Frente Periférica por Direitos promove ciclo de encontros para aproximar o debate climático nos territórios   

Como resultado dos encontros, será construída uma carta-manifesto para ser apresentada na COP 30, em Belém, com demandas das periferias sobre a crise climática.
Edição:
Evelyn Vilhena

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Há poucos meses da COP 30 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), marcada para novembro em Belém, capital do Pará, desde setembro de 2025, encontros da Periferias Pelo Clima reúnem coletivos, moradores e lideranças comunitárias para debater sobre clima e meio ambiente. A partir dessa movimentação, a ideia é construir uma carta-manifesto que traduza os impactos reais da crise climática nos territórios. 

Organizada pela Frente Periférica por Direitos, a ação já circulou em diferentes regiões de São Paulo, com a discussão sobre quem são as pessoas mais impactadas pelos eventos climáticos. “É essa ponta mais fraca que não está presente nas grandes mesas de negociação, como os espaços da COP que são voltados à diplomatas”, coloca Jailson Lara, ativista, educador popular e coordenador da Casa Ecoativa, espaço localizado na Ilha do Bororé, no Grajaú, zona sul da cidade

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“A nossa proposta é fazer da carta uma ferramenta de pressão e incidência, antes, durante e depois da conferência. E essa carta não é só para a COP 30. Ela vai continuar repercutindo nos territórios”, diz.

O objetivo é ouvir as comunidades sobre os principais problemas climáticos que afetam seu dia a dia, como o calor extremo, acúmulo de lixo, alagamentos e enchentes, poluição do ar, falta d ‘água, etc. Os encontros são abertos a moradores e atores locais, convidados através das redes e grupos comunitários.

Nos encontros, a comunidade levanta as demandas e temas a serem discutidos coletivamente para que a carta-manifesto reflita as reais necessidades da população e sirva como mecanismo de pressão aos governantes.

Rádio Cantareira, Casa Ecoativa, Espaço Alavanca e Ocupação Jardim Gaivotas são exemplos de iniciativas que participam dessa ação junto com a Frente Periférica por Direitos. Os encontros são abertos e gratuitos a todos que desejam somar na luta. A programação de cada encontro inclui momento de escuta com a comunidade, rodas de conversa e seminários sobre direitos, justiça socioambiental e enfrentamento às mudanças climáticas. Também realizam mutirões, atividades com colagem de cartazes artísticos, visitas a produtores orgânicos e articulação com cozinhas solidárias. 

A educadora Fernanda Naxara, da Frente Periférica por Direitos, diz que os encontros buscam empoderar a população para que protagonizem o debate. “A ideia é que a população traga [os problemas] e que a gente trabalhe nos nossos encontros. Nós sabemos quais questões vão aparecer, mas a proposta é ouvir mesmo as pessoas que estão na ponta”.

Ela conta que a Frente atua com coletivos, a partir da perspectiva de que o cuidado e atenção com os territórios periféricos, não é o mesmo que o Estado tem com outras regiões de áreas centrais. “Inclusive o manejo das árvores é sempre a periferia pela periferia”, afirma.

“É fundamental reconhecer que as periferias estão criando tecnologias nas bordas como resposta à emergência climática. Senão, a COP [continua sendo] um espaço esvaziado, com diplomatas, pessoas brancas, em geral homens, decidindo o futuro de uma população diversa”. Jaison Lara, articulador, educador popular e coordenador da Casa Ecoativa, na Ilha do Bororé, no Grajaú, zona sul de São Paulo.

Jaison diz que falta diversidade de narrativas em conferências de negociações como a COP, e que eventos institucionais como esse, não fazem parte do imaginário da maioria das pessoas nas periferias, mesmo vivenciado os impactos no cotidiano.

“Aquele jovem que sai da viela e vê um bueiro aberto, vê a bola cair no esgoto passando na frente da casa, é quem realmente se preocupa se vai fazer muito calor e esquentar demais [sua casa], se vai chover muito, porque vai entrar água por todos os lados”, analisa. Ele também afirma que as periferias produzem tecnologias e soluções que contribuem no combate à crise climática.

Jaison ainda destaca que não é de hoje que realizam atividades educativas com as crianças e adolescentes, promovendo passeios pelos bairros para evidenciar as contradições e o descaso do poder público com a infraestrutura local. A partir destas experiências, o grupo também quer fortalecer os diálogos pré-COP 30. 

A carta-manifesto também busca reconhecer os saberes quilombola, indígena, de povos tradicionais e periféricos na mitigação da crise climática, além de ocupar espaços de tomada de decisão. “A ideia é que a nossa mobilização consiga ultrapassar as barreiras da política institucional e criar pontes diretas com a base. A política institucional ainda é muito difícil, muito partidária, mas nós somos seres políticos. Política está em todas as esferas da vida”, aponta. 

“Nosso front é a comunidade: conversar com famílias, com crianças e adolescentes. A Casa Ecoativa, por exemplo, já tem uma atuação muito forte de trabalho de base. A gente acredita que o trabalho no território, muitas vezes, repercute mais do que congressos [internacionais] com a mesma galera de sempre, mas, agora, estar neste espaço [é importante]”. Jaison Lara, articulador, educador popular e coordenador da Casa Ecoativa, na Ilha do Bororé, no Grajaú, zona sul de São Paulo.

A educadora enfatiza que os problemas enfrentados pelas quebradas precisam ser colocados pela lente de quem nela vive. “Quando se fala de meio ambiente, parece que é só uma falta da classe média, quando quem sofre mais com as mazelas da mudança climática é a periferia, que sofre com enchentes, com as ilhas de calor, a questão de deslizamento, etc”.

Ações como a da Frente, somam esforços diante dos interesses de grandes grupos, como no caso do crime ambiental causado pela Braskem, em bairros de Maceió, com o afundamento do solo. “Existe a pressão do lobby, e nós precisamos garantir a pressão popular. No caso da Braskem, há inúmeras pessoas hoje em depressão, e inclusive, um alto índice de suicídio, pois muitas famílias não tiveram dinheiro para processar. Quem teve condições de entrar na justiça, ganhou o processo e foi ressarcido, mas a maioria perdeu suas casas e ficou por isso mesmo”, exemplifica Fernanda.

Ela reforça a importância de falar sobre meio ambiente em diferentes perspectivas. “Muitos pensam só na Amazônia ou em abraçar árvores, mas é também o que acontece, por exemplo, aqui na Rua Aurora, com os flutuantes que transbordam lixo”, e ressalta que, “é muito difícil, porém, estamos nos movimentando”.

Confira os próximos encontros Periferias Pelo Clima: 

15 de agosto, às 9h – Leste
Galpão ZL – Rede de Inovação
Rua Serra da Juruoca, 112 – Jardim Lapenna

15 de agosto, às 19h – Centro
Teatro de Contêiner Mungunzá
Rua dos Gusmões, 43 – Santa Ifigênia

16 de agosto – Leste
São Mateus – Incinerador (horário a definir)

17 de agosto, às 15h – Sul
Seminário
Rua Maramores, 36 – Jardim São Savério

23 de agosto, às 14h – Norte
Rádio Cantareira
Rua Jorge Pires Ramalho, 71 – Vila Isabel

29 de agosto – o dia todo – Sul
Seminário
Parque Aristocrata

13 de setembro, às 9h – Norte
Seminário Céu Freguesia do Ó
Rua Crespo de Carvalho, 71 – Freguesia do Ó

20 de setembro, às 9h – Centro
Encontro das Periferias (local a definir)

Mais detalhes na página da Frente Periférica por Direitos

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