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Clube de leitura apoia jovens do Campo Limpo com bolsa e acesso à internet

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A iniciativa é da Biblioteca Comunitária Djeanne Firmino. Uma das participantes é a jovem Micaele Cauane que já leu 15 livros em uma ano, três vezes mais que a média nacional. 

A biblioteca Djeanne Firmino, localizada no jardim Olinda, zona sul, conta com cerca de 4 mil livros em seu acervo. Foto: arquivo pessoal.

A estudante Micaele Cauane Carvalho dos Santos, 16, moradora do Jardim Umarizal, zona sul de São Paulo, leu 15 livros num período de um ano, uma quantidade três maior que a média nacional de leitura de livros do brasileiro, que é 4,96 livros por ano, segundo a pesquisa feita pelo Instituto Pró-Livro em 2021.

O incentivo para Micaele estreitar o contato com o livro e a leitura é promovido pela Biblioteca Comunitária Djeanne Firmino, que realiza projetos como o Clube de Leitura e o Ligue e Leia. Essas iniciativas foram criadas por mulheres arte-educadoras e pedagogas que fazem parte da Coletiva Achadouras de Histórias, que atua no Jardim Olinda, zona sul de São Paulo.

Com a intenção de democratizar o acesso aos livros e a leitura, além de se tornar um lugar de acolhida e convivência comunitária para jovens e adultos nos arredores, a biblioteca comunitária conta com cerca de 4 mil livros para empréstimos.

Além disso, a iniciativa de incentivo à leitura nas periferias fornece uma bolsa de R$ 150, além de R$ 25 para custear o auxílio internet para 15 alunos de escolas públicas que fazem parte dos encontros mensais para debater o conteúdo dos livros. O projeto ainda garante que os participantes recebam em casa os livros que serão lidos no mês. 

Os encontros do clube de leitura acontecem mensamente de maneira remota, onde os alunos contam suas experiências a partir da leitura dos livros. Foto: divulgação.

“O clube de leitura acontece uma vez por mês, onde a gente distribui livros para esses jovens e depois que eles fazem essa leitura, a gente faz uma troca das experiências, de como foi ler esse livro, pensando na perspectiva de cada um dos jovens.”

Alessandra Leite Nunes, coordenadora do clube de leitura da Biblioteca Comunitária Djeane Firmino.

Por ter sido o primeiro ano de atividades do clube de leitura, estava previsto um ciclo de leitura de três livros, mas foi preciso dobrar esse período, pois durante os encontros com os jovens, as mediadoras de leitura perceberam que eles já tinham o hábito de ler, e que poderiam ler ainda mais se o contato aos livros fosse facilitado.

“Os encontros com os alunos da Escola Estadual Professor Flávio José Osório Negrini vão até novembro de 2022. Foram 28 inscrições, mas só poderíamos ter 15. Com isso a gente percebeu que os jovens leem sim, mas os livros são caros, muitas vezes falta recurso como o celular para ler online, e até a internet para esse acesso”, avalia Michele Andrade, mediadora do clube de leitura.

Micaele teve sua vida transformada através da leitura desde que aprendeu a ler e hoje deixa troca a tela do celular pelas páginas dos livros. Foto: arquivo pessoal.

Transformação da juventude 

Para Micaele, aluna do primeiro ano do ensino médio, a leitura passou a ser um hábito ainda criança, quando ela tinha um constante contato com gibis por meio da biblioteca comunitária. Nessa época, o espaço comunitário de incentivo ao contato com o livro e a leitura precisou mudar, com isso, a estudante relata que acabou perdendo a rotina de ler, por não ter uma referência de um lugar onde poderia pegar livros emprestado.

“Quando eu aprendi a ler, eu ia todos os dias pegar livros e gibis na biblioteca e lá elas me ensinaram a ler melhor, interpretar texto e fiquei triste quando elas mudaram, perdi toda a ‘vibe’ de ler e não queria mais, mas na escola a gente se reencontrou”

Micaele Cauane Carvalho , estudante e moradora do Jardim Umarizal, zona sul de São Paulo. 

Sem nunca ter pisado em uma biblioteca pública e sem acesso aos livros da escola onde estuda, Micaele sabe da importância da leitura na sua vida e futura carreira como advogada, por isso ela leu cerca 15 livros em um ano, superando a média de leitura dos brasileiros que é de 4,96 ao ano.

“Os livros trazem uma realidade que eu posso viver, entrar na vida do personagem do livro. Cada livro e história tem um significado e você pode viver isso sem nem sair de casa, sem viajar, sem se mover e me comovem de uma forma diferente a cada vez que eu leio”, conta a estudante.

Segundo dados do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP), entre 2015 e 2020, cerca de 800 bibliotecas foram fechadas no Brasil, sendo que 91% das unidades que encerraram as atividades, ou seja, 764 estavam localizadas nos estados de São Paulo e Minas Gerais.

Cristiane Lima, membro da Coletiva, entrega os livros escolhidos pela leitura Emmely Barbosa. Foto: Edvânia Rodrigues.

Ligue e Leia 

O projeto Ligue e Leia da Biblioteca Djeanne Firmino existe desde julho de 2021, e já emprestou 344 livros para 44 moradores dos bairros próximos ao Jardim Olinda. Cada morador tem direito a um mês de empréstimo para cada livro e as entregas são feitas pelas próprias mediadoras de leitura do projeto.

“O Ligue e Leia é um projeto que veio com a pandemia para que os livros pudessem continuar circulando, por isso as entregas à domicílio são totalmente gratuitas.”, explica Edvania Duarte Rodrigues, mediadora de leitura da biblioteca.

Ainda segundo Alessandra, a intenção do delivery de livros é atingir todos os públicos, principalmente aqueles que não têm tempo de acessar os espaços públicos de leitura nos horários de funcionamento, além de atender as necessidades de acessibilidade de possíveis leitores, sem precisarem sair de casa.

“Foi o jeito que encontramos também de atingir aquele aluno trabalhador, ou que é adolescente e não tem permissão de sair, ou que até são mais caseiros. A nossa missão é trabalhar pela democracia do acesso e dos bens culturais”, finaliza Alessandra Leite.

Ancestralidade: as águas que limparam o sangue também regaram a terra

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 Do costume de cantar e comer ao modo de lavar as roupas. A ancestralidade mora no dia a dia, naquilo que nos toca porque é real.

Praça do Campo Limpo, zona sul, SP/2017 – Foto: DiCampana Foto Coletivo

Muito se fala em como a ancestralidade seria importante, mas as narrativas nos fazem pensar que a mesma mora distante do nosso olhar, quando na realidade nossa ancestralidade se faz presente no dia a dia e nos hábitos que nem sabemos de quem herdamos, mas estão vigentes.

Esta ancestralidade que faz parte de nós pode sim ser redescoberta, ser estudada e por vezes ser reconhecida nas falas de outras pessoas, mas mora em nós. Do lavar as mãos ao hábito do uso de ervas na comida. Do costume de cantar e comer ao modo de lavar as roupas. Da estética vinda do samba de roda ao rock. A ancestralidade mora no dia a dia, naquilo que nos toca porque é real.

A ancestralidade não foi encontrada em livro, nem em blog, a ancestralidade não foi embora de nós, ela foi saqueada sem permissão, foi apagada para que nossos ancestrais perdessem as forças pois tirar o dia a dia, a família e a língua de alguém é a maior violência que se pode aplicar, não à toa Portugal foi bem sucedido em seu colonialismo mesmo sendo um país falido.

Todavia, mesmo com essa trajetória as construções ocorreram e as trocas de afeto foram se constituindo, o Brasil tem mais de África do que de Estados Unidos e não precisa ser um grande estudioso para saber disso, as águas que limparam o sangue também regaram a terra, os morros que foram isolamento também constituíram novas formas de se relacionar.

Não existe romance nessa história, isso é nítido, mas existe vida, pulsante, existe afeto, existem saberes que foram passados durante séculos em comunidade, existem saberes que nunca nos disseram o que são, mas temos. Afetos que sabemos trocar e que sabemos construir.

A periferia vive e bebe o tempo inteiro dessa história, nossas vivências são parte disso, não aprendemos somente olhando para fora, também nos reconhecemos olhando para nós, para nosso redor, compreendendo nossas próprias formas de viver, de se comunicar e de sobreviver.

Foto: Pedro Oliveira

Esse texto é uma forma de me comunicar com uma parte de mim que ainda conflita muito em falar sobre o que me cerca intimamente, talvez começar a me reconciliar com aquilo que sempre senti, talvez abrir alas para contar o que sei de África até agora, que é pouco, mas que já transformou muito do meu dia a dia. O texto mais breve de todos os que já escrevi nesta coluna e talvez o mais introspectivo.

Mas sobretudo, feito com o foco em destacar que é preciso valorizar nossos saberes, nossos modos de viver, é necessário entender a ancestralidade como parte de nós, não como um organismo distante.

“Nludi nzo ka u natanga muntu mosi ko”

O teto da casa nunca é levantado por uma pessoa só

“Que mulheres são essas?”: socióloga analisa propostas de Lula e Bolsonaro para questões de gênero

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A socióloga Anabela Gonçalves traz um panorama sobre as propostas dos candidatos à presidência com relação às demandas sociais das mulheres negras, indígenas e quilombolas.

Durante o mês de setembro, o Desenrola irá realizar entrevistas com especialistas que irão analisar os planos de governo de candidatos à Presidência e ao Governo do estado de São Paulo. O ponto de partida para produção das análises são os marcadores sociais que atravessam a vida das mulheres, povos indígenas, população negra, periférica e LGBTQIA.

Na primeira entrevista para analisar o plano de governo dos dois principais candidatos à presidência, Lula (PT) e Bolsonaro (PL), a socióloga Anabela Gonçalves traz um panorama sobre as propostas destinadas às mulheres. Para ela, em geral, os planos de governo apresentam um aspecto genérico e são norteadores das visões ideológicas de cada candidato.

“Temos dois candidatos que apresentam planos de governo distintos. Bolsonaro apresenta um plano liberal de políticas focadas no crescimento econômico. O outro candidato, Lula, apresenta propostas mais humanitárias levando em consideração os diversos grupos sociais que compõem nossa nação”

aponta Anabela Gonçalves, que também atua nas áreas de gênero, políticas públicas e cultura nas periferias.

A socióloga aponta que sente falta de coerência do atual presidente, pois em suas propostas cita o direito à liberdade religiosa “quando ele mesmo não criou nenhuma medida para proteção das religiões de matrizes africanas, que foram muito atacadas durante seu governo”, aponta.

Outro ponto observado pela especialista, é que no plano de governo do candidato Lula, ela nota coerência, mas não identifica como tudo que o candidato propõem será garantido: “para mim parece uma incógnita”, avalia.

“Mulheres aparecem de forma mais ampla nos planos de trabalho, relacionadas ao empreendedorismo, participação no parlamento, inclusão produtiva e combate às violências, mas a pergunta é: que mulheres são essas?”

questiona Anabela sobre marcadores sociais ao pensar nas demandas das mulheres.

Segundo a socióloga, no plano do candidato à reeleição, Jair Bolsonaro, não é possível visualizar em poucas linhas quais mulheres estão sendo tratadas. “Não são identificadas se fala de mulheres pobres, desfavorecidas ou mães, se são negras, indígenas, quilombolas, ribeirinhas ou camponesas. Não aparecem de fato nomeadas e suas necessidades específicas”, afirma.

Em sua análise, a socióloga aponta que o candidato à reeleição, Bolsonaro, não muda sua atuação política que atrela mulheres à família e à maternidade.

Ela observa que o candidato à eleição Lula, apresenta quem são as mulheres e a necessidade de políticas públicas para essa população atrelada a gênero, raça e classe. “Tanto no que diz respeito a políticas que foram interrompidas no atual mandato, como a intensificação de lutas históricas”, coloca Anabela.

“Na proposta de Bolsonaro, mulheres são um termo genérico e muitas vezes o documento fala sobre os cidadãos e esquece das cidadãs, que nunca se apresenta envolto de conceitos importantes como raça, gênero e classe”, pontua a socióloga.

Anabela acrescenta que oque o candidato a reeleição Bolsonaro, chama de valores e princípios centrais do seu plano de governo está atrelado a ser contrário ao aborto, apresentando o termo nascituro na mesma linha que aborda o direito à propriedade. “Para mim não dá para um candidato escrever em suas propostas ‘liberdade é tão importante quanto a própria vida’ e ignorar o direto ao aborto”, argumenta. 

“Especificar políticas e seus participantes é mais que necessário e combate um plano genérico de trabalho, como se a desigualdade pudesse ser combatida de forma igual”

afirma Anabela sobre a necessidade de se considerar raça, gênero e classe nas tomadas de decisões e criações de políticas públicas para a população.

A intelectual aponta que nas propostas do candidato Lula, se considera o genocídio como algo existente. “Dar rosto às mulheres, principalmente negras, em um plano de governo, é mais que necessário nos tempos atuais”.

Anabela reforça que é preocupante a relação genérica ao se tratar das mulheres, que ignora o racismo e as violências que alguns grupos sofrem.

“Para mim aí está o grande perigo, todos falam de trabalho e renda, educação, infraestrutura, mas só em um plano se percebe esses projetos envolto das relações de desigualdade e que leva em consideração a diversidade social”, finaliza.

Machismo e política nas redes sociais

Analisamos 40 publicações com o maior número de engajamento e compartilhamentos no twitter nesse período envolvendo menções às palavras “mulheres, família e Bolsonaro”, uma referência direta ao plano de governo do candidato à reeleição.

Em 27 publicações, que renderam mais de 6 mil compartilhamentos no twitter, Bolsonaro conta com uma base de aliados que transformam o debate sobre machismo e misoginia, em uma tentativa de mostrar um presidente preocupado em convocar as mulheres para pensar estratégias de fortalecimento dos laços da família, criando assim uma semelhança com a análise da socióloga sobre o plano de governo de Bolsonaro.

Do outro lado, figuras públicas e políticos opositores da esquerda protagonizam 13 publicações com mais de 35 mil compartilhamentos no twitter, onde reforçam mensagens de apoio às mulheres que atuam como jornalistas, artistas e apresentadoras de programas, que foram alvo de discursos de ódio do Bolsonaro. 

“Homens não gemem”: Lena Silva e BiXop enfrentam a caretice com novo videoclipe

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Chega de gemido entalado na garganta! Esse é o chamado do casal Umsoh neste novo lançamento.

É preciso coragem – e muita disposição – para enfrentar alguns temas que ainda são tabu em uma sociedade machista, conservadora e racista. Mas o casal rapper Lena Silva e BiXop decidiram enfrentar a caretice e provocar neste novo single, com um videoclipe que esbanja beleza e bom gosto, em seu canal deYouTube, o Umsoh. 
Em “Homens não gemem”, Lena Silva e BiXop mostram que bom é quando homens e mulheres sentem prazer juntos e demonstram isso com afeto e muita gemeção: “Homem que sabe gemer é luxo/ Compomos uma sinfonia juntos”.

Porque a gente sabe como a coisa funciona no dia a dia, né? Em relações sexuais heteronormativas, é fácil identificar os papéis a serem cumprimidos: mulher se entrega, homem penetra, mulher dá, homem põe e tira. Mulher geme, homem jamais! E assim nos arrastamos, feito robôs, cheios de condicionamentos obsoletos, limitando e despotencializando o que temos de mais sagrado: a nossa sexualidade.

Muitos homens cisgêneros heterossexuais não gemem, pois temem revelar fragilidades que não ornam com o espectro machão que lhes é esperado. Tais regulações permeiam nossa subjetividade, e se manifestam de forma negativa nos relacionamentos.

Se esses homens soubessem que a virilidade ganha um charme todo especial quando abarcada pela vulnerabilidade, as relações ganhariam outra intensidade. Gemer parece um ato simples, mas não é. Requer entrega e autoconfiança. E uma boa trepada precisa disso. Gemer é a poesia do c*, da x0t@, da cabeça da p!r0c@. Emerge das entranhas, das sutilezas, do desejo latente.

Deixo aqui minha provocação pros macho cis de plantão: gemam aos quatro ventos, até ensurdecer as paredes. Chega de gemido entalado na garganta! Deixem o bagulho entornar, a volúpia dar as cara – e o s&x0 cumprir sua função: nos arrebatar, para enfim, nos libertar.
Essa música, comandada pela voz potente e sensualíssima de Lena Silva, além de dar um put@ t3sã0 na x0t@ e no coração, conta ainda com a participação de Deborah Crespo, que chega somando pesado, cheia de presença e personalidade, diretamente da zona sul de São Paulo. E BiXop mil grau colando pra fazer a parada estremecer, como deve ser!

Que o casal Umsoh siga provocando e abrindo caminhos para novas reflexões e formas de nos relacionarmos.

Muito amor e muita luz,

Abhiyana

*Esse texto conta com a colaboração de Tainã Bispo, da editora Claraboia.

Assista ao videoclipe: 

Hamburgueria surpreende clientes com sorteio de leite e óleo de cozinha no Capão Redondo

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Apesar de cômica, a ação faz parte de um movimento contra a carestia e chama a atenção para a insegurança alimentar enfrentada por 33,1 milhões de brasileiros.  

Durante transmissão ao vivo no Instagram, Carlos Rogério, proprietário da hamburgueria Fogo de Rua, anuncia a ganhadora do litro de leite. (Foto: Arquivo Pessoal)

Desde julho deste ano, a Hamburgueria Fogo de Rua, localizada no Jardim São José, no Capão Redondo, na zona sul de São Paulo, tem realizado sorteios de alguns itens da cesta básica entre os clientes do estabelecimento como forma de fazer uma crítica social e satirizar o alto preço dos alimentos encontrados no mercado.

O proprietário da Fogo de Rua, Carlos Rogério Souza, 39, morador do Capão Redondo, conta que a ideia de realizar os sorteios surgiu após uma ida rápida ao supermercado da região para comprar pão para o café da tarde da família. O valor da compra de um litro de leite, dez unidades de pão francês, e duzentos gramas de mortadela foi de R$16 reais.

“Hoje um pai de família que é assalariado tem que fazer uma escolha: ou ele compra o pão, ele almoça ou ele janta. Com esses dezesseis reais eu poderia ter comprado 1kg de frango à passarinho ou filé de frango. Infelizmente é um problema econômico que a região está enfrentando e foi dessa indignação que veio a ideia de fazer, com sarcasmo, essa crítica ao que vem ocorrendo”

Carlos Rogério, empreendedor e idealizador do sorteio. 

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Encarecimento do custo de vida impulsiona novos movimentos contra a carestia nas periferias

O desmonte de políticas públicas aliado a pandemia da covid-19, aumentaram o cenário de carestia – encarecimento do custo de vida – nas periferias, impulsionando a luta contra a inflação, historicamente liderada por movimentos populares e de mulheres.


https://desenrolaenaomenrola.com.br/contextos-perifericos/encarecimento-do-custo-de-vida-impulsiona-novos-movimentos-contra-a-carestia-nas-periferias

Foto: Rebeca Motta

Uma das ganhadoras do sorteio foi a Cristiane Lauton, 38, moradora do Jardim Copacabana. Premiada com um litro de leite, a administradora de empresas afirma que ficou surpresa com a ação da hamburgueria. “Achei o máximo a ideia da Fogo de Rua em sortear alguns alimentos como prêmio ironizando os preços do mercado. Recebi meu litro de leite, mandei um boomerang (vídeo curto do instagram) agradecendo e ainda dou risada do fato”, conta.

Carlos Rogério conta que a ideia foi bem absorvida pelos clientes e amigos. O empreendedor diz que a brincadeira é levada a sério com direito a fogos de artifício, carro de som e transmissão ao vivo pelas redes sociais da Fogo de Rua, além da entrega do prêmio em domicílio.

Ao todo ,72 clientes participaram dos dois sorteios realizados até o momento que premiou um litro de leite e um litro de óleo de soja.  “A reação dos clientes era cômica. Até quem não consumia na loja virou cliente para participar da ação porque a galera sabe que tá tudo caro”, diz o empreendedor.

Foto: Rebeca Motta

Gastronomia na periferia 

A Hamburgueria Fogo de Rua começou com um trailer que era 90% reciclado e com o sonho do Carlos, que sempre morou nos entornos do Capão. Com muita luta ele conseguiu comprar o terreno que abriga o espaço físico da loja.

A decoração segue a tradição antiga feita em 70% de material reciclado. O negócio expandiu nos últimos anos e além da hamburgueria é também um bistrô, que oferece ao público comida de qualidade, como risotos, moquecas, bacalhau, entre outros pratos servidos no local.

“Se você for nos restaurantes chiques, nomeados, quem vai estar cozinhando são os filhos de baianos, nordestinos, é o cara que mora na quebrada, então porque não trazer essa gastronomia pra periferia? Essa é a ideia do Fogo de Rua”, afirma o empreendedor.

Ações contra a carestia 

Em uma pesquisa realizada pela nossa equipe de reportagem, verificamos que o preço do óleo de cozinha e o litro do leite, produtos sorteados pela hamburgueria, variavam de R$ 10 a R$ 15 nos meses de junho e julho, em comércios das periferias da zona sul de São Paulo, Taboão da Serra e Embu das Artes.

No primeiro trimestre de 2022, a Rede PENSSAN, divulgou os dados da nova edição da pesquisa Olhe para a fome, que aponta para o aumento da insegurança alimentar na casa dos brasileiros.

Segundo o relatório, o número de famílias sem ter o que comer todos os dias saltou de 19,1 milhões de pessoas em 2021 para 33,1 milhões de pessoas em 2022. São 14 milhões de novos brasileiros sem o direito à alimentação garantido em pouco mais de um ano.

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“Substituo por salsicha”: moradores relatam insegurança alimentar em crianças nas favelas da zona oeste de SP

Carestia, desemprego e ausência de políticas públicas aumentaram a insegurança alimentar de famílias, moradores de favelas da zona oeste de São Paulo. Ações solidárias minimizam os impactos da fome, mas não resolveram o problema que permanece afetando crianças e adultos da região.  


https://desenrolaenaomenrola.com.br/series-e-especiais/substituo-por-salsicha-moradores-relatam-inseguranca-alimentar-em-criancas-nas-favelas-da-zona-oeste-de-sp

Em meados da década de 70, o Brasil também passava por um momento de alta da inflação impulsionada pela Ditadura Militar. Nas periferias da Zona Sul de São Paulo, um grupo de mulheres se organizou para criar o Movimento Contra a Carestia, a ação ficou conhecida como um dos maiores movimentos populares do país e coletou, de porta em porta, mais de 1 milhão e 300 mil assinaturas num abaixo-assinado contra o alto custo de vida na época.

O economista e pesquisador do Centro de Estudos Periféricos[2] [3] , da Unifesp, Cleberson da Silva Pereira, explica que o aumento no preço do óleo de cozinha está ligado à diminuição da oferta do petróleo, isso porque o óleo de soja também pode ser utilizado para produzir biocombustíveis, uma opção mais barata em relação a gasolina e ao diesel.

No caso do leite, o professor explica que o aumento desse item se dá porque o preço da ração das vacas também aumentou e consequentemente ficou mais caro para o produtor manter os animais, e o custo dessa demanda foi, inevitavelmente, repassado para o consumidor final.

De um modo geral, mudanças climáticas, alto custo de produção, diminuição da oferta de matéria prima por causa da guerra entre Rússia e Ucrânia têm impactado o preço desses produtos.

“Além das causas já citadas para o leite e óleo de soja, a cesta básica aumentou porque o preço dos combustíveis estava muito alto, especialmente o óleo diesel. Esse item impacta toda a cadeia logística e o preço final dos produtos. Quem acaba sofrendo com o aumento do preço dos itens da cesta básica é a população que ganha até 3 salários mínimos preferencialmente”, finaliza o economista.

4° Festival de Teatro Adolescente abre inscrições para jovens de 13 a 20 anos

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 O evento convida artistas adolescentes, atuando de forma solo ou em coletivos de todo o Brasil, para integrar a programação.

Coletivo Zefiro Norte. Foto de Sueli Almeida

De 02 a 06 de novembro de 2022, acontece o 4º Festival de Teatro Adolescente “Vamos que Venimos Brasil”, versão brasileira do festival criado na Argentina, com sede em Santo André (SP), que nesta edição adotará ações formativas em formato virtual e apresentações presenciais.

Até o dia 12 de setembro de 2022, estão abertas as inscrições para artistas de todo o Brasil, com idade entre 13 e 20 anos (completos até o momento da realização do festival), solo ou em coletivos, que queiram fazer parte da programação presencial do festival, que será realizada em Santo André (SP).

Podem participar artistas e grupos teatrais com no mínimo 70% de integrantes com essa faixa etária, e que estejam vinculados a escolas regulares, oficinas, pequenos cursos ou até provenientes de grupos e processos independentes de teatro jovem. As inscrições são gratuitas e o formulário está disponível no site do evento.

Além da modalidade “obra completa”, é possível inscrever trabalhos artísticos que ainda estão em processo. Essa foi uma forma encontrada pela organização do festival de valorizar cada etapa da formação artística e da criação como um todo.

Na edição passada, realizada em 2021, o festival reuniu 111 adolescentes com idade entre 13 e 20 anos, e 16 produtores com idade entre 16 e 24 anos, das cidades de Guareí, Mauá, Santo André, São Paulo, Salvador e Osasco, participando da “Produção Jovem” da execução do festival.

A iniciativa atua como uma espécie de estágio de produção cultural com adolescentes selecionados através de um chamamento público, que receberam uma bolsa auxílio para participar das etapas de realização do evento.

Serviço 

Convocatória para o 4º Festival de Teatro Adolescente Vamos que Venimos Brasil

Inscrições: até 12 de setembro de 2022 – Valor: grátis

Quem pode participar: grupos, coletivos e solos de artistas adolescentes, de qualquer cidade brasileira.

Faixa etária: de 13 a 20 anos 

Informações da Convocatória e ficha de inscrição, clique aqui.

Mais informações: Instagram e Facebook

Simbologias da orixá Nanã são tema de espetáculo de teatro em Taboão da Serra

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Espaço Clariô de Teatro recebe o espetáculo “Lama” do grupo Ajeum neste sábado. Há também apresentações no interior e centro de São Paulo.

Cena do espetáculo “Lama” do Núcleo Ajeum. (Foto: Verônica Pereira)

O Núcleo Ajeum apresenta o espetáculo “Lama”, inspirado nas simbologias de Nanã, Orixá que detém os poderes e mistérios da vida, morte e seu ciclo de existência. O espetáculo será apresentado neste final de semana, nos dias 03 e 04 de setembro em Taboão da Serra e Pindamonhangaba com entrada gratuita.

O espetáculo é apresentado pelo Núcleo Ajeum, um grupo de artistas negros, periféricos e LGBTs, sob direção de Djalma Moura. Com sede localizada entre as regiões do Jardim São Luis, Campo Limpo e Capão Redondo, o grupo pratica dança contemporânea e investiga a sua relação com as narrativas africanas e afro-brasileiras.

“O espetáculo ‘Lama’ traz como proposta de investigação as possibilidades de reinvenção do corpo e seu retorno para uma reelaboração de comunidade matrigestora que compreende o gestar e a pulsão feminina de existência enquanto estratégia de renascimento”

Djalma Mour é responsável pela direção do Núcleo Ajeum. 

As obras coreográficas do grupo têm sido criadas a partir da conexão entre fisicalidade e emoção, onde o corpo das danças negras dos terreiros de candomblé são ressignificados em suas múltiplas possibilidades de descoberta pela dança contemporânea.

O Núcleo Ajeum, que tem como foco a pesquisa o corpo negro e sua cosmovisão de mundo, investiga o universo pluridimensional dos terreiros de candomblé, as liturgias africanas e afrobrasileiras e os seus orixás. Neste processo, tem se interessado nas transformações corporais e emocionais que estes espaços de celebração e resistência negra dão às incorporações, aos transes e ao corpo que se manifesta no coletivo.

Agenda

Espetáculo “Lama” – Núcleo Ajeum

Quanto: entrada franca

Classificação etária: 12 anos

02 de setembro, às 20h

Grupo Caixa Preta de Teatro – Previdência, 531, R Rua Meraldo Previdi, 531 – Centro Registro SP.

03 de setembro às 20h

Grupo Clariô de Teatro – R. Santa Luzia, 96 – Vila Santa Luzia, Taboão da Serra.

04 de setembro às 18h

Espaço Cultural Teatro Galpão – R. Jadir Figueira, 2750 – Jardim das Nações, Pindamonhangaba.

14 e 15 de setembro

Centro de Referência da Dança da Cidade de São Paulo – Galeria Formosa Baixos do Viaduto do Chá s/n, Praça Ramos de Azevedo – Centro Histórico de São Paulo, São Paulo.

27 e 28 de setembro às 19h

Sesc Pinheiros – R. Pais Leme, 195 – Pinheiros, São Paulo.

Aplicativo aproxima moradoras de empregos e cursos nas periferias de São Paulo

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80% dos usuários do aplicativo Akiposso+ são mulheres e 20% delas são mães solo e chefes de família.

A iniciativa foi criada na pandemia para combater os impactos causados pelas desigualdades sociais no cotidiano dos moradores. (Foto: Divulgação)

A startup Akiposso+ surgiu em abril de 2020, período de intensificação das desigualdades sociais nas periferias e favelas, causadas pela crise econômica que tirou o emprego e a renda dos moradores. Disponível para dispositivos Android e IOS, o principal objetivo do aplicativo é promover soluções de inclusão social por meio do mapeamento dos problemas que surgiram nos territórios periféricos das regiões leste, oeste e sul de São Paulo durante a pandemia.

Uma das usuárias é a manicure Mirlei Souza Fernandes, 36, que vive com a família no Jardim São Luiz, zona sul de São Paulo. Ela conta que soube do aplicativo por meio de uma cunhada que também mora na região. A dona de casa afirma que encontrou no aplicativo uma forma de transformar a realidade em que vivia desde que a filha mais velha, hoje com 11 anos, nasceu.

“Comecei a acessar o app durante a pandemia quando eu e meu esposo ficamos desempregados. Começamos a procurar Ongs que distribuem alimentos porque só a cesta básica fornecida pela escola não estava dando conta. Fiz o cadastro e não demorou muito para que eu fosse chamada para retirar os alimentos em um dos pontos de distribuição perto de casa”

 Mirlei Souza Fernandes é moradora do Jardim São Luiz, zona sul de São Paulo.

Além do cadastro para acesso a banco de alimentos fornecidos por empresas parceiras do aplicativo, os usuários também encontram uma série de oportunidades de emprego, cursos de empreendedorismo, educação financeira, técnicas de vendas e marketing, em parceria com o SEBRAE.

Mirlei relata que apesar de ter procurado o app em busca de uma ajuda pontual, continuou acessando outras coisas dentro da plataforma. “Fiz muitos cursos dentro do aplicativo: manicure, designer de sobrancelha e designer de unhas. Através do app comecei a fazer curso em outros lugares e isso me instigou a querer voltar a estudar”, revela orgulhosa a empreendedora que conta ainda que já prestou vestibular para pedagogia e tem planos de ingressar na universidade no primeiro semestre de 2023.

Mirlei Souza Fernandes passou a usar o app e conquistou uma série de mudanças positivas na carreira profissional. (Foto: Aquivo Pessoal)

“Conhecer esse app expandiu meus horizontes. Estava há 10 anos em casa sem trabalhar e isso me fez ficar muito introspectiva, quando minha segunda filha nasceu isso se intensificou – não queria mais sair de casa. Hoje eu sei que consigo estudar, trabalhar e cuidar das minhas filhas” 

Mirlei Souza está se preparando para ingressar no curso de pedagogia.

Dados e impacto social

Segundo levantamento realizado pela equipe do Akiposso+, 80% dos usuários cadastrados na plataforma são mulheres e 20% delas são mães solo e chefes de família, que assim como a Mirlei estão encontrando um novo caminho por meio do empreendedorismo social.

Outro trabalho realizado pelo App é a interação com os moradores dos territórios em que atua. O desenvolvimento dessa conexão dentro das comunidades é realizado pelos Agentes de Transformação ou Anjos como também são chamados os responsáveis pelo mapeamento com os moradores.

“A equipe nunca vem às comunidades sem antes ter uma ponte, no caso do meu território foi através da Associação dos trabalhadores e moradia popular, que virou centro de distribuição de doações: alimentos, fraldas descartáveis, produtos de higiene, entre outros”

Leila da Silva Bonfim é moradora do Jaraguá e componente do Anjos desde 2020.

Além do trabalho que realiza como agente de transformação, Leila também se formou em assistente administrativo, logística e controladora de acesso em uma instituição parceira do app. Para ela é importante que as iniciativas não sejam apenas assistencialistas e defende que levar educação para as pessoas é fundamental para quebrar ciclos de dependência. Leila também foi premiada com uma bolsa de iniciação científica pelo CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) para incentivo à pesquisa no Brasil.

Uma das criadoras do aplicativo Akiposso+ é Priya Patel, 49, moradora do Jardim Panorama, na zona eeste da capital paulista. Ela nasceu na África do Sul e veio para o Brasil com a família na época do Aparthaide, regime político de segregação racial que assolou negros e indianos que viviam na África do Sul em meados da década de 50.

Por conta da origem e de tudo que viu nos países por onde passou, não hesitou em reunir os amigos que conhecia para mobilizar ações de combate à fome durante a pandemia. Com 23 anos de experiência em grandes empresas do mundo corporativo, ela sabia quem poderia ajudar naquele momento.

“Começamos o mapeamento em quatro comunidades para entender o grau de vulnerabilidade nesses territórios: Jd. São Luiz, na Zona Sul; Jd. Jaraguá, na Zona Oeste; Jd Pantanal e Jd Helena, na Zona Leste – os últimos dados do censo foram colhidos em 2010 e quando se tem dados muito antigos você não consegue aplicar Políticas Públicas, entender as necessidades, dar acesso às oportunidades e conectar com parceiros”

Priya Patel é moradora do Jardim Panorama, na zona oeste de São Paulo. 

Priya conta que o mapeamento foi importante para revelar que as pessoas não queriam apenas o alimento, eles tinham necessidade de educação e cultura e foi aí que a questão da assistência social foi além, abrindo parcerias para ongs e instituições de ensino.

“Nos definimos como uma startup de tecnologia social – a gente trabalha com muitos dados, fomos atrás para entender o que de fato as pessoas precisavam não só durante a pandemia. Quem está fora tende a achar que quem está em situação de vulnerabilidade quer um assistencialismo, mas as pessoas querem chances para desenvolver suas habilidades. O aplicativo é justamente para esse fim: conectar e unir isso em um só lugar”, explica a desenvolvedora.

Saiba mais: 

Para conhecer mais sobre as oportunidades oferecidas pelo aplicativo, faça o download pela Google Play Store ou acesse neste link.

Sem trabalho e renda, moradores das periferias dependem do Bom Prato para se alimentar

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Algumas unidades do serviço público não funcionam nos finais de semana. A medida tem impactado moradores que ficam dependentes de ações solidárias de vizinhos e organizações sociais.

Unidades do Bom Prato nas periferias da zona sul de São Paulo só abrem de segunda-feira a sexta-feira. Foto: Patricia Santos

Como os preços dos alimentos estão aumentando cada vez mais, moradores das periferias de São Paulo deixam de ir ao mercado e feiras livres, por falta de dinheiro, e recorrem ao Bom Prato como alternativa para realizar refeições essenciais como café da manhã, almoço e jantar. Esse é o caso do senhor Antônio Inácio de Lima, 65, que vai todos os dias para almoçar e jantar na unidade do Bom Prato Capão Redondo, na zona sul de São Paulo.

O morador do Capão Redondo vive sozinho há 15 anos, desde o falecimento da esposa. Ele ainda não conseguiu se aposentar pelo fato da documentação estar incompleta. Neste momento, Lima está tentando reunir todos os documentos necessários, como a certidão de nascimento que se encontra em Pernambuco, estado onde nasceu. Enquanto isso, ele usa o pouco recurso que consegue com a ajuda de vizinhos e amigos para pagar as refeições no Bom Prato.

“O dinheiro que eu tenho é só para comer aqui. A minha salvação é essa, não tem outra coisa para mim. Se eu for comer em um bar por aí é R$ 20 ou R$ 30 no almoço, eu não tenho e a comida daqui é maravilhosa”

Antônio Inácio é morador do Capão Redondo, zona sul de São Paulo.

Custando R$ 1 real a cada refeição, e R$ 0,50 o café da manhã, o Bom Prato se tornou a principal alternativa viável para moradores das periferias que não tem condições de comprar alimentos ou pagar por refeições em estabelecimentos comerciais.

Sem renda e sem condições físicas para trabalhar, o senhor Antônio conta com a ajuda de vizinhos, que dão algumas moedas para ele conseguir comprar a comida no restaurante popular. Para suprir a necessidade do café da manhã, ele recebe o auxílio dos moradores a sua volta, que oferecem diariamente dois pães e o café preto. “Os vizinhos me dão algumas moedas pra comprar comida, eu não tenho renda nenhuma e também não consigo trabalhar, não tenho mais saúde pra isso.”, explica Antônio.

Nas unidades fixas, as refeições são servidas no próprio espaço e no jantar marmitas podem ser retiradas até as 18h. Foto: Patricia Santos

Renda insuficiente 

Segundo o DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), a cesta básica em São Paulo no mês de julho custava cerca de R$ 777,01. Esse valor destinado à alimentação de uma família de quatro pessoas corresponde a 64% do salário mínimo.

A Constituição Federal Brasileira estabelece que o salário mínimo deve ser suficiente para suprir as necessidades e despesas da família com relação à alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene e lazer.

No entanto, a realidade mostrada pelo estudo econômico do DIEESE mostra que o valor do salário necessário para cobrir essas e outras demandas de uma família com quatro pessoas, deveria ser de R$ 6.527,67, ou 5,39 vezes o valor atual do salário mínimo que é de R$ 1.212,00.

Os estudos do DIEESE tem forte conexão com a realidade vivida diariamente por Marcela Silva de Souza, 53, moradora do Capão Redondo, que tem apostado na atividade de catadora de recicláveis, como uma alternativa para gerar renda e conseguir levar alimentação para os 3 filhos e dois netos.

O preço dos alimentos nos mercados e feiras livres são incompatíveis com a realidade financeira vivida por Marcela e a família. O Bom Prato surge como a única solução de fácil acesso que permite a ela se organizar financeiramente.

“Em dias bons eu consigo fazer dinheiro suficiente pra dar comida pra todo mundo, mas tem dias que temos que dividir pra não faltar no dia seguinte”, conta a catadora de recicláveis, apontando que a cultura de dividir para não faltar já faz parte do cotidiano dos filhos e netos, que ainda são crianças.

Moradoes formam filas que dão a volta no quarteirão no Bom Prato do Capão Redondo.  Foto: Patricia Santos.

Expediente do Bom Prato 

Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Social (SEDS) do Estado de São Paulo, durante a pandemia de Covid-19, o Programa de Segurança Alimentar Bom Prato teve um aumento de 23,1% na distribuição de refeições. Entre 2020 e 2021, foram distribuídas mais de 78 milhões de refeições. Já nos anos de 2017 a 2019, o programa distribuiu 63 milhões de refeições.

Atualmente são servidas mais de 114 mil refeições por dia nas 83 unidades do Bom Prato. Dessas, 22 unidades estão localizadas em endereços fixos e outras dez estão em unidades móveis na cidade de São Paulo. As unidades do programa de segurança alimentar localizadas na 25 de Março, Brás, Campos Elíseos, Guaianazes, Lapa e São Mateus, abrem sete dias por semana.

No entanto, as demais unidades instaladas em endereços fixos das regiões norte e sual do municipio atendem de segunda-feira a sexta-feira. Esse expediente não considera a demanda da população local que precisa se alimentar no sábado e domingo. Desta forma, o senhor Antônio e a Marcela são afetados diretamente pelo fechamento destas unidades.

“Chega sexta-feira eu pego duas marmitas: uma pra jantar e uma pra comer no sábado. No domingo os vizinhos me dão comida, com fome eu não fico, graças a Deus e a eles, mas seria bom se abrisse no domingo, não ia ficar dependendo só deles pra comer”

Antônio Inácio tem 65 anos, mas não é aposentado e não tem renda fixa.

No caso da Marcela, mesmo pegando duas marmitas (o limite permitido por vez), ainda é pouco para alimentar seis pessoas por mais dois dias. “Já cheguei a ir até Santo Amaro pegando carona nos ônibus pra pegar marmita, mas é muito difícil, nem todo motorista quer dar carona”, relata.

A periferia no combate à fome 

Marisa Mateus (de verde), e as cozinheiras do Cozinheiras da OnG O Amor Agradece do Núcleo Carumbé que servem servem todos os domingo cerca de 250 marmitas aos moradores do bairro. Foto: divulgação.

 Marisa Mateus, 64, é moradora do Jardim Carumbé, bairro localizado na Brasilândia, zona norte de São Paulo. Ela atua como coordenadora do Núcleo Carumbé da organização social “O Amor Agradece”, que entrega marmitas aos domingos para moradores da Ocupação Nova Carumbé.

A organização existe há quatro anos, mas o Núcleo Carumbé, responsável pela distribuição de refeições, surgiu durante a pandemia de Covid-19, mesmo período no qual o Bom Prato teve um aumento considerável na distribuição de refeições.

“Em abril de 2021 eu recebi uma ligação de uma amiga, dizendo que um grupo que distribuía marmitas estava precisando de um carro para fazer o recolhe. Eu disse que poderia, sim fazer, mas distribuiria aqui na minha comunidade, pois temos uma ocupação de moradia em situação de vulnerabilidade. Assim conheci a Rute Correia, que é coordenadora da ONG “O Amor agradece.”, relembra.

Em 2021, a pedido de Rute Correia, Marisa passou a cozinhar junto com as irmãs e vizinhas do bairro onde mora, e hoje somam juntas dez cozinheiras e algumas ajudantes no coletivo. Elas cozinham em suas casas e o projeto recolhe e distribui na região.

As quentinhas são preparadas nas casas das cozinheiras que são voluntárias e retiradas por integrantes do núcleo para distribuição. Foto: Marisa Mateus.

“Hoje são 250 marmitas distribuídas para aqueles que estão na fila todos os domingos. O critério para distribuirmos nesta região é a proximidade. A comida chega quentinha ao nosso público.”,

Marisa Mateus, coordenadora do Núcleo Carumbé, localizado na Brasilândia, zona norte de São Paulo.

O Bom Prato localizado na Brasilândia também funciona de segunda-feira a sexta-feira, com isso, os moradores do territórios ficam vulneráveis com a falta de alimentação nos finais de semana, fato que reforça a importância da atuação da organização social na região.

Segundo a SEDS, as unidades do Bom Prato que funcionam aos fins de semana são definidas de acordo com a demanda de usuários da região. “A frequência de abertura e funcionamento das 83 unidades do Bom Prato são determinadas através de um mapeamento de demanda. Há três opções de abertura que atendem a frequência dos clientes e pessoas em situação de rua em seus diferentes territórios do estado: segunda-feira a sexta-feira, segunda a sábado, e segunda a domingo.”, explica a secretaria de governo do estado. 

Batalhas de poesias reforçam o direito à cidade

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Os slams, competições de poesias faladas, se espalharam pelas periferias e hoje grande parte dos grupos realizam suas edições ocupando espaços públicos da cidade.

A cena do slam, batalha de poesia falada que se tornou popular no Brasil principalmente através do ZAP! Slam, criado por Roberta Estrela D’Alva, teve início na década de 1980, em Chicago, nos Estados Unidos. Desde então, o movimento tem se espalhado pelas periferias e ocupado espaços públicos através da poesia falada, usada como instrumento para performances que abordam desde o amor à desigualdades sociais.

“Entendemos que o Terminal Santo Amaro ainda é quebrada, por mais que queiram elitizar, a região ainda é periferia e é caminho para todas as quebradas da sul, e chamamos de 13 por causa do metrô”

explica Thiago Peixoto, poeta e coordenador do Slam do 13, batalha que em 2022 completou nove anos de atuação na zona sul de São Paulo.

Em outra ponta da cidade e também realizada nas redondezas de uma estação de trem, acontece o Slam Oz, batalha de poesia com edições toda última quarta-feira do mês, na saída da estação Osasco, região metropolitana de São Paulo. Os criadores afirmam que o local foi escolhido por conta da facilidade de retorno dos poetas e público para suas casas.

“A importância de se fazer eventos poéticos e culturais em locais públicos é gigantesca, principalmente porque nem todos têm acesso quando ocorrem em espaços privados”

afirma o poeta Lucão, integrante do Slam Oz e morador de Carapicuíba, município vizinho de Osasco.

Já no distrito da Vila Matilde, na zona leste de São Paulo, acontece o Slam Tiquatira, realizado todo último domingo do mês, em frente a estação Vila Matilde, na linha vermelha do metrô. 

“É um espaço muito democrático. As pessoas que estão passando para trabalhar, para sair, podem ver o Slam, parar um pouquinho para apreciar as poesias e ir embora”

comenta Nicole Amaral, matemática do Slam Tiquatira

Durante as batalhas de poesias, são escolhidas pessoas do público para serem os jurados e atribuírem notas as apresentações dos poetas.
O público nos slams vai desde crianças até pessoas mais velhas. Espaços abertos que acolhem o público que quiser colar. Slam Oz realizado em julho de 2022.
Moradora do Campo Limpo, zona sul de sp, Jéssica Amorim, 25, foi pela primeira vez em um slam a convite de uma amiga. No Slam do 13 viveu de tudo: sorriu, se emocionou, ganhou livro e cogita levar os versos que escreve nas próximas idas. “Me despertou a curiosidade de frequentar mais vezes e quem sabe até mostrar os versos que escrevo”, reflete Jéssica.
Desde a sua primeira edição em 2013, o Slam do 13, que acontece toda última segunda feira do mês dentro do Terminal Santo Amaro, zona sul de São Paulo, tem sido um espaço de fortalecimento de poetas, sejam iniciantes ou veteranos na cena.
Nascido na Bahia e atualmente morador de Osasco, o poeta CJ, 22, escreve poesias desde os 8 anos. “A poesia é a saída para esses sentimentos e através dela pude começar a dar um sentido para aquilo que até então eu mal entendia”, conta o poeta que participou na edição de julho do Slam do 13.

Direita

Da zona sul para zona leste: King a Braba é moradora de Itapecerica da Serra, e foi a campeã da edição de julho de 2022 do Slam Tiquatira.
Kenyt, morador de Ermelino Matarazzo, zona leste, é poeta formador do Slam da Guilhermina e autor do livro “Inté Aqui – Pode me Chamar de Kenyt”. Participação do poeta no Slam Oz, realizado em Osasco, em julho de 2022.
Brenalta, é poeta caiçara, morador de Boiçucanga, litoral norte de São Paulo, e foi um dos finalistas da edição de julho de 2022 do Slam Tiquatira.
Naiá Curumim, é poetisa e moradora de Carapicuíba, região metropolitana de SP. Em julho de 2022 participou do Slam Oz, batalha com edições toda última quarta-feira do mês, na saída da estação Osasco, região metropolitana de São Paulo.
Atualmente existem mais de 200 grupos de slams no Brasil, espalhados em pelo menos 20 estados. Cada slam realiza mensalmente suas batalhas de poesia, sendo que anualmente classificam um poeta representante para batalhar no Slam SP. O ganhador da batalha em São Paulo, se classifica para a final do Slam BR, competição com slams de todo país, e o vencedor representa o Brasil na Copa do Mundo de Slam, realizada em Paris.