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PerifaCon atrai jovens nerds dos becos e vielas, diz moradora do Capão Redondo

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Redação

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A primeira edição da PerifaCon reuniu cerca de quatro mil pessoas, um público representado por crianças, jovens e adultos, fãs de quadrinhos, séries, games e toda cultura geek. O evento ocupou 5 andares do prédio da Fábrica De Cultura do Capão Redondo, no último domingo (24).

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Feira de editoras e artistas independentes da PerifaCon (Foto: Vitória Guilhermina)

O universo Nerd ocupou as ruas do Capão Redondo, zona sul de São Paulo, com a primeira Comic Con da Periferia. Com diversas experiências da cultura pop, como uma feira de quadrinhos, bate papos e oficinas, a iniciativa revelou o interesse da periferia por conteúdos que não são acessíveis aos bairros mais afastados da região central da cidade. O evento também mostrou o seu potencial de público e relevância ao gerar uma extensa fila composta por pessoas e famílias de várias regiões, que contornavam as ruas no entorno da Fábrica de Cultura, equipamento público que sediou o evento aberto ao público.

A Perifacon foi pensada e organizada por um grupo de sete pessoas moradoras das periferias e que são fãs desse universo. O propósito do grupo era levar essa cultura para os extremos da cidade. “A ideia do evento vem a partir de uma galera que é apaixonada por ilustrações, quadrinhos e todo esse universo nerds, de uma forma acessível e gratuita, pensado para estabelecer conexões, relações de troca e afeto” diz Gabrielly Oliveira, 23, uma das organizadoras da iniciativa.

Não foi apenas na gratuidade ou a localização que tornaram o evento histórico, mas toda sua diferença na valorização de artistas e ídolos do próprio território. O beco dos artistas, por exemplo, um dos setores da Perifacon com maior presença de público contou com várias editoras independentes e artistas ingressantes que estavam expondo seu trabalho pela primeira vez. Nas mesas de debate, os principais pontos levantados pelos convidados abordaram a inclusão de mulheres nas produções de conteúdos nerds, representatividade negra e a cultura como forma de resistência.

Enquanto essas atrações movimentaram o público dentro da Fábrica de Cultura, na área externa do espaço acontecia um concurso de cosplay, cultura na qual as pessoas se fantasiam de heróis e personagens de desenhos animados. Mais de quinze pessoas participaram da atividade, com fantasias clássicas, que iam desde Batman e Homem Aranha até a versão feminina do Super Choque e Mario Bross.

Foto: PerifaCon

“Vir aqui hoje é um sonho. Sempre quis muito um evento como esse na periferia.”

Muitos visitantes e artistas estavam comparando o evento com a Comic Con Experience, considerado o maior evento do mundo da cultura geek. No Brasil, essa iniciativa acontece na região central de São Paulo, com ingressos que custam de noventa a quinhentos reais, tornando assim uma programação com acesso restrito a um público que possui uma condição socioeconômica que viabiliza a sua participação no evento.

“Vir aqui hoje é um sonho. Sempre quis muito um evento como esse na periferia. Ser cosplay em um evento como esse é incrível, diferente dos outros espaços, me sinto em casa, é meu espaço”, conta a Amanda Yara, jovem que estava trajando o cosplay da Jubileu, personagem do X-Mean. Ela é moradora do Itaim Paulista, distrito da zona leste. O seu trajeto até o Capão Redondo incluiu a travessia da cidade de metrô, trem e uma linha de ônibus que a deixou próxima ao evento. “Ainda é um mundo muito caro e fechado”, argumenta ela, ressaltando a elitização da cultura nerd.

A jovem Jhennyfer Oliveira, 22, participou da PerifaCon como expositora da área de games. Para ela, a iniciativa fortalece a juventude periférica que curte o movimento geek. “Esse evento é muito importante porque movimenta as pessoas da quebrada a ter contato com outras realidades, alimenta a alma dos jovens. E ajuda a dar visibilidade para essa cultura geek e os trampos das periferias”, ressalta.

“Não tem eventos de nerd na quebrada e tem muito nerd aqui.” 

Antes da realização da PerifaCon, o movimento da cultura geek em São Paulo não possuía uma diálogo direto com o público que mora nas margens da cidade. “A gente cresce vendo os eventos acontecerem sempre no centro da cidade ou em outro país. Não tem eventos de nerd na quebrada e tem muito nerd aqui. Consumimos muito esse universo e eventos iguais a esse reúne todos os nerds que tem escondido dentro das vielas e becos”, enfatiza Larissa Machado, 18 anos, moradora do Capão Redondo, afirmando a representatividade do evento e a sua potência para descentralizar o acesso a cultura nerd na cidade.

Outro ponto marcante da primeira edição da Comic Con da favela, nome pelo qual estava sendo chamado o evento por muitos visitantes, foi a participação ativa de cerca de 40 voluntários, em sua maioria jovens e fãs do universo nerd. Juntos eles produziram os cinco andares do evento aberto ao público. A principal justifica entre eles que os motivou a participar como voluntário foi o fato do evento acontecer na periferia e ser gratuito.

“Esse evento é muito significativo e importante para as periferias, por ele ser na favela e gratuito faz com que as pessoas tenham acesso e consumam isso. Eu quis ser voluntária porque eu nunca tinha ido a Comic Con, eu não sabia como era um evento igual a esse, eu consumo essa cultura e queria ver de perto”, diz Maria Ferreira, 23, moradora de Santo Amaro.

Após o sucesso de público, a organizadora Gabrielly já confirma a realização de outras edições. “É incrível ver a dimensão que o evento se tornou com pessoas de diversas quebradas, crianças fantasiadas e famílias participando. Toda equipe trabalhou muito conjuntamente para fazer isso acontecer, e ver acontecer é emocionante, queremos muitas edições em vários lugares.”

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