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Para realizar Enem, jovens das periferias precisam estudar, trabalhar e sobreviver à pandemia

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 Como a pandemia de coronavírus afetou a rotina e a saúde mental de jovens moradores de territórios periféricos que estão se preparando para realização da prova do ENEM?

Willian terminando suas rotinas de estudo

 Divididos entre os estudos, trabalho e a nova rotina moldada pela pandemia do novo coronavírus, a juventude periférica tem encontrando uma série de desafios para se manter firme no propósito de realizar o Enem e ingressar no ensino superior por meio do Prouni, programa do governo federal que garante ao estudante de escolas públicas a possibilidade de aumentar as chances de conquistar vagas em universidades públicas e bolsas em instituições privadas de ensino.

Mas e a saúde mental dessa juventude periférica, como anda? Qual é o impacto de um bom temperamento emocional para realizar a provada do Enem? Conversamos com estudantes que estão passando por esse processo árduo de se dividir entre estudos, trabalho e família, para a gente aprofundar essa discussão sobre o Enem e o acesso ao ensino nossa para quem mora nas periferias.

Um desses jovens é Willian Souza Santos,19, morador do Capão Redondo. Ele estuda em casa para realizar as provas do Enem e conta que já está há três anos tentando ingressar em uma universidade pública. “Já tô há três anos tentando o Enem, meus pais vieram da Bahia atrás de uma vida melhor em São Paulo, e eles não chegaram a terminar o fundamental. Minha mãe é secretária e o meu pai é carpinteiro, então eu seria o primeiro a conseguir”, conta ele, relatando o histórico profissional e educacional da família.

O estudante comenta sobre seu nervosismo com os cenários de futuro e fala sobre suas angústias. “Minha expectativa para o vestibular é preocupante, até porque pelo momento em que estamos vivendo, já existe a insegurança por ter vindo de uma escola pública, ser negro, estou nervoso. Eu quero fazer psicologia em uma Federal, especificamente, a Unifesp por gostar da grade curricular deles”, comenta.

O jovem faz questão de descrever como a pandemia afetou sua rotina de estudos e suas motivações para continuar estudando sozinho. “Eu quis estudar sozinho por não aguentar mais fazer cursinho, visto que já fiz dois anos. Eu estudo a partir das áreas que tenho mais dificuldade, que no caso é matemática. Sigo um cronograma e tento estudar todos os dias, eu uso o celular, principalmente o YouTube com vídeo aulas gratuitas. A pandemia afetou a minha rotina, porque eu estudava principalmente nas bibliotecas públicas, onde me dá mais concentração, além de todo adoecimento mental que causou em mim e no bairro também”.

 Vestibular e saúde Mental

Estressado com a chegada e os preparativos para o vestibular, o estudante relata o desgaste da sua saúde mental. “O vestibular me causa nervosismo e muita pressão, e eu sei que não é só comigo, mas também as pessoas ao meu redor, as pessoas que moram onde eu moro e também querem entrar em uma universidade pública. A pandemia só veio para agravar isso, porque é a primeira vez que vamos lidar com uma prova tão importante como o Enem em um cenário tão turbulento e incerto, que é difícil até pensar na prova”.

Ele acredita que uma boa saúde mental é fruto de um estado de bem estar emocional. “Saúde mental para mim é você se sentir mentalmente bem, conseguir lidar com as coisas de forma tranquila e sem estresse”, conta.

Willian faz questão de enfatizar que tudo o que está passando tem uma forte ligação com a forma como o Governo lida com as políticas públicas ligadas à educação e a juventude. “O Estado parece não se importar muito com os jovens estudantes e trabalhadores, especialmente quando se trata de saúde mental ou o processo de estudo para o Enem em ano de pandemia. Isso fica claro quando vemos a propaganda feita pelo MEC, em que a mensagem transmitida sugere que nós temos que dar um jeito de estudar de qualquer forma e quem não tiver recursos, como internet, computador e livros, já é excluído do processo seletivo antes mesmo de fazer a prova. Em virtude do desdém que o governo tem para com os jovens pobres, pretos e periféricos que nem eu por exemplo.”

creditos: Vanusa Nobre

Os cursinhos populares nos impulsionam a continuar nessa luta de ocupar as faculdades públicas que é nosso lugar por direito

Stefany Santos

A moradora de Poá Stefany Santos Lourenço,18, estuda no cursinho popular Uneafro Brasil. Mesmo com o suporte dos educadores da organização de educação popular, ela compartilha algumas inseguranças sobre o futuro da sua trajetória como estudante universitária. “Estudo durante três anos, realizei a prova do Enem duas vezes, quero fazer História na USP, mas sigo muito insegura, mesmo sendo um sonho sempre tenho a sensação de que não vou conseguir”, afirma ela, enfatizando que todos os seus planos foram afetados: “desde pequenos até grandes planos foram afetados e quando isso acontece vem o sentimento de frustração e nossa saúde mental fica em estado crítico”.

A estudante comenta como a pandemia afetou sua rotina de estudos, e as dificuldades de conseguir em casa um espaço e estrutura para estudar para o Enem. “Antes da pandemia eu tinha um planejamento de estudos para o ano inteiro e com a chegada da pandemia precisei trabalhar mais e não consegui acompanhar o ritmo dos estudos que eu tinha antes e em casa dificilmente consigo estudar. Geralmente o espaço que tenho é na cozinha onde todos transitam, fazendo muito barulho e não consigo me concentrar, tudo se tornou mais difícil com o distanciamento”.

Lourenço finaliza falando sobre a importância do cursinho na sua vida e no território. “Os cursinhos populares são de enorme importância nos impulsionando a continuar nessa luta em ocupar as faculdades públicas que é nosso lugar por direito, a Uneafro me ajudou a ter outra visão de mundo, não somos apenas um cursinho, fazemos um trabalho com a autoestima, militância e vida, e é de extrema importância nas periferias que nós jovens se sentimos reconhecidos e com pertencimento de fazer de algo”.

Outra estudante de cursinho popular é a Bianca Nobre, 17, moradora do Alto do Riviera no Jardim Ângela, zona sul de São Paulo. A aluna da Rede de Cursinhos Populares Ubuntu relata suas dificuldades de estudar em casa. “Para mim, as maiores dificuldades de estudar em casa é a falta de contato humano né, aquele calor da sala de aula, isso fez eu me sentir muito só, e perder bastante motivação, eu também tive que me adaptar a um modelo de ensino à distância que ele requer mais disciplina, e era uma disciplina que eu costumava ter mais em sala de aula, então esse tipo de estudo online também é um pouco dificultoso pra mim”, compartilha Bianca.

Outro ponto bem importante descrito pela estudante aponta a desigualdade social sobre a infraestrutura para estudar dentro de casa, tanto no contexto familiar, quanto no acesso a materiais, e enxerga isso como privilégio quando pensa em seus amigos e até no seu território. “Eu tenho sorte de tanto minha família, meus amigos, e o cursinho também me apoiarem bastante nessa jornada, mas eu vi relatos e situações de pessoas que deixaram de estudar, tenho acesso à internet, computador, celular, e me sinto bem privilegiada quanto a isso, porque eu sei que não são todas as pessoas aqui da periferia que tem, mas mesmo assim eu acho difícil, não substitui a sensação de sala de aula, é difícil me adaptar a ficar olhando pra uma tela no vídeo e não me distrai, não me sentir só”.

A desmotivação de Bianca para com os estudos vem sendo combatida com o apoio da Rede Ubuntu, segundo ela, o cursinho tem ajudado a seguir em frente e se sentir mais forte nesse processo. “Eu me desmotivei de um tempo pra cá, então eu mantive o estudo, só que não no mesmo ritmo, não na mesma constância de antes, não todo dia por exemplo, não o tempo todo, igual era. Agora eu tento manter o que eu consigo, tento me respeitar, respeitar minha cabeça, só esperando que isso tudo passe, e eu consiga alcançar meu objetivo, o cursinho oferece muito apoio amigo, um apoio emocional, e é isso que me impede de desistir dos meus sonhos, os professores de lá também entendem o sofrimento do estudante, que eles já passaram por essas situações, e agora a pandemia potencializou essa insegurança, essa ansiedade, essa frustração”, conta a estudante.

Barreto finaliza comentando a importância do cursinho não só neste momento para sua vida inteira. “Foi uma importância gigantesca, imensurável, porque além de professores eu encontrei pessoas que me inspiram diariamente, e eles acreditam no meu sonho junto comigo, então eu não tenho o que falar, e mesmo sabendo que eles também estão passando por dificuldades, porque não só os alunos, mas os professores também ficam mal nesse tempo, eles ainda estão aqui presente, tão conversando, isso eu acho que é essencial, ainda mais agora”.

Os alunos não são iguais aqueles do comercial do Enem né, a gente tem uma realidade muito dura aqui

Agnes Roldan

 A coordenadora do cursinho popular Ubuntu, Agnes Roldan, 20, descobriu a existência da iniciativa em 2017, ano no qual, a universitária ainda estava cursando o ensino médio e hoje cursa Ciências Sociais na FMU.

Ela lembra como foi esse processo de sair do ensino médio e ingressar na universidade com apoio do cursinho popular. “Em 2017, no meio do ano eu ainda era estudante do ensino médio, descobri que existia um cursinho na periferia de graça. Isso não fazia muito sentido na minha cabeça, mas eu quis saber como era, onde era, recebi informações de como chegar no cursinho e cheguei. Um dos meus colegas de trabalho hoje é o Renato, que me recebe e me abraça, isso é bem marcante pra mim.

Agnes recorda o importante fato de que após dois anos após de ingressar como aluna, ela foi convidada para fazer parte do grupo de coordenação do cursinho. “Estudei o resto do ano na Ubuntu e ingressei na faculdade depois, os ajudei com algumas coisas de entrevista no ano seguinte, aí em 2019, o Renato, o mesmo que me recebeu em 2017 para ser aluna, me liga perguntando se eu não quero entrar na coordenação, e essa vai ser minha historia com o cursinho, muito próxima, quase uma família, e tem essa ligação de ser aluna e depois ser coordenadora”.

Em meio à pandemia, a coordenadora relata que foram necessárias uma série de adaptações no planejamento geral do cursinho e que medidas foram tomadas para de alguma forma aproximar as pessoas dentro da internet.

“De repente a gente precisa parar esse planejamento e mover tudo para uma realidade online, e na realidade online é difícil você manter essa afetividade na educação, o contato próximo, e aí a gente passou a tentar concertar isso, a gente faz lives aos sábados para eles terem aulas com os professores do cursinho, na semana eles estudam na plataforma do descomplica , tem uma equipe de redação para corrigir redação pra eles, além disso, a gente faz outras atividades”, conta Agnes.

Ela revela que neste momento, os alunos da Rede Ubuntu estão usufruindo de parcerias importantes para manter os sonhos de acessar a universidade acesso e energizados. “Eles estão passando por uma série de diálogos com um grupo de pesquisadores sobre como vai ser o futuro do trabalho, e como eles olham esse futuro, e teve parceria com a 4gPra estudar, que ajudou demais a gente, pois os alunos puderam realmente ter acesso à internet e estudar e se concentrar nos estudos”, explica a jovem, afirmando com a aproximação da data do Enem vai rolando um nervosismo entre os alunos do cursinho.

A coordenadora comenta sobre as propagandas que passa na televisão a respeito dos estudantes e fala sobre como é a realidade. “Os alunos não são iguais aqueles do comercial do Enem né, a gente tem uma realidade muito dura, muitos alunos estão trabalhando, fazendo jornada dupla, tripla, no meio de uma crise sanitária, isso gera tristeza, isso gera desesperança. Então você percebe que eles querem muito continuar, querem muito realizar o sonho de poder entrar em uma faculdade, mas o momento vai desanimando”, analisa.

Embora a coordenadora do cursinho popular enfatiza como eles estão cuidando e fortalecendo os seus alunos, ela prevê um futuro difícil para os estudantes de escolas públicas que moram nas periferias e favelas. “O cenário é difícil, o cenário daqui para frente prevê muita evasão escolar, infelizmente é uma coisa que eu consigo enxergar, é a relação que o governo está tendo com os alunos de escola pública nesse momento, ele prevê uma evasão escolar, uma evasão que já está acontecendo na realidade, por conta de um ensino remoto que não foi pensado nos alunos pobres né, que são a maioria de escolas públicas”.

Consciente do estado de abandono dos estudantes das escolas públicas na periferias, Roldan fala sobre como a Rede Ubuntu tem pensado a saúde mental entre os estudantes nesse momento. “É um coletivo que vem pensando essas ações, enquanto rede a gente fez algumas rodas de conversa com eles, pra pensar saúde mental, para trabalhar essa esperança, pra dizer estamos aqui, somos Ubuntu, e tem dado certo, tem sido muito gostoso esse momento, pra cuidar da saúde mental dos alunos, que é uma coisa que realmente pesa muito, na hora de você prestar vestibular”.

Agnes finaliza comentando sobre os posicionamentos do Estado referente à educação e a saúde mental dos jovens que estão estudando para o vestibular. “Se a gente vivesse no mundo ideal, a gente teria o estado que pensasse nas desigualdades, o estado deveria ter feito isso, pensando nos alunos, nos recortes dos alunos, pensando nos professores que estão tendo que trabalhar o dia inteiro, que tiveram salário cortado nessa época, então com acesso aos dados que ele tem, e com um pouco mais de pensamento nas desigualdades sociais que a gente tem, o estado poderia ter feito um serviço mais efetivo”, argumenta.

 Enlouquece ai, é a hora pra isso mesmo, vai ficar tudo bem, isso não é doença mental, é uma ansiedade natural, doença mental é realmente outra coisa

 Mayra Ribeiro

 Olhando para esse cenário de desigualdade sociais na educação, avanço no número de casos críticos de saúde mental e escassez de direitos digitais, a psicóloga Mayra Ribeiro, 40, integrante da Uneafro Brasil, explica o que está acontecendo neste momento de pandemia com a juventude periférica e enfatiza que ela passara por vive várias transformações e pressões. “O que ta acontecendo com o jovem, que faz o vestibular, é ele tá se sentindo mal, deprimido, ansioso, isso não é doença mental, tá de boa, que bom que ele tá sentindo tudo isso, enlouquece ai, é a hora pra isso mesmo, vai ficar tudo bem, isso não é doença mental, é uma ansiedade natural, doença mental é realmente outra coisa”,

A psicóloga comenta como esse é o momento de romper com o tradicional jeito de utilizar de outros meios e formas para adquirir conhecimento e se fazer conhecimento. “Os próprios conteúdos online vão facilitando essa nova maneira de aprendizagem, através disso, dessa pessoa mesmo, ir lá, pegar o conteúdo que o professor colocou no Google Class, e dali ele mesmo ir procurando, e olhando, e que eles também passam a ressignificar esse lugar onde vivem, eu acho que também tem esse momento de ressignificar isso, saber que às vezes você vai conseguir ler, acompanhar o YouTube e tudo mais, na questão da concentração e do barulho, porque tem muita gente lá, é de novo não pensar no método tradicional, é pensar aqui, o foninho, a leitura, eu a tela, e um cantinho”.

A psicóloga fala sobre a forma a insegurança afeta os estudantes e ressalta que o papel dos cursinhos surgirem como espaços de quilombo. “O jovem negro, como todo jovem ele é inseguro, o racismo pode fazer que ele fique ainda mais inseguro, mas não que isso tenha como ser mensurado, eu diria que a insegurança é complicada nesse momento, de mudança de vida que é o vestibular, então o cursinho popular é a ferramenta ancestral que fez o desenvolvimento da população negra, funciona pela diáspora, organizada em movimentos, como a ferramenta do quilombo, a periferia é aonde todos os negros foram alocados, por conta do racismo espacial, então o que eu acho dos cursinhos e a estrutura, é a única estrutura que até agora a gente conhece, que foi capaz de transformar a vida dos negros de vez até agora”.

Atenta aos impactos causados pela inexistência de políticas públicas que cuide da saúde mental da juventude, Mayra comenta sobre as posições do governo neste momento. “Eu acredito que nesse momento esse governo não tem nenhuma preocupação com a educação, eles são assumidamente que acreditam na força do braço, então qualquer coisa de achar que eles estão incentivando a educação é pura ilusão, porque eles falam abertamente que não ligam. Acredito que todos os jovens que estão prestando vestibular, ainda mais jovens de quebrada, têm plena consciência que na quebrada dele ainda tem problemas maiores a serem resolvidos, e que precisam ser pensados primeiro, antes da política pública da saúde mental dele, antes de estar realizando um sonho, importante lembrar que ainda a entrada para universidade, é a realização de um sonho”, aponta ela.

A psicóloga encerra deixando uma mensagem a todos que estão na caminhada de ingressar na universidade e no mundo acadêmico. “É sempre importante que essa pessoa que tá tentando ingressar na faculdade, entenda que ela tá realizando um sonho, e que vai ser muito bom, e por mais que seja uma jornada difícil, a jornada da intelectualidade é uma das mais bonitas que têm escolher viver sobre o pensar, sobre o ler, sobre ajudar as pessoas, enquanto se faz isso, através de pesquisa, artigo, entre outras coisas, é um dos maiores privilégios que alguém pode ter então boa sorte, se joguem”.

Familiares das vítimas do massacre de Paraisópolis realizam ato para exigir justiça

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Um ano após as mortes dos nove jovens, as famílias ainda não tem nenhuma resposta do poder público diante da ação violenta da Polícia Militar durante o Baile da Dz7 

Foto: Nicole Conchon

No próximo 1º de dezembro de 2020, familiares dos 9 jovens mortos em decorrência da ação policial no Baile da 17, em Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo, realizarão ato em memória de seus familiares e para reforçar as reivindicações sobre a responsabilização por essas mortes. Uma ano se completou sem que as famílias tivessem respostas institucionais sobre esse crime.

Foi durante um baile funk que os jovens, em sua maioria negros, Paulo Oliveira dos Santos, 16 anos, Bruno Gabriel dos Santos, 22 anos, Eduardo Silva, 21 anos, Denys Henrique Quirino da Silva, 16 anos, Mateus dos Santos Costa, 23 anos, Gustavo Cruz Xavier, 14 anos, Gabriel Rogério de Moraes, 20 anos, Dennys Guilherme dos Santos Franco, 16 anos e Luara Victoria de Oliveira, 18 anos, foram assassinados. Segundo vídeos de moradores da região, testemunhas e reportagens, agentes da Polícia Militar empenharam o uso indevido e desproporcional da força diretamente contra pessoas desarmadas e rendidas, em um contexto de atividade cultural.

Na versão da PM, as mortes e os ferimentos em mais de 20 pessoas, se deram por pisoteamento. Os familiares dos jovens contestam e alegam que eles não resistiram às violências que foram submetidos por policiais.

Movimentos apoiam o ato

A ação configura a criminalização de expressões culturais da periferia e o genocídio contra a população negra, jovem e periférica. As organizações do movimentos negro e as famílias das vítimas exigem a responsabilização do Estado pelas intervenções violentas, pelas mortes e pela desestruturação de nove famílias.

O ato por justiça e em memória das vítimas, será realizado no dia 01 de dezembro de 2020, às 16h30, em frente ao Portão 2 do Palácio dos Bandeirantes do Governo do Estado de São Paulo. O ato conta com apoio da Uneafro Brasil, Coalizão Negra por Direitos, Rede de Proteção e Resistência ao Genocidio, Instituto de Defesa do Direito de Defesa, Rede Liberdades.

App registra em tempo real situações de aglomeração no transporte público

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O grupo de pesquisa Rede de Mobilidade da Periferia desenvolveu o aplicativo Sufoco, com o objetivo de criar uma rede colaborativa de dados que podem ajudar a mapear e relatar problemas no transporte público, uma rotina comum vivenciada por moradores das periferias e favelas de São Paulo.

Live da apresentação do aplicativo sufoco

 Passar sufoco no transporte coletivo faz parte da rotina do morador da quebrada, porém em meio a pandemia do novo coronavírus a condição de má qualidade do serviço público que oferece acesso a cidade, ganhou outro significado: o risco dos passageiros serem contaminados pela covid-19.

Foi pensando nisso que a Rede de Mobilidades da Periferia, um grupo de pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), formados por pesquisadores e estudantes que moram e vivem o cotidiano das periferias, criou o aplicativo Sufoco, para mapear de maneira colaborativa e em tempo real os alertas dos passageiros que estão em situação de aglomeração no transporte público de São Paulo.

O professor de geografia Ricardo Silva, 43, morador da Penha, distrito da zona leste da cidade, leciona na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Ele revela que suas pesquisas deram embasamento para criação do app, pois nas entrevistas com as pessoas sempre aparecia o tema da lotação. “Eu fui estudar transporte e mobilidade, e especialmente no doutorado eu percebi nas pessoas quando fazia as entrevistas, elas reclamavam muito sobre essa questão da lotação, mas não é um tema muito levado em consideração, até mesmo do campo da mobilidade”.

Silva afirma que a partir de suas pesquisas ele entendeu que o problema de mobilidade urbana vai além do planejamento da cidade. “A mobilidade como um direito né, não simplesmente como mercadoria. A mobilidade como mercadoria é isso: um transporte lotado que atende os interesses mercadológicos, pras grandes corporações, é interessante que se tenha o transporte lotado, dá mais lucro”, explica.

A partir desses estudos, o professor concluiu também que para mudar essa lógica de superlotação no transporte é necessária uma modificação de pensamento. “Direito à cidade é pensar o transporte público, gratuito, de qualidade e a cidade acessível né, de outra maneira para além dessa lógica mercadológica”.

O professor relembra que o ponto de partida para criação do app foi marcado pela realização de debates e diálogos com as pessoas, para construir junto a elas uma proposta de ferramenta digital, em formato de mapeamento colaborativo, na qual os passageiros do transporte público pudessem denunciar as situações de superlotação.

Em meio a esse processo, o professor sempre buscou formas de mostrar o quão letal seria a pandemia de coronavírus para os moradores das periferias e favelas de São Paulo. “No começo da pandemia, em março, eu fiquei muito atento em produzir mapas e buscar dados, que de alguma forma pudesse revelar a letalidade do coronavírus nas periferias”, conta.

Para a Rede Mobilidade da Periferia, o importante é garantir a utilização da tecnologia para que as pessoas tenham autonomia e voz para fazer denuncia sobre a situação do transporte público. “Imagina a construção de mapas a partir dos interesses das pessoas que vivem nos lugares, ou que sofre as dificuldades no dia a dia, como a mobilidade e revelar esses problemas, a partir das vivências delas”, argumenta o professor que integra o grupo de pesquisa.

 Com o app funciona?

 O app Sufoco possibilita que os usuários qualifiquem o reporte de situações de lotação escolhendo o tipo de coletivo como ônibus, metrô e trem. Além disso, a partir dos dados relatados pelos passageiros será possível acessar informações sobre qual linha tem maior recorrência de lotação, qual linha que tem mais lotação, seja ônibus, metrô e trem.

Para que esses dados transpareçam a realidade que os moradores estão vivendo dentro do transporte público nesse momento, a Rede Mobilidade da Periferia entendeu que os próprios usuários de ônibus poderiam fazer isso em tempo real.

“Esses dados com esses problemas podem ser as próprias pessoas, as pessoas que estão nessa condição de lotação do transporte. Elas podem ajudar a construir um mapa de maneira colaborativa”, diz Ricardo, apontando o processo natural de alimentação de informações pelo qual o app pode funcionar, onde o objetivo é fazer com que as pessoas pudessem produzir suas próprias informações, a partir de suas vivências, a fim de transformá-las em dados. Além do professor, o aplicativo teve a colaboração do estudante e desenvolvedor de software Leonardo Garcez.

Essa produção de dados independente tem que divulgar mais pra comunidade

Serginho Lima

Serginho Lima, morador do Jardim Eliane, zona leste de São Paulo, participou da fase de testes do app como colaborador comunitário. Ele conta como foi a experiência. “Você coloca a linha e o app dá algumas questões para você escolher se está usando o transporte como lotado, com aglomeração, sem aglomeração ou se você não conseguiu entrar. Eu achei bastante simples”, relata o morador.

Segundo Lima, durante o uso do aplicativo, ele sempre relatava que usava a linha de ônibus do bairro na categoria lotado e que não tinha horário específico para a linha estar em estado de lotação, ou seja, não dependia dos horários de pico para isso acontecer.

Em meio a essas experiências, o morador relata que o descaso da prefeitura com o transporte público em seu bairro é recorrente. “A gente tem duas linhas aqui dentro do bairro que é a 253F, que todos os anos a gente tem que ficar brigando porque eles queriam até tirar daqui a linha, dizendo que teria que otimizar”, conta Lima, afirmando que além disso, o índice populacional no bairro não para de crescer, o que aumenta ainda mais a demanda por um transporte público que atenda a demanda de moradores.

Ele faz questão de compartilhar a indiferença que sente em relação aos órgãos públicos que deveriam pensar o planejamento da vida nos territórios periféricos. “Se vê que ninguém tem proposta para transporte público, não tem plano pra periferia”.

O morador ressalta que a produção desses dados pode ser uma oportunidade para cobrar medidas mais efetivas, prevendo que mostrará mais a realidade do bairro. “Eu acho que p formato desse aplicativo é uma coisa muito boa, porque você não tem nos meios oficiais dados para refutar inclusive questões que a própria Secretaria Municipal de Transporte coloca, não existe nada pra gente refutar nesse sentido, então essa produção de dados independente tem que divulgar mais pra comunidade”, finaliza.

Mobilidade na quebrada: Boulos propõe tarifa zero e Covas sugere transporte fluvial em represas

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O Desenrola entrevistou membros do Movimento Passe Livre SP e pesquisadores do Centro de Estudos Periféricos que fizeram uma análise pautada nas necessidades dos moradores das periferias e favelas de São Paulo sobre as propostas dos candidatos à prefeitura para o transporte público na cidade. 

(Foto: Yan Marcelo)

No próximo domingo (29), os moradores das periferias e favelas de São Paulo, principal parcela da população afetada pela ausência de políticas públicas de qualidade que garantem o direito à vida, irão às urnas no segundo turno das eleições municipais manifestarem a sua crença ou descrença na política institucional, para escolher o futuro prefeito da cidade de São Paulo.

Atento a uma série de denúncias sobre a má qualidade do transporte público nos territórios periféricos da cidade, realizada por moradores nas redes sociais, o Desenrola buscou especialistas que vivenciam o cotidiano desses territórios e convivem com os moradores, para analisar as propostas dos candidatos à prefeitura Bruno Covas (PSDB) e Guilherme Boulos (PSOL). 

Confira algumas denúncias de moradores publicadas em páginas de Facebook de bairros periféricos. 

As propostas de Bruno Covas 

O candidato à reeleição e atual prefeito Bruno Covas (PSDB) tem como seu vice Ricardo Nunes (MDB), e apresentou à justiça eleitoral as diretrizes do seu plano de governo, um documento de 46 páginas. O programa está dividido em dez eixos, um deles é o eixo “São Paulo mais ágil”, focado no transporte público e na mobilidade urbana.

Entre os destaques do plano de governo estão as propostas de transporte fluvial, um meio de locomoção sob a água, aumentar em 10% a capacidade do transporte coletivo, entregar o primeiro corredor de ônibus exclusivo na zona leste e ampliar a malha de ciclovias em 650km.

Listamos abaixo a proposta de Covas na íntegra, retiradas de trechos do plano de governo do candidato a reeleição na cidade. Confira:

  • Apostaremos na integração máxima dos diferentes modais de transportes, de bairros à terminais de ônibus e ao sistema Metrô e ferroviário;
  • Depois de 13 anos, a prefeitura realiza nova concessão para exploração das linhas de ônibus do município, o que resultará em aumento de 10% na capacidade de transporte no município – equivalente a mais 420 km de vias atendidas;
  • Vamos entregar o primeiro corredor de ônibus exclusivo para a Zona Leste, o corredor Itaquera, beneficiando mais de 620 mil pessoas. A região ganhará, também, um BRT (Bus Rapid Transit) na avenida Aricanduva, que promoverá a integração com as linhas 15-Prata e 3-Vermelha do Metrô e com o BRT Metropolitano ABD, incluindo ciclovias e sinalização inteligente;
  • Vamos inovar criando o Aquático, sistema de transporte público por barcos nas represas da cidade, integrado ao Bilhete Único;
  • Atendendo a demandas de décadas, a estrada do M’Boi Mirim será finalmente duplicada e o complexo viário Pirituba-Lapa será concluído;
  • A malha cicloviária da cidade ultrapassará 650 km, com a interconexão dos trechos existentes, iluminação, semaforização, manutenção constante das vias e inauguração de novos bicicletários públicos;
  • Um terço dos deslocamentos da capital é realizado a pé e a segurança do pedestre é prioridade. Vamos ampliar a requalificação de calçadas, faixas de travessia e a instalação de elementos de sinalização e mobiliário urbano, tornando a cidade mais acessível;

Esses são os principais tópicos do plano de Covas para o transporte público na cidade. Em nenhum momento, a lista de ideias do candidato cita os problemas elencados por Roseli da Silva, Gerson Abad e Bruna Simões, entrevistados na primeira reportagem da série Transporte e Eleições Na Quebrada.

Leia também.


Moradores afirmam que transporte público precário nas periferias de SP é racismo

Entrevistamos três trabalhadores que moram nas periferias das regiões norte, oeste e sul de São Paulo que chegam a passar cerca de 5 horas dentro do transporte coletivo, muitos deles em condições precárias, gerando uma série de desgastes físicos e emocionais nos passageiros.


https://www.desenrolaenaomenrola.com.br/contextos-perifericos/moradores-afirmam-que-transporte-publico-precario-nas-periferias-de-sp-e-racismo

As propostas de Guilherme Boulos

O outro candidato, Guilherme Boulos (PSOL) tem como vice a ex-prefeita Luiza Erundina (PSOL). Juntos, eles apresentaram a justiça eleitoral um documento de plano de governo com 62 páginas, contendo 24 temas propostas.

O décimo terceiro tema do plano de governo é Mobilidade Urbana. Nele, Boulos e Erundina apresentam as diretrizes de propor um pacto nacional pela regulamentação do direito social ao transporte público, melhorar a qualidade do transporte coletivo para que seja possível redução significativa de viagens de automóvel, debater junto à população e com trabalhadoras e trabalhadores do setor um novo modelo de transporte para São Paulo e consultar sistematicamente a população sobre mudanças de linhas, freqüências e itinerários.

O plano destaca que transporte é um direito social constitucional desde 2015, e não há verdadeiro direito social que dependa de renda para ser exercido. Isso só se concretiza a partir de políticas públicas para o combate às desigualdades na mobilidade urbana.

Segundo do documento, transporte coletivo é um serviço público e não mercantil. A cidade deve reorganizar os serviços de transporte ao mesmo tempo em que precisa, no plano nacional, que o princípio constitucional se concretize tal como no SUS, universal e gratuito.

Confira a proposta:

  • Implementar a Tarifa Zero, começando por assegurar a gratuidade a desempregados e estudantes, constituir um fundo municipal para o financiamento do sistema, com aportes de origens diversas;
  • Renegociar o vale-transporte para torná-lo fonte de recursos para financiar o sistema como um todo e lutar no âmbito federal para tornar concreto o direito social ao transporte, previsto na Constituição, por conta da pandemia;
  • Desinfetar os ônibus e dimensionar as ordens de serviço de operação para que se tenha uma ocupação máxima de um passageiro em pé por metro quadrado;
  • Planejar e aumentar segurança e qualidade do transporte de bicicletas, investindo na criação e integração entre ciclovias, terminais de ônibus, estações do metrô e os demais modais;
  • Criar linhas que circulam dentro dos bairros, diurnas e noturnas. Ônibus noturnos são fundamentais para permitir usufruir tudo o que a cidade proporciona.

Análise: transporte público é um direito social ou serviço? 

Ao longo da entrevista com os especialistas buscamos entender quais os desafios no transporte público de hoje e quais as soluções e melhorias os candidatos estão propondo. Levamos em consideração também quantas destas propostas foram pensadas e criadas junto com a população que utiliza o transporte público diariamente, a fim de entender quem está valorizando o conhecimento de quem mais precisa do serviço público.

Engajado em estudar formas de garantir uma tarifa menos abusiva para a população, principalmente pautando a tarifa zero na cidade de São Paulo, o movimento Passe Livre tem uma importância histórica na cidade de São Paulo ao ser um dos precursores da luta pelo passe livre para estudantes de escolas públicas da cidade. Nós entrevistamos Marcos Emanoel, 32, integrantes da organização política para entender como as propostas apresentadas dialogam com as necessidades da população que mais necessita do transporte público no cotidiano.

Manoel diz que recentemente o Passe Livre publicou avaliações sobre as propostas de cada candidatura para o transporte coletivo na cidade, dentre elas, a de Boulos era a única mais estruturada e que parece minimamente refletir as exigências das lutas feitas nas ruas por um transporte verdadeiramente público.

“Sabemos bem que fazer promessas em épocas de eleição é fácil e que somente a realização dessas promessas podem de fato afirmar um compromisso político com as pessoas mais pobres da cidade”, afirma.

O integrante do Passe Livre chama atenção para o fato de a pandemia de coronavírus só escancarar as dificuldades e precariedades do transporte coletivo e como isso se conecta com o jeito de governar de Covas e do governador João Dória.

“Covas e Dória submeteram as pessoas mais pobres na cidade, com pouca ou nenhuma condição de se manter ao longo da pandemia (também em decorrência do descaso do Bolsonaro) a ter que “optar” entre morrer de fome ou se expor ao vírus no transporte coletivo que não recebeu nenhum cuidado estrutural de prevenção ao vírus”, enfatiza ele.

Manoel também afirma que esse jeito de governar de Covas demonstra um compromisso do prefeito com ‘os de cima’. “Promoveram e seguem incentivando uma política de reabertura da cidade sem demonstrar nenhuma consideração pelo número de mortes em toda a pandemia”.

O movimento evidentemente vê essa situação com muita preocupação e revolta, nos últimos meses, em nome de uma ‘normalização’. “A pandemia deixou ainda mais explícita a real situação do transporte coletivo ainda hoje e já desde muito tempo, na qual a população existe para manter a existência do serviço e não ao contrário”, argumenta Manoel.

Ao encerrar sua avaliação sobre as propostas de Covas para o transporte público, Manoel enfatiza que ao precarizar o direito ao transporte, o atual prefeito reproduz uma forma de racismo estrutural com a população. “São os mesmos corpos violentados, né. A maior parte das pessoas que dependem do transporte coletivo para ir e voltar do trabalho são negras ou não-brancas, mulheres e periféricas, se considerarmos também qual os marcadores sociais das pessoas ainda hoje impedidas de se locomover na cidade ou perseguidas pela militarização do transporte, a resposta será a mesma. Dessa maneira, a luta contra o fim das catracas no transporte coletivo é também a luta pelo acesso da população pobre e negra por toda à cidade”, conclui ele.

Tarifa zero é possível?

Ao avaliar a proposta do candidato Guilherme Boulos (PSOL), Manoel conta que a tarifa zero é possível e explica que só não acontece porque os governantes não querem que aconteça. “A Tarifa Zero é viável já há muito tempo, e o que o Movimento faz questão de ressaltar é que sua implementação depende somente da vontade política dos governantes em implementá-la, não de qualquer motivo ‘técnico ou econômico’ como sempre usam de desculpa”, analisa.

Segundo o Movimento Passe Livre, a implementação da Tarifa Zero como política pública passa diretamente por desonerar a população (usuárias/os do transporte coletivo) que ainda hoje, é quem arca com a maior parte do subsídio e realocar essa demanda a quem realmente deveria e tem condições de pagar por ela.

Ele também enfatiza que se a Tarifa Zero está dentro das propostas de plano de governo do candidato Boulos, é por causa das lutas e conquistas de tantas pessoas que militam por um transporte coletivo melhor.

“É importante ressaltar que se hoje a Tarifa Zero virou proposta de campanha e parece um horizonte possível, é graças às conquistas da luta popular por transporte! Da luta que é feita desde baixo pela população, contra as catracas, a tarifa e seus aumentos. O aumento da quantidade de políticos defendendo a gratuidade no transporte coletivo e/ou ter a “Tarifa Zero” como ponto principal do programa de governo em algumas candidaturas, à exemplo da eleição para a prefeitura aqui em São Paulo é mais uma constatação de que a pauta do transporte público de verdade e a luta por uma vida sem catracas são cada vez mais inevitáveis”, avalia Manoel. 

“A gente só faz essa travessia quebrada – centro para trabalhar”

Marcos Manoel 

A solução para implementar a política pública de transporte coletivo gratuito para a população mais pobre, segundo Manoel seria criar uma nova forma de recolher impostos e taxar grandes fortunas. “Em cidades como São Paulo, é necessária uma reforma tributária que levasse em consideração uma taxação progressiva com taxação sobre grandes fortunas, bancos, grandes empresas pagando mais nessa arrecadação, e que seria usada para subsidiar a Tarifa Zero para toda à população. Existem ainda outras inúmeras formas de implementação da Tarifa Zero, e os benefícios para as quebradas começam justamente por permitir o acesso a toda à cidade uma vez que normativamente a gente só faz essa travessia quebrada – centro para trabalhar, o que a gente sabe que é muito pouco e menos do que necessitamos”, explica.

Caminhos para descomplicar o transporte público na quebrada 

O Centro de Estudos Periféricos, iniciativa desenvolvida por um grupo de pesquisadores acadêmicos e docentes da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, campus da zona leste, publicou antes do primeiro turno acontecer em São Paulo a Agenda Propositiva das Periferias, uma pesquisa composta com estudos sobre os seguintes temas: cultura, gênero, moradia, participação popular, transporte, educação, saúde, genocídio e violência, infância e trabalho.

Um grande diferencial do Centro de Estudos Periféricos em relação a outros centros de pesquisa acadêmicos é o fato do mesmo ser composto por integrantes de coletivos e movimentos sociais atuantes nas periferias de São Paulo pela luta por direitos sociais. Um desses membros é Sandro Barbosa, 42, doutor em Sociologia pela Unicamp e morador da Cohab 2 de Itaquera, zona leste da cidade.

Barbosa é o pesquisador responsável pelo eixo de transporte e mobilidade urbana da Agenda Propositiva das Periferias. O estudo faz uma série de apontamentos que se conectam em vários momentos com as propostas do candidato Guilherme Boulos, de universalizar o direito ao transporte de maneira gratuita, sem mexer no bolso da população mais pobre da cidade. 

Ele conta que ao longo do estudo foram realizados estudos e análises por meio de grupos focais e questionários aplicados em moradores, que a partir da sua vivência cotidiana de habitar as periferias e usar o transporte coletivo, levantaram suas próprias soluções e alternativas.

“Ao levantar suas estratégias de deslocamentos, dificuldades, relações com as pessoas no transporte, condições de vidas e etc., chegamos a seis propostas que consideramos fundamentais para melhorar a vida das pessoas que vivem nas periferias”, conta o pesquisador.

Conheça a Agenda Propositiva das Periferias

  • Redução da jornada de trabalho sem redução de salário;
  • Tarifa Zero e/ou Passe Livre para o trabalhador;
  • Reestatização do sistema de transporte coletivo de ônibus;
  • Novas linhas de ônibus e linhas circulares nas periferias;
  • Ampliação de linhas do Metrô e da CPTM para toda periferia;
  • Política de emprego e potencialização de centralidades na periferia.

A partir dos resultados obtidos com o estudo, o pesquisador afirma que o Centro de Estudos Periféricos busca diálogo com os candidatos neste momento de eleição para apresentar as propostas, no entanto, o candidato e atual prefeito Covas não demonstrou interesse em escutar os pesquisadores e conhecer os resultados da pesquisa.

“Na atual gestão de Bruno Covas (PSDB 2018-2020) não há abertura nem diálogo para estas questões, já que seu programa está inserido numa agenda neoliberal de ajustes fiscais que defende o transporte como serviço e não como direito social”, argumenta Barbosa, ressaltando, que de qualquer modo, o documento com a pesquisa será entregue ao dois candidatos que disputam as eleições no segundo turno.

“Entregaremos para ambas as candidaturas em segundo turno, mas conscientes de que somente a candidatura Guilherme Boulos-Luiza Erundina do PSOL poderiam realizar essas propostas”, enfatiza ele.

Outro ponto abordado pelo pesquisador que está presente no plano de Boulos é a necessidade de pensar as melhorias para o transporte coletivo dentro das periferias e partir delas, junto com os moradores. “O transporte precisa ser pensado na periferia não apenas a partir de uma relação com o centro (ou vários centros), mas, sobretudo, mediante ao processo de produção e reprodução social do espaço urbano que tem relegado cidades cada vez mais segregadas, desiguais e avessas ao direito à cidade, que é aquele direito que reúne todos os demais direitos”.

Para o pesquisador, direito à cidade não se refere apenas à apropriação das riquezas sociais existentes e distribuídas desigualmente na cidade, mas a possibilidade de se fazer outra cidade pela apropriação de seus produtores conforme suas necessidades e desejos.

Barbosa também ressalta que sem essa conexão e escuta da população das periferias e favelas não é possível desenvolver um entendimento sobre a mobilidade urbana necessária para as pessoas. “Não é possível entender a mobilidade urbana – que se refere à possibilidade e acessibilidades que os indivíduos têm de deslocamento de uma origem e um destino com rapidez, conforto e acesso –, em si mesma, já que há territórios em que seus habitantes têm maior mobilidade e em outros com menor e limitada”.

Outro ponto importante relatado pelo pesquisador foi o perfil profissional e a cor dos entrevistados que participaram da pesquisa. Segundo ele, foram escutados trabalhadoras domésticas, diaristas, auxiliares de limpeza, tele operadores e ajudantes de pedreiros, em sua maioria população negra, além de pesquisadores, professores e profissionais com ensino superior, para apreender suas experiências, perrengues e estratégias de deslocamentos no transporte.

Os principais problemas relatados pelos entrevistados estão relacionados com a qualidade de estrutura, segurança, tempo de espero e alto custo das tarifas. “Há mulheres que relataram que se sentem mais seguras nos trens da CPTM e do Metrô em relação ao ônibus, e quase todas destacaram o problema do abuso sexual pela condição de superlotação e do machismo estrutural da sociedade e a questão da violência diária sofrida nesses deslocamentos de duas e até três horas diárias sob condições às vezes precárias e desgastantes”, revela o pesquisador.

À pedido da nossa repórter, solicitamos acesso ao depoimento de uma das entrevistas. O pesquisador aceito o pedido e compartilhou o relato de Gabriela Nogueira, uma das entrevistadas dentro desse processo da pesquisa. “O transporte, especialmente para quem é da periferia, acaba com a energia vital do trabalhador. Muitas vezes, quando você chega ao trabalho já está amassado, fedido e exausto de tanta coisa que você já fez. Ninguém consegue ser feliz enfrentando duas horas ou mais pra chegar ao trabalho, duas horas de muito aperto, muitas vezes conflitos, calor, cansaço mesmo, de fazer tanta transferência, prestar atenção em tanta coisa”.

População negra 

O pesquisador do Centro de Estudos Periféricos faz uma análise histórica da relação de raça com o transporte coletivo, apontando como a população negra é afetada pela má administração pública deste direito social.

A partir dos dados obtidos e publicados no Mapa da Desigualdade 2020 da Rede Nossa São Paulo, ele chama a atenção para o fato de que população negra na cidade de São Paulo vive majoritariamente nas periferias. Segundo dados do estudo, o Jardim Ângela concentra 60% de população negra (pretos e pardos), seguida por Grajaú, 56,8%; Parelheiros, 56,6%, três distritos da periferia sul; e Lajeado, 56,2%; Cidade Tiradentes, 56,1%; Itaim Paulista, 54,8%; e Jardim Helena, 54,7%, na periferia leste.

“Só para destacar os sete primeiros na pesquisa. Inversamente, em distritos nobres como Moema não passa de 5,8%, o que nos remete a tríplice segregação do urbano”, analisa o pesquisador, apontando a seguinte estrutura de divisão de classes e raças na cidade: 1) socioespacial, decorrente da separação das classes sociais desde o bairro aos territórios na cidade; 2) étnico-racial, com a maior parte da população negra vivendo nas periferias; e 3) urbana, que se refere à separação entre áreas da cidade como centro expandido, subúrbios e periferias.

Barbosa finaliza a sua análise sobre o direito ao transporte coletivo na cidade, citando trechos de músicas do grupo de rap Racionais MC´s, inserindo-as como analogias que somente o morador das periferias e favelas podem sentir e compreender. “A população que vive nas periferias se identifica no transporte coletivo entre seus iguais porque sabe que são trabalhadores de baixa renda, população negra e feminina. Como cantou os Racionais MC’s sobre as periferias: ‘só quem é de lá sabe o que acontece’ ou mesmo ‘o mundo é diferente da ponte pra cá’. Além de a população fazer uma analogia do transporte coletivo como um navio negreiro, que trazia a população africana escravizada para vir trabalhar forçadamente nos engenhos de açúcar aqui no Brasil”.

Poeta Binho celebra aniversário distribuindo livros em mais de 100 pontos de ônibus do Campo Limpo

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A ação de incentivo a leitura é realizada com um grupo de amigos e poetas do sarau do Binho. A atividade marca a celebração de 56 anos do escritor do Campo Limpo.

Desde 2006, o poeta Binho realiza ações de incentivo à leitura no dia do seu aniversário. (Foto: Sarau do Binho)

Quem estiver passando nesta sexta-feira (27) pelos pontos de ônibus da Estrada do Campo Limpo, zona sul de São Paulo, será surpreendido ao ver em bancos de pontos de ônibus uma caixa com livros gratuitos, onde os moradores poderão escolher e levar para casa. A ação realizada pelo poeta Binho acontece sempre no dia do seu aniversário e já é uma tradição no território.

“Não Matarás nenhum brasileiro” é o nome da atividade que o poeta Binho realiza anualmente, por acreditar na importância de incentivar o gosto pela leitura e o acesso ao livro junto aos moradores das periferias.

Serão mais de 100 pontos de ônibus com caixas de livros gratuitos para a população. (Foto: Sarau do Binho)

“Binho faz esta ação desde 2006, quando tinha o bar e pagava pras pessoas lerem”, relembra Suzi Soares, uma das produtoras culturais que faz parte do coletivo literário Sarau do Binho e que está apoiando a realização do ação de incentivo a leitura no bairro. 

Como disse a produtora cultural, desde 2006, o poeta e morador do bairro do Campo Limpo celebra seu aniversário entregando livros na entrada do Terminal Campo Limpo, mas esse ano, devido à pandemia, o plano mudou. “Durante alguns anos distribuímos no Terminal Campo Limpo, mas para não gerar tumulto, devido à pandemia, este ano achamos melhor colocar nos pontos de ônibus do bairro”, afirma Suzi. 

A escritora Helena Silvestre é uma das artistas que está apoiando a distribuição de livros.(Foto: Sarau do binho)

A ação é realizada em parceria de um grupo de amigos e poetas que fazem parte do Sarau do Binho. Eles estão divididos em dois carros e vão distribuir livros em mais de 100 pontos de ônibus da região do Campo Limpo, sempre atingindo a estrada que corta o bairro e os bairros vizinhos.

Moradores afirmam que transporte público precário nas periferias de SP é racismo

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Entrevistamos três trabalhadores que moram nas periferias das regiões norte, oeste e sul de São Paulo que chegam a passar cerca de 5 horas dentro do transporte coletivo, muitos deles em condições precárias, gerando uma série de desgastes físicos e emocionais nos passageiros.

Roseli Silva passa todos os dias pela Estação Osasco da CPTM. (Foto: Roseli Silva)

Uma longa espera que varia de 20 a 40 minutos, muitas vezes embaixo de sol e chuva, ônibus em situações precárias, superlotação e aumentos abusivos nas tarifas de ônibus são fatos corriqueiros que fazem parte da rotina de quase 9 milhões de pessoas que passam às vezes mais de 5h por dia, dentro do ônibus, indo de um ponto ao outro da cidade para trabalhar, estudar e realizar compromissos diversos. Mas afinal, por que essa realidade ainda faz parte da vida de quem mora nas periferias e favelas de São Paulo? 

Eu fico praticamente 5h nesse caminho todo dia, é muito tempo

Roseli da Silva, moradora do bairro João XXIII, zona oeste de São Paulo

Quem vive essa rotina todos os dias é Roseli da Silva, 53, moradora do bairro João XXIII, zona oeste de São Paulo. Ela trabalha como empregada doméstica em Santana de Parnaíba. Ela pega o ônibus que sai do seu bairro todos os dias às 5h30, vai até o Terminal Pinheiros e lá embarca no trem, indo em direção estação da CPTM do município de Osasco, onde ela faz integração e depois vai até a cidade de Carapicuíba. Ao chegar lá, a moradora pega mais um ônibus, dessa vez intermunicipal para chegar ao seu trabalho às 08h da manhã. Só nesse trajeto de ida ao trabalho, ela gasta 2h30.

“Eu entro às 8h no trabalho. Indo e voltando eu fico praticamente 5h nesse caminho todos os dias, é muito tempo né, daria para fazer tanta coisa”, exclama a moradora, reafirmado a quantidade de horas gastas com o deslocamento de ida e volta da casa para o trabalho.

Roseli ressalta que as condições do transporte no bairro onde mora não corresponde com o valor pago pela tarifa que só aumenta. “Moro no bairro do Jardim João XXIII, e eu considero como um bairro bem precário, conduções são lotadas, muito longe do centro, falta muita coisa, tem bastante linha de ônibus, eu moro bem próximo ponto final do 7545, mas os ônibus são bem ruins, cheios de mais, tem vezes que não tem nem como entrar, ainda mais se tiver indo para o centro de manhã”, relata a moradora.

Ela lembra que tinha uma linha de ônibus que era boa no bairro, com a numeração 771P, o coletivo fazia o itinerário do Jardim João XXIII até o Hospital das Clínicas, mas aí o São Paulo Transporte (Sptrans), empresa pública que gerencia os transporte público na cidade de São Paulo reduziu o trajeto, aumentando o número de paradas e embarques dos passageiros. “Alteraram a linha e ela só vai até o Terminal Pinheiros. O transporte já não é bom né, aí eles fazem ser pior mudando as rotas e tirando o ônibus”, afirma.

Serviço Público

O transporte público é um direito social garantido pela Constituição Federal, e aqui na cidade de São Paulo, esse serviço atende diariamente mais de 8,7 milhões de pessoas de acordo com a São Paulo Transporte (Sptrans), empresa pública que gerencia cerca de 1.300 linhas de ônibus na cidade e conta com 129 km de corredores e 500 km de faixas exclusivas para ônibus.

A precariedade no transporte público é uma forma de racismo?

Roseli se autodeclara uma mulher negra e enxerga que a maior parte da população dentro do transporte público é preta. “Eu enxergo que somos nós pessoas pretas as que mais usam o transporte, principalmente para ir trabalhar, e é um desgaste sim, você fica cansado, você perde muito tempo esperando, você perde muito tempo dentro dele, chega a faltar tempo no final do dia de tanto que se perdeu no transporte público. Às vezes a condução cansa mais que o trabalho”, avalia a moradora.

Ao observar a cor dos trabalhadores dentro do transporte público, ela ressalta que ocorre um descaso com os passageiros, devido à má qualidade do serviço público. “O transporte público na nossa cidade é muito caro, para as condições que ele está: ônibus lotado que quebra constantemente, são velhos, falta muito para ter um transporte bom, tá muito longe de ser bom”, enfatiza.

Descrente dos resultados das urnas neste final de semana, a moradora destaca que não acredita que os candidatos à prefeitura de São Paulo farão de fato algo pelos trabalhadores que dependem do transporte. “As eleições estão aí, eu não estou a par de nenhuma proposta, não é algo que eu consiga entender direito e pesquisar ou ver na televisão, eu não quero votar em mais ninguém, eu não vejo que melhora, acho que é muita promessa e nada para gente de fato”.

Com uma consciência coletiva, de pensar no bem estar do próximo e não somente de si mesma, Roseli revela como seria o transporte público dos seus sonhos, que faria sentido na rotina da vida dos trabalhadores e moradores das periferias e favelas. “O transporte público do meu sonho seria que todos ficassem sentados em poltronas confortáveis, sem ter que pagar tão caro, sem a catraca igual aqueles ônibus antigos sabe como os circulares. E que tivesse ar condicionado, tivesse estrutura para a gente que volta cansada do trabalho, e que de alguma forma eu, por exemplo, não tivesse que pegar tantas conduções para chegar até meu trabalho”.

Roseli finalza a jornada para chegar ao trabalho embarcando em um ônibus intermunicipal. (Foto: Roseli Silva)

As pessoas negras são as que mais utilizam o transporte público porque a gente é a maioria da classe trabalhadora

Bruna Simões, moradora do bairro Imirim, zona norte de São Paulo.

Do outro lado a cidade, reside Bruna Simões da Silva, 30, mo bairro Imirim, zona norte de São Paulo. Ela trabalha como técnica em pedagogia no Serviço de Assistência à Família no Domicílio (SASF) no bairro Jardim Peri. No trajeto de ônibus ela leva apenas 15 minutos para chegar ao seu trabalho, mas tem que sair de casa às 6h30 para chegar lá às 8h, porque este ônibus, segundo a moradora demora de 30 minutos a 1h hora para passar.

“O caminho que eu faço para o meu trabalho é um caminho curto. Mas é aí que já tem uma das questões que implica negativamente no transporte público do meu bairro. Eu trabalho em outro bairro periférico aqui da zona norte, que é o Jd Peri, para eu conseguir chegar ao meu trabalho às 8h, eu preciso sair de casa às 6h30 no máximo, pego um ônibus que é o Cohab Jardim Antártica para chegar até o Peri. Eu pego esse ônibus no contrafluxo, então tem dias que eu sou a única passageira, porque estou fazendo o caminho contrário dos outros trabalhadores, só que essa linha tem apenas sete ônibus, então o intervalo entre um e o outro chega a ser de 30 minutos e às vezes pode chegar até 45 minutos a 1 hora”.

A partir de suas vivências como usuária, a pedagoga enxerga que o Estado está sucateando o transporte e se aproveita disso. “Eu acho que o Estado tira bastante proveito do transporte público, mas ele pouco reverte para melhorar, e dentro das periferias ainda, não existe nenhuma preocupação com isso, e sem contar que a pauta do transporte é muito lucrativa, existem várias formas de desviar dinheiro público a partir dessa pauta, e, além disso, é mais uma forma de explorar a classe trabalhadora, por exemplo, com o absurdo da tarifa que pagamos aqui que está no valor de 4,40, eu entendo que é muito lucrativo e o Estado se apropria disso em vários momentos”.

Atenta a questão racial presente no seu cotidiano, a moradora afirma que a maioria das pessoas que utilizam o transporte público são trabalhadores e trabalhadoras negras. “Eu me considero uma mulher negra, e as pessoas negras são as que mais utilizam o transporte público, porque a gente é a maioria da classe trabalhadora, o transporte público desgasta sim os trabalhadores, então, por exemplo, eu te disse que eu gasto 15 minutos até meu trabalho, mas já que a linha que me atende tem poucos ônibus eu preciso me organizar para sair da minha casa com uma 1 hora de antecedência para chegar no horário certo ao trabalho, por que é desgastante? Porque eu preciso acordar mais cedo, e passo muito tempo parada no ponto esperando embaixo de chuva e sol, é desgastante sim”.

Para ela, existe uma questão ligada aos fatores de raça e gênero muito forte no transporte público de São Paulo. “Existe sim uma relação de raça e gênero com o transporte público, eu entendo que desde a pessoa que trabalha no transporte até quem utiliza, são pessoas que são consideradas minorias por esse Estado, e aí tá todo mundo sofrendo com a condição desse transporte, seja enquanto trabalhador da empresa, seja como usuário, existe relações de gênero também tanto que no transporte público que várias mulheres são abusadas e assediadas diariamente, mais uma vez reforçar o quanto machista é esse Estado que a gente vive”.

A gente trabalha tanto e se mata e nem no transporte conseguimos ter uma qualidade de vida

Gerson Abad, morador do Parque Santo Amaro, no distrito do Jardim Ângela, zona sul de São Paulo

Morador da zona sul de São Paulo, Gerson Abad Cesari Hinojosa, 23, reside no Parque Santo Amaro, no distrito do Jardim Ângela, região onde os moradores expõem constantemente nas redes sociais a demora para conseguir embarcar em algumas linhas de ônibus.

Todos os dias, o morador atravessa a cidade para ir até o município de Francisco Morato, onde ele trabalha como técnico de enfermagem. Sua rotina começa às 3h30, quando ele acorda para chegar às 7h no local de trabalho. Ao vivenciar esse trajeto todo dia, o morador acredita que o transporte público é uma forma de torturar os passageiros.

“O transporte é um desgaste sim, eu, por exemplo, tenho que estar de pé 3h30 da manhã para conseguir chegar à cidade de Francisco Morato às 7h, é uma escolha minha? Sim, porque não tem emprego onde eu moro e tenho que ir para outra cidade conseguir isso, eu viajo até outra cidade todo dia para poder trabalhar, as pessoas que trabalham lá normalmente moram extremamente longe de seus trabalhos e têm que fazer grandes viagens, os trens são lentos, eu, por exemplo, uso a linha rubi, essa é uma linha que não dá para confiar, é muito lenta, eu nunca sei se vou chegar no horário certo, sempre estou correndo”, avalia Abad.

O técnico em enfermagem volta no tempo e relembra a experiência de circular pela cidade quando era estudante e tinha o passe livre, e como esse direito foi sumindo e restringindo o acesso das pessoas. “Sempre usei o passe livre porque sempre estive estudando e para mim era maravilhoso, quando era 24h e dava para pegar mais ônibus e metrôs, mas foi mudando as gestões, até chegar agora onde é limitado e não é mais ‘passe livre’, não temos liberdade para passar, é passe limitado”, diz o morador.

Dentro da sua condição de usuário contínuo de ônibus, trem e metrô, Abad também enfatiza que o aumenta das tarifas afeta muito o trabalhador. “A passagem com certeza é a pior coisa do transporte público, tem os horários de pico, eu acho que eu nunca conheci outra realidade, não consigo pensar em um transporte bom, porque nunca vivi ou vi isso”.

O técnico em enfermagem também sonha com a possibilidade de ter no futuro um transporte com melhorias básicas, que melhorasse a qualidade de vida e no bolso dos moradores. “A gente trabalha tanto e se mata e nem no transporte conseguimos ter uma qualidade vida, para mim o transporte público ideal seria aquele que a gente não tivesse apertado independente do horário, que desse para sentar, onde o limite máximo seria ter passageiros sentados e teria ônibus passando um atrás do outro, queria que não houvesse aglomerações, que o transporte fosse acessível a todos de verdade, a passagem não excluísse tanto assim as pessoas”.

Ele finaliza afirmando que “deveria existir alguma forma das pessoas de baixa renda acessar esse transporte de forma pública”, opina ele, fazendo uma referência à gratuidade no transporte, se ele fosse realmente público e permitisse o livre acesso à cidade.

Coletivos realizam 1ª FLINO – Festa Literária Noroeste

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Entre os dias 2 e 5 de dezembro, coletivos da região noroeste de SP realizam a 1ª FLINO – Festa Literária Noroeste, de forma virtual e gratuita; a programação contará com saraus, slam, batalha de MCs, shows, espetáculos teatrais, rodas de conversa e oficinas. Confira!

Bibliotecas, Centros Educacionais Unificados (CEUs), coletivos culturais e artistas independentes da região noroeste de São Paulo realizam entre os dias 2 e 5 de dezembro a 1ª FLINO – Festa Literária Noroeste. Devido à pandemia de Covid-19, a festa será completamente online por meio do canal do Youtube da FLINO e página no Facebook.

Dividida em 4 dias, a FLINO contará com mais de 40 atrações de artistas e agentes culturais dos bairros de Perus, Morro Doce, Parada de Taipas, Jaraguá e Pirituba. O objetivo da festa é fortalecer a cena cultural e literária dos bairros da região, assim como ampliar a articulação e parceria entre as bibliotecas, CEUs e comunidades do território. Outro objetivo ainda é reforçar a importância dos movimentos negro, indígena e de mulheres, com uma programação que reflete de maneira intersetorial aspectos do território.

Inspirados em festas literárias que acontecem em outros bairros periféricos, como a Fligraja (Festa Literária do Grajaú), Flipenha (Festa Literária da Penha) e a Felizs (Festa Literária da Zona Sul), os trabalhadores das bibliotecas da Secretaria Municipal de Cultura e dos CEUs se reuniram e iniciaram a articulação junto aos demais coletivos.

“Nós acreditamos no território noroeste e vemos com clareza a potência e a riqueza cultural da nossa região. Queremos fortalecer os equipamentos culturais da localidade e dar visibilidade aos artistas e coletivos, além de estreitar a relação dos equipamentos públicos com os agentes culturais”, conta Beth Pedrosa, coordenadora da Biblioteca Padre José de Anchieta, em Perus.

Para Sandro Coelho, coordenador da Biblioteca Brito Broca, em Pirituba, a FLINO vem para demonstrar a força do território noroeste, que já conta com diversos atores e coletivos ligados à literatura.

“A gente sempre via as outras festas literárias acontecendo e pensávamos que um território que abarca tantos distritos, tantos coletivos de cultura e literatura também deveria ter uma festa literária. Para além disso, a literatura tem como função manter nossa sanidade mental, uma vez que nos transporta para lugares inimagináveis, incríveis, coisas que em épocas de pandemia a gente não consegue”, aponta. 

Territórios de Memórias 

Na quinta-feira, 3/12, às 20h, acontece a roda de conversa “Territórios de Memórias”, que irá falar sobre a importância da literatura como guardiã das histórias e memórias das populações periféricas. Estarão nesta mesa Sheila Moreira (Centro de Memória Queixadas), Thaís Santos (Projeto Baobá – Comunidade Cultural Quilombaque) e Sandro Indaíz (Sarau Segunda Negra), com mediação de Julia Rolim, da Biblioteca Educador Paulo Freire – CEU Pêra Marmelo.

Quilombos, Tekoas e Periferias  

Na sexta-feira, 4/12, às 20h, realizamos a roda de conversa “Quilombos, Tekoas e Periferias”, sobre como a literatura é uma ferramenta de denúncia e resistência para populações negras e indígenas. Essa mesa contará com a presença da educadora e poeta Guiniver Santos, Antony Karai Poty (Guardiões da Floresta), da Tekoa Pyau, no Jaraguá, e da dramaturga Maria Shu, do Jaraguá, com mediação de Almir Moreira, do Sarau d’Quilo – Comunidade Cultural Quilombaque.

Juventudes, Palavras e o Amanhã 

No dia 5/12, sábado, às 20h, acontece a última roda de conversa da festa “Juventudes, Palavras e o Amanhã”, sobre a potência da produção literária jovem da região e suas identidades. O bate-papo contará com a presença de Wagner Souza (Sarau da Brasa), Wesley MP (Coletivo Afronte), o MC Tupi-Guarani Tupã Jekupéa, a musicista e poeta Ariany Marciano, do Morro Doce, com mediação de Sandro Coelho, da Biblioteca Brito Broca.

O encerramento da FLINO será com o Sarau da Noroeste, composto pelo Sarau d’Quilo, Sarau da Brasa, Sarau Elo da Corrente, Sarau Segunda Negra e convidados. (Programação completa abaixo). 

 Sobre o homenageado José Soró

Nesta primeira edição, a FLINO homenageia o educador e articulador cultural José Soró. Falecido em 2019, aos 55 anos, Soró era comunicador popular desde os anos 1980, importante articulador da região e um dos gestores da Comunidade Cultural Quilombaque, em Perus. Sempre mirando o futuro e autossustentabilidade do povo preto e periférico, foi mentor e mestre de muitos coletivos locais. Acreditava na força da juventude, difundia a “sevirologia” (a arte de se virar) como prática e dizia que era preciso “ferver o território”, criando a hashtag #FerveTerritório em suas produções. Também colaborou na construção do Território de Interesse da Cultura e da Paisagem (TICP) Perus-Jaraguá, instrumento do Plano Diretor de São Paulo que reconhece a potência cultural e histórica da região. Ao lado de Valéria Pássaro, foi gestor do centro de acolhimento para jovens Casas Taiguara e, desde os anos 1990, lutava pela reapropriação do antigo prédio da Fábrica de Cimento de Perus, com o intuito de transformá-lo em um centro de cultura e memória e em uma universidade livre e colaborativa.

Sobre a FLINO
A FLINO começou a ser organizada ainda em 2019, por representantes de movimentos sociais e culturais locais, das bibliotecas Brito Broca (Pirituba), Érico Veríssimo (Parada de Taipas), Padre José de Anchieta (Perus), CEU Pêra Marmelo (Jaraguá), CEU Vila Atlântica (Pirituba), CEU Anhanguera (Morro Doce) e CEU Perus. A festa estava prevista para acontecer de maneira presencial em abril. Com a pandemia, a sua realização foi reorganizada para dezembro de modo virtual. O objetivo é realizar a festa anualmente para fortalecer a cena literária e cultural da região.

Programação completa 

1º DIA | 2/12
20h – Mesa de abertura “Ferve Território”
21h30 – SLAM do Pico

2º DIA | 3/12
10h – “Memórias e Histórias” com Adriana e Radamés Rodrigues
11h30 – “Oficina de Processo Criativo” com Victhor Ruas Fabiano
13h- Performance “Aprendi a voar quando fui empurrado do precipício” com Coletivo Estação Paraíso
14h – Espetáculo teatral “Encontrando Walter Benjamin” com Rafael Duarte
15h – Feira FLINO Ecocultural com vendas de livros e artesanatos
16h30 – Espetáculo de dança “Sevirologia” com Eri Sá
17h – Vídeo-dança e exposição de Fotos “Corpo Estrada” com Victor Pessoa
17h30 – Lançamento do livro “Relações Arbitrárias” com Marah Mendes
18h30 – Lançamento da revista “Memórias do Morro” com Coletivo Anhanguera: Luta e Resistência
20h – Mesa de conversa “Territórios de Memórias”
21h30 – Exibição do documentário “Corpo de rua – no sentimento do fluxo” e bate papo com Coletivo Prelúdio

3º DIA | 4/12
10h – “Oficina de Trovas” com União Brasileira de Trovadores
11h30 – Espetáculo teatral “Rubi – vestígios de fuligem na carne e no osso” com Coletivo nos Trilhos
13h- Intervenção de dança “Sobre Salto” com Letícia Santana
13h30 – Vivência musical percussiva “Águas afrolatinoamericanas” com Bruna Ferreira
14h30- “Mães do Morro – Mulheres na Capoeira” com Código da Arte
15h30- Pocket Show “Foda-se” com Ariany Marciano
16h30- Performance poética “Além da Poesia”, com Hugo Paz
17h30 – Especial Hip Hop FLINO com Hip Hop Vem das Ruas, Coletivamente Hip Hop, Reduto do Rap e mediação de Thiago Guma

20h – Roda de conversa “Quilombos, Tekoas e Periferias”
21h30 – Batalha de MC com Batalha da 16

4º DIA | 5/12
10h – Espetáculo teatral “Babel dos Bichos” com Coletivo Bolha de Gude
11h – Exposição “Território, Jaraguá e Cidadania” com Drix Fontenelle
11h30 – Mostra multilinguagens “Deste Lado da Ponte” com Coletivo Deste Lado da Ponte
12h30 – Lançamento do livro “Bicho Poeta” com Diego Rbor
13h30 – Espetáculo teatral “Autoestrada para Damasco” com Grupo Pandora de Teatro
14h – Encontro Filosófico “Ecofilosofia no Pico” com CAEF (Coletivo Autônomo dos Estudantes de Filosofia)
15h30 – Apresentação de cultura popular com Grupo Tripé Raiz
16h- Intervenção poética com Coletivo Liter ABC
17h- Show musical “Migração” com Mil Virgulino
18h – Show musical com Senhor Florista
19h – Show musical com Irmão Amaro
20h- Roda de conversa “Juventudes, Palavras e o Amanhã”
21h30 – Encerramento: “Sarau da Noroeste” com Sarau D’Quilo, Sarau Elo da Corrente, Sarau da Brasa, Sarau Segunda Negra e convidadas Guiniver, Chai e Preta Charme

 Serviço
1ª Festa Literária Noroeste
Data: de 2 a 5 de dezembro
Horário: início às 20h no dia 2, das 10h às 23h nos demais dias
Onde: canal do YouTube e Facebook da FLINO
Gratuita e virtual
Facebook: https://www.facebook.com/flinoroeste/
Instagram: https://instagram.com/flinoroeste
YouTube: https://bit.ly/youtube-flino
Contato: flinoroeste@gmail.com

Eleições 2020: redes sociais ajudam o morador da quebrada a decidir o voto?

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 Facebook, Whatsapp ou televisão? Por onde o morador da quebrada se informa para escolher o seu candidato nas eleições municipais de 2020?

Gilberto Pereira usa o Google para pesquisar a ficha limpa de candidatos
Imagem: Rodrigo de Vaz

Faltando cinco dias para o primeiro turno das eleições municipais na cidade de São Paulo, a Quebrada Tech entrevista moradores das periferias de São Paulo que tem mais de 50 anos, para saber quais plataformas digitais estão sendo fonte de informação para esses eleitores escolherem seus candidatos.

Um desses moradores é Gilberto Pereira, 56, morador do Jardim Capela, zona sul de São Paulo. Ao longo da sua trajetória no bairro, o eleitor relata que já são mais de 50 anos acompanhando quem de fato promove as transformações sociais na região onde mora.

Pereira nos confidencia que seu melhor instrumento para pesquisar sobre os candidatos que atenda seus interesses são as ferramentas de buscadores da web. “Hoje tudo que você quer você dá só o nome no Google e ele te dá a ficha do camarada inteiro, então não tem mais ninguém besta ou inocente né, então se você é candidato eu vou lá no Google para digitar seu nome e vai cair toda sua ficha, das coisas que você já fez”, relata o morador, sobre seu comportamento de pesquisa para avaliar o histórico político dos candidatos.

Quando perguntamos quais as prioridades que Pereira espera das políticas públicas investida no seu bairro, ele fala sobre educação, por enxergar a existência de poucos recursos na sua quebrada nas escolas públicas para seus netos e familiares. “Você percebe também que pessoas da minha classe têm uma desvantagem que é monstruosa, diante de um aluno que estudou em um colégio particular, se entendeu? Então eu quero que todo mundo seja igual, de igual pra igual”.

“Whatsapp já virou uma ferramenta de extrema necessidade” 

Creditos Genesio Junior

O vizinho de Gilberto é Genésio da silva, 51. Ele acompanha as campanhas eleitorais por diversos meios de comunicação, utilizando whatsapp, redes sociais e televisão. “Eu assisto a campanha eleitoral na televisão, quando eu não to vendo na televisão eu acompanho nas redes sociais”, descreve o morador sobre sua rotina de consumo de informação sobre as diversas candidaturas para ocupar cargos no legislativo no executivo municipal.

Genésio acredita que com uma maior conscientização e participação política dos moradores poderá haver mudanças em sua quebrada. “Eu não só acho como eu acredito que eles possam de alguma forma fazer a mudança no nosso território sim. Eu acredito junto com a população, com a liderança comunitária, que aqui atuam, eu creio que a gente consegue sim fazer grandes mudanças no nosso território”.

Porém ele relata que pela sua rotina apertada, atualmente sua melhor ferramenta de pesquisa se tornou o whatsapp. “Pelas redes sociais fica mais complicado, não tenho tanto tempo pra ficar especulando”, diz o morador, explicando que a facilidade de acesso à informação garante a ele uma melhor pesquisa para decisão do seu voto.

Ele ressalta que até para acompanhar o que o cara ta fazendo seria interessante receber mensagens por whatsapp. “O whatsapp já virou uma ferramenta de extrema necessidade. Ai você recebe uma mensagem pelo whatsapp que tenha tudo sobre a procedência do candidato e se ele é ficha limpa”.

“A verdade é que a gente precisa receber essas informações, essas propostas de governo, a gente precisa estar interagindo porque pra gente tá acompanhando de uma forma ou de outra”

por  Genésio da silva

 Ele ressalta que até para acompanhar o que o cara ta fazendo seria interessante receber mensagens por whatsapp. “O whatsapp já virou uma ferramenta de extrema necessidade. Ai você recebe uma mensagem pelo whatsapp que tenha tudo sobre a procedência do candidato e se ele é ficha limpa”.

O que é “Black Money”?

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Tem muita gente aqui no Brasil que parece não entender a ideia do “dinheiro preto”. Já ouvi pessoas dizerem coisas como, imagine se criássemos o termo “dinheiro branco”  ou disséssemos coisas como “isso é racismo reverso”. Esses comentários são apenas reflexos do racismo que já existe dentro dessa pessoa.

Foto: Hilberto Dias / Arte: Rogerinho Art

Em nossa opinião, é a ideia de apoiar comerciantes, empresas e prestadores de serviços que sejam pretos. Significa deixar o “dólar” ou no caso do Brasil, o “real” circular dentro da comunidade preta e entre os pequenos negócios, para que o nosso dinheiro nos beneficie, incentivando o consumo consciente e intelectual através da representatividade.

Nos Estados Unidos o dólar circula na comunidade asiática e na comunidade branca (especialmente judaica), o que isso realmente significa é, digamos, em uma comunidade judaica, um judeu recebe seu salário. Em sua vizinhança haverá bancos judeus, escolas públicas e privadas, hospitais, padarias, etc., que ele comprará dessas pessoas e elas farão a mesma coisa. O dólar judeu vai circular, e essa comunidade vai acabar sendo mais saudável financeiramente. Enquanto isso, só circula o dólar negro nos Estados Unidos, ou seja, afro-americanos recebem o pagamento e logo vão gastar nos clubes, comprar roupas, tênis dentre outras coisas e nada que implique colocar nosso dinheiro nas mãos de outras pessoas negras. Portanto, muitos bairros pretos nos Estados Unidos continuam em estado de precariedade. O dinheiro definitivamente não circula entre os afro-americanos.

Tem muita gente aqui no Brasil que parece não entender a ideia do “dinheiro preto”. Já ouvi pessoas dizerem coisas como, imagine se criássemos o termo “dinheiro branco” (como a palavra “dinheiro” ainda não sugere isso) ou disséssemos coisas como “isso é racismo reverso”. Esses comentários são apenas reflexos do racismo que já existe dentro dessa pessoa. As pessoas, especialmente neste país, não têm a capacidade de entender como certos conceitos como “Black Money” e “Black Love” são extremamente cruciais para a saúde e sobrevivência de nossas comunidades pretas diaspóricas.

É interessante o fato que todas essas opiniões manifestadas especialmente nas redes sociais, apontam um profundo desconforto quando falamos de assuntos que nos afetam, mas os chineses, indianos, japoneses, judeus e outros grupos que fazem o dinheiro circular em suas comunidades são vistos como normais quando se unem por um propósito, eles podem sem problemas. Eles inclusive namoram e constituem família com pessoas da mesma etnia. Quando os pretos (especialmente aqui no Brasil) falam sobre querer se relacionar apenas com pessoas pretas, é um grande problema. 

Uma breve história

Após a abolição, um conjunto de códigos foi criado pelos estados do sul dos Estados Unidos chamado “Códigos Negros” que diziam que nenhum homem negro poderia estar desempregado, mas também nenhum homem negro poderia ter terras e contratar outro homem negro para trabalhar, então a sociedade branca do sul que tinha acabado de perder a guerra e seu estilo de vida orgulhoso e queriam criar uma sociedade que se parecesse o mais antiga e conservadora possível.

Portanto, por muitas décadas após a escravidão, o povo afro-americano permaneceu em um sistema análogo à escravidão, porém sem o título de escravidão. Isso foi depois da guerra civil, e o sul por muitos anos ainda estava sendo ocupado por soldados do norte, mas quando os soldados começaram a sair depois do famoso caso Plessy vs Ferguson de 1896, onde um homem negro foi informado que ele tinha que viajar no vagão reservado para pretos do trem no estado da Louisiana. 

Até então, não havia leis federais ou brecha para apoiar a segregação, mas uma vez que a ideia de “separados, mas iguais” (que nunca foi igual) provou não ser inconstitucional na Louisiana, todos os estados do sul adotaram o mesmo método e por muito mais de meio século os pretos foram segregados e enfrentaram um tipo de terrorismo que você encontraria nas piores nações.

Mas vamos deixar isso de lado e focar nos aspectos positivos da segregação nos Estados Unidos. Os negros foram forçados a ter uma mente empresarial. Antes da integração legal, no final dos anos 1950, existiam hospitais, fábricas, restaurantes, ligas esportivas que jogavam nacional e internacionalmente (já que as ligas negras de beisebol tinham um time de Cuba). 

Era determinado que a integração legal não se misturasse e casasse com brancos, mas que tivessem proteções legais e melhores estruturas e oportunidades. Todos os produtos e serviços eram de qualidade muito inferior do que era para brancos. Também tinha a preocupação de não serem assassinados por coisas simples como olhar para uma mulher branca por muito tempo ou não sair do caminho de um homem branco andando na calçada. Os brancos não viam os negros como humanos, suas vidas tinham muito menos valor como corpos livres e não como escravos.

Durante aquele tempo nos bairros negros dos Estados Unidos, o dólar certamente circulou, não tinha escolha, tinha que circular porque os negros não podiam gastar seu dinheiro nos comércios dos brancos, mesmo que quisessem. A maioria dos pretos ainda eram muito pobres, mas muitas fortunas foram feitas por pretos de sorte naquela época. Avance rapidamente para Brown vs Board of Education e as leis que acabaram com a segregação legal e o que começamos a ver é:

– Um ataque sistemático dos EUA aos negócios negros e à liberdade econômica dos negros.

– Um desejo de validação, negros que queriam finalmente ser capazes de comprar produtos brancos e ir aos espaços onde os brancos iam para se sentirem mais realizados, mesmo que isso significasse dar seu dinheiro para pessoas que te odeiam. Veja desta forma, se por muitas décadas os produtos de outros países (que eram muito melhores e mais baratos) fossem impedidos de vir para o Brasil, você apoiaria os produtos brasileiros, mas no momento em que produtos importados podem vir para o Brasil com um custo inferior e uma qualidade superior, muita gente vai deixar de consumir produtos nacional que antes apoiavam, e isso desmoronaria a economia brasileira.

Isso é o que em pequena escala aconteceu com a comunidade afro-americana antes semiautônoma nos Estados Unidos na década de 1960 até 1990, e ainda estamos sentindo os efeitos, e é por isso que existe hoje um movimento que resgatou o conceito de Black Money.

O que perdemos?

A ironia da integração é que ela parece tão pacífica e inofensiva para os negros americanos que a história geralmente a mostra como positiva. No entanto, para mim, BiXop, aos olhos de muitos negros com consciência racial, percebemos que foi a pior coisa desde a escravidão que poderia ter acontecido a nós como um povo. Nunca nos integramos culturalmente, ficamos morando a maior parte em bairros negros, mas muitas das pessoas que possuíam a maior riqueza nas comunidades negras (novamente procurando por essa validação, querendo ser verdadeiramente “americanos”) se mudaram para as comunidades brancas. A ideia de que eles foram em busca de uma vida melhor entre um grupo de terroristas selvagens é muito conflitante para mim.

Com isso, os bairros pretos perdem não só seus investidores, mas também a maioria dos negócios ao longo dos anos. Imagine os restaurantes negros nas áreas negras que não podiam mais competir com a nova franquia branca de restaurantes de fast food que agora podiam entrar na comunidade negra e, claro, por que os negros que querem ser “americanos” não correm para comer no McDonald’s (que nos EUA era e ainda é muito mais barato do que um prato feito aqui no Brasil) e ignora os restaurantes dos negros. 

Perderam os bancos, as empresas de transporte, as seguradoras, quase tudo que tínham conquistado com a segregação. Esse foi o grande motivo que causou o declínio da comunidade negra nos Estados Unidos e porque ha muitos lugares que, infelizmente, estão cheios de violência e carecem de oportunidades na nação mais rica do mundo.

Em 1985, sessenta bancos de propriedade de pessoas pretas, prestavam serviços financeiros às suas comunidades; hoje, restam apenas vinte e três. Em onze estados que tiveram bancos de propriedade de negros em 1994, nenhum ainda está em atividade. Das cinquenta seguradoras de propriedade de negros que operavam durante a década de 1980, hoje apenas duas permanecem.

No mesmo período, dezenas de milhares de estabelecimentos varejistas de propriedade de negros e empresas de serviços locais também desapareceram, tendo falido ou sido adquiridos por empresas maiores. Refletindo esses desenvolvimentos, os negros americanos em idade produtiva tornaram-se muito menos propensos a serem seus próprios patrões do que na década de 1990. O número per capita de empregadores negros, por exemplo, diminuiu cerca de 12% apenas entre 1997 e 2014.

Brian S. Feldman – Washington Monthly

O que está por trás dessas tendências e quais são as implicações para a sociedade americana como um todo? Com certeza, pelo menos parte desse declínio empresarial reflete desenvolvimentos econômicos positivos. Uma parcela lentamente crescente de negros americanos agora tem empregos assalariados de colarinho branco e tem mais opções de emprego além de administrar seus próprios negócios. O movimento de milhões de famílias negras para subúrbios integrados nos últimos quarenta anos também é uma tendência bem-vinda, mesmo que um dos efeitos tenha sido enfraquecer a viabilidade de muitos negócios independentes de propriedade de negros deixados para trás em bairros historicamente negros.

A ironia ainda maior é como o movimento pelos direitos civis foi conduzido foi um belo ato de organização negra. Bancos negros que emprestaram dinheiro às igrejas e líderes negros que protestavam o uso de transporte negro para levar pessoas que boicotavam os serviços de ônibus dos brancos. Os hotéis que abrigavam manifestantes de todo o país e os restaurantes que os alimentavam. A mesma luta pelos direitos de integração pode ter levado posteriormente à destruição de muitas dessas empresas. Até o Dr. Martin Luther King chegou a essa conclusão quando disse: “Posso ter nos integrado em um prédio em chamas”.

O antigo Brooks Motel, anteriormente localizado na Morris Street (Charleston, Carolina do Sul), é outro exemplo de como a integração contribuiu para diminuir o número de negócios viáveis de propriedade de negros. Construído antes da assinatura da Lei dos Direitos Civis pelo presidente Lyndon B. Johnson em 1967, o motel acomodou a maioria dos líderes dos direitos civis quando eles vieram para Charleston, incluindo o Dr. Martin L. King, Jr. Hoje, não há placa do motel ou do restaurante Brooks. Ambos foram demolidos para dar lugar a condomínios, que deslocaram não apenas empresas, mas também famílias dos bairros tradicionalmente negro.

Barney Blakeney – Charleston City Paper

Esses são os motivos pelos quais um movimento Black Money é necessário nos Estados Unidos e aqui no Brasil, considerando que é o país com a maior população preta fora da África. Aqui no Brasil ainda é possível ver negócios de pessoas pretas e brasileiras dentro das quebradas, porém, muitas vezes sem nenhuma consciência racial e intelectual. Mas estamos lentamente despertando e é possível notar uma certa mudança partindo da estética. Mulheres, homens e crianças estão assumindo seus cabelos naturais, o que é sim um grande avanço, mas não devemos nos limitar a cultura negra à estética. Precisamos nos fortalecer financeiramente e nos perceber enquanto indivíduo e grupo político, numa sociedade que tenta a todo momento deslegitimar tudo o que fazemos, pelo fato de sermos pretos.

Segundo uma pesquisa do SEBRAE de 2017 – os negros formam o maior contingente de empreendedores do Brasil.

Pessoas pretas movimenta mais de 1 trilhão e meio de reais por ano aqui no Brasil. O grupo de pessoas pretas representa 38,8% dos pequenos negócios no país contra 32,9% dos brancos. Os pretos lideram tanto no ranking de empreendedores já estabelecidos, tanto no ranking de empreendedores iniciantes. Com isso, grandes empresas de cosméticos passaram a investir em estratégias de marketing voltada para pessoas pretas, com o interesse de faturar nas nossas custas.

Somos um povo criativo, detentores de muitas habilidades. No Brasil tinha uma grande diversidade de trabalho escravo. Muitas mulheres pretas trabalhavam nas ruas como escravas de ganho, ditas “negras de tabuleiro” vendiam quitutes, alimentos, aguardente. Tinha as quitandeiras, os tropeiros que exerciam atividades comerciais de uma região à outra, carpinteiros, ferreiros, engenheiros, mestre de artesanatos, barbeiros e até mesmo professores. O pouco do dinheiro que recebiam como escravos de ganho, muitos deles investiam em cooperativas secretas organizadas por pretos libertos e escravizados que coletivamente economizavam para comprar sua própria liberdade, a carta de alforria e o que mais fosse de emergência entre os associados. Teve histórias de ex escravos que fizeram uma pequena fortuna no Brasil colonial. Temos também o exemplo dos quilombos que tinham grande potência econômica através das produções e trocas de mercadorias com outros quilombos.

A diversidade de encargos gerou ainda outras camadas sociais, principalmente nas localidades portuárias e associadas à mineração, destinadas ao comércio varejista. Ainda que as funções comerciais fossem exercidas em sua maioria por homens, mulheres negras livres exerceram um importante papel nesse aspecto da vida econômica e social no período colonial brasileiro.

É possível observar que a atividade do comércio varejista é comum por parte das mulheres africanas no Brasil e na África, principalmente na região centro-ocidental do continente, onde em várias etnias cabia às mulheres a atividade comercial varejista. Com isso, a prática comercial ligada à divisão social do trabalho de acordo com o sexo seria uma permanência econômica e cultural mantida pelas africanas no Brasil. E essa relação de raça e gênero muito afetam as mulheres pretas no momento de abrir a própria empresa, precisam lidar com o racismo e o machismo.

Já sabemos que temos o espírito empreendedor, mas não temos educação financeira. As leis aplicadas no Brasil eram escravocratas, excludentes e genocida. Vou citar aqui algumas, só para enfatizar essa reflexão:

– 1837: Primeira lei de educação: negros NÃO podem ir à escola.

– 1850: Lei das terras: negros NÃO podem ser proprietários.

– 1871: Lei do ventre Livre: mas ninguém nascia livre.

– 1885: Lei do sexagenário: o escravo com mais de 60 anos poderia ser livre após trabalhar mais 2 anos afim de agradecer o patrão. Poucos chegavam a essa idade.

– 1888: Abolição depois de longos e sórdidos 388 anos de escravidão. Uma lei pra inglês vê.

– 1890: Lei dos vadios & capoeiras: todos os negros que perambulavam pelas ruas, sem trabalho ou residência comprovada, iriam pra cadeia. O que deu início ao encarceramento em massa da população negra. Um agravante que perdura ainda na atualidade.

É nossa obrigação mudar esse cenário! Não adianta só cobrar o Estado, sendo que o próprio sustenta o racismo estrutural. Cabe a nós buscarmos por uma mudança na ordem social e pensarmos duas vezes antes de gastar horrores no MCDonald’s pra depois pedir desconto pra uma irmã de quebrada. Já passou da hora da gente se valorizar e não mais ter receio de colocar um preço justo no nosso trabalho.

Temos hoje em dia grandes referências de pessoas pretas que entenderam o conceito de Black Money e se organizam para oferecer produtos e serviços com representatividade e qualidade. Esses pequenos empreendedores precisam do nosso apoio. Vamos fechar com os nossos, e gradualmente deixaremos de consumir das grandes empresas brancas, até porque a maioria se diz antirracista, adoram afirmar que não compactuam com o racismo, mas não tem nenhuma política de inclusão e de diversidade.

E para fechar, vamos de música!

Lançamos recentemente o videoclipe Black Is Back In Style (preto voltou de moda) com imagens que trouxe com sensibilidade a jornada de um casal que atravessa desafios juntos e se conscientiza coletivamente. Além de abordar a relação de intimidade, nós reforçamos a perspectiva do Black Money dentro das periferias, usando a música como ferramenta de conscientização e emancipação do povo preto.

Neste clipe sensualizamos um pouco, mostrando o nosso cotidiano e o poder do nosso amor afrocentrado, enquanto promovemos algumas marcas afro brasileiras que estão em ascensão e a ideia de seguirmos unidos, investindo na irmã e no irmão que sustenta seus respectivos negócios com grandes dificuldades, mas com muita dedicação.

Com Lena Silva e BiXop no vocal a produção de Jonathas Noh, a música tem poder de embalar as noites de quem busca a valorização do afeto e da identidade. O roteiro e a direção de UmSoh, com câmera e edição de Hilberto Dias, por sua vez, trazemos aspectos do nosso dia a dia, de um jeito sensível, atraente e artístico, utilizando recursos fotográficos que representam tanto a sensualidade quanto o empoderamento.

A música conta ainda com um toque todo especial que nós UmSoh, como casal intercultural, trabalhamos com frequência: é cantada em português e inglês. Confira o lançamento nas principais plataformas digitais.

Oficinas de grafismos africanos e indígenas são lançadas hoje de forma virtual e gratuita

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Os encontros serão conduzidos por arte-educadores indígenas das etnias Kaimbe e Karajá e também professores da República Democrática do Congo

O artista Duchelier Mahonza Kinkani apresenta a oficina de grafismo africano com ênfase em Adinkra | Foto: Mahã Catu

 A Coletiva Tear & Poesia de Arte Têxtil Preta Nativa realiza no dia 18 de novembro as Oficinas de Grafismos Indígenas e Africanos, dando continuidade às atividades do Projeto Pangeia Entre Elos: Palavra de Mulher. Por conta da pandemia de Covid-19, as aulas serão gravadas e disponibilizadas gratuitamente no canal do Youtube da coletiva. Não é preciso realizar nenhum tipo de inscrição.

Os vídeos de ambas as aulas estarão disponíveis no dia 18/11, quarta, às 19h. A aula de grafismo indígena será ministrada por Kuanadiki Karaka, da etnia Karajá, e também por Antony Ribeiro dos Santos, da etnia Kaimbé. Já a oficina africana conta com a participação do professor Duchelier Mahonza Kinkani, da República Democrática do Congo. 

A importância dos grafismos 

Para quem não conhece, os grafismos são as formas de representação geométrica de um determinado povo, que podem representar tanto a natureza quanto a cultura de determinados povo. Alguns povos tradicionais do continente africano ou os mais de 300 povos indígenas originários do Brasil são exemplos de povos que utilizaram essas sofisticadas representações artísticas para se comunicar e guardar suas memórias.

Os grafismos não são iguais, cada povo tem o seu, trazendo os mais diferentes significados, cores e traços, mostrando inclusive a diversidade dos povos indígenas que compõem o Brasil, por exemplo. “Os grafismos não servem apenas para serem vislumbrados, tatuados no corpo ou desenhados nas paredes das cidades. Por trás dos grafismos indígenas, há a história de luta e resistência de um povo”, é o que diz uma das palestrantes, Kuanadiki.

Representação dos valores e crenças 

Nascida na cidade de São Felix do Araguaia, Kuanadiki pertence à etnia Karajá, da Ilha do Bananal (TO). É especialista na feitura de bonecas de cerâmica Karajá Iny e militante da saúde indígena. Para ela, os grafismos também têm como objetivo mostrar a identidade cultural de cada povo, por meio de cores, traços e significados diferentes.

“O grafismo Karajá (Iny) representa nossa força e união. Representa também os valores e crenças tradicionais e culturais dos karajá (Iny)”, explica Kuanadiki, que acredita que as oficinas possam ajudar as pessoas a respeitarem os traços indígenas. “Elas precisam saber que significado isso tem para o nosso povo, reconhecendo que cada povo tem seus grafismos. Reconhecer nossa diversidade fortalece nossas identidades”. 

Grafismo como expressão 

De Euclides da Cunha (BA) e da etnia Kaimbé, Antony migrou para São Paulo com a família quando ainda tinha 8 anos de idade. Hoje, aos 20, realiza oficinas sobre a cultura de seu povo e também estuda administração. Para ele, ao entender os grafismos as pessoas podem também compreender melhor a individualidade de cada etnia.

“Para os Kaimbé, as pinturas são uma ferramenta de comunicação e expressão. Temos pinturas para festejar, para guerrear e os desenhos mostram nossa caça, alimentos, materiais que usamos nas nossas vestimentas e outros pontos importantes da nossa aldeia”, aponta Antony.

Refugiado no Brasil há mais de cinco anos, Duchelier Kunkani é formado em Artes Plásticas na Academia de Belas Artes de Kinshasha, na República do Congo, já atuou como pintor e grafiteiro, e também teve experiência em campanhas de publicidade. “Procuro sempre compartilhar minha experiência artística e cultural com todos e todas, pois acredito no potencial da arte como forma de comunicação e de libertação de emoções e sentimentos”.

Segundo Rita Maria, coordenadora da coletiva Tear & Poesia,, o intuito com as oficinas é dar uma base cultural às pesquisas que a organização realiza em 2020 sobre as similaridades entre as culturas que influenciaram na identidade brasileira.

“Temos como foco dialogar com a mulher em diáspora, tanto imigrantes africanas quanto latino-americanas e caribenhas, mostrando também semelhanças entre grafismos nativos brasileiros, indígenas, e africanos, buscando identificar similitudes sutis pouco estudadas e menos difundidas entre culturas originárias daqui e de África”, diz Rita.

Até o fim do ano a coletiva pretende também lançar um livro em bordados e textos trazendo a pesquisa da ancestralidade africana e indígena e como se relacionam às vivências das mulheres nas periferias. Bordam em forma de luta por igualdade e valorização das identidades negras e indígenas.

Sobre a coletiva Tear e Poesia

A Coletiva Tear & Poesia de Arte Têxtil Preta Nativa é constituída por mulheres residentes da periferia da zona sul da cidade de São Paulo, que atuam há mais de 20 anos na região, com uma trajetória de participações em eventos, espaços e atividades como ilustração do livro Santo Amaro em Rede do SESC; Virada Cultural, Programa Pétala por Pétala – SESC Interlagos; Saraus e Feiras Literárias. Bordam em estilo ancestral como forma de luta por igualdade de oportunidades e direitos e valorização da beleza e identidades de negras e indígenas. Se autodenominam “tecelãs do verso”, pois bordam poemas e histórias ligadas à memória afetiva e herança cultural feminina, com questões ligadas às mulheres negras e indígenas, as crianças, a natureza, a culturas populares, tendo cantos, danças tradicionais e brincadeiras da cultura popular como estimuladores em suas oficinas.

Sobre o projeto ‘Pangeia Entre Elos: Palavra de Mulher’
O projeto “Pangeia Entre Elos – Palavra de Mulher” foi criado a partir de um processo de pesquisa sobre cultura, idioma e grafismos dos povos indígenas e africanos, com o objetivo de perceber na identidade brasileira as raízes profundas com essas tradições. Por meio da arte têxtil, a coletiva quer conectar mulheres bordadeiras com suas ancestralidades. O processo original de trabalho envolve encontros de bordados e a produção de um livro coletivo, mas diante do isolamento social em decorrência da pandemia do novo coronavírus, as oficinas estão sendo ministradas de maneira virtual. Saiba mais aqui: https://www.youtube.com/watch?v=Eysq_8e_v6g


Serviço

Oficinas de Grafismos Indígenas e Africanos
Data: 18/11
Horário: os vídeos estarão disponíveis a partir das 19h e permanecerão no ar do Youtube da Coletiva Tear & Poesia.

Quem pode participar: livre para todos os públicos
Não é preciso realizar inscrição prévia
Contatos/ Redes Sociais

www.tearepoesia.com

Facebook: www.facebook.com/tearepoesia
Instagram: www.instagram.com/tearepoesia
Youtube: http://bit.ly/youtube-tear-e-poesia