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“Eu tento dar o melhor pro meu filho”, diz Luana Ribas, artista e mãe solo

 Mãe aos 17, Luana contou ao Desenrola quais foram os principais obstáculos enfrentados por ela sendo artista, mulher preta e mãe solo na periferia. 

Cria da Cidade Ipava, bairro localizado no Jardim Ângela, zona sul de São Paulo, Luana Ribas, de 20 anos, além de mãe, é uma multiartista, atuando com artes visuais e na música. Ela passou a infância nessa quebrada da zona sul, onde colecionou vivências e construiu quem é no dia de hoje.

Luana desenha desde aproximadamente 3 anos de idade, e sua paixão por essa arte é tão grande que na escola, sempre que tinha tempo, estava rabiscando em algum papel. “Eu sempre gostei de desenhar, desde sempre mesmo! Desde que eu era criança. Na escola eu vivia desenhando”, relembra.

Uma de suas metas de vida é ter o corpo todo tatuado, mas isso não é por acaso, Luana diz ter se encontrado na arte um pouco depois da vinda de seu filho Anthony Ribas, de 3 anos, que nasceu em maio de 2018.

Nessa época, ela não conseguia encontrar emprego e precisava buscar o melhor para si e seu filho. E com isso veio a ideia de usar sua habilidade de desenhar para gerar renda, foi quando ela decidiu vender seus desenhos e começou a tatuar.

“Um rapaz que eu tinha no meu Facebook, era tatuador, e aí ele viu e me chamou pra ser meu ‘padrinho’ na arte. Aí ele começou a me ensinar, eu aprendi e comecei a ganhar dinheiro com a minha arte”, explica ela.

Luana Ribas é mãe de Anthony Ribas, de 3 anos. (Foto: Flávia Santos)

Saúde mental 

Se tornar mãe foi um passo grande que Luana não estava esperando que viria tão cedo, mas trouxe de volta a vontade de viver, fazer o melhor, pois sabia que em algum momento seu filho iria começar a se espelhar nela, e o que queria era mostrar o melhor de si para Anthony.

Seu tempo se tornou limitado após toda sua rotina ter sido construída nessa correria, na semana o tempo é curto e na maioria das vezes, o que ela precisaria resolver na semana, acaba deixando para o final de semana, pois sua prioridade sempre é dar mais atenção para seu filho.

“É meio difícil porque no final de semana faço coisas que não dá pra fazer na semana, tenho que dar atenção pro Anthony. Mas de pouquinho em pouquinho eu vou conseguindo conciliar”, pontua Luana.

Ela terminou os estudos ainda com Anthony na barriga, diz ter se esforçado bastante para ir o máximo de dias que podia, pois queria concluir o terceiro ano do ensino médio de toda forma, imaginou que teria problemas e ainda mais dificuldades se deixasse de estudar, e que isso pioraria mais sua qualidade de vida e entrada no mercado de trabalho.

O pequeno Anthony ajudou Luana a se motivar para combater a depressão. (Foto: Flávia Santos

“É meio difícil porque no final de semana faço coisas que não dá pra fazer na semana”

Luana tem uma jornada tripla, pois trabalha em diversos lugares para complementar a renda da família.

A gravidez em aspectos de acompanhamento foi relativamente saudável, o que realmente passou a preocupar bastante a jovem foi o fato de sempre ter tido problemas psicológicos, como a depressão, doença que já a fez tentar tirar sua própria vida mais de uma vez. inclusive quando ainda estava em período gestacional.

“Foi bem difícil, fiquei muito mal. Eu já tinha depressão, pensei várias vezes em tentar suicídio, mesmo grávida”, relata Luana.

A jovem lembra que descobriu a depressão quando era mais nova e explicou que até hoje ela sente ainda marcas da doença, onde o medo de cuidar de uma outra vida era grande.

“Teve uma época da minha vida que eu estava com depressão e tudo mais, não tinha muita perspectiva de vida. Depois que o Anthony nasceu, eu me vi obrigada a tentar melhorar, eu tinha que além de cuidar de mim, cuidar de outra pessoa. E aí comecei a ter meus objetivos como artista”, reforça.

Viver de arte

No início de 2020, mesmo Luana tendo tido um reconhecimento por parte desse profissional da área, ela afirma já ter pensado em se tornar tatuadora antes, pois amigos e colegas próximos notavam seu talento e sempre a questionavam o porquê de ela não trabalhar com isso.

Essa fase foi complicada, pois Anthony ainda estava para completar 2 anos, Luana já tinha iniciado seus trabalhos como tatuadora e se esforçava para conseguir tempo para tudo. Além disso, a vaga na creche estava difícil de conseguir, não tinha com quem ela deixar seu filho, pois sua família também trabalhava, e a preocupação tomou conta da mãe.

“Depois disso eu tive certeza de que queria tatuar. Mas aí não estava sendo o suficiente no momento, precisava de mais dinheiro. Eu era iniciante, tatuagem dá dinheiro, mas é preciso estar ali no ramo há um tempo”, diz a artista.

Com todos esses receios que ainda ocupavam espaço na mente de Luana, ela passou a procurar emprego para conseguir um dinheiro extra para dentro de casa, foi quando conseguiu uma vaga como atendente de telemarketing, trabalhando de segunda à sexta e mesmo assim continuou tatuando nas horas vagas.

Mesmo trabalhando fora, ela tinha certeza de que queria viver da arte, mesmo que isso exigisse um foco ainda maior vindo dela.

Os planos de Luana para atuar somente com arte em 2022 foram afetados pela pandemia. (Foto: Flávia Santos)

“Viver da arte e ter minha própria independência é meu maior objetivo. Quero fazer acontecer”

Luana atua com produção de desenhos, faz tatuagens e pretende lançar seu primeiro álbum musical.

Além de mãe solo, ela afirma ser uma artista acima de tudo, tanto que comentou com o Desenrola o fato de ter em mente futuros projetos musicais, por ter a habilidade também de escrever e compor letras baseadas em suas vivências. E é por se encontrar na arte, que seu sonho é viver dela.

“Me vejo como uma pessoa que passou por coisas bem pesadas. Eu só quero passar por cima de tudo isso, me tornar uma artista, viver da minha arte e dar uma vida minimamente decente pro Anthony”, desabafa.

Com a chegada da pandemia esses sonhos ficaram ainda mais distantes. Mas Luana tem tentado seguir adiante, dando máxima atenção como mãe e sempre correndo atrás do melhor pro Anthony.

“Viver da arte e ter minha própria independência é meu maior objetivo. Quero fazer acontecer”, concluiu ela.

Hoje, Luana mora com sua família materna, sua mãe, avó, tia e tio. Isso facilita para que não fique tão pesada a divisão de valores e gastos na casa, e ajuda no que pode todo mês.

Ela continua trabalhando fora, fazendo tatuagens e trocando serviços em busca de novos clientes e divulgação do seu trabalho. Seus planos para o próximo ano é conseguir trabalhar e viver somente da arte, conseguir um espaço só seu, mais tempo com seu filho e estabilidade. “Pretendo estudar muito, para até o meio do ano que vem estar trabalhando somente com arte”, enfatiza.

“É uma obrigação do poder público e do cidadão consciente”: moradores contam sobre a coleta seletiva em Osasco

Reciclando há muitos anos ou distantes desse processo, moradoras de Osasco refletem sobre a cultura da separação de materiais recicláveis, onde algumas aprenderam com a própria família e outras ainda tentam descobrir como colocar em prática dentro do território.

Sempre que lava a louça, Beatriz aproveita para lavar as embalagens recicláveis que utilizou durante o dia.

Com a realização da 26ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a COP 26, em 2021, pautas sobre o meio ambiente foram discutidas no mundo inteiro, com grande destaque durante o evento. Nos territórios, o processo de coleta seletiva e separação de materiais recicláveis é um tema cotidiano, e para entender um pouco mais sobre essa cultura sustentável, o Desenrola conversou com Beatriz Gonçalves, que recicla desde pequena, e Ana Nunes, que não tem esse costume.

Beatriz Gonçalves, 23 anos, mora no bairro do Jardim D’Abril em Osasco, região metropolitana de São Paulo, e a separação de materiais recicláveis está presente em sua vida antes mesmo de seu nascimento. Tudo começou com o seu avô, Lafaete, 79 anos, que sempre gostou de se informar sobre educação ambiental e consumo consciente, devido ao trabalho que teve durante muitos anos: vendedor de livros autônomo.

Lafaete retirava os livros de distribuidoras, colocava todos em um fusca que tinha, e saia de sua casa em Santana de Parnaíba, para vender os livros de porta em porta em todas as cidades e estados que passava. O contato com a literatura o fez entender sobre a separação de materiais recicláveis e consumo consciente. 

“Meu avô vendia livros indo até as casas, era muito antigamente. Eram sobre diversos assuntos [os livros] e ele sempre foi assim. Ele lê muito, ele gosta dessas coisas e eu acho que ele se informou por aí, […] ele sempre foi um homem bem informado, sempre com noções de consumo de água, reciclagem entre várias coisas”

conta Beatriz sobre seu avô.

Com esse conhecimento, Lafaete criou 6 filhos e passou suas vivências adiante. Principalmente para Simone, mãe de Beatriz. Mesmo o restante da família tendo o costume de separar apenas as latinhas, na casa dela, tudo é separado. “Minha mãe sempre reciclou para ajudar os catadores. Ela também estudou sobre o assunto tempos depois, quando ela voltou a estudar”, enfatiza Beatriz.

Dentro de casa, Beatriz, Simone e o padrasto, Luiz, mantêm a rotina de separação dos materiais recicláveis como algo natural. Devido a convivência com o avô e as conversas sobre sustentabilidade, reciclagem, consumo de carne e tudo que envolve impactos ambientais, Beatriz decidiu cursar Gestão Ambiental no Instituto Federal de São Paulo (IFSP), para dar continuidade a tudo o que já vivia.

Separação dos materiais recicláveis  

Durante um tempo, Simone fazia a separação de materiais recicláveis em casa, mas não levava em um Ecoponto (local público em que os cidadãos podem se desfazer de seus reciclados), ela apenas colocava na calçada para que quando o caminhão do lixo passasse, pudesse retirar.

Beatriz começou a estudar o assunto e percebeu que o caminhão de lixo convencional misturava o lixo reciclável e o não reciclável, e entendeu que elas precisariam mudar essa dinâmica e levar ao Ecoponto mais próximo da casa delas, localizado no bairro do Jaguaribe, em Osasco, pois na região onde moram não passa o caminhão da coleta de material reciclável.

“A gente achava que estava reciclando só separando o lixo, só que o correto é lavar a embalagem, secar e levar no Ecoponto. Porque o lixeiro vem, joga no caminhão e mistura tudo”

relata Beatriz.

Na primeira vez que usou o Ecoponto, foi informada pelos funcionários que ela não precisaria separar em sacos específicos, pois essa separação é feita no próprio espaço. Então, ela coloca tudo na mesa sacola, e separa apenas o vidro, pois pode cortar a mão de quem está em contato com o material.

“Ao lavar a louça eu lavo também a embalagem de produtos que já usei. Coloco para secar e coloco no saco de lixo. Eu consigo manter o saco dos recicláveis em casa por até 3 meses, depois levo no Ecoponto mais próximo da minha casa” explica Beatriz, sobre o processo que realiza para a separação dos materiais.

As embalagens recicláveis escorrem junto com as louças, depois de totalmente secas, Beatriz coloca em um saco para levar no Ecoponto.

As outras tias de Beatriz, não seguiram os passos de consumo consciente do avô Lafaete como ela e a mãe. E fora do seu núcleo familiar, a estudante conhece apenas mais dois amigos que fazem a separação de materiais recicláveis. O que para ela deveria ser regra, na verdade é exceção.

“Eu fui pesquisando sobre sustentabilidade e optei por ter uma vida mais minimalista e fazer a separação correta do lixo. […] O ser humano, ele se coloca acima como um ser superior, mas ele faz parte da natureza, cuidar da natureza é por sobrevivência também”

expõe Beatriz.

Na visão de Beatriz, que está envolvida na causa ambiental, ainda é muito difícil seguir com essa educação no município, por isso ela tomou a iniciativa de tentar mudar esse processo dentro de casa, procurando algum lugar para levar o seu lixo: “A gente não tem um apoio mais efetivo para reciclar. Não tem incentivo”, lamenta.

Osasco Recicla 

Atualmente, a cidade de Osasco conta com 7 ecopontos, em que as pessoas podem levar tanto materiais recicláveis de consumo doméstico, quanto resíduos de construção civil, móveis e eletrodomésticos. Os ecopontos ficam localizados nos bairros: Jardim Mutinga, Novo Osasco, Jaguaribe, Helena Maria, Adalgisa, Bandeiras e Munhoz Júnior.

A cidade, também conta com cerca de 250 PEV’s (Pontos de Entrega Voluntária) espalhados, que estão instalados em parques e equipamentos públicos, em que cidadãos podem descartar seus próprios resíduos recicláveis, como garrafas plásticas, latas de alumínio, papelões, entre outros.

Além dessas duas formas de reciclagem, compõem o programa Osasco Recicla, a coleta porta a porta, em que um caminhão recolhe os materiais recicláveis uma vez por semana, nos domicílios onde foi implantada a coleta seletiva. Esse serviço cobre apenas 19 bairros, cerca de 30% da cidade.

Segundo Jair Ribeiro, gerente responsável pela Secretaria de Obras de Osasco, que cuida de toda a limpeza urbana da cidade, estava planejado que a coleta crescesse para outras regiões, mas entre 2020 e 2021, a pandemia da covid-19 impediu esse processo.

“Depende das ruas, tem algumas ruas que são contempladas por esse serviço, não são todas não. Na zona norte é um pouco mais difícil, mas na zona sul tem bastante”

afirma Jair Ribeiro.

Ele conta o que acontece com o material depois que ele é coletado pelos caminhões da EcoOsasco, empresa contratada pela prefeitura. “Todo esse material coletado vai para as três cooperativas [da cidade]. É um programa que nós temos chamado “Osasco recicla”, onde há a inclusão dos catadores. São três cooperativas que recolhem esse material, preparam ele, separam, vendem o material, e a arrecadação é repartida entre eles”, diz.

Mesmo morando nos bairros contemplados pela coleta seletiva porta a porta, Karen Kumagai de Presidente Altino, Jessica Rodrigues do Jardim Roberto, Patrick França da Cidade das Flores e Eduardo Lopes do Rochdale, relatam que nunca viram o caminhão, ou ficaram sabendo desse serviço.

Questionado pela nossa reportagem, Jair explica que a divulgação do serviço não é midiática, é feita de casa em casa. “A divulgação é feita porta a porta em cada casa, levando panfletos e conversando com as donas de casa. Se a gente faz uma divulgação ampla, os outros bairros querem também e você não consegue fazer. É preciso fazer bairro a bairro esse trabalho de educação ambiental”, relata Jair.

Jair afirma que o critério utilizado para fazer o mapeamento da coleta porta a porta, é geográfico, levando em consideração bairros mais próximos das cooperativas por conta da logística do caminhão, e também vai de acordo com as demandas da população.

“Por exemplo, se existe uma demanda muito grande aqui no Vila Yara e Adalgisa que quer a coleta seletiva, o pessoal começa a ligar para nós e pedir. Então as vezes fica mais fácil você implantar onde as pessoas já querem”, diz Jair.

Ana Nunes, 20 anos, moradora do bairro do Jaguaribe, em Osasco, mora com os pais e eles não têm o costume de separar o material para reciclagem. Para ela, um grande empecilho para a não realização desse processo, é a ausência do sistema porta a porta em seu bairro. 

“Se fosse um caminhão que passasse igual o caminhão do lixo normal, ia ser muito mais fácil a gente separar em sacos diferentes”

expressa Ana.

Ela relata que um de seus maiores empecilhos para começar com a cultura dentro de casa, é a falta de tempo. Trabalhando e estudando, ela conta que chega muito cansada em casa, e não tem tanto tempo para separar o material e depois se deslocar até um Ecoponto ou PEV mais próximo.

Um dos Ecopontos da cidade, fica localizado no bairro de Ana, mas ela nunca soube dessa informação.

“A gente nunca ficou sabendo se existe algum posto perto de casa, eu sempre ando pela região e nunca vi posto de coleta e olha que a gente tem vários grupos da rua e ninguém fala nada que tem isso”

diz Ana.

Dentro de casa, sua família não tem o costume de separar todas as embalagens que utilizam, mas Ana vê desde pequena o pai Sidnei Roberto, 56 anos, separar e vender latinhas. É uma cultura que ele mantém há mais de 30 anos, sendo que depois de separar, ele não leva até nenhum Ecoponto, o pai vende o material e a renda extra ajuda com as contas.

Sidnei guarda as latinhas em uma sacola, e vende quando já juntou uma boa quantidade.

Para ela, uma divulgação mais efetiva desses Ecopontos seria anunciar nos pontos mais movimentados da região, como igrejas, mercados e portas de bancos, pois sem divulgação é muito difícil saber que esse serviço está disponível. “No dia a dia a gente não passa em todas as ruas pra ver se tem alguma coisa”, coloca Ana.

Além de não saber da existência do Ecoponto, para ela o processo para separar o lixo, também não é divulgado e detalhado para a população. “Eu não sei qual é o processo, o que acontece, o que tem que fazer, não é falando em todos os lugares”, diz. 

Ação territorial, para um impacto global  

Mesmo sem realizar a separação de materiais dentro de casa, Ana compreende que é um processo importante e primordial:

“Muito bom pro meio ambiente porque eu quero viver muitos anos ainda, e eu quero que meus filhos vivam, e do jeito que está não sei se vai dar. A gente fica vendo tanta coisa ambiental acontecer que a gente podia mudar o simples que é separar o lixo, coisas que estão ao nosso alcance”

enfatiza Ana.

Carlos Marx, 75 anos, foi Secretário do Meio Ambiente da cidade de Osasco por 12 anos e integra o coletivo “Casaviva”, que atua diretamente na conscientização cultural e ambiental na cidade.

“Em 2017, eu e um grupo de amigos do movimento cultural e ambiental de Osasco, decidimos criar um coletivo para trabalharmos em conjunto na área ambiental e cultural realizando cursos, atividades, eventos, comunicação na parte de conscientização e educação ambiental”, conta Carlos.

Desde então, ele e mais 8 ativistas: Samantha Alves, Fábio Maganha, Manoel Gurgel, Dorgival Nazaro, Maristela Leamare, Gênesis Nazaro, Larissa Alves e Rosi Cheque, atuam de forma voluntária na cidade, com a proposta de promover a educação ambiental e conscientizar a população osasquense. Para Carlos, a arte é uma importante ferramenta para fazer educação ambiental. 

“Você não faz conscientização ambiental só fazendo discurso e dando aula. Uma ação cultural, um evento, um show, um ato no calçadão… às vezes atinge e sensibiliza muito mais gente que você fazer essa educação ambiental formal”

explica sobre a dinâmica de atuação do coletivo.

Além da organização de ações e eventos, o coletivo atua na divulgação dos bairros que fazem coleta seletiva porta a porta, ajudando a informar as pessoas a separarem os materiais recicláveis em casa e colocarem na lixeira no dia da coleta, ou até mesmo para os catadores pegarem.

O contato também se estende por igrejas, condomínios e escolas do ensino médio, e ensino fundamental a partir da 5ª série. Com atividades, filmes e palestras envolvendo a educação ambiental. 

“Nós entendemos que a tarefa de preservar o meio ambiente é uma tarefa de todo mundo. É uma obrigação do poder público mas também do cidadão consciente. O cidadão tem que ter consciência que ele tem que saber dar a destinação para os resíduos que ele produz, se não o meio ambiente não vai ter recuperação ambiental”

exprime Carlos.

Ativista há muitos anos, Carlos percebe que atualmente, as pessoas estão bem mais engajadas e informadas sobre a importância da preservação da natureza do que em anos anteriores, principalmente a juventude, que recebe informações de multiplataformas e repassa para os pais.

Essa mudança de hábito é o que o coletivo caminha para atingir, informando as pessoas que a preservação do meio ambiente não passa de uma ação coletiva e local. 

“A ação local agora ganhou uma expressão muito grande. A pessoa não vai conseguir sair daqui de Osasco e ir lá na Amazônia impedir que ponham fogo e derrubem as árvores. A gente tem que ter compromisso que aquilo está errado, cobrar das autoridades, e fazer a nossa parte aqui”

considera Carlos.

Descentralizar a rede 5G é a única forma de combater a desigualdade digital nas periferias e favelas

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Acesso à internet móvel de qualidade para moradores de periferias e favelas precisa ser garantido por meio de políticas públicas, para não depender do interesse do mercado.

Herbet Lucas,19, é morador da Cidade Ipava, bairro localizado às margens da represa Guarapiranga, zona sul de São Paulo, onde a internet fixa não tem boa qualidade e o sinal de 4G não é acessível. Foto: Flavia Santos

Em abril de 2013, empresas de telecomunicações como Claro e Vivo estavam fazendo comunicados à imprensa anunciando o início da oferta de produtos e serviços de telefonia móvel com rede de conectividade 4G.

Oito anos após esse marco histórico na telefonia móvel brasileira, que prometia revolucionar a forma como as pessoas se conectavam à internet por meio de smartphones, um fato invisível e quase intocado incomoda a equipe do Desenrola: por que as periferias e favelas não foram incluídas na universalização da rede 4G com a mesma qualidade que os centros urbanos do país possuem?

É necessário reconhecer que a rede 4G não é universal e acessível nas periferias e favelas. No município de São Paulo, por exemplo, maior metrópole da América Latina, a plataforma Mosaico da Anatel comprova a existência de diversas antenas RDB, instaladas nesses territórios para distribuir o sinal de redes 2G e 3G, e isso acontece principalmente nos bairros mais afastados da região central da cidade.

A precariedade da cobertura 4G nas periferias e favelas de São Paulo se mede pela quantidade de antenas RDB para distribuir o sinal de internet móvel nesses territórios. No Jardim Ângela, distrito da zona sul de São Paulo, com 300 mil habitantes, onde 60% da população se autodeclara preta ou parda, segundo o Mapa das Desigualdades há 1,23 antenas de celular para cada 10 mil moradores.

No Jardim Helena, extremo leste de São Paulo, há 1,53 antena de celular para cada mil habitantes do distrito. A Associação Brasileira de Infraestrutura para Telecomunicações (ABRINTEL) aponta que o ideal é que uma antena de telefonia móvel para acesso à internet forneça sinal para no máximo 2.200 usuários.

Esse dado revela que a cobertura de internet móvel em São Paulo é extremamente desigual, pois na região central da cidade, mais precisamente no distrito de Itaim Bibi, há 48,28 antenas de celular para cada 10 mil habitantes.

Ao constatar que a universalização da rede 4G ainda não aconteceu em São Paulo, na maior fica um ponto de interrogação e reflexão importante: que irá garantir o 5G não se torne mais um elemento de segregação social e econômica para a população preta e periférica?

Em nossa cobertura jornalística, o que temos observado é o crescimento do número de micro e pequenas empresas provedoras de internet fixa para os territórios periféricos, que não são atendidos pelas grandes empresas de telecomunicações.

No entanto, ainda não diagnosticamos o surgimento de empresas de telefonia móvel que irão cumprir esse papel de levar a quinta geração de acesso a internet móvel para as periferias e favelas.

Já está mais que na hora do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (FUST) ser ancorado por um movimento nacional de combate às desigualdades digitais e a concentração de renda atrelada a interesses políticos.

As empresas que irão pautar o mercado do 5G não estão engajadas em utilizar a rede 5G como uma estratégia de desenvolvimento social e econômico das periferias e favelas, e tampouco conhecem o potencial que uma ação bem desenvolvida nesse campo poderia gerar de novas oportunidades de negócios.

Enquanto o futuro da conectividade brasileira for decidido por ‘poucos’, muitos cidadãos deste país estarão condenados a viver a margem da sociedade, excluídos digitalmente e principalmente com poucas possibilidades de geração de renda e trabalho e ascensão social.

Em janeiro de 2020, antes da pandemia de covid-19 atingir o Brasil, um relatório sobre mobilidade social foi apresentado no Fórum Econômico Mundial, apontando que para um cidadão brasileiro pobre ter equidade de oportunidade de trabalho e renda será necessária sua família avançar nove gerações no tempo, para esse momento chegar.

Mas esse dado foi lançado antes da pandemia, ou seja, com o crescimento das desigualdades sociais no país, os moradores das periferias e favelas, população mais empobrecida nesta nação continuará distante do letramento digital e da inclusão digital a tanto tempo discutida por diversos setores da sociedade civil.

No centro da discussão do 5G deveria estar o objetivo estratégico de descentralizar o acesso a rede de internet móvel de quinta geração, para possibilitar que no futuro os moradores das periferias e favelas tenham acesso ao ensino público, ensino superior e posteriormente ao mercado de trabalho com equidade de direitos e não na posição histórica de subalternidade. 

Artistas das palavras movimentam a programação da 2º Festa Literária da Noroeste

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Com o  tema “CHÃO: sob o que penso, piso e sou”, o foco desta edição é evidenciar as potências encontradas nas periferias como lugar pulsante de literatura, arte e cultura.

Foto: Salve Kebrada

Poetas, escritores(as), slammers e demais artistas da palavra participam da 2ª Festa Literária Noroeste (FLINO), que acontece de 29 de novembro a 5 de dezembro. Com atividades presenciais e virtuais, a 2ª edição da FLINO homenageia o geógrafo e pensador negro Milton Santos.

Durante sete dias da festa, a maior parte das atrações acontecem de modo virtual, com transmissão online por meio do Youtube e Facebook da FLINO. Haverá, ainda, algumas oficinas e atrações nas bibliotecas da Secretaria Municipal de Cultura da região e também nos CEUs (Centros Educacionais Unificados).

Com uma programação multicultural, a FLINO terá mais de 25 atrações. Haverá contação de histórias, intervenções poéticas individuais, espetáculos de teatro, exibição de documentário, música e performances, além de oficinas (faça aqui sua inscrição), rodas de conversa sobre literatura, território e temas ligados às questões étnico-raciais. Haverá também uma feira virtual de livros de escritores(as) independentes da região.

Foto: Sarau D Quilo

“O objetivo da festa é fortalecer a cena cultural e literária dos bairros da região, assim como ampliar a articulação e parceria entre as bibliotecas, equipamentos públicos, coletivos de cultura e comunidades do território”, explica Sandro Coelho, bibliotecário da Biblioteca Brito Broca, que integra a organização da FLINO.

Com o mote “CHÃO: sob o que penso, piso e sou”, esta edição da FLINO vai evidenciar as potências encontradas nos territórios periféricos como lugares pulsantes de literatura, arte e cultura. O homenageado da FLINO 2021 é o geógrafo Milton Santos, considerado um dos maiores intelectuais negros do século 20 e uma grande referência nas reflexões sobre territórios.

O bibliotecário complementa que além do foco artístico, a FLINO dará destaque para discussões estruturais como raça, classe e gênero em sua programação. “É reforçar a importância dos movimentos negro, indígena, de mulheres, LGBTQIA+ e PCD, por meio de uma programação que reflita os diferentes aspectos do território noroeste”, finaliza. 

Confira a programação da 2ª Festa Literária Noroeste (FLINO) 

1º DIA | 29/11

20h | MESA DE ABERTURA – O CHÃO CONTRA O CIFRÃO (20h) | Online no FB e YT da FLINO

2º DIA | 30/11

14h | Ateliê da Memória e da Oralidade: no rastro do quilombo | Google Meet | Inscrições via formulário

21h | Roda de Conversa: Democratização do Acesso à Literatura | Online FB e YT da FLINO

3º DIA | 1/12

14h | Oficina Os Caminhos de Carolina Maria de Jesus | Online no FB e YT da FLINO | Inscrições via formulário

18h | Espetáculo Juracy Boca Materna | Online no FB e YT da FLINO

20h | Roda de Conversa: Literatura Independente | Online no FB e YT da FLINO

4º DIA | 2/12

10h | Oficina Produção de Fanzine | Online Google Meet | Inscrições via formulário

15h | Intervenção Poética Cabocly | Presencial CEU Pera Marmelo

18h30 | Rap e Poesia: Olha Ela | Online no FB e YT da FLINO

20h | Roda de Conversa: Festas Literárias Periféricas | Online no FB e no YT

5º DIA | 3/12

10h | Contação de Histórias: As Contadeiras e seus Canteiros | Presencial Biblioteca Brito Broca

14h | Oficina de Slam | Presencial CEU Vila Atlântica

20h | Batalha da 16 | Online pelo FB e YT da FLINO

6º DIA | 4/12

11h | Oficina: Construção da Fubica (Movimento Negro Unificado) | Online e Presencial na Biblioteca Padre José de Anchieta

13h | Roda de Conversa Favelas e Aldeias: narrativa coletiva, sintonia na mensagem | Online no FB e YT da FLINO

15h | Feira de venda de livros da FLINO | Online no FB e YT da FLINO

17h | Curta-Metragem Como Recuperar o Fôlego Gritando | Online no FB e YT da FLINO

18h | Roda de Conversa Literatura, Futebol e Batucada nos terrões da noroeste | Online no FB e YT da FLINO

20h | Slam do Pico | Online no FB e YT da FLINO

7º DIA | 5/12

11h | Oficina Territórios, Memórias e Identidades | Google Meet | Inscrições via formulário

13 | Apresentação: A história da Capoeira, contada por nós pra nós (13h) | Online no FB e YT da FLINO

15h | Feira de vendas de livros da FLINO | Online no FB e YT da FLINO

17h | Intervenção poética: Do Haiti ao Brasil, sonho de um haitiano em trânsito | Online no FB e YT da FLINO

18h | Apresentação: ETHNOKHAOSS – a inversão do etnocídio | Online no FB e YT da FLINO

20h | Encerramento com Saraus da Noroeste | Online no FB e YT da FLINO

Grafite “Matas Vivas Vidas Negras, salvem” é lançado em referência ao Dia da Consciência Negra

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Localizado no Grajaú, obra destaca a população negra existente nas florestas brasileiras e também nas periferias urbanas

Hoje, dia 20, o Brasil celebra o Dia da Consciência Negra, data que marca a morte de Zumbi dos Palmares. Para chamar a atenção da população sobre o tema, mas também destacar a relação entre raça e meio ambiente, o Instituto de Referência Negra Peregum, organização que mantêm a rede de cursinhos populares Uneafro Brasil, em parceria com o artista Mauro Neri, lança a obra “Matas Vivas Vidas negras, salvem”. 

A obra está localizada no Grajaú, região escolhida por apresentar características ambientais fundamentais para a população paulista. Trata-se de um bairro com mata nativa preservada – neste caso a Mata Atlântica – além de ser uma região de manancial.
A instalação foi realizada nas empenas da Escola Estadual Mariazinha Congílio. A escola também fica às margens da Represa Billings. O desenho simboliza a população preta em meio a realidade das florestas brasileiras. Dados do Censo, por exemplo, estimam que mais de 80% da população da Amazônia é negra. 

“O racismo ambiental é presente nas cidades e nas florestas, fazer uma empena junto com um artista como o Mauro é uma honra imensa, um artista parceiro que nos inspira e desafia a olhar para o território. Trazer a Amazônia negra para um lugar como o Grajaú, extremo sul de São Paulo, dentro de uma área de proteção ambiental na Mata Atlântica confirma que os biomas se conectam pela cultura, pela beleza e pelas mazelas das desigualdades sociais”, afirma Vanessa Nascimento, diretora executiva do Instituto de Referência Negra Peregum.
A instalação contou com o apoio do Instituto Clima e Sociedade que durante o mês de novembro também realiza ações com o tema Amazônia Negra.

Em Osasco, moradores transformam terreno com construção atrasada em espaço de lazer

O terreno fica no bairro de Quitaúna, em Osasco, região metropolitana de São Paulo, e desde 2003 é ocupado por moradores que o utilizam como local de lazer, principalmente para soltar pipas. O espaço que já foi sede de campeonatos de pipas, irá abrigar um campus da Universidade Federal de São Paulo, mas a construção anunciada em 2008, continua sem término.

Jovem empina pipa no terreno conhecido como “Estandão”, com o prédio da Unifesp em construção ao fundo, à direita. Foto: Mateus Fernandes

Em abril de 2008, foi fixada a pedra fundamental do futuro campus da Universidade Federal de São Paulo, na rua General Newton Estilac Leal, no bairro de Quitaúna, em Osasco, e assim formalizado o anúncio do campus na região metropolitana de São Paulo. Anteriormente, o local abrigava o rodeio da cidade, e hoje, mais de 13 anos desde a aquisição do terreno, a entrega do campus ainda não foi realizada.

Conhecido como Estandão, o terreno que deve abrigar o campus da universidade, tem uma área estimada em cerca de 24 mil m², e foi direcionado para obras em 2008, mas teve início apenas em 2016. Mas o que já havia começado há muito tempo no local eram eventos e campeonatos de pipa.

Pipas compõem o cenário da construção do campus de Osasco da Universidade Federal de São Paulo. Foto: Mateus Fernandes

Até 2008, as atividades e campeonatos de pipa ocorriam com aval da prefeitura de Osasco, mas após a autorização para a construção do campus da Unifesp, essas autorizações para os campeonatos não foram mais concedidas. Porém, a prática de pipas continua a todo vapor no local, principalmente aos finais de semana.

Prédio espelhado do campus da Unifesp já construído, contrasta com o espaço de terra vazio. Foto: Mateus Fernandes.

Um dos moradores que tem uma ligação direta com o Estandão, é o Alex Sandro, de 43 anos, mais conhecido como Ligeirinho. Ele conta que há 18 anos vende pipas na região, além de ter sido pioneiro da prática no local. O vendedor continua com sua loja até hoje, vivenciando toda a história do Estandão.

Ligeirinho, nascido e criado em Osasco, conta que sempre foi apaixonado por pipa e que viver disso foi a concretização de um sonho. Após ter sido mandado embora do antigo trabalho, Ligeirinho acabou tendo a ideia da loja em um momento de lazer. Quando iniciou suas vendas, ainda em 2003,  ocorria o rodeio no local.

Alex Sandro, conhecido como Ligeirinho, desde 2003 tem uma loja de pipas em frente ao Estandão, em Osasco. Foto: Mateus Fernandes

“Fui soltar a pipa, perdi minha pipa e aí falei para o moleque: ‘onde que eu compro uma pipa aqui né?’, aí o local era lá no Santo Antônio [bairro de Osasco], era muito longe. Aí saindo aqui, eu olhei e falei: ‘quer saber de uma coisa? Vamos montar aí uma piparia e vamos ver o que vai dar!'”,

conta Ligeirinho que conheceu o local através de amigos que o chamaram para ir soltar pipa há 18 anos atrás.

Ligeirinho  na sua loja em frente ao Estandão, em Osasco. O trabalho na loja é responsável pelo sustento de Alex e sua família.
Foto: Mateus Fernandes

Obras em atraso e terreno inacabado 

O terreno foi adquirido em 2008, e até o fim de 2014, somente o gradil do entorno do espaço havia sido entregue após muitas reclamações de abandono. Segundo a assessoria da Unifesp, a autorização para a contratação, via licitação pública, para a sua construção, foi dada no início de maio de 2016, e a partir daí passa a ser executada, com início da obra somente em agosto de 2016.

Terreno em que ocorrem as construções da Unifesp em Osasco. Foto: Mateus Fernandes.

Como o campus definitivo ainda não foi entregue, os alunos estudam em uma unidade provisória que foi inaugurada em 2011, no prédio da Faculdade Instituto Tecnológico de Osasco (FITO), da prefeitura. Atualmente, mais de 1 mil estudantes utilizam a unidade temporária.

Jovens empinam pipa no Estandão. Foto: Mateus Fernandes.

Enquanto as obras do prédio não terminam, a população segue utilizando o local como uma área de lazer. Moradores da região realizam caminhadas na ciclovia de mais de 1 km ao redor do terreno, e devido a área se localizar em uma subida íngreme, é mais difícil ter bicicletas no trecho. Há também muitas pessoas que praticam direção de carro e moto no terreno.

Porém, a principal atividade continua sendo o pipa, que atrai tanto pessoas do bairro, como de outras regiões de Osasco e até de outras cidades. Embora aos finais de semana e feriados você sempre consiga ver pipeiros  no Estandão, alguns anos atrás, na época das competições, o espaço era muito mais movimentado que hoje:

“Acho muito bom o espaço, pois as crianças e os jovens podem brincar sem correr o risco de ficar nas ruas onde não oferece segurança alguma. De vez em quando o barulho e o corre-corre dos pipas era demais, mas era mais antigamente, hoje nem tanto. Perto de antes isso não é nada, o som parecia dentro de casa na época do rodeio.”

Conta Neusa Ferreira, moradora dos arredores do Estandão, em Osasco.

Aumento na procura por pipas

Pipeiro que frequenta o espaço exibe suas pipas em frente a construção do campus da Unifesp em Osasco. Foto: Mateus Fernandes.

Durante a pandemia, muitos jovens recorreram ao pipa, que é uma atividade de lazer barata e que há muitos anos é um símbolo de divertimento e convivência em muitas periferias.

Porém, no início da pandemia do coronavírus, em 2020, Ligeirinho conta que ficou desesperado em como iria manter a renda para ele e sua família. “Veio a pandemia, eu estava com a mulher grávida, sem um real no bolso falei: ‘Meu Deus do céu, que que vai ser de mim, mano?'”, relata.

Para sua surpresa, durante a pandemia, a procura pelo pipa explodiu. E no caso de Ligeiro, o aumento das vendas contou com a ajuda de um recurso bem atual: as redes sociais.

“Meu filho, ele tem seis aninhos, o João Lucas, falou: ‘pai, faz um Tik Tok’. Aí eu falei, vamos ver o que é isso aí. No começo pra mim já é era novidade, né? Aí eu fiz meu TikTok e postei uma carretilha personalizada. No outro dia eu acordei meio-dia, o vídeo bateu um milhão e oitocentos mil visualizações”,

compartilha Ligeirinho

Com isso, o trabalho do pipeiro que desde 2003 possui uma loja em frente ao Estandão, se transformou. Hoje, ele sustenta toda sua família e conta com uma fábrica de carretilhas personalizadas, realizando trabalhos para todo o país.

“Eu sou o único que conheço que faz carretilha personalizada. Já fiz pro Gabigol, pra Gabi, jogadora do Corinthians. Mc, pra todos né? E esse do Igão ele pediu semana passada, tô pra levar pra ele”, afirma Ligeirinho, que começou a trabalhar no mercado de pipas a partir de uma ida despretensiosa com os amigos no Estandão.

Carretilha personalizada com Igão, que é osasquense e que atualmente é um dos apresentadores e criadores do podcast PodPah. Foto: Mateus Fernandes

Criminalização do pipa

“A linha cortante é proibida e é justo ser proibida. Mas é difícil você controlar as crianças. Então o que fazer? Uma antena na moto, ali no guidão pra linha não cortar, que salva a vida do cara. O pessoal devia fazer uma campanha pra usar antena, ia salvar vidas”

aponta Ligeirinho que não comercializa linhas com cortantes em sua loja.

O projeto de Lei 4948/2020 define como crime a posse, o uso, a fabricação, o fornecimento e a comercialização de linhas cortantes, geralmente usadas para manejar pipas, papagaios ou pandorgas. Em Osasco, a lei municipal também proíbe a comercialização, produção, armazenamento, transporte e distribuição do cerol no município.

Richard, 13 anos, frequentador do Estandão, afirma não usar cortantes na sua linha. Foto: Mateus Fernandes

“É uma das brincadeiras mais baratas que restou. E o pipa é um aprendizado sem tamanho”,

afirma Ligeirinho.

Porém, a criminalização ocorre muitas vezes até com aqueles que seguem todos os métodos de segurança. Da mesma maneira que muitas práticas de lazer que ocorrem principalmente nas periferias, como o baile funk, por exemplo, onde os pipeiros muitas vezes são taxados de vagabundos. Tal prática que ocorre também com o skate, e só vem mudando recentemente, principalmente com a inclusão do esporte em competições oficiais.



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Skatepark no Campo Limpo concentra juventude apaixonada pelo esporte olímpico – Desenrola E Não Me Enrola

Além de ajudar a fazer a manutenção do único parque comunitário dedicado ao esporte na região, jovens ainda lutam contra o preconceito em relação ao skate.
Richard é um dos jovens que costuma frequentar o Estandão. Foto: Mateus Fernandes

“Muito maneiro vocês estarem realizando essa reportagem por aqui, é até bom pra ajudar na nossa vontade de descriminalizar”

afirma Jean, 29, morador de Osasco que costuma soltar pipa no Estandão com seu amigo Richard.

Carretilhas de Jean e Richard, frequentadores do Estandão que afirmam não usar cortantes em suas linhas. Foto: Mateus Fernandes.

“Não pode generalizar. O pessoal costuma radicalizar muito. As pessoas não vão parar de soltar pipa, é uma prática milenar. Eu soltei, meu vô soltou, meu bisavô soltou. Não é uma parada que acaba assim. E na periferia muitas vezes a pessoa não tem nada pra fazer, mano”

coloca Ligeirinho, sobre essa criminalização.

Outro vendedor de pipas na região, que preferiu não se identificar, relata que já sofreu agressões da GCM – Guarda Civil Municipal, quando estava vendendo pipas e lanches no terreno do Estandão.

“No dia que o guarda veio aí ele questionou: ‘você tem linha chilena?’, falei ‘não, não tenho’. Daí tinha o policial ali folgado falou assim: ‘não tem mesmo?’, eu falei de novo que não, que se quisesse podia revistar. Aí ele ‘você tem que entender que você está invadindo, aqui é área particular’. Invadindo? Se eu estou invadindo, eu estou invadindo há dez anos. Aqui é área federal, do governo”,

compartilha o vendedor local, e reafirma que tudo que vende possui nota fiscal, não existindo motivos para abordagem.

O ambulante preferiu não se identificar, segundo ele até por medo da própria GCM o identificar e voltar a importuná-lo, pois ele conta que em um outro dia encontrou um dos mesmos guardas, e afirmou que se o viesse na semana seguinte iria tomar tudo o que ele tinha.

O espaço de vendas do ambulante, muitas vezes serve como cobertura para os pipeiros quando está chovendo. Um deles é Guilherme, de 11 anos, que frequenta o Estandão.

“Aqui é bom, o vento pra pipa é bom, dá pra comer um lanche junto na barraca”,

afirma o jovem.

Guilherme (de guarda chuva) e seus amigos costumam frequentar o Estandão. Foto: Mateus Fernandes.

O Estandão se tornou um ponto de encontro de pipeiros de todas as idades: de crianças até os mais velhos, como é o caso de Madureira, que até hoje se diverte com a prática.

Tanto crianças como frequentadores mais experientes, caso de Madureira, frequentam o Estandão em Osasco.

Futuro da pipa no local

Há mais de 15 anos o Estandão é um espaço que funciona como local de lazer para os moradores. Foto: Mateus Fernandes

A obra no terreno que irá abrigar o campus da universidade, está prevista para ser entregue no segundo semestre de 2022, conforme informado pela assessoria da Unifesp. Com isso, os pipeiros do local não sabem onde poderão realizar a prática da pipa.

“Eu acho que é o fim da pipa por aqui. Muda, né? Muda a visão. De repente a pipa machuca um estudante lá dentro, sei lá como vai ser pra ser sincero. A faculdade vai ser pública, é pública no papel, mas nunca é exatamente na prática”

reflete Ligeirinho, que também acredita que quando a construção do campus for finalizada, não haverá mais espaços para pipas no local

Enquanto as obras não são finalizadas, os pipeiros aproveitam do local. Foto: Mateus Fernandes.

Mesmo que passe a vivenciar outros mundos e outras áreas do comércio, Ligeirinho afirma que o mundo do pipa não sairá dele, reforçando a importância dessa cultura em sua trajetória. 

“Se você cria um filho dentro de casa, num shopping, ele não vai aprender o que ele aprende num local como esse. Pode ser perigoso? Pode. Mas também pode dar uma noção de pertencimento, de o moleque saber o que é dele e o que é dos outros. A malandragem da vivência, do convívio, isso aí faculdade nenhuma ensina”

coloca o vendedor e pipeiro osasquense.

O Estandão faz parte das vivências não apenas do Ligeirinho, também é parte das memórias de muitos moradores, e gera sorrisos ao relembrar a nostalgia da infância.

“Esse Estandão tem história, seh loko mano. História das antiga é o que não falta”

conta Lukas Cabral, antigo frequentador do Estandão em Osasco.

Foto: Mateus Fernandes

Plataforma reúne produtores de podcasts da zona norte de São Paulo

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Iniciativa surgiu após a pandemia decretar fechamento de espaços culturais, impedindo a apresentação de artistas e produtores de conteúdo da zona norte de São Paulo. 

Plataforma conecta moradores da zona norte de São Paulo com produtores de podcast das periferias da região. (Foto: Coletivo Mudança de Cena)

Com o fechamento da Casa de Cultura da Vila Guilherme, espaço público de cultura localizado na zona norte de São Paulo, artistas e coletivos artísticos da região ficaram sem um local para realizar apresentações, uma destas iniciativas é a Mudança de Cena, coletivo que se inspirou na pandemia para criar o projeto HUB da Norte, uma plataforma de streaming de áudio que reúne podcasts da região.

Os idealizadores do Hub da Norte são Osmar Araújo e Leandro Senna, integrantes do coletivo Mudança de Cena, que entendeu a importância de reinventar a estrutura das atividades culturais durante a pandemia, levando essas atividades para o ambiente digital.

“Eu pensei em montar uma rádio web, só que a questão de ter uma rádio web é que precisa ter uma contratação de internet diferente, com melhor upload e mais cara, a gente não tem recurso no projeto para esse pagamento. Seria uma rádio web de 3 meses, que era o que tínhamos para pagar.”, conta Osmar. 

A limitação imposta pelo acesso a um bom serviço de internet provocou o agente cultural a repensar o uso dos recursos adquiridos por meio da Lei Aldir Blanc, edital de apoio emergencial a agentes culturais afetados pela pandemia de covid-19.

Após entender que criar uma rádio não seria possível, Araújo iniciou o processo de desenvolver uma plataforma que vai conectar produtores de podcasts com ouvintes que são moradores da Zona Norte de São Paulo, com o objetivo de criar uma rede de produtores e consumidores de áudio.

Os principais assuntos abordados nos podcasts distribuídos na plataforma Hub da Norte são cultura, educação, ciência, direitos humanos e direito à cidade.

A iniciativa tem tudo para fortalecer o campo de produtores de podcasts nas periferias e favelas, um cenário promissor que já noticiamos com o surgimento de diversas iniciativas de podcasts e vídeocasts na quebrada, fato que está conectado também o comportamento dos moradores das periferias que passaram durante a pandemia a consumir mais conteúdos em áudio.

O jovem Igor Fink é um dos parceiros da plataforma que produz podast nas periferias da zona norte de São Paulo. (Foto: Coletivo Mudança de Cena)

Parceiros 

Segundo a Associação Brasileira de Podcasters (ABPOD) cerca de 70% dos podcasts brasileiros surgiram a partir de 2018, e foi nesse período que o jovem Igor Fink, 22, começou a produzir podcasts e hoje é um dos parceiros que distribuem conteúdo no HUB da Norte.

“Conheci o Osmar em 2017 em um projeto deles junto com o SESC. Desde então estamos trabalhando juntos. Eu sempre tive vontade de produzir coisas de algum jeito que agregasse conhecimento a outras pessoas. Quando chegou a pandemia, eu me vi com tempo livre e pensei que seria esse o momento de me dedicar a algo que sempre quis”, relata Igor.

Quando se trata de temas a discutir em seu podcast, Igor explica que os assuntos surgem aleatoriamente, mas de acordo com o que ele gosta de fazer. “Eu gosto muito de música e quando eu comecei a produzir o Herói Genérico não tinha uma pauta específica. Já produzi 15 episódios nele e acho que três foram sobre música, e os outros foram sobre temas variados”, conta.

“Eu queria falar sobre opressões vivenciadas dentro de coletivos, e como lidar com essa questão de raça, gênero e classe”

Amanda Nascimento é uma das parceiras do Hub da Norte para produção e distribuição de conteúdo em áudio.

Amanda Nascimento produz o podcast ‘Se Essa Rua Fosse Nossa’ e distribui o conteúdo no HUB da Norte, que surgiu como um trabalho de conclusão de curso da UNESP, mas que não poderia ficar só na academia.

“O tema do meu o meu TCC era sobre opressão. Eu queria falar sobre opressões vivenciadas dentro de coletivos, e como lidar com essa questão de raça, gênero e classe, essa intersecção dentro dos coletivos”, explica a podcaster.

Amanda afirma que a intenção do podcast não é necessariamente criar um manual de boas maneiras, mas sim de ter um espaço para que mulheres pudessem falar sobre todas as suas questões individuais, de como agregar mulheres negras, mães e LGBTQIA+, trazer à tona o debate em si e acolher todas essas diferenças e principalmente rever os atos dentro dos coletivos.

“Eu não quero dar respostas de como acolher mulheres negras é ‘assim e assim’ que se faz, não, eu queria enfatizar que isso acontece em qualquer estrutura de trabalho, ou até mesmo na militância esses temas sobre racismo, sobre violência contra mulher ou pressões e silenciamentos, o tema é um tabu e quando vamos confrontar ainda há muitos ruídos”, complementa. 

Futuro 

Para o criador da inciativa, a plataforma do Hub da Norte é promissora e ainda tem muito mais para crescer e agregar ao contexto educacional e territorial dos moradores das periferias.

Outro projeto que está no radar do coletivo Mudança de Cena é potencializar a atuação do HUB da Norte, oferecendo no formato de empréstimo infraestrutura e equipamentos para produção e captação de áudio para os produtores de podcast da zona norte.

Osmar conta que pretende dar início ao Fronteira Final, um projeto que visa disseminar conhecimento científico através dos podcasts juntamente com professores da rede pública de ensino da zona norte.

“O projeto a gente já aplicou uma vez e a gente não conseguiu o recurso, mas a ideia é basicamente que junto com algum professor de uma escola pública a gente faça um bate-papo sobre um tema da ciência.”, finaliza.

Comecei a fazer terapia e isso foi muito importante para a minha vida

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A vida tá a milhão e muitas mudanças ocorreram na minha vida. Uma delas foi que eu mudei de trampo, mas isso não vem ao caso. A outra é que eu comecei a fazer terapia. E é sobre isso que vamos falar. 

Vale das Virtudes, zona sul, SP, 2020 – DicampanaFotoColetivo

Olá! Mais uma vez peço desculpas pelo sumiço. A vida tá a milhão e muitas mudanças ocorreram na minha vida. Uma delas foi que eu mudei de trampo, mas isso não vem ao caso. A outra é que eu comecei a fazer terapia. E é sobre isso que vamos falar.

Tenho uma mãe já idosa que quase toda semana cola no postinho de saúde do bairro para alguma consulta de rotina (viva o SUS!). O posto é logo atrás da minha casa, colado na parede mesmo, por isso, meu despertador é o barulho do painel chamando as senhas da galera que vai se consultar. O barulho se estende pela manhã inteira, sinal que o posto está lotado. Sinal que a periferia está tentando se cuidar.

O cuidado com nosso corpo é essencial para que possamos aguentar os trancos da vida. Mas existe um cuidado que nós, que somos da periferia, quase nunca levamos em conta: o cuidado com a mente. Muitas pessoas quando pensam em terapia pensam que isso não faz parte do universo da periferia, afinal, não temos tempo e é “besteira”, mas cuidar da nossa mente é uma das coisas fundamentais do nosso dia-a-dia, pois não somos máquinas e precisamos fazer a manutenção de todas as informações e acontecimentos que nos cercam.

Eu enrolei bastante e até cheguei a marcar uma consulta com um psicólogo online no início do ano, mas não compareci. Não sei se por medo ou por achar que eu já estava bem… mas bem do que mesmo? Nem eu sabia o que se passava na minha mente. Só sei que após anos e anos de traumas diretos e indiretos (a periferia sabe muito bem o que é isso) eu entendi que necessitava dessa ajuda.

Mas toda vez que refletia sobre o assunto, já pensava automaticamente em desculpas: não tenho dinheiro, não tenho tempo, não sei nem o que vou falar na hora…Mas nem por isso eu deixava de indicar esse tipo de ajuda para as minhas amizades.

Passados alguns meses, eu finalmente encontrei um local que poderia me atender com um preço muito mais acessível (eu pago 10 conto por sessão). Foi uma amiga da quebrada que me indicou. Existiam duas possibilidades: o atendimento online ou presencial. Por estar cansado da ‘tela’ (que é inclusive um dos motivos de procurar ajuda) eu optei pelo modo presencial, mesmo sendo 2 horas da minha casa. E não me arrependo nem um pouco.

Encontrar um profissional que me escutasse foi um alívio imenso após todos esses meses vivendo em uma situação pandêmica. Muitos dados, inclusive, apontam para um número crescente de busca por terapia na pandemia, sinal de que não foi (e não está) fácil manter a cabeça no lugar, seja pelas mortes que nos cercaram, pela angústia de ficar só e até por vícios adquiridos com essa nova rotina.

Luiz Lucas no Instituto favela da paz, Jardim Nakamura, zona sul de São Paulo.

Até o momento eu fiz três sessões, mas já me sinto muito mais leve e já estou conseguindo colocar as coisas no lugar. Por isso encerro o texto de hoje com um pedido: caso sinta necessidade, não tenha vergonha de admitir e busque por tratamento psicológico. Nossa geração vem sofrendo impactos muito fortes em virtude das novas tecnologias e assim como tudo na vida, existem os dois lados da moeda.

Ao mesmo tempo em que esse avanço nos traz inúmeras possibilidades de aproximação, o excesso de informação faz com que a gente não respeite nosso ritmo, nosso corpo e nossa mente. Por isso, se cuide, quebrada! 

Abaixo está uma lista de lugares que você pode procurar por atendimento psicológico gratuito ou com baixo custo em São Paulo: 

Universidades 

PUC – Site: https://www.pucsp.br/clinica/

Anhembi Morumbi (Mooca)
Telefone: (11) 2790-4561 / 4531
Inúmeras universidades possuem atendimento gratuito ou a baixo custo, com atendimento feito por estudantes supervisionados por professores profissionais da área de psicologia. 

Clínica Social Casa 1 

Site: https://www.casaum.org/clinica-social/

Atendimento psicoterápico para pessoas em situação de vulnerabilidade, com as populações LGBTQIA+ e preta.

Abrape (Associação Brasileira de Psicólogos Espíritas) 

WhatsApp: (11) 98085 2139

Atendimento gratuito para pessoas que estão desempregadas e com baixa renda familiar. 

Confira 6 formações culturais na quebrada que estão com inscrições abertas

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Entre aulas de música, grafite e práticas corporais, separamos seis formações espalhadas pelas periferias de São Paulo que estão com inscrições abertas.

Desfile do Bloco do Beco – Foto: Maloka Filmes

Com o avanço da vacinação contra a covid-19, muitos espaços culturais nas quebradas estão voltando a atender o público e oferecer atividades de forma presencial seguindo os protocolos recomendados de cuidados como o uso de máscara e álcool em gel. Entre formações que vão desde música a grafite, listamos atividades que estão rolando e com inscrições abertas para moradores das periferias aproveitarem ainda este ano.

Na quebrada existem diversos aspectos que são importantes para a saúde da população, como a ampliação do SUS, educação, transporte e alimentação, como coloca a socióloga Anabela Gonçalves, que reforça a importância do cuidado também no aspecto subjetivo da saúde, que envolve todos os sentimentos que trazem saúde mental e emocional, sendo que a cultura e o esporte têm esse papel para além da saúde física, mas também mental e emocional. 

“A cultura e o esporte proporcionam a possibilidade do desenvolvimento do indivíduo a partir do corpo e de alegorias sociais que promovem o questionamento, a participação no coletivo e a criação”

afirma Anabela Gonçalves, socióloga, atuante nas áreas de gênero, política e cultura, e presidenta da organização social Bloco do Beco, referências em ações de impacto social, cultural e educativo no Jardim Ibirapuera, zona sul de São Paulo.

Ela também afirma que as periferias são espaços de manifestações culturais que fortalecem nossas relações raciais, de gênero e classe. “Assim também se estabelece um espaço de educação popular, onde os jogos, os textos, as apresentações são meios para nossa autonomia”.

Foi com o objetivo de fortalecer a autonomia do morador da quebra à base da educação popular, que o Desenrola selecionou seis atividades gratuitas promovidas por espaços e movimentos periféricos. Além das atividades que listamos aqui, esses locais oferecem uma variedade de formações que recebem inscrições ao longo do ano inteiro. 

Confira:

Bateria Feminina – Bloco do Beco

Com possibilidade de aprender a tocar instrumentos como cuíca, agogô, chocalho, tamborim, repique, caixa e surdo, as inscrições estão abertas para pessoas que já sabem tocar, e as que ainda não sabem também. As aulas terão início no dia 19 de novembro, com encontros todas às sextas, das 20h às 22h e serão conduzidas pela percussionista Ju Guilherme, que junto com a organização buscam montar a bateria feminina do Bloco do Beco.

Inscrições: Formulário

Local: R. Bento Barroso Pereira, 2 – Jardim Ibirapuera, São Paulo – SP, 05815-085

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A associação cultural Bloco do Beco tem ainda outras atividades que acontecem ao longo da semana, como dança e maracatu.

Grafite – Movimento Cultural Ermelino Matarazzo 

A oficina será conduzida pela artista Kari Rodrigues, com início no dia 14 de novembro e seguirá até final de dezembro deste ano, das 12h às 14h. Todos os materiais para as atividades serão fornecidos pelo espaço cultural.

Inscrições: Direto no espaço.

Local: Av. Paranaguá, 1633 – Jardim Belém, São Paulo – SP, 03809-170

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Até final deste ano, o Movimento Cultural Ermelino Matarazzo segue realizando outras oficinas, como a de DJ, capoeira e trompete que já estão rolando. 

Vozes em Movimento – Casa de Cultura do Campo Limpo 

Destinado às mulheres, a oficina trará como parte da metodologia exercícios práticos de corpo e voz e será ministrada pela artista Juliana Amaral. As aulas acontecerão nos dias 16, 18, 23 e 25 de novembro, das 18h às 21h, e fazem parte do projeto “Tantas Vozes”, em parceria com o grupo As Graças.

Inscrições: Formulário

Local: R. Aroldo de Azevedo, 100 – Jardim Bom Refugio, São Paulo – SP, 05789-000

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A Casa de Cultura do Campo Limpo oferece uma série de atividades voltadas principalmente para o aspecto artístico cultural, com inscrições ao longo do ano

EJA – Cieja Campo Limpo CIEJA 

O Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos do Campo Limpo está com matrículas abertas para a turma de 2022 para as aulas do EJA – Educação de Jovens e Adultos. As aulas têm duração de duas horas e 15 minutos por dia e podem ser realizadas nos períodos da manhã, tarde ou noite.

Inscrições: Direto no espaço, levar documento com foto.

Local: Rua Cabo Estácio da Conceição, 176 – Parque Maria Helena, 05854-060, São Paulo – SP. Telefone: (11) 5816-3701

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Capoterapia – Casa de Cultura da Brasilândia 

As aulas são ministradas pelo capoeirista Antônio Prado, com turmas de terças e quintas, e trabalha com elementos da capoeira voltados para pessoas que não têm o costume de praticar atividades físicas.

Inscrições: Formulário

Local: Praça Benedicta Cavalheiro, s/nº – Freguesia Do Ó, 02675-031, São Paulo.

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Território Hip Hop – Casas de Cultura do Hip Hop 

Dj, Mc, grafite e breaking são os quatro elementos do hip hop que serão trabalhados nas oficinas do programa “Território Hip Hop”, que acontecerão em onze espaços culturais. As atividades acontecerão em diferentes dias e horários, conforme o local escolhido, entre eles: Casa de Cultura do Hip Hop Leste – Cidade Tiradentes, Casa de Cultura do Hip Hop Noroeste – Perus, Casa de Cultura do Hip Hop Norte – Jaçanã, Centro Cultural Grajaú, entre outros sete centros culturais espalhados pela cidade.

Inscrições: Formulário

Local: Espaços culturais em São Paulo.

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“Pessoas do meu convívio falaram que a vacina não é essencial”, diz estudante de nutrição do Jardim Ângela

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Contato com estudos científicos na área de saúde fez a diferença na vida da estudante de nutrição Milena Aquino, para ela orientar familiares a não desistir de se vacinar contra a covid-19.

Milena Aquino orienta a sua mãe Maria Bispo a se precaver contra as fake news. (Foto: Flávia Santos)

 Após vacinar 80% da população contra a covid-19, a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo anunciou nesta segunda-feira (8), que não registrou nenhuma morte causada por covid-19.

Mas antes desse número ser celebrado pela sociedade e comunidade médica, muitas pessoas pretas e periféricas tiveram suas vidas ameaçadas pela desinformação, uma situação que afetou familiares de Milena Aquino, 20, moradora do distrito do Jardim Ângela, zona sul da cidade de São Paulo.

Milena é estudante de nutrição e está cursando o último ano do curso. Durante esse período de contato com pesquisas cientificas para desenvolvimento de tratamentos médicos, a jovem conta que foi fundamental consumir informações da área de saúde que nem todo cidadão tem acesso.

“Como estudo esta área sei que nada é tão simples para ser aprovado. Os estudos científicos precisam ser embasados e pautados por várias pessoas e responsáveis para se criar as vacinas, então este conhecimento me fez não acreditar nas falsas informações” afirma Milena.

Em outubro, o estado de São Paulo atingiu 151 mil mortes em decorrência de complicações médicas causadas pelo novo coronavírus. Além disso, foram registrados mais de 4,4 milhões de casos confirmados de covid-19 em São Paulo durante toda a pandemia.

A família da estudante de nutrição poderia fazer parte destas estatísticas, se a jovem não fosse resistente para contrapor as fake news que afetaram familiares próximos, que fazem parte do seu convívio. 

“Vi pessoas do meu convívio falando com propriedade que a vacina não é essencial e dentro disso trazendo fatores para não tomar. Porém sem baseamentos nem nada, e sim trazendo ideologias de pessoas que pensam que não se deve vacinar”

diz Milena.

Milena mora com seus pais e sua irmã mais velha, no bairro Cidade Ipava – Jardim Ângela (Foto: Flávia Santos)

A jovem foi uma das 44 pessoas pretas e periféricas, em sua maioria jovens mulheres, entrevistadas pelo Info Território, programa de produção de dados do Desenrola, para entender a partir de um recorte territorial como as fake news e a desinformação impactaram moradores do Jardim Ângela, distrito com mais de 300 mil habitantes, onde 60% da população se autodeclara preta ou parda.

O ápice do impacto das fake news aconteceu quando pessoas dentro da sua casa tomaram a decisão de não se vacinar. “Alguns familiares demoraram para querer tomar a vacina, precisando haver insistência entre os familiares próximos”, conta a estudante.

Milena acredita diz que as fake news afetaram principalmente a população periférica. “As fakes news impactaram negativamente gerando pensamentos e ideologias. Com isso é possível encontrar pessoas próximas que não pretendem se vacinar e trazem esses conceitos como algo 100% verdadeiro para a vida deles”, conclui.

*Esta reportagem foi produzida com o apoio do Fundo de Resposta Rápida para a América Latina e o Caribe organizado pela Internews, Chicas Poderosas, Consejo de Redacción e Fundamedios. O conteúdo dos artigos aqui publicados é de responsabilidade exclusiva dos autores e não reflete necessariamente a opinião das organizações.