Websérie retrata moradores da quebrada que refletem sobre o mundo pós-pandemia

Edição:
Ronaldo Matos

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O que será do novo mundo? É a partir dessa inquietação que a Fluxo Imagens produziu a websérie ‘Cartas para o Futuro’, que retrata uma narrativa futurista, a partir do olhar e vivência de moradores das periferias da zona sul de São Paulo, contando como eles imaginam o futuro da quebrada após a pandemia.

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Reprodução da websérie Cartas para o Futuro, produzida pela produtora Fluxo Imagens. (Foto: Fluxo Imagens)

Distribuída pelo canal do IGTV da produtora Fluxo Imagens, a Websérie ‘Cartas para o Futuro’ vem chamando a atenção pelo tom de realismo do cenário e a sinceridade dos personagens em relação às perspectivas de futuro sobre o pós-pandemia, um momento ainda incerto e repleto de inseguranças relacionadas às condições de vida da população periférica e a nova cultura de convivência.

Maxuel Melo, diretor de fotografia da Websérie e um dos fundadores da produtora, explica que diante do cenário de incertezas causado pela pandemia de covid-19, o novo coronavírus, cada episódio busca investigar o que há de mais sincero no pensamento do morador da quebrada. “A gente decidiu perguntar para pessoas comuns o que elas acham o que será o futuro e deixar uma mensagem mesmo do passado para o futuro”, conta o produtor audiovisual.

Confira o primeiro episódio da websérie Cartas para o Futuro.

Ele resume o propósito da Websérie afirmando que o objetivo era produzir um registro atual para que seja eternizado em nossa memória, colocando o sujeito periférico como protagonista dessa história.

Retratar moradores comuns e o seu cotidiano da periferia e dar ênfase a sua sabedoria são os pontos de partida para a produtora se dedicar aos registros audiovisuais. “Entendemos que todas essas pessoas têm um conhecimento, ela tem uma opinião, e que esse conhecimento também é válido. É necessário retratá-lo”, diz.

Confira o segundo episódio da websérie Cartas para o Futuro. 

A escolha de cada personagem da ‘Cartas para o Futuro’ tem uma relação conceitual com o fato do morador da quebrada ainda não ter um protagonismo merecido no cenário da produção audiovisual brasileira. “O nosso povo é muito escasso de protagonismo, quando a gente é criança, a gente não se identifica com nada, os heróis não se parecem com a gente. O galã da TV não se parece com a gente, àquela menina da novela não se parece com a gente. Nosso cabelo é diferente, nossa pele é diferente, a gente fala diferente. Então tá aí a importância de você se identificar com algo, por isso é tão importante colocar moradores da periferia como protagonista, porque eles se parecem com a gente”, enfatiza Melo.

Em relação aos impactos do novo trabalho audiovisual, o produtor conta que nesse momento de distanciamento social o foco é reconectar as pessoas através da tecnologia. “Nos resta utilizar a tecnologia que está em nossas mãos todos os dias para nos reconectar de alguma forma, com as pessoas que a gente gosta”, finaliza Melo.

Experimentos com celular para realizar durante a quarentena

Além de difundir uma narrativa realista e futurista sobre a periferia, a Fluxo Imagens, produtora audiovisual criada por jovens moradores do Campo Limpo, zona sul da cidade, vem ocupando as redes sociais com o movimento da ‘cultura maker’, realizando oficinas que incentivam a autoconstrução de equipamentos audiovisuais e soluções criativas para suprir a necessidade de usar equipamentos de fotografia com grande valor de mercado.

A história da produtora começa com uma câmera Cybershot na mão de Maxuel e seu irmão Marcelino Melo. Em meio a poucas referências de obras e conceitos audiovisuais, os jovens moradores do Campo Limpo, zona sul de São Paulo, começam a contar histórias de artistas locais com o intuito de democratizar a produção audiovisual dentro da quebrada.

“Conforme a gente ia se aventurando e buscando se conectar mais e mais com este universo, fomos conhecendo fazedores e fazedoras que nos possibilitaram assinar trabalhos com artistas cada vez mais conceituados. E sempre mantendo as raízes”, relembra Melo. Após oito anos de inúmeros trabalhos realizados, a produtora busca retratar a periferia com um novo imagético não só na narrativa, mas também na produção de suas próprias tecnologias.

Nesse momento de pandemia, a Fluxo Imagens firmou uma parceria com a Fábrica de Cultura de São Paulo, organização ligada a Secretaria de Cultura do Estado, para gravar tutoriais que ensinam a produção de componentes que incrementam a capacidade de filmar e fotografar com o celular, mesclando conhecimentos profissionais aplicados no cinema com as ferramentas de um smartphone.

Uma das oficinas ensina como transformar a câmera do celular em uma lente para produzir fotos macro, utilizando apenas uma gota d’água. “Eu optei por falar de assuntos simples que são fáceis de explicar e fáceis de fazer em casa também, aproveitando esse período de isolamento que a gente está infelizmente passando”, relata o Melo, destacando o seu cuidado pedagógico para facilitar a participação das pessoas, visando democratizar o conhecimento do audiovisual nesse momento de pandemia e com uma linguagem acessível para a quebrada.

“A gente sabe que a linguagem trazida por professores não é uma linguagem que a periferia fala né, então a ideia foi trazer algo com uma linguagem mais local, mais periférica, que todo mundo consiga entender, e no vídeo eu pensei bastante no público infantil e jovem”.

ressaltando a sua preocupação com o público jovem das periferias.

Muitos jovens da quebrada procuraram as redes sociais da Fluxo Imagens e de Melo para comentar sobre o tutorial de produzir fotos macro com uma gota d´água, uma delas é Alexia Lara, moradora da favela do Guian, localizado no Jabaquara, zona sul de São Paulo.

Alexia ficou contente por ser deparar com esse tipo de entretenimento em um momento que informações positivas estão escassas. Ela diz que já gravava seus próprios vídeos, mas não sabia do amplo potencial que poderia encontrar utilizando o celular. “Cheguei a achar em um momento que só conseguiria um resultado bom de vídeo se tivesse uma câmera e iluminação profissional. Coisas que não são acessíveis a todos, ainda mais no momento atual. Acredito que muita gente acaba caindo neste lugar e não se dá conta do potencial do celular”, conta Lara, relatando suas descobertas, a partir do contato com o tutorial da Fluxo Imagens.

Ela afirma que já consegue sentir a evolução dos seus trabalhos aplicando os conhecimentos obtidos na oficina. “Eu mesma senti uma evolução na gravação dos meus processos e consequentemente o alcance e valorização do meu trabalho dentro das redes sociais”.

“Dá um ânimo muito grande você ver que atingiu alguém. Todo tempo estudando fez sentido, porque eu acredito muito que informação foi feita para ser passada”, argumenta o produtor, afirmando a importância da informação quando ela gera inspiração e identificação com as pessoas.

Outra moradora da quebrada que ficou contente e surpresa com os aprendizados obtidos na oficina foi Dalila Ferreira, moradora do Jardim São Luís, zona sul da cidade. Ela reconheceu que o tutorial, além de criativo, ampliou seus conhecimento técnicos sobre audiovisual. 

“Nessa época de quarentena estamos lidando com o ócio e a produtividade, entretanto naquele momento eu decidir ver novas coisas, e o resultado foi melhor do que eu imaginei. Eu sou leiga no audiovisual, fiquei um pouco receosa de não entender, mas eu entendi tudo e até experimentei em casa, a experiência do Macro que usa só uma gota d’água, e a experiência do 3d”.

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