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Moradoras das periferias apontam os serviços públicos que precisam de maior atenção no início do governo Lula

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Com base nas desigualdades sociais que afetam o cotidiano das moradoras das periferias, o Desenrola entrevista mulheres que apontam quais serviços públicos devem ser prioridade nos primeiros 30 dias do governo Lula. 

Faltando 11 dias para a posse do presidente Lula (PT), mulheres moradoras das periferias de São Paulo e Taboão da Serra, elegem uma lista de prioridades da nova equipe de Ministros, para passarem por melhorias no início do novo mandato.

“Eu acho que deve priorizar a saúde, educação e a segurança pública”, Michele Gomes Bernardo, 40, moradora do Jardim São Judas, um dos bairros periféricos da cidade de Taboão da Serra.

Michele espera que Lula, sua equipe de ministros, bem como outros candidatos eleitos para o cargo executivo de governador, tenham um bom planejamento para realizar uma boa administração e gestão do Estado.

Segundo a moradora, a falta de políticas de empregabilidade no governo Jair Bolsonaro (PL) e a reforma trabalhista que flexibilizou as leis do trabalho foram responsáveis por aumentar o número de desempregados no bairro onde mora.

A percepção de Michele é comprovada pelo estudo do IBGE, no qual o desemprego atinge 9 milhões de pessoas. Em São Paulo, estado mais populoso do Brasil, o índice de desemprego é de 9,2%. Além do desemprego, o trabalho informal, que impacta 39 milhões de pessoas, é outro vilão que afeta a renda e os direitos trabalhistas dos brasileiros.

Durante a corrida eleitoral, Lula fez 103 propostas que devem começar a sair do papel já no início de 2023 – o número corresponde a uma promessa que precisa ser colocada em prática a cada duas semanas durante todo o mandato que tem duração de quatro anos.

As propostas vão desde o setor de educação, à economia, administração, segurança pública, saúde, pautas sociais etc. Dentre as demandas populares estão a criação de uma nova legislação trabalhista, estímulo à economia criativa, reajuste do salário mínimo acima da inflação e o retorno do Bolsa Família e manutenção dos $600 por família.

Na cidade de São Paulo, o presidente eleito no segundo turno recebeu mais de 60% dos votos válidos em territórios periféricos. No bairro de Piraporinha, que pertence ao distrito do Jardim São Luís, na região sul do município, Lula conquistou 66,56% dos votos.

“Como mulher, preta e nordestina jamais votaria em um candidato como o atual presidente”, diz Leidiane dos Santos Carmo, 32 anos, moradora do Jardim São Luís, eleitora que faz parte desta margem de votos válidos que elegeram o presidente Lula nas periferias.

Ela é mãe solo da Sofia, de 9 anos. Após as eleições, Leidiane deseja que as pessoas coloquem a cabeça no lugar e cobrem do candidato eleito as promessas de campanha.

Entre as principais áreas do novo governo presidencial, a moradora destaca especial interesse pelas áreas de saúde e educação, como já foi apontada por Michele, moradora de Taboão da Serra.

A temática Saúde e Educação se repetem entre as moradoras das periferias, e reforça as marcas deixadas durante a pandemia de Covid-19.

Com forte atuação nas redes sociais durante o período eleitoral, Michele afirma que as eleições foram importantes para escolher um candidato que representa os interesses da população, e portanto, ela espera que o presidente eleito desenvolva ações para a promoção da dignidade dos trabalhadores, das mães, jovens e crianças.

“Minhas expectativas para o nosso país é um futuro de oportunidade, respeito, prosperidade e amor entre as pessoas, a defesa por direitos trabalhistas, direito à moradia digna, saúde, educação, segurança e todos os serviços que envolvem a transformação da situação de desigualdade no país”, finaliza.

Artistas visuais retratam seus territórios e identidades a partir de suas criações

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Através de um olhar afetivo, político e crítico, artistas visuais da quebrada pautam sobre suas identidades e símbolos periféricos em suas obras.

Stefany Lima, 26, nasceu em Embu das Artes, é artista visual, grafiteira e arte educadora.

A imagem do que é ser periférico, quando retratado por pessoas que não vivenciam as quebradas, sempre vem ligadas a colocar esses corpos como sinônimo de violência ou pobreza.

Amor, vivência, afeto e muitas outras camadas fazem parte das criações de artistas visuais de quebrada que recontam sobre o que é ser periférico. A partir de suas criações, esses artistas buscam evidenciar os corpos, ideias, falas e vivência nos territórios.

“Eu tento enxergar essa potência na vivência cotidiana na periferia. É a roupa, o jeito que as pessoas falam, o que elas fazem, pra onde estão indo, como estão indo. Busco analisar a relação das pessoas com esses espaços. Tento olhar para esses lugares”. 

artista Saudade³.

Sidnei Junior, 26, mora no Jardim Elvira em Osasco, região metropolitana de São Paulo, é ilustrador, quadrinista, educador e mais conhecido pelo como Saudade³. O artista vem da linguagem do rabisco, do desenho no papel e desde 2018, está em imersão para propor a sua arte no mundo digital.

Para ele, a arte digital foi um recurso para expandir a visão das pessoas sobre seu trabalho, principalmente após uma de suas obras ter viralizado, chamada ‘Eu, você e o foguetão’, que é o personagem Magrelo e Bombom em uma moto XT660. “As redes são uma janela para arte, o instagram é um museu na internet”, pontua.

O artista afirma que a partir do momento que consegue representar a vivência de quebrada, que também é a vivência dele, aí a arte vai de encontro com a vivência de outras pessoas.

“E para além das pessoas se sentirem representadas, outros artistas que também produzem e estão representando a quebrada, vem junto fazer essa troca. Seja do processo criativo, quanto de buscar se aquilombar dentro da cena das artes”, afirma. 

“Represento um lugar apagado, um não lugar, uma identidade invisível que é das pessoas da terra”

Daniela Ramos Pereira, 25, é moradora de Santana, zona norte da cidade de São Paulo, artista, assistente de arte e educadora, conhecida pelo vulgo Danirampe. Ela é filha de imigrantes cearenses e já participou de eventos como a Feira Margens realizada pelo Museu Afro Brasil em 2022, e da exposição coletiva Ilustra Delas realizada pelo Pátio Metrô São Bento em 2020.

A artista produz ilustrações, vídeo arte, grafite, lambe-lambe e pinturas sobre fotografias antigas como linguagem autoral com a ideia de investigar sua identidade, memória e autoestima em uma perspectiva decolonial.

“O território em que localizo meu trabalho é o da terra roubada, é de um lugar que faz parte da trajetória de muitas pessoas que vivem em contextos diversos nas quebradas de São Paulo e que são filhes de tapuyas, caboclos, nordestinos migrantes como meu caso e de meus pais”

Danirampe

A partir da vivência de ser uma artista indígena na cidade de São Paulo, em sua arte ela busca representar identidades apagadas, retratando sua família: pais, avós, tios e tias, para que as pessoas se sintam identificadas.

“A transgeneridade marginal é viva, ativa e potente. Eu procuro ilustrar para toda e qualquer pessoa que é marginalizada”

Nana dos Santos Silva, 25, é designer e ilustrador que TRANSmuta sua vivência nas artes. É morador da Vila Formosa, zona leste de São Paulo e conhecido pelo vulgo Gabiru, produzindo trabalhos que envolvem um olhar social, crítico e político do seu cotidiano.

O artista pontua que sua ideia com a arte é trazer reflexão sobre o cotidiano que vive, para despertar a auto observação das pessoas, no desejo de que a quebrada entenda que ela é quem pode produzir e falar sobre sua vivência.

“Procuro ilustrar para toda e qualquer pessoa que é marginalizada e é por isso que ilustro seres humanos ‘ratificados’. Porque contrariando o senso comum de que ratos são sujos e traiçoeiros, eu os vejo como os seres mais humildes e injustiçados desse mundão moderno, assim como as pessoas que fogem do padrão branco-cis-hétero-burgues”

Gabiru

Gabiru faz o movimento de encorajar as pessoas a pontuarem o que pensam para se sentirem pertencentes, mas também se enxergarem enquanto produtoras de conhecimento e vivência.

“Minha arte é também uma forma de despertar a auto-observação e quem sabe gerar um movimento de encorajar as pessoas a fazerem o mesmo. Vejo isso quando pessoas trans me dão um salve, felizes em dizer que é tão bom estarem nas narrativas dos meus trampos, tá ligado?”, finaliza.

“Minha arte gira em torno de trazer para o real a minha sensibilidade, descobertas, referências, minha forma de enxergar e me projetar no mundo” 

Stefany Lima, 26, nasceu em Embu das Artes, região metropolitana de São Paulo, e atualmente vive em Recife – Pernambuco. Conhecida pelo vulgo de Fany, é artista visual, grafiteira e arte educadora e começou seu trabalho através do movimento hip hop, pautando seu cotidiano, corpo, ancestralidade, memória e afeto.

A artista conta que vem de uma vivência onde o rap, o grafite e a arte no geral, são compromisso, e que sua arte parte do lugar de uma mina jovem de quebrada, da rua, do terreiro, dos encantamentos. 

“Meu irmão é uma figura importante nisso. Tive uma relação com a fotografia por influência dele, mas o que me ganhou mesmo foi o graffiti, quando me identifiquei com a cultura de rua por volta de 2012, no Núcleo de Hip Hop Zumaluma, na minha quebrada em São Paulo. Ali eu tive vivências que me formaram pra vida”

Fany

 Fany pinta há 10 anos, e ressalta que nasceu como artista em São Paulo, mas amadureceu muito em Pernambuco, que foi abraçada pela cena local com coletivos como Quilombo do Catucá, Cores do Amanhã, Cordalama, Kardume, entre outros.

“Estudar artes visuais numa universidade, apesar das controvérsias, também abriu horizontes na minha criação. Porém, meus caminhos sempre foram feitos pelas ruas e pela coletividade que parte dela”, afirma a artista. 

Conheça o trabalho dos artistas

Saudade³

 Daniela Ramos, Danirampe.

 Nana dos Santos, Gabiru.

 Stefany Lima, Fany.

Iniciativas independentes promovem garantia de direitos humanos para a população periférica

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Articuladores das iniciativas Casa F.U.R.I.A e Espaço Pubere contam como a partir da ausência de políticas públicas, atuam com a garantia de direitos humanos na quebrada.

Performance: Pátria Amada ou Nossa Bandeira Sempre foi Vermelha de Sangue. Foto: Diego Nascimento

Dia 10 de dezembro foi celebrado o Dia Internacional dos Direitos Humanos, data que marca a oficialização da Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada e proclamada pela Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948 e que aborda os direitos que todo indivíduo deveria ter. 

É nesse cenário que surgem muitas iniciativas independentes para apoiar moradores das quebradas. São projetos, coletivos, ações e iniciativas periféricas que buscam garantir direitos básicos. Um desses exemplos é a Casa da F.U.R.I.A – Frente Unificada de Resistência Interseccional Abolicionista, localizada na Vila Guilherme, região da zona norte de São Paulo, que atua com o apoio às famílias e sobreviventes do sistema carcerário, através da arte e de ações sociais.

“Foi uma proposta de pensar no fortalecimento da comunidade LGBTQIA+ de quebrada, tendo as artes e a cultura como um disparo pra gente criar novas formas de recontar as nossas próprias histórias”, explicou Murilo Gaulês, 35, morador do bairro Tucuruvi, zona norte de São Paulo e co-fundador da Casa da F.U.R.I.A.

Entre diversos direitos, como acesso a informação, a Casa F.U.R.I.A. tem uma atuação ligada principalmente a garantia de plena igualdade, a uma justa e pública audiência por parte de um tribunal independente e imparcial, detalhados no artigo 10 da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

“O nosso projeto vai lidar exatamente com isso: como é que a gente enfrenta esse sistema escravocrata de cara? A gente vai trabalhar com a população sobrevivente do cárcere.”, coloca Murilo.

Performance: Muro Cinza ou das Cores que eu Ainda Não Perdi. Foto: Rodrigo Munhoz

Murilo conta que o objetivo da Casa da F.U.R.I.A é fazer com que seja possível pessoas que passaram pelo processo de encarceramento se inserirem novamente na sociedade. Principalmente pelo fato de que, na maioria das vezes, são pessoas que foram submetidos à tortura e punição, que segundo ele, é uma continuação contemporânea das senzalas. “O nosso projeto lida exatamente com isso”, pontua.

A Casa começou quando Murilo percebeu que uma grande parte do coletivo já havia passado pelo sistema prisional, mas que nunca tinham buscado entender como funcionavam os sistemas penitenciários. Ao perceber que era um tema que precisava ser debatido e reivindicado, decidiu juntamente com outras pessoas, começar a iniciativa. 

“Aqui na nossa casa a gente insiste a partir de um estudo de perspectiva da cultura ameríndia, de povos africanos, pensar outras possibilidades de justiça que não são a produção de mais violência, punição e vingança”

disse o co-fundador da Casa da F.U.R.I.A.

Murilo aponta que pessoas que foram presas, precisam passar por processos de reparação, formação e responsabilização para que entendam os danos causados, mas de forma humana, sem que esse sistema mate esses indivíduos.

“Já fizemos livros, peças de teatro, agora vamos fazer um desfile de moda, uma série de obras artísticas que vão ter no seu teor a possibilidade de debater e denunciar o sistema carcerário, e essa denúncia é feita por pessoas que foram violadas e são pagas como artistas por isso”, ressaltou Murilo sobre os formatos de atuação do coletivo.

Performance: S.O.C.O – Suprimir o Opressor com Opressão. Foto: Diego Nascimento

Murilo ressalta que o objetivo é desconstruir conceitos para que as pessoas entendam como é grave prender, torturar e punir as pessoas de forma desumana, que muitas vezes é tão doloroso e fatal quanto a morte em si. Para ele, sempre será uma luta independente e distante do suporte governamental.

“Acho que o estado nunca vai dar conta de fazer esse trabalho, porque ele não vai reverter um problema que ele mesmo construiu. Prender não é menos grave que matar”, aponta Murilo. 

Direito à informação e a saúde

Elânia Francisca, 38, é moradora do Grajaú, zona sul de São Paulo, formada em psicologia e fundadora do Espaço Pubere. O espaço criado pela psicóloga, tem como objetivo debater os direitos sexuais reprodutivos de crianças e adolescentes.

O trabalho do Espaço Pubere busca trabalhar a saúde de forma ampla, desenvolvendo o conhecimento da ancestralidade africana, entender e aprofundar a origem e importância sobre as curandeiras, benzedeiras, rezadeiras, que segundo Elânia, é crucial para o cuidado e amor com seu próprio corpo. 

Atividade sobre autoestima de meninas negras que aconteceu em 2019 num Espaço Terapêutico que ficava na Capela do Socorro. (Foto: Acervo pessoal)

“Além desse direito à liberdade de expressão, entendemos o nosso trabalho especificamente como direito à saúde. Para além do acesso ao SUS que é necessário, mas não se resume só à isso, mas também ao acesso às tecnologias ancestrais de cuidar da saúde”, explica Elânia sobre o Espaço Pubere.

A psicologa reforça que o trabalho feito com as crianças e adolescentes dentro das ações do projeto, ao contrário do que muitos acham, não tem ligação com ideologia de gênero ou incentivá-los à praticar sexo.

É nesse aspecto que a iniciativa busca manter contato com o poder legislativo para fazer com que a sexualidade seja um tema debatido dentro dos ambientes educacionais. 

“Lembrando que o direito à saúde sexual e reprodutiva de crianças e adolescentes é o direito do seu corpo ser protegido. E o direito reprodutivo é o direito de entender, saber e pensar sobre reprodução”

pontuou a psicóloga sobre a atuação do Espaço Pubere.

Elânia participou de uma Campanha de 18 de maio na região de São Mateus, em
2022. (Foto: Acervo pessoal)

Segundo Elânia, o Espaço Púbere garante também através de suas práticas, que meninas, meninos e menines sejam fortalecidos através do autoconhecimento e através disso possam se cuidar, se proteger e não se submeterem ao ódio de si mesmo e ao seu corpo.

“Falar de sexualidade infanto juvenil fortalece os adolescentes e as crianças da quebrada para entenderem sobre seu próprio corpo, para entenderem a importância de autoproteção, autocuidado, autoamor, autovalorização e a importância desse corpo no mundo”, afirma Elânia. 

Artistas transformam vivência com rap e literatura para ocupar escolas públicas

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Em parceria com professores e gestores pedagógicos, poetas e coletivos culturais da periferia ocupam escolas com ensinamentos e vivências que vão além dos livros didáticos.

O Coletivo esteve na FLIP (Feira Literária Internacional de Paraty) fazendo intervenções em grupo. Foto: Dayse Serena.

Entendendo a necessidade da cultura marginal e periférica dentro das escolas, professores da rede pública de ensino levam artistas do fundão da zona sul de São Paulo para apresentações individuais e em coletivo, com intervenções de saraus, batalhas de rima e oficinas criativas que incentivam os alunos a produzir seus próprios textos literários.

O Coletivo IncentivArt é uma das iniciativas que fazem parte deste cenário. Ele existe há pouco mais de seis meses, mas os integrantes já atuam com atividades culturais há pelo menos dois anos. O grupo é composto majoritariamente por jovens negros e periféricos do municipio de Itapecerica da Serra e do distrito do Capão Redondo, na zona sul de São Paulo.

Kelly Pereira, conhecida como King Abraba, 21, é moradora do Jardim Paraíso, em Itapecerica da Serra, é membro do coletivo IncentivArt, poeta, produtora cultural, fundadora do Sarau Baobá, e tri vice-campeã do Slam BR, maior competição de slam nacional. 

Com o Coletivo IncentivArt, as apresentações de poesia em grupo se tornaram um dos diferenciais do coletivo nas escolas, além de possibilitar a descoberta de novos artistas através de assuntos abordados que vão além do papel e caneta.

“É importante dar uma direção para que os alunos que já escrevem ou têm planos de escrever, consigam se identificar com a nossa escrita, maneira de falar, além de ter diretamente as vivências delas e entender que podem falar e escrever sobre aquilo.”

explica a poeta.

 Para os professores, a conexão entre alunos e artistas é uma experiência diferente, como aponta Janaina de Oliveira Silva, 36, moradora do Capão Redondo, que leciona Geografia na que EMEF Prof. José Francisco Cavalcante (TAJAL).

Ela organizou o primeiro Sarau Literário da escola e conheceu os movimentos de literatura periférica a partir do contato com Sarau da Cooperifa, como o poeta tendo Sérgio Vaz e Dona Edite, referências do movimento literário da zona sul.

Apresentação em grupo dos alunos do ensino fundamental da escola Tajal. Foto: Patricia Santos.

“Foi uma experiência incrível, uma vez que, enquanto escola, estamos no território periférico do Jardim São Bento, lugar de lutas constantes e históricas por moradia. Assim sendo, nada mais significativo que levar aos nossos estudantes a nossa cultura, nossas produções e nossos escritos”

comenta a professora.

Há mais de 10 anos de atuação nas escolas e há 19 fazendo parte da Cooperifa, Cocão Avoz é outro personagem importante da cultura periférica que leva a cultura Hip Hop, sobretudo, o contato com ritmo e poesia, para os alunos como fortalecimento de identidade, de pessoa, da cidadania e da conexão com a quebrada.

“A poesia serve como defesa e o impacto, é sobre a pessoa lutar e buscar se entender como pessoa, saber que faz parte de uma sociedade e de um contexto como sociedade, é um resgate de pessoas.”, diz Cocão.

Cocão Avoz durante a apresentação no primeiro Sarau Literário da escola Tajal. Foto: Patricia Santos.

Aprendizagem através de vivências 

Durante as visitas nas escolas, o coletivo IncentivArt oferece oficinas criativas para os alunos, que visam desenvolver a criatividades, o pensamento crítico, incentivando a escrita com base em uma frase de impacto, ou linha de pensamento pré definida pelo coletivo ou pelos alunos, podendo assim mostrar seus textos e performances para apresentar aos demais em formato de sarau, que é uma das atividades do coletivo nas escolas, se tornando parte das intervenções e aprendendo que temas como racismo estrutural, abandono paterno e assédio podem ser abordados.

“Não tem preço sair da escola e voltar para ensinar alguma coisa. E ter uma idade próxima da deles permite a gente entender as rotinas, frustrações e o mais legal é ser o hoje de outros poetas que estão por vir e poder falar de assuntos como racismo estrutural, abandono paterno, violências e assédio.”, completa King.

Além das apresentações, os alunos ainda têm a oportunidade de conhecer os trabalhos já produzidos pelos artistas, como livros e livretos, podendo ainda entender que os escritores podem ser periféricos e tratar de assuntos do cotidiano.

Pedro Henrique de Carvalho Fernandes, 16, morador do Parque Independência, zona sul de São Paulo, foi aluno no Tajal durante oito anos e voltou no dia do Sarau para apresentar as suas poesias, pois entendeu que ali era um em um lugar que fez parte de sua vida em todo seu período escolar e por se identificação com o bairro. 

“Eu escrevo desde a 6ª série por causa do bullying que eu sofria, reclusão, sobre se sentir incapaz, indefeso e frágil. No começo escrevia sobre o que sente e acontece, depois é sobre o que vê e passa a ter uma visão mais artística da poesia.”

diz Pedro sobre como se deu o seu processo de evolução do olhar para a poesia.

“Eu fui um aluno bagunceiro, mas sempre muito respeitoso, com professores principalmente. Hoje, dentro das escolas eu me sinto útil, pois vejo como uma troca. Somos chamados como artistas para mostrar um pouco do trabalho e podendo agregar com o professor nas escolas.”, comenta Cocão.

Esses encontros de artistas e alunos também é marcado pelo fato dos poetas terem escrito livros, livretos e até antologias, o que dá aos alunos o exemplo de que não precisam ser famosos e ricos para um dia escreverem um livro.

“A rede municipal dispõe de um acervo riquíssimo de literatura periférica e assim sendo nada mais justo do que eventos como Saraus para disseminar literatura e os artistas da nossa quebrada”, finaliza Janaina.

Aplicativo de namoro afrocentrado é muito mais que pegação

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O Denga Love está disponível para download gratuito, e é totalmente voltado para a promoção de relacionamentos entre pessoas pretas.  

Foto Divulgação: Denga Love

No dia 14 de outubro deste ano, um novo aplicativo de relacionamento entrou no radar dos solteiros, o Denga Love. O software foi desenvolvido por um grupo de profissionais da tecnologia, que não se identificavam com as plataformas de namoro que estavam no mercado até então.

Minha entrada no mundo da paquera virtual é recente. E assim como meus pares da geração Z comecei pelo Tinder. Depois de uma semana com o Tinder instalado e com a esperança de achar um boy pretinho pra aquecer minhas costas, o que encontrei por lá foi simplesmente o mais do mesmo – o tipo de padrão encontrado nos apps tradicionais não nos favorecem.

Fiz o censo pessoal e de cada 30 perfis que aparecem como sugestão por dia, apenas 3 eram homens pretos, o que diminuía e muito as minhas chances de achar alguém com as características que eu procurava (procuro).

Pretos se amando 

Foto Divulgação: Denga Love

Assim que vi a notícia de que um aplicativo voltado para o público preto estava para ser lançado, não hesitei e baixei na mesma hora – preciso ressaltar que minha autoestima ficou elevadíssima, pois, após 10 horas de perfil ativo, recebi 18 investidas altamente interessantes. Uma média de aproximadamente 2 opções por hora. Para quem tem dificuldade em encontrar homens negros interessantes como eu, isso é um achado!

O que me chamou atenção também foi o caráter profissional dos usuários, a maior parte dos homens que entraram em contato ou que deram match são formados ou estão cursando faculdade e isso, pra mim, é um dado muito qualitativo e eu explico o por quê.

Uma das coisas que me deixa frustrada na faculdade é a falta de homens pretos com mais de 35 anos naquele ambiente. Se você me questionar se a universidade é lugar pra isso, eu vou te responder que para quem tem uma beleza tida como padrão, qualquer lugar pode ser usado para este fim.

Amor afrocentrado

Foto Divulgação: Denga Love

Depois de muita reflexão e autoconhecimento cheguei a conclusão de que a minha escolha por homens nessa faixa etária (35+) foi condicionada, uma vez que homens mais novos, na casa dos 20-30 se interessam por mulheres brancas, magras, cabelo liso e rosto fino, o que não é o meu caso – e aqui se aplica novamente as minhas percepções pessoais.

Com quase uma semana interagindo só com caras pretos lá no Denga Love, desinstalei o Tinder e sigo pleníssima esperando um convite para um encontro de um dos meus 88 match’s.

Um relacionamento afrocentrado não se trata apenas de pegação, de amor, ou flerte, para nós, pessoas pretas, trata-se de ancestralidade, é político e cultural. A palavra Denga é de origem africana e significa gesto de carinho e amor. O termo vem da língua quicongo e ndengo – significa doçura ou o que é macio e sedoso. É um ganho ter um espaço virtual para criar esse tipo de conexão entre os nossos.

“Machismo e abuso são coisas de colonizador. Não é natural do homem preto”, diz escritor da Cidade Ipava

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 Desde que criou uma conta no Instagram, Jefferson Bernardo, teve contato, pela primeira vez, com uma nova perspectiva sobre questões de raça e gênero e passou a escrever sobre isso.

Jefferson Bernardo tem 36 anos, é morador de Cidade Ipava, bairro localizado no extremo sul de São Paulo, às margens da represa Guarapiranga e trabalha há mais de dez anos como porteiro e segurança patrimonial.

Ele conta que sempre sentiu algo de errado na sociedade, desde a forma como era visto e tratado em determinados lugares em que prestava serviço, como a maneira como ele próprio se enxergava, bem como sua visão sobre o mundo.

“Trabalhando nessa área e sendo um homem negro, me deparei com muita coisa, ouvi muitas coisas, mas só quando aprendi conscientemente a história do ponto de vista do povo preto entendi que o que até então me parecia normal, na verdade era racismo, mesmo que velado”, conta o escritor.

Combate ao racismo

Bernardo é um dos autores convidados pela Editora Copperlite para colaborar com a antologia de poesia Slammer: Afronta – O melhor do Slam, que tem lançamento previsto para o primeiro semestre de 2023.

Seu primeiro contato com a cultura negra aconteceu quando criou um perfil no instagram, após o término do casamento. “Minha parceira não entendia como eu me sentia quando conversávamos sobre coisas como racismo, mas eu consigo entender o motivo. Quando o relacionamento acabou eu decidi que só me envolveria com mulheres negras”, revela. 

“”Meu relacionamento não era afro centrado” 

Jefferson Bernardo é escritor e morador da Cidade Ipava, zona sul de São Paulo.

O escritor Jefferson Barbosa tem um de seus poemas publicados na Antologia Afronta. (Foto: Arquivo Pessoal)

Jefferson passou a seguir páginas e perfis que ensinavam sobre a cultura africana e afro-brasileira e passou a pensar mais criticamente sobre isso entre o trajeto de casa até o prédio em que ele trabalha, na Faria Lima, região de grande movimentação empresarial e financeira da cidade de São Paulo.

“Passei a observar o cotidiano, a cor da pele das pessoas que entravam no busão antes mesmo das seis da manhã pra chegar ao trabalho no centro, e como as mulheres, principalmente as negras, eram tratadas no transporte coletivo”, relata.

Jefferson conta que nunca pensou em escrever e nem foi adepto da leitura na juventude, mas a partir das percepções adquiridas de cunho racial, começou a comentar nas postagens dos influenciadores que provocavam essas reflexões, até que um desses comentários chamou a atenção do escritor e criador de conteúdo Helder Alàgbà, que o incentivou a escrever também.

Desde Março deste 2022, Jefferson divulga suas poesias no perfil Akewí Sankofa, no Instagram. Lá o escritor aborda principalmente a valorização da cultura preta, relacionamento afro centrado e machismo, como no poema abaixo:

O patriarcado me formou em um assediador
Quando ela me diz: Não! Pare, por favor.
Quando forço mesmo que nenhum interesse em mim a despertou
Quando seu riso é recolhido, me impulsiona a não ter nenhum pudor
Quando nunca tive sua autorização e continuo lhe causando dor
Quando toquei seu corpo na fila, ônibus ou metrô
Está nascendo em mim um estuprador
Ancestrais, diáspora de África nos ensinam que Ubuntu é amor.
Homem preto diga não aos hábitos do colonizador. 

“Esse poema escrevi em primeira pessoa porque queria causar essa provocação. Às vezes o abusador é um amigo, um cara do seu trabalho, enfim, pode ser um rosto familiar e eu quero que os caras me perguntem sobre isso. Temos que dialogar sobre como é prejudicial e colonizador é o comportamento machista”, conclui.

Jefferson é pai de duas adolescentes pretas e se revela preocupado em como as filhas serão tratadas e lidarão com temas como a solidão da mulher negra, que ocupa, na maioria das vezes, um lugar específico dentro das relações inter-raciais e até afro centradas.

“Estudando e fazendo um exercício de autoconhecimento eu entendi que essa mudança precisa começar por mim e os textos me abriram um horizonte pra muitas coisas, hoje eu consigo impactar outros caras, do meu trabalho, da família e do bairro. Eu cometo erros, mas sigo evoluindo”, diz. 

Favela Gaming: jovens gamers das periferias sonham com carreira, mas falta estrutura básica

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Após o YouTube anunciar o lançamento do projeto Favela Gaming para iniciar em 2023, o Desenrola entrevista jovens gamers das periferias para entender as suas reais necessidades e sonhos.  

A realidade na quebrada para quem joga vai desde o videogame que é mais antigo e não roda os jogos do momento, a conexão precária de internet nos bairros distantes dos centros econômicos, a conta de luz mais cara no fim do mês, e até o jogo pirata de baixa qualidade comprado na feira de domingo. Num universo que se atualiza constantemente, meninos e meninas da quebrada chegam atrasados nesse rolê.

É neste contexto de exclusão social e digital vivenciada pelos moradores das periferias e favelas apaixonados pela cultura gamer, que surge a parceria entre a rede de desenvolvimento social, Gerando Falcões e a Final Level, plataforma de entretenimento gamer, e o YouTube, que juntos, irão lançar, no início de 2023, o Youtube Favela Gaming.

O objetivo do projeto, segundo os idealizadores, é alavancar a carreira de jovens gamers periféricos que desejam se profissionalizar nesse universo, além de inseri-los no radar de grandes campeonatos que acontecem no Brasil e no mundo. 

Sonho versus realidade 

O morador do Jd. São Luiz, zona sul de São Paulo, Victor Francisco dos Santos, 20, começou a se interessar por videogames ainda criança, e conta que a compra do primeiro equipamento foi feita com muito esforço da mãe que o criava sozinha.

“Tinha seis anos quando pedi pra minha mãe um playstation II, mas ela comprou pra mim um Master System, que era a opção mais barata na época…não fico chateado com ela por isso”, revela o jovem que demorou outra meia dúzia de anos para ganhar de presente da mãe, que trabalha como diarista, um xbox 360.

Apenas em 2022, com o dinheiro que juntou com o emprego de assistente administrativo, Victor conseguiu realizar o desejo de ter um playstation 4, sonho que nutria desde a infância.

Victor Francisco dos Santos tem 20 e mora no Jardim São Luís, zona sul de São Paulo.

“A gente segue com isso de ser profissional na cabeça, mas daí a realidade bate na porta, né?

Victor Francisco é  assistente administrativo.

“Participei de um campeonato de free-fire com uns amigos, mas não fomos bem (risos). É preciso dedicar uma grande quantidade de horas jogando e nem sempre isso é possível”, conta o jovem.

Nem sempre é possível por conta do trabalho e também por conta das broncas da mãe, como ele mesmo revela: “Pra se destacar você precisa de um PC potente, o que “puxa” muita energia. Muitas críticas que as mães fazem aos filhos é porque a conta de luz vem muito alta”. 

Em entrevista durante a feira de games BGS 2022, que ocorreu no começo de outubro deste ano, com ingressos que foram de R$300 a R$ 3.000 reais, Manuelle Pires, gerente de parcerias estratégicas do YouTube Gaming, contou que a iniciativa do Favela Gaming é mais um passo em direção à amplificação de vozes e oportunidades, viabilizando ações cujo impacto social irá reverberar a mensagem de unidade, aprendizado e evolução presentes na comunidade gamer.

Filipe Ferreira de Abreu, 21, é mais um jovem de quebrada que ama o universo gamer. Morador do Capão Redondo, ele conta que joga há 15 anos e que já sentiu vontade de se profissionalizar na área.

“Eu acho que a dificuldade em se inserir no mercado é o preço das coisas, dos consoles, dos jogos e das peças pra montar um PC gamer. Quem tem um orçamento baixo não consegue comprar tudo de uma vez”, diz.

Filipe Ferreira tem 21 e mora no Capão Redondo, zona sul de São Paulo.

“Nunca consegui me inscrever em campeonatos”

Filipe Ferreira joga desde os 15 anos de idade.

Filipe conta que joga no computador que conseguiu montar depois de três anos juntando dinheiro para comprar as peças, um investimento lento que anulou qualquer possibilidade de pensar em competir.

 Grand Chase, o game que eu mais joguei na vida tinha um campeonato, mas precisava pagar pra participar… Na periferia tem muita gente que joga há muito tempo e até tem vontade de se profissionalizar, mas não tem recurso pra começar ou se manter ativo“, afirma. 

Favela Gaming 

O Youtube Gaming é uma plataforma que existe desde 2015 e agora, após oito anos no ar,a empresa de vídeos e streaming entendeu a necessidade de levar o mundo dos games para as favelas e periferias de todo o país. O projeto terá início ano que vem e contará com três frentes:

Bootcamp – Workshops e palestras sobre os principais assuntos do mercado de games e eSports com emissão de certificados. Esses cursos online demonstrarão a abrangência do ecossistema, onde as áreas de atuação vão muito além de performance esportiva e entretenimento;

Favela Cup – De forma online, campeonatos das principais modalidades de eSports e um circuito inovador de Free Fire serão realizados, buscando capacitar e dar a oportunidade de desenvolvimento profissional de talentos da comunidade;

Favela Gaming Arena – Espaço físico, construído dentro da Favela 3D, projeto da Gerando Falcões, onde jovens das comunidades poderão colocar em prática tudo o que aprenderam por meio de equipamentos profissionais para realizar vídeos e lives.

A promessa dos produtores é de que ainda neste ano, o site do projeto será disponibilizado para inscrições nos programas de conteúdos educacionais, para a plataforma dos torneios de comunidade e conteúdos de engajamento dos amigos Favela Gaming. 

A Copa está aí

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O jogo agora é padrão Fifa. O estádio superfaturado é Padrão Fifa, a corrupção na hora de escolher a sede é Padrão Fifa, o trabalho que matou dezenas na preparação das arenas também é.

Foto: Patrícia Santos

A Copa na periferia não vai ser mais aquela. Não é saudosismo. É o que é. É porque a gente perdeu coisas no caminho.

Ou a gente tenta pegar de volta ou a gente inventa novas.
Alguns entusiastas até tentam pintar as ruas e enfeitar de verde e amarelo os becos e vielas. Em vão.

Tipo: a camisa. Alguém acha, de coração, que todo o tsunami de zica, nojo e ódio que a extrema-direita encharcou nossa camisa amarela vai sair na primeira lavada? Vai nada…

Pra sair vai precisar de muito sabão, desinfetante. Pra tirar a zica do bolsonazismo, tem lugar que só na base da soda cáustica mesmo.

Vai ser uma jornada longa essa de arrancar o encardido que se agarrou na nossa camisa e no nosso país.

Outra coisa: o time 

A gente nem sabe quem é os maluco. E pra variar convocaram um cara porque ele “alegra” o elenco. É mau. (Dá nosso copo e já era).

Tem o Neymar. Beleza. Ele vai dedicar o gol pro presidente que perdoou os milhões que ele devia de imposto. Tá. Mas e o resto? No gol é o Cássio?

Não, não tem Cássio. Alisson é o goleiro.

E Gabigol?
Não tem também.

Tudo bem, então diz um aí um que a gente conheça. Um que a gente conheça do Morumbi, do Itaquerão, da Vila Belmiro…

Daniel Alves? Mas se ele pode jogar, dá pra chamar o Ronaldinho Gaúcho também, não dá não? Pergunta aí no google quantos anos tem o Ronaldinho.

O Ronaldinho com 50 é mais bola que o Daniel Alves com 40. Ou eu tô errado? Se eu tiver falando besteira você me avisa.

Por último: o jogo

O jogo agora é padrão Fifa. O estádio superfaturado é Padrão Fifa, a corrupção na hora de escolher a sede é Padrão Fifa, o trabalho que matou dezenas na preparação das arenas também é.

Até a torcida é padrão. Bem padrãozão mesmo.

Fora que o país dos caras é bizarro. É perseguição aos LGBT’s . É submissão feminina. Nem breja pode tomar no rolê.

Tem algo incrustado na formação do povo de lá que nunca vamos entender. Um lugar perfeito para uma galera que adora a ” moral” e os “bons costumes”.

Acho que a torcida do Brasil no Catar vai ser tão brasileira quanto o João Dória Júnior.

Pelo menos nesse quesito o time da CBF joga em casa.

Porque na periferia, na nossa casa, se o pessoal da CBF aparecer é possível que sejam chamados de “alemão”.

Integrante da Uneafro concorre à eleição para o Conselho Estadual da Juventude de SP

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Com a eleição, 12 jovens serão escolhidos para fiscalizar as políticas públicas de juventudes do novo governador Tarcísio de Freitas. 

Julia Gomes disputará a eleição para o Conselho Estadual de Juventude reprsentando a UneAfro como movimento social. (Foto: Arquivo Pessoal)

Na próxima segunda-feira (28), acontecem as eleições para a escolha do Conselho Estadual da Juventude, órgão que reúne agentes do Governo e da Sociedade Civil para discutir, pensar e articular Políticas Públicas voltadas para as Juventudes de todo o estado de São Paulo.

Uma das candidatas a concorrer na eleição do Conselho Estadual de Juventude de São Paulo é Julia Gomes, 19, que é moradora da Vila Falchi, bairro da cidade de Mauá, no ABC Paulista. Ela é integrante da Uneafro, um movimento de educação popular que fortalece a juventude periférica no acesso à universidade.

Parte integrante da política institucional, o Conselho Estadual da Juventude funciona e desenvolve ações na mesma instância dos Governos municipal, estadual e Federal.

Entre os motivos que fizeram Julia tomar conhecimento e valorizar a participação política estão a educação popular e a cultura periférica.

 “Essencialmente a educação popular e a cultura me introduziram a política”

 Julia Gomes é ingtegrante do grupo de jovens da UneAfro. 

Reunião do grupo de jovens da UneAfro. (Foto: Arquivo Pessoal)

“Entendo que a cultura para a juventude é o maior ato político, se usado de forma correta. Vejo o hip-hop e o funk como a maior ferramenta de ativismo da juventude“, destaca.

No Brasil, a juventude é responsável por tensionar a sociedade há muitos anos. Na década de 60, por exemplo, o movimento da Contracultura ficou conhecido como um ato libertário de contestação social e, como o próprio nome sugere, foi contra a cultura Europeia que influenciava a arte produzida no Brasil da época.

Os jovens do movimento usaram os meios de comunicação daquele período e disseminaram suas ideias por meio da pintura e principalmente da música, como é o caso do rap, funk e hip-hop nos dias atuais, que conscientiza sobre diversos assuntos que afetam diretamente a trajetória de vida das juventudes nas periferias.

Julia é estudante de letras no Instituto Singularidades, vaga que conquistou por meio da bolsa de equidade racial, uma parceria entre o Instituto e a UNEAFRO. A estudante conta que desde pequena acompanha a mãe em grupos de estudo, eventos de samba, batalhas de rima e centros culturais e desde os 15 anos compõe o cursinho pré-vestibular da UNEAFRO e desenvolve ações de mobilização estudantil como Saraus, projetos de literatura, batalhas de conhecimento, além de integrar o espaço cultural do Movimento antirracista Dandara, em Mauá.

“Vejo a necessidade de representar esses espaços que me formaram e deram um sentido para minha caminhada, a possibilidade de abrir caminhos e mostrar que é possível a presença da juventude negra e de periferia dentro dessa instituição. Só a gente constrói pra gente”, argumenta.  

Ela reforça a importância de ter alguém com a mesma vivência de quem mora nas periferias fiscalizando e planejando Políticas de Juventude para o Governo do Estado de São Paulo.

“O que foi demonstrado durante a campanha do novo governador (Tarcísio de Freitas) demonstra que seu projeto político vai em direção oposta ao que acreditamos como um projeto de bem viver para a juventude periférica, negra e indígena”, avalia.

A jovem sempre está articulando espaços de cultura e participação política no grupo de jovens da UneAfro. (Foto: Arquivo Pessoal)

Para votar em um dos 12 jovens que se candidataram para o Conselho Estadual de Juventude é preciso acessar o site: https://www.sdr.sp.gov.br/juventude/, residir no Estado de São Paulo e ter entre 16 e 29 anos.

A votação online fica aberta nesta segunda-feira (28) no horário das 10h às 17h. No dia seguinte, terça-feira (29), o processo eleitoral segue em frente com a apuração dos votos, homologação do resultado e divulgação dos candidatos eleitos.

Sobre a forma como pretende atuar, caso seja eleita, a estudante conta que a ideia é estar ativamente nos espaços culturais dialogando com a juventude sobre a importância do cargo e ouvir os pontos e reivindicações para tomadas de decisões assertivas e afirmativas.

“Entendemos que a questão de conselhos participativos, assim como demais instrumentos e ações de políticas públicas, não chegam na juventude por uma série de fatores, por isso esta campanha, além de levar a candidatura e ouvir a juventude, também tem um caráter pedagógico sobre o que é esta instância do Conselho e qual a sua importância”, conclui.

Ei, jovem: Bora participar?

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Na próxima segunda-feira, dia 28 de novembro, a juventude de todo o estado de São Paulo terá a oportunidade de escolher um representante para participar do Conselho Estadual de Juventude.

Martha Gaudêncio atua no setor público e como educadora popular sobre temáticas de política, cidadania e participação social com igrejas, movimentos pré-vestibulares e de juventudes.

A política no Brasil foi, por muito tempo, ocupada apenas por pessoas que não representavam a maioria da população. E isso se refletia no próprio direito ao voto: durante o Império, ele era censitário, ou seja, baseado na renda: isso significa que só quem tivesse uma renda muito, mas muito alta mesmo, podia votar e participar da vida pública.

E quem eram essas pessoas? Homens, brancos, proprietários de terras, donos de escravos. E aí dá pra imaginar para o que eles governavam, né? Buscando apenas manter os seus próprios interesses.

Com o passar dos anos, o país passou por um série de momentos e transformações históricas: teve a proclamação da República em 1889, o Estado Novo de Getúlio Vargas em 1937, a Ditadura Militar de 1964… e o processo de redemocratização, que foi coroado com a Constituição Federal de 1988, que é a lei máxima do país.

Até chegar nela, o voto passou por várias restrições, tendo em alguns momentos sido proibido à mulheres, a menores de 21 anos, a pessoas analfabetas, e consequentemente excluindo assim as populações negras e indígenas de participar das decisões do país.

A nossa Constituição atual é conhecida por “Constituição Cidadã”, pois foi fruto da luta de diversos movimentos sociais, de moradia, de mulheres, da negritude e dos povos tradicionais, que conseguiram incluir nela alguns direitos importantes – embora a luta para mantê-los seja constante.

E aí, dentre estas novidades, veio o reconhecimento da juventude como agente político: a partir dos 16 anos, aqueles que desejam já podem votar, pois são reconhecidos como cidadãos aptos a participar da construção da sociedade. Vale lembrar que o direito ao voto não é uma conquista só para poder escolher os representantes, mas também para se reconhecer como alguém que pode fazer parte das discussões e se colocar à disposição nas corridas eleitorais.

De acordo com essa lei, são direitos de todos os jovens brasileiros ter acesso à:

A realidade, no entanto, não é tão bonita quanto a lei. Segundo o IBGE, em junho de 2022 os jovens eram a parcela da população mais afetada pelo desemprego. No dia-a-dia, nas nossas quebradas, muitas vezes nos falta o acesso à cultura, ao esporte e lazer ou à educação. Nos nossos territórios, a mobilidade costuma ser um problema: os ônibus costumam ir até o centro da cidade, mas para ir de uma quebrada a outra o corre é mais difícil, além de vários outros problemas que quem está na periferia sente ainda mais.

Então, como a gente faz pra tentar resolver isso? Não existe uma solução pronta, simples ou rápida.  

Mas não tem outro jeito: o caminho passa pela participação popular. E participar é fazer justamente isso: conhecer os problemas, saber onde eles estão, pensar em soluções coletivas, acompanhar os processos de tomadas de decisões, e outras ações. Só assim vamos fazer valer aquela mudança de chave que tivemos com a Constituição de 1988 e que permitiu à juventude participar das decisões políticas.

Na próxima segunda-feira, dia 28 de novembro, a juventude de todo o estado de São Paulo terá a oportunidade de escolher um representante para participar do Conselho Estadual de Juventude. O conselho faz parte da subsecretaria de Juventude, dentro da Secretaria de Desenvolvimento Regional do Governo do Estado de São Paulo. 

E o que isso significa na prática? 

A conquista de todo e qualquer direito passa pela participação social e política, e o Conselho da Juventude é justamente um espaço onde jovens, eleitos por outros jovens, devem usar sua voz para representar os demais, sugerindo políticas que levem em consideração a diversidade e a realidade dos jovens brasileiros, especialmente aqueles que mais necessitam de atenção de políticas públicas.

São funções, ou atribuições, do conselho:

No dia 23 de novembro saiu mais uma edição do Mapa da Desigualdade da Rede Nossa São Paulo e os dados confirmam mais uma vez, como bem apontou reportagem do Periferia em Movimento: as periferias de SP são mais negras, mais jovens e vivem menos que no restante da cidade.

Por isso nossa voz é tão importante: precisamos reivindicar o espaço das favelas, das periferias e todas as quebradas, da negritude, dos jovens estudantes e trabalhadores, e lutar para que possamos viver mais e com mais qualidade.

Faça você também parte dessa mudança votando na segunda, 28/11, das 10h às 17h pelo site https://www.sdr.sp.gov.br/juventude/.

Com o novo governo eleito para o Estado de São Paulo, vai ser ainda mais importante a presença da periferia em espaços como esse. 

Martha Gaudêncio da Silva é cria das quebradas de Itapecerica da Serra, na Zona Sul de São Paulo. Formou-se em Ciências e Humanidades e estuda Políticas Públicas na UFABC. Atua no setor público e como educadora popular sobre temáticas de política, cidadania e participação social com igrejas, movimentos pré-vestibulares e de juventudes.