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Futebol de várzea: mídias comunitárias investem em transmissões de jogos ao vivo

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 Representatividade de times de futebol de várzea nas periferias é um diferencial que impacta a audiência nas redes sociais durante as transmissões de jogos.

Lives realizadas por mídias comunitárias aumentam a visibilidade do futebol de várzea nas redes sociais. (Foto: Thais Siqueira)

Com campeonatos cada vez mais organizados e bem competitivos, o futebol de várzea é reconhecido historicamente por fomentar a revelação de jogadores para equipes de futebol profissional, além de promover lazer e incentivar o convívio comunitário entre os moradores das periferias e favelas.

No entanto, a presença do esporte em canais de mídias tradicionais ainda é tímido, fato que gera oportunidades para o surgimento de iniciativas de comunicação nas redes sociais que apostam em plataformas digitais para ganhar relevância e virar referência na transmissão de jogos ao vivo de futebol de várzea.

O esporte que é um pilar da cultura das periferias só tinha a beira do campo como arquibancada para torcedores. Agora, as mídias comunitárias nativas digitais enraizadas na cultura do futebol de várzea estão transformando o esporte que faz parte cultura dos moradores das periferias em um novo produto de streaming esportivo.

Neste contexto, essas iniciativas também estão dando um pontapé para formar um público consumidor de conteúdo esportivo ligado ao futebol de várzea nas redes sociais, uma mudança radical da cultura do futebol de várzea, que antes desta era digital, só poderia ser consumida pelos torcedores e torcedoras que fossem para a abeira dos campos aos finais de semana. 

Em 2017, o Desenrola em parceria com a Rede Doladodecá produziu o documentário 39 anos de Tradição do Jardim Elba, tradicional equipe da várzea da zona leste de São Paulo.

A Tvila Sports é um bom exemplo de iniciativa que está protagonizando esse cenário de transmissões ao vivo no futebol de várzea nas periferias de São Paulo, promovendo a produção de conteúdo de streaming sobre a cena do futebol de várzea na região do ABC paulista, onde a iniciativa nasceu.

A mídia possui um Kombi com um estúdio móvel, equipada com roteador wi-fi, switcher para controle de câmeras, monitores para cortes e edição de vídeos e um sistema de captação de áudio para dar suporte para os comentaristas e narradores das partidas interagir com o público que está na beira do campo e quem está acompanhando os jogos pelas redes sociais.

Com mais de 100 mil seguidores no Facebook e 30 mil no YouTube, a Tvila é reconhecida também por promover representatividade entre os jogadores e torcedores do futebol de várzea, que comentam e compartilham os jogos transmitidos pelo canal digital de conteúdo esportivo, pelo fato de se reconhecerem positivamente na cobertura das partidas.

O sucesso da TVila Sports já chama a atenção dos organizadores de campeonatos de futebol de várzea nas periferias, que promovem parcerias para a mídia comunitária produzir a transmissão ao vivo dos jogos.

A partir de programas de entrevistas com jogadores, técnicos de equipes e organizadores de campeonatos, o canal Mundo da Várzea é outra iniciativa que vem fortalecendo a formação de público consumidor de conteúdo digital sobre futebol de várzea nas redes sociais.

A qualidade das transmissões ao vivo e principalmente dos programas produzidos para apresentar o lançamento de novas competições é uma das principais apostas nas transmissões ao vivo da iniciativa.

Com mais de 60 mil seguidores no Facebook e 8 mil no YouTube, o canal Mundo da Várzea é reconhecido no universo do futebol de várzea nas periferias, e esse reconhecimento chama a atenção até de patrocinadores, como fornecedoras de materiais esportivos para times da várzea, que apoiam e incentivam a produção dos programas de entrevista com representantes das equipes.

Atuando na região de Osasco, município da região metropolitana de São Paulo, a TV Fut Várzea vem ganhando a atenção dos torcedores e equipes que fomentam a cultura do futebol de várzea na cidade.

Com narrador e comentarista na beira de campo, o principal foco de trabalho da TV Fut Várzea é promover a transmissão ao vivo de jogos, e para isso, a iniciativa faz parceria com dirigentes de competições para garantir a produção de conteúdo digital de diversas ligas, campeonatos e festivais que ocorrem nas periferias de Osasco.

Atualmente, a TV Fut Várzea conta com 16 mil seguidores e segue crescendo cada dia mais, por manter uma cobertura semanal e contínua de jogos.

Um diferencial é que os seus comentarista e narrador já são inseridos no futebol de várzea e conhecem profundamente as equipes, competições e as periferias da cidade, reforçando a importância da representatividade nesse universo das transmissões ao vivo de conteúdo esportivo.

Sem integração gratuita moradores de Taboão da Serra e região pagam mais caro no transporte

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Dos cinco moradores entrevistados na reportagem, três deles recebem até um salário mínimo, sendo que o valor gasto com passagens compromete mensalmente mais de 10% da renda familiar.

Ônibus da linha 300 Jd. São Judas, Taboão da Serra com destino ao metrô Vila Sônia | Foto: Rebeca Motta

Desde maio de 2022, os moradores que utilizam ônibus intermunicipais que circulam nas cidades de Taboão da Serra, Embu das Artes, Itapecerica, Juquitiba e São Lourenço tiveram seu trajeto alterado. Com a inauguração da estação Vila Sônia da ViaQuatro amarela, os passageiros perderam o direito de desembarcar em Pinheiros e reclamam que o novo terminal não aderiu ao sistema de integração gratuita como acontece em outras linhas da rede metropolitana de São Paulo.

Antes da inauguração os moradores podiam embarcar nessas cidades e ir até Pinheiros pagando uma única passagem, depois da mudança, as linhas passaram a finalizar as viagens na Estação Vila Sônia, não deixando outra opção senão concluir o trajeto de metrô.

Elisabete Barbosa, é moradora do bairro Jd. Saporito, em Taboão da Serra, Região Metropolitana de São Paulo e conta que foi pega de surpresa ao ter que desembolsar mais uma passagem para chegar ao médico, na região da Faria Lima. “Se eu fiquei irritada, imagina a população que passa por isso todo dia. Eu acho que se o trabalhador parar pra analisar o quanto tá saindo do bolso ele vai se manifestar”, afirma a cuidadora de idosos.

Com a alteração na região, o transporte coletivo deixou de atender os quase 4 km que correspondem a oito pontos de ônibus das avenidas Eliseu de Almeida e Professor Francisco Morato. Atualmente quem tem compromisso nesta região vai a pé ou paga mais uma passagem para chegar ao destino final.

Situação parecida com a de Elisabete aconteceu com Wesley Melo, que precisou levar a filha para fazer exames no Hospital Infantil Darcy Vargas, que fica na região do Morumbi. O morador do bairro Barnabé, em Juquitiba, relata que fez o trajeto de 2 km a pé com a filha pequena, pois naquele dia não tinha como desembolsar o valor de mais uma condução.

Para quem mora na Região Metropolitana de Juquitiba e São Lourenço a situação é ainda mais complicada. O valor para acessar a cidade pode chegar a R$ 30 reais por dia. Com a falta de uma linha direta para o centro, os trabalhadores precisam desembarcar no município vizinho, Itapecerica da Serra, e de lá pegar outro ônibus para o metrô. 

“Por isso que estou indo para o Campo Limpo. É horrível pagar duas ou três conduções, sendo que lá só pago uma; o trajeto é bem mais longo, comecei a sair de casa 50 minutos mais cedo, mas é o que consigo fazer no momento”. 

conta Pedro Henrique, morador do bairro Jd. Salete, em Taboão da Serra

Pedro Henrique trabalha na Faria Lima e conta que antes das alterações nas linhas pegava um ônibus só, mas agora precisou mudar toda a rotina para chegar ao trabalho, pois a empresa não arcou com o valor de mais uma condução. O jovem conta que chegou a pedir transferência para Santo Amaro para facilitar o percurso.

A prefeitura de Taboão da Serra em parceria com a ViaQuatro, concessionária que administra o metrô, colocou em circulação nove ônibus do tipo “Vai-Vem” que faz o percurso do Largo do Taboão até o Metrô Vila Sônia gratuitamente. Segundo os próprios passageiros, essa medida só beneficia quem mora no centro, pois quem vive em bairros periféricos ou em cidades vizinhas continua pagando mais caro, porque ainda precisa pegar um ônibus para chegar até o largo do Taboão.

“Eu trabalho mais pro lado de Pinheiros, o único ônibus que está passando por aqui é o 459 – Itaim Bibi. Chego na estação Vila Sônia às 06h30, do ônibus até o metrô são quase 10 minutos andando, acho muito longe. Caso tenha trânsito é impossível não chegar atrasada”.

relata a moradora do Jd. Santa Tereza, em Embu das Artes, Giovanna Ambrosio, que também teve sua rotina alterada

Ônibus vai-vem realiza viagens gratuitas do Largo do Taboão até o metrô Vila Sônia | Imagem: Eduardo Toledo
Muitos moradores desses municípios trabalham em outras regiões de São Paulo, passam o dia fora e só voltam para casa para dormir. Vários destes também procuram atividades culturais e de lazer em outras regiões, mas com o valor da tarifa esse direito também é violado. 


“Esses dias fiquei indignada ao ir no shopping Butantã e descobrir que agora necessito pagar duas conduções para chegar lá. Uma família que tem 4 filhos, por exemplo, chega a pagar quase R$100 só com passagem. É um absurdo”,  reclama Cleia Oliveira, moradora do bairro Jd. Trianon, em Taboão da Serra.

Mobilização popular 

A professora Márcia Regina é ex-vice Prefeita de Taboão da Serra, ativista do movimento pela integração gratuita e conta que a chegada do metrô é uma promessa antiga e muito usada como pano de fundo para campanhas eleitorais na região. Para ela é importante que o metrô chegue nos municípios da Grande São Paulo, mas isso não pode afetar negativamente a vida e a rotina da população.

“Faltou planejamento entre as prefeituras e a EMTU. Tem gente sendo despedida ou com dificuldades de conseguir emprego porque as empresas não querem pagar todo esse valor com passagem. O trabalhador tem pagado de R$90 a R$180 reais a mais por mês. A soma disso é praticamente o valor do décimo terceiro indo pelo ralo”.

afirma Márcia Regina.

Ativistas, moradores e movimentos sociais dos cinco municípios afetados pelas alterações do transporte coletivo, se uniram e criaram o Fórum Regional pelo Transporte Digno, com objetivo de levantar discussões e estratégias de pressão contra o poder público para solucionar essa demanda da população.

Reunião do Fórum Regional pelo Transporte Digno realizada no Jd. Saporito, em Taboão da Serra | Foto: Arquivo

“Não é justo a população sofrer, ainda mais por algo que deveria facilitar e garantir seu direito de ir e vir sem ser penalizado com o custo maior de passagens que temos que tomar. Pedimos a real integração das linhas intermunicipais a estação Vila Sônia, com gratuidade aos seus passageiros ao entrar na estação, em vez de pagar a passagem do metrô”, defende o Fórum em um trecho da carta pública.

O movimento tem realizado ações para conscientizar os trabalhadores e moradores a reivindicar o direito à cidade que tem sido perdido. Até o momento criaram um abaixo-assinado, uma página no facebook e planejam uma manifestação como próximo passo.

Mudanças na bilhetagem 

Também recentemente, os moradores de Taboão da Serra e Região Metropolitana de São Paulo, se depararam com mais uma alteração nas linhas de ônibus, desta vez, no sistema de bilhetagem. Em abril de 2022, os ônibus intermunicipais administrados pela EMTU deixaram de aceitar o cartão BOM.

A confusão se dá porque os ônibus circulares que rodam dentro do município aceitam o BOM, mas os ônibus que vão para o metrô só aceitam o TOP, novo cartão que substitui o seu antecessor. Na cidade de Taboão da Serra não há postos de atendimento para o novo cartão, o que gera reclamação e transtornos, sendo mais uma das dificuldades que os moradores enfrentam para ir e vir todos os dias.

Desde o final de 2020, o Governo de São Paulo vem promovendo a modernização do sistema de bilhetagem em ônibus, trens e metrôs. A mudança, porém, tem deixado os usuários confusos.

Do outro lado 

Em resposta ao contato realizado para a produção desta reportagem, a Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo (EMTU) afirmou que os usuários que se deslocavam de ônibus até a região de Pinheiros, agora devem desembarcar no Terminal Vila Sônia ou Butantã, e passaram a ter desconto de R$ 1,50 na integração ao sistema com o cartão TOP, pagando R$ 2,90 na passagem do metrô. 

A EMTU aponta que os passageiros que utilizam o formato Vale Transporte devem atualizar o percurso diretamente com suas empresas. Além disso, a empresa diz que três linhas que passam em Taboão da Serra com destino à capital seguem com itinerário mantido e são alternativas a depender do trajeto do passageiro.

Das três linhas citadas pela empresa que ainda têm destino à capital, existem diferentes questões sobre seu itinerário e custo, desde não atender a todos os bairros, até o valor da tarifa de uma delas, que chega a custar R$ 10,20.

As Secretarias de Transporte dos cinco municípios envolvidos – Taboão da Serra, Embu das Artes, Itapecerica, Juquitiba e São Lourenço – foram contatadas, mas até a finalização desta reportagem não deram nenhum retorno. 

Campanha apoia cineastas periféricos para estudar fora do país em renomado curso de cinema

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Fundadores da Maloka Filmes, Nay Mendl e Well Amorim organizam campanha financeira para estudar em uma das melhores escolas de cinema do mundo, a EICTV. 

Nay Mendl e Well Amorim, jovens de periferias da zona sul de São Paulo, foram aprovados para o curso regular da EICTV, Escuela Internacional de Cine y Televisión (EICTV) de San Antonio de Los Baños, em Cuba. Eles são fundadores da Maloka Filmes, coletivo que trabalha com direção criativa, consultoria e curadoria/coordenação de festivais de cinema e cineclubes,

Os dois abriram uma campanha de financiamento coletivo para custear o transporte, despesas com a mudança para outro país e a anuidade da escola EICTV, fundada em 1986 por Gabriel García Márquez e Fernando Birri. A organização que é referência no ensino da produção audiovisual já contou com professores como Francis Ford Coppola, Robert Redford, Costa Gavras, George Lucas, Fernando Solanas, Ruy Guerra, Alex Cox, Gabriele Salvatores, Steven Spielberg e entre outros.

Durante o Festival de Cannes de 1993, a escola ganhou o Prêmio Rossellini pelo reconhecimento internacional de sua importância para o cinema mundial. A cada dois anos, apenas 5 alunos de todo o mundo são selecionados para cursar cada uma das especialidades que a escola oferece, ou seja, Nay e Well fazem parte dessa concorrida lista de alunos aprovados. 

Moradores dos bairros do Grajaú e Jardim Ângela, respectivamente, Nay e Well se conheceram no Instituto Criar de Tv e Cinema em 2013. De lá para cá trilharam um caminho dentro do audiovisual de grande relevância, com destaque para a produção do curta-metragem multipremiado Perifericu, do longa-metragem documental Raízes e do Perifericu – Festival Internacional de Cinema e Cultura de Quebrada.

Em 2021 estiveram na lista do Papel & Caneta como uma das iniciativas que geram transformações reais na indústria da comunicação. O trabalho que desenvolvem se baseia na coletividade entre pessoas dos bairros em que vivem, pessoas LGBT+ e familiares, o que chamam de Cinema Comunitário.

Para concretizar o sonho de estudar fora do país, eles abriram uma campanha de financiamento coletivo com a primeira meta em R$86.000, valor que custeia grande parte dos gastos com o primeiro ano do curso, que custa £ 6 mil libras anualmente por pessoa. Para apoiar basta acessar benfeitoria.com/projeto/apoiecineastasfavelados e contribuir doando ou compartilhando a campanha.

Série de entrevistas destaca artistas da teatralidade negra

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Lançado em julho de 2022, o projeto é realizado pela coletiva Carcaça de Poéticas Negras, com episódios disponibilizados gratuitamente na plataforma Wolo TV.

Bastidores das gravações das entrevistas no Teatro João Caetano

O programa de entrevistas Teatros Negros em Pauta, aborda aspectos das linguagens na cena teatral afrodiaspórica-brasileira e estreiou no dia 01 julho no streaming Wolo TV. No total, são nove episódios que reúnem artistas e produtores para refletir sobre o teatro negro em diferentes áreas, como iluminação, direção, dramaturgia, atuação, produção, entre outros.

Tricka Carvalho e Piu Guedes conduzem o programa abordando o futuro do teatro negro e as possibilidades de criar novas narrativas. Além disso, trazem para discussão questões mais especializadas, como a área de iluminação e o desafio de trabalhar com diferentes tons de peles no palco. 

“Queremos olhar para diferentes tipos de teatralidades afrodiasporicas e indígenas e entender como elas se relacionam entre si nos dias atuais, desde conhecimentos construídos nos espaços acadêmicos às técnicas de cena em escolas livres de teatro e, sobretudo, a riqueza ancestral dos saberes e vivências tradicionais”

Piu Guedes

Piu Guedes, uma das pessoas que fazem a apresentação da série de entrevistas Teatro Negro em pauta. Foto: @noenajera_

Com acesso gratuito, o programa tem roteiro e idealização da coletiva Carcaça de Poéticas Negras, que desde 2015 constrói um trabalho de pesquisa em teatro colaborativo, cênico e étnico-racial, fundado por aprendizes da Escola Livre de Teatro de Santo André.

A websérie de entrevistas está disponível na plataforma Wolo TV, que é um streaming voltado para produções audiovisuais independentes produzidas por pessoas negras. Na plataforma, há conteúdo gratuito e também alugado. 

Serviço 

Teatros Negros em Pauta – Série de entrevistas com nove episódios e apresentação de Tricka Carvalho e Piu Guedes. Episódios disponíveis desde 1º de julho de 2022, sendo divulgado três episódios por semana, disponíveis na Wolo TV.

Episódio 1: Formação e pedagogia com Heraldo Firmino
Quem podemos chamar de mestre e a quem podemos chamar de professor, qual história vive dentro dessas palavras? O que entendemos como pedagogia e como fugir de moldes coloniais de ensino?

Episódio 2: Artista pesquisadora com Jéssica Nascimento
Quais são as maiores adversidades e alegrias para uma artista pesquisadora negra e as rupturas que surgem no caminho a partir disso?

Episódio 3: Dramaturgia com Daniel Veiga
Que significado tem uma dramaturgia negra no mundo e como podemos criar novas narrativas e imaginários na escrita?

Episódio 4: Direção com Ivy Souza e Lucélia Sérgio
A função da direção, sempre foi tida como uma figura de poder. Como lidar com isso nos trabalhos enquanto diretora e atriz?

Episódio 5: Atuação com Thais Dias e Raphael Garcia
Quais as sensações que acontecem em um corpo ao entrar em cena? Você acredita que seu trabalho está consolidado ou é necessário batalhar pelos espaços artísticos?

Episódio 6: Iluminação com Danielle Meireles
Quais os desafios de iluminar tantos tons de pele num país como o Brasil onde há diversas etnias presentes?

Episódio 7: Artes plásticas em cena com Cleydson Catarina
O que tem da trajetória do artista em seus adereços, cenário e figurino? Como o trabalho plástico ressalta a poética do trabalho cênico?

Episódio 8: Produção com Ulisses Dias
Qual é o principal desafio de ser produtor nos tempos atuais, em que editais públicos são a principal fonte de renda e sustento para diversos coletivos artísticos na cidade de São Paulo?
Convidado: Ulisses Dias

Episódio 9: Multiartista com Terra Queiroz
Em qual lugar acontecem os espaços acadêmicos para uma travesti negra e periférica e quais são os diálogos que acontecem a partir disso?

Rito das Ditas

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Impressões, lembranças e emoções que me atravessaram ao assistir o espetáculo “Canto das Ditas – Fragmentos Afrografados de Cidade Tiradentes” do Núcleo Teatral Filhas da Dita.

Peça Canto das Ditas – Fragmentos Afrografados de Cidade Tiradentes do Núcleo Teatral Filhas da Dita – Foto: Areta Padma

Oprê! Tudo bem contigo nesses dias de caos? Eu vou envergando sem quebrar aqui pela minha quebrada, que teima em também não se envergar e, cada vez mais, vai firmando e se enxergando nas suas. Você já vai entender o porquê…

O papo que vamos desenrolar por aqui esse mês é sobre teatro. Uma das coisas que vem me recolocando nos trilhos depois de tantos dias, semanas, meses, anos de isolamento na pandemia é o teatro, em especial montagens teatrais de luta.

Bem, já aviso que não sou crítico de teatro, mas tenho um amor especial por criações autorais e pela escrita dramatúrgica de teatro, música e cinema, então vez ou outra vou me arriscar a expor impressões sobre obras autorais. O texto desse mês está meio longo então pegue seu chá e tenha paciência porque não consegui resumir muito, mals… 

A peça que me fez escrever este texto aqui foi “Canto das Ditas – Fragmentos Afrografados de Cidade Tiradentes” do Núcleo Teatral Filhas da Dita. É uma peça muito forte, sensível e que ecoa muito da consciência coletiva das quebradas ao longo dos anos: consciências das vielas, quebradas, subúrbios e bolsões de pobreza da cidade de São Paulo, consciências deste e de outros tempos, deste e de outros planos, no caso dessa peça, consciências daqui do Aiyê e de lá do Orun.

Cidade Tiradentes, bairro de maioria negra na Paulicéia, é uma das principais personagens da peça, é uma gigante de língua banta-tupi-yorubana, uma cidade angoleira que merece demais essa montagem teatral. Não vou falar muito das cenas da peça (mas tem uns spoilers sim), falarei das minhas impressões e indico que não fiquem apenas aqui confiando em mim não viu… Vão assistir a peça! É feminina e sagrada!

Nosso tempo, nomes e memória 

É preciso lembrar que Éssepê é uma cidade que historicamente se quis branca e exclusiva para umas poucas pessoas mimadas, herdeiras de escravocratas que quiseram acumular poder a alguns elitistas pálidos, que ao longo de anos expulsaram nossas avós, avôs, pais e mães para as quebradas.

Nos quiseram longe e esperavam até que não sobrevivêssemos! Bem, aqui estamos nós não é mesmo?  

A peça “Canto das Ditas” se realiza num contexto histórico na qual ela se torna ainda mais urgente e potente. Vivemos num tempo em que alguns “homens” reivindicam-se o “direito” de violar direitos, em nome de uma “família” abstrata na qual seriam “chefes”, em nome de um “Cristo”, de uma cristandade não-bíblica e uma “prosperidade” agressiva, excludente, que opera sob a síndrome de vira-latas e que por isso vê na cultura estadunidense, no “american way of life”, um sonho idiotizado em terras “brazucas”.

Como se fosse possível servir ao Tio Sam, vivendo o “sonho americano”, mesmo morando na América Latina, em São Paulo, Paraná, Minas Gerais. Frantz Fanon explicaria? Percebe que as aspas desse parágrafo destacam falsidades? Que fique claro, e para o que quero ilustrar claro mesmo.

Esse transe político, que por aqui é um traço cultural que aflora mais ou menos forte de tempos em tempos, aponta para um “país” de cultura colonial (o “Brasil”), machista, escravocrata e cínico sobre os reais problemas de seu povo e suas maiorias (negros e mulheres, negras mulheres).

Esse vírus, seita, agrupamento fascistóide ou o que o valha pode pegar vários de nós, especialmente nós homens pobres e mal escolarizados, que se vacilarmos podemos servir de bucha de canhão para uma classe de homens brankkkos mal-intencionados que através da alienação manipulam os corpos dos demais como marionetes, muitas vezes marionetes violentas e ensurdecidas. 

Peça Canto das Ditas – Fragmentos Afrografados de Cidade Tiradentes do Núcleo Teatral Filhas da Dita – Foto: Sheila Signário

Neste tempo em que vivemos, por conta de muitos falsos moderados e de alguns extremistas de direita, aumentam e se agravam os casos de feminicídio, homofobia, assédios morais/sexuais, transfobia e racismo.

É nesse tempo que as Filhas da Dita sacralizam sua montagem teatral, que não por acaso aqui repito pra não deixar dúvida, redundante que sou e serei neste texto: Essa é uma peça sagrada! Em sua dramaturgia, já avisa potente e consciente que é da sua própria força e urgência: “Presta atenção menino! Presta atenção menino!”

É importante lembrar que temos nomes e memória. A peça “Canto das Ditas” reverbera em canções, falas e burburinhos os nomes e memórias de afeto e da força fértil e nutridora das mulheres pretas.

Na peça fala-se especificamente de mulheres das várias vilas da Cidade Tiradentes, mas suas histórias e estórias refletem também a formação de vários lugares, demonstrando várias lutas por direitos que as mulheres encabeçam nas formações dos bairros das periferias do “Brasil”: lutas por escola, postos de saúde, creches, por dignidade, direitos reprodutivos plenos, luta contra a violência doméstica, luta por asfalto digno, luta por saneamento básico, por direito de existir a elas e a seus filhos, que seguem do século 20 até hoje sendo perseguidos e sem direito a subjetividade neste cínico “país do futuro”. 

Ritos, parentes e ancestrais  

A cenografia minimalista e afrikanizada com a qual Cidade Tiradentes é apresentada ao público é muito generosa por nos permitir imaginar, preencher o espaço com a memória e com a ancestralidade, não pela falta de algo, não pelo vazio, mas pelo fato da peça se apresentar de fato aberta, convidativa a imaginação coletiva e a interpretações diversas sobretudo de pessoas de quebrada.

O palco, o cenário, faz um círculo na terra e se coloca pra todes como uma gira aberta, uma festa das Yabás teatralizada e ritualística, na qual as próprias e suas tantas parentes podem desfilar suas memórias e histórias. Histórias de afeto nutridor para a criação de tudo: tudo que se vê, tudo que se viu, se anteviu e verá. Um tempo não linear, descontínuo, de perspectiva afrikanizada, matriarcal e matrilinear.

 “Canto das Ditas” é um teatro onde se ritualiza a história, a memória e a luta popular. É um manifesto dramatúrgico ligado fortemente às tradições afro-brasileiras, afrikanas e à oralidade de mulheres das periferias.

É possível detectar estes elementos em vários momentos da peça. Nela podemos ver e ouvir fortes influências da migração de povos afrikanos de todos os cantos e de povos migrantes do Norte, Sudeste e Nordeste do “Brasil”.

Ouvimos suas vozes e podemos supor, imaginar, fabular como esses povos trouxeram os seus cantos, toadas e cantigas que ajudaram a moldar o barro das fundações da Cidade Tiradentes.

Reverberam os sons e cantos dos autos negros, dos sambas de umbigada, do jongo, do bumba-boi, do congado, do congo do Espírito Santo, dos candomblés e até mesmo do blues, manifestações culturais que carregam em si não só musicalidade e dança, mas ação, sentido, dramaturgias ancestrais que em si trazem grandes significados e que aqui na peça ganham ainda mais contornos e forças dada a narrativa.

Sendo pessoa de periferia é impossível não se deixar tocar e comover com histórias que nos lembram nossas tantas mudanças de casa sob o cuidado de nossas mais velhas. Mulheres que lutaram e lutam por tanto do que vemos de estrutura em nossos bairros.  

Peça Canto das Ditas – Fragmentos Afrografados de Cidade Tiradentes do Núcleo Teatral Filhas da Dita – Foto: Areta Padma

Há uma cena particular que me fez marejar os olhos e dar um risinho de canto de boca. Em certo momento as personagens sobem num caminhão de mudança e partem para sua nova morada. É um momento comovente porque é muito significativo o sonho da casa própria em nosso imaginário. Esse é um dos grandes sonhos da classe preta trabalhadora. Como não sonhar com um lugar pra chamar de seu? Como não se comover com sonhos que muitas vezes são adiados e realizados apenas pela geração posterior? Não dá pra ficar inerte aqui.

O que se move no palco são corpas femininas, num rito de fundação da Cidade Tiradentes, esse bairro/país de 38 anos de idade localizado no extremo leste da cidade de São Paulo.

Representar mulheres no maior conjunto habitacional da América Latina não é pouco, mas mesmo essa grande dimensão fundadora, instauradora, esse nascedouro é ampliado e sacralizado com a dualidade escolhida para a representação das atrizes/personagens, que operam sobre duas personalidades ou duas facetas, uma das ancestrais terrenas, talvez as fundadoras do bairro, e a outra a face das ancestrais do Orun, as Yabás Yemonja, Obá, Oyá, Nanã e algumas encantadas.

Aliás, em se tratando de uma peça sobre o surgimento de um bairro e sobre lideranças femininas, muito adequado ser Nanã a instauradora do primeiro ato do espetáculo e nada mais potente que ter uma forte representação de Obá, orixá pouco representada em obras celebrativas aos Orixás e uma das Yabás mais centrais e mais determinadas na cosmo-sensibilidade afrikana do culto a estes. Escolhas de macumbeiras das boas!

 Permanência, consciência e reparação 

É muito bom poder assistir uma peça que abre debates importantes sobre permanência, consciência, luta e reparação. Uma peça teatral que deixa evidente que sua dramaturgia, apesar de ter uma autora única, tem em seus entremeios, em seus processos, vários depoimentos, relatos, escutas e frases que vem diretamente das mulheres do CDCM Casa Anastácia, espaço de referência para mulheres no extremo Leste da cidade de São Paulo.

O texto também considera e parece assumir as vivências do elenco da Cia (que é todo da própria Cidade Tiradentes), costurando uma malha sensível, afetuosa, forte, contundente e que acalanta, por não nos deixar sós, ao mesmo tempo que não nos deixa inertes, nos provocando ao longo de toda a duração do espetáculo e nos movendo para posicionamentos sobre. A coletiva inteira merece prêmios por essa peça e eu imagino que eles devem vir.

Ainda sobre as escritas, a influência da Afrografia, conceito da congadeira e mestra Leda Maria Martins, não poderia ser melhor integrada a temática geral, a escrita e a encenação de “Canto das Ditas”, que parece seguir a tradição negra da oralitura (oralidade + literatura + vivência, conceito também de Leda).

Partindo de tantas referências e com uma execução tão afetuosa, não há como a peça não sensibilizar e mover pessoas negras que a assistam, acredito inclusive que esse seja o público afetivo mais potente para esta montagem. 

É raro se ver uma escrita tão auto-consciente e que, sendo assim, em determinado momento da peça dá piscadelas de olhos para suas pares da plateia, dizendo com cumplicidade que sabe que nasceu ali e acolá, no público, mais uma membra da sociedade de Eleko.

Já ficou claro até aqui, né? Recomendo demais assistirem “Canto das Ditas”. É importante ver a força, a dança, os toques e o gestual preciso de Luara Iracema, a mulher búfalo, que protege seus filhos através da força e singeleza dos raios.

É comovente ver o afeto, as pausas motivadas e a malandragem de Thábata Wbalojá, que em seus 5 partos nos motiva a pensar, filho a filho, sobre a mestiçagem nada cordial “brasileira”.

É necessário ver, presenciar, sentir a voz rasgada, a forte presença e o deboche cênico de Lua Lucas, que levanta na nossa imaginação vários espelhos pra se ver e para nos vermos e para nos enfrentarmos, pra sabermos que apesar de tantas mortes veremos os nascimentos de mulheres plurais, mulheres reais.

É urgente prestigiar a atuação forte, as ironias, o humor e a sagacidade de Ellen Rio Branco, que nos faz rir e sonhar os sonhos de tantas mulheres. Sonhos que podem ser lidos como sonhos inocentes, básicos, necessários para meninas-mulheres. Ellen consegue ainda ser nossa vó, nossa mais velha, aquela que sabe, que sabe e não a toa corporifica a presença de Nega Zilda, personagem tão importante para a Cidade Tiradentes.

Peça Canto das Ditas – Fragmentos Afrografados de Cidade Tiradentes do Núcleo Teatral Filhas da Dita – Foto: Sheila Signário

É possível e preciso ver possibilidades, senso de coletividade, a graça, o moleque elegante Cláudio Pavão que se põe a disposição para compor uma obra tão potente pro seu bairro. É de ouro a dramaturgia de Antonia Mattos! Eu recomendo você seguir de perto outras obras da autora, e essa aqui é mais uma obra-prima dessa macumbeira boa.

E na música? O senso musical e a sensibilidade de Jonathan Silva são transpostas numa trilha sonora que não se limita a trilha, é uma trilha que é também estória, é dramaturgia, é ação.

Parabéns Fernando Alves! A concepção de luz e a execução dela, atuam em uma simbiose muito interessante em conjunto a uma sonoplastia precisa, pontual e bem pontuada. Palmas de pé para a direção de arte de Eliseu Weide! É minimalista e bem pensada, rica pelo que se vê e pelas frestas que deixa a imaginação de todes.

Eu como homem negro, afro-indígena, como pessoa pobre e preta, sinto calor no coração de poder assistir uma peça como “Canto das Ditas”. Foi muito importante pra mim devorar, refletir, sentir, anotar, ler a dramaturgia, deglutir tudo até chegar aqui.

Talvez apenas o que eu sinta falta é de ver homens pretos engajados neste tipo de produção, dentro das produções ou mesmo prestigiando, fazendo coro. Talvez caiba aqui mais um “presta atenção menino!” a todos nossos manos.

Gostei muito da peça, fazia tempo que não era mexido assim. Me emocionei, ri, chorei. Se você gosta de teatro e acredita em artes que coloquem o desafio e a responsabilidade de mover mudanças na sociedade siga essa trupe e “vão cantar com a Benedita!”.

Se você leu esse texto e ficou com curiosidade me deixa um comentário falando o que achou do texto. Se assistiu a peça diga nos comentários o que achou. Eu peço que acompanhe, leia e assista as Filhas da Dita. Saibam delas por elas mesmas. Deixo aqui dois vídeos para você que quer saber mais sobre a peça “Canto das Ditas”:

Neste vídeo de 2019, a atriz Ellen Rio Branco e a diretora e dramaturga Antonia de Mattos falam sobre a peça ao programa “Esquina da Cultura” do canal BCC International Television. Neste outro vídeo de 2022 elas nos camarins falam como e porque cantam o que cantam.

E aí, curtiu o texto desse mês? Escreve aqui um comentário pra eu saber o que achou pra eu seguir desenrolando por aqui na coluna “Instantes”. Não deixe de ler as outras colunistas aqui do Desenrola e Não Me Enrola. 

Mês que vem tem mais.

Saravá as mudanças!

No corre: projeto oferece aulas de música gratuita para jovens no Jardim Ângela

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As aulas de canto, violão, guitarra e produção musical serão realizadas de forma presencial no Jardim Ângela, zona sul de São Paulo.

A produtora social e cultural A Banca, está com inscrições abertas para o projeto “No Corre”, que oferece aulas de música para jovens moradores da periferia. São aulas de violão, guitarra, canto e produção musical gratuitas, voltada para jovens de 10 a 18 anos, no formato presencial, que serão realizadas no espaço da produtora localizada no Jardim Ângela, zona sul de São Paulo. 

“Se você tem paixão pela sua arte, está na busca de melhorar seus conhecimentos sobre música e tem interesse e disponibilidade para participar das aulas, esse convite é para você”

afirma o grupo que atua há mais de 20 anos fomentando o empreendedorismo nas periferias.

As aulas acontecerão no espaço multimídia da A Banca, que tem uma sala de ensaio onde acontecerão as aulas e um estúdio para gravações. O espaço fica na Estrada da Baronesa, 75 – Jardim Ângela, zona sul da cidade de São Paulo.

As inscrições foram prorrogadas até o dia 17/07, e devem ser feitas neste link . A previsão para início das aulas é no final do mês de julho. 

Coletivo Calcâneos apresenta espetáculo “Desde que o Mundo é Mundo” no Jardim Helena

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As apresentações acontecem nos dias 14 e 15 de julho, e refletem sobre o tempo a partir da perspectiva de corpos que falam das margens da cidade.

Foto: Thamara Lage

Partindo de olhares e perspectivas de corpos à margem da cidade, o espetáculo “Desde que o Mundo é Mundo” é uma obra que nasce do desejo de artistas do Coletivo Calcâneos em recontar a própria história, a fim de criar uma outra memória sobre suas existências. As apresentações serão no campinho de futebol ao lado da estação de trem Jardim Helena, na zona leste de São Paulo, nos dias 14 e 15/07, a partir das 17h30.

O projeto é concebido pelo Coletivo Calcâneos, formado por jovens artistas periféricos da zona leste de São Paulo, que buscam por meio da performance criar uma discussão sobre o tempo, propondo uma experiência narrativa que perpassa alteridade, coletividade, desejos de futuro, exaustão emocional e imposições, equilibrando vivência e sobrevivência. 

“Quando vamos parar de ter medo de morrer? O tempo foi tirado de nós e quando percebemos é outono novamente e outros nasceram… E muitos já morreram”

pontua o coletivo sobre uma das reflexões centrais do espetáculo.

A direção da performance “Desde que o Mundo é Mundo” é de Victor Almeida e conta com a criação colaborativa de todos os artistas envolvides no grupo. A peça também faz parte do projeto contemplado pela 30ª Edição do Programa Municipal de Fomento à Dança para a cidade de São Paulo, da Secretaria Municipal de Cultura.

Serviço

Data: 14 e 15 de julho – Horário: 17h30

Local: Campinho de futebol ao lado da estação de trem Jardim Helena. Rua São Gonçalo do Rio das Pedras – Vila Mara, São Paulo.

Entrada Gratuita

Acessível em libras

Saiba mais: https://www.coletivocalcaneos.com

Samba no Asfalto comemora 15 anos de roda de samba gratuita em Ermelino Matarazzo

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Além de aula e baile de samba rock, a festa contará com a participação de músicos consagrados no samba e a gravação do primeiro material audiovisual do projeto.

Foto de: Lucimauro Silva

Em comemoração aos seus 15 anos, o projeto Samba no Asfalto realizará evento gratuito no dia 17 de julho, próximo domingo, das 10h às 22h, na Praça Benedicto Ramos Rodrigues, localizada no bairro de Ermelino Matarazzo, zona leste de São Paulo. A programação também terá um aulão e baile de samba rock com os professores do projeto Samba no Asfalto.

Neste dia, o grupo gravará seu primeiro trabalho audiovisual com a participação de músicos como Carica (ex- grupo Sensação), Wladmir Rosa (ex- grupo Redenção), Fabiano Sorriso, Beto Guilherme, Grupo Marka Original, Grupo D.V.C; Alldry Eloise, Luizinho Sorriso, além do DJ Magu, Tereza Gama e Marco Mattoli, com apresentação de Brão Lopes. 

“Nós sabemos o quanto é importante ter um material de qualidade para divulgação do nosso trabalho, e um registro audiovisual há tempos estava entre as nossas metas. A comemoração de 15 anos é um marco para nós e conseguimos conquistar mais este sonho”

Lucimauro Silva, produtor cultural do Samba no Asfalto

Foto de Lucimauro Silva

Inspirado em outros grupos e projetos da zona leste, o Samba no Asfalto foi idealizado por Diego de Oliveira, Lucimauro Silva, Afrânio Juventino e outros amigos, intérpretes e compositores moradores do bairro de Ermelino Matarazzo.

“Nosso objetivo é manter viva a história deste estilo musical considerado Patrimônio Cultural do Brasil, o Samba. Além de mostrar a todos os espectadores a qualidade musical e cultural que o nosso bairro tem”

Diego Oliveira, coordenador musical e Lucimauro Silva, produtor cultural do projeto.

Fundado em 2007, o Projeto Samba no Asfalto desenvolve um trabalho cultural e social em Ermelino Matarazzo, zona leste de São Paulo, por meio de rodas de samba mensais e oficinas de dança. O nome do grupo surgiu a partir da sua própria história, que a princípio realizavam as rodas em via pública, por não terem um local ou estrutura para as apresentações, daí o nome samba no asfalto.

Serviço

Projeto Samba no Asfalto – Gratuito
Data: 17/07/2022 – Horário: das 10h às 21h
Local: Praça Benedito Ramos Rodrigues – Ermelino Matarazzo, zona leste de São Paulo.
Redes Sociais: Facebook | Instagram
Whatsapp: (11) 99154-2808

Internet precária nas periferias impede moradores de pesquisar candidatos às eleições

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 Com acesso limitado à internet, moradores não conseguem pesquisar sobre candidatos, propostas de governo e checar a veracidade de notícias sobre eventuais atos de corrupção.

Os preços dos planos de internet móvel levam o baiano Auderlei Teixeira a consumir notícias sobre candidaturas somente pela televisão. (Foto: Flávia Santos)

Como os moradores das periferias que não têm acesso pleno à internet irão decidir em quem votar nas eleições de 2022? Essa é a questão que vem atormentando o baiano Auderlei Teixeira, 45, homem negro, migrante nordestino, e morador da Cidade Ipava, Zona Sul de São Paulo, que votou pela primeira e última vez em 1993.

De lá pra cá, Teixeira conta que se sente arrependido de não ter votado nas eleições seguintes, mas que fará diferente esse ano. “Transferi meu título da Bahia pra cá, quero muito votar esse ano”, afirma.

“O governo poderia criar um projeto para facilitar a internet para todos”

Auderlei Teixeira, 45, é pai de família, migrante nordestino e morador da Cidade Ipava, bairro da Zona Sul de São Paulo. 

Mesmo se sentindo novamente motivado em votar nestas eleições, Auderlei diz que encontra muitas dificuldades para ter acesso às informações sobre propostas dos novos candidatos, entender o por que muitas obras começam nesta época do ano, e revela o medo de não conhecer de fato os candidatos antes de votar, e acabar escolhendo qualquer um deles.

“O governo poderia criar um projeto para facilitar a internet para todos, e quando chegar nessa hora, as pessoas terem condições de acessar e acompanhar a política”, conta o pai de família, que só consegue acessar a internet pelo celular quando está a caminho do trabalho. 

Com pouca vivência em consumir notícias usando o celular, Auderlei não acha seguro se informar por meio de plataformas digitais. (Fotos: Flávia Santos)

A Cidade Ipava, bairro onde Auderlei mora, é um território que pertence ao distrito do Jardim Ângela, localizado na zona sul de São Paulo, onde 60% da população se autodeclara preta ou parda. Neste território, segundo levantamento do Mapa das Desigualdades da Rede Nossa São Paulo, há apenas 1,4 antenas de internet móvel para cada 10 mil habitantes, enquanto no Itaim Bibi, região nobre da cidade, existem 49,8 antes de telefonia móvel para o mesmo montante de moradores.

A Associação Brasileira de Infraestrutura para Telecomunicações (ABRINTEL) recomenda que as operadoras disponibilizem uma antena de telefonia móvel para acesso à internet para cada 2.200 pessoas.

Outro aspecto cruel citado por Auderlei é o preço dos serviços da internet móvel, que em meio a inflação nas alturas compromete o poder de compra do morador da quebrada. “Eu acho que isso tudo vai impactar sim, os planos de internet são caros pra gente conseguir pagar”, diz o morador.

Como resultado deste processo de não ter acesso à internet garantido no bairro onde mora, o morador recorre a televisão, para assistir telejornais em canais de televisão como Globo e Record. Auderlei diz acreditar mais nas notícias veiculadas nos programas que assiste do que nos conteúdos disponíveis na internet, onde, segundo ele, é mais fácil de encontrar fake news.

Sem esperanças 

Em janeiro de 2022, a cidade de Franco da Rocha ficou conhecida nacionalmente por conta dos temporais que atingiram o município causando enchentes, deslizamentos de terras, mortes de moradores e destruição de casas. Um dos bairros mais atingidos pelas chuvas foi o Lago Azul, onde mora Emilly Cavalcante, 20, jovem que vem enfrentando uma série de barreiras digitais para acessar a internet e realizar pesquisas sobre os candidatos para as eleições deste ano.

Emilly considera que o acesso à internet de qualidade presente em todas as casas das periferias ajudaria a melhorar na tomada de decisão para escolha dos candidatos, pois para ela, essa é a eleição que representa a única esperança para mudanças positivas no país.

“Acredito que deveria ser um requisito básico ter uma internet de qualidade em todas as casas, pois com a mesma poderia crescer um interesse mais intuitivo de pesquisar partidos, candidatos e situações dos mesmos”, afirma.

“O sentimento que cabe a mim é de desesperança”

Emilly Cavalcante, 20, é moradora do bairro Lago Azul, um dos mais afetados pelos temporais que atingiram a cidade de Franco da Rocha em janeiro detse ano.

Segundo o Mapa de Antes de Internet Móvel da Conexis Brasil, entidade setorial que reúne as principais empresas de telecomunicações no Brasil, para promover estudos e debates sobre melhorias na infraestrutura de conexão e comunicações no Brasil, a cidade de Franco da Rocha possui apenas 48 antenas de internet móvel, para atender uma população de mais de 130 mil pessoas.

A operadora Vivo conta com 12 antenas de distribuição de sinal de internet móvel. Esse é o mesmo número de estações de distribuição de internet móvel da Claro. Já a TIM conta com 24 antenas, representando 50% dos serviços de internet móvel no município. Diante destes dados, o bairro Lagoa Azul, onde Emilly mora não possui antes de celular, um fato que vem comprometendo a qualidade do sinal e o interesse da moradora pela política.

Ela votou pela primeira vez em 2020, nas eleições municipais, mas hoje em dia, o sentimento de Emilly em relação à política é bem diferente em relação à época do primeiro voto. “O sentimento que cabe a mim é de desesperança”, desabafa.

Para a jovem, debater política com amigos e família não faz mais parte do seu repertório de assuntos cotidianos, que ela gosta de abordar. “Não é o meu assunto preferido, pois cada um tem seu ponto de vista, vivências e nada está ao nosso favor”, argumenta.

A credibilidade da televisão 

A partir de um levantamento de dados que entrevistou 50 moradores de periferias e favelas da Região Metropolitana de São Paulo, o Desenrola apurou como as populações que convivem com um precário acesso à internet estão desmotivadas a se engajarem no debate político para escolher novos representantes nas eleições de 2022.

Uma das pessoas respondentes deste levantamento de dados é a jovem Emilly Cavalcante, que reside com a família no bairro Lagoa Azul. Mesmo com a qualidade da internet deixando a desejar, Emilly tenta acessar algumas plataformas digitais para pesquisar o que está acontecendo com a política no país, porque ela não acredita muito no que os telejornais noticiam.

“O conteúdo que passa na televisão não é auto explicativo, então não auxilia em muita coisa”

Emilly Cavalcante tem 20 anos e mesmo desmotivada com a crise política no país, ela vai votar nas eleições de 2022.

Segundo a pesquisa publicada pelo Poder Data em outubro de 2021, a televisão é o meio de comunicação mais utilizado por 40% dos brasileiros, já a internet é a referência para acessar informação para 43% da população.

“O conteúdo que passa na televisão não é muito auto explicativo, então não auxilia em muita coisa, então eu acompanho canais no YouTube”, conta a moradora, complementando que esses canais são fontes confiáveis de informações e abordam notícias sobre os candidatos.

Vivendo em outro contexto de periferias urbanas na cidade de São Paulo, a mãe e dona de casa, Daniela dos Santos, 37, moradora do Jardim Aracati, zona sul de São Paulo, têm bastante semelhanças com os pontos de vista da jovem Emilly de apenas 20 anos.

“A televisão passa apenas os candidatos de maior partido”

 Daniela dos Santos, 37, é eleitora há 20 anos e moradora do Jardim Aracati, Zona Sul de São Paulo.

Para ela, a televisão também é um meio de informação com pouca credibilidade, que dá destaque somente aos partidos de maior expressão. “Muitas vezes a televisão passa apenas os candidatos de maior partido”, diz.

A alternativa segundo Santos é pesquisar na internet não de forma aleatória, mas quando já possui um candidato em mente. “Procuro bem pouco informações sobre política na internet, só procuro saber quando escolho um candidato e vou pesquisar sobre ele”, conta.

Mesmo com essa escolha de pesquisar candidatos na web, Daniela explica que a o serviço de internet que possui instalada em sua casa é bem ruim, e diante desta situação, as informações acabam não chegando facilmente até ela, fato que tem se tornado um dos maiores motivos para ela não ter interesse em discutir política com familiares e vizinhos.

De acordo com o estudo intitulado como Panorama Político 2022: opiniões sobre a sociedade e democracia, elaborado pelo Instituto DataSenado, com apoio da Universidade de Brasília (UnB), pelo menos 72% dos brasileiros já viram, leram ou ouviram notícias de origens políticas e que desconfiaram serem de fato verdadeiras.

“O sentimento que tenho sobre a política é de frustração e raiva”

 Daniela dos Santos está desmotiva a discutir os rumos da política no Brasil com parentes e amigos.

Após 20 anos de ter a primeira experiência de votar, Santos relata que não sente muito apego para discutir política com amigos e parentes. “As pessoas às vezes só querem atacar e não veem que os maiores partidos têm os piores políticos, e para mim muitos deles são manipulados”, relata a dona de casa.

“O sentimento que tenho sobre a política é de frustração e raiva, a sensação que tenho muitas vezes é de caos”, revela a dona de casa.

De olho no futuro dos filhos, que garanta o acesso à educação e saúde de qualidade, ela espera conseguir ter acesso à internet de qualidade para tentar encontrar bons candidatos que de fato a representem.

“O acesso à internet nos dias de hoje é essencial para tudo, principalmente no momento em que vivemos, quanto mais informações de qualidade e de boa procedência, melhor as pessoas podem tomar suas decisões”, conclui a moradora do Jardim Aracati.

Periferia sustentável: alternativas ambientais e econômicas em tempos de aumento do custo de vida

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Algumas experiências ambientais emergem na periferia e estão se tornando alternativas para cuidar do meio ambiente, além de impactar no bolso em tempos de custo de vida alta e de energia tão cara.

Micro geradora de energia solar instalada no Instituto Favela da Paz (Foto Raphael Poesia)

A depender do Estado podemos dizer que a questão ambiental na periferia parece não ter muita importância. É possível tropeçar em lixo jogado nas ruas ou em lixeiras escassas e mal geridas pelos órgãos públicos; rios e córregos em vez de levar água, carregam esgoto de resíduos domésticos ou industriais; as moradias avançam sobre as matas e sobre o manancial com aval do poder público; coleta seletiva é luxo e ecopontos inexistem por aqui, hortas são raras e pouco incentivadas.

Mas aqui na zona sul, algumas experiências ambientais emergem na periferia e estão se tornando alternativas para cuidar do meio ambiente, além de impactar no bolso em tempos de custo de vida alta e de energia tão cara.

Uma dessas experiências é o Periferia Sustentável, desenvolvido na Favela da Paz, no Jardim Nakamura. Essa quebrada sedia o Instituto Favela da Paz, que entre tantos trabalhos, desenvolve o Periferia Sustentável, projeto que tem muito a ensinar a todos nós sobre tecnologias ambientais funcionais e sustentáveis.

Sob a coordenação de Fábio Miranda, um grande ambientalista da quebrada, o espaço funciona como uma espécie de universidade popular do meio ambiente, com consultorias, cursos e oficinas ambientais e de culinária, articulando parcerias com escolas e faculdades.

Esse espaço também é a casa da família Miranda, onde quatro famílias convivem de maneira sustentável, reaproveitando água da chuva, cultivando hortaliças e temperos em hortas verticais feitas em canos de PVC, aproveitando os alimentos em sua totalidade, produzindo gás de cozinha por meio de um biodigestor, reciclando e reaproveitando o lixo, aproveitando a ventilação natural cruzada nos ambientes e móveis com paletes e outros materiais.

O Periferia Sustentável tornou-se a primeira Micro Geradora de Energia Solar em região de favela no estado de São Paulo, a segunda Micro Geradora em favela do Brasil. Com 22 módulos ligados à rede elétrica pública, é capaz de produzir a energia total do prédio do Instituto Favela da Paz, uma energia limpa e totalmente sustentável.

Se levarmos em conta que atualmente no Brasil temos milhões de pessoas passando fome e vivendo uma insegurança alimentar, enquanto milhões de toneladas de frutas, legumes e verduras são jogados fora todos os anos, colocando o Brasil entre os países que mais desperdiçam alimentos no mundo. 

De acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), se evitasse o desperdício, o Brasil poderia reduzir a fome em até 30%.  

Justamente isso que é feito no Periferia Sustentável, seja na Cozinha Vegearte, incentivando uma alimentação saudável e nutritiva, baseada em legumes, frutas e vegetais, quanto no reaproveitamento dos restos orgânicos para produzir gás em um biodigestor. Essas experiências podem ajudar as famílias mais carentes da quebrada tanto na alimentação quanto no acesso ao gás, que nunca foi tão caro.

Na verdade, gás, combustíveis e energia estão tirando o sono da classe trabalhadora. Subindo mais que os salários e a inflação, a energia elétrica acumulou alta de 114% nos últimos em sete anos, segundo os dados da Abraceel (Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia).

Muitos brasileiros não estão conseguindo pagar a conta de energia, só no ano de 2021, 39.43% das famílias de baixa renda atrasaram a fatura por pelo menos um mês, aponta os dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). O aumento dos valores na conta de energia elétrica está ligado com a crise hídrica permanente no Brasil, fruto da má gestão política.

Precisamos repensar as fontes de energia, em especial na Periferia. E esse debate o Periferia Sustentável está enfrentando com tecnologias funcionais e recentemente com a Micro Geradora de Energia Solar.

Hoje a energia solar ainda é cara, mas o debate e os ganhos econômicos e ambientais estão comprovados, cabe lutarmos para redução dos custos de instalação.

O Periferia Sustentável também vem construindo com a Educação Ambiental na quebrada. Fábio Miranda é parceiro de muitas escolas públicas, do SESC, de ONG’s Ambientais, das UBSs. Pensar em um futuro sustentável passa por educar toda a sociedade, mas, sobretudo, as crianças.

Desta forma olhar para as experiências ambientais gestadas no Periferia Sustentável devem ser vistas como luz para pensarmos em alternativas para superar essa crise ambiental, econômica e social. É uma oportunidade para pensarmos as questões ambientais para além da questão estética. É uma forma de aproximarmos mais pessoas para valorizar o meio ambiente.

Ademais, o trabalho do Fábio Miranda e do Periferia Sustentável se soma aos esforços de tantas pessoas do Brasil, do Mundo e da nossa região que estão lutando em favor do meio ambiente!

Aproveitamos aqui para lembrar Bruno Araújo Pereira e Dom Phillips, que trabalhavam e lutavam em favor dos povos indígenas e da floresta amazônica e foram assassinados no início de junho deste ano.