“Ontem choveu e alagou tudo”: moradores se unem para enfrentar enchentes

Edição:
Ronaldo Matos

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Com as fortes chuvas que vêm ocorrendo nos meses de janeiro, fevereiro e março, moradores afirmam que não conseguem esperar por atendimento de serviços públicos e se unem para resolver as demandas locais causadas pelas enchentes. 

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Foto: Flávia Santos

 Os moradores do bairro Vila Gilda, localizado na beira da represa Guarapiranga, zona sul de São Paulo, enfrentam diariamente a preocupação com o impacto das chuvas no território, que promovem o fechamento do comércio local e a perda de móveis, sempre que a água invade as casas da região.

“Quando chove alaga a rua e entra água em algumas casas, e tem muita sujeira”, afirma a estudante Gabryely Rodrigues, 18, relata que as chuvas transformam a paisagem do bairro, levando grande quantidade de lixo para as ruas e casas.

A jovem conta que a qualquer sinal de chuva, a família dela fica em alerta, porque eles moram na última casa, o conhecido fim de rua na quebrada, e possuem uma lanchonete na garagem do imóvel, fator que aumenta os cuidados para impedir a entrada da água dentro de casa.

“Esses dias meu pai arrumou o encanamento porque entra água em tudo. Antes de ontem choveu e alagou tudo. Toda vez que chove, se for pouca ou muita chuva, o bueiro enche e a água desce toda pra cá, porque é a última casa da rua”, explica a estudante.

Foto: Flávia Santos

Morando há 20 anos no Vila Gilda, Gleica Andrade, ressalta que vivencia problemas semelhantes e diz que as fortes chuvas têm gerado a união entre os vizinhos.

Segundo ela, a maioria dos moradores acaba tendo que se juntar para limpar os bares e comércios da região, única fonte de renda de alguns vizinhos, que são bem afetados pelo lixo arrastado pela água.

“Os bares aqui ao lado todos sofrem, a parte ali na frente alaga, tem um outro que alaga dentro do bar, e até mesmo dentro da casa. Então assim, realmente aqui temos esse problema”, explica Gleica.

 Pelo fato do Vila Gilda estar localizado em uma área de manancial, a situação de quem mora na região se complica ainda mais, quando eles tentam realizar um pedido de manutenção da tubulação de água e esgoto do bairro para os órgãos públicos responsáveis.

“Por aqui ser uma área manancial, como eles (órgãos competentes) alegam, eles falam que não tem o que fazer, só que na verdade tem. O problema é: ou o proprietário faz, ou ninguém faz. O pessoal se une, cada um faz sua parte”

relata Gleica. 

A integrante do Fórum Fundão das Águas, Vera Luz, professora e pesquisadora de questões ligadas à moradia e meio ambiente, aponta que há um conflito social na região ligado à ocupação de terrenos às margens da represa Guarapiranga.

“Existe um conflito difícil de resolver, que é o direito à moradia e o direito ao meio ambiente. Porque a área da represa é uma área de mananciais, é um decreto legal. A ocupação desta área segue uma série de regras específicas”, argumenta Vera.

Ela explica que existem muitas questões que já foram e que ainda devem ser discutidas referente a realidade da população, que mora à beira da represa ocupando espaços considerados mananciais e de preservação ambiental, mas que possuem o direito de moradia e ter uma casa por lei.

“Está acontecendo um problema de habitação, que no caso ela tem que ser regularizada porque não está sendo suprida. Todos têm direito para morar, mas o Estado não faz o que a Constituição manda”, pontuou a pesquisadora.

Vera também disse que há anos atrás quando esses espaços foram começando a serem ocupados pela população, um debate foi iniciado, onde os pesquisadores colocaram em pauta o fato do salário de um cidadão não ser o suficiente para pagar uma casa de boa qualidade e num local também considerado melhor para morar com sua família, por isso muitas dessas pessoas passaram a morar nessas áreas, por se tratar de um custo melhor.

“As pessoas não vão ocupar espaços mananciais por acharem bonitinho, mas porque o seu dinheiro não paga. Então é um problema também relacionado à capital de trabalho”, finaliza.

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