Israel Neto: escritor fortalece a literatura antirracista nas periferias

Edição:
Evelyn Vilhena

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Escritor, educador, produtor musical e MC, são algumas das atuações de Israel Neto, que tem se dedicado a fortalecer e valorizar as produções afrofuturistas e contos antirracistas nas periferias.

Com uma trajetória dedicada ao fortalecimento e valorização do gênero literário afrofuturista e antirracistas nas periferias, Israel Neto, de 34 anos, é nascido e criado na região da Brasilândia, zona norte de São Paulo, e trabalha desde os 17 anos com a arte, atuando principalmente em discussões sobre educação, literatura e música

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Tudo começou quando ele e mais alguns amigos se uniram para promover ações dentro das quebradas da zona norte. O escritor, que também é educador e MC, conta que ficou um tempo sem escrever, estudando sobre literatura fantástica, e o universo da cultura pop.

“Fui em todas as feiras que você imaginar, comecei a participar de clubes e constatei que só tinha branco nesse rolê, a galera era racista pra caramba e colocando os personagens negros de maneira esteriotipada”, compartila o escritor, que tem ligação com o mundo da literatura afrofuturista e ficcional também por influencia de sua mãe, que era leitora de ficção científica.

Após encontros e idealizações, junto com alguns amigos, iniciaram ciclos de bate-papos dentro das escolas, sendo que esse foi um dos primeiros caminhos que utilizaram para promover mudanças dentro do território onde moravam. Nesses bate-papos, incentivaram a ligação com a dança, canto, poesia e falavam sobre a cultura negra.

Esses ciclos iniciaram em 2007 e se estenderam durante um ano, tendo como incentivo a Lei nº10.639, que estabelece as bases da educação no Brasil, incluindo na grade curricular oficial da rede de ensino a temática obrigatória de “História e Cultura Afro-Brasileira”.

Incentivo a produção afrofuturista e antirracista nas escolas

Em 2009, Israel começou o curso chamado “Escola da África”, que acontecia dentro de uma das escolas em que passou durante esse tempo. O curso foi mantido por 4 anos, uma vez na semana, onde preparavam oficinas, passeios e traziam convidados para falar da cultura negra com os alunos.

“A gente preparava para eles cada semana uma oficina, sobre a cultura negra, cultura africana, trazia convidados, fazia passeios, então foi um momento muito gostoso”, relembrou o escritor sobre as atividades que realizou dentro das escolas.

E foi a partir dessas ações que o educador começou a realizar um desejo antigo de escrever usando esses ciclos de conversa, como base para criar uma história que ele pudesse usar para trabalhar com as crianças e adolescentes, público que sempre tinha ali por perto. 

“Então eu começo a escrever o romance Amor Banto em Terras Brasileiras, é um livro que foi publicado em 2011, teve a 2ª edição publicada agora em 2018 e em 2020 ganhou uma versão em francês que está rodando lá na França”

contou Israel.

Livros publicados do escritor Israel Neto – Foto: Arquivo pessoal

Assim que termina o curso “Escola da África”, Israel e amigos montam um novo projeto chamado “Coleção Literária Besouro”, em 2012, que está em atividade até hoje. O projeto consiste em publicações de livros infantis e infanto-juvenis, ainda no intuito de fomentar e aproximar as temáticas da história e cultura Afro-Brasileira no ambiente educacional, junto às crianças, adolescentes e educadores.

A partir da influência e das vivências que construiu utilizando a literatura, a história e cultura afro-brasileira, Israel e seus companheiros fundaram a Editora Kitembo, com o objetivo de quebrar alguns estereótipos do mercado editorial, disputando comercialmente com livros já lançados e de outros gêneros.

“Sempre fomos amantes da cultura pop, da cultura geek. Só depois de adultos conseguimos acessar esses produtos culturais, a nível mesmo de comprar uma HQ, ir no cinema, enfim”, conta o escritor, que tem na Kitembo um espaço de estímulo para novos escritores e jovens que têm interesse em falar e escrever sobre ficção científica, fantasia, horror.

Desde 2018 até agora, o catálogo da Editora Kitembo conta com a presença de 11 obras em seu catálogo, e com a assinatura de autores, ilustradores, com uma diversidade de gênero, porém todos eles negros. Jovens, adultos e alguns até residentes de outros estados para além de São Paulo, como o Ceará, Paraíba, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

“A nossa pergunta provacativa era sempre essa: me fala três escritoras ou escritores negros, brasileiros, que escrevem horror, romanscitas, ficcção científica”, citou o escritor sobre a importância do trabalho da Editora. 

Israel em uma roda de leitura com jovens – Foto Arquivo pessoal

As contribuições, estudos e aprendizados ligados ao ensino da história e cultura afro-brasileira, também refletiram em outras produções do escritor. Em 2021, Israel lançou o livro Ancestral, obra afrofuturista que navega pelas culturas do centro, sul e noroeste africano. A obra está concorrendo como melhor literatura geek, no prêmio Clube de Ouro de 2022.

“Todos os livros falam de identidade, de valorização, de potencial da cultura negra, da beleza, só que a gente fala através da fantasia, da ficção, da literatura fantástica”, finalizou Israel, que ao longo de sua carreira tem buscado incentivar jovens leitores a conhecer autores negros, periféricos, fomentando o busca pela identidade, criatividade, resgate da autoestima.


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