Quando você pensa na imagem de um palhaço, como ele é? Nesse episódio, falamos sobre o riso como instrumento para a reprodução de estereótipos, e também para a criação de novas formas de se fazer humor que contemplem as várias possibilidades de ser e existir.
O Cena Rápida tem episódios novos quinzenalmente, sempre às quartas, disponivel gratuitamente no Google Podcasts, Spotify e Youtube.
Ficha técnica: Roteiro, apresentação e entrevistas – Evelyn Vilhena Distribuição – Samara da Silva e Thais Siqueira Produção audiovisual – Pedro Oliveira Identidade visual – Flávia Lopes Vinheta e edição – Jonnas Rosa
No próximo dia 11 de agosto, a população do M’Boi Mirim e territórios vizinhos se unirá em um ato histórico em defesa de duas importantes melhorias de transporte há muito prometidas, mas que ainda não se concretizaram: a duplicação da Estrada do M’Boi Mirim e a extensão da Linha 5 Lilás do Metrô até o Jardim Ângela.
Há mais de uma década, os moradores da região lutam pela duplicação da Estrada do M’Boi Mirim, uma promessa feita em 2011, pela gestão Kassab (PSD), que já se estendeu por anos sem qualquer avanço significativo.
A licitação para a obra foi realizada pelo Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de São Paulo (DER/SP) em 08 de junho de 2022, mas desde então, poucos progressos foram notados, deixando os cidadãos frustrados com a demora e a falta de ação concreta.
O que os munícipes viram até o momento foi somente faixas de agradecimento para coisa nenhuma.
Outro ponto crucial é a extensão da Linha 5 Lilás do metrô, que deveria ter chegado ao Jardim Ângela após seis anos de promessa feita em 2011, na então gestão José Serra (PSDB). No entanto, o tempo passou e já se completaram 12 anos sem que a tão esperada expansão se materializasse.
A população local, cansada da falta de investimentos e melhorias no transporte público, está se organizando por meio do movimento SOS Transportes, em conjunto com outros movimentos sociais da região para cobrar o poder público pela falta de comprometimento com a pauta da mobilidade urbana no território.
O movimento está convocando todos os moradores do M’Boi Mirim e, especialmente, os moradores do chamado FUNDÃO, abrangendo bairros como Parque do Lago, Jardim Aracati, Vila Gilda, Jardim Capela, Jardim Vera Cruz, Jardim Jacira, entre outros, a participarem do ato em defesa destas obras, que afetam a qualidade de vida da população local.
A concentração está marcada para às 6 horas da manhã, em frente à Igreja Nossa Senhora do Guadalupe, localizada na Estrada do M’Boi Mirim, n° 10.080, ao lado da garagem do Ônibus Metrópole Paulista.
Além de cobrar ações imediatas das autoridades competentes, o movimento visa sensibilizar a opinião pública e destacar a importância da duplicação da Estrada do M’Boi Mirim e da extensão do Metrô para aliviar o congestionamento nas vias, melhorar a mobilidade e o acesso a locais essenciais, bem como promover um transporte público mais eficiente e sustentável para todos.
A população está determinada a fazer sua voz ser ouvida e garantir que essas demandas fundamentais finalmente se tornem realidade.
Com a união dos cidadãos em prol dessas importantes melhorias de infraestrutura, a expectativa é de que as autoridades ajam de forma efetiva e ágil para atender às necessidades da comunidade local.
“Nunca faltou alimento por conta da terra”. É assim que João Tavares Maciel, conhecido no território como Seu João, 62, responsável pela horta orgânica do Cine Quebrada na Cohab Juscelino, na zona leste de São Paulo, lembra da infância em Pernambuco, estado onde nasceu.
Todos os dias, Seu João cuida da horta orgânica que fica na ocupação cultural Cine Quebrada. O plantio começou em 2020, para diminuir os impactos alimentares da pandemia de covid-19 na região. Atualmente, o corre do Cine Quebrada e do Seu João contribui na alimentação de 200 famílias da região.
Esse cuidado com a terra não é algo novo para Seu João. Ele recorda que, aos 10 anos, começou a ajudar o pai com o trabalho na roça, em Caruaru. “Ele dizia que não tinha nada para dar que iria agradar a não ser serviço e fartura de alimento”, relembra.
“Tinha tudo que você pode imaginar. Mandioca, batata, feijão, café, banana. Tudo isso a gente tirava da própria terra. Além de comer, também fazíamos doaçãoes”. Começava ali sua relação com a terra, enquanto ainda morava na região nordeste do país.
Vindo para São Paulo, na década de 1980, Seu João sentiu o impacto da diferença socioambiental entre as regiões. “Quando cheguei na capital foi um pouco difícil porque sempre trabalhei na roça, aqui [em São Paulo] fui trabalhar numa fábrica. Até para respirar o ar é diferente”, conta.
Após alguns anos de trabalho, Seu João conseguiu comprar uma casa no extremo leste da capital paulista, local onde buscou criar caminhos para se reaproximar da terra. Para isso, recebeu ajuda de um antigo chefe que pagou o terreno à vista, para que pudesse pagar parcelado.
“Planejei meu terreno para conseguir plantar. Tenho seriguela hoje de uma muda que plantei lá naquela época, por volta dos anos 1990. [Tem] 30 anos que tenho ela.”
Seu João, aposentado e cuidador da horta orgânica do Cine Quebrada
Quando chegou na Cohab Juscelino, em 1988, estava em curso a expansão habitacional na periferia da zona leste. As primeiras quebradas tomavam forma ali no território. Pai de três filhos, Seu João viu de perto as mudanças estruturais no bairro.
“Antigamente a gente podia plantar bem em frente à nossa casa. Hoje em dia não tem tanto espaço, porém, muitas pessoas conseguiram moradia, isso é muito bom por um lado”
Seu João, aposentado e cuidador da horta orgânica do Cine Quebrada
Relação com a terra
Já em São Paulo, Seu João começou a cuidar das praças que haviam próximas da sua casa. Cuidados que mantém até hoje em dia. Varre, recolhe entulho e coloca placas para alertar sobre o despejo ilegal de lixos. Desde que chegou na capital paulista, a preservação do ambiente no entorno é algo comum para Seu João.
“Quando cuidamos dessas praças melhoramos o oxigênio. Isso é bom para o próprio morador. Pode estar 30 graus, perto de árvore você não sente calor. Isso é bom para o meio ambiente. Em Pernambuco, isso era 10 vezes melhor.”
Seu João, aposentado e cuidador da horta orgânica do Cine Quebrada
Os alimentos da horta do Cine Quebrada compõem diversas cestas básicas que o coletivo entrega para famílias do bairro. Doações financeiras e outros alimentos ajudam no complemento da cesta. Mutirões e trabalhos voluntários são feitos para organização e distribuição dos alimentos.
O espaço é administrado por moradores de forma coletiva, com algumas pessoas à frente das articulações. Além dos alimentos, o Cine Quebrada também promove diversas atividades culturais, como grupo de dança, disponibilização de biblioteca e exibição de filmes para crianças.
O acesso à alimentação a partir da horta, que fornece alimentos para a população no território, é um dos exemplos de mobilizações coletivas que atuam diretamente em demandas ligadas aos direitos humanos. Ações que também lidam com as mudanças climáticas, que, entre outros impactos, refletem no acesso e produção dos alimentos em territórios vulnerabilizados.
Uma das principais referências culturais na quebrada, o movimento tomou forma quando passou a ocupar uma escola estadual que foi abandonada pelo governo do estado. O local é tido como símbolo de resistência e luta na região.
Incomodado com o descaso do poder público com as demandas da região, seu João abraçou a ideia da ocupação. Ele é conhecido no Cine Quebrada pelo seu conhecimento com o plantio e a vontade de fazer diferença no território, onde se dispôs a cultivar no espaço.
“Desde então eu cuido, varro, coloco placa avisando que não pode jogar lixo. Me sinto muito orgulhoso por cuidar da terra. Sinto felicidade por acordar cedo e ter disposição pra [cuidar da] natureza”, conta Seu João.
De segunda à sexta-feira a horta é cuidada por seu João. Pontualmente, às 7 horas da manhã começa o trabalho. Colhe os frutos maduros, planta outras mudas e limpa a horta. Ao longo da semana ele recebe ajuda de diversas pessoas que também se articulam para a continuidade das ações.
Racismo ambiental e mobilização territorial
Seu João destaca que ainda há problemas ambientais na quebrada, como uma pedreira ativa que fica no mesmo bairro e causa tremores nas casas. Além de enchentes na região.
“Quando alagou encheu a padaria, os apartamentos do térreo dos prédios, casas desabaram. Ali é terra, quando chove essa terra cai no rio. Se a terra cai para o rio, o que acontece? Impede o curso da água”, ele completa: “Isso por conta da prefeitura, eles nunca limparam. Vieram cuidar agora [depois das enchentes]. Quando cheguei na quebrada esse rio já existia”, aponta.
Seu João conta que, se pudesse, mandaria um recado sobre a questão ambiental no território. “Sr. Prefeito, precisamos melhorar o ar, o tempo, as praças públicas, precisamos cuidar das terras peladas que não tem um pé de árvore”, alerta.
Essa reportagem foi contemplada pelo edital Bolsas de Reportagem Justiça Climática – AJOR e iCS: Justiça Climática e o Enfrentamento ao Racismo Ambiental no Brasil”, promovido pela Ajor, Associação de Jornalismo Digital e o iCS, Instituto Clima e Sociedade, no âmbito do The Climate Justice Pilot Project.
Em julho de 2023, a jornalista Thais Siqueira representou a Coalizão de Mídias Periféricas, Faveladas, Quilombolas e Indígenas em uma importante missão internacional de direitos humanos na Palestina. Foram sete dias de intercâmbio com representantes de movimentos favelados, periféricos, negros e indígenas do Brasil, Colômbia e Equador, que participaram ativamente de encontros com coletivos e organizações sociais locais, visitas a lugares históricos e rodas de conversa em território palestino.
Durante a vigem, Thais Siqueira produziu imagens com o objetivo de retratar os efeitos do apartheid e do extermínio étnico e racial promovidos por Israel contra o povo palestino. Através das suas lentes, a jornalista mostra os destroços de conflitos políticos, econômicos e bélicos, bem como a presença do racismo ambiental no território Palestino, que perdura há cerca de 75 anos, impondo uma série de retirada de direitos sociais do povo palestino.
Bicicleta e casa incendiadas pelo exército israelense, na cidade de Turmus Ayya, em junho de 2023.
Família do jovem, Omar Hisham Abu Kuten Al-Jibara, morto pelo exercito de Israel, ao tentar socorrer uma senhora ferida por ataques de colonos na cidade de Turmus Ayya, em junho de 2023.
Criança palestina em frente a caverna histórica restaurada de Masafer Yatta, que será seu novo lar, devido as demolições das casas ordenadas pelo governo de Israel.
Na cidade de Hebrom, território palestino, soldados israelenses seguem e passam a considerar a delegação como ameaça, ao avistarem dois colonos descendo pela mesma rua que a delegação.
Ponto de controle do exército israelense na cidade de Hebrom, próximo a rua Al Shuhada (mártires em árabe), onde os palestinos são proibidos pelos colonos de transitar.
Ao visitar locais que transcendem as crenças religiosas, é possível compreender de perto as desigualdades sociais que atravessam o cotidiano do povo palestino. Criado em 1950 na Cisjordânia, na cidade de Belém, o campo de refugiados de Aida, é um exemplo representativo deste contexto. São mais de 5.500 palestinos vivendo neste território, considerado um gueto, isolado da área de Jerusalém por um muro e dois grandes assentamentos restritos para israelenses.
A falta de água também é um problema estrutural, estando disponível apenas uma vez por semana. Em alguns territórios, há semelhanças de situações do cotidiano das periferias e favelas no Brasil.
As mortes da juventude palestina também chama atenção, devido ao extermínio que a juventude preta e periférica enfrenta no Brasil. De acordo com os dados fornecidos pela organização Defense for Children International – Palestina (DCI), entre os anos de 2000 e 2023, foram registradas 2.280 mortes de jovens palestinos menores de idade em decorrência da ocupação e presença de militares israelenses. Vale ressaltar que esses dados estão em constante mudança, sendo atualizados mensalmente.
Neste cenário, os registros fotográficos buscam promover uma reflexão sobre o impacto do sionismo, movimento político que defende a construção de um país dedicado a acolher a população judaica, por meio da ocupação do território palestino. Tais ações vem sendo colocadas em prática pelo governo de Israel, gerando uma série de violações de direitos humanos contra o povo palestino.
Imagine São Paulo como um lugar cercado por rios e árvores frutíferas, onde você poderia nadar em riachos próximos da sua casa, pegar água em minas e ver o céu estrelado ao anoitecer. Foi nessa paisagem afetada por deslizamentos de terras que a líder comunitária Claudete Cordeiro dos Santos desembarcou aos 8 anos, em 1979, com familiares no Jardim D’abril II, bairro localizado no distrito do Rio Pequeno, zona oeste de São Paulo.
A viagem não foi curta: nascida em Pernambuco, em 1971, a pequena Claudete ainda morou na cidade de Presidente Prudente, até migrar definitivamente para o Jardim D’abril II, de onde nunca saiu. “A favela onde a gente mora tinha poucas casas, era bem mais organizada. Fui criada comendo fruta no pé, tivemos esse privilégio, essa infância boa”, relembra.
Segundo Claudete, o solo do Jardim D’abril II é fértil permite o plantio de vários tipos de frutas e legumes. “Aqui tudo que você plantar dá. Dentro da comunidade a gente tinha abóbora, chuchu, manga, amora, ameixa, tinha todo tipo de fruta. A gente tinha uma relação muito boa com a natureza”, relata.
A favela Jardim D’abril II cresceu mesmo sob o risco dos deslizamentos nos anos 1990. Foto: Pedro Oliveira/Junho 2023
Enfrentando os deslizamentos de terras
O convívio com eventos climáticos extremos, como os deslizamentos de terras causados por fortes chuvas, faz parte da trajetória de vida da líder comunitária do Jardim D´abril II. Desde cedo, ela teve que lidar com os riscos de deslizamentos em seu território, medo que aumentava constantemente ao cair das primeiras gotas de chuva.
Durante os anos de 1990, foram retiradas inúmeras famílias do Jardim D´Abril II, algumas levadas para ocupar a COHAB Raposo Tavares, mas outras, receberam apenas o provisório auxílio aluguel, para conseguir outro imóvel para morar.
No mês de fevereiro de 1995, a cidade de São Paulo registrou o segundo maior volume de chuvas da história, alcançando 445,5 milímetros no mês, segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia. Nesta época, a líder comunitária estava se organizando para cobrar prefeitos e vereadores de São Paulo, para urbanizar o bairro e reduzir os riscos de deslizamentos de terras.
Claudete conta que o momento em que a situação chegou ao seu estado mais grave foi durante a gestão do ex-prefeito Celso Pitta (1997-2001), na qual houve uma ordem de despejo para famílias que habitavam mais de 10 comunidades do distrito do Rio Pequeno, zona oeste da cidade, devido ao aumento de deslizamentos de terras no território.
“Juntou eu mais um grupo de mulheres e começamos a fazer um movimento questionando: se vai tirar a gente, vai colocar onde? Como você despeja uma comunidade com mais de 50 anos sem dizer para onde as pessoas vão? Eram as grandes favelas do Butantã”
Claudete Cordeiro, moradora do Jardim D´Abril, zona oeste de São Paulo
Além dos deslizamentos de terras e fortes chuvas, durante a gestão do prefeito Celso Pitta, a cidade de São Paulo registrou a quinta maior temperatura da história. Os termômetros marcaram 37º C em 1999.
No início da gestão da ex-prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, em 2002, Claudete conta que o trabalho de diálogo com vereadores e prefeitos deu resultado. “A gente conseguiu a concessão do uso do solo e com isso foi possível fazer grandes obras no território. Foi nesse momento que criamos a Associação de Moradores da Comunidade Jardim D’abril II”, explica a líder comunitária.
A criação da organização foi a primeira vitória de um trabalho que, a partir de então, conseguiu não só as obras necessárias para evitar novos deslizamentos na favela do Jardim D’abril II, mas também a construção de uma praça no território. Apesar disso, Claudete vê que ainda faltam muitas coisas para melhorar a vida dos moradores.
“O legado que eu vou deixar aqui é das pessoas morarem aqui e não caírem, porque a gente conseguiu todas as obras nesse terreno”
Claudete Cordeiro, líder comunitária do Jardim D´Abril II
Articulação política
Claudete foi responsável pela construção da Praça Tomas Coelho de Almeida. Foto: Pedro Oliveira/Junho 2023
Os anos de experiência enquanto líder comunitária deram à Claudete a possibilidade de transitar com facilidade pelos gabinetes dos vereadores, dialogando com líderes de várias vertentes políticas, desde que interessados em contribuir com a comunidade.
“Eles não estão fazendo nada que não seja o dever deles. Se eu não conseguir a emenda que eu preciso para a comunidade com um, eu tento com o outro. Nós estamos aqui em prol de uma causa só”, afirma Claudete, defendendo uma posição política de não se fechar para o diálogo, quando o assunto é melhorias para as condições de vida para os moradores do Jardim D´Abril II.
Entre as vitórias e derrotas dessa luta de 3 décadas, ao menos um dos sonhos de Claudete está mais próximo: a construção da sede da sua associação, que tem previsão para ser entregue até o início de 2024. O espaço será comunitário e ao lado da praça, ampliando as possibilidades de lazer e cultura no bairro.
Para a líder comunitária do Jardim D’abril II, o segredo do trabalho está enraizado no processo de aprender com as pessoas que vieram antes dela e lhe ensinaram a construir o futuro para o território.
“Para ser liderança, eu aprendi com outras lideranças, que faziam o mesmo trabalho que eu, só que de forma diferente na época. É isso que eu quero passar para os mais novos. Vocês podem ver o que eu faço, mas tem que olhar mais adiante”, finaliza.
Essa reportagem foi contemplada pelo edital Bolsas de Reportagem Justiça Climática – AJOR e iCS: Justiça Climática e o Enfrentamento ao Racismo Ambiental no Brasil”, promovido pela Ajor, Associação de Jornalismo Digital e o iCS, Instituto Clima e Sociedade, no âmbito do The Climate Justice Pilot Project.
Cantoras como Elza Soares, Dona Ivone Lara, Margareth Menezes, Sandra de Sá, Leci Brandão, entre outras, se destacaram e resistiram aos desafios através da arte, numa época onde o racismo trazia maior invisibilidade e preconceito aos corpos e talentos de mulheres negras. Por meio da música e suas trajetórias de vida, essas artistas têm sido uma inspiração para que outras mulheres negras possam compreender e reconhecer sua negritude, ancestralidade e liberdade.
Inspiradas por essas cantoras, Luana Bayô e Susi Nascimento, duas mulheres negras da periferia de São Paulo, encontraram na música uma maneira de descobrir sua potência e quebrar barreiras para conquistar o sonho de viver da arte. Luana Bayô, 35 anos, moradora do Campo Limpo, possui uma carreira de 20 anos como cantora e enfatiza a importância de destacar mais mulheres negras no cenário musical, trazendo suas vozes e experiências para o centro.
Cantora, Luana Bayô. Foto: Pedro Oliveira/Junho 2023
“Tem um monte de cantora preta maravilhosa, mas o sistema quer que só suba uma para representar todo mundo, e não dá para representar todo mundo […] a gente quer que uma suba, mas a gente quer trazer outras também, precisa que tenham outras. E cada uma vai ter o seu o seu jeito de ser, mesmo todas sendo do samba, porque nesse universo branco isso acontece, tem várias, por que em relação às pessoas pretas não podem ter várias?”
Luana Bayô, cantora e compositora
Com 54 anos, Susi Nascimento é uma compositora talentosa, suas melodias refletem suas vivências e perspectivas únicas. Ela ressalta a relevância de espaços como a Casa Delas, localizada na periferia da Cidade Ademar, zona sul de São Paulo, que, em 2022, auxiliou no seu processo de se reconhecer como artista. Para Suzi, projetos como esse, valorizam a produção musical das mulheres negras, proporcionando um ambiente acolhedor e propício ao crescimento artístico.
Cantora, Susi Nascimento. Foto: Pedro Oliveira/Junho 2023
“Espaços como esse, é muito importante para mulher preta e periférica, para quem quer realmente encontrar o seu caminho e colocar para fora a sua arte, seja ela qual for, principalmente a arte de cantar, porque foi através desse espaço que eu consegui gravar duas músicas autorais”
Susi Nascimento, cantora e compositora
Gabriela Francisco, produtora cultural do espaço Casa Delas, chama a atenção para a urgência de quebrar o ciclo de invisibilidade enfrentado pelas artistas negras. Muitas vezes, essas mulheres precisam se dedicar a outras ocupações para se manterem, ao mesmo tempo em que buscam o sonho de viver da música. Para ela, o caminho trilhado por mulheres como Luana Bayô e Susi Nascimento, assim como o legado deixado por cantoras negras icônicas, evidencia a importância da música como um instrumento poderoso de resistência, empoderamento e transformação social.
Gabriela Francisco, produtora cultural. Foto: Pedro Oliveira/Junho 2023
“Quando pensamos nessas mulheres artistas, mulheres produtoras, a gente tem que pensar primeiro no cenário social, investimento na arte periférica, nas produções periféricas, que vai ressurgir e repercutir diretamente nessas mulheres e esse protagonismo”
No início de julho, o Desenrola e Não Me Enrola representou a Coalizão de Mídias Periféricas, Faveladas, Quilombolas e Indígenas em uma significativa visita à Palestina. Além da Coalizão de Mídias, outras representações dos movimentos favelados, periféricos, negros e indígenas do Brasil, Colômbia e Equador, também somaram forças a delegação que acompanhou de perto a realidade do apartheid, colonialismo e ocupação militar israelense.
Entre os demais movimentos representados na delegação, estão o Movimento Negro Unificado (MNU), Rede Nacional de Mães e Familiares de Vítimas do Terrorismo de Estado, Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência, Articulação Internacional Julho Negro do Rio de Janeiro e Frente de Evangélicos pelo Estado de Direitos, bem como a Confederação de Povos da Nacionalidad Kichwa no Equador (ECUARUNARI) e o Processo de Comunidades Negras (PCN) na Colômbia.
Para Gizele Martins, jornalista, comunicadora e representante do Julho Negro, a visita é de extremamente importante para compreender de forma profunda como as violências enfrentadas pelo povo palestino têm reflexos na América Latina.
Passamos uma semana a visitar muitos lugares e testemunhamos como o povo Palestino resiste há décadas à militarização, ao racismo e ao apartheid perpetrados pelo Estado de Israel. Ouvir os depoimentos e ver com nossos próprios olhos os massacres que o povo Palestino sofre, é entender que eles são um grande laboratório de uma política que impacta também a vida das pessoas negras, pobres, indígenas, quilombolas, faveladas e periféricas em toda a América Latina e no mundo.
Gizele Martins, jornalista
Visita da delegação no campo de refugiados de Aida. Data da foto: 02/07/2023. Foto: Thais Siqueira
Cristiana dos Santos Luiz, representante do Movimento Negro Unificado, também esteve presente nessa importante visita e chama a atenção dos movimentos ao redor do mundo para a causa palestina.
Os direitos humanos da população palestina seguem sendo violados pelo Estado israelense. O mundo está fechando os olhos, precisamos da comunidade internacional e dos movimentos ao redor do mundo pautando a luta palestina. Nosso objetivo foi trocar experiências e transformar esses encontros em solidariedade concreta com o povo palestino e construir laços duradouros entre o povo palestino e nossas lutas locais.
Cristiana Dos Santos Luiz, representante do Movimento Negro Unificado (MNU)
Já Fernando Cabascango, representante da Confederação de Povos da Nacionalidad Kichwa no Equador (ECUARUNARI), menciona sobre as medidas necessárias para alcançar soluções efetivas.
Demandamos a nossos governos que tomem ação concreta para responsabilizar ao regime de apartheid de Israel, começando com um embargo militar imediato. Pedimos que apoiem ativamente o chamado palestino para que as Nações Unidas reconheçam que Israel comete o crime contra a humanidade de apartheid e que reativem o Comitê Especial da ONU contra o Apartheid.
Fernando Cabascango, Confederação de Povos da Nacionalidade Kichwa
Visita da delegação no campo de refugiados de Aida. Data da foto: 02/07/2023. Foto: Thais Siqueira
Depois das delegações do México e dos movimentos negros, indígenas e latines nos EUA, esta é a terceira delegação ‘Mundo sem Muros’, convidada pela Campanha Popular Palestina contra o Muro do Apartheid (Stop the Wall). A iniciativa Mundo sem Muros surge não apenas de um reconhecimento do que “muros” físicos e imateriais de injustiça estão crescendo rapidamente em todo o mundo, mas cria espaços onde levantar nossos olhares além das crises cada vez piores que os povos em todo o mundo estão enfrentando.
O regime de apartheid de Israel, a conquista de nossa terra e a limpeza étnica do povo indígena palestino é uma prática enraizada no colonialismo europeu. Sentimos, portanto, um profundo vínculo com a luta dos povos negros e indígenas contra o racismo estrutural, o roubo de terras e o genocídio hoje na América Latina.
Jamal Juma, coordenador da Campanha Stop the Wall
A delegação também vai focar no apoio concreto que o apartheid israelense dá à repressão e expropriação de negros, indígenas e favelados, seja por meio da tecnologia militar e de vigilância que exporta para a América Latina ou por meio da tecnologia do agronegócio, que apóia a privatização e o roubo de recursos naturais.
Estamos honrados em receber esta delegação e somos confiantes de que esta união não apenas apoiará nossa luta contra o apartheid israelense, mas também fortalecerá nossa luta coletiva por justiça, liberdade e igualdade.
Quando o debate sobre fomento artístico e cultural na cidade de Embu das Artes chega ao conhecimento do cineasta e fotógrafo Marlon Andrade, 30, morador do Jardim Santo Eduardo, ele faz questão de enfatizar que o município não implementa políticas públicas de apoio a coletivos culturais.
“Não tem incentivo nenhum. Uma batalha [de rima] pra gente fazer tinha que correr atrás de caixa. O sarau a gente fazia do jeito que dava. Nunca tem nada para o hip-hop, nem para o movimento negro, é muito difícil”, afirma.
Marlon Andrade é cineasta e morador do bairro Jardim Santo Eduardo, em Embu das Artes. (foto: Viviane Lima)
Marlon explica que as informações e as articulações referentes às políticas públicas, voltadas para os artistas independentes, não chegam até a periferia. “Por exemplo, a Lei Aldir Blanc, a gente não teve conhecimento. Principalmente [sobre] quando abriu e quando fechou os editais”, pontua.
Sancionada em junho de 2020 pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a Lei Aldir Blanc é fruto de um intenso processo de articulação política e cobrança de artistas, grupos culturais, coletivos e ativistas, para o governo apoiar de alguma forma o setor da economia da cultura, impactada fortemente pela pandemia de Covid-19.
A Lei Aldir Blanc liberou três bilhões para estados, municípios e o Distrito Federal, investir em programas de apoio emergencial aos profissionais da cultura impactados pelo isolamento social e o encerramento de atividades culturais, responsáveis pela geração de renda de coletivos, artistas independentes, grupos culturais e espaços culturais independentes.
Viviane Neres, 45, é moradora da periferia de Embu das Artes, do Jardim Flórida. Ela é multiartista, atuante há 31 anos na região e reafirma a falta de fomento direcionado aos artistas locais.
Viviane Neres é multiartista e moradora da periferia de Embu das Artes. (foto: Viviane Lima)
“A gente está com uma luta de aumento do recurso na cultura para que a gente possa ter editais permanentes de cultura no município. Eu não posso formar um aluno de teatro e falar pra ele, ‘vai viver de teatro aqui em Embu das Artes’. Como? Não tem um edital pra ele mandar e captar o recurso e viver da sua arte.”
Viviane Neres é arte educadora e faz parte do Conselho de Políticas Públicas de Cultura.
A multiartista menciona que os investimentos públicos culturais que há na cidade são a Lei Ordinária 2991 de 2017 Embu das Artes – SP, do Núcleo de Cultura, que se refere à contratação de monitores para as oficinas dos centros culturais da cidade. E “a única política pública que tem da cidade é um orçamento na cultura, de um valor que só dá para pagar as estruturas [dos centros culturais]”, relata Viviane.
Centro Cultural Jardim Santo Eduardo e Região. (foto: Viviane Lima)
A Secretaria de Cultura e a Secretaria de Tecnologia e Comunicação de Embu das Artes foram procuradas para responder questões referentes à distribuição de verba pública para políticas públicas de cultura da cidade, mas até a data desta publicação, não atenderam às solicitações da nossa reportagem.
Relação periferia x centro
Viviane, junto com Marcel, Rafael e Mathaus, é uma das fundadoras do Movimento M’boi, criado em 2021, com o objetivo de desenvolver ações que ocupem os espaços públicos da cidade. Outro objetivo do grupo é promover articulações com iniciativas artísticas da região, para desenvolver projetos e reivindicar políticas públicas culturais. Entre essas articulações estão sendo construídas relações entre artistas da periferia e do centro.
O Movimento M’boi ocupando o Largo 21 de abril, no centro de Embu das Artes. (foto: Viviane Lima)
“A [lei] Paulo Gustavo, agora que vai vir, né? A gente fez algumas comitivas, a periferia estava em peso, então está tendo essa quebra do centro com a periferia. Por mais que a gente não tenha uma conexão muito grande, até por conta do ônibus”, conta.
O cineasta pontua que a aproximação da periferia com o centro é uma articulação necessária para obter informação e viabilizar a possibilidade de acesso aos recursos públicos.
A Lei Paulo Gustavo (Lei Complementar nº 195/2022) vai destinar R$ 2,797 bilhões para o audiovisual, do valor total de R$ 3,8 bilhões que serão distribuídos para investimentos em cultura, aos estados, municípios e ao Distrito Federal.
“Não é à toa que a gente chama Embu das Artes e as pessoas precisam entender que a gente não é a feirinha, a gente é a arte em pessoa, em cada canto da cidade. E a partir disso, vamos lutar por políticas públicas de cultura pra valorizar nossos artistas.
Viviane Neres é arte educadora, atriz, dançarina e expositora da feira.
Embu das Artes é uma cidade metropolitana localizada a aproximadamente 30 km de São Paulo. A cidade é conhecida pela tradicional feira de artesanato que existe desde a década de 60.
Não é de hoje que mulheres negras, indígenas, quilombolas e ribeirinhas agem nas demandas socioambientais. Mulheres que atuam através de saberes e conhecimentos ancestrais, muito antes de termos embranquecidos.
Foi para falar sobre essa movimentação de mulheres negras nas pautas socioambientais que conversamos com a Elenita Rodrigues, catadora e cofundadora da Cooperativa Vera Cruz, e com a Ana Sanches, pesquisadora socioambiental com recorte para raça.
O Cena Rápida tem episódios novos quinzenalmente, sempre às quartas, disponivel gratuitamente no Google Podcasts, Spotify e Youtube.
Ficha técnica: Roteiro, apresentação e entrevistas – Evelyn Vilhena Distribuição – Samara da Silva e Thais Siqueira Produção audiovisual – Pedro Oliveira Identidade visual – Flávia Lopes Vinheta e edição – Jonnas Rosa
Técnica, jogadora e pesquisadora atuam a partir do futebol de várzea femino nas periferias e ressaltam a importância desse esporte para além das quatro linhas do campo.
“A gente sabe que o esporte transforma e cura muitas coisas”. Esse é um dos motivos que fazem com que a técnica Cecília Bringel, atue com o futebol. Técnica do projeto FutVida e jogadora do time Chelsea Feminino, Cecília acredita na importância do futebol feminino de várzea para além dos jogos, por ser um espaço de socialização, acolhimento e humanização do esporte e de quem o pratica.
Cecília é mãe, educadora social e moradora do bairro Nova América, em Parelheiros, zona sul de São Paulo, território onde fundou, em 2022, o time de futebol Chelsea Feminino. Na região, ela também atua como diretora e treinadora do projeto FutVida.
“Eu entendo que o futebol me tirou da depressão. E no rachão eu já ouvi meninas falar, ‘eu não sei jogar bola, não sei nem chutar’, mas só do tempo que elas estão com a gente jogando, dando risada, correndo um pouco, elas já falaram, ‘isso aqui tá me fazendo tão bem’. A gente sabe que o esporte transforma e cura muitas coisas.”
Cecília Bringel técnica do projeto FutVida, fundadora e jogadora do time Chelsea Feminino.
Cecília Bringel com os filhos Isaac, 6, e Ana Clara, 10. (Foto: arquivo pessoal)
A técnica aponta que o futebol feminino de várzea opera para além do campo de futebol, com reflexos que são notados ao longo do tempo. Ela conta que, assim como muitas meninas, sua ligação com o futebol aconteceu jogando bola com meninos.
“Desde quando era criança eu já jogava bola na rua com os moleques. Eu sempre joguei com os meninos. A maioria das meninas começam assim. A minha filha acabou de chegar e foi jogar bola com os meninos, [por exemplo]”, conta Cecília Bringel.
Jogadoras do Chelsea Feminino em momento de descontração (Foto: arquivo pessoal)
Atualmente, ela divide as responsabilidades do time Chelsea Feminino com o companheiro, Ricardo, e os jogos do time acontecem toda sexta à noite.
“Tinham muitas meninas que jogavam bola antigamente e pararam por causa da correria do dia a dia de nós, mulheres, trabalhar, cuidar de filho, de casa, essas coisas”, conta Cecília sobre como surgiu a ideia de criar o time, que hoje é formado por 28 mulheres.
Cecília também é diretora e técnica do projeto FutVida, iniciativa criada em 2019, pela Maria Amorim, também moradora de Parelheiros e uma das lideranças socioculturais do território.
Maria Amorim é fundadora e jogadora do time Apache Feminino. (Foto: arquivo pessoal)
Educadora social e pedagoga, Maria, junto com o seu companheiro, o Beto, fundou o time Apache Feminino e a Liga Feminina de Futebol Amador de Parelheiros.
Nascida no Ceará, Maria sempre jogou futebol, desde a infância. Ao se mudar para São Paulo, com 8 anos, passou a ter maior contato com o esporte dentro da escola. “Não por vontade dos professores, mas por insistência minha, porque eu lembro de diversas vezes em que o professor me colocava para sentar ou me dava outra opção esportiva enquanto os meninos jogavam futebol”, compartilha Maria.
Maria sempre gostou de futebol e hoje entende que pode trabalhar de diversas formas a partir do esporte. Ela aponta que a importância e resistência da presença de mulheres no futebol vai além de estar em campo jogando.
“Na várzea eu posso jogar, eu posso gerir um time, ser técnica, ser responsável de um campo. Posso vender meu churrasquinho para tirar a minha renda. Posso estar inserida ali independente dos olhares, das críticas e do preconceito. Eu consigo e eu posso ocupar esse lugar de alguma forma”
Maria Amorim é técnica e diretora do time masculino Onze Veteranos, criadora do time Apache Feminino e da Liga Feminina de Futebol Amador de Parelheiros.
Equipe do Apache Feminino. (Foto: arquivo pessoal)
Além de criadora do time Apache Feminino e da Liga Feminina de Futebol Amador de Parelheiros, a profissional também é técnica e diretora do time masculino Onze Veteranos.
Além das quatro linhas
Os desdobramentos do futebol de várzea feminino vão além do jogo. Alguns times, por exemplo, organizam rodas de conversas para auxiliar na saúde física e mental de mulheres. Por vezes, competir e vencer não é o mais importante na várzea feminina.
Crianças do projeto FutVida. (foto: arquivo pessoal)
Juntas, Cecília e Maria tocam o projeto FutVida que busca inserir crianças no esporte. “Hoje, a gente atende mais de 100 crianças em duas comunidades aqui no Jd. São Norberto e Nova América”, conta Maria. A iniciativa é gratuita e atende crianças de 6 a 15 anos.
Atualmente, 15 dessas crianças são meninas, sendo que as entrevistadas apontaram vários motivos para a baixa participação de meninas, como a falta de apoio ou a proibição dos pais, por vezes essas meninas são responsabilizadas pelas tarefas domésticas e pelo cuidado dos irmãos desde cedo.
Todas as jogadoras que participaram da 3ª edição do “Maior Festival Feminino de Várzea do Mundo” receberam medalhas.
Outra iniciativa que também tem uma mulher à frente, é a Liga Feminina de Futebol Amador de Parelheiros, criada pela Maria e o Beto, seu companheiro, que reúne mais de 100 equipes. “A Liga surge para entender onde estão essas equipes, como a gente faz para se unir, para se organizar e competir também”, conta Maria sobre a criação da Liga em 2016.
A partir da atuação da Liga, em 2022, junto com a historiadora Aira Bonfim, em um projeto de extensão da universidade PUC, várias equipes femininas de futebol de várzea foram mapeadas. “O mapeamento surge a partir da pergunta que muitas pessoas faziam, ‘mas tem futebol feminino?’. Foi a partir dessa pergunta também que eu decidi fazer o festival”, coloca Maria.
“A gente quer ver meninas de 13 anos jogando, mas a gente quer ver mulheres de 50 anos jogando também. Então, a liga surge para essa organização do futebol de várzea”, afirma.
A 3ª edição do festival foi realizada em julho de 2023, no Parque Sete Campos, em São Paulo. O evento foi totalmente gratuito, reuniu 80 times de futebol feminino e mais de 1.000 jogadoras.
Apoio e articulação
A historiadora Aira Bonfim, lembra que, no Brasil, o futebol feminino foi proibido por lei durante quase 40 anos, entre 1941 até 1979. “O futebol ajuda a entender muitas realidades desse período. As mulheres já estavam fazendo as mesmas coisas que a gente faz hoje, de tensionar essas questões na sociedade”, coloca a historiadora.
Aira ressalta a necessidade de olhar essa atuação para além do ato de jogar. “É importante essas meninas terem sim o sonho de se tornarem profissionais, mas por vezes, o sonho é apenas jogar futebol, que nem isso às vezes é acessível”, coloca.
Mesmo com as diversas ações realizadas dentro e fora de campo, Maria aponta a falta de investimento ainda como uma das dificuldades na prática do futebol feminino, seja ele na várzea ou profissional. Ela também ressalta que os comércios locais que apoiam financeiramente os times de várzea masculino, não dão valor quando se trata do futebol feminino.
“Ninguém quer investir e a gente está falando de política pública também, porque hoje o futebol masculino tem investimento de políticas públicas e a várzea feminina não tem”, reforça Maria.