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Jovens querem construir primeiro laboratório de informação de Parelheiros

Edição:
Ronaldo Matos

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Como acessar informação sem direito à internet? Como construir informação e contar sua própria história sem uma infraestrutura de equipamentos para isso? A proposta de criar uma Lab de Acesso à Informação na quebrada nasce a partir destes e de outros questionamentos. Conheça essa história.

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Créditos: coletivo ArquePerifa

Segundo dados da Fundação Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados), 7,5 milhões de pessoas no Estado de São Paulo com mais de 10 anos nunca acessaram a internet, o equivalente a 23% dos paulistas. Então que tipo de informação é produzido no ambiente virtual onde existe uma generosa parcela da população é impedida de participar das discussões nas plataformas digitais?

Essa foi a pergunta que mexeu com as integrantes do coletivo Arqueperifa, iniciativa criada por jovens comunicadoras que fazem projetos de impacto social nos distritos de Parelheiros e Marsilac. Juntas, elas pretendem através de uma campanha de financiamento coletivo, criar o primeiro laboratório de informação de Parelheiros.

A ideia de criar o projeto surgiu durante uma formação pedagógica, onde as integrantes do Arqueperifa visualizaram um problema em seu território: a precarização do acesso à informação, e como solução desse problema, as jovens começaram a sonhar e prototipar a criação de um Laboratório de (In) formação e Inovação, construindo um espaço físico para produção e difusão de conhecimento nos territórios de Parelheiros e Marsilac.

A partir de uma série de pesquisas nos dados demográficos da cidade de São Paulo, as jovens comunicadoras descobriram que juntos os distritos de Parelheiros e Marsilac somam ¼ da extensão territorial da cidade de São Paulo, com cerca de 200 bairros, dos quais 70% são irregulares. E uma dessas consequências de moradias irregulares é o fato de o distrito ter o menor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do município.

Segundo Julia Biaggioli, 21, uma das integrantes do Arqueperifa, a internet de fibra óptica só chegou no meio da crise gerada pela pandemia. “Aqui a internet de fibra óptica chegou agora, chegou no meio da pandemia, então a gente levou essa problemática”, explica ela, argumento e expondo um dos motivos centrais para consolidar a ideia de criar o laboratório de informação no território.

Diante desses dados e relatos de suas vivências no território Júlia apresenta outro questionamento que o grupo trouxe no processo de elaboração da ideia. “Que informação é essa que o publico ta acessando? Eles, os moradores têm televisão coisas assim, mas qual é a informação que está sendo passada?”, questiona ela.

Através dessas descobertas, as integrantes do coletivo fazem uma analogia com o fato histórico de ser morador da periferia e conviver em meio às desigualdades. “A nossa realidade é de gente que tem sempre que estar correndo atrás do pão, não tem tempo pra parar pra pensar, pra articular, não tem mano. O pão é pra ontem, a comida é pra ontem, a água é pra ontem”.

Após elaborar o projeto de construção do laboratório de informação, as jovens se depararam com as primeiras dificuldades no caminho, onde a principal é o fator financeiro. “Na prática o maior desafio é o dinheiro mano”, afirma Julia.

Para que esse sonho continue sendo algo palpável na vida das jovens que fazem parte do coletivo, elas decidiram investir tempo, dedicação e conhecimento na produção de comunicação com linguagem periférica, para construir uma campanha de financiamento coletivo, em busca de viabilizar fundos para consolidar a ideia. “É por isso que a gente quer ter esse financiamento coletivo, pra gente se organizar, porque tem muita coisa pra oferecer, projetos que já tá no papel e já tá pronto pra ser feito”, relata Júlia.

 Como será o Laboratório de Informação da Periferia?

 Após a locação de espaço e montagem de infraestrutura, o espaço do laboratório de informação da periferia será localizado na região central de Parelheiros. O coletivo Arqueperifa entende esse ponto do bairro como um local estratégico do território para acessar o maior número de moradores possível.

Ali é onde ficam a igreja central, os comércios, e a gente quer que fique na zona central, que é por onde todas as pessoas das pontas do distrito acessam, desde o Marsilac até a Barragem, até quem vêm do outro lado, normalmente as pessoas passam por ali, então a gente quer começar nossas ações pela área central de Parelheiros”, explica Laura da Silva, 19, integrante do coletivo que mora no Jardim Embura, um dos bairros que fazem parte do distrito

Laura é comunicadora, produtora cultural e estudante de geografia. Segundo ela, estar no centro de Parelheiros é estratégico para acessar mais pessoas. “A centro de Parelheiros é uma região que conta com mais internet, por ser um local que tem bastante comércio, então a gente pretende ter um pacote de dados maior, para que as pessoas possam utilizar a internet para trabalho e estudo”, diz.

As jovens pensaram que a partir da infraestrutura do laboratório de informação, será possível criar produtos comunicativos como exposição fotográfica, podcast, documentário, fanzines, lambe, grafite, a partir das vivências dos moradores do território, mas para isso sair do papel, elas já possuem um orçamento para viabilizar a compra de equipamentos para sustentar a produção dos conteúdos.

No interior do laboratório, o coletivo projeta que os usuários tenham acesso a computadores, espaço de Cowork para trabalho, estúdio de foto e vídeo, ilhas de edição, além de um espaço dedicado ao desenvolvimento de novas tecnologias.

Mesmo com essa aderência ao universo digital, Laura, aponta uma característica importante do laboratório, que segundo ela, é preciso produzir informações offline antes do digital, incentivando a literatura periférica e trazendo formações para jovens. “Neste espaço vai ter uma biblioteca. Essa biblioteca vai ter materiais, livros, textos de autores que são de Parelheiros, Marsilac, ou conteúdos que falam sobre esse lugar e trazem conhecimentos importantes sobre esses territórios”.

Uma das integrantes do Arqueperifa, Luara Angélica, 20, que integra outro coletivo da região, o Juventude Politizada de Parelheiros, faz uma reflexão sobre o impacto de dialogar com a juventude do território. “Eu acho imensurável o impacto que vai ter na vida dos jovens. Essa juventude que já está voando, vai voar ainda mais”.

Após enfatizar o valor do projeto para os jovens de Parelheiros, Laura lembra de um fato importante na história do coletivo, que logo no início da pandemia do novo coronavírus começou a produzir e compartilhar os efeitos da pandemia na quebrada, por meio do podcast: o lugar de quarentena. “A gente decidiu falar na internet como o nosso território estava vivendo essa pandemia, e falar disso, expor isso é trocar com pessoas sobre isso, eu acho que já impactou e impacta a vida de vários jovens das várias pessoas que ouviram nosso podcast”, conclui.

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