Nascida em um núcleo familiar que tem em sua essência a ligação com a arte da costura, Bárbara Luiza criou sua própria marca com peças sob medida e pensadas para mulheres das periferias.
A ligação com a costura para Bárbara Luiza, de 21 anos, moradora da quebrada Vila Carmosina, Itaquera, Zona Leste de São Paulo, se originou muito antes dela nascer, pois sua avó sempre foi referência no assunto no lugar onde mora, e isso foi passando de geração em geração.
Após terminar o ensino médio, as dúvidas de qual área seguir começaram para Barbara, tanto que ela chegou a pensar em fazer psicologia ou relações públicas, mas mesmo assim as incertezas continuavam. Até que uma amiga a sugeriu cursar moda.
“Eu nunca tinha parado para pensar, mas sempre foi algo que eu gostava muito de acompanhar, ver roupa das pessoas, desenhar bastante look, eu fazia muito isso quando era mais nova. Só que nunca vi como algo que eu pudesse levar pra frente”, explicou ela.
Babi, apelido como Bárbara é conhecida, começou então a fazer faculdade de moda, mas na metade do curso veio a pandemia, e as coisas se tornaram um pouco mais difíceis para ela.
A princípio, a ideia da marca era só um trabalho da faculdade, isso ainda no início do ano de 2020, mas no decorrer do semestre, as complicações aumentaram, porque ela considerava quase impossível estudar no formato online, sendo que a moda precisava de contato, então Bárbara decidiu trancar o curso.
“Nesse tempo que eu fiquei parada, foi aí que a BZA de fato surgiu. Eu inquieta decidi me jogar de cara nesse mundo de empreender e tudo mais”
pontuou a costureira.
Assim, em 2020, a partir de um trabalho mediado na faculdade, começou a ser projetada a marca de roupa, onde o nome tinha três letras, formando a sigla “BZA”, que abrevia o nome completo da modelista, Bárbara Luiza.
A BZA Company, como conta Bárbara, tem a intenção de fazer com que as meninas e mulheres da quebrada se sintam bem, se sintam representadas e confortáveis com seu estilo de roupa.
Mesmo chateada por ter trancado o curso de moda, ela continuou se especializando através de cursos livres na área que ela gostaria de seguir, entendendo os tecidos, focando na modelagem e todos os vieses da costura.
“Eu tinha medo de que se eu ficasse parada talvez eu pudesse perder o gosto, então eu continuei tentando e me joguei”, exclamou.
Como era tudo novo e ela precisava de experiência e saber se aquilo iria de fato dar certo, começou a confeccionar ecobags, e foi aí que as pessoas passaram a se interessar, a encomendar e sua produção, que desde então não parou mais.
Produção sob medida
Hoje a BZA possui um site oficial de vendas da marca, mas o maior alcance é pelo Instagram, por isso Babi investe muito no conteúdo da rede social, considerando que a grande maioria de suas vendas são feitas por lá.
“Tem o site tudo mais, mas meu público maior é no Instagram, é por lá que eu mais vendo e tenho o maior alcance”, explicou Babi, que ainda não possui uma equipe e cuida sozinha da produção e venda das peças, contando com ajuda do pai em algumas demandas da marca.
A BZA Company possui o alcance de quase 3 mil pessoas no Instagram, e conta com a parceria das influencers de quebrada: MC Luanna e Lua Lopes.
Para Bárbara, a BZA tem originalidade em todos os aspectos, é um trabalho orgânico e voltado diretamente para as mulheres de quebrada, no intuito de resgatar a autoestima de cada uma e vestir uma marca que possa representar sua personalidade de forma totalmente exclusiva.
“Para meninas de quebrada, se sentirem gostosas e também se sentirem bem com seus corpos”, afirma, reforçando o resgate da autoestima de meninas e mulheres de quebrada, ressaltando que apesar do processo ser difícil, existem potências que acreditam nelas.
Cada peça é feita sob medida, sendo que, após realizar a encomenda, Bárbara inicia o processo para tirar as medidas das clientes e produzir cada peça, desde bodys, vestidos e biquínis.
Aprendizados e construção em família
Bárbara é natural de São Paulo, e sua família paterna, mais especificamente as mulheres, sempre tiveram o contato vivo com a costura e com a moda, mas ela nunca levou em consideração que pudesse de fato seguir esse caminho, pois sentia que esse mundo era distante demais para ela.
“Começou até antes de eu nascer, a família do meu pai sempre mexeu com essa parte de costura, minha avó, minha tia avó, todas as mulheres da família sempre foram referência nessa parte de costura”, pontuou a modelista.
Ela conta que seu pai, juntamente com sua avó e seu avô, vieram de Araripina, município do estado de Pernambuco, nos anos 70, quando ele tinha apenas 6 anos, para tentar construir uma vida e estabilidade financeira em São Paulo.
De início, sua avó trabalhava para algumas confecções ajustando partes específicas de uma roupa e ganhava uma porcentagem baixa por esse serviço.
“Ela não chegava a costurar uma peça inteira igual eu, ela trabalhava para algumas outras confecções, tipo, fechava uma parte específica da roupa, sabe? Uma alcinha, uma bainha, essas coisas assim. Ela e minha tia avó são referências até hoje”
compartilha Bárbara.
A costureira ainda pontuou o fato de que seu pai sempre foi um grande investidor de seu trabalho, mesmo com o esforço dela, quem sempre apoiou e não deixou ela desistir foi o pai, contribuindo com tecidos para novas coleções, roupas de provas e tudo o que fosse necessário para que a BZA pudesse progredir.
Um marco importante para Bárbara, foi no final do ano de 2021, no dia 1º de dezembro, quando lançou sua coleção Cool For The Summer, onde trouxe a essência do verão com suas peças praianas, com mulheres modelos de corpos totalmente periféricos. Mas para ela, o mais importante foi o ensaio fotográfico dessa coleção, que foi feito na casa antiga de sua avó, que é uma de suas inspirações na família.
“Uma das coisas mais importantes pra mim foi que o ensaio foi na casa que ela morava [avó]. A casa que ela estava ali fechando as costuras nem imaginando que um dia poderia chegar algo assim, foi muito importante pra mim”, disse Babi.
Para o futuro, Barbara acredita que seu trabalho, juntamente com suas parcerias, podem chegar a outras quebradas e mulheres periféricas, dando continuidade ao resgate da autoestima e confiança para cada uma delas.
“Algo que eu levo comigo e com a BZA pra tudo, em Itaquera e todas as quebradas, é dar voz e preferência para as meninas periféricas, que estão no mesmo corre que eu e que estão na luta”, concluiu.