Tik Tok vira espaço cultural para artistas da M´Boi Mirim

Leia também:

À base da cultura do faça você mesmo, artistas da quebrada contam como tem usado a rede social como uma estratégia para gerar audiência para o seu trabalho, atraindo a atenção de centenas de milhares de seguidores, inclusive de vizinhos.

ASSINE NOSSA NEWSLETTER

Cadastre seu e-mail e receba nossos informativos.


Choks durante a gravação de suas coreografia (Imagem: Mano Batom)

Devido aos impactos da pandemia que causaram o fechamento de equipamentos públicos de cultura nas periferias de São Paulo,o dançarino, coreógrafo e professor de dança Matheus Oliveira, morador do Jardim Tupi, bairro da zona sul de São Paulo, transformou o seu perfil no Tik Tok num espaço virtual para ganhar visibilidade e atrair seguidores interessados em valorizar o seu trabalho artístico.

Esse caminho, segundo ele, foi uma forma de combater o ‘horror’ causado pela pandemia no seu trabalho. “esse momento de pandemia ta sendo um horror total, não só pra mim, como para diversos outros profissionais na área pelo fato de os estúdios estarem fechados e as aulas presenciais não estarem rolando”, conta.

O professor de dança afirma que muitos colegas de trabalho optaram pelas aulas online, no entanto, ela acredita que isso tem um preço para quem ensina e para quem quer aprender. “Não é a mesma coisa. O contato direto se faz necessário para que as coisas aconteçam devidamente e da melhor forma possível”, enfatiza.

Mesmo com essa opinião formada, o artista da dança conta que encontrou através das gravações de suas coreografias para publicação no Tik Tok um meio para divulgar seu trabalho.”As redes sociais tem sido um meio de muita importância nesse quesito. Vem sendo efetivo pois vem chegando mais pessoas que curtem e passam a acompanhar.”

Por isso, Matheus vem apostando em produções constantes de vídeos, por acreditar no poder de engajamento da Tik Tok, uma rede social que vem trazendo muitos frutos para o seu trabalho.”Cheguei no TikTok na segunda semana de janeiro através de alguns amigos. O engajamento lá é relativo pois depende de diversos fatores, mas felizmente eu venho tendo bons resultados e a galera se mostra presente comentando e novos seguidores chegam constantemente, então posso dizer que tô feliz com o avanço”, relata.

O perfil do dançarino chama-se @ochokz e conta com mais de 38 mil seguidores. Em menos de seis meses de trabalho, ele já acumulou mais de 190 mil curtidas em suas publicações. À base do faça você mesmo, todos os seus vídeos que registram as suas coreografias são gravados pelo celular e editado por um aplicativo chamado Inshot.

Além de gravar, ele também produz o próprio roteiro das coreografias, um acúmulo de funções que vale a pena, pois os conteúdos acabam viralizando rápido. “Existem os challenges que são o que mais viralizam dentro da plataforma em si, que nesse caso não necessita de muito tempo de preparo, ainda mais por serem curtos e fáceis, para pegar são mínimos minutos e pra gravar também, no geral não é trabalhoso, exceto pelo suporte que é necessário, como por exemplo alguém pra gravar e equipamentos”, explica.

 “Tenho um vídeo que chegou quase a um milhão de visualizações”

“Eu via muitos amigos comentando e pedindo para eu baixar pela conta deles, aí eu tive curiosidade e criei, mas depois eu fui achando interessante os videos, então eu comecei a mostrar um pouco do bairro onde eu moro, achei legal e comecei a produzir bastante vídeo”, explica Rodrigo Santos, 26, morador do Parque Cerejeira, região da M´Boi Mirim, zona sul de São Paulo.

Através do seu perfil @digocods, o morador produz vídeos utilizando dublagens da quebrada. “Eu gosto de assistir um vídeo de alguma dublagem, para ver se é legal mesmo e se encaixa comigo, ai se eu achar que é bem isso que eu procuro, eu assisto ele antes, estudo primeiro e depois começo gravar”, descreve Santos, citando a maneira como produz os conteúdos em seu perfil no Tik Tok.

Santos costuma ser exigente consigo mesmo, para garantir um padrão de qualidade na produção dos seus conteúdos. “Às vezes eu gravo um, e se eu não gosto vou fazendo até achar um que eu me identifico, porque eu gosto de ser bem chato nessas partes, se eu já vejo que uma fala não ficou encaixada direito, quando é dublagem, ai ja faço de novo”, conta o dublador, afirmando que leva em média dez minutos para gravar um vídeo com boa aceitação dos seguidores.

Ele gosta de enfatizar esses pontos de qualidade, porque um único vídeo do tiktoker já chegou a atingir quase um milhão de visualizações. “Eu tenho uns quatro ou cinco vídeos que tiveram bastante visualizações, mas eu tenho um que chegou a quase um milhão”, revela.

O dublador vê nessa exposição que a rede social permite uma maneira de abordar a sua visão sobre a subjetividade do morador da quebrada. “Eu gosto de fazer algo diferente, que eu vejo que muitos fazem igual, gosto de fazer do meu estilo, do meu jeito”, enfatiza ele. Através da identidade dos conteúdos que ele produz, outros jovens em seu bairro o reconheceram na rua, um fato que marcou a sua trajetória. “Já vi meninos aqui, muleque novinho, que falou assim: ‘Ai Digo, eu vi seu vídeo lá no Tik Tok, vou gravar uns também achei dahora’. Acho que já é um incentivo pra eles não estarem fazendo nada de errado, o Tik Tok já é um distração”, conclui.

Autor

ASSINE NOSSA NEWSLETTER

Cadastre seu e-mail e receba nossos informativos.