“Não fomos avisados”: obra da Sabesp gera caos na rotina de moradores do Jardim Aracati

Edição:
Ronaldo Matos

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 Moradores questionam a Sabesp sobre falta de informação sobre obra que impactou o trânsito no bairro, causou falta de água e até interrompeu funcionamento de Unidade Básica de Saúde.

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Canteiro de obras da Sabesp na Avenidada Taquandava, no Jardim Aracati, zona sul de São Paulo.

 Em janeiro, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP) iniciou uma série de obras no Jardim Aracati, bairro localizado na zona sul da cidade. Além de causar confusão no trânsito, a empresa pública instalou uma série de mangueiras próximas de postes e fios elétricos, expondo moradores e pedestres a possíveis acidentes.

De acordo com Weslley Couto, de 27, cobrador de ônibus que atua em uma linha que circula no Jardim Aracati, as obras da Sabesp mostram como a empresa muda a forma de atender a população quando atua em regiões periféricas.

“Normalmente em bairro nobre eles notificam os dias e o horário em que vai ter manutenção ou falta de água, qual a diferença da nossa região? Dinheiro?”, questiona Wesley, apontando o descontentamento com o tratamento dado pela Sabesp aos moradores do bairro onde ele mora e trabalha.

O morador do Jardim Aracati reconhece a importância das obras da Sabesp para trazer futuras melhorias para o bairro, mas segundo ele, a desorganização transformou a obra em um problema ainda maior para a população.

Entre os principais transtornos causados pelas obras da Sabesp estão a falta de água, dificuldade para transitar no bairro, impedindo moradores de chegar até o trabalho, e a instalação de mangueiras próximas dos postes de energia elétrica na Avenida Taquandava, considerada a principal via de acesso ao bairro.

“Fazem obra mas não sinalizam, desviam o trajeto mas não notificam as empresas, não colocam ninguém para controlar o trânsito, gerando desordem”

Weslley Couto é cobrador de ônibus e morador do Jardim Aracati, zona sul de São Paulo.

As obras que visam modernizar e aprimorar o abastecimento de água na região acontecem em horário comercial e durante a semana, momento de maior movimentação de pedestres e circulação de veículos de passeio e transporte coletivo nas ruas do Jardim Aracati.

Weslley tentou entrar em contato com a Sabesp para registrar sua reclamação, mas durante as tentativas, o cobrador sentiu a falta de interesse de comunicação por parte da prestadora de serviços, e a partir deste momento, os problemas começaram a aumentar, por que a população local não foi avisada que as obras iriam acontecer ou iriam gerar transtornos no trânsito da região.

Avenida Taquandava, sendo ocupada pela metade por maquinários utilizados durante as obras. (Foto por: Flávia Santos)

O que diz a CET 

O Desenrola e Não Me Enrola entrou em contato com a Sabesp e também com a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), para buscar respostas que pudessem orientar a população local a entender o porquê esses problemas aconteceram e como poderiam ser solucionados, mas somente a CET respondeu os questionamentos da reportagem.

Uma das principais questões enviadas à CET buscou entender se houve alguma solicitação da Sabesp para companhia gestora de trânsito na cidade realizar algum tipo de intervenção no tráfego de veículos e linhas de ônibus, mas a resposta levantou ainda mais questões sobre a integridade da obra.

Além desse posicionamento, a CET acrescentou que foi aberto um chamado para que as interdições sejam removidas da via e os responsáveis orientados a fazer a regularização devida.

Nossa repórter procurou a Sabesp, mas até o momento desta publicação não recebemos um posicionamento oficial, fato que reforça ainda mais a preocupação dos moradores, que vêm buscando por respostas desde o início das obras no bairro, no mês de janeiro.

Foto por: Flávia Santos

Mangueiras penduradas 

 Um dos procedimentos gerados pela Sabesp durante a obra foi a instalação de mangueiras externas nas residências, juntamente ao relógio de água da região da Avenida Taquandava. A medida foi colocada em prática para não interromper o fornecimento de água, mas não houve êxito.

Moradores relataram ficar sem água por mais de dois dias seguidos. Esse é o caso de Rosimeire Freitas, 46, mãe e cabeleireira, e moradora do Jardim Aracati há mais de 10 anos. “Nós não fomos avisados, nós só ficamos sabendo quando eles já estavam aqui na rua”, conta a moradora, reafirmando a informação de Wesley, que também não foi notificado sobre a realização da obra.

Ao longo de dez dias, máquinas, ferramentas e homens mantiveram um canteiro de obras em frente de Rosimeire. Ela conta que o barulho era ensurdecedor, e que aumentava durante a noite, impedindo que os moradores da sua casa conseguissem ter uma noite tranquila.

Além das noites mal dormidas, a moradora afirma que as mangueiras também causaram grandes transtornos para sua família. “As mangueiras incomodavam, porque eles (responsáveis pela obra) a deixavam muito baixa. De manhã, quando o meu marido saia de casa com uma carreta era um sacrifício”, relata a moradora.

Foto por: Flávia Santos

Diante destas dificuldades, Rosimeire pediu o auxílio da Sabesp para que pudessem mudar a altura das mangueiras, mas a resposta dada pela empresa foi que aquela solicitação não dava para ser atendida naquele momento.

A obra da Sabesp impactou até o funcionamento da Unidade Básica de Saúde do bairro, que ficou sem água e teve que interromper o atendimento aos moradores. 

“Ficamos dois dias sem água, o posto de saúde ficou sem água, não pôde funcionar, eu ia levar meu filho pra tomar a vacina, não deu e aí eu tive que esperar”

Rosimeire Freitas é cabeleireira, mãe e moradora do Jardim Aracati, zona sul de São Paulo.

Após a finalização das obras, Rosimeire conta que os prestadores de serviço da Sabesp continuaram gerando problemas no bairro, pois eles deixaram grandes buracos no asfalto da avenida principal, provocando novamente problemas no trânsito.

Sem desistir de obter um retorno oficial da Sabesp sobre os rumos que aquela obra estava tomando, Wesley continuou tentando contato com a empresa até receber a seguinte resposta: quem faz manutenções nesses níveis são empresas terceirizadas e que naquele momento não poderia dar à ele mais informações.

Como ela já trabalhou como cobrador em outras linhas de ônibus, como na região de Interlagos, que possui áreas com residência de alto padrão, Wesley relata que já viu obras da Sabesp bem mais organizadas nesta região, na qual, as máquinas e ferramentas ficavam em cima da calçada para não impactar o trânsito.

“Porque na periferia tem que ser de qualquer jeito. Isso é revoltante!”, exclama o morador, deixando claro a sua insatisfação com o serviço oferecido à população no bairro onde ele trabalha e reside com a família, que chegou a ficar sem água por três dias seguidos.

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