Entrevista

“A gente não vai deixá-los pegarem essa maldita doença”, desabafa mãe durante tentativa de vacinar filhos contra a covid-19

Edição:
Evelyn Vilhena

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Para vacinar os três filhos adolescentes contra a covid-19, Denise precisou encarar os transtornos causados pela falta de acesso à informação sobre a disponibilidade da vacina Pfizer no ponto de vacinação mais próximo da sua casa.

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Denise precisou encarar os transtornos causados pela falta de acesso à informação sobre a disponibilidade da vacina Pfizer no posto de vacinação do Grajaú. (Foto: Thais Siqueira)

Na última segunda-feira (12), Denise Moreno, 35, moradora do Grajaú, distrito da zona sul de São Paulo, estava sob sol forte junto com seus quatro filhos na fila do ponto de vacinação do Centro Cultural do Grajaú, aguardando receber a senha, quando de repente uma agente de saúde passou avisando sobre o encerramento da vacinação de adolescentes por falta de vacina Pfizer.

A cidade de São Paulo iniciou no dia 6 de setembro a vacinação de adolescentes de 12 a 14 anos sem comorbidades ou deficiência física. Em comunicado oficial publicado no site da prefeitura, o objetivo é vacinar cerca de 360 mil adolescentes.

Seis dias após esse comunicado oficial ser publicado, Denise ainda está tentando vacinar seus três filhos, Luiza Moreno, 12, Carlos Eduardo Moreno, 14, e Lúcio Moreno, 17, ambos estão em busca de obter a primeira dose da vacina.

Ela é mãe de Luiza Moreno, 12, Carlos Eduardo Moreno, 14, e Lúcio Moreno, 17, pois ambos estão em busca de obter a primeira dose. (Foto: Thais Siqueira)

“Às vezes não tem a dose ou a gente chega perto das cinco horas aí e eles avisam que só vai ter amanhã”

Denise Moreno é moradora do Grajaú, distrito da zona sul de São Paulo.

“Às vezes não tem a dose ou a gente chega perto das cinco horas aí e eles avisam que só vai ter amanhã. E aí eu ligo para saber e falam que não tem, está assim desse jeito”, relata a moradora, citando que o contato com os postos de vacinação não vem sendo positivo para ela obter informações precisas, que a permita organizar sua rotina para imunizar os filhos.

Em junho de 2021, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a indicação da vacina Comirnaty, da Pfizer, para aplicar em adolescentes com 12 anos de idade. Antes desse período, a vacina já estava liberada para jovens com 18 anos a 15 anos.

Após a apresentação de estudos que foram desenvolvidos fora do Brasil e avaliados pela Anvisa, a aplicação do imunizante foi aprovada nesses grupos com essa faixa etária de idade.

“Eu não tenho muito tempo porque trabalho”

Denise Moreno é moradora do Grajaú, distrito da zona sul de São Paulo.

Enquanto a ciência cumpre o seu papel de desenvolver, analisar e aprovar procedimentos confiáveis para imunizar jovens e adolescentes, a unidade de vacinação mais próxima da casa da moradora do Grajaú não vem colaborando tanto com o processo logístico, devido à falta de imunizantes.

Esse cenário vem tornando ainda mais exaustiva a rotina de Denise, uma mulher independente que trabalha, cuida da casa e de três filhos. “Eu não tenho muito tempo por que trabalho. E aqui como é mais perto, eu prefiro vir aqui. Ou seja, essa questão dos polos de vacinação fora dos postos de saúde facilita bastante”, afirma ela, lembrando que o único problema é a falta de vacina.

Para vacinar jovens menores de idade, a presença dos pais ou algum outro responsável é obrigatória, por isso, a moradora vem se esforçando para conciliar demandas profissionais e pessoais para acompanhar a vacinação dos filhos.

Desânimo

Após perceber que teria que voltar para casa sem ter os filhos vacinados, ela ficou ainda mais revoltada e disse estar desanimada para voltar em outro dia e tentar vacinar os filhos novamente.

“Com certeza não dá nem vontade de voltar para vacinar as crianças né? Quando a gente vinha para tomar a nossa vacina já era difícil, agora as crianças têm que faltar na escola para tomar, dá vontade nem de dar a dose, dá vontade de ficar sem tomar vacina”, desabafa a moradora.

Ciente da importância de preservar a saúde dos filhos, a moradora respira fundo e enfatiza que eles são sua maior motivação. “O que motiva é porque são meus filhos né? A gente não vai deixá-los pegarem essa maldita doença”, conta ela.

Ao tomar conhecimento do que estava acontecendo com os moradores, conversamos com uma das enfermeiras responsáveis pelo ponto de vacinação. Recebemos a informação que haviam apenas 30 doses disponíveis, sendo 15 para adolescentes e 15 para adultos quem iriam tomar a segunda dose do imunizante AstraZeneca, que foi substituída pela  vacina da Pfizer, fato que motivou a agende de saúde avisar as pessoas na fila que não haveria imunizantes para todos os moradores.

Em seguida, buscamos novas informações sobre a previsão de data e horário da chegada de mais vacinas, e fomos comunicados que só seria possível obter essa informação com um representante da Unidade de Vigilância em Saúde (UVIS) da Capela do Socorro.

Enquanto o nosso repórter se preparava para ir atrás dessas informações, todas as pessoas que estavam na fila começaram a receber a senha para serem imunizadas , contrariando o aviso da agente de saúde que afirmou inicialmente não ter mais vacinas no local.

Dicas de acesso à informação 

Esse acontecimento reforça a importância de cobrar e fiscalizar o processo de aplicação das vacinas nas periferias e favelas de São Paulo, um procedimento bastante confiável, mas que se torna ainda mais participativo e transparente quando os moradores têm acesso às informações que lhe são úteis no processo de aplicação da vacina.

Por isso, o Desenrola lista abaixo quatro passos importantes sobre como os moradores podem estar melhor informados sobre a disponibilidade de vacinas, quantidade de doses, e em qual endereço de posto de vacinação esses imunizantes estão disponíveis, utilizando o site Filômetro da Prefeitura de São Paulo, plataforma que cria uma fila digital e norteia o usuário a se organizar para ir no dia mais adequado receber a imunização.

1 – Acesse o site: https://deolhonafila.prefeitura.sp.gov.br/ para identificar de maneira atualizada o tipo de ponto de vacinação. Se é uma Unidade Básica de Saúde, um Parque Público, um Mega Posto ou um ponto volante, que pode mudar de lugar eventualmente.

2 – O site disponibiliza essas informações também em formato regional, ou seja, a partir da região onde cada usuário mora, ele consegue verificar e selecionar o bairro e posto de vacinação mais próximo da sua casa.

3 – Ao clicar em cada ponto de vacinação descrito no site, surge uma lista completa dos locais, onde o usuário consegue identificar endereço, situação da fila, além da data e horário que os dados foram atualizados. Ao clicar sobre a frase: “Disponibilidade”, é possível identificar qual dose está sendo aplicada e quais vacinas estão disponíveis.

4 – O filômetro é confiável porque em todos os pontos de vacinação, agentes de saúde estão alimentando o sistema com os dados de pessoas que estão indo até o local se vacinar, então se você acessa o site, pode confiar na veracidade destas informações.

*Esta entrevista foi produzida com o apoio do Fundo de Resposta Rápida para a América Latina e o Caribe organizado pela Internews, Chicas Poderosas, Consejo de Redacción e Fundamedios. O conteúdo dos artigos aqui publicados é de responsabilidade exclusiva dos autores e não reflete necessariamente a opinião das organizações.  

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