Compositores do Samba da Vela esbanjam autenticidade na Virada Cultural

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Redação

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Em entrevista exclusiva, Chapinha Partideiro, um dos idealizadores do grupo, conta um pouco mais sobre a participação num dos maiores eventos culturais de São Paulo e a proposta da roda de samba de agregar um celeiro de compositores.

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Foto: Samba da Vela

A Virada Cultural de 2015 apresentou para os admiradores do samba tradicional a autenticidade dos compositores do Samba da Vela, uma roda de samba fundada há 15 anos pelos batuqueiros Chapinha Partideiro e Paquera Vela, no bairro de Santo Amaro, Zona Sul de São Paulo, com a proposta de tornar as segundas-feiras do bairro mais amistosas com uma boa roda de samba. Um dos símbolos da roda de samba, uma vela acesa é quem determina a hora de encerramento do encontro de compositores.

Chapinha descreve os 15 anos de existência do grupo como um período de conquistas e cita a participação na Virada Cultural como uma delas. “São 15 anos de resistência, de luta, de batalha e por que não de vitória? Um artista chegar aqui e cantar músicas que fazem sucesso na rádio é fácil, agora nós que cantamos composições da comunidade, chegar aqui e ver o povo cantar junto desse jeito é algo indescritível e impagável.

Com o intuito de dar voz aos compositores da periferia, a roda de samba ainda abre espaço para aqueles que queiram compartilhar suas composições. “O Samba da vela foi criado para abrir espaço pro compositor de samba tradicional que estava “engavetado”. Nós não estamos resgatando o samba, estamos resgatando o compositor que outrora fora esquecido. Qualquer pessoa que escreve uma letra terá a oportunidade de mostrar para nós. É para todos, sem exceção: negro, branco, amarelo, magro, alto, baixinho que nem eu (risos)”, relatou o compositor.

O samba da Vela vem se destacando como uma das rodas de samba mais conhecidas de São Paulo, que pela sua história e luta tem sido considerada uma das principais porta-vozes da cultura periférica da cidade, mobilizando milhares de pessoas nesses 15 anos de trajetória. Durante a entrevista, perguntamos como ele vê a repercussão do grupo, que tem Beth Carvalho como madrinha. “Foi feita uma pesquisa e nela se concluiu que o Samba da Vela (SDV) é visto hoje em 153 países. Isso seria impossível sem a vinda da nossa madrinha Beth Carvalho. Eu acho que se estamos nesse patamar é porque temos alguma qualidade, mas claro, não podemos nos vangloriar e dizer que foi apenas pelo nosso talento. A chegada dela e de outras pessoas fortaleceram e tudo isso foi importante. Recebemos tantas personalidades, jornalistas, jogadores de futebol, cantores e cantoras de todos os segmentos. E tudo isso nos ajudou a fortalecer e dar visibilidade ao nosso trabalho”.

Ele ainda fez diversas homenagens ao seu amigo, já falecido Paquera Vela, presidente do grupo e inventor do uso da vela como cronômetro. “Fazer homenagem pro cara que foi meu parceiro desde 1982, um amigo de tantas histórias e composições, é muito satisfatório e automático. Criamos o projeto Samba da Vela juntos, é muita coisa… Mas antes do (SDV), eu já tinha outros projetos que acabaram parando pelo caminho. Mas o (SDV) foi o marco né, e ele que deu a idéia de colocar a vela como cronômetro e eu sugeri o relógio. E até hoje, as pessoas que não conhecem tem a curiosidade por conta desse diferencial”. Em tom de brincadeira, perguntamos o que acontece se a vela durar sete dias. “Aí tem que levar sete7 pares de sapato, um pra cada dia (risos)”, brincou Chapinha.

Durante a entrevista, ele destacou a importância do interesse dos jovens no samba e na cultura brasileira. “Pra eu dar entrevista pra jovens como vocês é uma satisfação. Os caras da mídia, da rádio, é outra coisa. Isso aqui que é sucesso verdadeiro, pois significa a continuidade do nosso trabalho”, revela o fundador do grupo.

Red Hot Chilli Peppers no Samba da Vela

Ainda falando sobre a expansão do samba e da quebra de fronteiras, Chapinha relata a presença inusitada de um artista durante uma reunião de segunda-feira. “Pra você ter uma noção, uma vez chegou um cara lá, de cabelo vermelho e estilo diferente e todos ficaram curiosos, aí alguém falou que era o Flea, o baixista do Red Hot Chilli Peppers, olha que louco! O cara veio pro Rock In Rio e ao chegar no Rio de Janeiro perguntaram pra onde eles queriam ir: Corcovado, Pão de Açúcar e tal e eles responderam que queriam ir pro Samba da vela. Eles pegaram um avião, decretado a nos assistir, olha o porte do cara! Ultrapassamos fronteiras que antes era impossível pro samba, e só temos que agradecer. Mas o nosso trabalho é simples: é comunidade, união, e é mostrar a capacidade de cada compositor, não fazemos nada demais”, conclui Chapinha.

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