A Casa Ilera, centro comunitário de auto cuidado e saberes ancestrais, localizada no Jardim Robru, periferia da zona leste de São Paulo, acolhe moradores do território, para vivenciar o compartilhamento de conhecimento sobre saúde, alimentação e medicina a base de saberes ancestrais afro indígenas.
A iniciativa foi criada por mulheres negras e periféricas. Uma das criadoras da coletiva Ilera é Leila Rocha, enfermeira e gestora de políticas públicas. A profissional de saúde valoriza a cultura africana e indígena para desenvolver e aplicar estratégias de autocuidado para a população negra e periférica.
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Rocha já morou na Amazônia, onde conviveu com a população indígena, buscando aprender e desenvolver os tratamentos fitoterápicos, hoje aplicados nas ações da coletiva.

Em entrevista para Caroline Pina, aluna da 7ª edição do Você Repórter da Periferia – programa de educação midiática antirracista – promovido pelo Desenrola e Não Me Enrola, à co-fundadora da Coletiva Ilera ressalta que a palavra “Ilera vem do Yoruba, que significa, fazer saúde através do compartilhamento”.
Caroline Pina – Você Repórter da Periferia: Quando você percebeu que a ancestralidade é um instrumento para promover saúde da população negra e indígena?
Leila Rocha: Nossas ancestrais sempre se cuidaram assim. Em 2015, na organização da marcha das mulheres negras, nós ficamos refletindo em como iríamos incidir na saúde das mulheres que andavam conosco, sem se machucar tanto com a Alopatia (Remédios da farmácia). Questionamos em como nossas mães se cuidavam, e fomos observar os terreiros de candomblé, os quilombos e nossas próprias mães, e notamos que antes nossos remédios eram naturais. Tanto que hoje as indústrias farmacêuticas, nos observam, colocando os nossos saberes e tecnologias ancestrais em uma cápsula.
Caroline Pina – Você Repórter da Periferia: O que mudou na sua vida desde então?
Leila Rocha: Tudo! Digamos que larguei tudo, primeiro eu saí do hospital , sou enfermeira de formação, sou especialista em gestão de políticas públicas, e mudou o jeito como eu olhava o meu fazer profissional, e percebi que o hospital passou a não fazer sentido pra mim, porque eu entendia que ali era o fim, não o meio ou o começo.
Caroline Pina – Você Repórter da Periferia: como é o seu trabalho hoje na Casa Ilera?
Leila Rocha: Hoje todo meu trabalho está neste lugar de cura a partir das plantas medicinais. E das diversas tecnologias negras e indígenas, nós achamos que tecnológico é só aquilo que é europeu, que é do branco. Mas não, o nosso povo tem tecnologia. E a Ilera faz isso, como Sankofa, que olha pro seu passado, para construir seu presente e seu futuro.
Caroline Pina – Você Repórter da Periferia: o que a Coletiva Ilera representa para você e para o território do Jardim Robru?
Leila Rocha: Significa a materialização e a continuação das nossas ancestrais. A Ilera pra mim é um instrumento de fortalecimento e preservação da história e memória do povo negro, a partir do cuidar da saúde. E poder compartilhar isso com o território, ensiná-los a produzir e usufruir disso.
Caroline Pina – Você Repórter da Periferia: Quais impactos você sente em promover a preservação da cultura afro-indígena em um território periférico?
Leila Rocha: Quando as pessoas chegam aqui, falam que se curaram com um remédio nosso! Essas coisas são impactantes para nós. E também contribuiu com a nossa saúde mental e de quem está ao nosso redor, porque promovemos saúde a partir da circularidade, musicalidade, da cooperação e do axé. Precisamos pensar que se não houvesse os terreiros de candomblé, os quilombos preservando a nossa cultura e a nossa saúde, nós não estaríamos aqui.