Mediado pelo escritor Emerson Alcalde, o debate “Slam e Batalhas de Rima – Narrativas da juventude periférica”, com participação da slammer Kimani e o rapper Luis França, trouxe importantes discussões para a quarta edição do Congresso Escritores da Periferia, abordando a literatura como instrumento de autoafirmação e identidade dos jovens.
A ocupação de espaços públicos com manifestações culturais articuladas por jovens dentro de seus territórios vem trazendo um legado de autoafirmação e entendimento da sua identidade, ao colocar em pauta discussões como gênero e racismo.
Questões como essa apareceram no segundo debate do Congresso de Escritores da Periferia, realizado neste sábado (24/11/2018), no Centro de Mídia M´Boi Mirim, localizado no Jardim Ângela, zona sul de São Paulo.
As vivências da slammer Kimani, do rapper Luiz França e do escritor Emerson Alcalde, marcaram a terceira e última mesa do 4°Congresso de escritores da periferia, organizado pelo coletivo Desenrola e Não me Enrola no Centro de Mídia M’Boi Mirim, trouxe como tema “Slam e Batalhas de Rima – Narrativas da juventude periférica”.
Com o amplo processo de apagamento histórico, silenciamento e invisibilidade cultural, pela qual a juventude periférica passa cotidianamente, se torna cada vez mais comum a perda de suas identidades, o que tem como consequência a busca por padrões de beleza e de vida normativos, impostos pela sociedade do consumo.
Como forma de transgressão social, esses jovens criam dentro de si uma grande necessidade de serem ouvidos e vistos e nesse sentido, os saraus, slams e as batalhas de rima se tornam espaços de visibilidade, encontro e transformação social.
Tais espaços acabam por promover o acolhimento destes jovens que, distribuídos em roda, dividem suas realidades e angústias de forma coletiva, entrando em contato com suas próprias identidades e ganhando visibilidade.
“Na cena do slam eu consegui me descobrir, me entender como mulher negra, e não mais moreninha, entrei em contato comigo mesma, agora consigo transformar minhas dores em poesia”
conta a poeta Kimani.
Os slams começam em Chicago nos anos 80 como uma brincadeira de dar notas às poesias e logo se expandiram pelo mundo, chegando ao Brasil em 2008 com o Zap Slam. “Tanto as batalhas quanto o slam ou sarau estão dentro do hip hop, são falas políticas e sociais, de quem vive a quebrada”, argumenta a poeta Kimani.
Esses espaços são marcados pelo embate político e, por serem organizados em territórios que têm uma grande ausência de políticas públicas, os moradores articulam sua própria cultura e meios de discutir política: “o slam da Guilhermina é na rua, em si é um evento político, nós desde a fundação temos a nossa bandeira vermelha. Deixamos claro um posicionamento político do lado da esquerda e de enfrentamento ao fascismo”, argumenta Emerson Alcalde, poeta e organizador do Slam da Guilhermina, na Zona Leste da cidade de São Paulo.
A marcante presença de adolescentes e moradores nesses espaços de fala e visibilidade demonstra o impacto e a transformação social causada pela articulação dos jovens nos territórios. Com poucos espaços de cultura e lazer nos bairros periféricos, se torna ainda mais legítima a ocupação de ruas e praças transformando a quebrada, como conta Luiz França, organizador da Batalha do Bambuzal.
“A melhor coisa é ver todo mundo reunido na praça, meus amigos, minha família, as tia que vende doce na quebrada, todo mundo aparece, e organizamos as batalhas para todos terem voz, e conseguir passar sua mensagem.”
aponta Luiz França.
Com a forte demanda de construção ou criação de espaços de cultura nas periferias, se torna essencial na vida dos jovens a existência de saraus, slams e batalhas de rima, pois assim se constituem como espaços de visibilidade, representatividade e reconhecimento de suas identidades, acarretando também uma descentralização da produção cultural e surgimento de artistas de várias linguagens dentro das periferias.