Mulheres marcam presença na cena do pipa nas quebradas

Mesmo sendo um meio formado majoritariamente por homens, a pipa também é uma atividade de diversão para muitas mulheres das periferias.
Edição:
Evelyn Vilhena

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De co-fundadoras de equipes a proprietárias de lojas de pipas, o lazer que para muitos é predominantemente voltado para homens, também possui muitas mulheres adeptas da atividade. Como é o caso da Yngrid Ferreira, 32, que é co-fundadora da Equipe Pipas no Capão ZS, e que quase todos os domingos reúne amigos na laje de casa para soltar pipa e garantir a resenha do resto da semana no grupo de pipeiros.

Moradora do bairro Jardim São Bento Novo, localizado no distrito do Capão Redondo, na zona sul de São Paulo, Yngrid solta pipa desde pequena por influência da família, mas depois que casou, demorou até contar para o marido sobre sua proximidade com o pipa.

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“No começo ele desacreditou, eram anos juntos e eu nunca tinha comentado nada sobre isso, mas me viu fazendo, filmou e postou e no instagram”, conta Yngrid, que afirma ter demorado para contar ao marido por sentir receio de julgamentos que poderiam colocar em questão a figura de mãe e esposa.

Yngrid Ferreira é co-fundadora da Equipe Pipas no Capão ZS - Foto: Patricia Santos
Yngrid Ferreira é co-fundadora da Equipe Pipas no Capão ZS – Foto: Patricia Santos

Algum tempo após compartilhar sobre seu gosto por pipas, em 2020, junto com seu marido, Marcelo Oliveira, a pipeira fundou a Equipe Pipas no Capão ZS. Atualmente a equipe reúne mais de 80 pessoas, sendo que Yngrid é a única mulher.

Além da organização de equipes e eventos que reúnem diversos pipeiros, o lazer também se mistura com uma possibilidade de renda extra. Para além de empinar pipas, Yngrid também passou a produzir o material. Depois de algum tempo produzindo, deixou a confecção apenas para eventos que considera especiais, para presentear ou só para soltar em casa com os amigos.

Yngrid Ferreira é co-fundadora da Equipe Pipas no Capão ZS - Foto: Patricia Santos
Yngrid Ferreira é co-fundadora da Equipe Pipas no Capão ZS – Foto: Patricia Santos

“Eu devo pipas para um monte de gente, mas atualmente eu só faço quando tenho tempo, porque eu trabalho fora as vezes e a vida de mãe é dedicação em tempo integral”, conta Yngrid, que mesmo agora confeccionando as pipas em momentos específicos, não deixa de reunir os amigos na laje de casa para curtir um dia de sol com pipas no alto.

Vendas e eventos 

No município de Nova Europa, interior de São Paulo, Celia Katia Ferreira, 45, conhecida como Katinha, é dona de uma loja de pipas há mais de 10 anos. Além da loja de pipas, Katia participa de festivais organizados por equipes de todos os cantos de São Paulo.

“Minha família sempre foi envolvida com pipas. Eu quando criança ficava pegando algumas que caiam no telhado de casa quando minha mãe pedia e acabei gostando. Cheguei a soltar com ajuda do meu tio, mas foi depois de casada que eu realmente me envolvi com as pipas, abri a loja e comecei a produzir”.

Celia Katia Ferreira, conhecida como Katinha, é dona de uma loja de pipas há mais de 10 anos.

Katinha trabalha a noite como recepcionista em uma pizzaria na região onde mora e durante o dia se dedica à loja de pipas que administra com o marido desde 2014. Ela conta que se quer imaginou produzir as próprias mercadorias, mas que 3 meses após aprender, já produzia e recebia encomendas de equipes de diversos lugares.

“Eu via as pipas do Malvadão [criador de uma loja de pipas em Guarulhos] na internet e inventei de tentar fazer os desenhos e recortes. Meu marido empinava elas e o pessoal nos eventos começou a gostar. Agora eu recebo encomendas de pipas com os logos das equipes e é a minha principal fonte de renda”, diz Katinha.

Katinha é dona de uma loja de pipas há mais de 10 anos. Foto: Arquivo pessoal
Katinha é dona de uma loja de pipas há mais de 10 anos. Foto: Arquivo pessoal

No bairro da Cidade Ipava, localizado no distrito do Jardim Ângela, zona sul de São Paulo, Dyovana Ferreira, 21, trabalha como motorista escolar e também tem o pipa como possibilidade de lazer e complemento de sua renda mensal. Ela conta que suas crises de ansiedade foram aliviadas depois de começar a fazer rabiolas.

“Sempre procurei algo para me aliviar, mas nunca encontrei. Até conhecer meu marido e tudo mudou, comecei a ajudar ele na produção e o amor foi crescendo e crescendo e hoje sou a louca das rabiolas. Quando me deparo não tive crise alguma e as horas já se passaram.”

Dyovana Ferreira
Dyovana Ferreira trabalha como motorista escolare produz rabiolas para complementar a renda.
Dyovana Ferreira trabalha como motorista escolare produz rabiolas para complementar a renda.

Diferente da Yngrid e Katinha, a Dyovana não solta pipas, mas produz rabiolas para venda aos fins de semana. “O processo às vezes é demorado, porque pode ser que precise cortar as fitinhas antes de colocar na linha”, conta.

Com as diversas possibilidades de criação, Dyovana brinca com as cores, mas tem o rosa como cor favorita e que define um pouco da identidade do seu trabalho. “Meu processo criativo é cheio de amor e muitas risadas, brinco muito com as cores também, mas sempre no rosa, desde as pipas até mesmo as linhas”, compartilha.

“Quando pega o jeito dá pra fazer cerca de 500 metros de rabiola em poucas horas. Eu quero aprender a fazer pipa também. É uma renda extra e tem público pra isso”, afirma Dyovana.

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