da Loca foi inspirada na mestra de pife nordestina Isabel Marques da Silva, considerada a rainha do pífano. “A gente tem esse instrumento no nosso bloco [pífano], que foi trazido pela Gil Lavorato, que é uma integrante do grupo. Por conta desse instrumento a gente foi homenagear a Zabé da Loca”, conta Cibele.

“A Ginga é uma boneca capoeirista, coquista (que dança coco de roda). Ela vem dançando com o som do berimbau e depois a gente puxa um repertório de coco, do carimbó de caixa”. Cibele compartilha que ao todo são três bonecas e um repertório com, em média, 14 marchinhas feitas a cada carnaval.

Além das bonecas, o Bloco Maria Fuá também incorpora elementos do circo, a partir da rede de amizade com artistas circenses. “Sempre vem gente de perna de pau, malabares, palhaço e nos últimos anos a gente vem fazendo o carnaval e depois um espetáculo de circo”, conta a fundadora.

Negritude e território

Embora o bloco tenha elementos que remetem ao carnaval e às manifestações culturais nordestinas, como o pífano, o carimbó, a capoeira, o coco de roda, Cibele conta que essas escolhas não foram feitas conscientemente nesse sentido, mas sim com foco na negritude. 

“Para além de ser nordestina, tem um lugar na periferia que é a negritude, que talvez esteja mais preservado no nordeste essa negritude, essa comunidade voltada para uma brincadeira. Quando o bloco Maria Fuá vem para o Parque Imigrantes, por exemplo, tem muitas famílias, pessoas nordestinas que moram aqui, mas para além disso são pessoas negras”, aponta a atriz que também cresceu na região. 

Cibele explica que a constituição do bloco se dá, principalmente, pelos núcleos negros de famílias das mulheres que integram o grupo, e que são moradoras da região. “São famílias que vão se juntando, pessoas da comunidade que vão se juntando em prol de fazer essa brincadeira. A gente vê esse valor que as comunidades negras têm que é o fazer junto”, comenta.

Cibele Mateus, fundadora e diretora geral do bloco Maria Fuá (Foto: Amanda Lopes).
Cibele Mateus, fundadora e diretora geral do bloco Maria Fuá (Foto: Amanda Lopes).

A organização do bloco é descentralizada. Cibele faz a direção geral e artística do evento, e todas as demandas são divididas, desde a preparação da comida, articulação, divulgação nas escolas, carro de som, entre outras atividades. “Tudo isso é a mulherada da comunidade que faz”, conta Cibele sobre esse poder de organização no território.

“A comunidade se junta e faz vaquinha, os mercadinhos, as pessoas fazem doação de refrigerante, pipoca, gelinho, a gente se junta e faz confetes e serpentinas também para a criançada poder brincar”.

Cibele Mateus, atriz e fundadora do Bloco Maria Fuá.

De 2011 a 2016, o Maria Fuá atuou no bairro Jardim Calux, que é a terceira maior favela de São Bernardo do Campo, onde é a sede do grupo fundador “As Marias”. Em 2016, o bloco migra para o Parque Imigrantes e é abraçado pela comunidade. 

Cibele comenta que viver e atuar no Parque Imigrantes é uma forma de resistência contra as ausências. “A gente precisa muito [disso] no contra fluxo também dessas violências, da drogadição, tem um lugar do alcoolismo [que é] muito forte aqui, tem também um lugar do fundamentalismo religioso, então a gente também vai tentando dialogar com esses espaços”, aponta Cibele.

Desde sua criação o bloco tem se tornado um local de formação e ponto de contato com arte e cultura no território. “Para que [os moradores] entendam que também são criadores de cultura e de arte”, pontua Cibele.

Além do bloco, na tentativa de alcançar mais moradores do bairro, o Maria Fuá também realiza outras atividades no território como uma festa junina.

Carnaval 2024

Nesse ano, o cortejo da Maria Fuá acontece dia 17 de fevereiro, a partir das 14h. A concentração do bloco será na Rua da Passarela, no bar do Marcelo. Além das marchinhas de carnaval, o bloco terá a participação de um grupo de maracatu, o Mulheres do ABC.

Para participar do bloco é só chegar e brincar. Pode ir fantasiado e se quiser tocar junto com o bloco basta levar algum instrumento. O bloco também empresta alguns acessórios e fantasias, basta chegar com antecedência.

CancelaoVape: Campanha lista 10 fatos para manter a proibição aos cigarros eletrônicos

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Mirando a participação de jovens, um dos públicos mais impactados pelo consumo de cigarros eletrônicos, a #CancelaOVape reúne informações confiáveis para o público participar da consulta pública da Anvisa, que recebe propostas inovadoras até 9 de fevereiro.

“Tem sabor de morango, mas pode matar” é a mensagem de alerta que estampa a página inicial do site da campanha #CancelaOVape que reúne 10 motivos para manter a proibição aos cigarros eletrônicos e um link com orientações sobre como participar da consulta pública da Anvisa. A proposta é falar principalmente com formadores de opinião e o público mais jovem, que são os principais usuários no Brasil.

A ACT Promoção da Saúde, a Vital Strategies e organizações parceiras lançam a campanha #CancelaOVape com o objetivo  de oferecer informações confiáveis e sem conflitos de interesses sobre os cigarros eletrônicos e outros dispositivos eletrônicos para fumar – DEFs. A iniciativa foi pensada em apoio à proposta da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa submetida à consulta pública, que recebe contribuições da população até a próxima sexta-feira, 9 de fevereiro.

Segundo Mariana Pinho, coordenadora do Projeto Controle do Tabaco da ACT, esses produtos são pensados para atrair principalmente o público jovem e, mesmo com evidências científicas robustas e posicionamentos de entidades como a Organização Mundial da Saúde contra esses dispositivos, ainda há muita desinformação, divulgada principalmente pela indústria do tabaco. 

“Esses produtos têm sabores agradáveis e design moderno. São feitos para atrair adolescentes e jovens. Assim, a indústria garante a dependência logo cedo, formando um mercado consumidor que durará por muito tempo. Os danos à saúde são imensos e têm aparecido cada vez mais cedo, quando comparados aos usuários de cigarros convencionais”, explica a coordenadora do Projeto Controle do Tabaco da ACT. 

A proposta da consulta pública da ANVISA é ampliar a abrangência de restrições para o uso de cigarros e dispositivos eletrônicos que aproximam as juventudes do tabagismo. (Foto: Pixabay)

Fatos sobre tabagismo entre jovens

Os vapes têm sido a porta de entrada das juventudes para o tabagismo. De acordo com dados do Vigitel de 2023, inquérito de saúde brasileiro mais duradouro e ininterrupto feito por entrevistas por telefone, 60% dos usuários de 18 a 24 anos nunca haviam fumado cigarros convencionais.

Ainda segundo o Vigitel, no ano passado, 6,1% dos jovens adultos – de 18 a 24 anos – haviam utilizado DEFs. Em 2019, o índice era de 7,4%. 

Proibidos no Brasil desde 2009 pela Anvisa, os DEFs estão sob consulta pública em uma norma ainda mais abrangente e detalhada, baseada em evidências científicas e alinhada às recomendações da OMS, que substituirá a atual vigente. 

A #cancelaovape também apresenta evidências que desmontam o argumento da indústria de que os dispositivos eletrônicos são mais seguros que os cigarros convencionais. Pesquisas já identificaram cerca de duas mil substâncias químicas em cigarros eletrônicos, levando ao adoecimento dos seus consumidores mais precocemente do que os consumidores de cigarros.  

Assim como os cigarros, os DEFs, em sua maioria, contêm nicotina, substância que causa forte dependência. Alguns têm sais de nicotina, o que aumenta a capacidade de gerar dependência. 

Estudo do Instituto do Coração – InCor mostrou que os usuários de dispositivos eletrônicos apresentam níveis de nicotina no organismo equivalentes ao consumo de, pelo menos, 20 cigarros convencionais por dia. 

A proibição dos vapes no Brasil é uma estratégia de proteção da população que tem dado certo. Ao contrário do que a indústria tenta fazer parecer, o consumo está concentrado nas capitais São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília e tem caído ao longo do tempo.

Já os países que liberaram o comércio estão vendo um aumento significativo no consumo. Os Estados Unidos, por exemplo, declararam enfrentar uma epidemia de vapes entre adolescentes. De acordo com a pesquisa “Uso de cigarros eletrônicos e uso dual entre jovens em 75 países: estimativas da Global Youth Tobacco Surveys (2014-2019)”, realizada com estudantes entre 13 e 15 anos, nos países que proíbem a venda de cigarros eletrônicos os níveis de consumo por jovens são menores do que países que permitem, e há redução das chances do consumo por este público.

Blocos de rua nas periferias: confira a programação do carnaval em São Paulo

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Aproveite a folia de carnaval nas periferias. Confira nossa lista com 15 bloquinhos nas quebradas da cidade.

Zona sul

10/02/24 – Bloco do Beco
O Bloco do Beco é uma Associação Cultural sem fins lucrativos que atua desde 2002 no Jardim Ibirapuera. O principal objetivo é atrair crianças e adolescentes para a cultura local.

Horário de concentração: 12h
Saída do Bloco: 14h
Local: Rua Salgueiro do Campo, altura do 612 – Jd. Ibirapuera, São Paulo – SP.
Mais informações, acesse aqui.

11/02/24 – Bloco do Litraço
Fundado em 2016, o Bloco do Litraço foi criado para divertir não só os moradores do Jd. São Luís, mas também todos que tem espírito coletivo. O repertório vai de marchinhas clássicas a temas famosos como trilha de filmes.

Horário de concentração: a partir das 11h
Local: R. Dr. Otacílio de Carvalho Lopes – Jardim São Luís, São Paulo – SP.
Mais informações, acesse aqui.

12/02/24 – Bloco Afro É Di Santo
O Bloco Afro É Di Santo nasceu em 2010 na região de M’Boi Mirim. Com composições autorais e também canções de ritmo samba-reggae, o grupo busca valorizar toques e ritmos de origem afro-brasileira.

Horário de concentração: a partir das 13h
Local: Casa de Cultura do M’boi Mirim – Av. Inácio Dias da Silva, s/nº – Piraporinha, São Paulo – SP.
Mais informações, acesse aqui.

17/02/24 – Império do Morro
O bloco desfila desde 1982 pelas ruas de M’Boi Mirim promovendo o resgate das tradições carnavalescas por meio da música e cultura popular. Os organizadores incentivam a participação dos moradores da comunidade, atraindo crianças, jovens e famílias.

Concentração: 14h
Local: R. João Meimberg – Jardim Monte Azul, São Paulo – SP.
Mais informações, acesse aqui.

17/02/24 – Cordão das Amoxtradas
Cordão Carnavalesco, criado em fevereiro de 2020, em Parelheiros.

Concentração: 13h
Local: Nazle Mauad Lutfi, 183 – Parelheiros, São Paulo – SP.
Mais informações, acesse aqui.

Zona Leste

10/02/24 – Baú do Pirata – Infantil
O Baú do Pirata já existe há 10 anos e esta é sua estreia como bloquinho de Carnaval.

Concentração: 09h
Local: Praça Fortunato da Silveira – São Miguel Paulista, São Paulo – SP
Mais informações, acesse aqui.

12/02/24 – Cordão Sucatas Ambulantes
Fundado em 2007, o Cordão Folclórico de Itaquera “Sucatas Ambulantes” é um grupo de pesquisa e valorização da cultura popular que confecciona diversos tipos de bonecos, realiza cortejos de rua e blocos carnavalescos.

Concentração: 15h
Local: Praça Brasil – Av. Nagib Farah Maluf, s/n – Conj. Res. José Bonifácio, São Paulo – SP
Mais informações, acesse aqui.

12/02/24 – Bloco do Baião
No Carnaval também tem baião! Uma homenagem a Luiz Gonzaga, o rei de todos os tempos do gênero nordestino.

Concentração: 15h
Local: Av. Dr. Jose Aristodemos Pinotti – São Miguel Paulista, São Paulo – SP
Mais informações, acesse aqui.

13/02 – Bloco do Sabota
O bloco Sabota nasceu no Jardim Samara para espalhar alegria pelas ruas do bairro.

Concentração: 11h
Rua Angélica da Costa (em frente a EMEF Humberto de Campos), Cidade Patriarca, São Paulo – SP.

18/02/24 – Bloco BatucAfro
O bloco Batucafro em 2024 traz um dos princípios do kwanzaa para as ruas do Itaim Paulista: “Umoja – A unidade é estar entre seus pares, família, comunidade e povo”.

Concentração: 14h
R. José Cardoso Pimentel – Vila Alabama (em frente a escola de samba Unidos de Santa Bárbara), Itaim Paulista, São Paulo – SP.
Mais informações, acesse aqui.

Zona norte

10/02/24 – Bloco dos Zatt’revidos
O Bloco dos Zattrevidos foi fundado em 2013 com o objetivo de levar o carnaval de rua para os moradores da região.

Concentração: 14h
Local: R. Jenny Bonilha Costivelli – Pirituba, São Paulo – SP.
Mais informações, acesse aqui.

11/02/24 – Perus Folia
Bloco carnavalesco realizado no bairro de Perus, em São Paulo.

Concentração: 13h
Local: Av. Dr. Sylvio de Campos, a partir do número 418 ao 201 – Perus, São Paulo – SP.
Mais informações, acesse aqui.

13/02/24 – Diversidade Unida
O bloco Diversidade Unida representa o Carnaval com liberdade e diversão para todos em uma folia com clima de família. Na busca por espaço na folia paulistana, o bloco LGBTQIA+ festeja ao som do pop e funk nas ruas de Perus.

Concentração: 14h
Local: Av. Dr. Sylvio de Campos a partir do número 418 ao 201- Perus, São Paulo – SP.
Mais informações, acesse aqui.

17/02/24 – Balaio do Canjico
O Samba do Balaio do Canjico existe desde setembro de 2013, e foi criado com o objetivo de promover um encontro da população com o samba.

Concentração: 14h
Local: Rua Raimundo da Cunha Matos – Sítio Morro Grande, Pirituba, São Paulo – SP.
Mais informações, acesse aqui.

18/02 – Bloco do Fumaça
Bloco tradicional do Jaçanã, nascido a partir de um clube de futebol formado por amigos de infância que resgataram a antiga amizade com muito samba.

Concentração: 12h
Local: Rua Manoel Gaya, 800 – Vila Nova Mazzei, São Paulo – SP
Mais informações, acesse aqui.

Falta de água no Jardim Santa Lúcia expõe desigualdades no abastecimento da Sabesp

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Zona Sul de São Paulo – O Jardim Santa Lúcia, fundão do Jardim Ângela, periferia de São Paulo, vive dias críticos e secos. A água, recurso essencial à vida, tornou-se uma miragem para as quase mil famílias da região, que lidam com a ausência contínua do suficiente. São muitos dias sem uma gota cair da torneira na Rua Afonso Rui.

A indignação cresce à medida que a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) não apresenta soluções imediatas, apesar de anunciar projetos futuros.

Vilma Carla (44), mãe de quatro filhas e avó de 1 neta, expressou sua exaustão: “Não aguentamos mais tanto descaso. Toda vez é a mesma resposta. Já não aguentamos tamanho abandono”. 

Já Willian Sales (42), casado e com duas filhas, que tem o sonho de sair do aluguel e está construindo uma casa para sua família, relata que sua obra teve que parar mais uma vez por falta de água. “O pedreiro pediu para parar a obra. É difícil, porque já não temos dinheiro e o pouco que temos não rende. Eles deviam pensar em quem é mais pobre”.

A comunidade, sentindo-se abandonada pelas autoridades, cogita medidas desesperadas como a contratação de um caminhão pipa para aliviar uma situação mais drástica. O preço por 5.000 litros é de 750 reais. Uma contradição, porque segundo o site Nível de Água em São Paulo, nos últimos 30 dias o sistema Guarapiranga ganhou 8,60% da sua capacidade máxima, o que corresponde a 1.471 milhões de litros, que são equivalentes a 73.530 caminhões pipa de 20.000 litros.

A busca por respostas levou um grupo de moradores até a sede da Sabesp. A companhia, no entanto, limitou-se a mencionar um projeto que promete melhorar o abastecimento na região até 2034, uma promessa distante que pouco faz para saciar a sede imediata da população. 

A falta de respostas objetivas sobre o problema atual aumenta a incerteza ao cenário já conturbado, exacerbado pelas discussões sobre uma possível privatização da empresa de saneamento, deixando o futuro do abastecimento como uma incógnita.

A crise não é apenas localizada. Dados mostram que a periferia de São Paulo enfrenta desafios de abastecimento muito maiores quando comparados aos bairros nobres. Enquanto regiões como o Jardim Santa Lúcia convivem com interrupções incomuns, áreas privilegiadas raramente experimentam tais inconvenientes.

Uma análise dos serviços da Sabesp revela que, em bairros nobres como Morumbi e Moema, as interrupções no fornecimento de água são pontuais e geralmente associadas a manutenções programadas, com avisos prévios e restabelecimento rápido. 

Em contraste, a periferia luta com a irregularidade e a imprevisibilidade não adequada, evidenciando uma disparidade que reflete desigualdades sociais e econômicas.

A situação do Jardim Santa Lúcia é um microcosmo de crise hídrica que afeta diversas outras comunidades periféricas, onde a água, um direito humano básico, é transformada em artigo de luxo. 

Os moradores, entre a denúncia e a revolta, aguardam ações concretas que possam trazer alívio imediato e garantir a segurança hídrica.

O olhar atento da sociedade e a pressão contínua sobre os responsáveis ​​são essenciais para garantir que o direito à água não seja apenas uma promessa distante, mas uma realidade para todos, independentemente do CEP.

A questão permanece: até quando o Jardim Santa Lúcia e tantas outras comunidades terão que esperar por água?

O relato de Vilma e a luta dos moradores do Jardim Santa Lúcia não são apenas um apelo por água, mas um chamado por justiça social e equidade sem acesso aos recursos básicos. 

A Sabesp e as autoridades competentes devem considerar e responder com urgência à sede dos direitos que a periferia reivindica, antes que a seca física se transforme em uma seca de esperança.

Nota: A Sabesp foi contatada para comentar a respeito das ações imediatas e dos planos a longo prazo para o Jardim Santa Lúcia, mas até a publicação da coluna não houve retorno.

Onda de privatizações e política de encarceramento

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A intensificação das privatizações levanta questões cruciais sobre o papel do Estado no atendimento das necessidades primárias da sociedade. Enquanto a busca por eficiência e atração de investimentos são motivadores, é crucial avaliar como essas mudanças impactam diretamente o acesso da população a direitos essenciais, como saúde, educação, transporte, dentre outros.

Essa reflexão é fundamental porque há um equívoco comum em acreditar que os programas de privatizações melhoram a qualidade dos serviços, expandem seu alcance, trazem benefícios de arrecadação e, por último, que o setor privado existe separado dos interesses políticos que contaminam o serviço público.

“Eficiência” e “corrupção” são as duas palavras mais entusiastas dos liberais que “promovem à marteladas, ferro e fogo”, os programas de privatização, como o carioca que governa São Paulo, Tarcisio de Freitas. Entretanto, isso não é uma característica exclusiva da direita brasileira ou do carioca que governa os paulistas.

Sempre o que está em jogo é o interesse, o capital político e econômico por trás do lobby pela privatização e a criação de coalizões de forças em qualquer um dos três níveis federativos nas relações entre os poderes legislativo e executivo.

Entretanto, não é apenas no Estado paulista que direitos essenciais estão na mira de grandes empresas e correm riscos de serem privatizados. Apesar do nosso enfoque ser as ondas de privatizações em SP, abaixo vocês podem verificar um breve panorama das políticas de privatização de líder a frente do governo federal.

Políticas de privatizações de cada governo

Governo FHC (1995-2002) – durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, o Brasil vivenciou o período de maior privatização da história, entre 1994 e 2002. Foram concedidas 80 empresas de diversos setores, incluindo a Vale, Telebras, Embratel e bancos. Embora o PIB brasileiro tenha aumentado em 20% nesse período, a média mundial ficou em 32%. Esse processo marcou uma mudança significativa na gestão estatal de empresas.

Governo Lula (2003-2010) – Lula, em seu primeiro mandato, adotou um modelo diferente, optando por concessões em setores como usinas, rodovias e aeroportos, em vez de privatizações diretas. Durante seus dois mandatos, o Brasil registrou o maior crescimento econômico da série histórica, com o PIB aumentando 43% entre 2003 e 2010. Esse período contrasta com a fase de privatizações massivas no governo anterior, embora tenha focado em concessões.

Governo Dilma (2011-2016) – Dilma Rousseff, mantendo a estratégia de Lula, continuou com concessões em setores como transporte rodoviário, linhas de transmissão e aeroportos, além da privatização da IRB-Brasil Resseguros. No entanto, o país enfrentou um período de estagnação econômica, com o PIB brasileiro não registrando crescimento nos seis anos de seu governo.

Governo Temer (2016-2018) – sob o comando de Michel Temer, o Brasil iniciou um ambicioso pacote de privatizações, com a expectativa de concluir 75 projetos em 2018. Esses projetos envolviam diversas modalidades, como venda total ou parcial de participações acionárias em estatais, concessões, arrendamentos e prorrogações de contratos existentes. A previsão oficial de arrecadação com os leilões era de R$28,5 bilhões, com destaque para a Eletrobras, estimada em R$12,2 bilhões.

Governo Bolsonaro (2018-2022) – Jair Bolsonaro, ao assumir a presidência, manteve e intensificou a agenda de privatizações. Durante seu governo, 36% das estatais brasileiras foram privatizadas, reduzindo o controle da União de 209 para 133 empresas. A Eletrobras foi uma das empresas emblemáticas privatizadas, e outras, como os Correios, entraram na mira do processo de desestatização. A busca por atrair investimentos e reduzir a participação do Estado na economia foi um dos pilares dessa estratégia.

Privatizações em São Paulo

A história das privatizações em São Paulo desvendam um padrão inquietante de decisões que favorecem interesses econômicos em detrimento do bem-estar coletivo.

É essencial que a sociedade se envolva no debate sobre o futuro do estado, questionando a lógica por trás dessas privatizações e exigindo transparência, prestação de contas e uma abordagem mais alinhada às necessidades reais da população.

A confiança no modelo privatizante precisa ser substituída por um olhar crítico, considerando os impactos sociais, econômicos e éticos dessas políticas.

Na década de 90, os governadores Mário Covas e Geraldo Alckmin protagonizaram a privatização do setor energético, comprometendo a qualidade dos serviços, elevando tarifas e reduzindo empregos. 

Mesmo após críticas do então candidato Covas ao projeto no governo Fleury, Covas e Alckmin lideraram o maior programa de privatizações do estado, aprovando o PL 71/96, instituindo o Programa Estadual de Desestatização (PED) e a Companhia Paulista de Administração de Ativos (CPA) em junho de 1996. 

Geraldo Alckmin, presidente da CPA, conduziu as privatizações, resultando na venda de rodovias, ferrovias e empresas essenciais, gerando redução de postos de trabalho e salários.

Em 2007, José Serra contratou instituições financeiras para avaliar o patrimônio de 18 estatais paulistas e avançou nas políticas neoliberais sobre a gestão pública. Serra montou um conselho com bancos como JP Morgan, Morgan Stanley, UBS Banco, Banco Espírito Santo, Citi e Fator. 

As 18 empresas foram categorizadas em três grupos, considerando o potencial de venda e valor de mercado: 

1) Nossa Caixa, Sabesp e Cesp, estimando um patrimônio conjunto de R$ 25 bilhões, conforme a Bolsa de Valores de São Paulo, na época; 

2) o Metrô, CDHU, CPTM, Dersa, Emae e Cosesp; 

3) CPP, Cetesb, Prodesp, Imesp, EMTU/SP, CPOS, IPT, Codasp e Emplasa.

Sob a gestão de João Dória, os planos de privatizações focaram em concessões e Parcerias Público-Privadas (PPPs). Incluiu a preparação da privatização da Sabesp e a concessão das linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda. 

Estudou-se, também, a possibilidade de empresas gerirem presídios, – onde vamos nos deter mais a frente – e o Tribunal de Contas do Estado autorizou a privatização de quatro presídios em São Paulo em 2019. 

Nos últimos anos, debates intensos surgiram sobre as implicações sociais, econômicas e políticas dessas privatizações. A história revela que o impacto dessas decisões vai além do econômico, afetando a vida e o bem-estar dos cidadãos.

Ao invés de preservar o controle estatal e ampliar o acesso a direitos essenciais, o governo paulista dificulta esse acesso e entrega o patrimônio do estado à iniciativa privada, afundando ainda mais o abismo econômico entre a população mais pobre e negra e o bem-estar coletivo.

É fundamental defender a produção nacional, sem fanatismo patriótico, mas que garanta a soberania do país em confronto direto com a política de privatização que rouba dos mais pobres para entregar aos mais ricos.

5 desvantagens para a sociedade civil com as privatizações

1 – Possível aumento de tarifas: Privatizações podem resultar em aumentos nas tarifas de serviços essenciais.
2 – Perda de controle democrático: Transferência do controle democrático para o setor privado, levantando preocupações sobre transparência.
3 – Desafios para os trabalhadores: Privatizações frequentemente resultam em reestruturações e cortes, prejudicando a estabilidade no emprego.
4 – Foco em lucros de curto prazo: Acionistas privados podem priorizar retornos financeiros em detrimento de investimentos a longo prazo.
5 – Impacto na equidade social: Privatizações têm o potencial de agravar as desigualdades sociais, afetando negativamente comunidades carentes no acesso a recursos essenciais.

Privatização dos presídios e do sistema socioeducativo

ste escopo de privatizações, como colocado anteriormente, estão nos três níveis federativos e com as terceirizações que se deram primeiro nas áreas de conservação e limpeza, e segurança. E agora vemos se expandindo para outras áreas e em relação aos governos municipais, estaduais ou/e federal.

É importante registrar aqui que este movimento de suposta modernização, eficiência e desenvolvimento se deu de maneira impulsionada por países do norte global, aos países periféricos. Sempre apontando como essas medidas seriam uma superação de um atraso econômico. Entretanto as privatizações nesses países centrais do capitalismo se concretizam apenas quando eles têm de fato uma vantagem.

Se por um tempo as concessões de parceria público e privadas, estavam atreladas em relação ao transporte, energia, usinas, comunicação entre outros, demonstram que tais parcerias, por fim, se davam como qualquer outro processo de privatização e não menos inofensivo. Entretanto a coisa se expandiu por completo e temos hoje agendas de privatização de presídios.

Neste ano de 2023 tivemos o segundo presídio privatizado, onde a concessionária que ganhou vai ter o direito de construir o local, gerenciar, e assim como as outras privatizações o lucro vai ser dos lobistas e a conta para os trabalhadores.

Se no Brasil racista em que vivemos a prisão é máquina de privar a liberdade e de matar pessoas negras, conseguem imaginar eles lucrando com isso?

Sim, lucrando, dado que cada vaga neste presídio terá o valor de 233 reais, se atingimos recordes de encarceramento de pessoas sem muitas empresas lucrando, a partir disso enquanto mais pessoas encarceradas, maior vai ser o repasse do Estado para esses presídios privatizados.

Como um efeito cascata, o governador de São Paulo Tarcisio Freitas (PP) também já comunicou no seu pacote privatista, além da CPTM, METRÔ e SABESP, também quer ampliar a privatização da Fundação Casa. Aqui é colocado como ampliação da privatização porque, a vigilância, cozinha e lavanderia já são terceirizados no estado.

A Fundação Casa é um espaço onde jovens cumprem medidas socioeducativas seja em forma de internação ou semiliberdade. As outras medidas socioeducativas se dão por meio aberto, como a Liberdade assistida (LA), prestação de serviço à comunidade (PSC), obrigação de reparo de danos e advertência. Tanto a LA quanto a PSC já são aplicadas por meios terceirizados em São Paulo.

 Os trabalhadores da fundação entraram em greve em conjunto com as outras categorias no dia 28/11/2023 em forma de protesto contra a onda de privatização que vem tomando conta do nosso cenário político, mas que não é de agora, e sim projeto de longa data de privatização que só vem demonstrando no processo histórico que só é benéfico para as grandes empresas.

Em um país que tem dificuldades de falar e compreender cotas raciais, que sempre levanta a pauta de reduzir a maioridade penal como solução de segurança pública, estes projetos privatistas vem de contra mão do que entendemos como direitos humanos e básicos.

Ainda coloca em risco a vida de centenas de pessoas, onde o ataque de direitos sai de todas as esferas e o alvo é o mesmo, pessoas preferencialmente pretas.

O governo Lula mantém a política de encarceramento em massa

Segundo o site Intercept Brasil, o governo Lula, ao buscar ampliar a privatização de presídios, trouxe à tona questionamentos e críticas. A iniciativa foi impulsionada por um contexto em que a empresa Soluções Serviços Terceirizados venceu um leilão para construir e administrar um presídio em Erechim, no Rio Grande do Sul. 

Vale ressaltar que essa não foi uma ideia originada no governo Lula, mas sim uma continuidade de uma proposta que já existia no governo anterior, de Jair Bolsonaro e residia em antigas intenções de seu vice, Geraldo Alckmin. 

Em setembro de 2022, aumentaram-se os benefícios para a privatização de presídios, evidenciando uma postura que reforça a lógica do encarceramento em massa. 

O vice-presidente Geraldo Alckmin assinou um decreto classificando o sistema prisional como “projeto de investimento prioritário”, inserindo-o na área de infraestrutura ou produção econômica intensiva em pesquisa, desenvolvimento e inovação.

A população negra, periférica e pobre, é o alvo prioritário das políticas de encarceramento. As medidas de avanço às privatizações dos presídios e do sistema socioeducativo revelam uma incerteza do futuro quanto à regulação e fiscalização do sistema penal.

Podemos estar vendo o nascimento de ações para o lobby da reforma do código penal para manter as pessoas presas durante mais tempo visando a obtenção do lucro. 

Num país que visa a ratificação dos direitos humanos, deveríamos ter horror com a especulação através das prisões. Precisamos de mais escolas, ampliação de postos de trabalhos com dignidade, e às cadeias privatizadas abrem espaço para condições de trabalho análogo à escravidão (eufemismo para a escravidão moderna), mas vivemos sob o céu do país mais racista do mundo.