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Produção de lives vira campo de trabalho de coletivos culturais da quebrada

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Demanda por pessoas qualificadas para produção de transmissões ao vivo em plataformas digitais aumenta nas periferias de São Paulo, devido ao fato de os coletivos culturais da cidade migrarem suas atividades artísticas para o ambiente online.

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Registro tirado durante as oficinas (foto Acervo movimento cultural Ermelino Matarazzo)

Em Ermelino Matarazzo, território periférico da zona leste de São Paulo, a ocupação Cultural Mateus Santos, um espaço cultural independente organizado pelo Movimento Cultural Ermelino Matarazzo, reúne em uma única rede mais de cinquenta coletivos culturais.

Desde o começo da pandemia de coronavírus na capital, eles têm feito uma série de ações para aproximar os moradores da região do entretenimento produzido pelos artistas independentes e grupos artísticos locais. A internet se tornou uma das principais ferramentas a ser decifrada para gerar essa interação.

Uma das primeiras ações realizadas pela rede de coletivos foi a campanha “Internet Solidária”, iniciativa que incentivou os moradores de Ermelino Matarazzo a criarem uma rede de wifi comunitário, colocando todas as senhas e o nome da rede como ‘fiquememcasa’, como uma tentativa de diminuir os efeitos do isolamento social, oferecendo acesso para vizinhos quem não tem condições de contratar um plano de internet.

“Logo quando começou a pandemia eu tive esse start que tudo ia ir pro virtual, aí eu comecei a fazer umas lives por aqui, ninguém aqui na ocupa é formado em audiovisual, ai a gente começou bem precário, com celular, tentando conectar o celular na mesa de som”, conta Gil Douglas, 36, morador do Ermelino Matarazzo e articulador cultural no Movimento Cultural Ermelino Matarazzo.

É do articulador cultural a iniciativa de pôr a mão na massa e aprender a mesclar uma série de conhecimentos e vivências para aprender na prática a produção de lives, iniciativa ousada que deu origem a criação de um estúdio de transmissões ao vivo dentro da Ocupação Cultural Ermelino Matarazzo, espaço usado para apoiar artistas independentes e grupos artísticos locais a divulgar o seu trabalho nas redes sociais.

“A gente montou um estúdio para lives aqui na ocupa, a princípio com equipamentos emprestados”, explica Douglas, afirmando que o fato dos artistas e coletivos atuarem no formato de rede com cerca de 50 coletivos facilitou o processo de pegar emprestado os equipamentos necessários que dariam vida ao estúdio.

“Pega luz de um, câmera de outro, tripé de um, e aí a gente montou um estúdio live”, completa o agente cultural. Segundo ele, foram necessários três meses para adquirir um domínio das ferramentas digitais e dos equipamentos mais técnicos.

“Com três meses a gente já estava dominando um pouco essas ilhas de corte, mandando áudio legal e trampando com três câmeras”, descreve Douglas. Ele aponta que já foram realizadas 180 transmissões ao vivo dentro do estúdio que começou de maneira improvisada durante o primeiro ano de pandemia no Brasil, mas que hoje já oferece formações para outros moradores da região de Ermelino Matarazzo aprender a produzir lives.

“Esse ano muito por conta das dúvidas vários coletivos do bairro mandaram mensagem pra gente perguntando: que câmera que eu compro, qual você me indica, como que vocês captam o áudio?”, relata o agente cultural, que é hoje desempenha uma série de funções como produtor de streaming.

Após receber uma série de perguntas, a ocupação resolveu fazer uma semana de formação chamada ‘Semana do Zero Live’, voltada para moradores que são integrantes de outros coletivos culturais, que visam se aprofundar no processo de produção de uma live.

Esse treinamento incluiu o aprendizado sobre formatos de lives, manuseio de ilhas de edição, utilização de múltiplas câmeras, técnicas de som, cabeamento de equipamentos e manuseio de software de transmissão ao vivo.

Registro tirado durante as oficinas (foto Acervo movimento cultural Ermelino Matarazzo)

A integrante do coletivo literário Sarau dos Mesquiteiros Melissa da Silva, 21, é uma das moradoras da Ermelino Matarazzo que aproveitou a formação para melhorar a qualidade das lives durantes as apresentações do Sarau. “Foi muito importante essas oficinas, porque eu tinha muita dificuldade em saber como fazer lives com qualidade, é muita informação e equipamentos necessários e que não se acha fácil, então quando eles fizeram essas oficinas de como fazer uma live do zero foi de extrema importância, agora eu tenho o conhecimento necessário pra fazer uma boa live”, conta.

Melissa diz que o coletivo no qual ela atua precisou se atualizar para sobreviver no universo digital em meio a esse momento da pandemia, onde não há mais encontros presenciais. “No começo foi um desafio, pois estávamos acostumados com a apresentação em palco, então tivemos que aprender a lidar com as lives, fazendo apresentações mais individuais e não em conjunto”, explica.

Um dos principais desafios da articuladora cultural foi utilizar os equipamentos para captar um som com qualidade. “Eu tive dificuldade em captar áudio para as lives, no nosso sarau a gente costuma usar instrumento de percussão, e pra fazer esse som sair junto com a voz é o que acho mais difícil, tem que ter os equipamentos certos”, aponta ela.

Nas oficinas da Ocupação Cultura Mateus Santos, ela conseguiu sanar essas dificuldades. “Eles ensinaram quais equipamentos necessários e como montar isso tudo, como testar e mostraram equipamentos mais simples e em conta, e equipamentos mais complexos, e mais de um caminho de como fazer isso”, revela.

Após dominar esse importante conjunto de técnicas para produção de lives, ela conta que o Sarau Mesquiteiros conseguiu manter uma rede de apoio para pessoas que estavam em isolamento social, lidando com questões de saúde mental. “Contribuiu muito pra gente se sentir mais próximo das pessoas, para mostrar que estamos juntos nesse momento difícil de distanciamento e que essa é uma forma de amenizar a distância”, conclui.

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