ENTREVISTA

“Eu faço café e torradinha todo dia e levo aos vizinhos”: o legado de Luiz Freire, velha guarda do samba da Vila Império

O criador do Samba na Calçada revela como uniu empreendedorismo e espírito comunitário para transformar uma bairro em uma comunidade unida pela cultura da música e solidariedade.
Por:
Leila Ramalho e Vitor Brito
Edição:
Ronaldo Matos

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Enquanto os batuqueiros do Samba da Calçada animam o público presente numa tarde de domingo, na vila Império, zona sul de São Paulo, o empreendedor Luiz Freire, 73 anos, criador da comunidade de samba que existe há mais de 10 anos, está atrás de um balcão de um pequeno bar atendendo o público que começa a chegar para prestigiar o evento comunitário. 

O seu dia começa bem cedo. Com carisma e alegria, ele recebe crianças, jovens, adultos e idosos, que vão ao estabelecimento não só para comprar bebidas e petiscos, mas também para apreciar o café da manhã comunitário com direito às deliciosas torradinhas que ele realiza para os moradores do território.

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Antes de morar na Vila Império, o líder comunitário morava na Vila Nova Conceição, um bairro localizado entre a Vila Olímpia e o Itaim Bibi, cercado por centros comerciais, grandes prédios residências, casas de show, bares com música ao vivo e restaurante de alta gastronomia. Em entrevista ao Você Repórter da Periferia, ele conta a importância da preservação de um estilo de vida comunitário na periferia onde todos os moradores ainda se ajudam e se importam uns com os outros.

VCRP: Há quanto tempo você se dedica ao samba?

Desde 2004 estou aqui na Vila Império. Comecei com o samba em 2006, mas criamos o Samba na Calçada em 2012.  Temos união aqui com as pessoas, porque aqui tem muita gente carente. Eu faço café e torradinha todo dia de manhã e levo aos vizinhos que eu posso ajudar. Pobreza não é você não ter dinheiro, é você ser pobre de espírito.


VCRP: Como foi trazer o samba de Alagoas para a periferia de São Paulo?

Em Alagoas criamos um grupo chamado “Origem do Samba”. Agora ele se chama “Tô na gandaia”. Estamos aqui na periferia, onde eu não pensava que tinha tanta gente boa que me acolheram muito bem, todo mundo gosta de mim, eu sou muito grato. Ninguém fecha uma rua pra fazer um evento assim no bairro, sem parceria com a comunidade né?

VCRP: Qual a maior transformação que você teve na sua vida?

Você tá lá em cima e cai, e vai dizer que tá bom? Não vai, você pode viver com as pessoas, mas e se você não tá bem? A gente não consegue transformar sempre né, vivemos como pode, na ditadura por exemplo, nós não tínhamos liberdade, hoje estamos todos livres, como eu, trabalho por aqui, pra quem foi auditor, isso aqui nem é trabalhar, eu faço meus salgados, vivo minha vida, ajudo as pessoas.

VCRP: Qual é a maior riqueza ou aprendizado que você teve com o samba?

Não me falta nada. Quando você tem um pouquinho pra dividir é melhor que você tenha pra dividir tudo o que você tem, do que ter necessidade de pedir, não é verdade? Eu sou uma pessoa que gosta de ver o outro lado. Que respeite sempre o ser humano, porque tudo que se joga é como uma bola de borracha, é a força que você pode dar na parede, ela volta pra você, se você for “ameno”, tudo aquilo não volta.

Esse conteúdo foi produzido por jovens em processo de formação da 8° edição do Você Repórter da Periferia (VCRP), programa em educação midiática antirracista realizado desde 2013, pelo portal de notícias Desenrola e Não Me Enrola.

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