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Cris Guterres conta suas estratégias para continuar vendendo mesmo em momentos de crise no Empreende aí Cast

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A convidada deste episódio é jornalista, realizadora do podcast Meteora e proprietária de um restaurante na Avenida Paulista e compartilha estratégias e dicas para manter as vendas em momentos de crise

 A convidada do sétimo episódio do Empreende Aí Cast, Cris Guterres, conta com otimismo suas estratégias para manter seus empreendimentos em pé durante o isolamento social imposto para conter a pandemia de Covid-19. Este bate papo faz parte do penúltimo episódio da primeira temporada do podcast apresentado por Luís Coelho e Jennifer Rodrigues e está disponível no Spotify e no Youtube.

O restaurante vem de uma geração onde a gente tem uma mudança no comportamento econômico da população negra. Eu herdei o restaurante dos meus pais. Os meus pais construíram esta história e conseguiram passar isso para mim. A gente sendo negro, o mais comum da gente ouvir das pessoas é que elas é que elas são herdeiras de dívidas, nunca de bens

Cris Guterres

Cris Guterres também é colunista do Uol Universa e da Revista Azminas, além de apresentar o Rio Ethical Fashion, fórum internacional de moda e sustentabilidade.

Mulheres inspiradoras compartilham seus saberes e histórias 

Com o objetivo de auxiliar as empreendedoras das quebradas com histórias inspiradoras de mulheres que criaram o seu próprio negócio e também compartilhar dicas práticas para executarem em seus negócios, a Empreende Aí (Escola de Negócios da Periferia para Periferia) lança seu primeiro podcast nas plataformas do Spotify e do Youtube, o Empreende Aí Cast.

Criado por Luís Coelho e Jennifer Rodrigues, moradores da periferia do Jardim São Luís, zona sul de São Paulo, a Empreende Aí é uma iniciativa que busca motivar pessoas das quebradas na criação de seus negócios e na sua capacitação profissional no mundo do empreendedorismo. Neste conteúdo em formato podcast, a ideia é inspirar quem já pensa em criar seu próprio negócio ou quem deseja aprender como melhorá-lo.

Com mais de cinco anos de atuação, o Empreende Aí já realizou diversos cursos e palestras nas periferias e conta com a parceria do Itaú Mulher Empreendedora e a International Finance Corporation (IFC), organismo do Grupo Banco Mundial, para a realização do Empreende Aí Cast.

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Débora Luz, fundadora do Clube da Preta, conta dicas sobre o Instagram no Empreende aí Cast

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Com mais de 150 mil seguidores em sua rede social, a empreendedora negra do ramo da beleza e da moda conta a trajetória da criação de seu negócio de impacto social

O programa de podcast da escola de negócios da periferia para a periferia, o Empreende aí Cast, convida a empreendedora Débora Luz para um bate-papo sobre como empreendedores podem utilizar o Instagram para aumentar sua rede de seguidores e clientes. Este bate papo faz parte do sexto episódio da primeira temporada do podcast apresentado por Luís Coelho e Jennifer Rodrigues e está disponível no Spotify e no Youtube. 

Eu acredito que trabalhar com rede social, independente de ser na área do empreendedorismo ou não, tem que dedicar um tempo ali para cativar o público e humanizar a relação […]. E uma das principais coisas que você tem que fazer é ter a sua identidade, não querer ficar imitando outras pessoas […]. Traga aquele conteúdo de forma transparente e humanizada, de forma bem feita

Débora Luz

O Clube da Preta é um programa de assinaturas de artigos produzidos por afroempreendedores, com foco na área da beleza e da moda, criado pelo casal Débora Luz e Bruno Brigida. O público do negócio é composto, em sua maioria, de mulheres negras.

Compartilhando histórias de mulheres inspiradoras 

Com o objetivo de auxiliar as empreendedoras das quebradas com histórias inspiradoras de mulheres que criaram o seu próprio negócio e também compartilhar dicas práticas para executarem em seus negócios, a Empreende Aí (Escola de Negócios da Periferia para Periferia) lança seu primeiro podcast nas plataformas do Spotify e do Youtube, o Empreende Aí Cast.

O podcast é um formato de conteúdo por áudio, que vem ganhando força nos últimos anos e se assemelha muito aos antigos programas de rádio. Esta primeira temporada conta com oito episódios, que serão até fevereiro de 2021.

Criado por Luís Coelho e Jennifer Rodrigues, moradores da periferia do Jardim São Luís, zona sul de São Paulo, a Empreende Aí é uma iniciativa que busca motivar pessoas das quebradas na criação de seus negócios e na sua capacitação profissional no mundo do empreendedorismo. Neste conteúdo em formato podcast, a ideia é inspirar quem já pensa em criar seu próprio negócio ou quem deseja aprender como melhorá-lo.

Com mais de cinco anos de atuação, o Empreende Aí já realizou diversos cursos e palestras nas periferias e conta com a parceria do Itaú Mulher Empreendedora e a International Finance Corporation (IFC), organismo do Grupo Banco Mundial, para a realização do Empreende Aí Cast.

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Teste

Linha fina de exemplo..

Conteúdo de exemplo…

Mulheres em Círculo: a experiência de coletivos de mulheres

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Sempre tive muitas mulheres à minha volta. Fui criada pela minha mãe, por amigas da minha mãe, pelas mães de creche e professoras: todas elas me ajudaram na passagem da infância para a adolescência.
Tiemi 2013

Sempre tive muitas mães. Esse sempre foi o meu destino: Mãe Eva Marçal, mãe Sônia Lopes, as mães dos meus namorados e as mães dos meus amigos. Minha conexão com mulheres sempre foi muito forte e para além do meu entendimento.

Eu conheci o feminismo muito cedo por falas da minha professora e amiga Selma Saraiva, ativista social e artista plástica. Entre aprender a beber, fumar e me divertir nas noites da periferia de São Paulo, aprendi a diferença estabelecida entre falar do feminismo e a prática do que deveria ser o comportamento esperado de uma mulher.

Minha primeira luta foi o espaço de fala. Ser ouvida é, sem dúvida, uma das maiores dificuldades na vida de uma mulher. Fui oradora do grêmio estudantil como secundarista e não foi fácil conquistar esse espaço.

Posso dizer que mesmo com todos os ruídos existentes, a apropriação de ideias e a negação do conhecimento presente nessa pequena mulher que aqui relata, eu consegui ser ouvida e reconhecida pelo meu posicionamento em diversos espaços. Eu sabia que a luta contra esse silenciamento fazia parte da luta feminista, mas não dávamos esse nome para o que sempre fez parte da realidade das mulheres periféricas.

O feminismo para mim era branco, falava em outra língua, trazia argumentos fora da realidade, e por isso que até quase os 25 anos eu não fiz parte de nenhum coletivo feminista. Aos 27 anos já havia feito muita coisa – fui atriz, cantora, poeta e mãe -, mas ainda não havia me conectado com algo que considerava fundamental: a mim própria. Tudo que eu lia e conhecia frequentemente me distanciava das minhas próprias experiências, pois a vida é feita de fatos e não de análises, de nada vale se eles não estão conectados. Então fui para a faculdade de sociologia entender como o conhecimento poderia fazer sentido no cotidiano periférico e suas mazelas.

A essa altura eu já fazia parte das estatísticas como mãe solteira, mulher preta e pobre de periferia, e essa constatação estreitou minha relação com o feminismo, pois ele se fazia necessário como base de compreensão para todas as dificuldades que eu enfrentava nesse percurso de mulher universitária e mãe.

Durante esse período me afirmei mais do que nunca como mulher negra, apesar de muitas pessoas terem uma visão embranquecida da minha presença em razão dos meus traços indígenas, assim como minha forma de comunicação – adquirida no movimento social e político – confunde algumas delas sobre a minha classe social. Sempre fugindo dos estereótipos e buscando uma construção de uma auto imagem que me fortalecesse no contexto social público, me vi muitas vezes constrangida, por não ser reconhecida em lugares que para mim sempre foram comuns em minha vida. A construção de um estereótipo de mulher periférica, muitas vezes destrói um espaço de convivência importante para as mulheres.

Durante minha vida acadêmica conheci uma bibliografia imensa sobre mulheres, mas um livro em si mudou minha trajetória: Mulheres: o gênero nos une, a classe nos divide de Cecília Toledo.

Já abastecida de leituras marxistas, esse livro me fez rever e focar absolutamente na mulher e suas questões. Toledo aponta que a mulher passou por diversas situações de opressão no decorrer do tempo, mas que, no entanto, ela não nasceu oprimida ou inferiorizada, mas passou a ser tratada dessa maneira, e que essa relação esteve relacionada, direta ou indiretamente, à divisão social do trabalho.

A partir daí percebi que a submissão da mulher não é natural, porque naturalizamos esse estado de coisas que vêm de nossos parceiros, de nossos patrões e todo e qualquer homem que se vê na disputa de espaço social. É importante destacar que minha vida se fez no movimento social e cultural, mas mesmo nesses espaços a construção da masculinidade está, até hoje, envolta de um machismo velado pela amplitude da arte e das necessidades sociais -, como saúde e habitação. Apesar de as grandes líderes desses movimentos serem mulheres, muitas vezes homens se apropriam dessas lutas se tornando destaque nesses movimentos.

Toledo fala sobre a questão da pobreza e as piores condições de vida da mulher negra, mas também fala sobre suas lutas. A mulher negra naturalizou a luta como parte da sua vida, pois ser mulher é lutar o tempo todo pela sua sobrevivência e de sua família, sendo difícil aí identificar esse cotidiano de luta com as bandeiras feministas, tornando esse movimento estranho às ações que ela realiza cotidianamente e seus espaços de conquista.

A permanência na Universidade foi um tempo de maturação, leitura e conhecimento, muita troca e reações diante do machismo presente, mas somente em 2012, quando retornei à periferia, comecei realmente a pensar atuações que possibilitassem a formação política e de gênero na quebrada.

Uma coisa é fato: não é fácil pensar sobre emancipação feminina quando nós mesmas estamos engendradas nessas amarras – relacionamentos, trabalhos, filhos, a vida em movimento – enquanto estamos refletindo sobre o que significa de fato poder ser quem somos e conquistar espaços, sem que isso de certa forma, se torne um conflito em nossa própria narrativa.

A liberdade é frágil e precisa ser protegida. Sacrificá-la mesmo como medida temporária, é traí-la. Como, então, agir em um contexto onde a vida vivida nos envolve constantemente no machismo? Eu ainda não sei, mas descobri em 2015 que estar constantemente entre mulheres nos livra de diversas amarras e promove um processo de cura importante.

Em 2013, criamos o coletivo Katu junto a professores da região, atuando em escolas públicas na formação política de jovens do ensino médio: uma estratégia de conversar com os jovens sobre as convenções políticas existentes, gênero, cultura e sexualidade que, sem dúvida, é um tema que sempre surgirá se em uma roda de jovens pedirmos que eles sugiram temas para um debate.

Por meio desse coletivo conheci mulheres que também continham em seu discurso ideias e práticas feministas em âmbito periférico: Alessandra Tavares, Jenyffer Nascimento, Mariana Brito, Carla Arailda, Danielle Regina, Daniela Braga, Dandara Kuntê, entre tantas outras.

Temos outras histórias de encontro, claro: foram outros debates, mesas, encontros e comemorações dentro do espaço da cultura e do movimento social. Mas entre esses encontros nasceu uma ação feminista que levava em conta nossas particularidades territoriais, étnicas e econômicas. Não foi o primeiro lugar da cidade em que essa discussão se dava, seria impossível, sem um estudo qualificado, historiografar esse movimento, mas afirmo que ele veio com força reanimando o movimento feminista nas periferias.

Em 8 março de 2015, nasceu o encontro de mulheres Periferia Segue Sangrando, a partir da reflexão de uma música do Rapper GOG e das ações da grafiteira e artista plástica Carolina Teixeira, que pintava úteros pela cidade. Realizamos um encontro onde reunimos mulheres da periferia sul em círculo para falar das nossas mazelas e realizar um processo de cura coletivo.

Com base nos círculos restaurativos e sua metodologia potente no trabalho dos impactos da violência na subjetividade, que trabalha por meio de vivência o mergulho em sua própria história, os danos que violências vividas ainda nos provocam e nos afetam em relação aos outros e, principalmente, em nossa atuação como mulheres livres. Dores essas visíveis e invisíveis que trazemos como marcas em nossos corpos físicos e metafísicos, pois, nossas ancestrais também viveram trajetórias marcadas pela dor. O racismo, elemento da escravidão, e o machismo e o preconceito de gênero nos atravessam historicamente e elaboram esse imaginário do medo da liberdade que se confunde com a impossibilidade de viver plenamente como mulher.

Esse encontro foi um marco no meu imaginário de feminismo, pois nunca havia participado de algo tão completo, belo e extravagante. Mulheres de diversas partes e contextos diferentes em círculo, com uma peça de fala (instrumento utilizado como mediador de fala, quem está com a peça está com a palavra, até que se esgote sua fala e ela passe a peça para outra mulher), falando de suas histórias e trajetórias. Entre dores e alegrias, nós, entre outras, compartilhamos ali a importância de nossas histórias para a elaboração de nossas vidas.

Sem dúvida aquele círculo me curou de tantas formas que não cabem em palavras, mas uma coisa é fato: descobri ali que a fala sobre a importância da luta da mulher contra o machismo e as diversas formas de opressão que se apresentam em nossas caminhadas se dá por meio da escuta e do compartilhamento.

Esse foi um momento em que na periferia Sul diversos coletivos feministas começaram a existir. A Coletiva Fala Guerreira estabeleceu um curso de comunicadoras, reuniu mulheres de diversos cantos da cidade na Associação Cultural Bloco do Beco no Jardim Ibirapuera, sede ainda hoje de diversas ações feministas da Zona Sul. Desse curso nasceu a revista Fala Guerreira que, com seis exemplares, trouxe diversas mulheres na produção de textos sobre a mulher no contexto periférico, além de debates e ações relevantes.

Ainda outras surgiram como as coletivas Camomilas, Mulheres Negras, Audácia, entre diversas outras espalhadas pela cidade – elas surgiram. Ou ressurgiram, em um contexto mais denso da discussão de um feminismo periférico. Grupos artísticos como a Capulanas – Cia de arte negra compostos por mulheres, têm em sua produção artística a mulher negra e a diáspora, que já existia, mas que nesse contexto de descobrimento da importância dos coletivos de mulheres se apresenta com uma potência nas narrativas ligadas à ancestralidade negra e sua importância no feminismo periférico.

Ficamos fortes, eu fiquei forte, e o debate de gênero, quente, em um contexto nacional. Rodas e mais rodas de debate e formação de gênero surgiram, e mais e mais se estabelece uma conexão com as mulheres, suas histórias e trajetórias.

Eu aprendi muito no círculo de mulheres, aprendi que minha vida na periferia de São Paulo tem importância em um contexto geral para a reflexão da mulher periférica. 

“Sabedoria de mãe, sua cabeça seu guia, ela me dizia entre conversas sobre o futuro e minha covardia.

Bebi muita água de mina, me banhei, brinquei, comunguei com ela as vozes que me seguiam. Meu berço mina da Monte Azul, sem intender vivi em torno da água quase que uma vida, água morta dos córregos, água viva da mina.

Essa água fez a menina…. Ah se eu soubesse o que sei hoje, teria feito daquela mina minha morada. Mas eu sentia de outra forma com meu baldinho de idas e vindas, sentia tristeza da minha pobreza, vergonha não, isso nunca foi servido lá em casa em nenhuma mesa.

Eu cresci em comunidade de verdade, muitas mãos para forjar essa menina, mães de creche, crianças, amigos e a mina.”

Anabela Gonçalves

Aqui se estabelece uma narrativa existente nos círculos de mulheres, não estou aqui tentando conjecturar dentro de uma análise intelectual a importância desses encontros, mas que vejam a partir de mim a importância de transformação da linguagem e da fala no processo de alinhamento da luta feminina.

Sem dúvida quando falo de mim, tenho que recorrer a um dos temas mais perturbadores na vida de uma feminista hétero: relacionamentos afetivos, amorosos e sexuais na contemporaneidade e suas amarras na manutenção do machismo e do capitalismo como normas sociais.

Em dúvida sempre, será que essa discussão se refere ao sexo ou a construção de uma masculinidade machista que pode reverberar em qualquer dos corpos que se relacionem? Sabemos que essa masculinidade machista tem se manifestado em corpos masculinos, sujeitando mulheres a relacionamentos privativos, violentos e torturantes, e eu não fugi a essa regra terrível, mas os círculos me fortaleceram para sair desses processos, olhando para o que era meu, o que era do outro e como as estruturas sociais alimentavam essas relações. Hoje o amor não é mais casar, mas também é casar, não é mais alianças, mas também é alianças, entre outros comportamentos patriarcais equivalentes, o que melhora nossa situação é a possibilidade.

Como não nos intoxicar com as velhas inflamações patriarcais que atrasam nossas conquistas pessoais, independente de gênero ou orientação? Tudo isso faz parte de uma grande e velha construção sobre nossas vidas. Hoje somos “Marias que vai com as outras”, estamos organizadas em pautas de extrema relevância para o presente, o passado e o futuro, resolvendo inflamações ancestrais que tiram de nós o peso de um passado de silenciamento e violência, tornando possível a fala de nossas ancestrais reverberar em nossas falas, mesmo lidando com o silenciamento e a violência constantemente.

Mas uma questão presente sempre fica: como regular o amor politicamente? 

Bem, hoje não estamos mais sozinhas para pensar sobre nossas relações, sendo elas heterossexuais ou não, sendo elas monogâmicas ou não. As mulheres e seus estudos, nos trouxeram a possibilidade de saber que nada é natural, tudo é uma construção, e como tal pode ser demolido.

Quando falamos dos círculos de mulheres aqui da periferia Sul de São Paulo, ainda em um recorte menor, da minha periferia sul, Jardim São Luís, Jardim Ângela e Capão Redondo, estamos falando de mulheres negras, mesmo com o relativismo estabelecido pelo colorismo, nós nos reconhecemos, também e ainda mais, pelas condições materiais de empobrecimento que vivemos. Por meio desse reconhecimento temos nos inspirado em nossa diáspora para reafirmar a importância das organizações femininas, não só em um contexto ocidental, por meio das lutas do movimento feminista organizado, também composto historicamente por mulheres negras em nosso país.

Em 1983, quando o governador de São Paulo, Franco Montoro, nomeou 30 conselheiras, todas elas brancas, para o Conselho Estadual da Condição Feminina – CECF (o primeiro conselho governamental dos direitos das mulheres e que inspirou todos os demais criados no Brasil), desencadeou-se um processo de mobilização de mulheres militantes do movimento negro paulista, tendo como resultado a criação do Coletivo de Mulheres Negras de São Paulo. Sua mobilização fez com que duas mulheres fossem nomeadas para compor o CECF.

Em 1984, realizou-se o 1º Encontro Estadual de Mulheres Negras, que discutiu, entre outros temas, as relações entre homens negros e mulheres brancas, a violência, a participação política, a estética, o mercado de trabalho, a educação, a mídia e a religião. Em 1988, ano comemorativo do centenário da Abolição da Escravatura, surgiu oficialmente o movimento das mulheres negras do Brasil, surge o Fala Preta e o Gueledés, grupos que inspiram nossas ações até hoje.

Em nosso contexto ancestral africano temos duas associações femininas importantes: Ialodê era uma associação feminina cujo nome significa “senhora encarregada dos negócios públicos”. Sua dirigente tinha lugar no conselho supremo dos chefes urbanos e era considerada uma alta funcionária do Estado, responsável pelas questões femininas, representando especialmente, os interesses das comerciantes. 

Enquanto a Ialodê se encarregava da troca de bens materiais, a sociedade Gueledé era uma associação mais próxima da troca de bens simbólicos. Sua visibilidade advinha dos rituais de propiciação à fertilidade e fecundidade – aspectos importantes do poder especificamente feminino.

Nesse contexto temos nossas Ialodês e nossas Gueledés. Acredito que os círculos femininos são em forma nossos Gueledés, formas de encontro que nos remetem a nossa ancestralidade e formas de cultivar a vida dentro do sistema ocidental de forma alternativa, com processos de cura, religare com nossas heranças ancestrais e retomada da força feminina existente em nossa história.

“Conta-se que logo que o mundo foi criado, todos os orixás vieram para a terra e começaram a tomar decisões e dividir encargos entre eles, em conciliábulos nos quais somente os homens podiam participar.

Osun não se conformava com essa situação. Ressentida pela exclusão, ela vingou-se dos orixás masculinos. Condenou todas as mulheres à infertilidade, de sorte que qualquer iniciativa masculina no sentido da fertilidade era fadada ao fracasso.

Por isso os homens foram consultar Olodumare.

Olodumare soube que Osun fora excluída das reuniões, ele aconselhou os orixás a convidá-la, e às outras mulheres, pois sem Osun e seu poder sobre a fecundidade, nada poderia ir adiante.

Os orixás seguiram os sábios conselhos de Olodumare, e assim suas iniciativas voltaram a ter sucesso. As mulheres voltaram a gerar filhos e a vida na terra prosperou.”

Prandi, Reginaldo, 2001

Esse Itan (lenda) já nos aponta nosso poder mítico ancestral para as lutas que temos que travar cotidianamente. Todas as mulheres que eu conheci são lutadoras em seu universo. Minha mãe saiu muito jovem de sua terra natal, Vitória da Conquista – Bahia, rumo a São Paulo. Após a morte de minha avó, viu sua família ser desmembrada pelo meu avô que deu todos os filhos para que outros criassem, e nesse contexto ela veio para São Paulo com uma família para trabalhar sem remuneração por comida e teto.

Após anos nessa situação, fugiu dessa casa deixando para trás tudo que tinha, inclusive seus documentos que estavam em poder da patroa. Retirou novos documentos em São Paulo e se deu o nome de Maria Gonçalves Vaz, criado por ela, pois não sabia seu nome de cor e assim recriou sua trajetória. Carrego meu sobrenome com orgulho, pois é símbolo da reconstrução de uma vida longe da escravidão domiciliar que muitas mulheres da geração da minha mãe e da minha vó passaram para sobreviver em um sistema de privilégios.

Minha mãe faleceu aos 65 anos por conta da hipertensão e obesidade que estiveram sempre presentes em sua trajetória por situações traumatizantes vividas e pelo estado de humilhação social constante, por ser uma mulher negra, pobre, nordestina e com desfalques em sua alfabetização. Nesse sentido, ela foi vítima de uma vulnerabilidade psicossomática que provém da exposição excessiva a tensões que têm origem na constante e histórica negativa de direitos sociais nas periferias.

Essa narrativa, assim como outras, só é possível por meio dos círculos de mulheres. Histórias que trazem para o contexto da problematização trajetórias inteiras contra o abuso sistemático da força de trabalho feminina.

A narrativa, sem dúvida, por si só já é suficiente: uma regra dos círculos é não analisar, nem tentar justificar ou contextualizar a história das mulheres. Tudo que se passa no círculo fica no círculo, não pode ser revelado ou discutido depois. É um exercício de escuta e acolhimento em primeira pessoa, eu relato somente o que eu vivi, a partir de mim, sem julgamentos.

Esse é o caminho, entre tantas ideias de autocuidado, o círculo de mulheres se mostra para mim um espaço de cura e resistência, ele não precisa de muito para acontecer, basta um grupo de mulheres dispostas a discutir sua realidade e suas contradições com uma escuta ativa, e no sentido de esvaziarem-se para que caiba novas noções de si, um novo olhar, sem o constrangimento de se adequar às questões ideológicas postas na sociedade, mas convictas de que não estamos em disputa, mas em construção de um espaço de compreensão e de possibilidade de sermos quem somos em uma constante de transformações.

Aqui eu fecho meu depoimento e vivência e passo a peça de fala para todas que estão em busca de formas de organização feminina. Possivelmente você já está rodeada de mulheres, mães, avós, amigas, tias. Façam circular as vivências e trajetórias, moldando em si mesmas a possibilidade de resignação e transformação as adversidades que encontramos para existir nessa sociedade que muitas vezes demonstra um ódio desmedido sobre nossa existência.

Seguimos sangrando!

Bololo pá pá pá: fim de ano na quebrada e as múltiplas famílias

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O Natal desse ano vai ser bem esquisito, mas nem por isso a quebrada deixa de comemorar. Ao invés de ir para rua, ver a família, se aglomerar do jeito que a quebrada gosta, que tal se unir com os seus em casa mesmo e pedir por um 2021 sem coronavírus?

Morro do Parque Taipas. Foto: Trilha Favela

Tira o escapamento. Gruda um gorro de papai noel no capacete. Essa imagem anuncia: é natal na quebrada. Famílias, temos várias: a de sangue, da igreja, do futebol, do rolê… A dos motocas de natal também é uma. O motivo de tirar o escapamento e fazer barulho? Eu não sei. Celebrar talvez? É *pá pá pá* no céu e no asfalto. No céu, rápido e colorido. No asfalto, como um raio, mas com rodas. 

“Cuidado ao atravessar a rua! Só tem motoqueiro doido hoje”. 

É Natal, minha senhora! Dia de colocar roupa nova para ficar sentado no sofá da sala; dia de comer um frango que só aparece nessa época do ano e depois vira farofa até janeiro; dia de celebrar. A noite natalina é mágica, mas mágica mesmo é o que nossa família consegue fazer o ano todo por nós, sempre na correria, para colocar comida na mesa e ainda no fim de ano comprar aquele presentão para as crianças.

Neste ano, tudo foi diferente. Seguindo as recomendações da Organização Mundial da Saúde, a distância é fundamental para que não haja contágio. Quebrada sem aglomerar? Difícil… Mas continuamos tentando. Nada de receber visitas em casa, hein? Até o “bom velhinho” não saiu do Polo Norte neste ano. Vai ficar por conta dos motoqueiros natalinos a festa mesmo…

No Ano Novo é a mesma coisa! Evite a muvuca da praia, que a gente sabe que é legal, mas dessa vez não tem como. Curta a virada de boa, na manha. Coloque a mão na consciência e comemore com quem está do lado. Deixe as intrigas para lá, e troque o abraço por um brinde com os copos de requeijão mesmo e faça o pedido que mais será feito ao universo: um 2021 sem pandemia.

Feliz Natal e feliz Ano Novo, quebrada! Tudo que nóiz tem é nóiz!

Michelle Fernandes, da Boutique de Krioula, fala sobre Whatsapp para negócios no Empreende aí Cast

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O programa de podcast da escola de negócios da periferia para a periferia, o Empreende aí Cast, convida a empreendedora Michelle Fernandes para bate-papo sobre a atuação de negócios periféricos no ambiente virtual e nas redes sociais, principalmente a partir do Whatsapp. Este bate-papo faz parte do quinto episódio da primeira temporada do podcast apresentado por Luís Coelho e Jennifer Rodrigues e está disponível no Spotify e no Youtube. 

Quando a gente fala de empreendedorismo, a gente não se sente representado. A gente olha uma capa de uma revista de empreendedorismo e é sempre um cara branco, que já tem grana pra poder empreender e se não der certo o negócio dele, ele começa outra coisa. Mas essa não é a nossa realidade, aqui na periferia a gente começa com pouca grana e dessa grana a gente multiplica para continuar vendendo

Michelle Fernandes

Moradora do Capão Redondo, Michelle percebeu que muitas pessoas se interessavam pelos turbantes e acessórios que ela utilizava em fotos nas redes sociais. Com um pequeno investimento inicial, ela encarou o desafio de empreender e passou a comercializar seus produtos pela internet e em shows de rap. Hoje, a Boutique de Krioula vende para todo o Brasil e também em outros cinco países. 

Dicas, ferramentas e inspiração 

Com o objetivo de auxiliar as empreendedoras das quebradas com histórias inspiradoras de mulheres que criaram o seu próprio negócio e também compartilhar dicas práticas para executarem em seus negócios, a Empreende Aí (Escola de Negócios da Periferia para Periferia) lança seu primeiro podcast nas plataformas do Spotify e do Youtube, o Empreende Aí Cast.

O podcast é um formato de conteúdo por áudio, que vem ganhando força nos últimos anos e se assemelha muito aos antigos programas de rádio. Esta primeira temporada conta com oito episódios, que serão lançados até fevereiro de 2021.

Criado por Luís Coelho e Jennifer Rodrigues, moradores da periferia do Jardim São Luís, zona sul de São Paulo, a Empreende Aí é uma iniciativa que busca motivar pessoas das quebradas na criação de seus negócios e na sua capacitação profissional no mundo do empreendedorismo. Neste conteúdo em formato podcast, a ideia é inspirar quem já pensa em criar seu próprio negócio ou quem deseja aprender como melhorá-lo.

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Procurando presentes para o final do ano? Compre dos afro-vendedores

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Estamos há poucos dias para o fim do ano. Mesmo em plena pandemia, é possível sentir aquela correria frenética das pessoas em busca de presentes e roupas para as festividades.

Procurando presentes para o final do ano? Compre dos afro-vendedores

No texto Black Money publicado mês passado, falamos muito sobre a importância de formarmos uma rede de negócios, consumidores e serviços oferecidos por pessoas pretas. Eis nós aqui novamente não apenas para reforçar o que já foi dito, mas para vos apresentar alguns serviços e marcas de prestígio a serem consumidas sem peso na consciência.

Hoje temos aqui na zona sul de São Paulo, uma variedade de empreendedores pretos que produzem produtos de qualidade trazendo junto a representatividade preta e periférica que merecemos. As quebradas são polos de pessoas criativas e capacitadas e para se manterem, arriscam até o que não têm para abrir um investimento ou mais que isso, por acreditar em um sonho. É a partir daí que temos que chegar junto, do começo. Mesmo que você não possa ajudar financeiramente, uma divulgação feita nas redes sociais pode ajudar alguém que está iniciando. 

Falta visibilidade nas coisas que fazemos, desde as ações sociais aos pequenos produtos artesanais, por exemplo. A exploração da mão-de-obra escrava agravou a desvalorização dos trabalhos físicos e manuais, por isso há uma pretensão por parte de alguns de achar que por ser algo feito por pessoas pretas e periféricas tem que custar mais barato sem visar o talento e as dificuldades daquela pessoa. Sabendo disso, a mudança só depende de nós mesmos. Valorizar o produto e a pessoa é fundamental. 

Vamos então apresentar alguns negócios de diferentes segmentos localizados aqui na zona sul de São Paulo. 

Casa da Paula 

Para abrir o apetite, vamos falar dos Bolinhos Afro feitos pelas mãos da Ana Paula Evangelista, articuladora e cozinheira, ergueu o seu próprio negócio chamado Casa da Paula ao lado do shopping Campo Limpo. A Casa da Paula oferece também marmitas, feijoadas e quitutes deliciosos. É possível salivar só olhando as fotos.

WhatsApp: (11) 98983-9665

“Aonde você compra quando quer ser elegante?” 

Identidade Negra 

Outra ótima dica para presentear alguém, ou mesmo você, são os óculos, camisetas e as bolsas da marca Identidade Negra, fundada pelo empresário Wagner Cerqueira. Eu mesma comprei os óculos que usei no vídeo Black Is Back In Style e garanto que a qualidade e o atendimento é excelente.

WhatsApp: (11) 98531-1242

AfroPerifa 

E para os casais pretos que gostam de combinar nas roupas e acessórios, Afro Perifa – Design e Moda Afro Urbana da Periferia é a marca perfeita para vocês, lançada por jovens pretos que produzem acessórios, roupas infantis, moletons, meias chinelos, uma variedade de coisas. Têm uns vestidos lindos lançados agora no verão. Vale a pena conferir.

WhatsApp: (11) 95119-1854

Braids da Braba 

Eu me divulgo como dreadmaker, mas vira e mexe tem alguém me perguntando se sou trancista devido eu fazer para algumas amigas e amigos. Eu prefiro indicar os melhores profissionais que eu conheço, como a minha amiga e parceira Alessandra Santos, que manda muito bem em fazer qualquer tipo de trança. Ela trabalha em um dos melhores salões de beleza do Taboão chamado Rei das Tranças.

Braids da braba – WhatsApp: (11) 99162-1067

Rei_das_trancas_oficial – Tel: (11) 5844-3751

TrançAmor 

Agora vamos falar de um projeto social que realmente está fazendo a diferença na vida das pessoas – TrançAmor. Uma ação social idealizada pela trancista e ativista Evelyn Deyse. TrançAmor está desenvolvendo um papel muito importante, especialmente neste momento delicado de pandemia, com a distribuição de alimentação saudável às famílias periféricas e pessoas em situação de rua no Distrito do Jardim São Luiz. 

Os cardápios são descritos com o auxílio de uma nutricionista, o projeto tem como prioridade oferecer uma comida sem veneno, 100% orgânica. TrançAmor também oferece assistência psicológica e jurídica, cursos de formação, entre outros atendimentos, tudo de forma gratuita contando apenas com o apoio dos amigos, moradores e parceiros que investem e patrocinam essa caminhada. Fiquem atentos às campanhas de doação. O foco é intensificar as entregas de quentinhas orgânicas e de cestas de alimentos para que neste final de ano as crianças da comunidade tenham além dos brinquedos, frutas e legumes orgânicos e muito Amor. A galera se organizou para vender as marmitas orgânicas, então se você comprar, além de comer bem e sem agrotóxico, você estará contribuindo com essa iniciativa.

Receitas da Vó 

Para quem gosta de produtos naturais e medicinais, fica a dica Receitas da Vó tudo feito com cura pelas mãos e sabedoria de Romária Sampaio, atuante na região do Grajaú. Romária produz óleos, pomadas, géis, banhos de assento e sabonetes, com efeitos curativos, tudo feito com os princípios naturais de ervas, raizes, frutas, flores e plantas. Receitas da Vó também promove massagens e oficinas de auto cuidado e cultivo medicinal e tradições de uso popular.

Espero que vocês tenham gostado das sugestões aqui deixadas e que pratiquem de fato o Black Money. Se cuidem, cuidem dos seus próximos e fiquem em casa! Feliz Kwanzaa e Feliz Ano Novo!

Inteligência periférica: A lacuna entre os programas de apoio ao empreendedor e o profissional da quebrada

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Nas últimas cinco reportagens da série “Inteligência Periférica”, compartilhamos a história de cinco profissionais que mesmo com pouco ou nenhum auxílio do Estado, continuaram seus corres para gerar renda e seguiram construindo suas possibilidades. Na última reportagem de 2020 da série, contamos sobre como programas de apoio ao empreender são importantes, mas nem sempre atendem as reais demandas.

Muitos profissionais que moram nas periferias da cidade, encontram na abertura do CNPJ como Microempreendedor Individual, uma possibilidade para assegurar algumas condições básicas para o seu trabalho. Mas também tem aqueles profissionais que enxergam essa “formalização” um outro tipo de burocracia, e que em muitos casos não comporta a sua atuação.

Acessar fundos de apoio ao microempreendedor e conseguir suporte desses fundos não é uma realidade para muitos profissionais e trabalhadores informais. Muitos programas e políticas públicas não chegam até os profissionais das periferias que trabalham com uma diversidade gigantesca de atuação, e não encontram nesses programas medidas que de fato dialoguem com seu trabalho.

Entender a diversidade e as várias ramificações do trabalho autônomo e informal, e também o contexto que faz esses trabalhadores surgirem, é algo que ainda não está no radar de muitos investidores.

Segundo a Ade Sampa – Agência São Paulo de Desenvolvimento que atua junto a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho de São Paulo, nos últimos anos foram desenvolvidas uma série de ações e políticas públicas que apoiam o empreendedor nos territórios periféricos da cidade, como o VAI TEC, programa de impulsionamento e aceleração de negócios de jovens das periferias.

“Outra política pública de apoio aos empreendedores de regiões mais vulneráveis é o Teia, coworkings públicos. A Prefeitura de São Paulo já conta com cinco unidades instaladas na cidade: Parelheiros, Santo Amaro, Cidade Tiradentes, Taipas e Centro. Os espaços de trabalho colaborativo oferecem mesas de trabalho, sala de reunião, acesso à internet, cursos e capacitações, eventos de networking e diversos outros serviços que o empreendedor teria que pagar para ter acesso em um coworking privado”, informa a Secretaria Desenvolvimento Econômico e Trabalho.

Ainda segundo a Secretaria, as iniciativas buscam auxiliar na formalização de empreendedores. “A Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho busca promover também a formalização dos empreendedores das periferias da cidade, para que assim eles possam não só ter seus direitos garantidos por lei, como serem reconhecidos pelo governo e pela economia paulistana. Os empreendedores têm sido uma das molas propulsoras da economia paulistana. Para continuar apoiando seus negócios, eles precisam se formalizar e comercializar os seus produtos legalmente”.

A Secretaria afirma que nas 24 unidades do Cate – Centro de Apoio ao Trabalho e Empreendedorismo, os empreendedores podem se formalizar como MEI – Microempreendedor Individual gratuitamente. A equipe da Ade Sampa atua nos postos de atendimento oferecendo orientações aos que desejam começar seu próprio negócio. “Neste momento de pandemia, o atendimento está sendo feito por telefone, whatsapp e e-mail. Pelos canais de atendimento os munícipes podem tirar dúvidas sobre como se formalizar, emissão de notas e documentos, além de acesso à linhas de crédito do governo estadual”, concluem.

Durante o período da pandemia, a Ade Sampa relata que firmaram uma parceria com o Banco do Povo, programa de microcrédito do Governo do Estado de São Paulo, para realizar o teleatendimento aos empreendedores na divulgação da nova linha de crédito de R$ 25 milhões para micro e pequenas empresas enfrentarem os efeitos econômicos da pandemia.

Também contaram que oferecem cursos e capacitações para o empreendedor entender a importância do seu empreendimento, alavancar o seu negócio, e se reinventar no período da pandemia. Durante a crise da covid-19 as palestras e atividades estão sendo ministradas de forma on-line semanalmente pelas redes sociais da AdeSampa.

“Já foram oferecidas atividades com diversos temas como economia criativa, gestão de negócios, maneiras de reinventar durante a crise econômica, vendas pela internet e muitos outros assuntos que podem auxiliar o empreendedor neste momento e durante a retomada econômica da cidade”.

Favela do Fim de Semana, Jardim São Luis – Zona Sul – SP/18 . Foto: DiCampana Foto Coletivo

Sobre os profissionais que atuam no segmento do artesanato, a Secretaria relata que apoia a geração de renda do setor. “A Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho apoia também a geração de renda dos artesãos e manualistas da capital por meio do Mãos e Mentes Paulistanas. O programa já conta com mais de 1.300 artesãos habilitados pela Prefeitura para participar de feiras, eventos e ações que são promovidas na cidade. No segundo semestre deste ano será contratada uma gerenciadora para desenvolver ações de capacitação, qualificação e um e-commerce para os participantes do programa”, finaliza.

Para o núcleo de trabalho do Centro de Estudos Periféricos, o governo vem abrindo mão do seu papel de mediador das relações trabalhistas, assim como de ser parte de um processo transformador que poderia criar uma outra economia, mais solidária, ao promover programas de compras públicas, organizando pequenos produtores, fortalecendo os processos de formação, promovendo crédito acessível e espaços de comercialização. 

Quando o poder público se ausenta e burocratiza sua relação com a sociedade, o resultado é que as pessoas passam a acreditar que a relação com o setor privado é mais real, mais próxima e concreta, o que reduz ainda mais a capacidade de organização e de reivindicação por parte da sociedade

Núcleo de trabalho do Centro de Estudos Periféricos formado pelos pesquisadores Cleberson da Silva, Nataly de Oliveira, Egeu Gomez e Matheus de Carlos.

O trabalho informal se tornou um caminho de possibilidade financeira para muitos moradores das periferias. Para além da escolha de começar nesse ramo, e da falta de postos de trabalho com carteira assinada, a discussão envolve muitas camadas, principalmente por estar ligada a condições históricas que afetam quem é das periferias: racismo, desigualdade social, econômica, e de gênero, negligência do poder público, e tantos outros que só quem está no dia a dia consegue entender na pele.

Enquanto isso é a periferia que continua criando suas próprias soluções, e seus próprios caminhos, como coloca o Dj Dagoma: “Baixar a cabeça nóis não pode, é aquele ditado, né!? Ou nóis encara a dificuldade, ou a dificuldade engole você”.

Através das cinco trajetórias que compartilhamos ao longo dessa série, conhecemos profissionais das periferias que continuaram suas lutas, se reinventaram e usaram de uma das habilidades que os moradores dos territórios periféricos possuem: a inteligência periférica.

Acesse e confira todos os conteúdos da série “Inteligência Periférica” de 2020:  

Confira a primeira reportagem da série Inteligência Periférica. 
Confira a segunda reportagem da série Inteligência Periférica.

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Inteligência periférica: juventude periférica segue se reinventando – Desenrola E Não Me Enrola

Você vai conhecer a trajetória do jovem Josiel, morador do distrito do Jardim Ângela, zona sul de São Paulo, que nos últimos nove meses precisou criar três formas diferentes de gerar renda.
Confira a terceira reportagem da série Inteligência Periférica. 

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Inteligência periférica: Durante a quarentena a rua continuou sendo um meio para gerar renda – Desenrola E Não Me Enrola

Vamos contar a história da Edilene Protásio, confeiteira e moradora da zona oeste de São Paulo, que assim como muitos moradores das periferias, não pôde parar de sair nas ruas para trabalhar.
Confira a quarta reportagem da série Inteligência Periférica. 

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Inteligência periférica: Como é ser mulher, mãe e empreendedora na quebrada sem o suporte do Estado? – Desenrola E Não Me Enrola

Conheça a história da artesã Thamyrys Tamer, que participava de muitos eventos com seu trabalho, mas com o início da quarentena precisou se readaptar e buscar novas formas de vender seus produtos.
Confira a quinta reportagem da série Inteligência Periférica.
 

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Inteligência periférica: “No começo da pandemia foi um choque, me senti desempregada” – Desenrola E Não Me Enrola

Na última história de 2020 da série, conversamos com a Valdirene Rodrigues, costureira e moradora da região leste de São Paulo, que durante a pandemia passou a produzir um dos itens essenciais para sair às ruas depois da chegada da covid-19, as máscaras de tecido.

Como nos lembra Emicida: “Tudo, tudo, tudo, tudo que nós tem é nós”

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Na esteira do lema Nós Por Nós, diversos coletivos, associações de bairros, ONG, Igrejas, comitês populares, movimentos periféricos, quase sempre sem apoio do poder público, constroem alternativas e formas de organização solidárias em suas comunidades.

Entrega de kits de higiene São Mateus, zona leste. Foto: Anderson Costa

Foi assim
No dia em que todas as pessoas do planeta inteiro
Resolveram que ninguém ia sair de casa
Como que se fosse combinado, em todo o planeta
Naquele dia ninguém saiu de casa
Ninguém

Raul Seixas

O ano 2020 vai ser lembrado como o ano em que a Terra parou. Da China, no final de 2019, um coronavírus se espalhou pelo mundo, provocando uma das maiores pandemias que já atingiu a população mundial. Infelizmente essa Pandemia está agravando desigualdades socioeconômicas, e mais uma vez as populações menos favorecidas são as que mais sofrem. De acordo com Mark Lowcock, da agência humanitária da ONU, “o quadro que vemos neste ano traz a perspectiva mais sombria e desoladora que já definimos até agora. Isso ocorre porque a pandemia gerou uma carnificina nos países mais frágeis e vulneráveis.”

Vivemos hoje um dos momentos mais incertos da história, o medo toma conta de nossas vidas. A maioria da população não sabe como agir, as políticas públicas de saúde e sanitárias não dão conta de amenizar as desigualdades, as ações econômicas são insuficientes e não chegam a toda população, sobretudo aos “brasileiros invisíveis”, milhões de desempregados, nomeado assim pelo ministro da economia Paulo Guedes.

Por outro lado, historicamente grupos desfavorecidos atuam cotidianamente em suas realidades com ações de solidariedade. Na esteira do lema Nós Por Nós, diversos coletivos, associações de bairros, ONG, Igrejas, comitês populares, movimentos periféricos, quase sempre sem apoio do poder público, constroem alternativas e formas de organização solidárias em suas comunidades. Desde o início da Pandemia, nas mais diferentes periferias do país, esses sujeitos sociais vêm mobilizando ações concretas em seus territórios para reduzir os impactos da Covid-19 que atingem de modo especial, as mulheres e a população negra, segundo dados do IBGE, na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD COVID19.

No bonde da solidariedade a UNEAFRO-Brasil, organizou a Campanha Apoio Permanente para Famílias Negras e Periféricas – COVID19, que colaborou e está ajudando milhares de famílias com alimentos, produtos de limpeza e higiene, além de auxílio para educadores e desempregados. A UNEAFRO também criou o projeto Agentes Populares de Saúde, em parceria com diversos profissionais da saúde, para apoiar as comunidades assistidas pelo movimento

Nas maiores favelas de São Paulo, Heliópolis e Paraisópolis, a população também vem mobilizando seus territórios. A Unas (União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região) criou a Campanha Heliópolis no Combate ao Coronavírus, que já distribuiu mais de 40 mil cestas básicas, milhares de kits de higiene e limpeza, máscaras de proteção e botijões de gás, além da conscientização com carros de som e o convencimento boca a boca para reforçar as instruções que evitam o contágio pelo vírus causador da doença. Em Paraisópolis grupos de voluntários organizaram inúmeras ações de doações, mantém um hospital de campanha, com UTI móvel e logística dos profissionais da saúde, além da distribuição de alimentos, água, colchões, produtos de limpeza e higiene, são também distribuídas diariamente mais de mil refeições para os moradores mais pobres da favela.

Na zona sul de São Paulo, no distrito do Jardim Ângela, dentre inúmeros coletivos e movimentos, a Sociedade Santos Mártires, uma referência na Defesa da Vida, nessa Pandemia se tornou abrigo para milhares de famílias, distribuindo mais de 15 mil cestas básicas, milhares de kits de higiene, máscaras, álcool gel, sabonetes, além 4.500 vale compras no valor de 300 reais.

Essas ações das coletivos e movimentos periféricos devem ser vislumbradas como parte do que Milton Santos chamou de “período popular da história”, em que o incontestável, a naturalização das desigualdades passam a serem questionadas, onde a verticalidade e o autoritarismo das práticas hegemônicas, são substituídos pela solidariedade dos lugares, pela horizontalidade e afetos das relações cotidianas.

Como outrora disse Dom Hélder Câmara:

O  mundo não mudará pela ação isolada de líderes esclarecidos e sim pelo empenho comunitário de grupos de resistência e de profecia que se consagrem a transformar o mundo a partir de uma profunda convicção de fé no ser humano e na vida.

Dom Hélder Câmara – O Deserto é Fértil

Websérie “Salve Sobrevivente” mistura ficção e realidade durante a pandemia no Capão Redondo

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Pandemia, território e identidade são elementos presentes na série virtual criada por jovens do Capão Redondo durante este ano e todos os episódios já estão disponíveis para maratonar. 

Protagonizado por jovens do Capão Redondo, a websérie “Salve Sobrevivente” mostra a quebrada vivendo a pandemia de Covid-19. Combinando situações reais e outras fictícias, a produção conta com seis episódios e está disponível no Youtube. A direção é do ator Ícaro Rodrigues e o fotógrafo Fernando Solidade faz a direção de fotografia e edição.

Pensada inicialmente como um espetáculo de rua, a proposta se adaptou ao contexto de distanciamento social e se transformou em uma websérie, como explica Ícaro: “De alguma forma, a gente lida com a questão da pandemia porque foi o momento que essa obra foi criada. Não tinha como ignorar tudo que a gente viveu e ainda está vivendo”. 

“Para nós, o fim do mundo chega mais cedo”  

Música, poesia e futurismo se reúnem na produção que tenta abarcar a multiplicidade de linguagens do território do Capão Redondo. O processo de pesquisa da produção começou no início do ano e partiu da leitura do livro de Ailton Krenak “Ideias para adiar o fim do mundo”, lançado em 2019. Refletindo sobre as ideias e relações entre território e identidade propostas pelo autor indígena, a produção traz reflexões e relatos sobre o Capão Redondo a partir da visão dos jovens.

A gente percebeu que no decorrer do ano essa ideia de fim de mundo ficou cada vez mais latente. E a gente chegou na fábula que o fim do mundo tinha chegado e só sobrou o Capão Redondo. A gente pensou também que fosse um trabalho que transitasse entre a linguagem ficcional e a documental, trazendo o ponto de vista dos jovens e das jovens do Capão. […] O Krenak fala que o fim do mundo já chegou para os povos indígenas e os jovens fizeram essa relação com o povo periférico, porque de alguma forma, o nosso fim chega cedo também.

Ícaro Rodrigues

Todos os episódios já estão disponíveis e é possível acompanhá-los na sequência: 

Episódio 1 – O meu Capão é meu lugar de fala

Episódio 2 – Salve, Sobrevivente!

Episódio 3 – Constituição

Episódio 4 – Reizinho

Episódio 5 – Menina Água

Episódio 6 (final) – Reina sobre nós