Opinião

Será que sabemos o quê a juventude quer? 

A ideia do jovem como um indivíduo para ser simplesmente ensinado é preocupante e carrega consigo inúmeras limitações.

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Bom, não é de hoje que o tema juventude acumula local de pauta em diversos grupos, instituições ou em falas governamentais, porém é perigoso o movimento de definição sobre o que as juventudes esperam sem um devido olhar acerca das vivências, territórios e outras questões primordiais pro debate.

Quando pensamos “jovem” o que ecoa em nossa mente? Que vamos ensiná-lo a viver? 

A ideia do jovem como um indivíduo para ser simplesmente ensinado é preocupante e carrega consigo inúmeras limitações, espera-se aqui que o jovem corresponda a quem irá conduzir ou ensinar, e na maioria das vezes não é esse o movimento que irá ocorrer.

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Muitas vezes falamos sobre acolhimento e empatia, mas esse exercício não é fácil e o local de escuta também é um local de esforço, inclusive para lidar com os conflitos de ideias. E que bom que as ideias não são iguais! Que bom que existem conflitos geracionais, isso enriquece os debates. O aprendizado também nos exige que possamos aprender a conflitar.

Trago aqui o respeito pelo passar dos anos, pelas mudanças geracionais que precisam ser levadas em conta, as demandas mudam ou às vezes são reivindicadas de outras formas. Eu não dou local de fala a ninguém, assim como ninguém deu ele a mim. Eu posso e devo falar quando sinto que me convém! A voz do jovem não é doada, é dele. 

O protagonismo não pode ser podado, me entristece quando vejo que o debate ainda está focado no que definimos que seria bom para a juventude e não em criar meios da própria juventude elaborar o que deseja (inclusive porque existem diversas juventudes). Para existirem ambientes verdadeiramente acolhedores, primeiro precisamos repensar sob quais prismas nos constituímos, como tocamos as instituições, pesquisas e associações.

Esse texto começou a ser escrito ano passado, após inúmeros desconfortos e confrontos que me levaram a questionar se realmente queremos locais de diálogo ou não. Parece que ainda é turva a ideia de que o diálogo traz consigo um certo desconforto, de certo, o outro não é aquilo que esperamos, e que bom para nós…que sorte amadurecer! Nós também estamos nesse lugar, o tempo inteiro.

Compreendi a partir das observações que fiz, que precisamos conversar sobre o por quê trazemos jovens para alguns ambientes e se estamos dispostos a comportar a presença deles, com suas diferentes trajetórias, vivências, olhares, opiniões e vulnerabilidades. Não basta eles estarem lá, é necessário que haja troca.

Talvez ao esperar que as respostas das juventudes sejam padronizadas ou que há um só caminho, nos limitamos. 

E quando falamos da atuação institucional, por vezes criamos ambientes onde os jovens estão sempre como atores secundários, mesmo que digamos que são eles que desenvolvem os projetos, não são eles a ganharem voz, poder de escolha e reconhecimento.

Não sabemos o que a juventude quer!

Se partirmos da ideia de que existem diversas juventudes, não sabemos o que a “juventude” quer, não existe uma resposta pronta (aqui não estou falando sobre pesquisas já feitas, dados já coletados, entre outros), nesse texto estou discorrendo sobre a nossa ausência de auto reflexão quando nos colocamos num lugar de definição, já que sabemos que as pautas mudam e as urgências mudam para cada território e cada juventude.

Toda a minha escrita é focada em repensar caminhos, e ao meu ver não existe a construção e continuidade dos caminhos sem a participação ampla e ativa das juventudes.

Não acredito na obrigatoriedade dos papéis, ou seja, você é jovem, logo é obrigado a buscar protagonismo, a se movimentar etc. Ao meu ver, existem múltiplos fatores que levam uma pessoa aos lugares onde ela se afiniza, mas especificamente, eu afirmo que não é papel meu transferir minha identidade para o outro para que ele seja o que eu desejo.

Contudo, vejo uma responsabilidade em permitir que esses ambientes sejam confortáveis para todas as pessoas, que estejam abertos ao protagonismo jovem e que aprendam a construir novos olhares. 

Vladimir Maiakóvski
Este é um conteúdo opinativo. O Desenrola e Não Me Enrola não modifica os conteúdos de seus colaboradores colunistas.

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