REPORTAGEM

Favela Gaming: jovens gamers das periferias sonham com carreira, mas falta estrutura básica

Edição:
Ronaldo Matos

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Após o YouTube anunciar o lançamento do projeto Favela Gaming para iniciar em 2023, o Desenrola entrevista jovens gamers das periferias para entender as suas reais necessidades e sonhos.  

A realidade na quebrada para quem joga vai desde o videogame que é mais antigo e não roda os jogos do momento, a conexão precária de internet nos bairros distantes dos centros econômicos, a conta de luz mais cara no fim do mês, e até o jogo pirata de baixa qualidade comprado na feira de domingo. Num universo que se atualiza constantemente, meninos e meninas da quebrada chegam atrasados nesse rolê.

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É neste contexto de exclusão social e digital vivenciada pelos moradores das periferias e favelas apaixonados pela cultura gamer, que surge a parceria entre a rede de desenvolvimento social, Gerando Falcões e a Final Level, plataforma de entretenimento gamer, e o YouTube, que juntos, irão lançar, no início de 2023, o Youtube Favela Gaming.

O objetivo do projeto, segundo os idealizadores, é alavancar a carreira de jovens gamers periféricos que desejam se profissionalizar nesse universo, além de inseri-los no radar de grandes campeonatos que acontecem no Brasil e no mundo. 

Sonho versus realidade 

O morador do Jd. São Luiz, zona sul de São Paulo, Victor Francisco dos Santos, 20, começou a se interessar por videogames ainda criança, e conta que a compra do primeiro equipamento foi feita com muito esforço da mãe que o criava sozinha.

“Tinha seis anos quando pedi pra minha mãe um playstation II, mas ela comprou pra mim um Master System, que era a opção mais barata na época…não fico chateado com ela por isso”, revela o jovem que demorou outra meia dúzia de anos para ganhar de presente da mãe, que trabalha como diarista, um xbox 360.

Apenas em 2022, com o dinheiro que juntou com o emprego de assistente administrativo, Victor conseguiu realizar o desejo de ter um playstation 4, sonho que nutria desde a infância.

Victor Francisco dos Santos tem 20 e mora no Jardim São Luís, zona sul de São Paulo.

“A gente segue com isso de ser profissional na cabeça, mas daí a realidade bate na porta, né?

Victor Francisco é  assistente administrativo.

“Participei de um campeonato de free-fire com uns amigos, mas não fomos bem (risos). É preciso dedicar uma grande quantidade de horas jogando e nem sempre isso é possível”, conta o jovem.

Nem sempre é possível por conta do trabalho e também por conta das broncas da mãe, como ele mesmo revela: “Pra se destacar você precisa de um PC potente, o que “puxa” muita energia. Muitas críticas que as mães fazem aos filhos é porque a conta de luz vem muito alta”. 

Em entrevista durante a feira de games BGS 2022, que ocorreu no começo de outubro deste ano, com ingressos que foram de R$300 a R$ 3.000 reais, Manuelle Pires, gerente de parcerias estratégicas do YouTube Gaming, contou que a iniciativa do Favela Gaming é mais um passo em direção à amplificação de vozes e oportunidades, viabilizando ações cujo impacto social irá reverberar a mensagem de unidade, aprendizado e evolução presentes na comunidade gamer.

Filipe Ferreira de Abreu, 21, é mais um jovem de quebrada que ama o universo gamer. Morador do Capão Redondo, ele conta que joga há 15 anos e que já sentiu vontade de se profissionalizar na área.

“Eu acho que a dificuldade em se inserir no mercado é o preço das coisas, dos consoles, dos jogos e das peças pra montar um PC gamer. Quem tem um orçamento baixo não consegue comprar tudo de uma vez”, diz.

Filipe Ferreira tem 21 e mora no Capão Redondo, zona sul de São Paulo.

“Nunca consegui me inscrever em campeonatos”

Filipe Ferreira joga desde os 15 anos de idade.

Filipe conta que joga no computador que conseguiu montar depois de três anos juntando dinheiro para comprar as peças, um investimento lento que anulou qualquer possibilidade de pensar em competir.

 Grand Chase, o game que eu mais joguei na vida tinha um campeonato, mas precisava pagar pra participar… Na periferia tem muita gente que joga há muito tempo e até tem vontade de se profissionalizar, mas não tem recurso pra começar ou se manter ativo“, afirma. 

Favela Gaming 

O Youtube Gaming é uma plataforma que existe desde 2015 e agora, após oito anos no ar,a empresa de vídeos e streaming entendeu a necessidade de levar o mundo dos games para as favelas e periferias de todo o país. O projeto terá início ano que vem e contará com três frentes:

Bootcamp – Workshops e palestras sobre os principais assuntos do mercado de games e eSports com emissão de certificados. Esses cursos online demonstrarão a abrangência do ecossistema, onde as áreas de atuação vão muito além de performance esportiva e entretenimento;

Favela Cup – De forma online, campeonatos das principais modalidades de eSports e um circuito inovador de Free Fire serão realizados, buscando capacitar e dar a oportunidade de desenvolvimento profissional de talentos da comunidade;

Favela Gaming Arena – Espaço físico, construído dentro da Favela 3D, projeto da Gerando Falcões, onde jovens das comunidades poderão colocar em prática tudo o que aprenderam por meio de equipamentos profissionais para realizar vídeos e lives.

A promessa dos produtores é de que ainda neste ano, o site do projeto será disponibilizado para inscrições nos programas de conteúdos educacionais, para a plataforma dos torneios de comunidade e conteúdos de engajamento dos amigos Favela Gaming. 

Autor

2 COMENTÁRIOS

  1. Fmz essa decisão de ambas plataformas em dar suporte à quebrada neste nicho, um pouco tarde eu acho, mas falando paradoxalmente, nunca é tarde kk parabéns a equipe, parabéns rebeca

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