Clube de leitura apoia jovens do Campo Limpo com bolsa e acesso à internet

Edição:
Ronaldo Matos

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A iniciativa é da Biblioteca Comunitária Djeanne Firmino. Uma das participantes é a jovem Micaele Cauane que já leu 15 livros em uma ano, três vezes mais que a média nacional. 

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A biblioteca Djeanne Firmino, localizada no jardim Olinda, zona sul, conta com cerca de 4 mil livros em seu acervo. Foto: arquivo pessoal.

A estudante Micaele Cauane Carvalho dos Santos, 16, moradora do Jardim Umarizal, zona sul de São Paulo, leu 15 livros num período de um ano, uma quantidade três maior que a média nacional de leitura de livros do brasileiro, que é 4,96 livros por ano, segundo a pesquisa feita pelo Instituto Pró-Livro em 2021.

O incentivo para Micaele estreitar o contato com o livro e a leitura é promovido pela Biblioteca Comunitária Djeanne Firmino, que realiza projetos como o Clube de Leitura e o Ligue e Leia. Essas iniciativas foram criadas por mulheres arte-educadoras e pedagogas que fazem parte da Coletiva Achadouras de Histórias, que atua no Jardim Olinda, zona sul de São Paulo.

Com a intenção de democratizar o acesso aos livros e a leitura, além de se tornar um lugar de acolhida e convivência comunitária para jovens e adultos nos arredores, a biblioteca comunitária conta com cerca de 4 mil livros para empréstimos.

Além disso, a iniciativa de incentivo à leitura nas periferias fornece uma bolsa de R$ 150, além de R$ 25 para custear o auxílio internet para 15 alunos de escolas públicas que fazem parte dos encontros mensais para debater o conteúdo dos livros. O projeto ainda garante que os participantes recebam em casa os livros que serão lidos no mês. 

Os encontros do clube de leitura acontecem mensamente de maneira remota, onde os alunos contam suas experiências a partir da leitura dos livros. Foto: divulgação.

“O clube de leitura acontece uma vez por mês, onde a gente distribui livros para esses jovens e depois que eles fazem essa leitura, a gente faz uma troca das experiências, de como foi ler esse livro, pensando na perspectiva de cada um dos jovens.”

Alessandra Leite Nunes, coordenadora do clube de leitura da Biblioteca Comunitária Djeane Firmino.

Por ter sido o primeiro ano de atividades do clube de leitura, estava previsto um ciclo de leitura de três livros, mas foi preciso dobrar esse período, pois durante os encontros com os jovens, as mediadoras de leitura perceberam que eles já tinham o hábito de ler, e que poderiam ler ainda mais se o contato aos livros fosse facilitado.

“Os encontros com os alunos da Escola Estadual Professor Flávio José Osório Negrini vão até novembro de 2022. Foram 28 inscrições, mas só poderíamos ter 15. Com isso a gente percebeu que os jovens leem sim, mas os livros são caros, muitas vezes falta recurso como o celular para ler online, e até a internet para esse acesso”, avalia Michele Andrade, mediadora do clube de leitura.

Micaele teve sua vida transformada através da leitura desde que aprendeu a ler e hoje deixa troca a tela do celular pelas páginas dos livros. Foto: arquivo pessoal.

Transformação da juventude 

Para Micaele, aluna do primeiro ano do ensino médio, a leitura passou a ser um hábito ainda criança, quando ela tinha um constante contato com gibis por meio da biblioteca comunitária. Nessa época, o espaço comunitário de incentivo ao contato com o livro e a leitura precisou mudar, com isso, a estudante relata que acabou perdendo a rotina de ler, por não ter uma referência de um lugar onde poderia pegar livros emprestado.

“Quando eu aprendi a ler, eu ia todos os dias pegar livros e gibis na biblioteca e lá elas me ensinaram a ler melhor, interpretar texto e fiquei triste quando elas mudaram, perdi toda a ‘vibe’ de ler e não queria mais, mas na escola a gente se reencontrou”

Micaele Cauane Carvalho , estudante e moradora do Jardim Umarizal, zona sul de São Paulo. 

Sem nunca ter pisado em uma biblioteca pública e sem acesso aos livros da escola onde estuda, Micaele sabe da importância da leitura na sua vida e futura carreira como advogada, por isso ela leu cerca 15 livros em um ano, superando a média de leitura dos brasileiros que é de 4,96 ao ano.

“Os livros trazem uma realidade que eu posso viver, entrar na vida do personagem do livro. Cada livro e história tem um significado e você pode viver isso sem nem sair de casa, sem viajar, sem se mover e me comovem de uma forma diferente a cada vez que eu leio”, conta a estudante.

Segundo dados do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP), entre 2015 e 2020, cerca de 800 bibliotecas foram fechadas no Brasil, sendo que 91% das unidades que encerraram as atividades, ou seja, 764 estavam localizadas nos estados de São Paulo e Minas Gerais.

Cristiane Lima, membro da Coletiva, entrega os livros escolhidos pela leitura Emmely Barbosa. Foto: Edvânia Rodrigues.

Ligue e Leia 

O projeto Ligue e Leia da Biblioteca Djeanne Firmino existe desde julho de 2021, e já emprestou 344 livros para 44 moradores dos bairros próximos ao Jardim Olinda. Cada morador tem direito a um mês de empréstimo para cada livro e as entregas são feitas pelas próprias mediadoras de leitura do projeto.

“O Ligue e Leia é um projeto que veio com a pandemia para que os livros pudessem continuar circulando, por isso as entregas à domicílio são totalmente gratuitas.”, explica Edvania Duarte Rodrigues, mediadora de leitura da biblioteca.

Ainda segundo Alessandra, a intenção do delivery de livros é atingir todos os públicos, principalmente aqueles que não têm tempo de acessar os espaços públicos de leitura nos horários de funcionamento, além de atender as necessidades de acessibilidade de possíveis leitores, sem precisarem sair de casa.

“Foi o jeito que encontramos também de atingir aquele aluno trabalhador, ou que é adolescente e não tem permissão de sair, ou que até são mais caseiros. A nossa missão é trabalhar pela democracia do acesso e dos bens culturais”, finaliza Alessandra Leite.

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