Oyá (Iansã) e Xangô: Orixás da transformação e força

Quando o relâmpago rasga o céu, Oyá e Xangô anunciam: é tempo de mudança. Que a tempestade nos encontre com coragem.
Por:
Cátia Cipriano

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Nesta sessão, trago reflexões a partir do olhar ancestral que temos cultivado por aqui. Seguimos sendo surpreendidos por mudanças de rota, por caminhos que se desfazem e se refazem diante de nós. Tenho compartilhado minha visão sobre as forças que nos atravessam e nos convocam a novos desafios.

Como as águas, precisamos aprender a fluir, entregando-nos ao movimento, para então compreender o poder do fogo, que queima, transforma e nos empurra para grandes mudanças.

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Hoje, convido à reflexão sobre o poder das divindades Oyá (Iansã) e Xangô.

Quem nunca se angustiou diante de um relâmpago cortando o céu, anunciando uma tempestade por meio de estrondosos trovões?

Diante de tamanha força, só nos resta reconhecer a grandiosidade do que nos transcende. Essas manifestações anunciam que algo será transformado, a vida como a conhecemos pode ser desfeita num sopro, e não temos controle sobre isso. Resta-nos apenas a consciência de nossa pequenez diante da força sagrada.

Quando criança, eu temia as tempestades. Queria me esconder, e o fazia: fechava os olhos e me cobria com o que acreditava ser proteção. Na inocência, pensava estar segura, quando, na verdade, apenas me refugiava no imaginário de uma segurança que não existia.

Na vida adulta, já sabemos que não há como se esconder das tempestades que a existência nos impõe. Somos chamados a encarar os ventos, os raios, a destruição e a transformação.

Não somos mais crianças, e fingir que tudo está sob controle é ilusão. Precisamos entender que não dominamos tudo. A vida exige entrega, fé, coragem e confiança na força dessas energias ancestrais que nos guiam.

As grandes mudanças, muitas vezes, vêm com dor. Quando a justiça não é ouvida, quando o entendimento nos escapa, quando tudo parece ruir, talvez não caiba buscar respostas imediatas, mas sim cultivar coragem para recomeçar, resiliência para reconstruir e sabedoria para seguir.

As tempestades, físicas ou simbólicas, sempre trazem um chamado: olhar para os erros, aprender com eles e seguir com mais equilíbrio e consciência.

Os ensinamentos que vêm da destruição e da reconstrução são regidos por forças que assustam, mas que também amam profundamente. O amor e a justiça de Oyá e Xangô, que regem o mês de julho, nos ensinam que há proteção, mesmo no caos. Que há amor, mesmo na dor. Que há justiça, mesmo quando tudo parece injusto.

Eparrey, Oyá! Kaô Kabecilê, Xangô!

Que nunca nos esqueçamos de que temos com quem contar, mesmo nos momentos mais difíceis. Sigo confiando no amor e na sabedoria de adulta, com o coração de uma criança.

Essa mesma força que parece destruir também é a que media as ações humanas e fortalece nossos passos. A analogia da tempestade nos ajuda a compreender os sinais da Terra, ventos, trovões e enchentes revelam não apenas as mudanças em nossas vidas, mas também as consequências de como tratamos o planeta. E sabemos: são sempre os mais vulneráveis que sofrem primeiro.

Na infância, escondíamo-nos sob os lençóis; na vida adulta, aprendemos ser preciso coragem. Coragem para olhar para dentro, descobrir a própria força e mudar de rota quando o caminho já não nos serve mais. Muitas vezes, somos perseguidos não pelos nossos erros, mas por nossa verdade, por aquilo que não está à venda, que resiste.

Xangô e Oyá cuidam dos seus. Protegem, mas também ensinam. Nos chamam à escuta, ao planejamento, à consciência espiritual e material. Nos convidam a desenvolver autoconfiança e a lutar por justiça, a nossa e a do mundo. Mas tudo isso só é possível quando nos abrimos para sentir, compreender e agir em alinhamento com essas forças.

Por fim, deixo mais uma imagem: a da tempestade que nos dilacera, mas também nos cura. Quando sentimos que tudo está desmoronando, é preciso lembrar que os trovões anunciam movimento. Que os relâmpagos revelam o que estava oculto. E que, após a tempestade, há sempre a possibilidade da bonança. Que venha o novo. Que venha a paz. Que venha a transformação.

Este é um conteúdo opinativo. O Desenrola e Não Me Enrola não modifica os conteúdos de seus colaboradores colunistas.

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