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Agentes culturais se articulam contra terceirização das Casas de Cultura em São Paulo

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Articuladores locais apontam que o processo de terceirização impacta trabalhadores da cultura e o diálogo direto com iniciativas culturais dos territórios.

Reunião da Subcomissão de Cultura em 06/02/23. Foto: Arquivo SOS Casas de Cultura.

O chamamento para OSCs (Organizações da Sociedade Civil) concorrerem à administração das Casas de Cultura de São Paulo, foi colocado para conhecimento público no dia 16 de dezembro de 2022, pela Secretaria Municipal de Cultura. No total, são 20 Casas de Cultura espalhadas pelo território e através da construção feita por articuladores, coletivos e iniciativas locais, se tornaram patrimônios culturais das periferias.

A mobilização SOS Casas de Cultura, composta por trabalhadoras da cultura, como jovens monitores culturais, artistas autônomos e ativistas periféricos, tem se mobilizado para dialogar sobre as dificuldades que a possibilidade de terceirização desses espaços representa.

Plenária realizada dia 18/01/2023 junto com o SOS Casas de Cultura
Plenária realizada dia 18/01/2023 junto com o SOS Casas de Cultura

“Não existe diálogo por parte do poder executivo na pessoa do prefeito Ricardo Nunes e da secretária de cultura Aline Torres. Eles não abriram os processos de participação da sociedade civil organizada para discutir esse projeto que eles têm de privatização”, afirma Aurélio Prates, agente cultural e integrante do movimento SOS Casas de Cultura, sobre a falta de diálogo e decisões tomadas sem consultas públicas.

“Já teve 9 audiências públicas onde em nenhuma eles [Ricardo Nunes e Aline Torres] apareceram. Até foi dito para o chefe de gabinete lá em março de 2022 que não existia nenhum estudo acerca dessa possível privatização, e no final do ano [2022], em um momento de férias, isso foi colocado a público”.

Aurélio Prates, ativista cultural e integrante do movimento SOS Casas de Cultura

O agente cultural pontua que o movimento SOS Casas de Cultura nasce a serviço da construção de políticas públicas culturais, pautadas no que é público, “no orçamento de uma cidade bilionária”. Ele também reforça que mesmo o chamamento tendo sido aberto no período próximo ao recesso, “com muita pressão foi prorrogado até dia 30 de janeiro e seguimos lutando para barrar e propor outras formas de gerenciar os serviços públicos em São Paulo”.

Aurélio aponta que esse movimento em torno das Casas de Cultura é uma política estrutural do governo de Ricardo Nunes.

“A partir de João Dória e Ricardo Nunes, temos a política de desestatização. Eles usam a máquina pública municipal para vender tudo que é público. Eles acreditam nesse investimento do quanto mais enxuto for a participação do estado, melhor é. Quando na verdade, diminuir sua responsabilidade enquanto estado é injetar grana em empresas, OS, que usam indevidamente o dinheiro público”, aponta Aurélio. 

“O casarão é nosso!”  

Morgana Sales, 35, moradora do Parque Edu Chaves, na zona norte de São Paulo, é artista, educadora e oficineira no Casarão Vila Guilherme, uma das casas de cultura que entrou no processo de privatização. Ela conta que sua relação com a cultura está diretamente atrelada ao Casarão.

“Antes era uma casa abandonada. Os artistas e moradores locais ocuparam esse espaço e foi assim que começamos a fomentar a cultura. É um espaço fruto de ocupação popular, é um espaço muito nosso”, afirma a educadora.

Morgana ainda ressalta a importância de uma gestão que se propõe a abrir as portas e deixar os artistas e coletivos locais ocuparem e co-criarem a programação.

“Essa gestão [atual] tem um olhar muito sensível para o território e para a demanda de estar propondo cultura na periferia. Os participantes conhecem a gestão pelo nome, é um diálogo de fato, e a ideia é que siga ocorrendo.Ter uma gestão que considera, que ouve e dialoga, transforma o espaço”.

Morgana Sales, moradora do Parque Edu Chaves, na zona norte de São Paulo, é artista, educadora e oficineira no Casarão Vila Guilherme.

Ela conta que o impacto da licitação já está acontecendo com as oficinas de longa duração suspensas. “E se a gente for pensar na remuneração, o edital que eu estou hoje da prefeitura paga um valor, agora, o valor da hora aula que as OSCs oferecem no CEUs, por exemplo, é muito baixo. Ou seja, o impacto vai vir para os trabalhadores que vão receber muito menos e para a comunidade.”

Reunião geral realizada no Casarão Vila Guilherme em 01/02/2023. Foto: Arquivo SOS Casas de Cultura.

“Precarização hoje é utilizada para justificar uma terceirização desses espaços” 

Elaine Mineiro, vereadora da mandata Quilombo Periférico, preside à subcomissão de Cultura, e aponta que a precarização das Casas de Cultura é um projeto. “Elas passaram por um processo contínuo de precarização, uma falta absurda de funcionários, falta de política estruturante, não se segue a lei que indica que essas casas precisam de conselhos participativos e deliberativos para o seu funcionamento, e essa precarização hoje é utilizada para justificar uma terceirização desses espaços”, afirma.

A vereadora ressalta que até o momento não tem como medir o impacto desse processo no território, que ainda não é nítido o plano da Prefeitura, mas que é possível observar que onde existe a gestão de OS, se encontra uma precarização.

“Essas casas de cultura foram construídas em territórios periféricos justamente para atender as especificidades de cada território, para que houvesse uma coordenação de cada território, um conselho gestor do território, para ser um espaço que acolhe arte que é produzida na periferia, e não apenas um espaço de circulação de arte de outros territórios”.

Elaine Mineiro, vereadora da mandata Quilombo Periférico e presidente da subcomissão de Cultura.

A vereadora comenta que a mandata já protocolou um pedido de audiência pública sobre as Casas de Cultura com a presença da Secretária de Cultura Aline Torres e do Prefeito Ricardo Nunes. Essa solicitação será votada nos próximos dias na Comissão de Finanças.

“A gente entende que a secretária precisa dar explicações sobre qual o impacto dessa terceirização, qual o motivo de fato, quais foram os estudos que a Secretaria Municipal de Cultura e o executivo fez que viabiliza a ideia de terceirização”.

Elaine Mineiro, vereadora da mandata Quilombo Periférico e presidente da subcomissão de Cultura.

Além disso, Elaine pontua sobre as ameaças que trabalhadores da cultura estão recebendo por chamar esse processo de privatização. Segundo ela, a secretária de cultura ameaçou denunciar como fake news e acusar na justiça todos aqueles que chamarem o processo de privatização. Os movimentos reafirmam como privatização o processo de tirar a gestão da administração pública e colocar na mão de instituições.

“O que não pode acontecer é que quando esses trabalhadores, militantes, artistas fazem esse tipo de denúncia sejam ameaçados pela Secretaria Municipal de Cultura para que não se manifestem mais, e isso estamos de olho e não vamos permitir que aconteça”, finaliza Elaine.

Transarau realizado dia 25/01/23 no Centro Cultural São Paulo, com microfone aberto para os trabalhadores da cultura e o SOS Casas de Cultura. Foto: Arquivo SOS Casas de Cultura.

O que diz a Secretaria Municipal de Cultura 

Entramos em contato com a assessoria da Secretaria Municipal de Cultura, mas não pontuaram sobre como tem se dado o diálogo com os movimentos e artistas para ouvir as demandas e sugestões dos agentes locais.

A assessoria pontuou que “o modelo de gestão compartilhada segue o Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil (MROSC), regulamentado pela Lei nº 13.019, de 31 de julho de 2014, e é utilizado com sucesso em outras iniciativas da Secretaria, como a EMIA (Escola Municipal de Iniciação Artística) e o Programa Jovem Monitor”.

E afirmam que o edital garante que todas as atividades oferecidas continuem gratuitas e permaneçam ligadas ao território. “Nos documentos disponíveis para consulta pública, através da plataforma Participe +, há diversas referências para que a linha curatorial das Casas de Cultura leve em consideração atividades ligadas aos territórios”, disse a assessoria.

Trabalhadores da cultura, junto com a mobilização do SOS Casas de Cultura, seguem reivindicando uma audiência pública com o Prefeito Ricardo Nunes e a Secrétaria de Cultura Aline Torres, além da instituição de Conselhos Deliberativos para as Casas de Cultura. 


Ô, abram alas: a trajetória de mulheres negras que puxam sambas-enredo no carnaval

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Raquel Tobias, Grazzi Brasil e Elci Souza são referências de mulheres negras que conquistaram espaço como intérpretes nas escolas de samba.

 

 

 

Elci Souza, Raquel Tobias e Grazzi Brasil. Fotos: Arquivo pessoal. Arte: Flávia Lopes

Mesmo com abordagens diversas, o carnaval ainda é um espaço em que as mulheres dificilmente têm representatividade quando o assunto é a voz. Presentes em várias alas das escolas, ainda são exceção nos principais microfones dos carros de som, como intérpretes.

Entre confetes e serpentinas, o machismo é uma alegoria ultrapassada, mas que ainda marca presença no cotidiano das mulheres. A cantora, compositora e intérprete Raquel Tobias, 50, afirma que o machismo nas escolas de samba é escancarado, e que assim como o patriarcado, “têm camadas como uma cebola, que com o tempo as mulheres vão retirando”.

“Minha mãe sempre cantou, ela até chegou fazer teste na era do rádio, mas aí vem a parte machista do meu pai, essa parte conservadora: ou você casa comigo, ou você vai seguir essa carreira. Então, minha mãe deixou a carreira.”

Raquel Tobias, cantora e compositora.

Raquel mora em Embu das Artes, região metropolitana de São Paulo e seus pais foram suas maiores influências na música. A mãe cantava sempre quando lavava roupa e o pai, após conhecer a igreja Adventista, começou a cantar em um quarteto.

Foi frequentando a igreja com seu pai que Raquel também deu seus primeiros passos na música, cantando no coral da igreja. No entanto, foi a ancestralidade despertada pela sua mãe que lhe guiou no decorrer de sua história.

“A referência vem de quando a minha mãe começou a levar a gente [ela e os irmãos] pras escolas de samba Nenê de Vila Matilde, Rosas de Ouro, em todas as escolas. Mas quando eu cheguei na Camisa Verde e Branco, quando eu vi o mestre Tobias, a bateria furiosa, eu falei ‘é aqui’. Aí me apaixonei pela Camisa Verde e Branco”, conta Raquel sobre seu contato com as escolas de samba desde muito cedo.

Apesar das dificuldades e do machismo presente que já lhe fez parar de cantar durante oito meses, Raquel atualmente canta na escola de samba Estrela do Terceiro Milênio, com sede no Grajaú, zona sul de São Paulo, e que no dia 18 de fevereiro de 2023, estreia no Grupo Especial de São Paulo.

A sambista explica sua paixão pela escola dizendo que por ser uma artista periférica se identifica com o fato da escola ser da comunidade, que ela viu crescer e acompanha desde que era um bloquinho de rua.

No carnaval de 2023, Raquel já passou pelo Sambódromo do Anhembi com a escola Brinco da Marquesa, é parte da ala musical da Estrela do Terceiro Milênio e também canta no Bloco Pagu, dia 21 de fevereiro.

A voz que atravessa estados 

Assim como Raquel Tobias, a cantora Grazzi Brasil também faz parte da ala musical da escola Estrela do Terceiro Milênio. Graziele canta desde os 13 anos, e hoje, aos 35 anos, faz parte da geração de mulheres no samba que buscam conquistar e ampliar espaços para outras intérpretes nas escolas de samba.

Grazzi nasceu no distrito do Rio Pequeno, zona oeste de São Paulo, na favela 1010. Ela conta que desde criança seu sonho era ser cantora, mas teve que dar uma pausa nesse processo aos 15 anos. “Eu tinha um sonho e tinha uma filha no braço”, conta. No entanto, aos 16 anos, após o nascimento da filha, ela retoma o desejo de ser cantora e desde então não parou mais.

Sua história no carnaval iniciou em 2014, gravando coral para disputa de samba-enredo. No ano seguinte, passa a fazer apoio nas disputas de samba-enredo da Vai Vai, em São Paulo, e seu grupo ganha por três anos seguidos.

“[Em] 2015, 2016, 2017 disputando, mas ainda de apoio, nada de frente”, explica, pois não era membro da escola, apenas disputava o samba, processo que ocorre entre grupos de sambistas para selecionar qual será o samba do ano. “Eu só disputava o samba e ia embora, não era de desfilar”, pontua Grazzi, que em 2017 é convidada para participar oficialmente da ala musical da escola e também grava o CD dividindo o samba-enredo. 

“Eu sou a primeira mulher da história do samba da Vai Vai. Em 2018, eu viro intérprete da Vai Vai, a primeira mulher na história [da escola].”

Grazzi Brasil, intérprete.

Entre tantas andanças, Grazzi também já foi intérprete da escola Paraíso do Tuiuti, no Rio de Janeiro, ela conta que “foi um momento histórico também, sendo uma mulher de São Paulo cantando no Rio de Janeiro é algo que praticamente não existe”.

Em 2022, Grazzi passa a ser intérprete da Estrela do Terceiro Milênio, onde ela também assina o samba-enredo intitulado “Ô, abram alas, elas vão passar”, que trata de empoderamento feminino e fez parte da vitória que garantiu a vaga da escola no Grupo Especial da Liga-SP pela primeira vez. Este ano, 2023, Grazzi segue desfilando como intérprete da Estrela do Terceiro Milênio e também desfilou na escola Deixa Falar em Belém, no Pará.

Paixão pelo carnaval desde a infância

Elci Souza, 40, moradora de Mogi das Cruzes, Alto Tietê, em São Paulo, percorreu uma longa trajetória até chegar a ser intérprete em uma escola de samba. Seu envolvimento com a música teve início aos 11 anos, quando começou a tocar teclado.

Hoje a cantora toca vários instrumentos, mas a sua paixão mesmo é cantar no carnaval. Paixão que tem desde criança quando ficava acordada assistindo os desfiles até a última escola sair da avenida.

“O carnaval me tem, eu não tenho o Carnaval. É uma coisa diferente que a gente chega a chorar. Sabe quando o sambista começa a cantar o hino e chora com aquela emoção? Então, eu sou assim”, afirma Elci sobre sua emoção de pertencer a esse movimento.

Sua maior inspiração quando criança era a tia, Regina Célia, que cantava, mas sempre era barrada nas apresentações principais. Situação que também já aconteceu com Elci quando tocava em roda de samba. 

“Eu tive mais preconceito em rodas de samba do que no carnaval. Toquei no grupo, o grupo ficou legalzinho, eu pensava ‘vamos fazer as turnês’, quando eu olhava o grupo estava no jornal e eu já tinha sido excluída e não sabia”. 

Elci Souza, cantora e intérprete na Unidos de Santa Bárbara. 

Além de enfrentar obstáculos por ser mulher, Elci também é afetada por outras camadas por ser uma pessoa LGBTQIAP+. “Eu falo da classe LGBTQIA+ porque tem muita gente boa, que canta muito bem, mas por conta do preconceito não conseguem. É como eu costumo falar: tem que dar oportunidade. Gay, lésbica, trans, todo mundo tem o direito de fazer o que quer”, afirma Elci.

Atualmente, Elci é intérprete da escola de samba Unidos de Santa Bárbara, que desfilou dia 11 de fevereiro, no Grupo de Acesso 2 da Liga-SP, e também atua na ala musical da Mocidade Unida da Mooca, que entra na avenida domingo, dia 19 de fevereiro. A intérprete afirma que é muito acolhida nas comunidades das escolas e que nunca teve nenhum tipo de discriminação em nenhuma das escolas.

No fim das contas, independente de qual seja a trajetória de cada uma das sambistas, as mulheres seguem lutando por espaço e querem ser respeitadas, seja carnaval ou não.

“Carregando injustiça nas costas”: Entregadora denuncia exploração de aplicativos de delivery

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A iniciativa da entregadora Juliana Iemanjara visa combater a exploração dos trabalhadores de aplicativos e transformar a publicidade feita de forma gratuita nas mochilas de delivery. 

A entregadora atua desde 2019 gerando renda com o trabalho em aplicativos de delivery. (Arquivo Pessoal)

Com frases como “Carregando injustiça nas costas”, “Sua Comida minha fome”, “Levando comida, ganhando miséria” e “Seu conforto minha injustiça”, a entregadora Juliana Iemanjara, 34, moradora da Vila Inglesa, na zona sul de São Paulo, iniciou em outubro de 2022 uma campanha nas redes sociais e nas ruas da cidade, para espalhar mensagens sobre as injustiças sofridas por trabalhadores de aplicativos no dia a dia desta profissão cada vez mais desvalorizada.

A entregadora utilizou o seu perfil no Instagram e no Facebook para espalhar as mensagens da campanha, na qual ela distribuía adesivos para que motoboys colocassem nas mochilas de entrega, como forma de protesto e conscientização, espalhando frases que evidenciam a exploração da mão de obra de quem trabalha com entregas por aplicativo. 

Ela explica em seu perfil no Facebook e no Instagram como entrar em contato para ter acessos aos adesivos da campanha.

“Todo nosso corpo gera lucro para os donos desses apps. Trabalhamos como um Outdoor ambulante”

Juliana Iemanjara, entregadora

Além da campanha na plataforma digital, a entregadora organizou a exposição de banners instalados em carros e avenidas movimentadas de São Paulo para alavancar o impacto das mensagens.

“Além de ganhar pouco e não receber nenhum respaldo por parte das empresas, ainda fazemos publicidade de graça para os apps. Isso me motivou a querer propagar a causa dos trabalhadores que estão na rua” , explica.

A campanha espalhou banners em muros e carros que circulam pelas avenidas da grande São Paulo. (Arquivo Pessoal)

Desde 2019, ela trabalha com entregas por aplicativo. E nesse meio tempo a entregadora entendeu a importância de provocar não só os parceiros da categoria, mas toda a sociedade a olhar com mais atenção para o que acontece nas ruas da grande São Paulo.

Juliana vive com a mãe e os dois filhos e toda a renda da família é resultado do trabalho como entregadora em quatro aplicativos de entrega onde presta serviço. E para complementar a renda faz bicos em bares, vende produtos pela internet, e ainda tem tempo para ser vendedora ambulante nas ruas da cidade.

“A única coisa boa em trabalhar com aplicativos é a questão da flexibilidade”

Juliana Iemanjara, entregadora

“Tem muita gente que não consegue trabalho com carteira assinada, ou não tem formação, além dos casos das pessoas que saíram do sistema penitenciário. Esses perfis de pessoas vão pro aplicativo, mas sem nenhuma garantia de direitos trabalhistas”, conta.

No perfil de Instagram da entregadora, ela faz uma publicação que afirma: “Nem sempre temos dinheiro para comprar algo para comer na rua”. A contextualização para esse desabafo é o depoimento de um dos entregadores que aderiram à campanha e relatam os maus tratos sofridos por donos de restaurantes, que se negam a fornecer um alimento durante a jornada de entregas.

Juliana e Galo são integrantes do movimento Entregadores Antifascistas. (Arquivo Pessoal)

Entregadores e trabalhadores

A entregadora é formada em contabilidade e sonha em aprofundar os estudos para auxiliar o movimento Entregadores Antifascistas, que existe desde 2020. O movimento ficou conhecido mundialmente por conta da manifestação que culminou na queima da Estátua do Borba Gato, localizada na Praça Augusto Tortorelo de Araújo, distrito de Santo Amaro, zona sul da cidade.

O representante do movimento Entregadores Antifascistas, Paulo Galo, conta que no período de criação do movimento, havia a necessidade de uma organização que desse conta de organizar os trabalhadores e expor o que estava acontecendo naquela época, o que segundo ele aconteceu em partes.

“Com toda a repercussão teve um movimento de valorização dos motoboys por parte dos clientes, impulsionado pela comoção causada pela pandemia, mas isso foi se diluindo com o tempo”, comenta Galo. 

Direitos trabalhistas 

Com o objetivo de abrir um diálogo com o governo Lula sobre a importância de reconhecer os entregadores como uma classe de trabalho, em 19 de janeiro de 2023, o representante do movimento Entregadores Antifascistas se reuniu com líderes sindicais e com o ministério do trabalho, em Brasília.

“A CLT é um conjunto de luta dos trabalhadores”, disse Galo no encontro com lideranças sindicais e representantes do ministério do trabalho. Durante o encontro, ele enfatizou a importância de construir uma união intersetorial com governantes, movimentos sociais e sindicatos, para entender as diferentes formas de construir políticas públicas que assegurem os direitos dos entregadores de diferentes formas, a fim de tirar o domínio do destino destes profissionais das empresas de aplicativos de delivery.

Paulo Galo participa de reunião com centrais sindicais e representantes do Ministério do Trabalho, em Brasília. (Reprodução Instagram)

Galo defende que os comerciantes devem entender que a mão de obra que oferecem também é explorada. “Muitos donos de restaurantes abrem a loja, faz fechamento, varre o chão e anota os pedidos dos clientes, ainda assim não se enxergam como trabalhadores”, afirma o representante do Entregadores Antifacistas.

Para Galo, falta consciência de classe, uma vez que empresas como o Ifood ficam com 30% de cada pedido vendido. “O app se torna sócio desse estabelecimento, sem ajudar a pagar o aluguel, funcionários ou na compra de matéria prima”, alerta ele.

Em relação ao governo do PT, o ativista se mostra animado, mas faz ressalvas: “Nunca houve um diálogo entre Lula e os entregadores antifascistas. A gente entende que com Lula é melhor do que com Bolsonaro, mas não temos grandes ilusões com isso”, conclui. 

Confira as escolas de samba da quebrada que irão desfilar no Carnaval de São Paulo

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Prepara o abadá, e já chama os amigos e familiares, pois os desfiles começam neste sábado (11), no sambódromo do Anhembi, com entrada gratuita para o grupo de acesso 2.

Desfile de 2022 da escola Unidos de Santa Bárbara. Foto: Dilvulgação.

O samba é um dos movimentos que reflete diretamente a identidade e o protagonismo negro na história. Muitas comunidades de samba reforçam essa relevância em seus enredos e tem o carnaval como um período importante de visibilidade. Separamos oito escolas de samba que são de diferentes quebradas, fazem parte da Liga-SP e irão desfilar a partir deste sábado (11), no Sambódromo do Anhembi, com entrada gratuita para as arquibancadas do grupo de acesso 2.

“Nunca foi só um sonho [desfilar no sambódromo do Anhembi], mas um objetivo alcançado com muita competência e comprometimento com o nosso pavilhão. No sábado vamos mostrar para o universo do Carnaval a nossa essência. Vamos cantar muito, tirar onda e, acima de tudo, ser felizes na busca de mais um título para a nossa escola.”

Renato Moura, diretor de harmonia da Imperatriz da Paulicéia.

Até hoje o gênero busca retratar essa potência e a realidade sociocultural das populações negras e periféricas. Isso pode ser observado na tradição da cultura popular e história de resistência de agremiações que ocupam o principal palco do samba, com destaque para a Imperatriz da Paulicéia, Campeã UESP (União das Escolas de Samba Paulistanas) em 2022 e estreante no sambódromo do Anhembi, abrindo os desfiles de 2023.

“Convidamos todos para prestigiar o trabalho das escolas da periferia de São Paulo. O nosso maior destaque, como sempre, será o povo da zona leste, que vai chegar cantando com muita garra e energia para mais um grande Carnaval, com uma proposta afro-religiosa e irreverente.”

Camilo Augusto, presidente da escola Amizade Zona Leste.

E aí, o que acha de cair na folia ao mesmo tempo em que fortalece as escolas de quebrada? Saiba um pouco mais sobre essas e outras escolas de samba periféricas do Carnaval de São Paulo.

Imperatriz da Pauliceia 

Casal Leila e Ronaldo com pavilhão da escola Imperatriz da Pauliceia. Foto: Divulgação.

Escola fundada em 1980 e sediada na Vila Fidelis Ribeiro, zona leste. A azul e branca abrirá o Grupo de Acesso 2, no dia 11/02, com o enredo “Bem-vindos à Vila Esperança – O Berço do Carnaval paulistano”. O projeto é do carnavalesco Pedro Alexandre, o Magoo, e a direção de Harmonia fica a cargo de Renato Moura.
Data: sábado – 11/02/2023
Horário: às 20h00 (1ª escola a desfilar)
Grupo: Acesso 2

Amizade Zona Leste

Mestre sala e porta bandeira da escola Amizade Zona Leste. Foto: Divulgação.

Fundada em 1995, a escola está localizada em São Mateus, zona leste. Neste ano a escola leva para a avenida o enredo “Do Zé Pelintra ao Zé Ninguém. Qual Zé Você É?”. O tema tem essência nas religiões de matrizes africanas, começando pelo José da Umbanda e fazendo relação com São José do catolicismo. Mas promete passear pelos Zé’s famosos da história e que fazem parte do imaginário popular em forma de expressão, como “Zé Povinho”, “Zé Ninguém” e “Zé Ruela”. A letra é assinada por Thiago Meiners e companhia.
Data: sábado – 11/02/2023
Horário: às 20h50 (2ª escola a desfilar)
Grupo: Acesso 2

Brinco da Marquesa

Desfile escola Brinco da Marquesa. Foto: Divulgação

Com 35 anos de história, sua sede é localizada na Vila Brasilina, distrito do Cursino, zona sudeste. A escola irá exaltar as comemorações tradicionais brasileiras por meio do enredo “É Festa! No Brasil é alegria o ano inteiro. A Marquesa comemora com você”, interpretado por Buiu MT.
Data: sábado – 11/02/2023
Horário: às 21h40 (3ª escola a desfilar)
Grupo: Acesso 2

 Primeira da Cidade Líder

Desfile 2022 da Primeira da Cidade Líder. Foto: Bruno Giannelli/SRzd

É uma escola fundada em 1993, com o intuito de levar o samba para a comunidade da Cidade Líder, zona leste. Em 2018 foi campeã da UESP, estreando no Anhembi no ano seguinte. Com o enredo “70 Anos De Uma Escola Diferente, Lá Vem Salgueiro!”, irá homenagear a tradicional escola carioca e promete surpreender não só no samba, mas nas fantasias e alegorias.
Data: sábado – 11/02/2023
Horário: às 22h30 (4ª escola a desfilar)
Grupo: Acesso 2

Leandro de Itaquera

Casal de mestre sala e porta bandeira da Leandro de Itaquera. Foto: Divulgação.

Localizada em Itaquera, zona leste, a agremiação foi fundada em 1982, por Leandro Alves Martins, seu atual presidente. Rebaixada para o Acesso 2 no último ano, irá reeditar o enredo “Batuque, a Força de Uma Raça”, de 1992. O hino exalta a importância da ancestralidade negra na cultura, religião e arte brasileiras.
Data: sábado – 11/02/2023
Horário: às 01h00 (7ª escola a desfilar)
Grupo: Acesso 2

Unidos de Santa Bárbara

Foto: Divulgação

Criada como bloco carnavalesco em 1988, em 2009 virou escola de samba. Situada no Itaim Paulista, zona leste de São Paulo, seu nome homenageia a santa de devoção de seus fundadores. Fará uma reedição do samba-enredo de 2010 “Kosi Ewe — Salve as Folhas. Sem Folhas, Não Tem Orixás”, que homenageia a fundadora da escola – Mãe Helena, e enaltece o Candomblé e a importância da natureza e de seu poder de cura.
Data: sábado – 11/02/2023
Horário: às 02h40 (9ª escola a desfilar)
Grupo: Acesso 2

 Estrela do Terceiro Milênio

Foto: Divulgação

É uma escola de samba do Parque América, região do Grajaú, zona sul de São Paulo. Com o enredo “Me dê a sua tristeza que eu transformo em alegria! Um tributo à arte de fazer rir”, a agremiação faz sua sonhada estreia no Grupo Especial, cheia de vontade de conquistar o sorriso do público do Anhembi e o título de campeã.
Data: sábado – 18/02/23
Horário: às 22h30 (2ª escola a desfilar)
Grupo: Grupo Especial

 Nenê de Vila Matilde

Foto: Divulgação

É uma das escolas de samba mais tradicionais da cidade, fundada em 1949 na Vila Matilde, zona leste de São Paulo, e que já conquistou o grupo principal do carnaval onze vezes. Em busca do retorno ao Grupo Especial, a agremiação desfilará este ano com o samba-enredo “Faraó Bahia”, que destaca a importância da Bahia como berço da cultura e religiosidade afro-brasileiras, além de exaltar a tradição da Nenê e a história de luta do povo negro por liberdade.
Data: domingo – 19/02/2023
Horário: às 21h00 (1ª escola a desfilar)
Grupo: Acesso 1

Os ingressos para todos os desfiles estão disponíveis para venda neste site, com valores a partir de R$15 (meia-entrada). Para quem quiser curtir o Carnaval na faixa, no dia 11/02/2023 as arquibancadas estarão com entrada gratuita para ver as doze escolas do Grupo de Acesso 2. Mesas e cadeiras ainda são pagas.

Você também pode acompanhar tudo da sua casa, ao vivo, pelo YouTube da Liga-SP.

Espetáculo discute evasão escolar na perspectiva de jovens periféricos

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Com apresentações gratuitas, a peça “O sinal tocou e eu ainda não cheguei” reflete sobre as ausências que levam à evasão escolar nas periferias.

Apresentação do grupo Coro de Teatro. Foto: Toscani

Entre os dias 25 de fevereiro a 05 de março, o grupo Coro de Teatro apresenta a peça “O sinal tocou e eu ainda não cheguei”, que através do debate sobre evasão escolar busca apresentar uma alternativa a situação por meio da cultura hip-hop. A ideia da peça surgiu da vontade do grupo em construir um espetáculo que fosse próximo de sua realidade.

O espetáculo é gratuito e acontece no dia 25/02, no CEU Feitiço da Vila, com apresentações às 15h e 19h; e nos dias 04/03 e 05/03, às 19h, na Casa de Cultura do Campo Limpo. Como parte da agenda do grupo, no mês de abril realizam uma oficina de Teatro Hip-Hop, também no CEU Feitiço da Vila, localizado na Chácara Santa Maria, zona sul de São Paulo.

O cenário da peça é uma escola pública da periferia, com jovens de diferentes personalidades que estão para fazer uma prova de recuperação para concluir o Ensino Médio. Suas histórias são contadas e rimadas com ajuda de elementos da cultura hip-hop e a vivência dos próprios atores, criando um debate sobre como diversos conflitos e ausência de políticas públicas na quebrada podem caminhar até a evasão escolar.

O grupo Coro de Teatro foi formado em 2021, por estudantes de teatro com propostas semelhantes e com uma vontade coletiva em refletir sobre as situações que passam no cotidiano de quem está ‘da ponte pra cá’, nas periferias, assim como eles.

Serviço

O sinal tocou e eu ainda não cheguei – Drama, 60 minutos, classificação: 12 anos, grátis.

Data: 25/02, às 15h e às 19h.
Local: CEU Feitiço da Vila
Endereço: R. Feitiço da Vila, 399 – Chácara Santa Maria, São Paulo – SP, 05879-000

Data: 04 e 05/03, às 19h.
Local: Casa de Cultura do Campo Limpo
Endereço: R. Aroldo de Azevedo, 100 – Jardim Bom Refugio, São Paulo – SP, 05788-230
Instagram: Coro de Teatro

A corrida do hoje

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Esses dias me peguei pensando o quanto me subestimo.

Esses dias me peguei pensando o quanto me subestimo. Sabe, às vezes nós mesmos duvidamos do nosso potencial, de quanto podemos realizar e correr atrás dos nossos sonhos.

Já rolou isso com você? 

Eu fico num looping infinito, e toda vez é como se o mesmo filme se repetisse de novo…. de novo… e de novo.

E é como se nada realizasse. 

Um filme entre sobreviver, não ter, a dúvida incessante de quando conseguirei, de quando terá trabalho.

Ter que se manter e sobreviver acho que hoje é o que faz a maioria das pessoas desistirem de correr atrás daquele sonho que tanto almeja, mas que muitos nos chamam de loucos.

Para nós da periferia a correria é tão mais dobrada. É correr para dois lados ao mesmo tempo.

Nós estamos em dois lugares ao mesmo tempo nessa corrida, a corrida para poder comer e sobreviver, e a corrida para tentar sonhar e viver, que loucura!

Quero expressar hoje o que talvez milhões de autônomos vivem. Correr atrás daquilo que acreditamos dói, ir contra a maré dói, não seguir o que todos fazem pode parecer loucura, mas eu ainda prefiro acreditar em meus sonhos, lutar e correr por eles até se realizarem.

Se vão se realizar? Não sei, mas isso é tema pra outro texto.

Coletivo Labirinto de Palavras realiza oficina de escrita poética em Parelheiros

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Voltada para jovens entre 14 e 29 anos, as atividades são gratuitas e acontecem até o dia 11 de fevereiro.

Foto: Coletivo Labirinto de Palavras

O Coletivo Labirinto de Palavras realiza até o dia 11 de fevereiro, um ciclo de oficinas sobre escrita poética para jovens entre 14 e 29 anos no Parque Nascentes do Ribeirão Colônia, localizado no bairro do Jardim Novo Parelheiros, zona sul da capital paulista. As atividades são gratuitas e para participar é necessário preencher este formulário.

A atividade é dividida por períodos: na parte da manhã, das 9h às 11h30, a oficina tem como tema a “Escrita narrativa criativa, como conto uma estória?”. No período da tarde, das 14h às 16h30, a temática do encontro é “Escrita poética, ferramentas e disparadores.”

Os encontros iniciaram no dia 21 de janeiro, mas ainda é possível participar das últimas oficinas, nos dias 04 e 11 de fevereiro. As atividades de escrita poética fazem parte do projeto “Que escrita é essa?”, que visa estreitar o acesso à escrita a jovens periféricos por meio da produção literária.

Formado por três jovens escritores da periferia da zona sul de São Paulo, o Coletivo Labirinto de Palavras surge do encontro por meio da escrita entre os autores e pela demanda de popularizar a escrita poética na quebrada.

Foto: Coletivo Labirinto de Palavras

Serviço 

Oficina de escrita poética com o coletivo Labirinto de Palavras

Data: Sábados, dias 04 e 11 de fevereiro
Horário: 9h às 11h30 e 14h às 16h30.
Inscrições: Formulário
Local: Parque Nascentes do Ribeirão Colônia
Endereço: Estr. Da Colônia Marinho Remberg Christle, 2500 – Jardim Novo Parelheiros, São Paulo – SP
Mais informações: Instagram do coletivo Labirinto de Palavras

Exposição reúne obras de artistas negros, indígenas e periféricos na cidade de SP

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Com visitação gratuita de terça a domingo, a exposição realizada no Museu da Cidade, destaca as múltiplas linguagens dos artistas participantes.

Foto: Pedro Salvador (Periferia em Movimento)

Com realização do Museu da Cidade, a exposição ‘Intersecções: Negros (as) indígenas e periféricos(as) na Cidade de São Paulo’ conta com mais de 300 obras entre fotografias, pinturas, vídeos, instrumentos musicais e figurinos de diversas linguagens artísticas produzidos por mais de 100 artistas paulistanos nos últimos 40 anos.

A exposição apresenta movimentos artísticos e culturais que contribuíram não somente para fomentar as narrativas negras, indígenas e periféricas na cidade nos últimos 40 anos, como também foram fundamentais para a construção do que entendemos como cultura paulistana nos dias atuais.

“Essa exposição parte de um pensamento decolonial. Se hoje a gente tem um processo crítico em relação à produção intelectual e cultural se deve a esses movimentos que ajudaram a construir esse campo de arte-ativismo que temos hoje.”

Adriana Barbosa, fundadora da Feira Preta e co-curadora da exposição

Territórios, Sujeitos e Imaginários 

“Essa exposição vai proporcionar ao público imergir numa contação de histórias sobre quem se é quanto indivíduos negros, periféricos e indígenas”.

Adriana Barbosa, fundadora da Feira Preta e co-curadora da exposição

A exposição busca proporcionar aos visitantes memórias e reconhecimento do processo de formação de identidades e movimentos culturais a partir de eixos que lembram “Territórios”, como o Centro Cultural Quilombaque; “Sujeitos”, com aos vídeos da equipe de baile Black Mad e Zezão Eventos, assim como para os populares fluxos que ocorrem nas comunidades de Heliópolis e Paraisópolis, e “Imaginários”, com uma reflexão que gira em torno da popularização da expressão “da ponte pra cá” e do futebol de várzea.

“Não dá para pensar a vida cultural de São Paulo sem o rap, o pagode, o fluxo, a literatura de quebrada, o grafitti, a moda forjada pela juventude preta. Tentamos construir um panorama dessas produções que, se para muitos é desconhecida, para muitos outros foram responsáveis pela construção de suas identidades.”

Nabor Júnior, jornalista e co-curador da exposição.

Foto: Nego Junior

Realidades em retratos 

Em formato imersivo e cronológico, a exposição conecta os conceitos de negritude, periférico e indígena, sem sobrepor uns aos outros, compreendendo essas zonas de cruzamento e horizontalidade. A exposição também proporcionará o contato com obras e experiências inéditas.

A exposição busca também situar o público de que o povo indígena está às margens da cidade, e por isso também compõe sua periferia, além de possibilitar o acesso à conhecimentos como o fato de que somente no município de São Paulo existem mais de 20 aldeias e inclusive uma cachoeira.

Dentro da exposição é possível ter o contato visual com elementos naturais da aldeia, como a água da cachoeira Capivari da terra Tenondé, que é a única e última com água limpa dentro do município de São Paulo.

Outras experiências inéditas serão a exibição de duas pinturas do artista plástico Sidney Amaral, além de um estandarte do bloco Ilu Inã, de autoria de Dona Jacira.

Carnaval: samba, pagode e blocos afro 

A exposição também traz elementos que rememoram as narrativas de como a celebração do carnaval, por meio dos blocos afro, das rodas de samba e do pagode dos anos 90, fizeram parte dessa construção. Manifestações como o Samba da Vela, o Pagode da 27, os blocos afro Ilu Obá de Min e Ilu Inã são exaltados durante o percurso da exposição.

Serviço 

Exposição Intersecções: Negros (as) indígenas e periféricos(as) na Cidade de São Paulo

Local: Solar da Marquesa de Santos e Casa da Imagem/Museu da Cidade de São Paulo
Endereço: R. Roberto Simonsen, 136 e 136B – Centro Histórico de São Paulo, São Paulo – SP, CEP 01017-020.
Período de visitação: Terça a domingo, das 09h às 16h, até 28/07/2023.

A ameaça de terceirização das Casas de Cultura de São Paulo

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Ameaça de privatização e a perspectiva crítica dos efeitos danosos à cultura e a população das periferias.

Movimento Cultural das Periferias de São Paulo durante audiência pública, realizada na última sexta-feira, 13, sobre discussão do processo de terceirização da gestão das Casas de Cultura do município de São Paulo. Foto: Gustavo Pagador

A ideia privatizar um espaço cultural é completamente absurda e precisa ser fortemente combatida. Isto é especialmente verdade na cidade de São Paulo, onde as Casas de Cultura são parte fundamental da identidade da cidade e parte essencial de sua vida cultural. A cultura da periferia é democrática, pública, fundada na solidariedade e na coletividade. Mas está sob ataque da Gestão do prefeito Ricardo Nunes.

Criadas em 1992, na Gestão da então prefeita de São Paulo, Luiza Erundina e implementada pela então Secretária de Cultura: Marilena Chauí, as Casas de Cultura na Cidade de São Paulo têm sido a pedra angular da gestão pública da cultura por décadas, proporcionando um espaço de livre expressão e uma plataforma para que a comunidade se una. Principalmente nos territórios periféricos onde elas são um farol de esperança em uma cidade que tem sido atormentada pela desigualdade e pobreza, oferecendo um espaço de consolo e solidariedade para aqueles que mais precisam dela.

Imagem de arquivo da Casa de Cultura M’boi Mirim

Para entendermos a gravidade do que está em jogo, é preciso voltar no tempo. Em fevereiro de 2022, uma matéria na folha, anunciou a intenção da Secretaria Municipal de Cultura, na figura da secretária Aline Torres em repassar a gestão das casas de cultura para OSC’s (Organizações da Sociedade Civil). A partir dessa notícia, diversas investidas foram feitas para que a Secretária viesse a público falar abertamente sobre as intenções de terceirizar os serviços.

Porém, em um edital, colocado em conhecimento público no dia 16 de dezembro de 2022, na calada do recesso de final de ano, a secretária sob o consentimento da gestão do Prefeito Ricardo Nunes, tornou público o chamamento de OSC’s (Organizações da Sociedade Civil) para concorrerem a administrarem indiretamente as casas de cultura.Isso se deu sem nenhuma consulta pública ou nem mesmo um debate com os movimentos culturais da cidade de São Paulo, pois a secretária e o Prefeito tem como prática evitar o comparecimento em audiências públicas.O edital prevê o valor de aproximadamente 170 milhões de reais que serão passados para as OSC’s em 5 anos, podendo ser revisto em 2 anos de execução do contrato. O edital também deixa a possibilidade de entidades religiosas e internacionais poderem concorrer a administração dos espaços.

Sabemos que a tentativa de privatização e monetização dos aparelhos públicos é uma estratégia política da gestão Nunes. Na campanha de 2020, em que o prefeito era então vice na chapa com o Bruno Covas, Nunes era defensor das creches conveniadas e foi retirado de campo quando foi apurado o seu envolvimento direto com OSC”s. No decorrer do mandato vimos setores da educação, assistência social, saúde e o serviço funerário sendo totalmente dados de mão beijada para OSC’s. O que se provou ser uma atitude bastante equivocada, pois os serviços perderam a qualidade e a transparência na prestação de contas ficou totalmente prejudicada pela falta de fiscalização.

A privatização da cultura seria um desastre para a cidade de São Paulo. Significaria que as Casas de Cultura não seriam mais administradas pela cidade e seus moradores, mas por empresas privadas que podem não ter o mesmo compromisso de servir ao bem público. Significaria também que os serviços prestados pelas Casas de Cultura se tornariam exclusivos para “poucos”, e o livre acesso à cultura e às artes que tradicionalmente prestam não estaria mais disponível para aqueles que vivem em territórios periféricos. Eventos importantes como o “Panelafro”, “Noite dos Tambores, “Mostra cultural da Cooperifa”, etc, que acontecem na Casa Popular de Cultura de M’Boi Mirim, a primeira a ser implementada, correm o risco de ter dificuldades para acontecerem.

As Casas de Cultura na Cidade de São Paulo não são apenas um bem para a cidade, elas são parte essencial da identidade da cidade e de sua vida cultural. Privatizar tal parte integrante da cidade não seria nada menos do que um crime. Devemos defender as Casas de Cultura, a administração pública e os territórios periféricos, e deixar bem “escurecido” que a cultura não está à venda e vai ter luta! 

A vitória de Lula é o fim do golpe?

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A vitória de Lula e a derrota de Bolsonaro com uma diferença relativamente pequena simboliza o grau da crise de valores humanos.

Foto: EVARISTO SA/AFP/JC

Estamos fechando o ano de 2022 com uma mudança significativa do rumo político da administração pública do Governo Federal. A vitória de Lula e a derrota de Bolsonaro com uma diferença relativamente pequena simboliza o grau da crise de valores humanos.

O ano de 2022 foi marcado pelo fim de um governo propositalmente excludente, mas também representa o início de um novo ciclo de edificação da democracia. Desde as eleições de 2014, entre Dilma e Aécio, que prenunciaram uma ruptura ainda maior, com apoio em larga escala da “grande mídia tradicional”, às instâncias reguladoras dos três poderes.

Passamos desde aquele período por marchas que convocavam o fechamento do congresso e ditadura. Disso, passaram aos pedidos golpistas de impeachment em 2016, que afastou Dilma, fortaleceu a ala mais conservadora de extrema direita, violenta e predatória do poder e do orçamento.

Aécio, que questionou o resultado das eleições, já não era “O” protagonista naquele momento da liderança no processo de golpe. Tudo foi organicamente alinhado no parlamento, no judiciário, entre empresários e ex-chefes de autarquias do governo que estavam sendo investigados pela operação “Lava-jato”.

A ideia era que o impeachment retardaria as investigações, enfraqueceria o PT e serviria como bode expiatório da explicação do “mal funcionamento” das instituições públicas e da corrupção moral do poder político. 

Ao mesmo tempo, entregaria de bandeja a cabeça de figuras importantes do PT em troca de benefícios em condenações para “investigados delatores”, holofotes e tapete vermelho para o juiz e o procurador que lideram os processos e, o ganho da fama e de capital político tornaram o PT, o Lula e seus aliados objeto de desejo e cobiça.

Era preciso, na frase de Romero Jucá, um “acordo com o supremo, com tudo”. Entretanto, na política não há vácuo de poder. Temer, o vice que assumiu o poder e orquestrou o golpe, tinha baixa popularidade e todo seu mandato foi marcado por manifestações e investigações.

Mesmo assim, conseguiu aprovar a PEC do teto de gastos, com endosso do impeachment justificado pelas “pedaladas fiscais”, limitaram gastos essenciais e enfraqueceram instituições fundamentais ligadas principalmente às minorias numéricas, políticas, mas também ao desenvolvimento do acesso à pesquisa, educação, saúde e etc.

Dali em diante, se “O Mercado” vinha demonstrando insatisfação com a falta de concessões da presidente petista, com a sua saída “O Mercado”, tornou- se uma entidade reguladora e avaliadora de políticas públicas, programas sociais, orçamento público.

Foram inúmeras as emendas, leis e decretos aprovados que degradam políticas sociais e direitos coletivos da sociedade civil.

Tudo isso, enquanto uma grande e extensa relação entre investidores, juízes e jornalistas criaram uma narrativa de que a corrupção e a crise que se arrastava desde 2014, era decorrente de uma “corrupção moral” do petismo, orquestrada por uma “quadrilha” liderada por Lula, o que se converteu em todo símbolo de degradação moral e de valores conservadores, cristãos e da família nuclear heteronormativa.

Esse texto é uma síntese da minha memória de como chegamos até aqui. Antes de continuar é importante dizer que é impossível descrever detalhadamente todos os acontecimentos significativos que conduziram o Brasil a ter um presidente elogiado por nazistas, odiado por ambientalistas e que dividiu as favelas e quebradas nessas eleições. 

Falar em primeira pessoa é reviver parte desses acontecimentos. Dilma foi meu primeiro voto, eu tinha 18 anos, em 2014. No ano seguinte, eu estava na universidade, eufórico, com medo, há 800 km de casa.

Acessei na universidade programas federais de bolsas oferecidos pela Capes, – foge o nome da memória, mas – também do fundão da Leste nas divisas entre Kemel e Itaim Paulista, da cidade de São paulo, viajei e pude me hospedar em hotéis para apresentar trabalhos e participar de eventos científicos tudo através de programas do governo. Tudo era novo e eu transbordava esperança.

Eu nunca imaginei ser o primeiro da família a entrar na universidade. Ser cotista. Ter um diploma. Mas era possível, então eu tentei e tudo era favorável. Haviam diversos programas de incentivo a pesquisa da graduação à pós-graduação, mesmo que alguns fossem elitistas na garantia ao acesso.

Mas, voltando à síntese de “como chegamos até aqui”, foi justamente a coincidência do momento em que ingressei no ensino superior, que fui espectador da decomposição da democracia e o desgaste das relações entre os três poderes.

Ouvimos muito dizer que 2020 foi um ano atípico pela pandemia, mas naquele 2018 havia um ar apocalíptico que se arrastaria nos próximos 4 anos seguintes, no Brasil. 

Moro ainda era juiz e tinha um papel a cumprir para executar o afastamento do principal candidato na corrida eleitoral, Luiz Inácio Lula da Silva.

Mas antes disso o governo Temer aprovou uma intervenção militar no governo do Estado do Rio de Janeiro (RJ), em 16 de fevereiro, 11 dias depois uma frase que revela a anatomia do golpe em curso, feita pelo então interventor e vice da campanha de Jair Messias, no ano de 2022, o general da reserva Walter Braga Netto diz, no dia 27 de fevereiro, “o Rio de Janeiro é um laboratório para o Brasil”.

Em 14 de março daquele ano, a vereadora Marielle Franco e Anderson Gomes (seu motorista) foram assassinados numa emboscada. Marielle era relatora da comissão que tinha a função de avaliar intervenção militar no RJ.

Justamente porque parte significativa da população brasileira comunga dos mesmos valores violentos e atrasados.

Bolsonaro se tornou peça central no processo de continuidade do golpe, que envolveu múltiplos projetos: o dos militares, representado pelos generais Heleno e Braga Netto; dos lava-jatistas, pelo juiz Moro e o procurador Deltan Dallagnol; e o que ganhou mais poder e força política do que nunca antes visto, as milícias representadas pela “Família Bolsonaro”.

O “quarto poder” dessa “fusão”, está representado pelas forças parasitárias e fisiológicas que estão cravejadas no legislativo: as bancadas da bíblia, do boi e a bancada da bala (que não é o mesmo que milícias, mas se confundem).

Por obra do destino, ou mera coincidência, o interventor que foi candidato a vice e o presidente com relação com a milícia em busca de reeleição, têm algo em comum: o interventor comandava as forças de investigação e inteligência naquele Rio que matou a vereadora; Bolsonaro tinha como vizinho, num condominio fechado, um dos envolvidos no assassinato (que era um velho conhecido da família, mas também da segurança pública).

Os últimos 4 anos significaram o aprofundamento do projeto político patrimonialista desses quatro protagonistas no golpe e de suas lutas pelo poder. Cada um deles vêem o Estado como o quintal de casa à sua maneira.

Os militares alçaram o poder como nunca antes visto, tendo mais de 8 mil oficiais ativos e da reserva em cargos civis. A milícia instrumentalizou a máquina pública para fortalecer diversas práticas criminosas: grilagem de terras, garimpo ilegal, expansão do acesso à armas de fogo para o tráfico de armas e crescimento do seu arsenal, flexibilização do combate ao trabalho escravo, a busca pelo excludente de ilicitude, e por aí vai.

Parte dos objetivos de cada grupo se cruzam, e acabaram fortalecendo a dinâmica de degradação de políticas públicas ambientais, trabalhistas, de saúde, educacionais e econômicas (o então ministro da economia, Paulo Guedes, inclusive, chegou a se beneficiar com a especulação do valor do dólar).

Por último, o mais cruel dos crimes, foi a proposital má condução do combate à pandemia. Mas só investigações e a pesquisa histórico-ciêntifica poderão responder a determinadas coincidências.

Múltiplos esforços de todas as áreas possíveis foram realizados no esforço de contenção e de efeitos da propagação da pandemia. Os movimentos negros, liderados pela iniciativa da Coalizão Negra por Direitos, juntou maus de 20 milhões de reais e entregou centenas de milhares de alimentos para famílias negras e periféricas de todo Brasil.

Mas a pecha de “genocida” que marcou esses últimos três anos é a certeza da capacidade destrutiva da ideologia militar, da reação conservadora e a esquizofrenia liberal em relação ao futuro da administração pública da política.

A sensação mais desumana de todo esse processo é ter se habituado com a “estabilização” do número de mortes por covid. Alcançar o número de 694 mil mortes é uma tragédia e cada história, cada rosto, os calos nas mãos de quem trabalhou e não pode voltar para casa, às súplicas para não morrer sem ar, os casos subnotificados, todos anseiam por justiça.

Aécio Neves, Eduardo Cunha, Temer e Sérgio Moro nos trouxeram a Jair Messias Bolsonaro: um militar e político sociopata, corrupto e aficionado pela pulsão de morte, que de março, de 2014, quando comemorou os 50 anos do Golpe Militar caminhou ao estímulo a um golpe ao final de seu mandato no ano de 2022. 

Antes de responder a questão do fim do golpe, é importante pontuar que não podemos anistiar os criminosos da pandemia.

Em meados de 2020, Donald Trump, defendeu o uso de cloroquina e hidroxicloroquina, sendo acionista da Sanofi, empresa que produz o medicamento. Ken Fisher, administradora da empresa dos remédios, era doadora do partido de Trump.

Apesar do anseio de que ele funcionasse, estudos comprovaram a ineficácia e malefícios do uso das drogas.

Entretanto, curiosamente, o presidente brasileiro convocou uma equipe formada por médicos e empresários do ramo da saúde e passou a propagandear o uso do “kit covid”, estimulando a distribuição no SUS e a compra nas farmácias, enquanto subiam às mortes.

Inclusive, o governo optou por não realizar a compra antecipada de vacinas, estimulando a compra e o uso do medicamento ineficaz e realizando campanha conspiracionista contra o uso de vacinas.

Durante a pandemia, o governo cometeu todo tipo de atrocidade, enquanto milhares agonizavam por um tanque de oxigênio. O governo ocultou dados de mortes de covid por cor ou raça, e nada aconteceu.

Muita coisa aconteceu, e ainda não temos dimensão das mudanças causadas pelo golpe em longo prazo. Mas temos noção do que isso significou no agora.

Das emergências climáticas às ameaças de “intervenção federal”, o golpe só acabará quando:

Vencemos uma batalha, mas como vencer a guerra contra golpistas? O povo está preparado para tudo: para revolução e para um golpe, que vença a esperança.