Durante a 2ª temporada do Favela Drag 2023, projeto cultural, que aconteceu, no último sábado, 19, na Casa de Cultura Vila Guilherme – Casarão, zona norte de São Paulo, Vitória Rosendo, aluna do Você Repórter da Periferia – programa de educação midiática promovido pelo Desenrola e Não Me Enrola –, entrevistou Júpter, 28, drag queer, com três anos de atuação no cenário cultural.
A cultura drag queen é um estilo artístico que envolve diversidade de raça, etnia e identidade de gênero, um exemplo, é a arte drag queer, que possui uma estética não-binária. Ela também abrange uma ampla gama de estilos e abordagens artísticas, desde arte conceitual a performance política.
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Em entrevista ao Você Repórter da Periferia, Júpter relata que sua primeira referência nas formas de se vestir foi sua mãe. Sempre com roupas elegantes e saltos impecáveis, mesmo nas atividades do dia a dia, como uma ida à padaria. Com o passar dos anos, outras referências passaram a fazer parte das suas inspirações, entre elas, David Bowie. Ela também compartilha os desafios de se viver da arte drag nas periferias e como essa forma de expressão impacta positivamente sua vida e aqueles ao seu redor.
Você Repórter da Periferia: Qual a importância da cultura drag para os territórios periféricos?
Júpter: Eu acho que é importante as pessoas se expressarem do jeito que elas quiserem. A realidade de uma pessoa periférica é totalmente diferente de outros ambientes. Trazer isso para nossa visão Drag Brasil é muito importante, porque a gente tem aquela coisa do Rupaul’s, né? Daquela coisa da drag refinada, as drags que têm muito acesso financeiro e aos espaços. Então, quando a gente pega essa realidade das pessoas que vêm dos extremos da cidade, o modo de se fazer arte é bem diferente, é uma arte muito cara.
Você Repórter da Periferia: Quais são os principais desafios de se viver da arte Drag Queen na periferia?
Júpter: Comprar uma maquiagem, os produtos são caríssimos, mas é um papo de acesso mesmo […] o acesso a espaços também é uma coisa que limita, não é somente o acesso econômico no sentido de comprar maquiagens, muitas vezes os espaços, não querem pagar o que a gente precisa, né? E essa é a maior problemática, porque eles querem que a gente vá, que a gente seja bonita, mostre tudo que a gente tem para mostrar. Só que eles não dão condições para isso, nenhuma ajuda de custo, na verdade pouco importa a pessoa por trás da drag, né? Só importa o que está ali, se ela tá impecável, se ela tem a melhor maquiagem, se ela tem o melhor look e a drag ela vem muito antes, né? É toda essa construção de dores do lugar de onde a gente veio, do que a gente quer. Existe certa misoginia quando uma mulher queer se colocar nesse lugar de drag.
Você Repórter da Periferia: Como você enxerga o seu trabalho nos dias atuais e qual o seu impacto?
Júpter: Estou tentando enxergar o meu trabalho de uma forma assim, mais gentil comigo mesmo. Eu acho que até essa coisa do impostor é uma coisa muito de uma vivência feminina, né? Porque a gente nunca é boa o suficiente, você nunca é bom se sente nada, então a gente fica tentando se provar. O que eu tô fazendo tem um valor, né? Eu estou conseguindo alcançar alguém? Também acho que é importante lembrar que as pessoas que estão nesses lugares, elas não tiveram as mesmas oportunidades que você teve, também tem essas questões, né?
Você Repórter da Periferia: Qual é a sua maior motivação?
Júpter: […] acho que a minha motivação é a liberdade de ser quem eu quiser, e eu gostaria muito de poder viver disso óbvio, é difícil, estou trabalhando em outros espaços, não só como Júpter, mas como a Isis que também existe, a pessoa por trás disso. Tô tentando voltar para o teatro. Então eu acho que a motivação é essa, tipo: ser quem eu quiser, porque a arte me permite isso, e tô querendo viver disso, se a drag vai me proporcionar isso? Eu não sei. Vou entender daqui um, dois anos, eu espero estar fazendo isso em condições melhores, né? Em espaços que me apoiam com mais suporte financeiro e emocional, né?