Home Blog Page 83

Músico do Jardim Ângela difunde tecnologias sustentáveis pelo Brasil a fora

0

A iniciativa começou com a criação de um laboratório de tecnologias sustentáveis e funcionais, que funciona dentro da casa do músico e inventor Fábio Miranda, no Instituto Favela da Paz, localizado no Jardim Nakamura, zona sul de São Paulo. Hoje, as tecnologias produzidas por ele são exportadas e compartilhadas com moradores de outras periferias e projetos de preservação do meio ambiente.

Jovens replicando o método de construir o biodigestor na comunidade ribeirinha do Rio Tapajós. (Foto: Projeto Saúde e Alegria)

Com o celular na palma da mão, o músico e inventor Fábio Miranda consegue controlar de qualquer lugar do mundo via conexão wi-fi as tecnologias que ele mesmo desenvolveu dentro do LAB Periferia Sustentável, um laboratório de energias renováveis e funcionais que ele começou a criar em 2010, no Jardim Nakamura, na zona sul de São Paulo.

Para ele, o celular é uma tecnologia que pode ser utilizada em tudo hoje, mas de maneira consciente. Ao deixar clara a sua preocupação em equilibrar o uso da tecnologia em sua vida, o músico recorda o processo de criação do LAB Periferia Sustentável, iniciativa que está cercada por uma vizinhança formada por moradores e moradoras do Jardim Nakamura, público que o músico está aos poucos mostrando outras possibilidades de consumo e produção de energias, para além da cultura de usar gás de cozinha e luz elétrica.

Em 2010, Miranda viajou à Europa, para conhecer projetos de energias renováveis desenvolvidos pela Comunidade de Tamera, uma entidade sediada em Portugal, que tem o objetivo de construir um novo jeito de consolidar as relações humanas, a partir de questões sociais, econômicas, políticas e afetivas.

Fábio Miranda ministrando o curso Seja Sustentável com a tecnologia arduino no Lab Periferia Sustentável.

“Por que isso não está na minha comunidade? E por que essas tecnologias estão distantes da quebrada?”, foram esses os primeiros questionamentos do músico consigo mesmo ao ter algumas experiências com os projetos de tecnologia sustentável e energia renovável que conheceu por lá.

“Tamera foi a minha faculdade orgânica”, diz Miranda, retratando a sua consideração pelo lugar e estado espiritual no retorno ao Brasil. Ele chegou ao Jardim Nakamura se sentindo capacitado e cheio de energia para desenvolver essas tecnologias no Instituto Favela da Paz, uma organização social que fomenta projetos inovadores à base da cultura de paz, alimentação saudável e produção musical independente, na qual ele já trabalhava antes de criar o laboratório.

“Eu fiquei de 2010 a 2015 viajando o mundo e aprendendo essas tecnologias”, conta o inventor. Ele reforça que as ações articuladas pelo Instituto Favela da Paz ganharam relevância internacional, e a partir disso, os projetos da organização o conectaram a comunidade de Tamera, em Portugal.

Em 2013, Miranda construiu o primeiro biodigestor da quebrada. “A gente transforma aquilo que as pessoas chamam de lixo em uma fonte de energia que é o biogás”, afirma, citando que a matéria prima utilizada no biodigestor vem de restos de alimentos que são descartados pelo projeto Vegearte, umas das iniciativas do instituto, que difunde a cultura da alimentação saudável entre os moradores do bairro.

Ele considera o biodigestor como uma das tecnologias mais importantes já construídas pelo LAB Periferia Sustentável, devido ao seu impacto direto na vida dos moradores das periferias. Um exemplo desse impacto é viagem do inventor até a Amazônia, para ministrar um curso de construção de biodigestor para um grupo de jovens mulheres. Lá, ele apresentou o passo a passo para desenvolver essa tecnologia de energia renovável.

Jovens da comunidade ribeirinha à beira do rio Tajajós mostrando aos moradores o processo de construção do biodigestor.

O resulto desse processo foi ele ter recebido um relato das jovens amazonenses que passaram pela formação, dizendo que estavam usando gás de cozinha gerado pelo biodigestor. E como a comunidade era ribeirinha, o botijão de gás chegava a custar 150,00, devido ao acréscimo de transporte pelo rio tapajós. Mas a partir do domínio de construção do equipamento, diversas famílias já estavam economizando esse valor para gastar com outras necessidades.

Hoje, as jovens que participaram da formação ministrada pelo inventor no Centro Experimental Floresta Ativa, localizado na comunidade ribeirinha da Reserva Extrativista Tapajós – Arapiuns, no Amazonas, estão dando oficinas de sistema de biodigestão dentro do projeto, impactando outros jovens e adultos, para difundir essa tecnologia de energia limpa.

Novas Tecnologias.

A admiração de Miranda pelas fontes de energia limpa e a sede de conhecimento, que o acompanha desde sua vivência na comunidade de Tamera, o tornou um entusiasta das tecnologias abertas (Open Source).

Em boa parte dos seus projetos, ele usa a plataforma e placas de Arduino, para programar e automatizar os sistemas de energia solar, irrigação de horta vertical e biodigestão, que estão acessíveis a qualquer pessoa que freqüenta o seu laboratório.

O uso do arduino foi ressignificado pelo inventor, ao se tornar a base para fundir as tecnologias de energia limpa com a internet das coisas. Desta forma, ele liga e desliga os sistemas, além de acessar dados e indicadores que mostram o estado de funcionamento dos equipamentos pelo celular.

“Eu posso baixar o software de uma placa arduino e construir o meu próprio sistema. E partir disso criar um robô usando essa tecnologia”, afirma ele, ressaltando que a sua missão dentro do projeto, independente do seu grau de instrução, que contempla diploma de ensino médio completo e as vivências na música, é demonstrar para qualquer pessoa que ela tem a capacidade e a criatividade para produzir tecnologia.

A partir desse e de outros conhecimentos, o inventor desenvolveu o curso Seja Sustentável, um meio de compartilhar os seus aprendizados por meio de workshops e palestras que ele ministra em diversos espaços, como unidades da rede SESC, organizações sociais nas periferias de São Paulo e de outros estados, como a comunidade ribeirinha do rio Tapajós.

Parte do laboratório de tecnologias sustentáveis foi construída com apoio da Fundação Fenômenos, organização que reconheceu a importância do trabalho do inventor e apostou na sua aptidão para gerar impactos positivos nos moradores das periferias, a partir das suas invenções que mesclam o cuidado com o meio ambiente e novas tecnologias.

“Somos um ponto cego na telefonia móvel de São Paulo”, diz morador de Marsilac

0

Com apoio da plataforma Mosaico da Anatel realizamos um monitoramento sobre a qualidade de sinal de operadoras de telefonia móvel nas “Quebradas do 2G”, territórios onde o sinal de celular ainda é um desafio para a vida comunitária e a comunicação com o mundo.

Foto: Threat Post

No distrito de Marsilac, área com uma rica diversidade ambiental que integra o Pólo de Ecoturismo da cidade de São Paulo, instituído a partir da lei 15.953 de 07 de janeiro de 2014, mais de oito mil moradores convivem com o dilema de não ter acesso a um serviço de internet móvel de qualidade.

Com duzentos quilômetros quadrados de extensão territorial, representados em sua maioria por áreas verdes, o distrito não possui antenas de operadoras, segundo relatos dos moradores. A plataforma da Anatel classifica os sinais das operadoras: Tim, Oi, Claro e Nextel na região de Marsilac com baixíssima qualidade nas velocidades de transmissão de dados 4G, 3G e 2G.

Imagem oficial da plataforma da Anatel que realiza o monitoramento de sinal de telefonia móvel no Brasil.

A experiência do usuário registrada pelos moradores do bairro mostra o cenário do serviço de telefonia móvel na região. “O pouco de sinal que dá aqui é da Vivo e ainda assim é muito ruim, então a solução seria a instalação de antenas”, conta Mauro Malafaia, morador do bairro de Engenheiro Marsilac.

Para acessar o sinal da operadora Vivo, Mauro descreve que é preciso subir na parte mais alta do bairro, próxima a um campo de futebol e aguardar a conexão aparecer. Ele relembra que esta situação já o levou a pegar uma condução para ir a outro bairro para usar o celular: “é frustrante né, você ter que pegar um ônibus e ir para outro bairro para usar o sinal de celular.”

Malafaia lamenta o estado de abandono da telefonia em Marsilac enfatizando como “isso pode acontecer em pleno século vinte e um” e enfatiza que o distrito “é um ponto cego na telefonia móvel da cidade de São Paulo.”

Concentração de sinal em São Paulo

Um mapeamento realizado pela Associação Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil), entidade que reúne mais de 100 empresas do setor do telecomunicação em todo o país, revela um enorme concentração de antenas localizadas na região central da cidade de São Paulo, demonstrando que a situação vivenciada cotidianamente por moradores do distrito de Marsilac não é novidade, se observamos com atenção o mapa de distribuição de antenas de celular, tecnicamente chamadas de Estação Rádiobase (ERB).

O levantamento atualizado a partir de dados disponibilizados pela Anatel mostra a diminuição de antenas instaladas nas regiões periféricas do município. Já nos bairros localizados na região central, é possível observar uma super concentração de antenas.

De acordo com dados do mapeamento da (Telebrasil), existem mais 6.800 antenas de celular na cidade de São Paulo. A operadora Vivo aparece com 23,65% das antenas instaladas, enquanto a Tim tem 22,74%, Claro 17,88%, Oi 23,88% e Nextel 11,85%.

Fonte: Mapa Telebrasil de Antenas de Celular no Brasil, atualizado de acordo com dados fornecidos pela Anatel.

Como se comunicar sem sinal no celular?

A produtora cultural Laura Silva mora no Jardim Embura, localizado na divisa do distrito de Parelheiros com Marsilac. Ela trabalha na Cia de Teatro Rokokóz, um coletivo de artistas da região que busca envolver os moradores do território em intervenções artísticas, organizadas em espaços abertos ao público, como praças e ruas do bairro.

“Na minha casa tem internet com um mega de velocidade”, conta a produtora cultural sobre o sinal da operadora Vivo, que chega ao seu bairro em Parelheiros, apenas com planos de internet fixa.

Ela conta que a falta de acesso a internet impacta na divulgação das atividades desenvolvidas pelo coletivo nas redes sociais, com isso, eles passaram a procurar outras formas de divulgar os eventos junto aos moradores. “As estratégias de divulgação aqui são outras, nós distribuímos panfletos nas escolas e os agentes de saúde ajudam e colam cartazes nos comércios.”

Para ampliar o alcance de público, ela recorre também a outros meios de divulgação: “quando a gente vai fazer os eventos, a gente passa com o carro de som, avisando os moradores e os jovens que são atendidos em serviços sociais do bairro.”

Apoie a diversidade de narrativas no jornalismo das periferias

0

Apoio um jornalismo diverso e periférico! 

Jardim Ângela, zona sul de São Paulo (Foto: Nene – FXO Mídia)

Acreditamos que é possível produzir um jornalismo a partir das periferias, e que vá além da tradicional produção e distribuição de informação. É exatamente isso que o Desenrola E Não Me Enrola tem feito nos últimos seis anos de atuação, ao criar narrativas jornalísticas para investigar os fatos sociais e culturais invisíveis que impactam a vida de quem mora nos territórios periféricos da cidade de São Paulo.

Levando em consideração o fato da nossa equipe ser preta e periférica, o Desenrola E Não Me Enrola considera que a diversidade no jornalismo contribui não só como um elemento estruturante para gerar representatividade de raça, classe e gênero dentro das redações, mas também como uma estratégia editorial para a construção de novos olhares para a produção jornalística, como forma de inovar e adaptar os conceitos do jornalismo às nuances sociais contemporâneas da sociedade.

Assista o vídeo-campanha:

Em nossa linha editorial, a desinformação e a reprodução de estereótipos, presente de maneira recorrente na mídia tradicional, dão lugar ao aprofundamento de discussões sobre as nuances sociais que dão forma a Identidade Cultural de sujeitos e territórios periféricos.

Ao produzir reportagens que contribuam para a nossa audiência compreender o cenário de transformações em curso nas periferias, nosso intuito também é de usar essas informações para gerar conhecimento, senso crítico e encurtar barreiras sociais e geográficas que ainda separam moradores das periferias da população que reside na região central da cidade.

O Desenrola E Não Me Enrola aposta na sua confiança para apoiar esta campanha de financiamento recorrente. A partir dela, nós teremos mais força para continuar criando conteúdos jornalísticos relevantes, para reportar fatos históricos com uma olhar “de dentro pra fora”. Assim, buscamos humanizar, traduzir e repercutir o real significado da história de pessoas, coletivos e movimentos sociais que dão forma e vida ao cotidiano das periferias.

Confira o orçamento da campanha e apoie!

Festival debate hábitos de leitura de moradores das periferias no Sesc Campo Limpo

0

TERRITÓRIOS CRIATIVOS

Tula Pilar (Foto: Divulgação)

Fomentar o exercício de ler, ouvir e interpretar criticamente o mundo são os principais objetivos do Festival Litera Campo, que acontece entre os dias 26 e 30 de junho no Sesc Campo Limpo, zona sul de São Paulo. Com uma série de atividades, como bate papos, intervenções artísticas e até uma feira literária, o evento busca reunir públicos distintos, como estratégia para criar um ambiente de trocas de conhecimento e vivências culturais e afetivas.

A proposta do projeto festival foi pensada e articulada por um grupo de produtoras culturais e coletivos em parceria com o SESC Campo Limpo. A Pinrolê Invenções, produtora enraizada nos fazerem artísticos do território do Campo Limpo faz parte desse grupo de organizadores do evento.

Em toda a programação, o público poderá interagir e descobrir potencialidades das periferias nas áreas da literatura, comunicação, educação, esporte, hip hop, entre outros.

Um dos destaques da programação do Litera Campo é o sarau dedicado a escritora Tula Pilar, que faleceu em abril deste ano e deixou mais que um legado material e subjetivo a produção literária da periferia, com publicações de obras que revelam a sua personalidade marcante e o seu jeito de encarar e viver o mundo na pele de uma mulher negra, ex-empregada doméstica e mãe de três filhos.

O Desenrola participa da programação do evento nesta quinta-feira (27), às 19h30, num bate papo sobre jornalismo produzido a partir da periferia e o impacto das Fake News na vida das pessoas que dão vida aos territórios periféricos.

Confira aqui a programação completa do Festival Litera Campo.

Greve geral mobiliza moradores nas periferias da zona sul de SP

0

A reforma da previdência surge como uma das principais motivações que está no centro das discussões entre os moradores articulados para a greve geral nesta sexta-feira.

Encontro de manifestantes na Ponto do Socorro, na Greve Geral realizada em 2018. (Foto: Ronaldo Matos)

Distritos como Capão Redondo, Jardim Ângela e Grajaú, localizados na zona sul de São Paulo representam territórios periféricos cidade que já confirmaram a articulação de movimentos sociais para mobilização de moradores, que irão ocupar as ruas nesta sexta-feira (14) durante a Grave Geral.

Segundo o articulador comunitário Rafael Cícero, a mobilização da Greve Geral tem por objetivo resistir a Reforma da Previdência e o desmonte do governo Bolsonaro. “Estamos dizendo não a essa Reforma, entendemos que essa reforma prejudica os trabalhadores, em especial os mais precarizados. A Reforma tem que atacar os privilégios dos políticos, dos militares e dos patrões.”

Muitos cartazes que serão carregados por moradores de diversos territórios periféricos da cidade trarão a frase “Não vamos trabalhar até morrer”, uma mensagem direta a proposta de profundas mudanças na previdência social.

“É desumano impor ao trabalhador essa reforma, que ele vai ter que trabalhar até morrer. A capitalização coloca em risco futuro dos trabalhadores, em especial os da periferia. Dessa forma, a periferia vai à luta pra dizer Não”, enfatiza Cícero, revelando a sua preocupação com a futura mudança que introduzira a capitalização da aposentadoria, forma de poupar recursos para ter rendimentos futuros.

Outro fator marcante que justifica a participação ativa dos moradores das periferias na Greve Geral são as taxas de desemprego no Brasil, que subiu 12,7% no primeiro trimestre deste ano, atingindo cerca de 13,4 milhões de pessoas, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Localize os pontos de encontro na zona sul de São Paulo

No Jardim Ângela, zona sul da cidade, a concentração acontecerá no Largo de Piraporinha, com saída prevista ás 7h.

O mesmo horário está previsto para a concentração de moradores no Terminal João Dias e na Avenida Nações Unida, próximo a metalúrgica MWM, tradicional palco de atos protagonizados por trabalhadores de indústrias da região.

Às 9h da manhã, os moradores que se encontraram nos três pontos de encontro irão se reunir na ponte do Socorro, conectando assim, várias vozes de bairros diferentes, para manifestar a sua insatisfação com a perda de direitos.

Saiba como a Perifacon incentiva a pluralidade de vozes na produção de quadrinhos nas periferias

0

A Perifacon lançou um edital para publicação de oito histórias em quadrinhos, produzidas por autores da quebrada. As inscrições encerram neste domingo 16 de julho. Os selecionados terão acesso a um curso de 8 meses , além de uma ajuda de custo para viabilizar sua participação no projeto.

Foto: PerifaCon

Em parceria com a editora Mino, a PerifaCon, coletivo que dissemina a cultura nerd nas quebradas de São Paulo, criou um programa de incentivo à produção de quadrinhos na periferia. A iniciativa oferece oitos vagas, sendo 4 delas destinadas a quadrinistas negros. Os interessados em participar podem se inscrever até esse domingo (16), por meio do e-mail oficial do edital: narrativasperifericas@editoramino.com.

Durante o processo de inscrição os candidatos devem informar: nome, endereço, renda familiar, portfólio e o argumento da sua história em quadrinhos. Além disso, os interessados devem se atentar aos critérios de seleção, que vai levar em consideração a pluralidade de narrativas e a identidade de raça e gênero dos proponentes.

“A gente quer sair desse estereótipo de ser só narrativas periféricas. A questão é de ser pessoas periféricas produzindo”, conta Andreza Delgado, umas das integrantes da PerifaCon, ressaltando a importância do mercado reconhecer e dar espaço a produção de quadrinhos existente nas periferias.

A visão de mundo sobre o cenário da produção de quadrinhos pontuada pela integrante da PerifaCon tem uma relação direta com a experiencia vivenciada por Janaína de Luna, editora-chefe da Mino, uma empresa brasileira especializada em produções de quadrinhos.

Durante uma de suas participações na CCXP (Comic Com Experience), maior evento brasileiro de cultura nerd, Luna encontrou apenas 6 quadrinistas negros, em meio a um evento com 500 expositores. “A gente não pode ter uma narrativa única, visto de um ponto de vista econômico e cultural. E isso acontece. Só existe praticamente uma voz falando, e a gente precisa de uma pluralidade nessa narrativa”, argumenta a editora sobre o motivo de criar o projeto em parceria com a Perifacon.

A integrante da Perifacon acredita que um dos principais impactos desse projeto será viabilizar a presença de quadrinistas da quebrada em espaços de difícil acesso no mercado e nos meios de produção. “São 8 novos artistas que serão publicados por uma das maiores editoras nacionais de HQ. 8 novas obras que vão conseguir acessar lugares que quem está dentro da periferia não consegue”, descreve Delgado, enfatizando o propósito político do projeto.

Os selecionados irão receber uma ajuda de custo durante o decorrer do projeto e terão treinamento com um dos maiores quadrinista brasileiros. E por fim, os quadrinhos serão lançados na PerifaCon de 2020 e distribuídos pela Mino para o mercado.

Edital fortalece iniciativas de mulheres negras nas periferias de São Paulo

0

As inscrições para a segunda edição do edital “Elas Periféricas” podem ser realizadas até 16 de junho.

Integrante do Coletivo Oya no Congresso de Escritores da Periferia de SP (Foto: João Victor Santos)

Engajada em fortalecer o trabalho de mulheres negras que estão à frente de coletivos, projetos de impacto ou organizações sociais que tem como base de atuação os territórios periféricos da cidade de São Paulo, a Fundação Tide Setubal apresenta a segunda edição do programa “Elas Periféricas”, que irá apoiar propostas com até 40 mil reais e mentorias de desenvolvimento institucional durante 12 meses.

Em 2018, o edital apoiou 6 iniciativas com 20 mil reais. Para 2019, os recursos foram ampliados, como uma forma de potencializar ainda mais a atuação das organizações selecionadas. O prazo para envio e preenchimento do formulário de inscrições termina neste domingo (16), às 23h59.

Além do apoio financeiro, as iniciativas contempladas pelo “Elas Periféricas” terão acesso a uma série de mentorias que visam a capacitação das lideranças e gestores, para fortalecer a organização ou coletivo, por meio do aprimoramento de funções essenciais como gestão financeira, mobilização de recursos, gestão e monitoramento de projetos, comunicação institucional, planejamento estratégico e atuação em redes.

Construído em 2018, o edital reconhece a potência e a visão de mundo de mulheres negras que empreendem nas periferias uma perspectiva cultural, social e política para desenvolver iniciativas que tragam soluções para as desigualdades sociais que afetam a vida de milhares de moradores e moradoras nos territórios.

Coletivos resistem à proposta de fechamento da Casa Cultural Hip Hop Jaçanã

0

Em resposta ao pedido de reintegração de posse emitido pela prefeitura municipal de São Paulo, que alega que não existem atividades culturais no local, cerca de 20 apresentações artísticas movimentaram o sarau Ato de Resistência, articulado por coletivos que realizam a gestão da Casa Cultural Hip Hop Jaçanã.

Intervenção cultural na Casa Cultural Hip Hop Jaçanã, durante o Sarau Ato de Resistência. (Foto: Gueto Cine)

A prefeitura de São Paulo está alegando que a sede da Casa Cultural Hip Hop Jaçanã, localizado na zona norte de São Paulo, está ocioso e que não tem atividades culturais regulares para a população, e afirma que está ocupado de forma irregular, e por isso pede a reintegração de posse do imóvel.

Após receber essa notificação, um grupo de moradores e artistas organizaram o sarau Ato de Resistência, realizado no último final de semana de março, reunindo cerca de 300 pessoas na ocupação cultural, para assinar um abaixo assinado que pede o permanecimento do espaço e reconhecimento como uma casa de cultura.

“O ato hoje é um repúdio ao pedido da prefeitura, estamos mostrando que tem muita cultura sim”

Para Davi Albuquerque, professor de filosofia e integrante do coletivo Estéticas Urbanas que reside na casa, o ato simboliza a resistência conta as diversas formas de violências cometidas pelo Estado. “O ato hoje é um repúdio ao pedido da prefeitura, estamos mostrando que tem muita cultura sim, mas cultura feita por nós, uma cultura nossa, uma cultura que acabe com o extermínio da nossa população, uma cultura que há conscientização e afeto.”

Um dos artistas que se apresentaram no evento é o jovem Henrique Pedro, 21, que comenta a dificuldade de acessar outros espaços culturais no território: “os outros espaços de cultura do bairro são relativamente inacessíveis, porque não é um espaço gerido pela comunidade, tem todo um calendário burocrático, e depende muito das verbas governamentais.”

O jovem reforça que valoriza a autonomia dos artistas, coletivos e articuladores comunitários para continuar promovendo transformações sociais para os moradores do bairro. “Durante o verão a piscina fica fechada e coletivos autônomos se organizaram para fazer piscinas comunitárias para as crianças”, conta ele, apontando como os coletivos se organizam para atender os moradores, diante da má administração do CEU, próximo a ocupação.

Gestão pública ou autônoma?

Antes de se tornar um centro cultural no território, a Casa de Cultura Hip Hop Jaçanã era um Telecentro, que se manteve fechado e abandonado por muito tempo. Após o processo de ocupação e revitalização, o espaço passou a abrigar diversos coletivos e organizações sociais da zona norte, trazendo de início oficinas de capoeira, entrega de leite e reuniões comunitárias. Hoje a ocupação abriga cerca de nove coletivos de diferentes linguagens artísticas.

O distrito do Jaçanã integra a subprefeitura Jaçanã/Tremembé que tem mais de 290 mil habitantes e possui apenas quatro espaços de cultura, de acordo com o senso de 2017 da subprefeitura. Eles estão localizados entre a Fábrica de Cultura Jaçanã e o CEU Jaçanã, que são geridos por pastas administrativas do governo municipal e estadual.

“Agora que demos uma função social, que usamos o espaço, que criamos um espaço para se discutir os direitos através de cultura, querem tirar de nós”

Esse cenário faz do histórico de má administração de espaços públicos no território do Jaçanã uma razão coletiva para mobilizar moradores, interessados em cumprir um papel social que deveria ser do poder público.

“Esse espaço está sofrendo uma perseguição do governo no sentido de ser reintegrado, mas não faz sentido, porque era um espaço público que estava abandonado, sem função social, e agora que demos uma função social, que usamos o espaço, que criamos um espaço para se discutir os direitos através de cultura, querem tirar de nós, afirmando que não tem cultura aqui, fazemos ações aqui, não ficamos na teoria, movimentamos a casa”, denuncia Sergio La Paloma, um dos articuladores mais antigos da casa.

Com a forte intenção de ecoar a cultura da periferia, as atividades da ocupação vão além da cultura hip hop, fomentando também a organização de um espaço coletivo, gerido de forma autônoma por diversos grupos artísticos de múltiplas linguagens. Desta forma, o espaço dialoga e acolhe a comunidade, difundindo mecanismos para denunciar, discutir e compartilhar conhecimentos sobre o cotidiano de quem mora em territórios que são esquecidos diariamente pelas políticas públicas.

Foto: Gueto Cine

O incentivo a projetos culturais protagonizados por jovens

A casa dá visibilidade e espaço para os artistas do território ter condições de trabalhar e organizar suas apresentações e projetos, criando assim uma potente rede de referências positivas, que estimulam jovens do território a criar suas próprias iniciativas.

“Minha primeira apresentação foi feita no quintal da casa de uma amiga, até que nos convidaram para ocupar a casa. Antes ninguém conhecia meu trabalho, agora eu faço várias apresentações e as pessoas me conhecem. Estamos criando nossos próprios projetos, trabalhos e deixando nossa cultura viva”, afirma Gabriela Santos, 22, integrante do coletivo Sons Periféricos e uma das organizadoras do Sarau.

Ela aponta que a ocupação cultural contribui diretamente para a emancipação da juventude no território: “a casa é importante para mostrar que não estamos esperando que alguém faça um projeto pra gente lá no CEU. Estamos criando nossos próprios projetos.”

A opinião de Gabriela é compartilhada pela moradora Cileide Maria, 59, que assistiu o processo de transformação social fomentado pelos coletivos da ocupação. “A casa é um espaço de divertimento para as pessoas, que faz os jovens sair da rua e participar dos shows, aulas de música, dança e muda todo o bairro.”

Confira a 3ª edição da Revista Você Repórter da Periferia

O tema desta edição é “Juventude em Movimento”.

“Suzano, Osasco, Ferraz de Vasconcelos e Taboão da Serra foram as cidades que revelaram em 2018 jovens moradores de territórios periféricos com vontade de encarar os desafios do transporte público na região metropolitana do estado de São Paulo para se deslocar até o Centro de Mídia M´Boi Mirim, localizado no Jardim Ângela, zona sul da capital. Alguns destes jovens percorreram de maio a dezembro de 2018 mais de 100 quilômetros todos os sábados para participar do Você Repórter da Periferia, programa de formação de jovens repórteres, criado em 2013 pelo coletivo de comunicação Desenrola E Não Me Enrola”. Trecho do Editorial feito por Ronaldo Matos para a 3ª edição da Revista Você Repórter da Periferia.

As distâncias entre bairros e cidades, a falta de qualidade e acesso livre ao transporte público foram algumas das dificuldades enfrentadas pelas jovens que participaram do Você Repórter da Periferia. Elas apresentam nesta edição algumas das vivências que tiveram durante as imersões jornalísticas do projeto e que inspiraram novas perspectivas sobre periferias.

Centro de Mídia M´Boi Mirim lança curso para potencializar comunicação de iniciativas da zona sul de SP

0

Gratuito e com duração de cinco meses, o curso Comunicação de Impacto Territorial oferece vagas para cinco iniciativas e visa aprimorar a comunicação dos projetos. Para participar, é preciso atuar nos territórios do Campo Limpo, Capão Redondo, Jardim São Luís e Jardim ngela.

Em parceria com a Fundação ABH, o coletivo de comunicação Desenrola E Não Me Enrola, criador e gestor do Centro de Mídia M´Boi Mirim, espaço de trabalho compartilhado localizado no Jardim Ângela, zona sul da cidade, abre inscrições para o curso Comunicação de Impacto Territorial. Os interessados em participar da formação podem ser inscrever até 03 de junho, clicando aqui ou acessando as redes sociais do coletivo.

Dividido em cinco módulos que tem duração de três encontros cada, o curso Comunicação de Impacto Territorial tem duração de cinco meses e contemplará cinco iniciativas. O objetivo é que elas consigam planejar e executar sua própria comunicação a partir do contato com metodologias que levam em consideração as dinâmicas sociais dos territórios, para aplicação de estratégias, técnicas e uso de ferramentas inovadoras.

Conheça cada módulo:

1. Identidade Institucional – para investigar a fundo a história que a iniciativa precisa contar para o mundo;

2. Criação de Narrativas – uma metodologia para compreender as dimensões de criação de conteúdos e os públicos específicos;

3. Planejamento de Comunicação – visa sistematizar as estratégias de comunicação on-line e off-line que as iniciativas precisam colocar em prática;

4. Gestão de Rede Sociais – um módulo prático e mão na massa, no qual os participantes irão aplicar ferramentas e técnicas para produção de conteúdo e distribuição de informação sobre as suas iniciativas;

5.Narrativas em Audiovisual – que servirá para os participantes explorar novas possibilidades de produção de foto e vídeo, aplicando a identidade institucional do seu projeto.

Formação Comunicação de Impacto Territorial

Inscrições até 03/06, pelo link: http://bit.ly/ComunicaçãodeImpacto
Duração: junho a outubro
Início das atividades: 11 de junho
Horário: 19h às 22h
Local: Centro de Mídia M’Boi Mirim
Endereço: R. Thereza Silveira de Almeida, 3 – Jardim Ângela

Dúvidas e maiores informações: desenrola.jornalismo@gmail.com, ou pelo telefone 5835-1207