ENTREVISTA

“Ela inspira nossa luta”: o pensamento de mulheres pretas sobre Tereza de Benguela

Edição:
Ronaldo Matos

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Mulheres pretas e periféricas relatam a importância de preservar a memória e reconhecer o legado de Tereza de Benguela.

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Projeção realizada pelo Coletivo Coletores homenageia a líder quilombola Tereza de Benguela. (Foto: Coletivo Coletores)

 Em 25 de julho, é celebrado o Dia da Mulher Negra, Latino Americana e Caribenha. Nesta data, a trajetória da líder quilombola Tereza de Benguela também passou a ser homenageada em âmbito nacional, após a aprovação da Lei 12.987, sancionada em dois de junho de 2014 pela presidenta Dilma Rousseff (PT).

A líder quilombola ficou conhecida por sua trajetória de vida dedicada a lutar pela liberdade das populações pretas e indígenas, que eram escravizadas pelos povos europeus no século 18, no Brasil. Ainda hoje, essa atuação serve de inspiração para mulheres pretas que continuam lutando por igualdade de direitos.

Por suas habilidades de liderança e estratégias de combate militar, ela era chamada de “Rainha Tereza”, a líder do Quilombo do Quariterê, localizado na fronteira do estado de Mato Grosso com a Bolívia.

“Tereza de Benguela é símbolo de representatividade para nós mulheres negras. Ela inspira na continuidade da nossa luta diária por igualdade, autonomia, respeito e dignidade” 

Rita Maria é produtora cultural e co-fundadora da Coletiva Tear & Poesia.

Rita Maria atua nas periferias da zona sul de São Paulo resgatando a cultura ancestral do bordado. (Foto: Reprodução Facebook)

A trajetória de Rita se conecta com o legado de  Tereza de Benguela pelo fato dela atuar na Coletiva Tear&Poesia de Arte Têxtil, uma iniciativa composta por mulheres pretas que atuam e residem há cerca de 20 anos nas periferias da zona sul da cidade de São Paulo,.

As ações da coletiva tem com foco em dialogar com a mulher em diáspora, tanto imigrantes africanas quanto latino-americanas e caribenhas, mostrando também semelhanças entre grafismos nativos brasileiros, indígenas, e africanos e buscando identificar semelhanças pouco estudadas e menos difundidas entre culturas originárias das Américas e da África.

Para Rita, que é engajada em  resgatar a memória e cultura do bordado praticado por mulheres pretas, indígenas e latino americanas, a trajetória de Teresa de Benguela tem uma forte semelhança com as lutas das mulheres pretas que moram nas periferias.

“As lutas da mulheres negras são constantes enquanto sujeitas históricas e de direitos. Lutam cotidianamente no combate ao racismo, à violência doméstica, o genocídio da população negra e LGBTQIA+”, afirma a co-fundadora da Tear & Poesia. 

Legado 

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), 27% da população brasileira é composta por mulheres pretas. Atenta a esse contexto histórico e demográfico,  a socióloga e professora Ale Tavares atua há mais de 15 anos com projetos de impacto educativo, social e político nas periferias da zona sul de São Paulo, que visam promover debates, reflexões e senso crítico sobre a importância dos saberes das mulheres pretas e periféricas para construir sociedades mais justas.

De acordo com as vivências e pesquisas no campo do feminismo periférico, Ale considera o resgate de memória uma estratégia importante para transformar positivamente o imaginário das mulheres pretas.

“Pensar e resgatar a memória de mulheres negras como Tereza de Benguela e tantas outras é construir um imaginário de que mulheres negras foram, são e serão importantes para a construção do nosso país”

Ale Tavares, socióloga e pesquisadora de movimentos feministas nas periferias

A socióloga Ale Tavares atua com a produção de conhecimento enraizado no movimento de mulheres pretas que desenvolvem espaços de reflexão, diálogo e estratégias de combate contra as desigualdades sociais nas periferias da zona sul de São Paulo. (Foto: Reprodução Facebook)

Ela explica que esse resgate de memoraria também mobiliza aspectos positivos em torno da identidade coletiva de mulheres negras, e isso é importante para que meninas e mulheres reconheçam essas virtudes presentes em suas ancestrais.

A partir desta percepção, Ale argumenta que a preservação desta memória também impacta na construção do futuro das mulheres pretas, pois ela considera, que os conhecimento e conquistas registrados pela história ajudam a inspirar outras mulheres a pensar melhor sobre o presente e o que será do seu futuro individual e coletivo.

“Quando a gente tem essas referências, isso ilumina a percepção de atuação de milhares de mulheres negras que estão chefiando e conduzindo famílias, escolas, postos de saúde, territórios e diversos ativismos. Eu vejo essa relação muito forte na ancestralidade de mulheres negras, para projetar outros futuros”, conclui. 

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