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Curso forma jovens para transformar a quebrada com tecnologias sustentáveis

Edição:
Ronaldo Matos

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Teve jovem que conseguiu emprego após fazer curso com professor pardal da quebrada e outros alunos que quebraram a barreira social sobre o desenvolvimento de soluções tecnológicas.

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Creditos: Barbara Borda

O curso Seja Sustentável 4.0 começou com uma experiência de metodologia de ensino à distância para aproximar jovens das periferias da zona norte de tecnologias open source e do universo das energias renováveis. Um dos objetivos é preparar os alunos para desenvolver produtos e serviços empresariais e de impacto social que possam ser úteis para aplicar no cotidiano do bairro onde moram ou fora dele.

Nesta edição do curso online, o educador e inventor Fábio Miranda destaca algumas soluções tecnológicas desenvolvidas pelos alunos que poderiam ser aplicadas em diversos contextos sociais das periferias e favelas, resolvendo problemas que o poder público ainda se nega ou tem dificuldade para sanar.

Em um auditório de uma empresa parceira do curso, foi proposto para os alunos que eles se organizassem em grupos e fizesse um projeto reunindo tudo o que eles tinham aprendido no decorrer da formação.

“Teve um grupo que criou um sistema que trazia hortas verticais, e outro criou um sistema de iluminação, era um protótipo de uma árvore solar e ela tinha um banco de bateria que você conseguia carregar o celular ali na hora, e ela tinha um sistema de medição de temperatura ambiente e umidade do ar que você conseguia ver pelo aplicativo no celular, tudo isso feito por eles, a gente mostrou o caminho, mais a ideia foi eles que pensaram, eles elaboraram tudo”, conta Miranda, com um sorrido orgulhoso dos seus alunos do Seja Sustentável 4.0.

Entre esses alunos, o educador destaca um que lhe chamou atenção. “Tem um jovem que se chama Ryan, é um jovem que ele tinha um poder de liderança muito grande com a turma, na época ele tinha dificuldade para e ir ao curso porque ele morava longe, e não tinha dinheiro de condução, mas como eles usam essa camisa laranja do PAC, ele sempre conseguia pegar carona, e às vezes ele chegava muito cansado, mas sempre determinado, eu acho que é isso, tem que levar essa possibilidade pros jovens e ativar esse potencial deles”, relembra.

Após a apresentação dos projetos de conclusão do curso, o mesmo jovem relatado pelo educador veio até ele para agradecer os ensinamentos. “Depois ele entrou em contato comigo e falou: ‘eu saí empregado de lá, fui contratado naquele dia da apresentação, para trabalhar em uma empresa, o cara me contratou lá, só por te visto minha apresentação e a forma que eu falava, ele gostou muito e queria que eu fosse para a empresa dele”, revela Miranda.

 “Comecei a gostar da tecnologia, quero me relacionar mais “

Créditos: Barbara Borda

Outra jovem participante do curso é Ana Rodrigues,16, moradora de Pirituba. Nessa edição, ela conta que a cada conteúdo das aulas novas possibilidades de atuação profissional surgiam na sua cabeça, pois tudo era novo e interessante. “Eu não tinha nenhuma noção sobre gestão empresarial, juros, tecnologia também, muito menos noção de como mexer no Excel e Power Point, durante esse tempo eu consegui aprender bastante, pois pra mim foi tudo novo”, enfatiza.

Ela também faz questão de abordar alguns aprendizados que possibilitaram construir soluções tecnológicas focadas em sustentabilidade. “A gente mexeu com tecnologias de Arduino, placa solar, mexemos na prática com energia totalmente sustentável para criar um poste que liga através da energia solar, aí quando ficasse de noite ele ia perceber que fica escuro para iluminar a rua”, conta Ana, toda empolgada com as novas possiblidades de pensar e produzir energia limpa no seu bairro.

A descoberta dos processos de automação foi outro momento marcante para a jovem moradora de Pirituba.

“A gente mexeu na horta vertical, no caso ela fica automatizada quando a própria plantação percebe que o solo está seco, aí o sistema começa a liberar água para ir regando a terra, aí ele percebe que tá molhado e para de irrigar”, descreve ela, apontando que a experiência mudou sua visão sobre produzir sua própria alimentação.

Após a participação no curso, Ana já revê seus conceitos em relação a tecnologia e diz que se sente mais próxima do processo de produção de tecnológica, algo que antes era visto com muita distância. “Comecei a gostar da tecnologia e quero me relacionar mais, eu aprendi bastante coisa que eu não sabia e minha relação hoje em dia tá boa”, afirma.

 Repensando o ensino remoto

Créditos: Fabio miranda

Durante a pandemia, a realização de aulas e cursos à distância se tornaram uma plataforma de interação para manter alunos conectados com a produção de conhecimento. Em meio a esse cenário, muitos educadores encontraram diversos obstáculos para desenvolver métodos intuitivos e inclusivos de ensino remoto. Mas há outras experiências que acumulam uma série de impactos positivos no público.

Uma dessas iniciativas é o curso Seja Sustentável 4.0, formação técnica criada pelo inventor e educador Fábio Miranda, também conhecido como ‘Professor Pardal da Quebrada’. No primeiro semestre de 2021, ele desenvolveu uma metodologia de ensino remoto, usando open sources e energias renováveis, para impactar a imaginação e a criatividade da juventude periférica com uma série de novos aprendizados voltados ao desenvolvimento de tecnologias de impacto território criadas à base de materiais sustentáveis.

Mas antes do curso acontecer, o professor Pardal relembra que foi necessário testar método de ensino remoto para entender como o processo pedagógico seria colocado em prática, a fim de suprir os gargalos de acesso à internet presente no cotidiano dos moradores das periferias e favelas. 

“A gente montou os kits e mandamos para dez pessoas. As pessoas receberam esse kit em casa via motoboy, então a gente deu um jeito de chegar nas pessoas. Foi fantástico desenvolver tecnologia mesmo a distância”, conta Mirando, afirmando que aí foi o projeto piloto para testar novas formas de ensino a distância, num curso que atendeu jovens de todo o Estado de São Paulo

Após algumas experiências que deram certo e errado nessa fase de testes do curso Seja Sustentável 4.0, o inventor relata que se adaptou ao ensino remoto e principalmente a falta de internet de alguns alunos.

“No começo foi um pouco difícil, mas eu já tinha ganhado experiência na dinâmica desse curso totalmente online, alguns alunos tinham acesso à internet em casa, mas outros não”, revela o educador, apontando que contou com a parceria do Projeto Amigos das Crianças (PAC), uma organização social da Zona Norte de São Paulo que incentiva jovens e adolescentes a ter contato com novas tecnologias por meio da alfabetização digital.

Ele reforça que todos os jovens que precisaram ir à sede do PAC para acessar a internet seguiram todos os protocolos de segurança, usando máscaras, passando álcool em gel e respeitando o distanciamento social para assistir e interagir com as aulas.

O curso contou com dois módulos: o primeiro foi composto por conteúdos teóricos e seguiu a proposta de ser totalmente online; e o segundo módulo teve encontros presenciais onde os alunos tiveram a oportunidade de colocar em práticas conhecimento técnicos para desenvolver experimentos tecnológicos.

Na fase presencial, Miranda conta que o cuidado foi redobrado para impedir aglomeração e prevenir contágios de covid-19 entre a turma de alunos. “Pode ver na foto todos os jovens com máscara, turma reduzida e usando álcool em gel. Além disso, todos os materiais chegavam antes da aula e a gente higienizava tudo”, relata.

A primeira turma do Seja Sustentável 4.0 online encerrou o curso em junho de 2021. Com o sucesso do curso, já está previsto novas turmas para participar da imersão no universo das tecnologias sustentáveis e das energias renováveis.

Um dos pontos fortes do curso é o processo pedagógico que permite identificar a afinidade dos alunos com o processo de desenvolvimento de soluções tecnológicas baseadas nas necessidades do seu cotidiano.

“Dentro do processo do curso eu apresento pra eles todas as possibilidades de tecnologias existentes referentes às tecnologias sociais e as energias renováveis, é um trabalho bem aberto que me permite identificar quais são os alunos interessados no campo da programação, que gosta de mexer com open source e a cultura maker, então eu vou identificando isso, e vou mostrando quais são as possibilidades que a gente tem de trabalhar com essas tecnologias”, explica.

Mirada relata que em meio a esse processo, um dos momentos marcantes no curso é o encontro presencial para utilização de ferramentas para montagem de estruturas de PVC e madeira. “A aula que eles gostam mais é sobre o uso prático das ferramentas, eu levo furadeira, martelo e serra, tudo isso para ministrar uma aula sobre como usar essas ferramentas, respeitando segurança, uso de proteção da forma correta, qual tipo de broca eu uso para furar uma madeira, aí é interessante perceber como eles vão furando tudo em qualquer lugar, você pode ver até as meninas aí com a furadeira furando uma parede”, conta o inventor.

Ao observar a reação dos alunos em contato com as ferramentas, Miranda destaca a potência dessas experiências para despertas nos jovens habilidades e interesses que eles ainda não reconheceram para seus futuros. “Durante o processo, eles falam: ‘nossa eu sempre tive vontade de mexer em uma furadeira, mas eu nunca tive oportunidade’. Então a ideia desse curso é despertar esse potencial que eles têm, que muitas vezes é falta de oportunidade”, finaliza.

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