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Jovens usam cultura periférica para inovar educação pública

Edição:
Ronaldo Matos

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Com a educação sendo colocada em segundo plano pelo governo brasileiro, alunos da rede pública buscam novas formas de inovar o ensino na periferia, mostrando que a educação pode ir além da sala de aula.

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Foto: Patrícia Farias

Promovendo o protagonismo jovem e utilizando a cultura como ferramenta para transformar a educação, o Coletivo Miguel Munhoz, criado em 2015 por alunos da escola publica, ocupa o Sacolão das Artes, localizado no Parque Santo Antônio, zona sul da capital paulista, espaço independente gerido por diversos coletivos culturais da região.

Os integrantes do coletivo Miguel Munhoz são voluntários para manter o Sacolão das Artes aberto, desenvolvendo atividades como a “Sexta Cultural”, que antes era realizada na escola Miguel Munhoz, oferecendo aos moradores da região diversas intervenções culturais, desde sarau a apresentações artísticas. A próxima edição do evento acontece no dia 12 de maio, a partir das 18h, com apresentações, oficinas culturais, exposições e roda de debate organizada e mediada por mulheres da periferia.

O Coletivo Miguel Munhoz, que hoje não atua mais como um grêmio estudantil na escola que dá o nome ao grupo, surgiu inicialmente com a proposta de levar outras formas de cultura aos estudantes, conforme conta Otavio Santos, integrante do coletivo. “A proposta inicial era trazer a cultura, pois o que existia em nossa volta era bem limitado entre rap ou funk, crescemos dentro disso. Buscamos mostrar que existe arte além dessa e usar a cultura como forma de resgate da periferia.”

Fortalecendo a cultura na região do Parque Santo Antonio, desde a primeira edição da “Sexta Cultural”, o Coletivo Miguel Munhoz tem visto e sentido a transformação nos moradores. “Sempre que fazemos a Sexta Cultural é como se fizesse parte do próprio rolê deles, cola gente da quebrada, todo tipo de gente. Mesmo com toda limitação de infraestrutura enche de gente, todo mundo abraçando a ideia. Quando levamos música clássica para a escola, levamos para dentro de uma favela o que quase ninguém tinha visto”, explicou Matheus Kriger, integrante do coletivo

De acordo com Otávio Santos, essa transformação também aconteceu com os membros do coletivo. “Foi um amadurecimento completo. Politicamente está fazendo parte dá minha adolescência e é um amadurecimento para a vida. Aprender várias coisas, saber quem é o algoz de fato, saber tomar consciência política assim é algo extraordinário. Você muda sua visão para o mundo, você sabe o que de fato é verdade e o que é mentira.”

O coletivo encontrou em uma atividade escolar a necessidade de se articular politicamente dentro da escola e apesar de terem sofrido diversas represálias, os integrantes resistiram e levaram as atividades do coletivo da escola para o bairro onde residem. “Nossa proposta era essa, trazer a questão da luta secundarista para a escola, mas não foi possível porque a escola não quis entrar na causa. Mas nós estávamos ajudando os companheiros das outras escolas, então foi em virtude disso também, desse amadurecimento de luta”, relembra Kriger sobre o apoio do coletivo a outros núcleos de estudantes.

Apesar da pouca infraestrutura encontrada nas escolas, principalmente nas periferias de São Paulo, os integrantes do coletivo e companheiros de luta acreditam em um formato de ensino diferente, onde o trabalho de base e a renovação diária são ferramentas importantes para o processo de mudança educacional. “Existem mil e uma formas de ensino e ele se renova a cada dia, mas ainda estamos trancados em uma sala de aula. Então acho que a modificação a partir das limitações que o sistema impôs é algo mais complexo”, relata os integrantes do coletivo, sobre as formas de reinventar a educação.

Sabendo que a renovação do ensino é algo necessário para a evolução e desenvolvimento dos jovens, o coletivo acredita ser possível inovar na educação e que ela também deve ser transmitida fora das escolas. “Acho que é possível inovar a educação sem depender da escola, por meio de saraus e atividades artísticas que os coletivos culturais e secundaristas como o nosso fazem. Ações que vão desde tirar daquele academicismo que é você sentar na sala de aula e o professor vomitar conteúdo para você. Porque isso é como se fosse um trabalho operário, você escrever 6 horas, voltar pra casa, dormir, no outro dia a mesma coisa e ficar nisso. É também sair bem da sala de aula, ser algo além disso. O próprio cine debate, que é algo simples, mas que abre o horizonte”, diz o estudante Kriger.

O Coletivo Miguel Munhoz acredita que educar a população não é de fato uma pauta a ser priorizada e que os retrocessos que a educação tem sofrido é consequência da falta de planejamento. “Acho que é planejamento estratégico de quem domina o Brasil, porque todas as conquista do ultimo governo, do qual não apoio, mas foi significativa para algum tipo de educação, esta sendo desarticulada nesse governo ilegítimo. Imagina se toda população brasileira de fato se acendesse politicamente, o que reivindica em prol do povo. Então é aquela questão, educação é uma arma, se você limita a educação ao povo você mantém com seus interesses”, explica Santos sobre a educação como um meio de conscientização política.

A partir deste cenário que mostra como a educação não tem sido prioridade para o governo e que em contrapartida tem crescido os movimentos em busca da educação autônoma, transformadora e libertária, nota-se a necessidade de refletir se as escolas conseguem suprir as reais demandas da sociedade atual. A sociedade evoluiu, mas a educação presente nas escolas púbicas brasileiras não passou por esse mesmo processo, que revela o fato da construção do conhecimento ir além de uma sala de aula.

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