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Seminário Akofena dialoga sobre política de segurança pública pelo bem viver

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Com atividades virtuais e gratuitas, o seminário terá mesas de debate com foco na população negra, periférica, quilombola e indígena. 

Entre os dias 16 e 31 de agosto, a UFABC (Universidade Federal do ABC), através do Programa de Apoio a Ações de Extensão (PAAE 2022) da Pró Reitoria de Extensão e Cultura da UFABC, receberá o Seminário Akofena: uma perspectiva indígena e preta sobre as facetas do genocídio. O objetivo do evento é desconstruir o imaginário sobre segurança pública, pautado por atores brancos, homens, cisgêneros, de classe média ou alta.

Estes [brancos, homens, cisgêneros] que sempre se mostraram centro do mundo para controlar corpos negros, quilombolas e indígenas, e suas respectivas mentes, línguas e identidades. Que através dos mecanismos brancos de poder determinam quanto valem nossas vidas.

Grupo de estudantes que organiza o evento, formado por militantes do movimento negro.

Com sete mesas temáticas, o debate será guiado pelas principais pautas desses movimentos e seus atores: indígenas, pretos, mulheres, homens, cisgêneros, transgêneros, LGBTQIA+, aldeados, aquilombados e periféricos.

O evento será totalmente online, das 19h às 21h, e reunirá militantes, organizações e coletividades do movimento negro e indígena. As inscrições podem ser realizadas por este link e mais informações aqui na página do evento.

Programação 

16 de agosto – Mesa de abertura: As facetas do genocídio no Brasil
Análise histórica da segurança pública no Brasil em relação às facetas do genocídio negro e indígena, destacando o enfrentamento à morte pelos movimentos sociais e políticos.

18 de agosto – Mesa 2: Racismo ambiental e conflitos de terra
Reverberar os conflitos concernentes ao racismo ambiental que historicamente desmobilizam as comunidades, culturas, ritos, línguas e tradições.

22 de agosto – Mesa 3: A morte antes do tiro: cultura e cosmovisões
O encontro visa elucidar processos de invisibilização e ocultação de cosmovisões, crenças e as culturas que fundamentam as vidas dos povos indígenas e pretos no Brasil.

23 de agosto – Mesa 4: A gestão da morte pelo Estado
Analisar as ferramentas que institucionalizam a necropolítica no Brasil e quais são os interesses econômicos que pautam a segurança pública no Brasil.

25 de agosto – Mesa 5: O genocídio da infância e da juventude negra e indígena
Evidenciar as condições que sustentam imaginários de criminalização, vulnerabilidade e morte de crianças e jovens negros.

29 de agosto – Mesa 6: Abolicionismo Penal: Fim do encarceramento e da “guerra às drogas”
Tratar do abolicionismo penal como forma de traçar uma nova rota sobre segurança pública, no sentido mais amplo, que não mais se sustenta nas práticas do estado de exceção, acusando, encarcerando e matando pessoas e pretas e indígenas.

31 de agosto – Mesa 7: Organizações políticas de mães
Diálogo com mães, amigos e familiares de vítimas do Estado, em uma troca sobre organizações políticas em luta por segurança, garantia de direitos e reparação.

“Macumba não”: faixa expõe racismo religioso em praça na zona leste de São Paulo

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Moradora que reside no local afirma que não é a primeira vez que uma faixa com mensagem de intolerância é exposta na praça pública.

A faixa foi vista pela primeira vez na tarde de sexta-feira, dia 3 de agosto, e retirada por moradores no dia 9. (Foto: Natlia Silva)

Na última sexta-feira (3), Renato Gama, 46, morador da Vila Nhocune, zona leste de São Paulo, estava passando de carro pela praça José Patrocínio Freire, localizada no Jardim Nossa Senhora do Carmo, com destino ao Parque do Carmo. De dentro do automóvel, o filho dele avistou uma faixa estendida entre as árvores do local com a seguinte mensagem: “Macumba Não. Ambiente familiar, pedimos sua compreensão”.

Revoltado com a intolerância e discriminação presente na mensagem da faixa estendida em praça pública, ele produziu um vídeo e imagens denunciando o incidente e acionou pelas redes sociais o assistente social e babalorixá Júlio Cezar De Andrade, que é candidato a deputado estadual pelo mandato coletivo Quilombo Periférico, como tentativa de denunciar e dar visibilidade ao que tinha visto no local.

“Precisamos nos utilizarmos das leis para denunciar e educar para que situações como essa não ocorra”

Renato Gama, 46, morador da Vila Nhocune, zona leste de São Paulo e integrante da Igreja Rosário dos Homens Pretos da Penha.

“Ela traz no seu conteúdo racismo, intolerância religiosa e discriminação”, conta Gama, que é integrante da igreja Rosário dos Homens Pretos, importante patrimônio histórica da população negra na cidade de São Paulo.

Conforme o artigo 5º da Constituição Federal, ela protege o livre exercício dos cultos religiosos, ao enfatizar que é garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e liturgia, de modo a assegurar a inviolabilidade da liberdade de consciência e de crença.

“A narrativa do atual (des)governo brasileiro legitima esses crimes, será necessária uma ação gigantesca de educação e processar as pessoas que tem convicção nesses crimes, temos que valorizar a escola, ampliar e atualizar nossos processos educacionais”, enfatiza Gama.

Não é a primeira faixa

Natália Cristina Silva, 23, mora em frente à praça onde foi estendida a faixa, no Jardim Nossa Senhora do Carmo. Ela conta que sentiu muita revolta quando passou pela praça no dia 3 de agosto pela manhã, para levar o irmão mais novo à escola.

“Senti muita revolta! Reparei em duas coisas: o uso do termo ‘macumba’ e a justificativa dizendo que aqui é um bairro familiar, já ouvi pessoas disfarçando sua intolerância religiosa contra manifestações das religiões de matriz africana com a justificativa de ‘desperdício’ de alimentos e ‘sujeira’ nas ruas. A faixa deixou bem evidente o preconceito de quem a fez, sem qualquer fingimento”, conta Silva 

“Já fizeram outras placas com a mesma estética contra a prostituição, também com a justificativa de ser um bairro familiar”

Natália Cristina Silva, 23, é moradora do Jardim Nossa Senhora do Carmo.

A moradora considera um crime impedir a manifestação religiosa das pessoas, apenas por não concordar com os pensamentos religiosos do outro. “Além de ser moralmente errado impedir alguma manifestação religiosa, é contra a lei também. Acho irônico esses ‘cidadãos de bem’ defensores da liberdade e da lei exporem uma faixa dessa, mas é esperado que essa defesa só se aplique ao que beneficie eles”, comenta.

Oliveira revela que não é a primeira vez que isso acontece na região e que outras faixas assim já foram colocadas. “O bairro é bem religioso, tem muitas igrejas evangélicas e uma igreja católica grande que fazem muitos eventos por aqui, testemunhas de Jeová abordam pessoas constantemente, cultos evangélicos nas praças, mas nunca houve qualquer tipo de manifestação contra isso. Percebe-se que é um preconceito bem direcionado”, relata a moradora. 

O assistente social e babalorixá Júlio Cezar de Andrade registrou um boletim de ocorrência por meio da delegacia online da polícia civil. (Foto: Quilombo Periférico)

Racismo institucional e religioso

O Desenrola entrou em contato com Júlio Cezar de Andrade, assistente social, mestre em serviço social pela Unifesp, e Babalorixá da casa de axé Ilê Asè Ayedum, no bairro Lajeado, zona leste de São Paulo. Ele relata que assim que tomou conhecimento da denúncia, registrou um boletim de ocorrência por meio da delegacia online da polícia civil, e buscou mobilizar outras lideranças de religiões de matrizes africanas nas periferias da zona leste da cidade.

“No dia 04/08, na parte da noite, eu verifiquei nas minhas redes sociais que tinha uma marcação em uma foto, quando vi, era uma imagem com uma faixa escrito “Macumba não. Ambiente familiar, pedismo sua compreensão”, e diante disso começamos a fazer um processo de mobilização com algumas lideranças das comunidades de Axé e Terreiro”, diz Júlio, que foi até o local para produzir um vídeo nas redes sociais e denunciar o ato de intolerância religiosa. 

Além do boletim de ocorrência, o babalorixá conta que o mandato coletivo Quilombo Periférico que ocupa um gabinete na Câmara Municipal de São Paulo, protocolou um ofício junto a subprefeitura de Itaquera, solicitando a retirada da faixa.

Segundo o artigo 208 do Código Penal, é considerado crime de “ultraje a culto e impedimento ou perturbação de ato a ele relativo”, punido com detenção de um mês a um ano, ou multa, a conduta de quem “escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar (tratar com desprezo) publicamente ato ou objeto de culto religioso.

Ciente da importância da política institucional para construir políticas públicas e projetos de lei sensíveis as questões de intolerância às religiões de matriz africana que afetam principalmente a população negra, Júlio lembra da importância de valorizar e eleger lideranças políticas do movimento negro e das periferias nas eleições.  

“Precisamos escolher candidaturas que se aliem ao projeto do movimento negro, aos projetos dos movimentos periféricos, e que defendam objetivamente o estado democrático de direito e a laicidade do Estado e denuncie as práticas de racismo estrutural e institucional”

Júlio Cezar De Andrade, assistente social, mestre em serviço social pela Unifesp, e babalorixá na casa de axé Ilê Asè Ayedum, no Lajeado, zona leste de São Paulo.

De acordo com o babalorixá que está acompanhando de perto os debates políticos importantes dentro de casas legislativas, como a Câmara Municipal de São Paulo e a Assembleia Legislativa do estado, casos como esse estão diretamente ligados à concepção de racismo institucional e religioso.

“É o racismo institucional religioso, porque ele não só criminaliza a pessoa pelo direito de manifestar a fé nas religiões e dos povos tradicionais de matriz africana, mas também ele criminaliza toda vivência, não podemos esquecer que uma menina foi tirada a força pelo poder judiciário, institucionalizado no serviço de acolhimento institucional, devido ela estar participando de um ritual de candomblé, essas práticas são as manifestações cotidianas do racismo, que está presente nas relações sociais e que vem violando e violentando nossos corpos, mentes e corações dos povos de terreiros”, explica.

O mestre em serviço social faz uma alerta importante, apontando que na cidade existem poucos lugares em que as pessoas de religião matriz africana possam fazer seus cultos. “Hoje em São Paulo, existem poucos espaços para que as religiões de matriz africana possam fazer o seu culto, principalmente no Estado de São Paulo, precisamos criar a nível legislativo, tanto no estado, como no município, espaços onde as religiões possam garantir, vivenciar e materializar o seu contato com a natureza.”

Diante dos ataques que as religiões de matriz africana vêm sofrendo tanto pelo poder público, quanto pela sociedade, Júlio compartilha um exemplo de articulação política realizada pelos povos de terreiro na Bahia, que servem de exemplo para elaborar propostas concretas de políticas públicas para combater a intolerância e o racismo religioso.

“Diferente do que tá escrito naquela placa, as religiões de matrizes africanas são sustentáveis, porque elas preservam a natureza e os recursos naturais. Na Bahia, com muita resistência das comunidades e povos tradicionais de terreiro, hoje tem um espaço, onde fazem as festas e colocam os objetos sagrados na natureza. É fundamental que o estado de São Paulo aja nesse caminho, precisamos que o estado crie estratégias para que haja respeito aos nossos corpos, aos nossos tambores, ao nosso sagrado”, conclui. 

Liderança indígena reforça necessidade de “estudar a história do Brasil real”

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A não romantização da dor e luta dos povos indígenas junto a disseminação de sua história contada por seus próprios protagonistas, esses são alguns dos caminhos apontados pela líder indígena Jerá Guarani, em entrevista ao Desenrola, sobre o fortalecimento e contribuição na luta dos povos indígenas.

Questões que afetam a população indígena são colocadas em foco principalmente em datas como o dia 19 de abril, data controversa que originalmente propõe celebrar o dia do “índio”, instituído em 1943, e que teve seu nome revogado em 2022, para o Dia dos Povos Indígenas. Sozinhas, datas que lembram a importância dos povos originários não mudam estruturas, por isso precisam ser acompanhadas de leis, políticas públicas e ações práticas para garantir a existência de uma população múltipla e que é parte ancestral do território.

Para Jera Guarani, as datas que celebram os povos indígenas, reconhecendo a pluralidade dessa população, ampliam em partes a visão da sociedade: “traz um pensamento de que não existe só um tipo de indígena”, afirma, reforçando a necessidade de políticas efetivas.

Estima-se que esses números são maiores, pois diante do medo em se autodeclarar, entre outras questões, muitos indígenas podem não ter sido contemplados nos dados. Nesse sentido, surge a importância da autodeclaração para o próximo Censo do IBGE que está sendo realizado em 2022. Esses números podem servir como argumento para construção de políticas públicas pensadas para a população indígena, além de subsidiar discussões e movimentos no campo.

A líder indígena da aldeia Tenonde Porã, da etnia Guarani Mbyá, Jera Guarani contou, entre outras coisas, sobre a necessidade de estudar a história real do Brasil para entender a relevância histórica e ancestral dos povos originários. Confira:

Desenrola – Datas como o Dia Internacional dos Povos Indígenas ou o Dia dos Povos Indígenas representam algum avanço ou mudança (prática ou subjetiva) na vida dos povos originários?

Jera Guarani: Acho que ainda não. O 19 de abril, por exemplo, é uma data em que as escolas acham que tem que trabalhar a questão indígena, mas ainda assim de uma forma superficial e nada real, que só fortalece todos os anos dentro dessa linha de ação pedagógica, o preconceito que às vezes parece que nunca vai diminuir. No dia do “índio”, aí as pessoas falam de indígenas, de uma forma romantizada, que são bonitinhos, que cantam, que dançam, que vivem no mato, que pesca, que caça, e nunca trabalha a questão da diversidade, da luta pela terra, do descaso do governo, das políticas públicas em relação a esses povos que são originários e que tem direitos constitucionais antes mesmo da criação da constituição que temos aqui no Brasil. É como se os povos indígenas só fossem existir naquela data e depois nunca mais ninguém fala sobre isso.

Desenrola – Como a propagação de uma história única contada sobre a pluralidade dos povos reflete hoje na população?

Jera Guarani: Causa uma grande falta de conhecimento sobre os que ainda resistem e re-existem no seu belo, encantador e inspirador modo de ser, na sua maneira de falar, cantar e dançar, se movimentar e de se se elevar espiritualmente.

Desenrola – De que forma o processo educacional pode contribuir com a valorização da cultura e saberes dos povos originários?

Jera Guarani: De forma correta, não dá forma cheia de romantismo barato, preconceito pesado, arrogância de superioridade que são tratados os povos originários.

Desenrola – Existem pessoas que desassociam indígenas que vivem em contextos urbanos às populações indígenas. Como ressaltar essa ligação e ancestralidade?

Jera Guarani: Esse cenário para ser compreendido, se deve estudar a história real do Brasil. O fato é que esse Brasil teve um passado muito sombrio e em muitas regiões hoje ainda se repete a roubalheira dos territórios indígenas, os assassinatos, os conflitos que acabam terminando em mortes, inclusive de crianças, idosos, mulheres, etc. E ainda muitas pessoas que hoje vivem em cidades, ou em comunidades, como a do Pankararu no Real Parque, sofrem muito preconceito e alguns de indígenas que estão em suas terras, porque às vezes pensam que essas pessoas simplesmente escolheram morar em São Paulo em busca de trabalho e pronto.

Não se considera na verdade tudo o que aconteceu ali nas praias da Bahia, nessa parte do norte/nordeste que foi super pesado, a invasão e roubalheira de territórios, como para a grande maioria dos primeiros povos que teve contato com o não indigena invasor. Foram caçados e exterminados, proibidos de pronunciar sua língua materna, usados como mão de obra escrava, perderam completamente seus territórios, estupros aconteceram, que acelerou o processo de miscigenação. Então tem todas as questões e várias outras que fazem com que indígenas saiam da sua terra natal, do seu território de origem, às vezes simplesmente para continuar vivos.

Desenrola – De que maneira o contexto político reflete na garantia e/ou perda dos direitos e acessos dos povos originários?

Jera Guarani: Da maneira como colocamos um Presidente arrogante e preconceituoso como esse que temos que aguentar.

Desenrola – Como a população pode colaborar com a luta dos povos indígenas?

Jera Guarani: Estudar a história do Brasil real, em sua grande maioria contada pelos próprios. A internet já é uma boa ferramenta que possibilita estudar bem, mesmo sem ir para a aldeia. E dessa forma ficar atento para qualquer chamada de apoio, para defender a natureza.

Guilhotina educacional: estuda quem pode, come quem trabalha

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A implantação de uma escola de ensino integral precisa integrar sociedade civil, pesquisas sobre o público e políticas públicas que correlacionam, caso contrário será um desastre.

Um dos primeiros textos desta coluna buscou tratar sobre educação de qualidade, contudo naquela mesma época eu havia começado a escrever um texto acerca do NOVOTEC, texto esse que nunca publiquei. Ao reler meus arquivos antigos e tentar abrir o debate sobre a PEI (Programa de Ensino Integral) decidi que era necessário procurar tratar dos interesses políticos e da ausência do reconhecimento da realidade da maioria dos jovens brasileiros.

A ideia da escola de ensino integral é incrível, não posso aqui negar que é lindo pensar em adolescentes que podem estudar o dia todo, que possuem matérias novas e inovadoras numa grade escolar e muitas atividades extras.

Contudo a PEI aplicada em São Paulo não é nada disso, não inova já que agrega e alinha suas ideias a um modelo de educação para emprego da década de 90 (ensino técnico), não traz atividades extracurriculares pensadas no desenvolvimento do adolescente e nem refaz a estrutura escolar que é por vez extremamente desconfortável para estar durante longos períodos (e não tô falando de dar alguns notebooks e colocar rede wifi viu?).

Mas aqui não quero focar em tratar da mera estrutura física ou dos desdobramentos pedagógicos da PEI, e sim discorrer um pouco sobre como uma escola de ensino integral não cabe na realidade do adolescente brasileiro e implantar isso como política pública única e solitária gerará exclusão escolar (evasão ou abandono como o governo costuma intitular).

Durante meu estágio escolar realizado num período entre fim de fevereiro e maio vivenciei um pouco do desespero dos alunos sobre as mudanças propostas, como fiz estágio numa escola de ensino regular que estava começando a ter algumas coisas relacionadas a PEI, vi a entrada de muitos alunos novos vindos de outras escolas para tentar “fugir” do ensino integral e terminar o ensino médio.

É fato que boa parte dos nossos adolescentes precisam trabalhar e estudar e que parte destes estão em situações de trabalho precarizadas, segundo um estudo publicado na Campanha da Fundação Abrinq com alertas acerca do trabalho infantil.

Só em 2020, cerca de 556 crianças e adolescentes foram vítimas de acidentes de trabalho, que vão desde quedas até amputações. Destas, 46 vieram a falecer. O Trabalho Infantil a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Trimestral realizada pela Fundação Abrinq, com base nos dados do IBGE.

Claro que no mundo ideal ninguém quer imaginar uma adolescência atravessada pelo trabalho, mas se nosso país legislou um dito “jovem aprendiz” é porque muitas vezes esses adolescentes por diversos motivos entram no mercado de trabalho, a questão é qual mercado os aguarda? O Estado está os apoiando nessa entrada? Trabalhar significa perder o direito ao estudo?

Então já que vamos criar o mundo ideal, estes jovens vão ter que largar a escola? Pois não vivem o ideal? A PEI além de negar a dimensão de vida dos nossos jovens brasileiros, ainda é implantada após uma pandemia que deixou várias famílias devastadas em diversas dimensões de suas vidas.

Nisso, adolescentes que trabalham desde dos 14 anos (oficialmente) terão que escolher: trabalho ou estudo? E dentro disso vai pesar aquilo que dará mais fome.

A implantação de uma escola de ensino integral precisa integrar sociedade civil, pesquisas sobre o público e políticas públicas que correlacionam, caso contrário será um desastre.

Será que nossos jovens sempre sonharam com isso? Com educação física às 7h da manhã sendo que suas aulas ocorrem à tarde? A escola antes de ser um lugar de “moldar” trabalhadores (o que foi injetado na escola perante ao modelo social), é um dos lugares onde ocorrem as primeiras interações sociais, as trocas, os desdobramentos de descobertas, é um local rico e amplo, proveitoso em produzir grandes mentes caso as deixe brilhar.

E uma realidade onde os interesses desses indivíduos não são ouvidos é uma demonstração da desimportância do papel do jovem no Brasil dentro do recorte do debate, não existe um acolhimento.

A questão aqui não é o que poderia dar certo, mas sim o que já está dando errado.

O fato da PEI ser em ensino integral não é um mal, como disse inicialmente é incrível pensar sobre e inclusive no nordeste houveram algumas movimentações nesse sentido que foram mais bem pensadas e implantadas, contudo qual a realidade dos nossos jovens? Nossos jovens estão conseguindo ser o que são? É possível estudar sem estabilidade de vida? Uma política pública não pode ser feita sozinha, ainda mais quando se trata de educação.

Políticas públicas de educação devem ser para benefício populacional e não eleitoral, com o passar dos anos a frase de Darcy Ribeiro se torna mais real: “A crise na educação não é uma crise e sim um projeto”.

Pensar em educação é uma urgência comunitária e social, mais do que nunca não é sobre o que eu acredito e penso, é sobre os impactos que as políticas têm na vida das pessoas, é sobre o desenvolvimento de indivíduos com direitos.

A criança tem cem linguagens (e depois, cem, cem, cem), mas roubaram-lhe noventa e nove.
A escola e a cultura separam-lhe a cabeça do corpo.
Dizem-lhe: de pensar sem as mãos, de fazer sem a cabeça, de escutar e de não falar,
De compreender sem alegrias, de amar e maravilhar-se só na Páscoa e no Natal.
Dizem-lhe: de descobrir o mundo que já existe e, de cem, roubaram-lhe noventa e nove.
Dizem-lhe: que o jogo e o trabalho, a realidade e a fantasia, a ciência e a imaginação,
O céu e a terra, a razão e o sonho, são coisas que não estão juntas.
Dizem-lhe: que as cem não existem. A criança diz: ao contrário, as cem existem.

Loris Malaguzzi

Cursos gratuitos: direitos humanos e letramento econômico

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No formato online e presencial, as formações visam fortalecer a atuação de lideranças periféricas e membros de movimentos sociais.

Formação em Direitos Humanos 

Entre agosto e setembro, o CDHEP (Centro de Direitos Humanos e Educação Popular de Campo Limpo), realiza encontros formativos para fortalecer a atuação de ativistas, lideranças, advogados populares, membros de coletivos, de movimentos sociais, de redes e organizações que se dediquem à promoção e defesa dos direitos humanos. Para participar é necessário preencher o formulário neste link.

O ciclo de oficinas acontecerão nos dias 13/08, 20/08 e 03/09, sábados, das 09h às 16h30. Haverá emissão de certificado para os participantes que comparecerem aos três encontros. Além disso, a organização disponibilizará, a quem indicar a necessidade, um apoio financeiro para deslocamento.

O objetivo principal do encontro é colaborar na capilarização da metodologia de proteção popular de defensores de direitos humanos no território no estado de São Paulo. O encontro “Sementes de Proteção de Defensores/as de Direitos Humanos – Proteção Popular, Organização e Atuação em Rede no estado de São Paulo” busca contribuir para o fortalecimento da atuação em rede e aprofundar o engajamento dos agentes que realizam a defesa de Direitos Humanos.

Local: CDHEP – R. Luís da Fonseca Galvão, 180 – Parque Maria Helena, São Paulo – SP, próximo ao metrô Capão Redondo.
Inscrições: por meio do preenchimento do formulário neste link.

Programação: 

13/08

Diálogo 1 – Análise de conjuntura dialogada: Desafios para os tempos atuais
Diálogo 2 – Gerando Proteção Popular: Movimentos Populares em Ação

20/08

Diálogo 3 – Gerando Proteção Popular: Movimentos das Mães em ação
Diálogo 4 – Gerando Proteção Popular: Lutas urbanas e do campesinato

03/09

Diálogo 5 – Gerando Proteção Popular: Ancestralidade e resistência
Diálogo 6 – Gerando proteção popular: Luta contra a invisibilidade

Programa de letramento econômico 

A NoFront – Empoderamento Financeiro está com inscrições abertas para o “Programa de Letramento Econômico para Lideranças Periféricas”. O objetivo é oferecer letramento em tópicos de economia para que lideranças periféricas possam replicar o conhecimento dentro das suas comunidades, com a finalidade de apoiar e incentivar a sustentabilidade financeira das coletividades nos seus territórios. A formação é gratuita, online e as inscrições podem ser realizadas até o dia 05/08, neste link.

Serão oferecidas 10 horas de formação teórico-conceituais em temas de macroeconomia e economia política com ênfase nas desigualdades raciais e de gênero, e 4 horas de mentoria com o time da NoFront para o acompanhamento da replicação do conhecimento em seus territórios. O início dos encontros será em agosto de 2022, e contará com três módulos: As bases da exploração: raça, classe e gênero; Economia, Capitalismo e a Gestão da Pobreza e Educação e Empoderamento Econômico.

A iniciativa conta com 30 vagas destinadas para pessoas negras e indígenas de periferias urbanas ou rurais. Para participar, não é necessário que o candidato tenha formação prévia no tema. As vagas serão distribuídas, preferencialmente, de forma equitativa entre as regiões brasileiras, sendo cinco vagas para cada região do Brasil.

Inscrições: 20/07 a 05/08
Formato: gratuito e online
Formulário de inscrição aqui
Edital aqui 

Programação: 

Módulo 1 – As bases da exploração: raça, classe e gênero

  • Formação do Sistema Mundial Capitalista
  • Raça e Racismo no Brasil
  • Gênero, Trabalho Reprodutivo e Capitalismo

Módulo 2 – Economia, Capitalismo e a Gestão da Pobreza

  • Noções críticas ao neoliberalismo
  • Noções Básicas Economia
  • Breve História da Economia Brasileira I – da redemocratização aos dias de hoje (1994-2022)
  • Gestão da Pobreza no Capitalismo

Módulo 3 – Educação e Empoderamento Econômico

  • Planejamento econômico e noções de educação financeira
  • Introdução aos investimentos

Websérie relata trajetórias de dançarinos do grupo de breaking Unity Warriors

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Em episódios semanais, a produção exalta a importância das narrativas construídas por jovens periféricos que por meio da dança encontram um caminho para sua identidade. 

Foto de Victor Godoi

O grupo Unity Warriors produziu a websérie “Unity Warriors – Estamos Vivos“, que traz as trajetórias de seus participantes. Com transmissão gratuita, a websérie de seis episódios vai ao ar sempre às terças e sextas-feiras, às 12h, no Canal do Youtube da Unity Warriors.

A cada episódio, diferentes narrativas são construídas a partir do olhar de um dos bailarinos do grupo, que dentro e fora da Unity Warriors, lidam com preconceitos e condições impostas a moradores das periferias para construir sua trajetória na dança contemporânea e na arte urbana. 

“Queremos mostrar que através do amor, dedicação e muito treino, podemos conquistar o mundo e seguir transmitindo o conhecimento conquistado no decorrer dos anos, inspirando as novas gerações através da arte do breaking”

Unity Warriors

Foto de Victor Godoi

A Crew, como é chamado o grupo de dança deste estilo, surgiu em 2015, a partir da união de jovens da periferia de Perus e São Miguel Paulista, com a proposta de celebrar a cultura hip-hop através do breaking. Desde então, o grupo participa de eventos importantes da cena e foi vencedor em vários deles, como Arena Caieira 2019, “The king Of The Night” (SP), “Boom Breaking” Festival de dança breaking de Barueri – SP, Fast Battle 2016 (MG), “The Killers Jova Battle” na Fábrica de Cultura Jaçanã; e segundo lugar no “Brasil super Battle”, em Brasília – DF.

Foi também o primeiro grupo brasileiro a chegar na final do Break The Floor, um dos maiores campeonatos de breaking do mundo, realizado em Cannes (França). Em Lyon (França), participou como convidado para uma batalha show no evento “Rotary Breaking Dance“. E em Paris (França), foi o primeiro grupo brasileiro a participar como convidado da competição “Fire Jam” chegando à semifinal. 

Serviço

 “Unity Warriors – Estamos Vivos” – Unity Warriors
Sinopse: Na série documental formada por seis episódios, os integrantes do coletivo Unity Warriors, narram suas histórias e trazem à tona fatos inéditos de suas trajetórias. Driblando preconceitos e as dificuldades de ser periférico, eles relatam como foi se estabelecer no universo da dança, mas acima de tudo, estar vivo.
Duração: 10 minutos, em média, por episódio.
Classificação Livre – Grátis
Quando: episódios liberados de 26 de julho a 12 de agosto de 2022
Horário: terças e sextas-feiras, às 12h
Onde assistir: Canal do youtube do Unity Warriors

E o meu teto?

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Deveria ser um direito nosso o acesso à compra de um lar decente, que conseguíssemos pagar e viver tranquilos.

Foto do dia 20/07/22 da ocupação na Cohab Paulistano em Taipas, zona noroeste de São Paulo. Foto: Juh na Várzea

Se você mora numa periferia deve ter percebido o quanto as ocupações de moradia cresceram na quebrada. Não é pra menos, com a loucura que estamos vivendo, os trabalhadores não conseguem comprar o básico para comer e uma hora de trabalho vale menos que um litro de leite. Já era de se imaginar isso acontecer.

A galera na quebrada tem que optar em pagar aluguel ou comer. 

Se paga, passa fome. Se não paga, é despejado. Tudo pra nós é mais foda, são várias lutas.

Enquanto pessoas criticam tais ocupações, dizendo que são loucos, desocupados, que estão fazendo maluquice e que tem que sair fora, eu costumo olhar de outra forma.

O desespero faz você correr, tentar se virar. Pensa só: a galera que paga um aluguel de 700 reais na quebrada (chutando), aparece uma ocupação, ela cai pra dentro, monta seu barraco pra tentar “livrar” esse dinheiro para poder sobreviver.

Não é o certo, sabemos. Mas na nossa atual situação, que sabemos o quanto está difícil em todos os termos possíveis, o pobre é o que mais sofre e sempre tenta procurar uma alternativa.

Cohab Paulistano – Taipas, zona noroeste de São Paulo – Foto Juh na Várzea
Foto do dia 20/07/22 da ocupação Cohab Paulistano – Taipas, zona noroeste de São Paulo – Foto Juh na Várzea

Deixei duas fotos de como era o morro aqui na quebrada que da laje de casa vejo e uma foto de agora. O tanto de casas que cresceu. Imagino o sacrifício do pessoal, que arriscou o que tinha guardado para poder comprar alguns tijolos e telhas para poder sair do aluguel.

Tinha que ser um direito nosso o acesso à compra de um lar decente, que conseguíssemos pagar e viver tranquilos. Mas se não estamos conseguindo nem comer, quando é que vamos conseguir comprar um teto?

Confira quatro espetáculos gratuitos promovidos por grupos de teatro das periferias de SP

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Com temáticas que envolvem histórias de mulheres migrantes do nordeste à saúde mental, as apresentações acontecem entre o fim de julho e vão até setembro.

Grupo Fanfarrosas – Foto: arquivo pessoal

Entre os meses de julho a setembro, as companhias Cia. de Achadouros, Pia Produções Artísticas, Fanfarrosas e Companhia de Teatro Heliópolis apresentam espetáculos gratuitos em diferentes espaços públicos em São Paulo.

As peças abordam temas como imaginação e memória de infância, saúde mental da população periférica, histórias de mulheres migrantes do nordeste e violência cotidiana. Confira: 

Os Lavadores de Histórias

Inspirado na poesia de Manoel de Barros, o espetáculo infantil “Os Lavadores de Histórias”, da Cia. de Achadouros, terá sessão gratuita no Teatro Municipal de Botucatu Camillo Fernandez Dinucci, no sábado, dia 30 de julho, às 16h.

Por meio de cenas cômicas e circenses, teatro de sombras e objetos, o espetáculo faz uma reflexão sobre a relação da criança com o mundo real e o da imaginação, lançando um olhar lúdico sobre a infância.

Além de espetáculos e pesquisa teatral, a Cia. de Achadouros também desenvolve um trabalho pedagógico na região de São Mateus, zona leste de São Paulo, com ações na Casa de Cultura São Mateus e Casa de Cultura Pq. São Rafael.

Data: Sábado, 30 de julho, às 16h.
Local: Teatro Municipal de Botucatu Camillo Fernandez Dinucci
Endereço: Praça Coronel Rafael de Moura Campos, 27 – Centro, Botucatu/SP.
Grátis / Classificação: Livre (recomendação 4 anos).

Ouvindo Vozes: da marginalização à loucura

O espetáculo Ouvindo Vozes: da Marginalização à Loucura, é uma montagem da Pião Produções Artísticas, inspirada no livro Ouvindo Vozes, de Edmar Oliveira. As apresentações são gratuitas e acontecem nos dias 03 e 04 de agosto, às 20h, na E. E. Prof. Aroldo de Azevedo, e no dia 10 de agosto, às 20h, no SASF Iguatemi II, ambos espaços públicos estão localizados na zona leste de São Paulo.

Através do livro “Ouvindo Vozes” que inspira a peça, o espetáculo explora as vivências dos artistas junto às suas memórias sobre saúde mental em seus territórios: os distritos de Iguatemi e Sapopemba, em São Paulo. A peça revela corpos aprisionados que não cumprem um papel esperado na sociedade, acompanhada por rodas de conversas sobre saúde mental na periferia com participação de psicólogas e arteterapeutas.

A Pia Produções Artísticas é uma produtora cultural periférica formada por artistas e educadores da região leste de São Paulo, e buscam criar peças que dialoguem com suas histórias e também oferecem atendimentos de gestão e produção para artistas, grupos e coletivos periféricos.

Data: Quarta (03/08), às 20h e Quinta (04/08), às 20h.
Local: E. E. Prof. Aroldo de Azevedo
Endereço: Rua Filipa Álvares, s/n – Jardim Planalto, Sapopemba, SP/SP.
Grátis / Classificação: 16 anos / Acessível em libras / Roda de conversa: Saúde Mental na Periferia – com Cristina Melo, Monica Soares, Marta Baião e elenco.

Data: Quarta (10/08), às 20h.
Local: SASF Iguatemi II – Serviço de Assistência Social à Família
Endereço: Rua João Crispiniano Soares, 98 – Parque Boa Esperança – SP
Grátis / Classificação: 16 anos / Acessível em libras / Roda de conversa: Saúde Mental na Periferia – com Cristina Melo e Monica Soares.

As Presepadas de Gitirana no Terreiro de Dona Dindinha

Até o dia 07 de agosto de 2022, o coletivo Fanfarrosas apresenta a temporada de estreia do espetáculo “As Presepadas de Gitirana no Terreiro de Dona Dindinha”, com apresentações em Itaquera e Artur Alvim, zona leste de São Paulo. A ação faz parte do projeto “Mamulengas: memórias de fulô” contemplado no VAI – Programa de Valorização de Iniciativas Culturais do Município de São Paulo.

O espetáculo é inspirado em memórias de mulheres migrantes do nordeste, e também histórias das famílias das atrizes do elenco, que protagonizam brincadeiras para além do gênero.

O grupo Fanfarrosas se desenvolve a partir do encontro de quatro mulheres que partilham da vontade de discutir temas que atravessam suas existências e juntas utilizam a manipulação de bonecos mamulengos, além de instrumentos de materiais recicláveis, para contar e cantar histórias.

Data: 06 de agosto de 2022 (sábado), às 15h.
Local: Oficina Cultural Alfredo Volpi
Endereço: Rua Américo Salvador Novelli, 416 – Itaquera – São Paulo
Grátis / Classificação Livre

Data: 07 de agosto de 2022 (domingo), às 16h.
Local: Espaço Cultural Adebankê
Endereço: Rua Durande, 175 – Artur Alvim – Zona Leste – São Paulo
Grátis / Classificação Livre

Sutil Violento

O espetáculo Sutil Violento, da Companhia de Teatro Heliópolis, reestreia nesta quinta (28), às 20h, na Casa de Teatro Maria José de Carvalho, no Ipiranga, região sul de São Paulo. A temporada fica em cartaz até o dia 4 de setembro, de quinta a domingo, com ingressos gratuitos.

A peça discute sobre sutis violências do cotidiano, que de tão sutis se tornam invisíveis e naturalizadas. Com um olhar para o entorno que revela abusos, agressões, confrontos e opressões diárias em formas de coerção privadas e públicas.

A Companhia de Teatro Heliópolis nasceu em 2000, reunindo jovens da comunidade sob orientação de Miguel Rocha, com apoio da UNAS (União de Núcleos e Associações de Moradores de Heliópolis e Região), e apresenta espetáculos que dialogam com as vivências e aprendizados do coletivo.

Data: 28/07/22 a 04/09/22, de quinta a domingo, sendo quinta, sexta e sábado às 20h e domingo às 19h00.
Local: Casa de Teatro Maria José de Carvalho
Endereço: Rua Silva Bueno 1533, Ipiranga, São Paulo.
Grátis – reserva de ingressos aqui / Classificação: 14 anos

VAI TEC abre inscrições para apoiar iniciativas de criação de jogos nas periferias

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Com inscrições abertas até o dia 31 de julho, o edital irá apoiar 12 coletivos ou empresas que atuam na criação de jogos nas periferias de São Paulo.  

Coletivos ou empreendedores da quebrada podem se increver no edital VAI TEC GAMES. (Foto: Freepik)

Promovido pela ADE SAMPA – Agência São Paulo de Desenvolvimento e a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, o VAI TEC realiza pela primeira vez uma edição do edital de fomento a empreendedores focado em apoiar coletivos e pequenos negócios que atuam na produção de jogos eletrônicos nas periferias de São Paulo.

As 12 iniciativas contempladas pelo VAI TEC Games receberão um recurso financeiro de R$ 39.600,00, além disso, elas terão acesso a formações, mentorias e consultorias individuais, por meio de encontros presenciais ou remotos, para alavancar a infraestrutura de desenvolvimento e gestão dos seus projetos.

O VAI TEC GAMES, nome dado a essa edição especial focada na comunidade de desenvolvedores de jogos nas periferias também irá promover encontros de relacionamento entre as iniciativas apoiadas, visando criar espaço para fomentar redes de contato e possibilidade de novos negócios.

Ao longo do programa, os projetos apoiados irão se preparar para aprimorar ou desenvolver narrativas para conquistar novos apoios, por meio da criação de uma apresentação focada em atrair novos investimentos. O VAI TEC se compromete em conectar as iniciativas com potenciais investidores. 

“Ela inspira nossa luta”: o pensamento de mulheres pretas sobre Tereza de Benguela

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Mulheres pretas e periféricas relatam a importância de preservar a memória e reconhecer o legado de Tereza de Benguela.

Projeção realizada pelo Coletivo Coletores homenageia a líder quilombola Tereza de Benguela. (Foto: Coletivo Coletores)

 Em 25 de julho, é celebrado o Dia da Mulher Negra, Latino Americana e Caribenha. Nesta data, a trajetória da líder quilombola Tereza de Benguela também passou a ser homenageada em âmbito nacional, após a aprovação da Lei 12.987, sancionada em dois de junho de 2014 pela presidenta Dilma Rousseff (PT).

A líder quilombola ficou conhecida por sua trajetória de vida dedicada a lutar pela liberdade das populações pretas e indígenas, que eram escravizadas pelos povos europeus no século 18, no Brasil. Ainda hoje, essa atuação serve de inspiração para mulheres pretas que continuam lutando por igualdade de direitos.

Por suas habilidades de liderança e estratégias de combate militar, ela era chamada de “Rainha Tereza”, a líder do Quilombo do Quariterê, localizado na fronteira do estado de Mato Grosso com a Bolívia.

“Tereza de Benguela é símbolo de representatividade para nós mulheres negras. Ela inspira na continuidade da nossa luta diária por igualdade, autonomia, respeito e dignidade” 

Rita Maria é produtora cultural e co-fundadora da Coletiva Tear & Poesia.

Rita Maria atua nas periferias da zona sul de São Paulo resgatando a cultura ancestral do bordado. (Foto: Reprodução Facebook)

A trajetória de Rita se conecta com o legado de  Tereza de Benguela pelo fato dela atuar na Coletiva Tear&Poesia de Arte Têxtil, uma iniciativa composta por mulheres pretas que atuam e residem há cerca de 20 anos nas periferias da zona sul da cidade de São Paulo,.

As ações da coletiva tem com foco em dialogar com a mulher em diáspora, tanto imigrantes africanas quanto latino-americanas e caribenhas, mostrando também semelhanças entre grafismos nativos brasileiros, indígenas, e africanos e buscando identificar semelhanças pouco estudadas e menos difundidas entre culturas originárias das Américas e da África.

Para Rita, que é engajada em  resgatar a memória e cultura do bordado praticado por mulheres pretas, indígenas e latino americanas, a trajetória de Teresa de Benguela tem uma forte semelhança com as lutas das mulheres pretas que moram nas periferias.

“As lutas da mulheres negras são constantes enquanto sujeitas históricas e de direitos. Lutam cotidianamente no combate ao racismo, à violência doméstica, o genocídio da população negra e LGBTQIA+”, afirma a co-fundadora da Tear & Poesia. 

Legado 

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), 27% da população brasileira é composta por mulheres pretas. Atenta a esse contexto histórico e demográfico,  a socióloga e professora Ale Tavares atua há mais de 15 anos com projetos de impacto educativo, social e político nas periferias da zona sul de São Paulo, que visam promover debates, reflexões e senso crítico sobre a importância dos saberes das mulheres pretas e periféricas para construir sociedades mais justas.

De acordo com as vivências e pesquisas no campo do feminismo periférico, Ale considera o resgate de memória uma estratégia importante para transformar positivamente o imaginário das mulheres pretas.

“Pensar e resgatar a memória de mulheres negras como Tereza de Benguela e tantas outras é construir um imaginário de que mulheres negras foram, são e serão importantes para a construção do nosso país”

Ale Tavares, socióloga e pesquisadora de movimentos feministas nas periferias

A socióloga Ale Tavares atua com a produção de conhecimento enraizado no movimento de mulheres pretas que desenvolvem espaços de reflexão, diálogo e estratégias de combate contra as desigualdades sociais nas periferias da zona sul de São Paulo. (Foto: Reprodução Facebook)

Ela explica que esse resgate de memoraria também mobiliza aspectos positivos em torno da identidade coletiva de mulheres negras, e isso é importante para que meninas e mulheres reconheçam essas virtudes presentes em suas ancestrais.

A partir desta percepção, Ale argumenta que a preservação desta memória também impacta na construção do futuro das mulheres pretas, pois ela considera, que os conhecimento e conquistas registrados pela história ajudam a inspirar outras mulheres a pensar melhor sobre o presente e o que será do seu futuro individual e coletivo.

“Quando a gente tem essas referências, isso ilumina a percepção de atuação de milhares de mulheres negras que estão chefiando e conduzindo famílias, escolas, postos de saúde, territórios e diversos ativismos. Eu vejo essa relação muito forte na ancestralidade de mulheres negras, para projetar outros futuros”, conclui.