“Através da pipa parei de beber”: brincadeira de infância muda estilo de vida de morador da periferia

Morador cria coletivo de pipeiros para reunir amigos e praticar brincadeiras de infância. Além de diversão, a iniciativa trouxe benefícios para sua saúde física e mental.
Edição:
Ronaldo Matos

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Em um final de semana, a equipe Pipeiros do Ipava, reúne cerca de 30 pessoas para praticar a tradicional brincadeira de infância de empinar pipa em um terreno no Jardim Jacira, em Itapecerica da Serra, na Região Metropolitana de São Paulo. Para Adriano Magalhães, co-fundador do coletivo de pipeiros, a atividade é uma questão de autocuidado.

O objetivo no início era resgatar a brincadeira de infância, um costume de diversão que, embora tenha marcado sua vida, não era aprovado pelo pai, que considerava que isso era coisa “de quem não tinha o que fazer”.

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“A sensação de correr atrás do pipa é de liberdade, sinto que vai me fazer bem”, afirma Magalhães, morador da Cidade Ipava, periferia da zona sul de São Paulo.

“Três varetas, papel de seda e a rabiola são a diversão da periferia”

Adriano Magalhães de Siqueira, presidente da equipe Pipeiros do Ipava
Adriano transformou os finais de semana ao lado da Equipe Pipeiros do Ipava em momento de autocuidado e bem estar com amigos e filhos. (Foto: Arquivo Pessoal)

Com a notícia da criação da equipe Pipeiros do Ipava se espalhando, novos membros chegaram – hoje são cerca de 80 – e empinar pipa passou a mudar para melhor a rotina dos finais de semana do grupo de amigos.

“Através da pipa mudei o estilo de vida pra melhor, parei de beber, não falo palavrão, me tornei mais educado”, afirma Magalhães, que durante 10 anos ingeriu bebida alcoólica excessivamente.

“Nos festivais que faço com a minha equipe não tem nenhum tipo de bebida, por exemplo, justamente por todos saberem do que já passei — e alguns deles também. Todo mundo respeita muito”, conta o pipeiro.

Adriano incentiva o resgate de brincadeiras de infâncias para mostrar as crianças que existem outras formas de diversão e interação, além do celular. (Foto: Arquivo Pessoal)

Resgate de infâncias

Para Magalhães, presidente da equipe Pipeiros do Ipava, o resgate da infância é um impacto importante provocado pela pipa nas crianças de hoje. Para ele, vê-las brincando na rua e saindo da frente das telas de celular e televisão é primordial para o desenvolvimento e criação de memórias desta fase da vida.

“Minha filha tem 11 anos e hoje tem o celular da moda, mas na minha época era diferente, minha diversão era outra e eu fico feliz quando vejo que ela faz coisas que eu fazia, como cair de bicicleta e se machucar, ela tá vivendo”, relata o pipeiro.

“Quero mostrar como é bom ser feliz e com pouco, trazer de volta a essência das brincadeiras do passado”

Adriano Magalhães de Siqueira, pipeiro

Além do resgate do que foi a sua própria infância com os amigos nas ruas e lajes das periferias da zona sul de São Paulo, o presidente da equipe Pipeiros do Ipava entende que sua missão é apresentar outras brincadeiras para as crianças, que sejam interativas e sem um grande custo para os pais.

“Com 1 real o moleque já pode ter uma pipa e se divertir. Eu comento sempre com a minha esposa sobre isso de a gente querer trazer isso de volta, pedra por pedra e quem sabe construir um castelo. E não é só sobre pipa, estamos trazendo brincadeiras das antigas: esconde-esconde, pega ladrão e são brincadeiras que não tem um custo, mas tem valor”, finaliza.

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