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A privatização do transporte público#16

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Nesse episódio nossa conversa é sobre privatização do transporte público. Como esse negócio lucrativo para as empresas é sinônimo de precariedade para os trabalhadores e passageiros.

Quem chega com a gente nesse papo é o Lucas Dametto, do Comitê CPTM e o Sandro Oliveira, que é cientista social e pesquisador do Centro de Estudos Periféricos. 

O Cena Rápida tem episódios novos quinzenalmente, sempre às quartas, disponivel gratuitamente no Google Podcasts, Spotify e Youtube.

Ficha técnica:
Roteiro, apresentação e entrevistas – Evelyn Vilhena
Distribuição – Samara da Silva e Thais Siqueira
Produção audiovisual – Pedro Oliveira
Identidade visual – Flávia Lopes
Vinheta e edição – Jonnas Rosa

“Efeito pandemia” se reflete em cobertura vacinal abaixo da meta na cidade de São Paulo

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Glabia Soraia Andrade Silva, de 45 anos, confia na ciência. Mesmo assim, a família dela está com a vacinação atrasada. O filho mais novo, de 9 anos, tem asma e, por isso, a mãe ficou receosa de que ele se infectasse na ida à unidade básica de saúde (UBS) em plena pandemia. Hoje, o caçula e a filha do meio, de 16, precisam atualizar a caderneta. Entre as pendências, estão as proteções contra gripe, Covid-19 e HPV.

“No meu caso, eu não fiquei com medo da vacinação em si, mas da quantidade de pessoas circulando e que poderiam transmitir outros vírus”, garante Glabia, que mora na periferia da zona Noroeste de São Paulo. Profissionais de saúde do posto que abrange a casa dela já mandaram mensagens pelo WhatsApp convocando a educadora, que pretende voltar à UBS o quanto antes.

O caso de Glabia não é isolado.

Na capital paulista como um todo, a maioria das vacinas previstas na cobertura básica está com taxas abaixo da meta de imunização. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) da Prefeitura de São Paulo, no segundo trimestre de 2023 apenas a BCG (que protege contra a tuberculose) atingiu o objetivo de imunizar mais de 90% do público-alvo. Confira na tabela abaixo.

Aos poucos, a cidade de São Paulo vem ampliando a cobertura desde o período mais crítico da pandemia até o momento. Mas a velocidade ainda é vagarosa, como fica evidente no gráfico abaixo.

Em âmbito nacional, o número de crianças que não receberam nenhuma dose da vacina pentavalente (contra difteria, tétano e coqueluche) caiu de 710 mil para 430 mil, entre 2021 e 2022, com avanço de 5 pontos percentuais na cobertura vacinal, que chegou a 84%. Para a vacina contra a pólio, o aumento da cobertura foi de 6 pontos percentuais no período, indo para 77%. Já a cobertura vacinal contra o sarampo atingiu 81% – superior à cifra de 73% em 2021, mas aquém dos 91% de 2019.

De acordo com especialistas, vários fatores explicam a baixa cobertura vacinal. Um deles é a sobrecarga nos serviços de saúde durante a pandemia, quando as equipes priorizaram o combate à Covid-19. A ideia de que as unidades seriam ambiente propício para infecção do vírus desconhecido também contribuiu para afastar o público.

Outro elemento que impactou negativamente a confiança da população nos imunizantes foi a campanha de desinformação que desacreditou a eficácia da vacina contra a Covid-19, liderada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

“Mesmo depois de um ano de controle da Covid, a cobertura vacinal não melhorou muito – e esse é um detalhe importante. Não tem mais a ver com a dificuldade para que familiares consigam buscar as unidades, mas com esse movimento de negacionistas que começaram a botar medo, de que ia ter problema de reação [adversa], etc.”, observa o médico sanitarista Jorge Kayano, pesquisador do Instituto Pólis e integrante da Rede Nossa São Paulo.

Dose a menos

Glabia nota um enfraquecimento das campanhas de imunização desde o governo de Michel Temer (MDB). Durante a gestão foi aprovado o teto de gastos (Emenda Constitucional n.º 95/2016), que limitou os investimentos públicos federais pelo período de 20 anos, incluindo medidas de conscientização. A educadora sugere que o poder público adote medidas como a vacinação em espaços abertos, reduzindo o risco para crianças com maior vulnerabilidade, como é o caso de seu filho.

Glabia (à esq.), o filho Murilo e a filha Bruna: vacinação atrasada (foto: Arquivo pessoal)

Como trabalhadora da educação, ela percebe ainda uma falta de sintonia entre diferentes órgãos para monitorar crianças e adolescentes com a caderneta atrasada ou para facilitar o acesso das famílias em dias e horários alternativos aos das UBS. As unidades de saúde geralmente funcionam de segunda a sexta-feira, entre 7h e 19h, quando muitas pessoas estão trabalhando.

As aulas de Ciências de Djalma Sobral, 56, se tornaram estratégicas para desmentir mensagens enganosas. O professor leciona em escolas municipais e estaduais do Jardim Ângela e Capão Redondo (zona Sul de São Paulo) e observa que muitas famílias alegam falta de tempo para levar as crianças para tomar a vacina. Ainda assim, um grupo menor aponta a desconfiança com os imunizantes.

O boca-a-boca ainda faz a diferença para quem circula pelos territórios.

“Acho que deveria ter mais informação para a população aderir à vacinação. Temos as fake news que acabam atrapalhando atingir o público-alvo, principalmente da periferia, que se sente excluído da verdade”, reflete Genésio da Silva, 54, que é conselheiro gestor da AMA UBS Jardim Capela, da Supervisão Técnica em Saúde M’Boi Mirim e de outros equipamentos de saúde da zona Sul de São Paulo.

Mais do que fiscalizar os serviços, Genésio é a ponta de contato entre a comunidade e as unidades. Além de confirmar ou desmentir mensagens que a população recebe, também encaminha demandas como a vacinação a domicílio, especialmente para pessoas idosas e com deficiência. “Após nosso questionamento com a UBS, tivemos mais êxito para chegar até a população local”, garante.

Cobertura desigual

Apesar de o Brasil já ter sido considerado modelo ao redor do mundo por conta do Programa Nacional de Imunização (PNI), a realidade nas diferentes regiões do país é muito contrastante. Com a pandemia e o “jogo contra” do governo Bolsonaro, ficou evidente uma situação de desigualdade vacinal.

O relatório “Desigualdade no acesso a vacinas contra a Covid-19 no Brasil”, publicado em novembro pela Oxfam Brasil, aponta que 35 milhões de pessoas não têm acesso a um posto de saúde no país.

Com cerca de 687 mil mortes causadas pela Covid-19 até outubro de 2022, o país era superado apenas pelos Estados Unidos no número total de óbitos nas Américas. No continente, o coeficiente de mortalidade (323,31 óbitos por cada 100 mil habitantes) só foi menor que o do Peru. Ainda assim, no período analisado, o Brasil figurava apenas em 15º lugar no ranking de países americanos em cobertura vacinal primária: apenas 78% da população com mais de 3 anos já havia completado o ciclo de imunização.

A falta de acesso a um posto de saúde e a existência de unidades sem equipamentos ou profissionais são reflexos da desigualdade sanitária, causada por uma conjunção de fatores socioeconômicos, territoriais, de gênero e étnico-raciais. Com o segundo maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o Estado de São Paulo foi o único a superar a meta vacinal, com 91% da população prioritária imunizada contra Covid-19 no período analisado.

Na cidade mais rica do País, a Prefeitura propagandeia São Paulo como a “capital mundial da vacina”. Mais de 12,3 milhões de pessoas tomaram a primeira dose contra a Covid-19, enquanto 11,7 milhões tomaram a segunda dose. Isso leva a um índice de mais de 100% da população elegível imunizada, o que indica que residentes de outros municípios se locomoveram até a capital para se vacinar.

Porém, a taxa cai significativamente quando considerada a dose de reforço bivalente aplicada a partir de fevereiro de 2023, como mostram os números abaixo.

Para ampliar a cobertura, de 17 de julho a 31 de agosto de 2022, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de São Paulo, criou postos de vacinação contra Covid-19 e também contra o vírus influenza da gripe em terminais de ônibus, estações de trem e metrô. Mais de 112 mil doses foram aplicadas com essa estratégia.

Em relação às vacinas infantis previstas no calendário de imunização, a assessoria de imprensa da SMS afirma que tem investido em divulgação constante sobre a segurança e eficácia dos imunizantes. Também atua na busca ativa por agentes comunitários de saúde (ACS), que trabalham nas 470 UBS do município.

Nas escolas municipais, as famílias receberam no início do ano a Declaração de Vacinação Atualizada (DVA). Responsáveis pelas crianças devem levar o cartão à UBS de referência para atualização e preenchimento da caderneta, que deve ser devolvida à unidade escolar. Após análise conjunta pela SMS e Secretaria Municipal de Educação (SME) de São Paulo, outras estratégias combinadas são realizadas, como a busca de estudantes que não entregaram a DVA e a vacinação nas escolas com baixa devolução do documento.

Em nível federal, o Ministério da Saúde escalou a apresentadora Xuxa para aparecer nas campanhas pela multivacinação ao lado do mascote Zé Gotinha

É preciso avançar

O médico Jorge Kayano indica que a estratégia adotada pela Prefeitura paulistana é similar ao orientado pelo Ministério da Saúde, que incentiva a busca ativa de famílias com crianças que estejam com a vacinação atrasada. Ao cruzar as informações no banco de dados, as equipes das UBS conseguem identificar, entrar em contato com responsáveis e, se for o caso, agentes comunitárias de saúde visitam essas casas.

Jorge Kayano, médico sanitarista (Arquivo pessoal)

Kayano ressalta que a medida é importante, pois as pessoas de fato podem se esquecer da vacina. Porém, é necessário ir além. O sanitarista reforça que é preciso criar alternativas para que as pessoas consigam se imunizar, com espaços de vacinação em parques, shoppings e locais de trabalho, inclusive à noite e aos finais de semana.

“Com esse problema do desemprego, muita gente tem o maior medo de faltar ou acabar tendo problema no trabalho por levar criança para tomar vacina”, salienta Kayano.

Ao mesmo tempo, é importante combater a desinformação na internet, inclusive com punição e bloqueio a quem propaga fake news sobre vacinas. “[A desinformação] pode custar muito caro para as crianças. Se tiver algum surto de doenças que poderiam estar sendo prevenidas por vacinas, a coisa pode ‘pegar’ muito sério”, diz ele.

E por fim, Kayano defende uma campanha de educação permanente que envolva toda a sociedade para reforçar a importância das vacinas. “Essa é a primeira geração de pais que não conhecem as doenças, porque estão vacinados contra elas. E aí, [como estão protegidos] fica a impressão de que a vacina não tem tanta importância”, diz ele.

Enquanto isso, a Covid-19 ronda o mundo: a variante éris, identificada primeiramente na Europa, já circula pelo Brasil. Apesar de ser considerada menos letal que as demais, a nova cepa pode ser mais contagiosa.

E você, está com a vacinação em dia?

Essa reportagem faz parte da ação da Oxfam Brasil sobre desigualdade no acesso a vacinas. Mais informações em http://www.oxfam.org.br/vacina-e-desigualdades.

Feira Literária da Zona Sul lança vaquinha oline para arrecadar 15 mil reais 

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Venda de livros durante a 8ª Feira Literária da Zona Sul. Foto: Will/2022.

A Feira Literária da Zona Sul realizada está mobilizando esforços por meio de uma campanha de financiamento coletivo para arrecadar R$ 15 mil, disponível na plataforma Vakinha online até 18 de setembro, com intuito de promover a compra de livros, por escolas públicas e coletivos culturais da cidade, durante o  encerramento da 9ª edição da Felizs, com data marcada para, 23, de setembro na Praça do Campo Limpo, zona sul de São Paulo.  

Suzi Soares, professora e produtora cultural da Feira Literária da Zona Sul, conta que a expectativa é ampliar o valor para que mais escolas possam ser contempladas, aumentando a possibilidade de vendas das editoras e autores. 

“Este ano temos confirmado 15 ônibus de escolas públicas da região e também serão beneficiados alguns poetas e artistas do Sarau do Binho. Se conseguirmos ampliar o valor arrecadado na vakinha, poderemos ampliar o número de beneficiados e os valores que cada um receberá”

Suzi Soares

Chegando na 9ª edição a  Feira Literária da Zona Sul – a FELIZS já faz parte do calendário cultural da cidade de São Paulo, sendo realizada por produtores culturais e artistas que fazem parte do Sarau do Binho, um dos movimentos artísticos precursores da cultura dos saraus na zona sul da cidade.

Para doar: Aqui

Data: até 18 de setembro

Curso gratuito forma desenvolvedores nas periferias para trabalhar em empresas de tecnologia

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Estão abertas as inscrições para as próximas turmas do curso de tecnologia, voltado para formação de desenvolvedores, realizado pela Generation Brasil, organização social que investe em educação com foco em empregabilidade. O curso é totalmente gratuito e engloba diferentes linguagens de programação como: Java, React JS, HTML, CSS, JavaScript, MySQL, Spring Boot, entre outras, centralizadas em uma metodologia de Bootcamp Java e JavaScript.

A proposta do curso é proporcionar uma aprendizagem intensa e acelerada para quem tem vontade de se inserir no mercado de tecnologia, portanto é necessário ter interesse e disposição para aprender e se aprimorar. As inscrições para o curso estão abertas até o dia 20 de setembro e o formulário está disponível para ser acessado neste link.

“Eu entrei sem saber declarar uma variável e hoje trabalho na construção do backend de uma das maiores instituições financeiras da América Latina”, diz Lucas Queiroz, morador de periferia e um dos participantes do curso de formação de programadores.

Lucas é formado em Publicidade e Propaganda. Após concluir a graduação, ele tentou oportunidades de trabalho na área, mas não conseguiu uma colocação no mercado. Sendo o único responsável pelo sustento de sua família, o jovem se inscreveu no curso de tecnologia da Generation Brasil para ampliar as suas oportunidades de introdução no mercado de trabalho e construção de uma carreira.

Créditos: Foto Divulgação

Nesta edição do curso, as vagas são voltadas para pessoas com 18 a 30 anos moradoras de São Paulo ou da região metropolitana, que enfrentam dificuldades socioeconômicas e ou pertencem a grupos sub-representados na área da tecnologia, como: mulheres, pessoas negras e para a comunidade LGBTQIAP+. Além disso, é necessário ter o ensino médio completo.

Com duração de três meses, as próximas turmas começam em outubro e novembro. As aulas são ao vivo e é necessário dedicação em tempo integral de segunda a sexta, das 8h às 17h. Em formato híbrido, com a maioria das aulas on-line, tendo alguns encontros presenciais, que são obrigatórios, o curso proporciona o desenvolvimento de habilidades técnicas e comportamentais orientadas para o mercado de trabalho, mentoria de carreira, suporte psicológico e de equipamento quando necessário.

Thiago Martins também foi aluno da Generation e conta um pouco da sua experiência. “Foi muito mais do que eu esperava, quando eu entrei na Generation e vi o apoio que tinha: ‘se você não tiver o notebook a gente vai te emprestar, se você precisar de internet a gente vai auxiliar’. Foi algo que realmente mudou minha vida”, relata.

Para além das aulas e dos suportes, a Generation viabiliza a conexão das pessoas formadas com empresas parceiras através da feira de talentos, da plataforma de empregabilidade e outros eventos.

Créditos: Foto Divulgação

Desde 2019, a Generation Brasil já formou mais de 2.500 pessoas, sendo que 80% dos concluintes do curso começam a trabalhar em até 6 meses. O objetivo da ONG é proporcionar educação para o emprego, transformar a empregabilidade em tecnologia no país e gerar oportunidades reais para pessoas que foram vulnerabilizadas.

As inscrições para o curso estão abertas até o dia 20 de setembro e o formulário está disponível para ser acessado neste link.

Laboratório gratuito para criação de games abre inscrições para jovens negros e indígenas

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A formação online é aberta para jovens de todo o país e as inscrições acontecem até 03 de setembro. Para participar, é necessário ter conhecimentos de design e programação. 

Como forma de impulssionar a presença de jovens negros, indígenas e de periferias do Brasil na área da tecnologia, os coletivos GatoMídia e TALES estão com inscrições gratuitas abertas para o LAB Afro-ameríndio Narrativas Gamificadas. Voltado para o aprendizado e criação de jogos eletrônicos, o projeto é voltado para pessoas entre 15 e 29 anos, que atuam com design, audiovisual, artes visuais, mídias digitais ou que tenham conhecimento básico de programação. As inscrições vão até o dia 3 de setembro, através do formulário online (acesse aqui).

“É importante combater a ideia de que a produção de tecnologia deva ser privilégio ou prerrogativa de uma elite social ou econômica. Acreditamos que a raiz de toda tecnologia está intrinsecamente ligada à cultura e a saberes ancestrais. Por isso, alcançar o universo da tecnologia e da criação de games será mais uma consequência desse protagonismo”.
João Araió, coordenador pedagógico do GatoMídia

LAB com inscrições para oficinas de criação de games para jovens

O LAB terá início em 12 de setembro, com duração de três meses e será dividido em quatro ciclos criativos, que abordarão desde a teoria até a criação real de um jogo. Neste período, o participante terá acesso a oficinas e mentoria de desenvolvimento de games baseados em narrativas orais e cosmologias de culturas indígenas e afro-brasileiras. Todo o curso será online, pelo aplicativo Zoom.

A partir do primeiro ciclo, os participantes vão se dividir em times e começar a trabalhar no seu jogo. Durante o LAB, os processos criativos serão divididos em linguagens: storytelling, design e programação. Ao fim, serão realizadas apresentações e mentoria com profissionais da área e estúdios de games que vão ajudar na elaboração do protótipo digital de cada produto. 

O LAB será conduzido por profissionais engajados com a luta antirracista. Entre eles, a pesquisadora de literatura indígena Trudruá Dorrico, do povo Macuxi; o roteirista e escritor Renato Noguera; a designer gráfica, ilustradora e grafiteira Auá Mendes, do povo Mura; a artista carioca e “sampleadora visual” Amora Moreira; e o diretor de tecnologia e cofundador da startup HIT Jonas Alves. A equipe da Aoca Game Lab, de Salvador (BA), que desenvolveu o jogo Árida, também está entre os colaboradores.

A GatoMídia é uma rede de aprendizagem em mídia e tecnologia voltada para jovens negros e indígenas, moradores de favelas e periferias do Brasil, e tem esses territórios como metodologia e principal referência em produção de conhecimento, tecnologia e inventividade.

Serviço

LAB Afro-ameríndio Narrativas Gamificadas
Inscrições até 03/09/23 por este link
Início: 12 de setembro
Podem participar jovens negres e indígenas entre 15 e 29 anos que atuam nas áreas de design, audiovisual, artes visuais, mídias digitais ou que tenham um conhecimento básico de programação.

“A gente ficou 40 anos proibidas de jogar”: Maria Amorim propõe reparação histórica para o futebol feminino

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Para além dos resultados obtidos com a bola em campo, a Copa do Mundo Feminina, 2023, explicitou as diferentes e acentuadas dificuldades e desigualdades que os times femininos, ainda hoje, enfrentam. “O futebol feminino profissional quanto a investimento, não está nem 1% comparado com o masculino”, afirma Maria Amorim, 38.

Apaixonada por futebol, Maria é uma mulher preta, cearense, periférica, mãe do Lucas, de 18 anos, da Ana, de 13, e companheira do Beto. Ela é moradora de Parelheiros, extremo sul de São Paulo, joga futebol desde criança e como educadora social viabiliza que meninas e mulheres da periferia pratiquem esse esporte, que frequentemente é dito como masculino.

Moradora de Parelheiros, além de jogadora, Maria também é ativista em defesa do futebol feminino (foto: arquivo pessoal)
Moradora de Parelheiros, além de jogadora, Maria também é ativista em defesa do futebol feminino (foto: arquivo pessoal)

“Eu diria que [sou] ativista da modalidade feminina, sempre buscando ocupar lugares majoritariamente masculinizados, que nunca sonhou em ser jogadora profissional, mas que sempre teve dentro de si a luta pela modalidade, que decidiu brigar por esses espaços, que não é só meu, mas de todas as mulheres que querem jogar e praticar futebol independente de se profissionalizar ou não”.

Maria Amorim. educadora social de Parelheiros.

O futebol de várzea, predominante nas periferias, é a principal área de atuação de  Maria. Ela é fundadora, junto com seu companheiro Beto, do time Apache Feminino e da Liga Feminina de Futebol Amador de Parelheiros, que reúne 110 equipes. Maria também é técnica e diretora do time masculino Onze Veteranos. Em 2019, ela criou e hoje conduz o projeto FutVida, que insere crianças de 6 a 15 anos no esporte.

As treinadoras, Maria Amorim e Cecília Bringel, e as crianças do projeto FutVida (foto: arquivo pessoal)

Futebol de base: peneira e investimento

No entanto, Maria também contribui com perspectivas sobre o futebol feminino profissional, somando com as visões e as realidades que há nas periferias. “O futebol feminino hoje, falando desde o profissional, que respinga no amador, eu acho que tem muito uma [questão de] reparação [histórica], né? A gente ficou 40 anos sem jogar futebol, 40 anos proibidas de jogar.” a educadora traz um contexto histórico e desdobramentos atuais sobre o assunto.

“A Federação [Paulista de Futebol], recentemente, criou a peneira sub 17. Isso é muito bom, porque na minha época não tinha peneira. Uma peneira sub 17 da Federação oportuniza as meninas a participarem e [serem visibilizadas e analisadas pelos] responsáveis de clubes. Só que tinha uma questão muito forte, que era o atestado médico”, menciona a treinadora.

Maria também relata sobre uma constatação que ela expôs em uma reunião, que ocorreu na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), solicitada pela Deputada Leci Brandão, em defesa do futebol feminino, que reuniu integrantes do futebol de várzea, do profissional e a ex-coordenadora da Federação Paulista de Futebol, Thais Picarte, em 2022.

“Na minha fala, eu trouxe que entendo totalmente que o atestado médico seja necessário, mas a forma como ele é pedido é muito burocrático. Uma mãe de Parelheiros não vai faltar um dia de trabalho, para levar a menina ao médico, para conseguir um atestado.”

Maria Amorim, fundadora da Liga Feminina de Futebol Amador de Parelheiros.

Ela ressalta que a demora para ter atendimento é outro problema que surge ao levar meninas ao médico, no SUS, para conseguir o atestado médico. “Para ter esse atestado, o médico vai pedir exames. Então, estava tendo menos meninas pretas nas peneiras. E aí, eu trouxe essa reflexão: onde é que estão as meninas pretas? Na periferia, esse caminho para a menina chegar até à peneira é muito longo.” complementa.

Maria acrescentou também, nesta reunião, que uma realidade recorrente nas periferias é a situação das mães solos, que não podem arriscar a fonte de renda da família, faltando ao trabalho, para acompanhar as filhas nesses processos. Ela destacou e reivindicou que, “as instituições, a confederação têm que achar um caminho”.

Reunião na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) realizada em 2022, em defesa do futebol feminino. (foto: arquivo pessoal)

As colocações da educadora social trouxeram resultados. “Esse ano de 2023, na própria peneira, eles colocaram um médico à disposição, então a menina podia ir sem um atestado médico, lá passava pelo médico da Federação e fazia o atestado na hora. Então, já foi uma possibilidade que encurtou muito o caminho das meninas”, conta Maria.

Apesar da conquista, iniciativas e dos demais feitos realizados, a educadora social diz que se preocupa muito com o cenário do futebol feminino devido à falta de valorização. “Na periferia tem muita menina boa de bola. Então, qual seria o futuro ideal para o futebol feminino? Clubes grandes, instituições como a Federação, olhar para o futebol feminino e implantar projetos, fazer parcerias com projetos já existentes”, sugere Maria. Ela menciona que o ideal é ter investimento e suporte para que no futuro essas meninas sejam selecionadas para jogar profissionalmente.

“Hoje, cada clube profissional só tem um time feminino, porque é obrigatório, ou seja, se vai participar de uma Libertadores, se o clube tá dentro da Conmebol, ele precisa ter um time feminino. Por isso que os grandes clubes têm, porque senão, não tinha”

Maria Amorim é técnica e diretora do time masculino Onze Veteranos.

Em contrapartida, a educadora social, através do projeto FutVida, busca aproximar e tornar possível o acesso de meninas e adolescentes, dos bairros Jd. São Norberto e Nova América, na zona sul de São Paulo, ao futebol. “A gente que é de periferia, quando decide montar um projeto e trazer as meninas para o esporte, a gente tem que buscar estratégias para que ela continue praticando, juntamente com a família”, argumenta a educadora, mencionando que é preciso fortalecer os vínculos com os pais como um caminho para tornar esses processos colaborativos, a fim de criar redes de apoio para as meninas que sonham em jogar futebol.

“Tem um ditado africano que a gente leva muito pra vida [que diz], ‘que é necessário toda uma aldeia para cuidar e educar uma criança’. E é isso que a gente faz com os nossos movimentos. A gente precisa estar junto. A gente precisa fazer essa construção coletiva”, conclui Maria.

Aloysio Letra reflete sobre ancestralidades em seu novo trabalho intitulado “DEPOIS”

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O lançamento reúne MPB dos anos 80 e 2000, e mistura influências das tradições negras do candomblé, com participações de Luedji Luna e François Muleka.

O novo projeto do cantor e músico Aloysio Letra é guiado por temas como saúde mental, luto e fé, retratados a partir das subjetividades da sua realidade como homem negro e periférico. O artista realizará uma série de apresentações para compartilhar seu novo repertório. O EP já está disponível em plataformas como o Youtube e streamings de música.

“Tento responder como é a sensibilidade de pessoas pretas sobreviventes do genocídio da população negra. Falo de ‘futuridades’. Reflito sobre como lidar com as perdas e, sobretudo, como buscar forças para prosseguir. Este é um acalanto musical afetivo e intimista.”
Aloysio Letra, cantor e compositor

Ancestralidade

Composto por 4 faixas autorais, a sonoridade de “Depois” dialoga diretamente com a MPB dos anos 80 e 2000, misturando influências das tradições negras do candomblé, das atmosferas musicais de Salif Keita, do pop de Sade Adu, da própria música popular brasileira e da instrumentação de orquestra de câmara. 

“Aqui homenageio o grande amigo e parceiro na cultura, que perdi em 2017, Daniel Marques Sundiata. Foi esse registro que me abraçou em tempos que, para mim, foram muito difíceis”, compartilha o artista. 

O ator e dramaturgo Jé Oliveira, está entre as participações especiais do projeto, na faixa-título. Ao lado dele, na mesma composição, o pianista Fábio Leandro, do Aláfia. A faixa “Áfrika”, conta com a participação da cantora e preparadora vocal Estela Paixão, também integrante do Aláfia. Nesta mesma música, François Muleka traz suas texturas e linhas de contrabaixo. Ainda no time que compõe a canção está a cantora Luedji Luna.

“É importante se vestir de ternura para enfrentar as lutas. Ter amor em si, afetos diversos que podem ser celebrados. Celebrar as lutas de outres, torcer pelo bem viver coletivo da população preta periférica. Desejo passar um legado coletivo de sobrevivência, porque apesar de ser um trabalho solo, há uma preocupação de pluri-protagonismo, ou seja, de transmitir que para um trabalho como esse ser possível e partir das periferias para o mundo, os trabalhos de várias pessoas foram necessários ao longo da construção. Esse é um trabalho de uma pessoa que é ‘cria’ dos saraus das periferias e dos movimentos de cultura das periferias das últimas duas décadas”.

Aloysio Letra, cantor e compositor.

Novo ep de Aloysio Letra tem lançamento em espaços culturais das periferias de São Paulo.
Novo ep de Aloysio Letra tem lançamento em espaços culturais das periferias de São Paulo.

Nos próximos meses, Aloysio Letra realiza uma série de shows pela cidade de São Paulo. Confira a agenda dos lançamentos:

Serviço

29/08/23 – Lançamento do EP e audição 
Ocupação Cultural Mateus Santos, às 19h
Av. Paranaguá, 1633 – Jardim Belém, São Paulo – SP, 03809-170
Duração 1h30

17/09/23 – Centro de Culturas Negras do Jabaquara Mãe Sylvia de Oxalá – CCN Jabaquara, às 18h
R. Arsênio Tavolieri, 45 – Jabaquara, São Paulo – SP, 04321-030
Duração 1h20

29/09/23 – Centro Cultural Tendal da Lapa, às 20h
R. Guaicurus, 1100 – Água Branca, São Paulo – SP, 05033-002
Duração 1h20

01/10/23 – Centro Cultural da Penha, às 19h
Largo do Rosário, 20 – Penha de França, São Paulo – SP, 03634-020
Duração 1h20

Drag queer relata os desafios da cultura drag nas periferias

Durante a 2ª temporada do Favela Drag 2023,  projeto cultural, que aconteceu, no último sábado, 19, na Casa de Cultura Vila Guilherme – Casarão, zona norte de São Paulo, Vitória Rosendo, aluna do Você Repórter da Periferia – programa de educação midiática promovido pelo Desenrola e Não Me Enrola –, entrevistou Júpter, 28,  drag queer,  com três anos de atuação no cenário cultural. 

A cultura drag queen é um estilo artístico que envolve diversidade de raça, etnia e identidade de gênero, um exemplo, é a arte drag queer, que possui uma estética não-binária. Ela também abrange uma ampla gama de estilos e abordagens artísticas, desde arte conceitual a performance política. 

Júpter e Vitória Resendo durante o Favela Drag 2023. Foto: Jéssica Zuza, aluna do Você Repórter da Periferia/Agosto 2023.

Em entrevista ao Você Repórter da Periferia, Júpter relata que sua primeira referência nas formas de se vestir foi sua mãe.  Sempre com roupas elegantes e saltos impecáveis, mesmo nas atividades do dia a dia, como uma ida à padaria. Com o passar dos anos, outras referências passaram a fazer parte das suas inspirações, entre elas, David Bowie. Ela também compartilha os desafios de se viver da arte drag nas periferias e como essa forma de expressão impacta positivamente sua vida e aqueles ao seu redor.

Você Repórter da Periferia: Qual a importância da cultura drag para os territórios periféricos?

Júpter: Eu acho que é importante as pessoas se expressarem do jeito que elas quiserem. A realidade de uma pessoa periférica é totalmente diferente de outros ambientes. Trazer isso para nossa visão Drag Brasil é muito importante, porque a gente tem aquela coisa do Rupaul’s, né? Daquela coisa da drag refinada, as drags que têm muito acesso financeiro e aos espaços. Então, quando a gente pega essa realidade das pessoas que vêm dos extremos da cidade, o modo de se fazer arte é bem diferente, é uma arte muito cara.

Você Repórter da Periferia: Quais são os principais desafios de se viver da arte Drag Queen na periferia?

Júpter: Comprar uma maquiagem, os produtos são caríssimos, mas é um papo de acesso mesmo […] o acesso a espaços também é uma coisa que limita, não é somente o acesso econômico no sentido de comprar maquiagens, muitas vezes os espaços, não querem pagar o que a gente precisa, né? E essa é a maior problemática, porque eles querem que a gente vá, que a gente seja bonita, mostre tudo que a gente tem para mostrar. Só que eles não dão condições para isso, nenhuma ajuda de custo, na verdade pouco importa a pessoa por trás da drag, né? Só importa o que está ali, se ela tá impecável, se ela tem a melhor maquiagem, se ela tem o melhor look e a drag ela vem muito antes, né? É toda essa construção de dores do lugar de onde a gente veio, do que a gente quer. Existe certa misoginia quando uma mulher queer se colocar nesse lugar de drag.

Você Repórter da Periferia: Como você enxerga o seu trabalho nos dias atuais e qual o seu impacto?

Júpter: Estou tentando enxergar o meu trabalho de uma forma assim, mais gentil comigo mesmo. Eu acho que até essa coisa do impostor é uma coisa muito de uma vivência feminina, né? Porque a gente nunca é boa o suficiente, você nunca é bom se sente nada, então a gente fica tentando se provar. O que eu tô fazendo tem um valor, né? Eu estou conseguindo alcançar alguém? Também acho que é importante lembrar que as pessoas que estão nesses lugares, elas não tiveram as mesmas oportunidades que você teve, também tem essas questões, né?

Você Repórter da Periferia: Qual é a sua maior motivação?

Júpter: […] acho que a minha motivação é a liberdade de ser quem eu quiser, e eu gostaria muito de poder viver disso óbvio, é difícil,  estou trabalhando em outros espaços, não só como Júpter, mas como a Isis que também existe, a pessoa por trás disso. Tô tentando voltar para o teatro. Então eu acho que a motivação é essa, tipo: ser quem eu quiser, porque a arte me permite isso, e tô querendo viver disso, se a drag vai me proporcionar isso? Eu não sei. Vou entender daqui um, dois anos, eu espero estar fazendo isso em condições melhores, né? Em espaços que me apoiam com mais suporte financeiro e emocional, né?

O direito à vida da população preta e periférica #15

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Nesse episódio a conversa é sobre como a política de segurança pública atravessa corpos pretos e periféricos, e a atuação de movimentos que lutam pela garantia do direito à vida na quebrada.

O papo é com a Marcia Gazza, coordenadora do movimento Mães da Leste, e com a Edijane Alves, da Rede de Proteção e Resistência Contra o Genocídio.

O Cena Rápida tem episódios novos quinzenalmente, sempre às quartas, disponivel gratuitamente no Google Podcasts, Spotify e Youtube.

Ficha técnica:
Roteiro, apresentação e entrevistas – Evelyn Vilhena
Distribuição – Samara da Silva e Thais Siqueira
Produção audiovisual – Pedro Oliveira 
Identidade visual – Flávia Lopes
Vinheta e edição – Jonnas Rosa
Fotografia: Sérgio Silva

“Eles foram soterrando nascentes”: educadora ambiental passou mais de 20 anos lutando contra poluição de rios nas periferias do pé da Serra da Cantareira

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“Eu falo que cada periférico é um sem-terra também, [pois] ele não tem um grande latifúndio, não tem dinheiro e nem riqueza acumulada. Ele é um sem-terra, entendeu?”. Essa fala é de Maria Alves, 70, uma militante, que transita, há tempos, entre o campo e a periferia usando a educação como ferramenta de mudança e luta em defesa do meio ambiente.

Maria Alves é nordestina e cresceu na divisa do Pernambuco com a Paraíba. “A minha família era como se fosse uma aldeia, todo mundo no entorno da minha vó, Conceição, que era uma mulher comunitária. Então, a gente aprendeu no berço de famílias de agricultores que não tinham terras, mas que trabalhavam muito nesse país.”

Parque e rio do Canivete, no Jardim Damasceno (foto: Viviane Lima)

Em 1975, Maria vem para São Paulo com o marido, após morar 10 anos no Paraná trabalhando como agricultora. Eles se mudam para o Jardim Damasceno, região da Brasilândia, na zona norte da cidade.

“Como toda pessoa que não tem uma formação acadêmica, que viveu sempre trabalhando na roça e na agricultura, a gente chega na cidade de São Paulo e vai conseguir o subemprego, aquele emprego que mal dá para você passar o mês e pagar suas contas. E a gente vem morar no pé da Serra da Cantareira em uma periferia bem abandonada”, relembra a agricultora.

Ela comprou um terreno a prestações e construiu a casa na base do mutirão com a família. Depois o foco de Maria passou a ser melhorias para o bairro. Ela conciliava isso com o trabalho e a educação dos filhos.

“A gente foi lutar por qualidade no bairro, qualidade de vida, transporte, questão de saúde, educação, saneamento, essas coisas que a necessidade faz, você acaba virando uma militante urbana, que eu nem sabia que eu era. Eu sabia que tinha que fazer a luta, eu fiquei 27 anos morando ali. Depois eu integrei ao movimento sem-terra”

Maria Alves, agricultora e educadora ambiental

Educação ambiental em defesa dos rios

Maria conta que quando chegou à Brasilândia ainda era possível lavar roupa e tomar banho de rio na região. “E aí a gente vê logo em seguida toneladas e toneladas de lixo e entulho sendo jogado nesses rios”, conta.

Extensão do córrego Canivete, localizado próximo a Av. Dep. Cantidio Sampaio  (foto: Viviane Lima)

Em 1996, quando o rio Cabuçu, foi canalizado com o investimento do Banco Interamericano de Desenvolvimento e, em contrapartida, o banco pedia um trabalho de educação ambiental no bairro. Maria estava entre as lideranças locais que participaram do projeto, que foi implementado pelo instituto Ecoar.

Com o fim do projeto, as lideranças comunitárias envolvidas e a Associação Cantareira resolveram dar continuidade ao trabalho nas salas de Educação de Jovens e Adultos (EJA), na qual Maria era monitora.

“A gente tinha o tema constante [de preservação ambiental] e aí a gente falava das sacolas de lixo que eram jogadas no rio. Mas a gente tinha algo pior, que são as empresas que jogam lixo. Lá no bairro tinha até uma tabela de cobrança, um homem que cobrava pelo lixo jogado”, recorda.

Descarte inadequado de lixo no bairro Jardim Damasceno (foto: Viviane Lima)

“Eles foram soterrando nascentes, fazendo uma devassa e a gente também foi brigando. Nós tivemos 20 anos, com um processo contra um chiqueirão clandestino, esse processo caducou, as autoridades não tomaram nenhuma providência e a gente ainda foi ameaçada de morte, porque a gente estava lutando contra esses lixões”, conta a educadora ambiental. Isso provocava inundações, que até hoje atingem os moradores.

Mesmo com as adversidades, Maria junto com a associação de moradores seguiam com as reivindicações, que com tempo surtiram efeitos, e investindo na educação como principal ferramenta de mudança. Ela foi uma das fundadoras do projeto Arte na Rua, que atendia 80 crianças de 7 a 18 anos, fazendo o trabalho de arte, educação e práticas esportivas.

 “Assumi dois projetos também ligados à Associação Cantareira, que foi de Agentes Comunitários, com 40 alunos e Monitores Ambientais, com 30 alunos, na faixa etária dos 15 e 16 anos, para acessar o primeiro emprego e se capacitar”, conta a educadora sobre sua trajetória.

Maria fala que se orgulha de todo trabalho dedicado à região. “Hoje eu tenho uma alegria de ter sido essa moradora urbana, militante que me envolvi e mergulhei de cabeça numa coisa de pensar a Juventude”, finaliza Maria.