Da Lei da vadiagem ao Massacre na DZ7: A música periférica resiste

Na mira da violência do estado e da sociedade, a música preta é mais que um ritmo, é resistência e afirmação.
Edição:
Thais Siqueira

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Em um país marcado por profunda desigualdade social e racial, a música produzida por pessoas negras e das favelas enfrenta constante marginalização. Apesar de representarem mais da metade da população brasileira, suas expressões culturais – samba, rap, funk, rock – são distorcidas  e inferiorizadas por quem não se propõe a entender a realidade das periferias e favelas

Confira o resultado dessa conversa no primeiro episódio da quarta temporada do Desenrola Aí

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No segundo episódio da 4ª Temporada do Desenrola Aí, Thiagson de Souza, Doutor em funk pela USP faz uma análise de como o racismo se transformou ao longo dos anos, mas sem perder seu objetivo principal que é a invisibilização das manifestações culturais afro brasileiras presentes na cena urbana.

“O racismo vai se atualizando em cada geração, as perseguições são diferentes, muda se o motivo, mas o princípio é o mesmo: aniquilar a população pobre, preta, periférica toda vez que ela ousa ascender”, disse.

A lógica da perseguição histórica, iniciada com leis como a da Vadiagem, criada após a abolição para encarcerar homens negros que expressavam sua arte por meio da música ou da capoeira, continua até os dias de hoje.

Um exemplo de como ela se manifesta na atualidade é a criação da Operação Saturação, também chamada de operação Pancadão, que visa acabar com os bailes de rua nos territórios. 

No dicionário, Saturar é definido como um substantivo feminino que promove a ação ou o efeito de saturar, de fazer com que uma solução possua o maior número possível de substâncias dissolvidas. Com isso, podemos afirmar que o objetivo de operações como essas é de reduzir, aniquilar e tornar pó a existência da juventude periférica nos espaços de convivência destinados à eles. 

Um exemplo chocante do resultado dessas ações na quebrada aconteceu em 2019 em Paraisópolis e ficou conhecido como o massacre do Baile da DZ7. Na ocasião, nove jovens foram mortos a partir de uma ação brutal da Polícia Militar de São Paulo. 

A Lei que antes proibia a expressão artística de pessoas pretas continua perseguindo a juventude na favela.  A arte, contudo, permanece como resistência e a música possui o poder de romper essa barreira violenta e expressar o que muitos se recusam a ouvir.  Torna-se, assim, ferramenta crucial no enfrentamento da resistência política de grupos dominantes em aceitar e entender as vozes da favela.

Thiagson de Souza, professor de Música Clássica e doutor de Funk pela USP – Foto: Geovanna Santana março/ 2025

Sobre o Desenrola Aí

O Desenrola Aí é um programa quinzenal que visa trocar ideias com especialistas da quebrada, descomplicando assuntos relevantes, que afetam o cotidiano da população negra e periférica e os direitos humanos, que é a essência da nossa existência e convivência enquanto sociedade. O programa do Desenrola Aí tem como realização o Desenrola e Não Me Enrola, Fluxo Imagens e Portal Kintê Notícias, fomentado pela LEI de Fomento a Cultura da Periferia, da cidade de São Paulo

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