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Edital fortalece iniciativas de mulheres negras nas periferias de São Paulo

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As inscrições para a segunda edição do edital “Elas Periféricas” podem ser realizadas até 16 de junho.

Integrante do Coletivo Oya no Congresso de Escritores da Periferia de SP (Foto: João Victor Santos)

Engajada em fortalecer o trabalho de mulheres negras que estão à frente de coletivos, projetos de impacto ou organizações sociais que tem como base de atuação os territórios periféricos da cidade de São Paulo, a Fundação Tide Setubal apresenta a segunda edição do programa “Elas Periféricas”, que irá apoiar propostas com até 40 mil reais e mentorias de desenvolvimento institucional durante 12 meses.

Em 2018, o edital apoiou 6 iniciativas com 20 mil reais. Para 2019, os recursos foram ampliados, como uma forma de potencializar ainda mais a atuação das organizações selecionadas. O prazo para envio e preenchimento do formulário de inscrições termina neste domingo (16), às 23h59.

Além do apoio financeiro, as iniciativas contempladas pelo “Elas Periféricas” terão acesso a uma série de mentorias que visam a capacitação das lideranças e gestores, para fortalecer a organização ou coletivo, por meio do aprimoramento de funções essenciais como gestão financeira, mobilização de recursos, gestão e monitoramento de projetos, comunicação institucional, planejamento estratégico e atuação em redes.

Construído em 2018, o edital reconhece a potência e a visão de mundo de mulheres negras que empreendem nas periferias uma perspectiva cultural, social e política para desenvolver iniciativas que tragam soluções para as desigualdades sociais que afetam a vida de milhares de moradores e moradoras nos territórios.

Coletivos resistem à proposta de fechamento da Casa Cultural Hip Hop Jaçanã

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Em resposta ao pedido de reintegração de posse emitido pela prefeitura municipal de São Paulo, que alega que não existem atividades culturais no local, cerca de 20 apresentações artísticas movimentaram o sarau Ato de Resistência, articulado por coletivos que realizam a gestão da Casa Cultural Hip Hop Jaçanã.

Intervenção cultural na Casa Cultural Hip Hop Jaçanã, durante o Sarau Ato de Resistência. (Foto: Gueto Cine)

A prefeitura de São Paulo está alegando que a sede da Casa Cultural Hip Hop Jaçanã, localizado na zona norte de São Paulo, está ocioso e que não tem atividades culturais regulares para a população, e afirma que está ocupado de forma irregular, e por isso pede a reintegração de posse do imóvel.

Após receber essa notificação, um grupo de moradores e artistas organizaram o sarau Ato de Resistência, realizado no último final de semana de março, reunindo cerca de 300 pessoas na ocupação cultural, para assinar um abaixo assinado que pede o permanecimento do espaço e reconhecimento como uma casa de cultura.

“O ato hoje é um repúdio ao pedido da prefeitura, estamos mostrando que tem muita cultura sim”

Para Davi Albuquerque, professor de filosofia e integrante do coletivo Estéticas Urbanas que reside na casa, o ato simboliza a resistência conta as diversas formas de violências cometidas pelo Estado. “O ato hoje é um repúdio ao pedido da prefeitura, estamos mostrando que tem muita cultura sim, mas cultura feita por nós, uma cultura nossa, uma cultura que acabe com o extermínio da nossa população, uma cultura que há conscientização e afeto.”

Um dos artistas que se apresentaram no evento é o jovem Henrique Pedro, 21, que comenta a dificuldade de acessar outros espaços culturais no território: “os outros espaços de cultura do bairro são relativamente inacessíveis, porque não é um espaço gerido pela comunidade, tem todo um calendário burocrático, e depende muito das verbas governamentais.”

O jovem reforça que valoriza a autonomia dos artistas, coletivos e articuladores comunitários para continuar promovendo transformações sociais para os moradores do bairro. “Durante o verão a piscina fica fechada e coletivos autônomos se organizaram para fazer piscinas comunitárias para as crianças”, conta ele, apontando como os coletivos se organizam para atender os moradores, diante da má administração do CEU, próximo a ocupação.

Gestão pública ou autônoma?

Antes de se tornar um centro cultural no território, a Casa de Cultura Hip Hop Jaçanã era um Telecentro, que se manteve fechado e abandonado por muito tempo. Após o processo de ocupação e revitalização, o espaço passou a abrigar diversos coletivos e organizações sociais da zona norte, trazendo de início oficinas de capoeira, entrega de leite e reuniões comunitárias. Hoje a ocupação abriga cerca de nove coletivos de diferentes linguagens artísticas.

O distrito do Jaçanã integra a subprefeitura Jaçanã/Tremembé que tem mais de 290 mil habitantes e possui apenas quatro espaços de cultura, de acordo com o senso de 2017 da subprefeitura. Eles estão localizados entre a Fábrica de Cultura Jaçanã e o CEU Jaçanã, que são geridos por pastas administrativas do governo municipal e estadual.

“Agora que demos uma função social, que usamos o espaço, que criamos um espaço para se discutir os direitos através de cultura, querem tirar de nós”

Esse cenário faz do histórico de má administração de espaços públicos no território do Jaçanã uma razão coletiva para mobilizar moradores, interessados em cumprir um papel social que deveria ser do poder público.

“Esse espaço está sofrendo uma perseguição do governo no sentido de ser reintegrado, mas não faz sentido, porque era um espaço público que estava abandonado, sem função social, e agora que demos uma função social, que usamos o espaço, que criamos um espaço para se discutir os direitos através de cultura, querem tirar de nós, afirmando que não tem cultura aqui, fazemos ações aqui, não ficamos na teoria, movimentamos a casa”, denuncia Sergio La Paloma, um dos articuladores mais antigos da casa.

Com a forte intenção de ecoar a cultura da periferia, as atividades da ocupação vão além da cultura hip hop, fomentando também a organização de um espaço coletivo, gerido de forma autônoma por diversos grupos artísticos de múltiplas linguagens. Desta forma, o espaço dialoga e acolhe a comunidade, difundindo mecanismos para denunciar, discutir e compartilhar conhecimentos sobre o cotidiano de quem mora em territórios que são esquecidos diariamente pelas políticas públicas.

Foto: Gueto Cine

O incentivo a projetos culturais protagonizados por jovens

A casa dá visibilidade e espaço para os artistas do território ter condições de trabalhar e organizar suas apresentações e projetos, criando assim uma potente rede de referências positivas, que estimulam jovens do território a criar suas próprias iniciativas.

“Minha primeira apresentação foi feita no quintal da casa de uma amiga, até que nos convidaram para ocupar a casa. Antes ninguém conhecia meu trabalho, agora eu faço várias apresentações e as pessoas me conhecem. Estamos criando nossos próprios projetos, trabalhos e deixando nossa cultura viva”, afirma Gabriela Santos, 22, integrante do coletivo Sons Periféricos e uma das organizadoras do Sarau.

Ela aponta que a ocupação cultural contribui diretamente para a emancipação da juventude no território: “a casa é importante para mostrar que não estamos esperando que alguém faça um projeto pra gente lá no CEU. Estamos criando nossos próprios projetos.”

A opinião de Gabriela é compartilhada pela moradora Cileide Maria, 59, que assistiu o processo de transformação social fomentado pelos coletivos da ocupação. “A casa é um espaço de divertimento para as pessoas, que faz os jovens sair da rua e participar dos shows, aulas de música, dança e muda todo o bairro.”

Confira a 3ª edição da Revista Você Repórter da Periferia

O tema desta edição é “Juventude em Movimento”.

“Suzano, Osasco, Ferraz de Vasconcelos e Taboão da Serra foram as cidades que revelaram em 2018 jovens moradores de territórios periféricos com vontade de encarar os desafios do transporte público na região metropolitana do estado de São Paulo para se deslocar até o Centro de Mídia M´Boi Mirim, localizado no Jardim Ângela, zona sul da capital. Alguns destes jovens percorreram de maio a dezembro de 2018 mais de 100 quilômetros todos os sábados para participar do Você Repórter da Periferia, programa de formação de jovens repórteres, criado em 2013 pelo coletivo de comunicação Desenrola E Não Me Enrola”. Trecho do Editorial feito por Ronaldo Matos para a 3ª edição da Revista Você Repórter da Periferia.

As distâncias entre bairros e cidades, a falta de qualidade e acesso livre ao transporte público foram algumas das dificuldades enfrentadas pelas jovens que participaram do Você Repórter da Periferia. Elas apresentam nesta edição algumas das vivências que tiveram durante as imersões jornalísticas do projeto e que inspiraram novas perspectivas sobre periferias.

Centro de Mídia M´Boi Mirim lança curso para potencializar comunicação de iniciativas da zona sul de SP

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Gratuito e com duração de cinco meses, o curso Comunicação de Impacto Territorial oferece vagas para cinco iniciativas e visa aprimorar a comunicação dos projetos. Para participar, é preciso atuar nos territórios do Campo Limpo, Capão Redondo, Jardim São Luís e Jardim ngela.

Em parceria com a Fundação ABH, o coletivo de comunicação Desenrola E Não Me Enrola, criador e gestor do Centro de Mídia M´Boi Mirim, espaço de trabalho compartilhado localizado no Jardim Ângela, zona sul da cidade, abre inscrições para o curso Comunicação de Impacto Territorial. Os interessados em participar da formação podem ser inscrever até 03 de junho, clicando aqui ou acessando as redes sociais do coletivo.

Dividido em cinco módulos que tem duração de três encontros cada, o curso Comunicação de Impacto Territorial tem duração de cinco meses e contemplará cinco iniciativas. O objetivo é que elas consigam planejar e executar sua própria comunicação a partir do contato com metodologias que levam em consideração as dinâmicas sociais dos territórios, para aplicação de estratégias, técnicas e uso de ferramentas inovadoras.

Conheça cada módulo:

1. Identidade Institucional – para investigar a fundo a história que a iniciativa precisa contar para o mundo;

2. Criação de Narrativas – uma metodologia para compreender as dimensões de criação de conteúdos e os públicos específicos;

3. Planejamento de Comunicação – visa sistematizar as estratégias de comunicação on-line e off-line que as iniciativas precisam colocar em prática;

4. Gestão de Rede Sociais – um módulo prático e mão na massa, no qual os participantes irão aplicar ferramentas e técnicas para produção de conteúdo e distribuição de informação sobre as suas iniciativas;

5.Narrativas em Audiovisual – que servirá para os participantes explorar novas possibilidades de produção de foto e vídeo, aplicando a identidade institucional do seu projeto.

Formação Comunicação de Impacto Territorial

Inscrições até 03/06, pelo link: http://bit.ly/ComunicaçãodeImpacto
Duração: junho a outubro
Início das atividades: 11 de junho
Horário: 19h às 22h
Local: Centro de Mídia M’Boi Mirim
Endereço: R. Thereza Silveira de Almeida, 3 – Jardim Ângela

Dúvidas e maiores informações: desenrola.jornalismo@gmail.com, ou pelo telefone 5835-1207

Movimento Negro mostra ao mundo como estado brasileiro promove genocídio nas favelas e periferias

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A partir da unificação de experiências de organização política do Movimento Negro no Brasil, um grupo formado por organizações e pessoas está construindo uma agenda pública com inúmeros diálogos com representantes do poder público em escala nacional e internacional. A presença na audiência da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) realizada na Jamaica reforça esse cenário de incidência política, a favor dos direitos da população negra. 

Audiência da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (Foto: Pedro Borges)

Durante a participação na audiência da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), realizada nesta quinta-feira (09) na cidade de Kingston, Jamaica, um grupo de representantes do movimento negro brasileiro alertou os participantes que estavam representando inúmeras entidades internacionais, sobre o conteúdo do pacote anticrime do ministro da Justiça, Sérgio Moro, que visa mudar o Código Penal e Eleitoral brasileiro, impactando diretamente a vida da população negra que vive nas periferias e favelas espalhadas pelo país.

Com uma olhar crítico para o atual momento político do Brasil, o Movimento Negro, representado por diversas organizações de diferentes partes do país, considera emergencial construir uma articulação unificada e que represente de fato os interesses do povo negro, que representa 52% da população brasileira.

“Nós estamos num momento da história do Brasil, onde é fundamental que a população negra tenha uma representação política articulada, unificada e que possa incidir e ser ouvida politicamente dentro e fora do país”, afirma Douglas Belchior, educador social e um dos representantes do movimento negro na Comissão Interamericana de Direitos Humanos na Jamaica.

A diversidade territorial de representantes do Movimento Negro na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) serviu também para mostrar ao mundo o impacto das medidas do governo em diferentes estados brasileiros, como Rio de Janeiro, São Paulo e Goiás, onde as poucas políticas públicas existentes de garantia à vida estão dando lugar a projetos de criminalização da população que vive nas periferias e favelas.

A comunicadora comunitária e representante do Movimento de Favelas do Rio de Janeiro, Gisele Martins, integrou a comissão do Movimento Negro e ressaltou a importância da audiência para denunciar “o comportamento e a prática política racista do governo brasileiro tanto em nível federal quanto estadual.”

Ela exemplificou esse cenário ao relembrar uma ação recente que ocorreu na favela da Maré, onde reside que tirou a vida de oito moradores, a partir da ação de policiais que atiraram nas pessoas de cima pra baixo, utilizando um helicóptero. “Foram contabilizados nas ruas da favela da Maré 190 tiros disparados pelo caveirão aéreo. Essas operações policiais aterrorizantes impedem todo o nosso cotidiano nesse lugar”, descreve a comunicadora.

Coalizão negra pela vida

A moradora de Goiás, Iêda Leal, coordenadora nacional do Movimento Negro Unificado (MNU) integrou a comissão na Jamaica e trouxe importantes reflexões sobre o legado dessa articulação política internacional. “Essa coalizão nacional de várias entidades é fundamental para a busca de apoio internacional, que vai nos ajudar a continuar realizando a nossa luta.”, conta ela.

êda Leal, coordenadora nacional do Movimento Negro Unificado (MNU). Foto: Pedro Borges

Ela enfatiza que ao retornar para o Brasil, o movimento negro irá fortalecer ainda mais a sua presença em todos os espaços de disputa política nas capitais e áreas rurais. “É o que eu sempre digo: cada negro e cada negra é um quilombo de resistência, então nós não podemos deixar que o fascismo tome conta do país.”

Consciente da potência que está se formando diante das organizações e pessoas que fazem parte dessa coalizão nacional do Movimento Negro, Belchior acredita que essas articulações, como a experiência na Jamaica irá aos poucos estimular e fortalecer a organização popular da população negra nas periferias e favelas brasileiras.

“Eu não tenho dúvidas que a denúncia do racismo causa mais impacto fora do Brasil, do que dentro do país. Isso muda nossa vida? Não. O que vai mudar é a organização do povo para fazer lutas desde baixo, para alterar as hierarquias”, concluiu ele.

Confira os selecionados para a 6° edição do Você Repórter da Periferia

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Durante a fase de inscrições foram registradas mais de 140 inscritos de diversas regiões da cidade de São Paulo.

Foto: Divulgação

Este ano recebemos mais de 140 inscritos com faixa etária de 16 a 40 anos, para preencher as 30 vagas oferecidas pelo projeto. Jovens de diversas regiões periférica manifestaram interesse, mas a seleção foi realizada com base nos critérios divulgados no período de inscrição, levando em consideração idade, escolaridade e regiões da cidade, buscando abranger um grupo diversificado.

Aos Selecionados: Durante os próximos dias, entre 10/05 a 11/05, entraremos em contato por e-mail e WhatsApp para passar as informações sobre horário, local das oficinas práticas, início das atividades e tirar todas a dúvidas que possam surgir.

Aos que não foram selecionados: Desejamos muito progresso para seus próximos passos e que sejam cheios de boas oportunidades.

Confira a lista dos selecionados:

Geovanna Carlos Rodrigues

Carine de Oliveira Machado

Victor Juventino Guerra de Souza

Flávia da Costa Santos

Paulo Vinicius Santos Evangelista

Patrick da Silva Nascimento

Queila Ribeiro Fraga

Rebeca Vitoria Neves dos Santos

Felipi Nascimento Santos

Higor Pereira Dos Santos

Julie De Souza e Silva Batista

Beatriz Pereira da Silva

Bianca Moreira e Silva Barbosa

Monise Antunes Rodrigues

Yasmin Vaz De Oliveira

Leonardo Lima de Morais

Caio Breno da Costa

Gabriel Caldas Rezende

Jéssica Hellen Lopes Rodrigues

Mariana cristina alves de assis

Mateus Fernandes dos Santos

Bruno Gonçalves Marchioto

Antonia Carolina Garcia Da Silva

Victória Carolina Nascimento

Andressa Cristina Mathias Barbosa

Guilherme Augusto da Silva

Laiane da silva dos santos

Caroline Aguida Santos Aguiar Aguida Aguiar

Karla Samara do Nascimento Santos

Sarah Stephanie Pereira Evangelista

Bianca janaina dos Santos Souza Lourenço

Alex Lacerda de Morais

Helen Cristina Teixeira Santos

Caique Vítor da Silva

Beatriz Alves Leal

Semana de jornalismo da Universidade Cruzeiro Sul debate jornalismo periférico

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Com o tema “Na borda: o jornalismo periférico como combate à marginalização”, a abertura da III Semana de Jornalismo contou com participações de jornalistas que representaram a Agência Mural, Desenrola E Não Me Enrola e Periferia em Movimento.

Semana de jornalismo da Universidade Cruzeiro Sul debate jornalismo periférico. (Foto: Luiz Lucas)

Na manhã da última segunda-feira (29), a Universidade Cruzeiro do Sul abriu a Semana de Jornalismo no Campus São Miguel, localizado na zona leste de São Paulo, com um importante debate sobre a produção de jornalismo nas periferias de São Paulo.

Ronaldo Matos, integrante do Desenrola e Não Me Enrola, esteve presente na mesa de abertura, que debateu o tema “Na borda: o jornalismo periférico como combate à marginalização”. Além dele, compuseram a mesa Aline Rodrigues, do Periferia em Movimento e Eduardo Silva, da Agência Mural.

Aline começou a mesa quebrando paradigmas e indo contra teorias de comunicação que dizem respeito à imparcialidade. Para ela, a comunicação deve assumir posturas e o jornalismo periférico traduz isso. “É muito importante saber do lugar que a gente parte para fazer jornalismo”, comenta a jornalista.

Ronaldo, idealizador do Desenrola E Não Me Enrola, juntamente com Thais Siqueira, também explicou aos alunos como é a produção de uma comunicação periférica na visão do coletivo, que parte do pressuposto de um jornalismo não padronizado. “Para não reproduzirmos os estereótipos das grande mídia, produzimos um jornalismo para investigar as invisibilidades das periferias.”

Ele reforça o processo de produção jornalística do coletivo. “Quando as pessoas contam as histórias, as deixamos construir a narrativa ao invés de definirmos o que queremos contar”, conta ele, em tom de crítica ao formato de noticiabilidade da mídia tradicional.

Além do Desenrola, Ronaldo e Thais são responsáveis pelo Centro de Mídia M’Boi Mirim, coworking localizado no Jardim Ângela, zona Sul de São Paulo e pelo curso Você Repórter da Periferia, que forma jovens das mais diversas regiões de São Paulo, através de teorias e técnicas jornalísticas, por meio de coberturas jornalísticas periféricas. “O curso foi idealizado para jovens construírem um olhar da cidade que não começa pelo centro de são Paulo, mas sim pelo seu bairro, pelos seus vizinhos”, explica.

As inscrições para a edição de 2019 do Você Repórter da Periferia estão abertas. Saiba mais clicando aqui.

A III Semana de Jornalismo vai até o dia 3 de maio, com os temas Lugar de fala: mulher negra no jornalismo contemporâneo; O futuro do profissional LGBTQ no jornalismo brasileiro; Jornalismo esportivo e direitos humanos: não ao racismo, à homofobia e ao machismo, entre outros.

6° edição do Você Repórter da Periferia oferece 30 vagas para jovens das periferias de SP

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Com duração de 7 meses, o curso busca compartilhar técnicas e vivências sobre o fazer jornalístico nas periferias. As inscrições podem ser realizadas através do preenchimento de um formulário online até o dia 07 de maio.

Júlia Mali aluna da 5° edição do VCRP (Foto: Foto divulgação)

O Você Repórter da periferia é um programa de formação gratuita voltado para jovens de 16 a 25 anos de todas as regiões periféricas da cidade de São Paulo que sejam estudantes cursando ou que tenha concluído o ensino médio, ou universitários que estejam cursando o 1º ano do ensino superior. As aulas teóricas do curso acontecem no Centro de Mídia M’Boi Mirim, localizado no Jardim Ângela – zona sul, e as inscrições podem ser feitas até o dia 07 de maio, clicando aqui

Ao longo do curso, os jovens têm contato com diversas ferramentas e técnicas da comunicação, entre elas: redação jornalística, fotografia, videorreportagem, técnicas de entrevista, técnicas de filmagem, técnicas de captação de áudio e produção de conteúdo para redes sociais, sempre apresentando uma perspectiva do jornalismo produzido nas periferias e as suas distinções em relação a mídia tradicional.

“O curso é dividido em duas partes, a teórica e a prática. Após o contato com a técnica, os jovens passam a circular pelas periferias da cidade. É nesse momento que eles começam a descobrir na prática as potências que existem em seus territórios. A partir dessas vivências começam a enxergar seus bairros como espaços de produção cultural e econômica”, conta Evelyn Vilhena, integrante do coletivo Desenrola e Não Me Enrola e coordenadora executiva do projeto.

“Foi bem importante para mim olhar para o trabalho na minha e em outras quebradas. Reconhecer e afirmar esses espaços como grandes potências de uma forma humanizada. Estar sempre atenta as histórias que as ruas da nossa quebrada tem e que não precisamos que outras pessoas as conte, mas que podemos falar sobre nós mesmos, e nossos espaços”, compartilha a jovem Vitória Guilhermina, moradora do Rio Pequeno, zona oeste, aluna da 5° edição do Você Repórter da Periferia realizada, realizada em 2018.

Neste ano o curso terá início no dia 18 de maio, com aulas teóricas aos sábados, das 10h30 às 14h30, no Centro de Mídia M’Boi Mirim, espaço voltado para comunicação, localizado no Jardim Ângela. A partir das aulas práticas, eventualmente as atividades podem acontecer aos domingos, é durante esse período que os jovens começam a produzir reportagens em campo.

Uma das marcas do Você Repórter da Periferia é a construção de conhecimento crítico a partir das periferias, esse e outros pontos sobre a construção do programa de formação são contados no livro “Você Repórter da Periferia: visões e vivências do jornalismo nas periferias”, que traz as vivências e descobertas dos integrantes do coletivo consolidadas a partir do projeto. Acompanhe a agenda de lançamentos do livro.

Os interessados em participar do projeto devem realizar sua inscrição até o dia 07/05 clicando aqui, e aguardar a divulgação dos selecionados até o dia 09/05.

Sobre o Desenrola e Não me Enrola

O Desenrola E Não Me Enrola é um coletivo de comunicação que há seis anos está engajado em criar e ressignificar práticas e métodos de produção de Conteúdo, Pesquisa e Formação, tendo como ponto de partida a produção de conhecimento presente nos diferentes contextos sociais presentes nas periferias de São Paulo. Todos os projetos desenvolvidos pelo coletivo atuam a partir dos eixos de identidade, Território e Repertório, impactando jovens, empreendedores e coletivos culturais das periferias de São Paulo.

A escritora e atriz Tula Pilar dá adeus a literatura periférica

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Tula Pilar conquistou o respeito e admiração de muitos artistas e coletivos do cenário da cultura periférica de São Paulo, por suas poesias, obras e intervenções artísticas, que davam evidência a história de Carolina Maria de Jesus.

Foto: Sonia Regina Bichain

Autora dos livros “Palavras Inacadêmicas”, produzido de forma independente em 2004, e “Sensualidade de fino trato”, publicado pelo selo do Sarau do Binho em 2017, Tula pilar faleceu nessa tarde de quinta-feira (11), devido um ataque cardíaco. Segundo amigos da família, Tula já chegou a Unidade de Pronto Atendimento Akira Tada em Taboão da Serra, Grande São Paulo, sem vida.

O velório e sepultamento ocorrerá nesta sexta-feira (12), das 13h ás 16h, no Cemitério da Saudade em Taboão da Serra. Familiares pedem para que as pessoas que desejarem prestar homenagem a escritora, evitem comparecer trajado todo de preto. O desejo da família é que as cores alegres representem a alegria e alto-astral que Tula Pilar alastrava e transmitia as pessoas ao seu redor.

A escritora fazia questão de interpretar e resgatar com dedicação e sensibilidade a trajetória da escritora Carolina Maria de Jesus, da qual, sempre enfatizou a semelhança com a sua própria história de vida.

A escritora também teve participação em obras coletivas, como o “Negras de Lá, Negras Daqui”, lançado em fevereiro deste ano. Recentemente, ela teve parte de sua história de vida retratada em um perfil literário, publicado em 2018, por meio do livro “Identidade e Força Ancestral: Histórias de mulheres dentro da periferiade São Paulo” – que aborda os fazeres femininos dentro dos territórios periféricos da capital paulista.

O livro escrito pelas jornalistas Brenda Torres e Sabrina Nascimento, contou inclusive com a participação de Tula Pilar em uma roda de conversa de lançamento da obra, realizada no último domingo (7), na Livraria Cultura, na região central da cidade.

Com a partida da escritora, familiares e amigos organizam uma campanha para arrecadar doações, que visam pagar as despesas funerárias. Os interessados podem contribuir por meio dos dados bancários abaixo pertencente filha da autora:

Samantha Pilar Ferreira
Caixa Econômica Federal
Agência:0357
Operação: 013
Conta Poupança: 0000 1062-0
CPF: 363319688 90

Conheça um trecho do livro “Identidade e Força Ancestral: histórias de mulheres dentro da periferia de São Paulo”, que intitula o capítulo da escritora de “TULA PILAR – RESISTÊNCIA”.

Sua jornada se assemelha, e muito, com a de Carolina Maria de Jesus, uma de suas maiores referências. Assim como a de tantas outras mulheres brasileiras que permanecem lutando, diariamente, contra opressões e impedimentos que são justificados com base em uma estrutura racista e misógina. Inclusive observamos que quando fala em Carolina, talvez, Tula esteja falando de si mesma.

Negra com traços fortes, normalmente usando roupas que destacam sua pele e seu sorriso largo, ela não espera por perguntas e se solta para se apresentar sem eira nem beira, sempre com o astral lá em cima.

Sua história tem início em Minas Gerais. Sua mãe, Dona Antônia, era cozinheira, lavadeira e diarista conhecida em Belo Horizonte. Mãe solo de sete meninas, morava na favela Alto do Minério e como a casa da patroa era longe, Tula e as irmãs passaram a viver na casa onde a mãe trabalhava para não ficarem sozinhas.

Em seus poemas entoa, que: a caneta é seu troféu, que quer bordar as palavras no papel e tudo o que quiser dizer. Porque é hora de rufar os tambores e ouvir os rumores: poder e voz para as mulheres negras. Tula é poesia, uma garota ousada e seus pés a levam para onde quer ir, para onde possa sonhar.

PerifaCon atrai jovens nerds dos becos e vielas, diz moradora do Capão Redondo

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A primeira edição da PerifaCon reuniu cerca de quatro mil pessoas, um público representado por crianças, jovens e adultos, fãs de quadrinhos, séries, games e toda cultura geek. O evento ocupou 5 andares do prédio da Fábrica De Cultura do Capão Redondo, no último domingo (24).

Feira de editoras e artistas independentes da PerifaCon (Foto: Vitória Guilhermina)

O universo Nerd ocupou as ruas do Capão Redondo, zona sul de São Paulo, com a primeira Comic Con da Periferia. Com diversas experiências da cultura pop, como uma feira de quadrinhos, bate papos e oficinas, a iniciativa revelou o interesse da periferia por conteúdos que não são acessíveis aos bairros mais afastados da região central da cidade. O evento também mostrou o seu potencial de público e relevância ao gerar uma extensa fila composta por pessoas e famílias de várias regiões, que contornavam as ruas no entorno da Fábrica de Cultura, equipamento público que sediou o evento aberto ao público.

A Perifacon foi pensada e organizada por um grupo de sete pessoas moradoras das periferias e que são fãs desse universo. O propósito do grupo era levar essa cultura para os extremos da cidade. “A ideia do evento vem a partir de uma galera que é apaixonada por ilustrações, quadrinhos e todo esse universo nerds, de uma forma acessível e gratuita, pensado para estabelecer conexões, relações de troca e afeto” diz Gabrielly Oliveira, 23, uma das organizadoras da iniciativa.

Não foi apenas na gratuidade ou a localização que tornaram o evento histórico, mas toda sua diferença na valorização de artistas e ídolos do próprio território. O beco dos artistas, por exemplo, um dos setores da Perifacon com maior presença de público contou com várias editoras independentes e artistas ingressantes que estavam expondo seu trabalho pela primeira vez. Nas mesas de debate, os principais pontos levantados pelos convidados abordaram a inclusão de mulheres nas produções de conteúdos nerds, representatividade negra e a cultura como forma de resistência.

Enquanto essas atrações movimentaram o público dentro da Fábrica de Cultura, na área externa do espaço acontecia um concurso de cosplay, cultura na qual as pessoas se fantasiam de heróis e personagens de desenhos animados. Mais de quinze pessoas participaram da atividade, com fantasias clássicas, que iam desde Batman e Homem Aranha até a versão feminina do Super Choque e Mario Bross.

Foto: PerifaCon

“Vir aqui hoje é um sonho. Sempre quis muito um evento como esse na periferia.”

Muitos visitantes e artistas estavam comparando o evento com a Comic Con Experience, considerado o maior evento do mundo da cultura geek. No Brasil, essa iniciativa acontece na região central de São Paulo, com ingressos que custam de noventa a quinhentos reais, tornando assim uma programação com acesso restrito a um público que possui uma condição socioeconômica que viabiliza a sua participação no evento.

“Vir aqui hoje é um sonho. Sempre quis muito um evento como esse na periferia. Ser cosplay em um evento como esse é incrível, diferente dos outros espaços, me sinto em casa, é meu espaço”, conta a Amanda Yara, jovem que estava trajando o cosplay da Jubileu, personagem do X-Mean. Ela é moradora do Itaim Paulista, distrito da zona leste. O seu trajeto até o Capão Redondo incluiu a travessia da cidade de metrô, trem e uma linha de ônibus que a deixou próxima ao evento. “Ainda é um mundo muito caro e fechado”, argumenta ela, ressaltando a elitização da cultura nerd.

A jovem Jhennyfer Oliveira, 22, participou da PerifaCon como expositora da área de games. Para ela, a iniciativa fortalece a juventude periférica que curte o movimento geek. “Esse evento é muito importante porque movimenta as pessoas da quebrada a ter contato com outras realidades, alimenta a alma dos jovens. E ajuda a dar visibilidade para essa cultura geek e os trampos das periferias”, ressalta.

“Não tem eventos de nerd na quebrada e tem muito nerd aqui.” 

Antes da realização da PerifaCon, o movimento da cultura geek em São Paulo não possuía uma diálogo direto com o público que mora nas margens da cidade. “A gente cresce vendo os eventos acontecerem sempre no centro da cidade ou em outro país. Não tem eventos de nerd na quebrada e tem muito nerd aqui. Consumimos muito esse universo e eventos iguais a esse reúne todos os nerds que tem escondido dentro das vielas e becos”, enfatiza Larissa Machado, 18 anos, moradora do Capão Redondo, afirmando a representatividade do evento e a sua potência para descentralizar o acesso a cultura nerd na cidade.

Outro ponto marcante da primeira edição da Comic Con da favela, nome pelo qual estava sendo chamado o evento por muitos visitantes, foi a participação ativa de cerca de 40 voluntários, em sua maioria jovens e fãs do universo nerd. Juntos eles produziram os cinco andares do evento aberto ao público. A principal justifica entre eles que os motivou a participar como voluntário foi o fato do evento acontecer na periferia e ser gratuito.

“Esse evento é muito significativo e importante para as periferias, por ele ser na favela e gratuito faz com que as pessoas tenham acesso e consumam isso. Eu quis ser voluntária porque eu nunca tinha ido a Comic Con, eu não sabia como era um evento igual a esse, eu consumo essa cultura e queria ver de perto”, diz Maria Ferreira, 23, moradora de Santo Amaro.

Após o sucesso de público, a organizadora Gabrielly já confirma a realização de outras edições. “É incrível ver a dimensão que o evento se tornou com pessoas de diversas quebradas, crianças fantasiadas e famílias participando. Toda equipe trabalhou muito conjuntamente para fazer isso acontecer, e ver acontecer é emocionante, queremos muitas edições em vários lugares.”